Capítulo Um: Me Desculpe!
N/A: Essa fanfic contém fatos muito importantes do quinto livro, portanto se você ainda não o leu e não gostaria de 'estragar' a sua leitura, seria melhor que não prosseguisse com essa leitura.
Percy
havia ido se deitar às dez horas da noite. Era meia noite e ele ainda não
conseguira dormir. Estava deitado ao lado de Penelope, sua namorada desde os
tempos de escola, que morava com ele há duas semanas. Ela dormia profundamente
e ele a abraçou, à beira de lágrimas.
Ela
era a única pessoa que ainda o amava. Sentira há poucos dias o choque de saber
que Você-Sabe-Quem voltara. Seus pais estavam certos e o Ministério errado.
Ele voltara e uma guerra começara.
Uma
parte dele queria acreditar que Ele
voltara há pouco tempo. Que seus pais e Dumbledore afinal estavam errados e
haviam dado alarme falso em Junho.
Mas
a outra parte de seu coração, a parte que representava o sangue Weasley que
corria em suas veias, gritava mais alto. Dizia para ele deixar o orgulho de lado
e juntar-se aos seus pais, assumir que agira como um idiota e que o sucesso
dentro do Ministério da Magia lhe subira à cabeça.
Olhou
à sua volta. Sua nova casa era minúscula, quase sem móveis, e com apenas três
cômodos. Por que largara todo o conforto d'A Toca para viver ali? Está certo
que lá ele tinha que aturar as brincadeiras infames dos gêmeos e até pouco
tempo achava que Harry, que freqüentava sua antiga casa, era um maluco e que
fazia de tudo para aumentar a própria fama. Mas agora percebera, o menino
Potter estivera certo durante todo o tempo. E afinal, quem se importava com as
brincadeiras de Fred e Jorge? O que ele mais desejava agora era estar no seu
verdadeiro lar, de volta com sua mãe, seu pai e sua querida irmã, Gina.
Teve
vontade de acordar Penelope e lhe falar sobre tudo o que estava sentindo. Mas não
ia incomodá-la, uma vez que ela não tinha culpa alguma se ele transformara a
própria vida naquilo.
Era
um sábado nebuloso em que o casal comia um precário café da manhã preparado
por Percy.
- ...então, segunda feira eu vou ter que passar em cada
departamento do Ministério recolhendo assinaturas para a aprovação da nova
lei. Falei à Madame Bones que não era necessário, mas...
Percy
não prestava atenção no que Penelope dizia. A única coisa que conseguia
pensar era no que refletira na noite anterior.
- Penny, eu te amo! – falou interrompendo-na.
Penelope
ergueu os olhos para ele e sorriu, o que era muito difícil de se fazer quando
se estava bebendo uma xícara de café preparada por Percy.
- Eu também te amo, lindo! Mas por que está dizendo isso?
- Porque eu tenho medo de te perder.
Ela
engasgou com o café.
- Eu não estou te entendendo!
- Acontece que nos últimos onze meses eu perdi meu pai, minha
mãe, minha família e meus amigos por ser ignorante com eles e a última pessoa
que me restou foi você. E você é a pessoa que eu mais amo. Vou tentar não
ser estúpido com você, mas se algum dia o fizer... Você me perdoa?
- É claro que eu te perdôo, amor. Mas eu sei que você não
vai ser estúpido comigo!
Os
dois se beijaram, Penelope ainda pensando no que Percy dissera: ele se
arrependia de ter brigado com os pais.
Ela,
ao contrário do namorado, passou a acreditar no que dizia Dumbledore depois que
leu a entrevista feita com Harry Potter na revista O Pasquim. Mas mesmo que de
início tomasse partido de Fudge, sempre desaprovara a briga que Percy tivera
com os pais.
Conhecera
o sr. e a sra.Weasley no verão retrasado, quando fora passar uns dias em sua
casa e os adorara. Molly havia sido muito amável com ela, disse que apoiava
completamente o namoro dela com seu filho, e Arthur passara um bom tempo
conversando com ela sobre seu trabalho. Sem contar os gêmeos, que eram seus
amigos em Hogwarts.
