Capítulo três: Carta para o Ministro

Apenas após o jantar Hermione se lembrara que não tinha terminado uma carta que mandaria ao Ministro da Magia. Era sobre um dos poucos bruxos das trevas que restara e que estava foragido. Estivera trabalhando duro para descobrir o paradeiro do homem e achava que agora, mais do que nunca, estava perto de encontra-lo. Ela esperou que Rony e Harry fossem dormir e sentou na sala para escrever.
Isso fez com que Hermione ficasse quase sozinha na sala. Demorou um bom tempo para notar um par de grandes olhos castanhos lhe observando.
- Não vai dormir, Gi? – perguntou curiosa, diante o sorriso ilustrado no rosto da amiga.
- Não – respondeu Gina vagamente, mantendo o sorriso no rosto, o que lhe fez parecer decididamente abobada – É mais interessante ficar aqui te observando.
- Então continue – disse Hermione, voltando-se para a carta que estava escrevendo.
Mas não conseguiu concentrar-se de novo. Foi difícil confessar para si mesma que ela não estava ali, na poltrona da sala de estar, interrompendo suas férias, para escrever uma carta ao Ministério. Ela poderia estar agora em sua cama, sonhando com o próprio casamento, mas seus pensamentos não permitiriam.
Largou o pergaminho e a pena sobre a mesinha de centro e voltou-se para Gina, que continuava a observa-la.
- Está bem, eu me rendo – disse sorrindo, após alguns segundos encarando a moça – O que você quer?
- Eu precisava te contar, não consegui esperar até amanhã – falou Gina acomodando-se no sofá e estendendo a mão esquerda para Hermione.
Ela viu a luz das velas ser refletida no dedo anelar de Gina. Era uma aliança, de ouro. Uma aliança de noivado.
- Parabéns, Gi! – cumprimentou Hermione, um largo sorriso se abrindo no rosto.
Mas Gina, que conhecia muito bem Mione, percebeu que seus olhos não demonstravam a alegria existente em seu sorriso.
- Está bem, - disse ela com o olhar fraternal bem conhecido pelas amigas – Não precisa fingir alegria. O que houve?
Hermione deixou escapar um longo suspiro. Sabia que precisava desabafar com alguém, e não havia ninguém melhor do que sua futura cunhada e melhor amiga.
- Não é que eu não esteja feliz por você – e Gina sabia bem disso – Acontece que as coisas estão indo tão mal entre Rony e eu, que não consigo... Não consigo me alegrar com nada.
- Por que as coisas estão indo mal? – perguntou Gina, embora já adivinhasse qual seria a resposta.
- Ele não se importa mais comigo, Gi – uma lágrima rolou pelo seu rosto.
- O Rony te ama, Mione.
- Se ele realmente me ama, por que não demonstra? No começo ele era tão carinhoso, era educado... Mas com o tempo ele mudou. Eu estava agüentando, mas depois do que ele me disse hoje eu não sei se devo continuar com ele.
Gina se espantou. Sabia que Rony era um pouco teimoso, às vezes chato. Mas o que ele teria dito para magoar Hermione de vez? Conhecia bem o seu irmão e sabia que ele amava demais sua namorada para querer vê-la chorando.
- O que foi que ele disse?
- Que amanhã vai à praia surfar com os amigos. Amanhã, Gina. No nosso aniversário de namoro. Eu teria sugerido passear, ter um jantar romântico à dois, mas não. Quem se importa com essas bobeiras se as ondas amanhã estarão iradas? Eu me importo. Muitas mulheres, no meu lugar, teriam dito que todos os homens são assim. Que não se deve sofrer por eles. E elas estão certas – ela parou de falar e fungou. Agora não continha mais as lágrimas e começava a soluçar – Afinal, por que eu deveria chorar e, de repente, tornar-me extremamente sensível, por um homem que eu amo há dez anos e que agora prefere umas ondas e um bando de homens de bermuda à vir aqui e me dar um abraço?
- Você quer que eu converse com ele? – sugeriu Gina docemente, segurando as mãos de Hermione.
- Não, Gi, obrigada. Eu já decidi que a partir de amanhã as coisas vão mudar nessa casa. Rony vai experimentar um pouco do próprio veneno.
Gina achou melhor não perguntar o que a amiga faria, por isso apenas sugeriu que fossem dormir. Já passava da meia noite e Hermione voltou ao quarto enxugando suas lágrimas.