Capítulo 3
- Ginny, eu tive o prazer de conhecer seu irmão ontem à tarde.
Uma expressão de cautela veio à sua face. Ela era sempre cautelosa, Penella reparou, mas em certos momentos ela ficava especialmente assim.
- Nós tivemos uma amável conversa. Ele e sua parceira de terapia, Pansy Parkinson.
Draco riu desdenhosamente. Ginny o olhou como se pudesse matá-lo com o olhar. Penella franziu as sobrancelhas.
- Você deve perdoar meu irmão. Ele é incrivelmente... rígido... em se tratando do que ele pensa sobre as pessoas. Tenho certeza que o que quer que seja que ele tenha dito sobre Pansy foi só...
- Ginny, - Penella interrompeu – eu disse que tive uma adorável conversa com Ron e Pansy e era verdade. Depois dos momentos iniciais de hesitação, eles acharam a idéia da terapia ótima. Eu inclusive dei a eles crédito extra no dever de casa.
- Crédito extra no dever de casa? Pela terapia?
- Por acaso detecto um tom de descrença na sua voz. Sr. Malfoy?
- Você é louca ou estúpida? Eles estão brincando com você. Sonserinos e Grifinórios NÃO se dão bem e se estão fingindo isso, é só porque Pansy provavelmente descobriu que se livrariam um do outro mais rápido dessa maneira.
- Ah, claro. Pansy descobriu. Porque Pansy é tão esperta e tão... tão...
- O que? Cospe Weasley, se você tem alguma coisa a dizer.
- Tão inteligente e cheia de recursos como uma boa Sonserina deve ser.
- Ginny, você parece ressentida. Por que a Pansy não deveria ser uma boa Sonserina...
- Ela deveria, tá bem? Esquece que eu disse alguma coisa. Pansy é perfeita e eu sou estúpida.
Eles todos ficaram em silêncio por um momento. Penella pretendeu escrever algo muito importante nas suas anotações enquanto lançava olhares disfarçados aos ocupantes do sofá. Ginny fixou os olhos em suas mãos enquanto retirava nervosamente pele morta em volta das cutículas. Draco olhou para Ginny da mesma maneira que Penella olhou para ambos...discretamente, torcendo que eles não notassem.
- Draco, você odeia a Ginny?
Levantou sua cabeça instantaneamente e ela sentiu aquele olhar frio penetrar por ela.
- Não – ele soltou.
- Claro que não. – Ginny ainda com atenção em suas cutículas – Ódio é um sentimento muito forte para ele sentir por mim. Eu não sou nada, sabe. Ninguém. Pergunte para qualquer um.
- Isto é tudo por hoje – Foi Draco quem falou, não Penella. Ainda havia constrição em sua voz e por alguma razão, Penella não estava disposta a discutir.
- É – ela concordou – Eu os verei amanhã. Mas eu tenho dever de casa pra vocês. – Ela entregou a eles um pergaminho cada um. – Espero que esteja pronto amanhã à tarde. Falarei com Prof. Dumbledore e vocês serão liberados das aulas da manhã.
Silenciosamente saíram da sala.
~
Tudo começou numa partida de Quadribol. Ela foi assistir por causa do Harry, mas fingia que era para o Ron. Ela sentou entre Lizzie e Hermione, e fingia não notar o jeito de Harry olhava de vez em quanto para os bancos, olhando nos olhos da namorada, enquanto procurava pelo pomo. Se ela quisesse era fácil fazer de conta, se sentando muito próximo à Lizzie, que os olhares eram para ela mesmo, que ele não conseguia ficar um jogo inteiro sem ao menos olhá-la .
Grifinória estava jogando contra Sonserina. E que jogo era! Durou cerca de 13 horas. Toda hora que Harry visava o pomo, Draco corria em sua direção quase derrubando ambos da vassoura.Apesar dela não pensar muito sobre isso, Ginny tinha um relutante respeito pela determinação feroz que alguns Sonserinos tinham em relação às suas metas. Ela imaginava que se ela possuísse ao menos metade dessa obstinação, Harry olharia para ela do jeito que ele olha para Lizzie.