Ela
se sentiria muito melhor se Percy estivesse com a família e sabia que no fundo
era o que ele queria. É claro que ela só falou disso com ele quando lhe foi
perguntado.
- Percy, eu sei que já falamos nisso antes, mas... Você não
acha que já está na hora de falar com seu pai?
- Acho. Vou escrever para ele avisando que vou visitá-lo
amanhã.
Penelope
ergueu as sobrancelhas – não imaginava que seria tão fácil convence-lo.
De
fato, a primeira coisa que Percy fez quando acabou de tomar café foi escrever
ao seu pai. Disse que iria à Toca no domingo às duas da tarde para falar com
ele.
Tanto
ele quanto Penelope sentiam uma mescla de alívio e ansiedade durante toda a
tarde, que não diminuiu quando a resposta formal para a carta formal de Percy
chegou, confirmando que Arthur estaria lhe esperando no horário combinado.
Penelope
arriscou cozinhar alguma coisa para o jantar, mas ela nunca fora boa em culinária
e por isso teve tanto sucesso quanto Percy preparando o café da manhã.
- Vamos, coma alguma coisa, Percy – pediu preocupada ao
namorado, que fitava o prato em silêncio.
- Não estou com fome.
- Ah, não está tão ruim assim, veja, desta vez não queimei
o peixe. Experimente!
Percy
abriu a boca automaticamente e ela empurrou um pedaço de peixe para ele, que
mastigou ainda fitando o prato. Como não fizesse nenhuma careta, Penelope
descobriu que o problema dele não era com a sua comida.
- E se ele não me aceitar de volta?
- Percy, ele é seu pai!
- Eu disse a ele que não era mais um Weasley.
- Quando eu era pequena disse à minha mãe que queria que ela
morresse só porque ela não me deu uma boneca nova. Hoje a minha mãe está
viva e nós ainda temos uma relação de mãe e filha.
- Mas você não tinha idade para saber o que estava dizendo,
tinha?
Penelope deixou escapar um longo suspiro.
- Escute, amor, não vamos tirar conclusões precipitadas, está
bem? Vejamos qual vai ser a reação de seu pai quando você falar com ele amanhã.
Se ele não te desculpar, paciência: pelo menos você tentou.
Essas
palavras não pareceram tranqüilizar Percy. Muito pelo contrário: ele acabara
de ouvir a própria namorada aceitando a possibilidade de seu pai não
perdoa-lo! Desejou nunca ter enviado aquela coruja à Toca.
O
pedaço de peixe foi a única coisa que ele comeu naquela noite. Pensou que
talvez se fosse se deitar cedo acordaria melhor na manhã seguinte.
Mas
ele estava muito enganado. Foi se deitar às nove horas. Ainda estava acordado
às dez e meia, quando Penelope deitou ao seu lado.
- Querido, você nem tirou os óculos ainda!
- Quê? Ah, sim... Me esqueci.
- Tente dormir Percy, amanhã será um longo dia. Boa Noite.
- Boa noite.
Ela
adormeceu rapidamente, mas ele não podia faze-lo. Estava nervoso, sentia-se
como quando foi a Hogwarts pela primeira vez: sem saber o que teria de enfrentar
e se conseguiria enfrentar.
Demorou
um bom tempo para se convencer de que mais uma vez estava agindo como um idiota:
só ia conversar com o seu pai, não havia nada de mal e nem de perigoso nisso.
Mesmo
assim, demorou mais do que na noite anterior para conseguir dormir.
- Acorda, Percy, o café está pronto.
Ele
se levantou em um pulo. Teve a sensação de que não dormira sequer dez
minutos. Colocou os seus óculos, se vestiu e foi até a cozinha.
Penelope
tivera a brilhante idéia de ir até uma padaria de trouxas e comprar pães, já
que os que eles faziam em geral ficavam crus ou completamente queimados.
Desta
vez ela também não falava nada, não só pelo fato de estar comendo algo bom,
mas também porque estava quase, se não tão ansiosa quanto ele. Naquela noite
Penelope sonhara que ela e Percy estavam morando n'A Toca, felizes. Em seu
sonho, Percy estava feliz, como não o via à dias. Não falava de trabalho nem
das coisas que lia no jornal. Conversava sorridente com sua família e combinava
de levar Gina e Rony no Beco Diagonal para comprar o material escolar. E
Penelope tinha esperanças de que esse sonho se tornasse realidade.
