Eram exatamente quatro horas quando eles aparataram no sítio. A casa
era realmente muito grande, térrea, de tijolos à mostra. O extenso gramado que
a rodeava abrigava também algumas macieiras, cada uma com uns três metros de
altura.
Ao
lado deles, aparataram Jorge, Fred e Mariana. Todos se cumprimentaram com
saudades.
- Chegaram bem na hora – comentou Mariana olhando no relógio
– Digamos que pontualidade é seu ponto forte, não Mione?
Hermione
respondeu com um sorriso, corando um pouco.
- Vamos entrando? – perguntou Jorge – Tenho que buscar a
Beka com Pó de Flú.
Eles
caminharam juntos até a porta da casa, onda havia um pergaminho com dizeres em
letras minúsculas.
- O que é isso? – Harry havia aproximado o rosto do
pergaminho. Seu nariz estava a meio centímetro do papel e mesmo assim não
conseguia distinguir nenhuma letra.
- Ah, as regras – resmungou Fred.
- Percy avisou que as deixaria na porta para nós - explicou
Jorge fazendo menção de pegar o pergaminho.
Mas
Hermione foi mais rápida. Despregou o pergaminho da porta e usou um feitiço
para aumenta-lo – juntamente com suas letras.
Gina
esquecera momentaneamente a preocupação que tinha com Rony. Ela agora estava
abraçada a Harry, ambos fazendo força para não rir. Hermione teimava em ler
as regras do pergaminho para Fred e Jorge, que contavam os furos e rasgos em
seus próprios tênis, para não ouvi-la falar.
Os gêmeos haviam mudado muito. Pela primeira vez na vida, haviam
diferenciado-se no visual. Jorge tinha um grande moicano ruivo sobre a cabeça
raspada, enquanto Fred arrumara o cabelo em muitos e largos espinhos, que se
mantinham arrumados por magia, sem uso de gel. Diziam que o motivo era o namoro,
e podia-se acreditar : tomaram essa atitude quando Rebeka deu o terceiro beijo
acidental em Fred. Mas eles já haviam namorado na escola e nunca tinham mudado
o visual por isso. "Agora é para valer", dissera Jorge quando Rony
lhe perguntou sobre o assunto. No entanto, a única coisa que servia para
reconhecer um ou outro era o cabelo. Os seus rostos continuavam idênticos até
a última sarda e até mesmo os piercings eram iguais – ambos tinham um na
sobrancelha direita, um na narina esquerda e um na língua.
Quando
acabou de ler, Mione guardou o pergaminho dentro das vestes. Então, Mariana
tirou a varinha de um dos muitos bolsos em sua calça e apontou-a para a
fechadura da porta.
- Alorromora!
Mas
a porta não se abriu.
- Droga! – reclamou Jorge chutando a porta – Está
trancada à chave!
- Eu já estou indo! – gritou uma voz fina e esganiçada de
dentro da casa.
Rony
franziu a testa olhando para a porta.
- O Percy deixou o elfo dele aí?
- Francamente! – exclamou Hermione em resposta – Você não
ouviu o que eu acabei de ler?
Ele
não respondeu e, para alívio de Gina – que tentaria mudar de assunto se os
dois não parassem de se encarar – a porta se abriu.
Deram
de cara com um elfo doméstico, do sexo feminino, sobre um banquinho – que
provavelmente usara para alcançar a fechadura. Tinha grandes olhos verdes, um
nariz redondo e achatado, sardas e um rabo-de-cavalo loiro. Usava um avental por
cima de uma camiseta cor-de-rosa e uma calça jeans.
- Sejam bem-vindos, meus senhores – cumprimentou o elfo,
descendo do banquinho e fazendo uma reverência – Posso lhes mostrar a casa?
Todos
seguiram o elfo - que revelara chamar-se Dani - enquanto esta lhes mostrava cada
aposento da casa. Hermione, que ficara satisfeitíssima ao ver as roupas de Dani,
seguia-a com um sorriso no rosto, que se virava para cada cômodo apontado pelas
minúsculas mãos verdes do elfo.
Já
conheciam toda a casa quando ouviram alguém chamar da sala.
- Lino! – exclamaram Fred e Jorge correndo para lá e logo
sendo acompanhados pelos outros.
Lino
estava parado no meio do aposento, com a mochila nas costas, admirando tudo à
sua volta e sorriu quando avistou os amigos.
- Desculpem o atraso.
Ele
cumprimentou todos, inclusive Dani – o que deixou Hermione ainda mais
satisfeita.
Logo
depois, Angelina aparatou na sala.
- Onde está Olívio? – indagou Mariana após cumprimentar a
amiga.
- Ele vem com Pó de Flú daqui a uns quinze minutos –
respondeu Angelina sorrindo – Está tendo problemas para convencer o Baldino a
entrar na lareira.
Por
um momento, Mione se perguntou quem seria Baldino, mas sua atenção logo
voltou-se para Jorge. Ele estava ao seu lado e acabara de dar um pulo, como se
acordasse de um transe.
- Pó de Flú... – disse ele com cara de quem perdera o trem
– Rebeka!