Ron se tornou goleiro no ano seguinte ao torneio Tribruxo. Oliver Wood foi embora, Harry era o capitão do time, e foi acusado de favoritismo ao dar a posição de goleiro ao seu melhor amigo. Ron não deixou que eles reclamassem por muito tempo, já que provou ser um talentoso jogador. Isso lhe deu bastante confiança, equilíbrio, sendo um jogador estrela, não esquecendo de mencionar que ele se tornou um sucesso entre as garotas da escola, para o desagrado de Hermione.
As garotas gritavam por Draco também e Harry. Este não dava muita atenção, não reparando elas enquanto se dirigia à Lizzie depois de cada jogo. Ron saboreava a atenção, e Draco... Draco parecia totalmente desinteressando na coisa toda. Se a Sonserina ganhava, ele se retirava com seus companheiros para celebrar; se perdia, ele ficava com o pior de seus humores, que as pessoas que o conheciam sabiam bem.
Neste dia a Sonserina ganhou. Harry estendeu a mão e Draco o cumprimentou, sorrindo satisfeito. Harry pareceu não ligar muito. Ele saudou o time, disse que haviam jogado bem e correu para Lizzie, com um braço em volta dela e outro em volta de Ron. Até que Ron visualizou Hermione e se despediu dos dois. Eles riram e os olharam partir, então Harry sussurrou algo no ouvido de Lizzie e o sorriso se tornou algo mais íntimo, fazendo Ginny desviar o olhar.
Ao longe, ela avistou Draco andando sem seus barulhentos companheiros e se perguntou o que acontecia. Atraída pelo mesmo instinto que a levou a um diário amaldiçoado. Ginny contornou o campo de Quadribol até estar seguindo Draco Malfoy em direção às árvores que margeiam da Floresta Proibida. Ele andou por quase uma hora e justo quando ela se perguntava se devia voltar, o perdeu de vista. Confusa e frustrada, ela continuou um pouco mais adiante até um braço sair de uma árvore, tapar sua boca e puxá-la firme contra um grande e tenso corpo.
- Me seguindo, Weasley? Numa missão para Potter?
Ela tentou falar, mas viu a inutilidade disso, pois a mão dele cobria sua boca. Sacudiu-se, mas ele só apertou mais. Soltando um grito de dor, ela mordeu a palma da mão dele. Forte. Xingando, ele a soltou e ela se virou para ele, se afastando um pouco.
- Honestamente, Malfoy, Harry não tem interesse suficiente em você para pedir para alguém te seguir.
Ele levantou uma sobrancelha – Então é você quem tem interesse?
- Não. Sim. Quero dizer... – ela bufou – Por que você não está com seus colegas?
- Eu gosto de ficar sozinho depois de um jogo – disse facilmente.
- Não, você não gosta – ela se ouviu dizer, como se não estivesse mais em seu próprio corpo. Pára! Gritou consigo mesma. Pare de dizer tudo que lhe vem à mente. – Você sempre sai com eles para beber cerveja amanteigada que vocês pegam na cozinha.
- E como você sabe o que eu sempre faço?
- Eu presto atenção – disse ativamente – Eu observo as pessoas.
- Bem, se você me olhasse com um pouco mais de atenção hoje, veria que eu claramente não quero falar com ninguém. E se você tem me observado mais atenciosamente no passado, saberia que certamente nunca quereria falar com você.
- Ótimo! – ela deu as costas para ele de uma maneira esperando ser dramática.
Desejou que alguma fera o devorasse.
~
Claro que isso não era o que ela queria de jeito nenhum. E depois desse dia, ela começou a prestar muito mais atenção a Draco Malfoy. O observava nas refeições, como ele comia separado do resto dos Sonserinos, com exceção de Pansy Parkinson que às vezes o fazia sorrir. Crabbe e Goyle eram sempre mais guarda-costas do que amigo para ele, mas ultimamente, eles pareciam ser menos do que isso. As disputas entre Draco, Ron e Harry que ainda eram tão vívidas nas memórias de Ginny, pareciam não existir. Eles discutiam ocasionalmente, mas na maior parte do tempo pareciam ter aderido ao estilo 'viva e deixe viver'.