Percy
se levantou e colocou o próprio prato na pia, para que este se lavasse sozinho.
- Já comeu, amor?
Ele
fez que sim com a cabeça.
- Eu vou dar um trato no nosso quarto, comprei um quadro para
colocar na parede, achei que ficaria um pouco mais alegre. Não se preocupe com
a cozinha – acrescentou segurando o braço dele quando ele ameaçou começar a
tirar a comida da mesa – Eu arrumo.
- Obrigada! – exclamou Percy erguendo as sobrancelhas.
- Não agradeça, em troca você vai lavar o banheiro amanhã!
Os dois riram. Percy achara que não ia rir naquela
manhã. Ele ficou um tempo sentado à mesa enquanto Penelope guardava os pratos
já limpos. Então ela o dispensou:
- Vá se arrumar, Percy! Tome um banho, eu vou separar umas
vestes bonitas para você.
- Está parecendo a minha mãe – ele comentou rindo mais uma
vez.
- Isso é um elogio ou uma ofensa?
- Ainda não sei, vamos descobrir hoje.
Percy
se levantou e foi tomar um banho. Penelope foi para o quarto, arrumou a cama e
pendurou o quadro novo na parede branca como pérola. Ficou melhor assim, ela
pensou.
Seu namorado já dissera estar descontente com a
casa porque era pequena, mas Penelope a achava muito simpática. Dia após dia
ela comprava bibelôs e enfeitezinhos para ajudar na decoração.
Penelope
esperava na sala quando Percy saiu do banho usando as vestes a rigor azuis que
ela separara para ele. Estava uma graça com os cabelos molhados e divididos de
lado.
- Você está lindo! – exclamou ela indo abraça-lo – Não
sai assim na rua que alguém te agarra, viu?
- E você acha que eu deixo? Só você pode encostar em mim!
Ela
riu e o beijou.
- Vou esquentar algo para o almoço.
Percy
abriu um livro que estava no sofá e tentou se concentrar. Como o nervosismo não
permitiu, ele virou-se para observar Penelope preparar o almoço na cozinha (o
que não era difícil, uma vez que a sala e a cozinha ficavam no mesmo cômodo).
A
comida enlatada dos bruxos era muito mais interessante do que a dos trouxas, que
Penelope já conhecia por causa de sua mãe, que não era bruxa. Na fábrica, a
comida era preparada e colocada em um prato. Um feitiço a compactava e
congelava. Depois, quando o bruxo desejasse comer, bastava abrir a embalagem e
usar um:
- Finite Incantatem!
E
a marmita diante de Penelope se expandiu em um prato quente de arroz, feijão e
bife.
Ela
preparou mais um prato com outro feitiço e chamou Percy para comer.
- Droga! O meu sempre vem com ervilhas – resmungou Percy
– Quer trocar?
Mas
Penelope também não gostava de ervilhas e ele teve que comer aquele prato
mesmo.
Após
o almoço, os dois ficaram sentados no sofá simplesmente olhando para o relógio
de parede esperando bater duas horas, o que pareceu levar uma eternidade para
acontecer.
- Vamos? – chamou Percy quando eles ouviram duas baladas
seguidas.
- Como assim "vamos"? Eu não vou!
- Mas você tem que ir, Penny! Como eu posso ir sozinho?
- Percy, isso é um assunto de família, eu não posso me
meter!
- Você é da família!
- Pelo que você me disse ontem, nem você não é mais da família.
Então é melhor se apressar ou vai chegar atrasado. Vou ficar te esperando!
Percy
suspirou.
- Está bem. Me deseje sorte.
- 'sorte!
Eles
se beijaram e em seguida ele aparatou para a Toca.
Arthur
estava sozinho na sala, sentado em sua poltrona diante da lareira apagada.
Observava o relógio de Molly. O ponteiro com o nome de Percy estava em viagem,
uma vez que não havia uma opção no relógio para casa em Londres.
Eram
duas horas e três minutos exatamente quando o ponteiro se moveu até casa.
