Capítulo sete: Elfos e Quadribol Hermione foi a primeira a acordar na manhã seguinte. Ou quase.
- Bom dia, srta. Granger! – disse uma voz fina quando ela chegou à cozinha.
- Bom dia, Dani!
- A srta. levantou cedo. Mas eu já preparei o café.
Sorrindo, Mione se sentou e serviu-se de um copo de leite. Mas Dani continuou em pé do lado da pia.
- Não vai comer, Dani? – perguntou Hermione mostrando uma cadeira à sua esquerda.
- Não... Esse é o lugar da srta. Granger. Da srta. Rebeka Granger.
- Não receio que ela vá se levantar tão cedo, Dani. Se bem conheço minha prima, ela só vai acordar na hora do almoço.
- Muito obrigado, senhorita – guinchou o elfo fazendo uma reverência e indo se sentar ao lado de Hermione.
As duas conversaram sobre a vida dos elfos domésticos. Dani contou que era contratada como cozinheira por Percy e sua esposa, Penelope. Recebia salário, morava com os seus "patrões", tinha dias de folga e era muito bem tratada, mas mantinha seu comportamento de elfo doméstico. E, segundo ela, Penelope não gostava que a limpeza da casa fosse feita por Dani. "Você é paga apenas para cozinhar", ela dizia, "Não precisa se preocupar com as outras tarefas". Hermione fez uma anotação mental para elogiar o tratamento que Penelope oferecia ao seu elfo. Apesar de seus esforços, foram pouquíssimos os bruxos que aceitaram pagar salário aos elfos domésticos. E menor ainda foi o número de elfos que aceitou a remuneração.
Já haviam passado quarenta minutos quando mais alguém levantou. Era Olívio, ainda de pijamas e com os olhos inchados.
Dani e Hermione encerraram sua conversa para ouvir Olívio falar sobre os planos que tinha para aquela tarde – jogar quadribol no jardim. Nenhuma das duas ficou muito excitada com a idéia, mas o ouviram com atenção. Olívio tornara-se goleiro do Ballycastle Bats recentemente, e desde então o quadribol pareceu ser o único assunto sobre o qual sabia conversar.
Aos poucos, o resto das pessoas foi acordando e sentando-se à mesa. Hermione pôde comprovar que havia alguém mais dorminhoco do que Rony, pois Jorge e Rebeka foram os últimos a se levantar.
A manhã foi muito longa para Hermione. Ela tentava se concentrar em seu livro Os Dementadores Não São Tão Maus, de Fernanda Matos, mas não conseguia, devido ao som altíssimo que saía do rádio de Mariana. Mas pelo jeito foi uma manhã um tanto divertida para Jorge e Rebeka, que tinham como objetivo apanhar maçãs na árvore em que Baldino estava amarrado. Olívio afirmou que não se responsabilizaria pelos atos de seu cão.
Katie aparatou por ali às duas da tarde, pouco antes de Olívio chamar a turma para uma partida de quadribol. Hermione pôde ver a expressão de tristeza no rosto de Lino ao cumprimentar Katie, e imaginou se Rony estava sofrendo com a briga tanto quanto ela.
- Eu não vou jogar – anunciou Hermione aos demais, mostrando-lhes a sua atual leitura e sentando-se na varanda.
- Eu também não – disse Gina. Mas quando ela se virou para ir se juntar à Hermione, Fred segurou-a pelo braço.
- Por que você não quer jogar? – perguntou ele, parecendo indignado – Se você sair teremos que jogar com quatro pessoas a menos!
- Quatro? Não, só vamos sair a Mione e eu!
- A Rebeka não pode voar, não é mesmo? – comentou Fred apontando com o polegar por cima do ombro. Gina olhou para onde ele apontou e teve vontade de rir: Rebeka tentava a todo custo fazer uma vassoura levantar vôo, mas esta parecia decidida a não permitir que ela tirasse os pés do chão.
- Mas eu não quero jogar, Fred!
Fred fitou sua irmã por um tempo. Seus olhos castanhos pareciam implorar a sua irmã que jogasse com ele, enquanto o resto de seu rosto tentava fazer o mesmo. Ao invés de responder, Gina foi até Rebeka, tirou a vassoura das mãos da garota ("O que é que você vai fazer?") e levantou vôo. Subiu alguns metros, montada naquela Nimbus 2010 e depois retornou. Não pousou, mas saltou da vassoura a menos de dois metros do chão.
- Pode ser que eu esteja errada, mas acho que uma vez no ar você só precisa comanda-la – disse Gina à Rebeka, acenando com a mão para que esta subisse na vassoura. E foi o que ela fez, com a ajuda do namorado.
Logo Jorge subira em sua própria vassoura e tentava ensina-la como comandar uma.
Foram quinze minutos para decidir os times, que foram nomeados Ducks' Club (Olívio, Angelina, Katie, Jorge e Harry) e Green Blood (Mariana, Fred, Rebeka, Lino e Rony). Angelina e Mariana comentaram que nunca deixariam Olívio e Fred escolherem os nomes de seus filhos.