Ela não podia vê-lo nas aulas, claro, porque não compartilhavam nenhuma, mas sabia bem seu calendário e descobriu que ele tinha Adivinhação durante um horário livre. E então, antes de Madame Trelawney começar a aula, Ginny se arrastou até o seu velho sótão empoeirado e encontrou um lugar onde podia se esconder antes que os alunos do sétimo ano entrassem para mais uma aula chata onde pretendiam que viam seus futuros.
E Ginny observava.
Crueldade sempre foi um parte de sua fachada, sem esforço e limpa como o brilho da lâmina de uma espada; feita para cortar, e cortar fundo. Como a espada, Draco não podia evitar o que era. Agora, com a idade sua crueldade foi refinada, e com isso, uma sabedoria que ela esta certa que ele não possuía quando mais novo. Mas havia ressentimento nele agora, quase como se ele desejasse por mudanças... de cenário, de posição, qualquer coisa. Ele era a lâmina que em toda superfície que passava, ele esperava cegar o fio.
Depois de quase três semanas observando, Ginny veio à perturbada conclusão que ela não queria que ele perdesse o fio, ela queria, de fato, que ele fosse bem afiado a ponto de cortá-la, fazendo-a sangrar até as memórias escaparem numa cascata vermelha e ela pudesse finalmente se ver livre para ter paz.
Era um dia claro de sol não muito depois de sua descoberta reflexiva que ele a encurralou pela primeira vez num corredor escuro.
~
- Eu quero saber por que você vem me seguindo e eu quero saber agora.
- Eu não estou...
- Você está e mais, você é péssima nisso, Weasley. Posso ouvir seus ruídos durante a aula da Trelawney.
- Tá bem. Talvez eu esteja te seguindo. E daí?
- É sério? Ou você finalmente ficou louca, hmm? Todos esses anos correndo atrás do Potter e ele te ignorando finalmente te atingiram, não? E você resolveu correr atrás de outro apanhador?
Ele era lindo e duro, bravo e calmo tudo ao mesmo tempo; Tom tinha sido igual. Exceto que Tom não xingava ela ou a fazia sentir idiota, Tom dizia que ela era linda também, que ela podia ser tudo pra ele, que ela podia ser alguém. Não havia essa pretensão com Draco. Ele a odiava porque ela era uma Weasley e mesmo se essa não fosse a melhor razão do mundo, ainda era ódio, e não se pode odiar o nada. Seu ódio a fazia ser real.
- Me beija – ela disse, de novo sem pensar.
Os olhos dele, se possível, se esbugalharam um pouco.
- O-O que?
- Ah, deixa pra lá, eu mesma faço. – ela murmurou, antes de ficar nas pontas dos pés e pressionar seus lábios firmemente nos dele.
Estavam ambos chocados por um momento, pálidos e fascinados em iguais proporções, não dispostos a fazer algo como parar o beijo. Aos poucos, os lábios dele se suavizaram e os dela também. As mãos dele ganharam as suas costas enquanto ela desalinhava o penteado perfeito do cabelo dele. Logo estavam atracado um ao outro, apertando e chupando, mordendo e gemendo enquanto adentravam mais nas sombras. Draco tateou atrás de si e uma passagem secreta se abriu. Eles caíram no chão, um em cima do outro, mais em nenhum segundo perderam contato um do corpo do outro, nem quando começaram a se livrar das roupas.
Ginny estava desapontada, o fio dele não a cortou, quase não a machucou. Seus toques poderiam quase ser chamados de gentis e isso a fez chorar por motivos que ela não saberia dizer. Ela perdeu a virgindade com alguém que a odiava na escadaria de uma passagem secreta perto da sala da Prof. Trelawney.
Ela nunca deu a Draco tempo suficiente para ouvi-lo dizer que ele havia perdido a dele da mesma maneira.