E
saiu correndo para a lareira, usando o Pó de Flú para ir a algum lugar.
Hermione não ouviu o que ele disse quando entrou na lareira. Aliás, ninguém
ouviu: o som foi abafado pelas risadas de Fred.
- O que deu neles? – perguntou Angelina a Rony, que deu de
ombros.
- O Jorge esqueceu a namorada! – explicou Mariana, rindo
também.
Não
demorou muito para que Jorge voltasse, seguido de Rebeka.
Era
uma moça bonita, de cabelos loiro-escuros e olhos azuis. Tinha um piercing no
nariz, um na língua, e um transversal na orelha direita. Se não a conhecessem,
diriam que estava precisando realmente de dinheiro para comprar roupas novas:
usava uma camiseta larga – provavelmente tirada do guarda-roupa do namorado
–, uma calça jeans extremamente justa e rasgada e seus tênis (sem cadarço)
eram pretos com manchas de tinta vermelha. Mas todos ali sabiam que, mesmo se
tivesse todo o dinheiro do banco de Gringotes, Rebeka continuaria rasgando ou
pintando suas roupas novas.
Cumprimentou
a todos com um largo sorriso no rosto, largou a mochila no chão e sentou-se no
sofá. Logo os outros haviam se sentado também e estavam discutindo a divisão
dos quartos.
- Temos seis quartos com camas de casal e dois com camas de
solteiro – lembrou Dani, sentada ao lado de Hermione.
- Certo, então temos quartos para todo mundo. Não tem nem o
que discutir! – ponderou Angelina.
Mas,
para a surpresa de todos, Hermione informou:
- Eu vou ficar com um quarto de solteiro.
Harry
e Gina se entreolharam. Depois Harry, assim como os outros ali presentes, fitou
Hermione. Seu rosto demonstrava uma expressão neutra, como se o que acabasse de
dizer fosse algo completamente normal. Os olhos de Gina encontraram o de Rony. A
expressão no rosto dele era uma mescla de espanto e desespero. Ela pôde ler
nos lábios dele, que não emitiam som: "O que deu nela?".
- Bom, - continuou Angelina, para quebrar o clima tenso –
então a Mione fica com um quarto de solteira, o Rony com...
- Posso dormir na rede? – perguntou Rony, de súbito.
- Ahm... Acho que pode!
Angelina
olhou à sua volta. Ninguém fez objeção ao pedido de Rony, então ela olhou
para ele e fez que sim com a cabeça. Mas quem continuou o que ela dizia foi
Mariana.
- Gina e Harry; Angelina e
Olívio; Rebeka e Jorge; Fred e eu. Quatro quartos de casal. O quinto quarto
fica com Lino e...
Ela parou de falar subitamente e olhou para Lino, aflita. Ele fitava o chão,
pensativo. Angelina quebrou novamente o silêncio.
- Eu falei com a Katie ontem
– percebia-se que ela escolhia as palavras cuidadosamente – Ela disse que
virá para cá amanhã.
- Ela pode ficar com o sexto
quarto – sugeriu Rebeka.
Lino Jordan olhou para ela e acenou com a cabeça.
Por um instante, Gina teve vontade de perguntar por que Lino e Katie não
ficariam no mesmo quarto, mas sentiu que aquela não era a hora e nem o lugar
para falar disso.
Após decidirem exatamente quem ficaria com cada quarto, todos se
levantaram para guardar suas mochilas. Mas antes que abandonassem a sala, a
lareira se acendeu, e dela saiu Olívio Wood, carregando o que parecia ser um
filhote de boxer, exceto pela bifurcação na cauda.
- O que vem a ser isso? –
perguntou Rony, olhando aterrorizado para a cauda do filhote.
- É um crupe... –
espantou-se Hermione – Não. Não pode ser! Crupes são menores! Mas
então o que...?
- Baldino, – apresentou Olívio,
colocando o cão no chão e explicando – é filhote de um crupe com um
boxer.
Todos cumprimentaram Olívio, alguns acariciaram Baldino, que latia
alegremente. Mas quando Rebeka aproximou-se do filhote, este começou a rosnar e
a latir mais agressivamente.
- Hum... O filhotinho é
agressivo, é? – riu Rebeka estendendo a mão para Baldino.
- Não, Rebeka! Ele não
gosta de...
Angelina tentou alertar, enquanto Olívio recuava com o cão. Tarde
demais: Baldino mordera o dedão de Rebeka, que fazia força para tentar abrir a
boca do bichinho com a mão que estava solta.
- Mas que m...! Esse bicho
é forte! – reclamou ela chutando o chão.
- Locomotor Mortie
– gritou Jorge apontando a varinha para o fucinho de Baldino e correndo para
socorrer a namorada. O cachorro soltara o dedo de Rebeka, com suas pernas
paralisadas, mas continuava latindo para ela.
Dani tirou o próprio avental e deu para Jorge, e este o enrolou no dedo
de Rebeka. Os três correram para o banheiro.
- Eu tentei avisar –
explicava Angelina desconcertada – Baldino não gosta de trouxas.
