Capítulo nove: Aracnofobia No dia seguinte era impossível não notar o clima estranho no ar. Katie e Rony ficaram sentados na sacada conversando a tarde inteira. Lino se negava a olhar para os dois e não se animava, mesmo com as brincadeiras freqüentes dos gêmeos. Já Hermione, preferia ignorar a situação. Ficava sentada no sofá com um livro aberto no colo, do qual não despregava os olhos.
- Mione, – chamou Gina a certa altura – há quantas horas você está lendo essa página?
Hermione ficou sem graça ao olhar para a amiga e virar uma página do livro. Tentou dizer algo, mas as palavras não saíram da sua boca. Gina entendeu muito bem aquele silêncio e sentou-se ao seu lado. Lançou um olhar em direção à sacada e voltou a se dirigir à Hermione:
- Se você não der atenção a ele, alguém tem que dar.
- Ele está agindo como uma criança – foi o que ela obteve como resposta, com uma voz engasgada de quem engole choro.
- Oras, Hermione. Você largou o Rony, ele se sentiu no direito de ir atrás de outra pessoa!
- Tenho certeza de que não foi isso, Gina. Ele está tentando fazer ciúmes para mim, quer que eu sofra como ele sofreu.
- O Rony não é de fazer isso!
- Não, eu sei que não. Mas eu mereço! E ele sabe disso. Então, nada melhor do que usar a Katie para fazer ciúmes, assim ela afeta o Lino também, não é mesmo?
Gina suspirou. Estava cada vez mais difícil lidar com Hermione. Ela parecia uma adolescente apaixonada, prestes a cair em depressão. Então pensou que era melhor fazer o jogo dela, a fim de entender melhor o que a amiga pensava. Mas não melhorou muito a situação.
- Mione, se você já aprendeu a sua lição, por que não pede desculpas e faz as pazes com Rony?
- Agora que ele resolveu baixar o nível? Não mesmo! Se ele quer ser criança, melhor fazer isso longe de mim!
Incompreensível, pensou Gina. Hermione parecia preferir passar o resto de seus dias sofrendo por amor a ter uma conversa séria com Rony e colocar as coisas em seu devido lugar. Mas Gina sabia que era impossível fazer Hermione mudar de opinião e assim concluiu que era inútil preocupar-se: uma hora os dois haviam de se entender.
A conversa se encerrou e Hermione voltou a fingir-se interessada em seu livro, enquanto Gina olhava pensativa para a sacada. Tudo na casa estava estranhamente silencioso, quando se ouviu um estalido alto e um grito, vindos de um dos quartos.
As duas voltaram-se para o corredor e logo notaram o que estava acontecendo, embora lhes parecesse um tanto confuso: uma aranha, quase do mesmo tamanho do cachorro de Olívio saía correndo de um quarto, com os gêmeos tentando agarra-la. Gina afastou-se quando tal criatura passou por ela, indo direto para a sacada. E então...
Hermione pulou do sofá. O berro vindo lá de fora era inconfundível: Rony avistara a aranha.
Agora não só os gêmeos, mas todos os que estavam na casa corriam para a sacada para verificar o ocorrido. Encontraram uma Katie apavorada, em pé sobre uma cadeira, e uma aranha gigantesca que corria cegamente pelo gramado.
- Aranha... Er, hum... – Fred tentava lançar um feitiço para exterminar a nova "hóspede", mas não se lembrava como faze-lo.
Com a demora dele, outras duas pessoas lançaram os seus feitiços, exatamente ao mesmo tempo.
- Aranha exumai!
- Reducio!
Hermione e Mariana, respectivamente, haviam lançado estes feitiços. A aranha soltou um grunhido estranho e contorceu-se virando de barriga para cima, ao mesmo tempo em que se reduzia ao tamanho normal.
Houve um momento de silêncio, em que Mariana ajudou Katie a descer da cadeira. Logo esse momento foi interrompido, pela exclamação de uma Rebeka abismada.
- Irado!
A simples frase quebrou o clima, de modo que Fred, Jorge, Olívio e Angelina caíram na gargalhada.
- Eu te disse que conseguiria aumentar ela de tamanho, não disse? – dizia Jorge a Rebeka, que ainda olhava curiosa para a pequena criatura escondida na grama.
- Vocês estão loucos? – gritou Hermione irritada – Poderiam ter machucado alguém!
- Ah, não se preocupe! Os medrosos sempre fogem para não se machucarem – brincou Fred.
Katie e Hermione se olharam assustadas.
- Cadê o Rony? – perguntou Hermione, fazendo com que Gina e Harry também notassem a ausência do amigo.
A resposta foi um aceno negativo com a cabeça e um olhar igualmente intrigado por parte de Katie. Em seguida, todos ouviram um chamado, vindo do alto:
- Ei! Eu já posso descer?
Era Rony, que estava sentado no telhado da casa.
Fred e Jorge, que já haviam parado de rir, voltaram a gargalhar como nunca. Após lançar um olhar de censura para os dois, Hermione dirigiu-se para Rony, falando um pouco mais alto do que o necessário, para que ele a ouvisse.
- Nós já acabamos com a aranha! Pode descer!
Foi o que ele fez. Aparatou no jardim, ainda trêmulo, olhando para os lados.
- Você está bem? – perguntou Hermione, ignorando as piadinhas feitas pelos gêmeos.
- Er... Estou. Acho que sim.
Gina e Harry entreolharam-se assustados. Por um instante parecia ter tudo voltado ao normal. Rony estava ruborizado e fitava o chão. Mas curiosamente Hermione não achava o mesmo e voltou à rigidez infantil anterior ao acontecimento.
- Que bom – respondeu com voz amena e um sorriso amarelado, em seguida voltando para dentro da casa.
Rony permaneceu parado, em pé sobre o gramado, mas seguiu-a com o olhar até perde-la de vista. Parecia frustrado e confuso, incapaz de distinguir o certo de se fazer ou dizer. Harry pensou em conversar com ele, perguntar se estava bem mesmo, mas Rebeka se adiantou, seguida de Fred e Jorge, para tirar sarro dele e de sua aracnofobia.
Enquanto isso, em um dos quartos da casa, encontrava-se uma mulher inteligente e infeliz, deitada pensativa em sua cama. Como sentia falta de Rony...