Podia-se dizer que aquela era a partida de quadribol mais descontraída da história. Katie e Angelina pareciam nunca ter jogado quadribol na vida, pois riam como se tivessem tomado uma boa dose de poção para alegrar. Rebeka estava mais interessada em fazer piruetas no ar com sua vassoura do que em defender o aro de gol improvisado, enquanto Fred e Jorge perseguiam um ao outro, tentando acertar um balaço no nariz idêntico do batedor adversário.
Mas não se podia dizer que a mesma alegria ocupava o terceiro quarto à esquerda, no corredor central da casa. Lá estavam uma moça de cabelos castanhos chorando e sua amiga ruiva tentando compreende-la.
- Por que você está chorando, Mione? – perguntava Gina passando a mão nos cabelos da amiga.
- Está tudo errado, Gina! – soluçou Hermione, com o rosto escondido em uma almofada – Eu sou uma burra!
Gina suspirou profundamente.
- Você se arrependeu, não é?
- É claro que eu me arrependi, Gina! Eu acordo pensando no Rony, vou dormir pensando nele! Não dá para fingir, ele me faz muita falta.
- Essa briga não faz sentido algum...
- Eu sei! Sei que não faz sentido e também sei que fui eu que comecei. Esse é o problema, Gina. O Rony não vai me querer de volta, eu o dispensei como se ele fosse um ser inferior.
- Então vá conversar com ele! – sugeriu Gina tentando animar Mione – Eu conheço meu irmão, sei que ele também sente a sua falta.
- Foi o que a Mari me disse ontem. Mas ao invés de fazer o que ela disse... Não, não sou eu quem está errada... Francamente, a quem eu estava querendo enganar? Agora é tarde... – e ergueu os olhos encharcados de lágrimas para a janela, por onde pôde ver Rony. Estava rindo e tentando tirar a goles das mãos de Angelina, que resistia, rindo também – Ele está bem sem mim.
- Oras, Hermione! Todo homem se sente feliz em um jogo de quadribol. Mas quando voltam ao chão eles se lembram das preocupações.
- Não, Gina, eu conheço o Rony. Ele está bem, ele não precisa de mim.
A partida de quadribol lá fora terminou. Gina continuou insistindo inutilmente que Hermione parasse de se culpar e conversasse com Rony.
Os "jogadores" de quadribol, em sua maioria, agora estavam sentados na sala conversando alegremente sobre como fora o jogo. Mas Rony estava novamente deitado em sua rede, absorto em pensamentos.
Ele ainda estava tentando entender onde foi que errara. Em um dia, Hermione estava em seus braços, feliz, dizendo que lhe amava. No outro, não queria nem olhar na sua cara. Era difícil, ele não conseguia disfarçar – precisava dela. E mais difícil ainda foi assumir para ele mesmo que precisava de um amigo para desabafar. "Gina!" ,pensou ele levantando da rede. Mas se sentou logo em seguida. "Deve estar no quarto de Hermione, confirmando que eu sou um completo imbecil".A vontade que Rony sentia era de bater forte com a cabeça na parede, mas sabia que isso não iria ajudar.
Foi então que ele viu sua mochila, jogada ao lado da rede. Como não pensara naquilo antes? Olhou pela porta e pôde ver Harry entrando no corredor em direção ao seu quarto. Então se levantou procurou na mochila por seu walkie-talkie, mas a falta de organização fez com que ele demorasse um bocado de tempo para encontrar o que procurava.
Nesse meio tempo, Gina e Hermione ouviram alguém bater na porta do quarto.
- Será que é o Rony? – murmurou Hermione levantando-se rapidamente.
- Pode ser.
- Ele não pode me ver chorando.
- O banheiro, rápido!
Gina esperou que Mione entrasse no banheiro da suíte, apanhou o livro da amiga e gritou:
- Pode entrar!
Mas não foi Rony quem abriu a porta, e sim Harry.
- Está lendo aqui no escuro, amor?
Gina se atrapalhou e notou que abrira o livro de ponta cabeça.
- A janela é grande, aqui está claro – explicou desvirando discretamente o livro.
Harry sentou-se ao seu lado.
- Olívio e eu vamos fazer umas comprinhas para o jantar. Não demoramos.
- Okay.
- Você quer vir com a gente?
- Não, obrigada. Hoje eu vou ficar por aqui.
Ele se levantou então e beijou-a. Edwiges, em uma gaiola no canto do aposento começou a piar alto e bater as asas com força.
- Era só o que me faltava, uma coruja ciumenta! – exclamou Harry antes de dar um selinho em sua noiva e desaparatar.
Gina esperou um pouco, depois bateu na porta do banheiro.
- Era o Harry. Ele já foi.
Não demorou muito e Hermione saiu do banheiro. Havia aproveitado sua estadia por lá para lavar o rosto, mas isso só o deixara mais vermelho.
