Capítulo cinco: No Sítio

Eram exatamente quatro horas quando eles aparataram no sítio. A casa era realmente muito grande, térrea, de tijolos à mostra. O extenso gramado que a rodeava abrigava também algumas macieiras, cada uma com uns três metros de altura.
Ao lado deles, aparataram Jorge, Fred e Mariana. Todos se cumprimentaram com saudades.
- Chegaram bem na hora – comentou Mariana olhando no relógio – Digamos que pontualidade é seu ponto forte, não Mione?
Hermione respondeu com um sorriso, corando um pouco.
- Vamos entrando? – perguntou Jorge – Tenho que buscar a Beka com Pó de Flú.
Eles caminharam juntos até a porta da casa, onda havia um pergaminho com dizeres em letras minúsculas.
- O que é isso? – Harry havia aproximado o rosto do pergaminho. Seu nariz estava a meio centímetro do papel e mesmo assim não conseguia distinguir nenhuma letra.
- Ah, as regras – resmungou Fred.
- Percy avisou que as deixaria na porta para nós - explicou Jorge fazendo menção de pegar o pergaminho.
Mas Hermione foi mais rápida. Despregou o pergaminho da porta e usou um feitiço para aumenta-lo – juntamente com suas letras.
Gina esquecera momentaneamente a preocupação que tinha com Rony. Ela agora estava abraçada a Harry, ambos fazendo força para não rir. Hermione teimava em ler as regras do pergaminho para Fred e Jorge, que contavam os furos e rasgos em seus próprios tênis, para não ouvi-la falar.
Os gêmeos haviam mudado muito. Pela primeira vez na vida, haviam diferenciado-se no visual. Jorge tinha um grande moicano ruivo sobre a cabeça raspada, enquanto Fred arrumara o cabelo em muitos e largos espinhos, que se mantinham arrumados por magia, sem uso de gel. Diziam que o motivo era o namoro, e podia-se acreditar : tomaram essa atitude quando Rebeka deu o terceiro beijo acidental em Fred. Mas eles já haviam namorado na escola e nunca tinham mudado o visual por isso. "Agora é para valer", dissera Jorge quando Rony lhe perguntou sobre o assunto. No entanto, a única coisa que servia para reconhecer um ou outro era o cabelo. Os seus rostos continuavam idênticos até a última sarda e até mesmo os piercings eram iguais – ambos tinham um na sobrancelha direita, um na narina esquerda e um na língua.
Quando acabou de ler, Mione guardou o pergaminho dentro das vestes. Então, Mariana tirou a varinha de um dos muitos bolsos em sua calça e apontou-a para a fechadura da porta.
- Alorromora!
Mas a porta não se abriu.
- Droga! – reclamou Jorge chutando a porta – Está trancada à chave!
- Eu já estou indo! – gritou uma voz fina e esganiçada de dentro da casa.
Rony franziu a testa olhando para a porta.
- O Percy deixou o elfo dele aí?
- Francamente! – exclamou Hermione em resposta – Você não ouviu o que eu acabei de ler?
Ele não respondeu e, para alívio de Gina – que tentaria mudar de assunto se os dois não parassem de se encarar – a porta se abriu.
Deram de cara com um elfo doméstico, do sexo feminino, sobre um banquinho – que provavelmente usara para alcançar a fechadura. Tinha grandes olhos verdes, um nariz redondo e achatado, sardas e um rabo-de-cavalo loiro. Usava um avental por cima de uma camiseta cor-de-rosa e uma calça jeans.
- Sejam bem-vindos, meus senhores – cumprimentou o elfo, descendo do banquinho e fazendo uma reverência – Posso lhes mostrar a casa?
Todos seguiram o elfo - que revelara chamar-se Dani - enquanto esta lhes mostrava cada aposento da casa. Hermione, que ficara satisfeitíssima ao ver as roupas de Dani, seguia-a com um sorriso no rosto, que se virava para cada cômodo apontado pelas minúsculas mãos verdes do elfo.
Já conheciam toda a casa quando ouviram alguém chamar da sala.
- Lino! – exclamaram Fred e Jorge correndo para lá e logo sendo acompanhados pelos outros.
Lino estava parado no meio do aposento, com a mochila nas costas, admirando tudo à sua volta e sorriu quando avistou os amigos.
- Desculpem o atraso.
Ele cumprimentou todos, inclusive Dani – o que deixou Hermione ainda mais satisfeita.
Logo depois, Angelina aparatou na sala.
- Onde está Olívio? – indagou Mariana após cumprimentar a amiga.
- Ele vem com Pó de Flú daqui a uns quinze minutos – respondeu Angelina sorrindo – Está tendo problemas para convencer o Baldino a entrar na lareira.
Por um momento, Mione se perguntou quem seria Baldino, mas sua atenção logo voltou-se para Jorge. Ele estava ao seu lado e acabara de dar um pulo, como se acordasse de um transe.
- Pó de Flú... – disse ele com cara de quem perdera o trem – Rebeka!
E saiu correndo para a lareira, usando o Pó de Flú para ir a algum lugar. Hermione não ouviu o que ele disse quando entrou na lareira. Aliás, ninguém ouviu: o som foi abafado pelas risadas de Fred.
- O que deu neles? – perguntou Angelina a Rony, que deu de ombros.
- O Jorge esqueceu a namorada! – explicou Mariana, rindo também.
Não demorou muito para que Jorge voltasse, seguido de Rebeka.
Era uma moça bonita, de cabelos loiro-escuros e olhos azuis. Tinha um piercing no nariz, um na língua, e um transversal na orelha direita. Se não a conhecessem, diriam que estava precisando realmente de dinheiro para comprar roupas novas: usava uma camiseta larga – provavelmente tirada do guarda-roupa do namorado –, uma calça jeans extremamente justa e rasgada e seus tênis (sem cadarço) eram pretos com manchas de tinta vermelha. Mas todos ali sabiam que, mesmo se tivesse todo o dinheiro do banco de Gringotes, Rebeka continuaria rasgando ou pintando suas roupas novas.
Cumprimentou a todos com um largo sorriso no rosto, largou a mochila no chão e sentou-se no sofá. Logo os outros haviam se sentado também e estavam discutindo a divisão dos quartos.
- Temos seis quartos com camas de casal e dois com camas de solteiro – lembrou Dani, sentada ao lado de Hermione.
- Certo, então temos quartos para todo mundo. Não tem nem o que discutir! – ponderou Angelina.
Mas, para a surpresa de todos, Hermione informou:
- Eu vou ficar com um quarto de solteiro.
Harry e Gina se entreolharam. Depois Harry, assim como os outros ali presentes, fitou Hermione. Seu rosto demonstrava uma expressão neutra, como se o que acabasse de dizer fosse algo completamente normal. Os olhos de Gina encontraram o de Rony. A expressão no rosto dele era uma mescla de espanto e desespero. Ela pôde ler nos lábios dele, que não emitiam som: "O que deu nela?".
- Bom, - continuou Angelina, para quebrar o clima tenso – então a Mione fica com um quarto de solteira, o Rony com...

