Todos
já haviam arrumado suas coisas e agora se sentavam para jantar. O acidente com
o cão já não estava causando balbúrdia, embora Wood parecesse aborrecido e
tivesse checado se Baldino ainda estava com todos os dentes no lugar.
Dani
tinha ajudado Lino e Mariana a fazer a comida. Em geral, estava boa, mas não
era seguro tocar no baiacu que Lino fritara.
- Para que diabos o Percy quer uma casa com oito quartos? –
perguntou Fred tomando um gole de cerveja amanteigada.
- Será que ele pretende procriar tanto assim? – riu Rebeka,
que estava com curativos nos dois polegares (Jorge errara ao colocar o
primeiro).
- Que Deus me livre! – exclamou Jorge – Já imaginaram
quantas miniaturas do Percy nós teríamos para impor as regras?
Todos
riram. Ou quase todos.
Para
desespero dos gêmeos, Hermione acabara de se lembrar do pergaminho com as
regras e insistiu em lê-las para os presentes.
- Não se preocupe Srta. Granger. Nós estamos cientes da
importância dessas regras e tomaremos conta da tarefa de transmiti-las aos
nossos colegas – disse Fred, imitando a voz do Percy.
Mas
desta vez ninguém riu, e também não conseguiram convencer Hermione a desistir
da leitura. O jeito foi concentrar-se no prato enquanto rolava o discurso.
- Regra nº1 – começava Hermione – É
estritamente proibido, a todos os presentes na casa, o uso de bombas de bosta.
Harry teve que fazer força para não rir quando Lino Jordan mostrou a
ele o conteúdo de seu bolso.
Entrementes,
Gina conversava com Rony, em um tom quase inaudível.
- O que deu na Mione? – perguntava ele, a voz abafada pelo
pedaço de bife que acabara de colocar na boca.
- Ela acha que você não tem dado atenção a ela – contou
Gina – Acha que você não gosta mais dela.
- Mas isso não faz sentido
algum! Eu faço tudo por ela, estou sempre do seu lado e...
- Você ia surfar hoje. Justo hoje, Rony? Você sabe
que dia é hoje?
- Sei muito bem: é meu aniversário de namoro. Mas ela
precisava me tratar desse jeito? Eu ia voltar cedo. Ia jantar com ela e até já
comprei o presente, se quer saber.
- Regra nº37 – a
velocidade com que Hermione lia as regras era impressionante – Não se deve
entrar com Pelúcios, Acromântulas ou Cinzais no terreno pertencente a Percy
Weasley.
- Mas ela acha que isso não é suficiente – explicou Gina
servindo-se de suco de abóbora - Quer que você esteja sempre do lado dela. Sem
contar que está preocupada com o seu futuro e...
- Preocupada com o que no meu futuro? Para mim ela está
é preocupada com ela mesma. Só está pensando na diversão dela, no
trabalho dela, nos interesses dela.
- Você sabe muito bem que a Mione não é assim, Rony. Sabe
que ela também se importa com os outros.
- Ah, é claro! – exclamou Rony com ceticismo – Ela se
preocupa com as regras do Percy!
- Ela se preocupa com você, Rony! Não percebe? A
Mione quase arrancou os cabelos quando você largou seu emprego no Ministério.
Você estava com tudo o que precisava para se tornar um homem bem sucedido e
jogou tudo para o alto por uma prancha e um emprego bobo em Hogsmeade.
- Ah, então é assim? – perguntou Rony quase se engasgando
com seu bife. – Ela que me desculpe, vou lembrar de pedir permissão para ela
na próxima vez que for tomar uma decisão importante para a minha vida.
- Não, Rony, você não está entendendo...
- Eu estou entendendo perfeitamente bem. Se a Hermione quer
agir como criança, então fique à vontade. Mas eu é que não vou me
preocupar mais com ela.
Gina
tentou impedir que Rony se retirasse da mesa, mas ele foi mais rápido. Saiu sem
esperar Hermione terminar seu discurso e nem pediu licença. Na verdade, não
sabia nem onde estava indo – concentrava-se em distinguir se o que sentia era
ódio ou tristeza.