As duas se sentaram novamente na cama e continuaram a conversar. Gina ia recomeçar o processo de persuasão em Hermione, mas parou bruscamente ao ouvir um ruído muito estranho.
- Está vindo da mala do Harry – exclamou Hermione franzindo a testa e apontando para uma mala de viagem azul-marinho no chão.
Gina foi até ela e a abriu. Logo encontrou o que gerava o ruído: era o walkie-talkie de Harry.
"Cicatriz Verde para Hipogrifo" elas ouviram o aparelho reproduzir uma voz familiar "Não, desculpe. Hipogrifo Verde para Cicatriz. Está me ouvindo Cicatriz?". Hermione abriu a boca para dizer algo, mas Gina, que havia se sentado novamente na cama, a interrompeu. Ela colocou a manga das vestes em frente à boca, na tentativa de disfarçar a própria voz.
- Cicatriz na escuta – ela informou com o rosto próximo ao aparelho.
Ao se virar e sorrir para Hermione, viu os lábios desta formarem, sem emitir som algum, a frase O que você está fazendo? Mas Gina apenas fez sinal para que a outra se calasse e elas puderam ouvir o que a voz que saia do walkie-talkie tinha a dizer.
"Cara, eu preciso urgente falar com você. Será que não dá pra você dar um pulo aqui?". Hermione não teve nem tempo de imaginar o que Gina diria – a ruivinha foi rápida.
- Ih, agora não dá. Eu estava entrando no banho. Fala logo, qual é o problema?
Rony demorou um pouco para responder. Talvez estivesse escolhendo as palavras ou imaginando se aquilo era assunto para tratar de walkie-talkie com um amigo prestes a entrar debaixo do chuveiro. "Está bem, o problema é a Mione, Harry" Hermione teve certeza de que se estivesse em pé suas pernas não a agüentariam naquele momento "Eu não estou mais agüentando isso, cara, eu preci...".
As duas esperaram que ele continuasse a frase, mas não foi o que aconteceu.
- Você precisa do quê, cara? – Gina tentou insistir.
Mas não adiantava – o aparelho se desligara sozinho.
- Ai, justo agora? – praguejou Hermione nervosa.
- Deve ter acabado a baretia – sugeriu Gina virando o walkie-talkie de ponta-cabeça.
- É bateria, Gina! - corrigiu Hermione imediatamente - Francamente, eu pensei que você tivesse feito aulas de Estudo dos Trouxas!
Isso não importava agora. As duas tentaram enfeitiçar o aparelho para que funcionasse sem bateria, mas constataram que isso era impossível. O feitiço usado por Arthur Weasley para que os walkie-talkies captassem sinais a pouco mais de 800.000km parecia anular qualquer outro.
- Bosta frita de Dragão! – xingou Rony ao perder o sinal do walkie-talkie.
Ele jogou o aparelho em direção à mochila na tentativa de guarda-lo, mas este quicou na parede e caiu no chão, entortando a antena e fazendo as baterias saltarem para fora.
A vontade louca de bater a cabeça na parede passara. Mas agora Rony sentia uma vontade ainda maior de... "Não, seu imbecil! Homem não chora!" Pensou, nervoso. Não era verdade. Chorara aos sete anos porque sua mãe não o deixara comer doces antes do jantar. Aos três, chorara quando Fred transformou seu urso de pelúcia em uma aranha gigante. E devia ter chorado quando era bebê, mas disso ele não se lembrava. Agora Rony tinha um motivo muito maior para chorar, mas não queria que o vissem.
Levantou então de sua rede, apanhou umas roupas e uma toalha na mochila e foi para o banheiro. As primeiras lágrimas rolaram em seu rosto ao entrar no banho. Mas Rony sentia como se elas estivessem muito mais molhadas do que a água que caía sobre seu corpo. Na verdade, ele nem sentia a umidade que saía do chuveiro, seus pensamentos estavam em outro lugar, em outra pessoa. Hermione.
Um sorriso surgiu em seu rosto ao se lembrar da primeira vez que a vira. Como lhe parecera idiota a garota que entrara em sua cabine no trem à procura de um sapo... E como ele insistia em rejeita-la no primeiro ano... Mas tudo mudou e em seu quarto ano ele já se sentia louco de raiva ao vê-la se aproximar de outros garotos.
"Dez anos..." o sorriso sumira de seu rosto. "Dez anos para conquista-la e o que eu fiz? Deixei Hermione ir embora sem mais nem menos. Sou mesmo um panaca". Mas Rony sabia muito bem, aprendera por experiência própria: não adiantava apenas reconhecer o quanto era burro, para resolver seus problemas. Então o que deveria fazer? Hermione não ia querer ele de volta... Não até ele provar que a merecia. E era isso o que ele devia fazer.
Rony passou alguns minutos distraído com suas recordações. Então ele saiu do banho, já com uma decisão tomada: ia fazer Hermione sentir falta dele também. E só então tentaria voltar para os braços daquela mulher que ele amava tanto.