- Posso dormir na rede? – perguntou Rony, de súbito.

- Ahm... Acho que pode!

Angelina olhou à sua volta. Ninguém fez objeção ao pedido de Rony, então ela olhou para ele e fez que sim com a cabeça. Mas quem continuou o que ela dizia foi Mariana.
- Gina e Harry; Angelina e Olívio; Rebeka e Jorge; Fred e eu. Quatro quartos de casal. O quinto quarto fica com Lino e...
Ela parou de falar subitamente e olhou para Lino, aflita. Ele fitava o chão, pensativo. Angelina quebrou novamente o silêncio.
- Eu falei com a Katie ontem – percebia-se que ela escolhia as palavras cuidadosamente – Ela disse que virá para cá amanhã.
- Ela pode ficar com o sexto quarto – sugeriu Rebeka.
Lino Jordan olhou para ela e acenou com a cabeça.
Por um instante, Gina teve vontade de perguntar por que Lino e Katie não ficariam no mesmo quarto, mas sentiu que aquela não era a hora e nem o lugar para falar disso.
Após decidirem exatamente quem ficaria com cada quarto, todos se levantaram para guardar suas mochilas. Mas antes que abandonassem a sala, a lareira se acendeu, e dela saiu Olívio Wood, carregando o que parecia ser um filhote de boxer, exceto pela bifurcação na cauda.
- O que vem a ser isso? – perguntou Rony, olhando aterrorizado para a cauda do filhote.
- É um crupe... – espantou-se Hermione – Não. Não pode ser! Crupes são menores! Mas então o que...?
- Baldino, – apresentou Olívio, colocando o cão no chão e explicando – é filhote de um crupe com um boxer.
Todos cumprimentaram Olívio, alguns acariciaram Baldino, que latia alegremente. Mas quando Rebeka aproximou-se do filhote, este começou a rosnar e a latir mais agressivamente.
- Hum... O filhotinho é agressivo, é? – riu Rebeka estendendo a mão para Baldino.
- Não, Rebeka! Ele não gosta de...
Angelina tentou alertar, enquanto Olívio recuava com o cão. Tarde demais: Baldino mordera o dedão de Rebeka, que fazia força para tentar abrir a boca do bichinho com a mão que estava solta.
- Mas que m...! Esse bicho é forte! – reclamou ela chutando o chão.
- Locomotor Mortie – gritou Jorge apontando a varinha para o fucinho de Baldino e correndo para socorrer a namorada. O cachorro soltara o dedo de Rebeka, com suas pernas paralisadas, mas continuava latindo para ela.
Dani tirou o próprio avental e deu para Jorge, e este o enrolou no dedo de Rebeka. Os três correram para o banheiro.
- Eu tentei avisar – explicava Angelina desconcertada – Baldino não gosta de trouxas.