Quando
todos acabaram de jantar, foram para os jardins conversar e se divertir um
pouco. Todos, exceto Rony. Ele havia tomado um banho e encontrava-se agora
deitado na rede que estendera na varanda, pensativo.
Ele
não entendia por que tudo aquilo estava acontecendo. Achava, até então, que
Hermione estava feliz ao lado dele. Por que ela sofrera calada? Era tão boa de
dialogar, sempre conversava sobre o que estava sentindo. Mas agora não
adiantava mais pensar nisso. Não ia ficar se "arrastando" atrás dela –
ia se mostrar mais forte, indiferente, por mais que isso o fizesse sofrer. E
tinha certeza de que ela iria ceder.
Dentre
as dez pessoas que se encontravam no jardim, apenas quatro não estavam com seu
namorado ou namorada. Harry e Gina estavam abraçados, olhando um álbum de
fotos. A um canto, Olívio e Angelina namoravam, ignorando os latidos de seu
cachorro. Este estava sendo provocado por Rebeka e Jorge e tentava a todo custo
soltar-se da coleira que o prendia a uma macieira.
- Por que você não está com Fred? – perguntou Hermione,
sentada com Mariana sob uma árvore.
- Digamos que ele está... Ajudando um amigo.
As
duas olharam para Fred e Lino que, a uns quatro metros de distância, jogavam
Snap Explosivo.
- Fred acha que tem que estar com os amigos nos momentos difíceis
– explicou Mariana sorrindo – Eu nunca havia pensado em como ele é bom para
os outros. O único problema é que o Fred não assume para ninguém essa
sensibilidade. Sabe, Katie pediu um tempo para o Lino – acrescentou notando a
curiosidade da amiga.
- Por quê? Eles se davam tão bem, estavam sempre juntos...
- Foi esse o problema, Mi. Lino passava muito tempo com Katie,
não desgrudava. E era muito ciumento. Ela disse que já não sabia se estava
com ele porque o amava ou se era só rotina.
Hermione
sentiu um aperto no coração.
- E você? – perguntou Mariana, como se lesse pensamentos
– Por que se afastou do Rony?
- Como assim?
- Não adianta tentar disfarçar, Hermione. Estou vendo pelo
jeito que você trata ele.
- Exatamente o contrário da Katie – suspirou Hermione –
Ele já não passava tempo algum do meu lado. E além do mais o Rony... Mudou.
Parece que não se importa mais com nada e com ninguém.
- Não se importa?
- É, Mari... Ele abandonou o emprego, agora só pensa em
surfe e em televisão. Eu cansei de tentar conversar.
- Mas você ainda o ama, não?
Hermione
fitou chão por um instante. Em seus pensamentos, repetia a si mesma a frase
"eu não vou chorar". Mas uma lágrima rolou em seu rosto quando ela
respondeu que sim.
- E não é o suficiente, Mione?
- Não. Na verdade eu não me importo se o Rony quiser surfar,
assistir TV, ouvir quadribol pelo rádio e xingar o juiz durante uma semana...
Desde que ele prove que me ama. Pelo menos uma vez na vida eu queria que ele se
importasse com a minha opinião, com os meus sentimentos.
- Por que você não conversa com ele? – sugeriu Mariana
espiando a varanda da casa – Vai lá, ele está sozinho.
- É melhor não – respondeu Hermione, segurando a tremenda
vontade de ir até aquela rede e beijar seu namorado, sem dar satisfações a
ninguém – Ele vai ter que me pedir desculpas, não sou eu quem está
errada.
Mariana
fitou-a apreensiva. Por fim, aconselhou:
- Faça o que o seu coração
mandar, Hermione. E se precisar de qualquer coisa, pode contar comigo. Mas
lembre-se: nunca desista dos seus sonhos.
Mione sorriu agradecida. Todos já estavam indo dormir e elas foram também.
Mas Hermione não disse boa noite para Rony, quando passou por ele na varanda.
