Kouga partira após ter certeza de que Kagome estava bem de verdade. Sango e Miroku cuidavam de salvar Kaede e Shippou, ainda afetados pelo shouki no parto de Kagome. O vento esvoaçava o cabelo de Inu Yasha, que olhava a floresta abaixo deles, a Goshinboku em meio às árvores, naquele lugar aonde no passado uma miko havia lacrado um hanyou por quem se apaixonara. Um clima muito estranho restava entre Kagome e Inu Yasha. O que dizer? O que fazer? Tudo ocorrera tão rápido que eles mal haviam assimilado a verdade. Kagome ficou ao lado de Inu Yasha, mas lhe faltavam palavras.

- Inu Yasha, eu... - Kagome hesitava, não tinha certeza do que falar - não posso permitir que vocês destruam um ao outro.

- Kagome... - Inu Yasha - aquela youkai, a Shinzui não é alguém que possa ser salvo.

- !

- Ela é como uma cria do Naraku, não podemos confiar nela, o certo a se fazer é destruí-la o mais...

- Ela é minha filha, Inu Yasha! - Kagome tinha no rosto uma expressão de angústia - Ela tem um coração humano em si, não diga que ela não pode ser salva, não diga que irá destruí-la!

Kagome então se afastou de Inu Yasha. Miroku e Sango compreendiam a situação, mas não poderiam fazer nada a respeito. Ao final da tarde os aldeãos já haviam levantado a nova casa de Kaede e a miko se recuperava rapidamente. Shippou, por ser um youkai e por não ter inalado tanto shouki já estava recuperado. Miroku e Sango estavam agora os dois a sós um pouco.

- Houshi-sama... - Sango - o que você faria no lugar de Inu Yasha?

- Sango... - Miroku parecia sério e pensativo - Acho que eu pensaria como Inu Yasha. Shinzui Hime não é confiável, ela sabe o que queremos ouvir e por isso tenta ganhar nossa confiança...

- Como você pode querer uma coisa dessas? Vocês homens são todos iguais, não entendem o sentimento das mulheres...

- Sango-sama... o que você faria se fosse Kagome?

- Acho que isso é parecido com o que eu tenho pelo Kohaku. Eu tentaria libertar minha filha e proteger meus amigos, mesmo que... eu tivesse de morrer para isso...

A noite chegou rápido naquele dia e Kagome resolvera voltar a sua era por um dia, precisava de sua cama uma noite e sua mãe sempre sabia dizer as coisas certas na hora certa. Kagome estava muito desolada e confusa. As imagens de Shinzui tirando-lhe a dor e dizendo que como filha de Naraku tinha suas obrigações. "Sim, eu como sua mãe também tenho minhas obrigações..." Kagome então passou pelo honekui no ido e voltou a sua era.

Chegando em casa, uma chuva pegou Kagome de surpresa. Souta jogava vídeo- game e seu avô estava lendo jornal quando ela entrou pela porta, encharcada e triste. Souta estava feliz por sua volta, mas logo ele e seu avô perceberam a depressão em seu olhar. Sua mãe estava na cozinha e perguntou se ela estava com fome. Kagome disse que não e foi tomar um banho.

- O que eu estou fazendo aqui... os fatos não irão mudar só porque eu não estou lá. Não sou mais apenas uma garota colegial agora. Eu sou mãe. - Kagome tinha ouvido o que acabara de falar. O jeito com que aquilo soava era tão bizarro. Kagome sentia apenas vontade de voltar no tempo e nunca ter ido a Sengoku Jidai, mas logo a lembrança de Inu Yasha lhe veio à mente e ela quis conseguir ânimo, mas uma lágrima anunciou que a alma de Kagome estava terrivelmente abalada, como se tivesse perdido alguém. Além de tudo a vida tornava irônico...

- Inu Yasha... eu não queria... eu não queria... não queria... Inu... Yasha... - Kagome logo adormeceu, após ter tomado banho, observando a chuva na janela, deitada em sua cama.

Souta estava especialmente preocupado por sua irmã. A mãe de Kagome sabia que mais cedo ou mais tarde sua filha tomaria a decisão certa, qualquer que fosse o problema. Na Sengoku Jidai também chovia e Inu Yasha ficou a noite inteira na chuva, ao lado do poço, lembrando da última conversa com Kagome. Kirara lhe fazia companhia. Shippou, Miroku e Sango esperavam na casa de Kaede, ninguém conseguira ficar tranqüilo ainda.

Kagome então sonhava novamente. Ela observava do alto de uma colina a luta terrível entre Inu Yasha e Shinzui, Naraku estava atrás dela, sem representar uma ameaça. Kagome parecia não se importar de Naraku estar ali ao seu lado, quando Naraku lhe ofereceu um arco e flechas.

- Kagome. - Naraku - Só você pode acabar com seu sofrimento. Faça sua escolha.

Kagome então aceitou o arco e flechas de Naraku. "Só eu posso acabar com isso, não é?" Kagome mirava a flecha. Naraku apenas a observava. Na luta, Shinzui havia acabado de lançar uma enorme quantidade de poder espiritual em Inu Yasha, que pretendia claramente converter em Bakuryuuha e acabar a luta. Kagome então disparou a flecha, sua última Hama no Ya, no coração do hanyou. O poder de Shinzui desapareceu antes de atingir Inu Yasha. O hanyou deixou cair a Tessaiga e depois caiu no chão, percebendo que a flecha havia vindo de Kagome.