Arthur tirou os olhos do relógio e pôde ver o homem ruivo e alto que acabara
de aparatar ao seu lado e que parecia uma foto viva de Arthur há vinte anos.
- Boa tarde – cumprimentou Percy baixinho, talvez
envergonhado.
- Boa tarde. Aceita um café?
- Não, obrigada.
- Sente-se.
Percy
sentou-se lentamente, observando as fotos sobre a lareira. Continuavam as
mesmas: Arthur e Molly no dia de seu casamento; Gui diante do Expresso de
Hogwarts, na primeira vez em que fora à escola; Carlinhos com três anos
brincando com um gnomo no jardim; Jorge e Fred montados em suas vassouras de
brinquedo; Rony arrumado para ir assistir um jogo dos Chuddley Cannons; Gina
comemorando seu aniversário de sete anos e – aqui o coração de Percy se
apertou – ele mesmo, no dia em que ganhara seu crachá de monitor.
Não
havia uma foto sequer de sua família na sua casa, em compensação a sua foto
permanecia na Toca, como se ele nunca tivesse ido embora.
- Er... – ele não sabia se chamava Arthur de pai ou de Sr.Weasley,
então resolveu simplesmente não chamar – Eu precisava conversar sobre certas
atitudes que eu tomei em Julho passado.
Arthur
acenou com a cabeça, sério.
- Devo pedir desculpas pelas coisas que disse ao senhor e
conseqüentemente ao resto da família – Percy descobriu que falava
automaticamente, embora ele não tivesse planejado uma palavra sequer do que
dizia.
– Eu agi errado e reconheço que não deveria ter saído de casa e traído a
confiança de vocês.
Seu
pai continuou sério, embora parecesse menos tenso. Então os olhos de Percy se
encheram de lágrimas, embora estivesse decidido a não derramar nenhuma.
- Por isso eu gostaria de... Pedir desculpas. Vocês não
mereciam nem um quarto do que eu fiz, fui um ignorante. Disse coisas horríveis...
Minha opinião sobre o senhor não é aquela. Naquela época eu era muito
orgulhoso, mas não penso mais daquele jeito. Devo ao senhor e à mamãe tudo o
que eu sou hoje, então... Se puderem me aceitar de volta eu... Agradeceria
muito.
Agora
quem estava à beira de lágrimas era Arthur. Ele se levantou e abraçou Percy
com força, como Molly costumava fazer.
- Esse é o meu garoto! – disse dando palmadinhas nas costas
do filho.
Percy
se comoveu. Quantas vezes ouvira o pai dizer aquilo sem agradecer ou sequer
retribuir com um sorriso e dizer:
- Eu te amo, pai.
- Eu também. Vamos fazer um jantar hoje para comemorar –
disse Arthur largando Percy e se sentando novamente em sua poltrona - Avisarei
Molly, ela ficará muito feliz. Harry e Hermione também estão…
Mas
Percy não estava nem um pouco interessado em Harry ou em Hermione.
- Gina e Rony! Eles estão bem? E os gêmeos? Passaram bem nos
N.I.E.M.s? Ah! Como sinto saudades... Onde estão todos? – de repente ele
percebera que a casa estava vazia, exceto pelos dois.
Arthur
não podia dizer a Percy que sua família estava no Largo Grimmauld. Pelo menos
não enquanto Percy não desse sinal de querer entrar para a Ordem, e isso se
ele quisesse entrar.
- Molly levou os meninos para comprar o material escolar no
Beco Diagonal. Gui está aqui também, foi transferido. E Fred e Jorge estão
trabalhando em sua loja, também no Beco.
Percy
ergueu as sobrancelhas. Então Fred e Jorge tinham mesmo aberto a loja de
logros? Sentiu uma certa decepção pelos irmãos não terem ido trabalhar no
Ministério como ele.
- Pai, eu vou até a minha casa e volto à noite para a janta,
está bem? Eu estou morando com a Penelope, será que posso traze-la?
- Claro que pode, seria ótimo!
- Okay, então – disse ele se levantando e sorrindo – Até
mais!
- Até!
Arthur
apenas esperou que Percy desaparecesse da sala e aparatou para a sede da Ordem
para dar as boas novas.