Naraku então desaparecia dali. Kagome estava paralisada. Shinzui então aproveitou e assassinou com suas flechas Miroku e Sango, bem na frente de Kagome.

- Desculpe, "mãe". Uma garota deve fazer o que uma garota deve fazer, e eu sou a filha de Naraku!!! - Shinzui sorria e se deliciava com o terror nos olhos de sua mãe. Kagome chorava, tinha provocado a morte de seus amigos. Então uma flecha atingiu as costas de Kagome, disparada por Kikyou.

- Menina! Sua idiota! - Kikyou - Você não tinha o direito de tirar a vida de Inu Yasha!!! Você é igual ao Naraku, seu corpo corrompido só quer a morte de Inu Yasha e você conseguiu...

Kagome então gritava o nome de Inu Yasha, sem se importar com sua própria morte iminente, quando enfim acordou, suando muito, com o coração a mil, as pernas bambas. Num relâmpago que iluminou o quarto por um instante, Kagome teve a impressão de ver Inu Yasha. Kagome então ligou o abajur à cabeceira da cama e viu que Inu Yasha estava ali, do lado de sua cama, olhando para ela.

- Kagome! Você está bem, parece tão assustada. - Inu Yasha.

- Inu Yasha... não sabia que você estava aqui... - Kagome.

- Por isso se assustou? Desculpe, Kagome, não queria acordar você, eu vim aqui porque não sabia se você ia voltar depois da nossa última discussão e

Kagome então silenciou Inu Yasha o abraçando subitamente. Enfim, ele ainda estava vivo e do seu lado e aquele pesadelo jamais se tornaria realidade. Inu Yasha sentiu que o coração de Kagome estava muito mais veloz do que o normal, seu rosto estava frio e ele estava preocupado com ela. Apesar da chuva, já eram por volta de sete e meia da manhã. Era domingo, para sua sorte.

Kagome passou o resto da manhã encostada na cama, sentada, observando a chuva cessar lentamente, ao lado de Inu Yasha, sem trocarem uma palavra, apenas próximos. Não demorou para Souta chegar e descobrir o "Inu Yasha no nii chan". Depois de ficar ao menos dois dias sem se alimentar, Kagome e Inu Yasha foram almoçar com a família Higurashi. À tarde o sol surgiu tímido por entre as nuvens. Kagome deixou Inu Yasha no templo e foi se sentar ao lado da Goshinboku, como costumava fazer desde garotinha quando estava triste.

- Kagome, filha, está tudo bem com você? - A mãe de Kagome aparecera ali, prestativa como sempre, disposta a ajudar sua filha.

- Mamãe... - Kagome então se permitia chorar nos braços da mãe, desesperada por alguma orientação, qualquer coisa que a salvasse.

Sua mãe a permitia chorar e estaria ali disposta a gastar quanto tempo fosse necessário para sua filha se sentir melhor. Muitas lágrimas depois, Kagome se recompôs. De algum modo a sombra proporcionada pela Goshinboku sempre parecia acalmar seu espírito.

- Mãe, em algum momento você já se arrependeu de uma escolha que tenha tomado e não pudesse voltar atrás?

- Claro que já, minha filha, todos nos arrependemos de nossas escolhas, mas se olharmos para trás e formos analisar, as coisas boas que vieram de nossas escolhas nunca teriam acontecido.

- Sim, acho que a senhora está certa...

Nessa hora, Inu Yasha à distância podia ouvir o que mãe e filha comentavam, desde o princípio.

- Por exemplo, quando conheci seu pai brigávamos muito, ele era cabeça dura, sempre querendo resolver as coisas do jeito dele e eu não agüentava isso, mas eu sabia que conseguiria tolerar seus defeitos pois ele tolerava os meus e foi muito duro quando ele partiu.

- ... - Kagome acompanhava a história em silêncio notando certa semelhança entre sua mãe e ela própria. Inu Yasha também prestava atenção agora.

- Cheguei a me arrepender por ter de sofrer tanto sua ausência e pensar que seria melhor nunca ter conhecido ele, mas aí você e o Souta não existiriam e minha vida teria sido vazia, por isso me arrependo mais das escolhas que eu não fiz...

- Sim, mas e se eu não descobrir a escolha certa, e se não houver uma escolha?

- Sempre há uma escolha, querida e você não precisa descobri-la pois seu coração já a conhece. - A mãe de Kagome então olhou para a árvore centenária - Basta perguntar a seu coração...

Kagome se sentia melhor depois de falar com sua mãe, talvez aquilo não lhe trouxesse a resposta pronta, mas certamente lhe dava ânimo para continuar. Inu Yasha então foi surpreendido pelo avô de Kagome, que antes deles partirem pediu a ele que cuidasse de sua neta, pois ela estava muito estranha nos últimos dias. Kagome então tratou de arrumar alguns pertences, presentinhos e partiu com Inu Yasha de volta para a Sengoku Jidai. "Shinzui, Inu Yasha, meu coração já fez sua escolha. Não posso simplesmente destruir um de vocês, nem salvar a ambos... meu bem mais querido... no final, não poderemos ficar juntos...".