CAPÍTULO 1:

Um Novo Mobile Suit, Novos Companheiros, o Mesmo Guerreiro.

Embora a Terra e as Colônias tivessem firmado a Paz e renunciado às armas de destruição em massa, ainda assim, haveria necessidade de pessoas para defenderem-na de possíveis ameaças: grupos militares extremistas, fanáticos religiosos, corporações transnacionais inescrupulosas, políticos corruptos e sedentos de poder, cartéis criminosos...

Manter esta paz, duramente conquistada com a morte de muitos, seria uma missão árdua e espinhosa. Para isto, foi fundada a Agência Preventer para a manutenção da Paz, autorizada pelo próprio Presidente da Nação Unida da Esfera Terrestre.

Esta pequena organização, mas de elite, era dirigida pela ex-coronel da OZ, a conhecida Lady Une, a convite do próprio Presidente.

Embora algumas autoridades tivessem se oposto à sua nomeação, devido ao seu envolvimento passado no assassinato do Ministro Darlian e na morte de vários líderes da aliança, ela foi beneficiada com a anistia presidencial concedida em janeiro de 196 AC. Comenta-se que Relena Darlian, AKA Peacecraft, Vice-Ministra das Relações Exteriores, teve papel fundamental para o indulto da antiga oficial da OZ.

Tendo início operacional em dezembro de 196 AC, os Preventers tiveram o seu batismo de fogo com a eclosão da Nova Operação Meteoro, um golpe de estado que visava depor a Nação Unida da Esfera Terrestre e instalar uma nova guerra.

Apesar do relativo fracasso em deter a conspiração maquinada por Dekim Barton e sua marionete Mariemeia Khushrenada, os Preventers tiveram papel importante na dissolução do movimento.

Além dos seus agentes "Wind" e "Fire" terem desabilitado vários Mobile Suits (MS) na batalha das ruas de Bruxelas, a própria Lady Une conseguiu-se infiltrar no palácio presidencial ocupado por Dekim, Mariemeia e seus homens, testemunhando o fim da conspiração.

Passado este dramático momento, em poucos meses de trabalho, Lady Une calou os seus críticos mais severos, transformando a agência num modelo de órgão de segurança, sem recair no erro de transformar os Preventers numa segunda OZ.

Usando os recursos escassos à sua disposição - a prioridade da economia agora estava na recuperação da infra-estrutura perdida e na produção de alimentos - a experiente oficial conseguiu implantar agências em todos os continentes, além de ter abortado com sucesso alguns atentados terroristas e conspirações contra a Nação Unida.

Embora muitos dos membros iniciais dos Preventers fossem ex-soldados da OZ ou mesmo do White Fang, Une cuidou para manter o caráter civil da agência de segurança, recrutando civis, preferentemente pessoas que não estivessem comprometidas com as guerras anteriores.

O processo de recrutamento e seleção era altamente sigiloso e exigente, e apenas os melhores ficavam para um período experimental. A taxa de desistência devido ao rigor dos testes era muito alta, oscilando entre 65% a 75% do total dos candidatos.

Naquele momento, em algum lugar do planeta Terra, uma pequena equipe de Preventers estava patrulhando uma área. A sua missão era proteger uma represa hidroelétrica de um possível ataque de um grupo extremista.

Os agentes eram Chiang Wu-Fei, experiente guerreiro e ex-piloto do Altron Gundam, a conhecida Major Sally Po e os agentes novatos Rafael Martins e Anthony Svensson.

Após o fim dos eventos do golpe de Mariemeia, Wu-Fei destruiu o seu Gundam "Nataku" e se juntou aos Preventers a convite da Major Sally.

Mantendo ainda o seu orgulho como combatente de um clã milenar e seu conceito peculiar de justiça, Wu-Fei era ao mesmo tempo admirado e temido pelos seus companheiros.

Era evidente que ele ainda preferia agir sozinho a trabalhar em equipe e ele não tolerava a menor falha que fosse, repreendendo severamente seus colegas.

"Numa guerra, apenas os fortes sobrevivem. Os fracos ficam pelo caminho, mortos", costumava repetir esta frase aos seus colegas.

Enquanto Wu-Fei cuidava dos aspectos táticos de cada missão, cabia à dedicada Sally ser o equilíbrio da balança da sua equipe, cuidando do treinamento dos novatos, contatos com outros órgãos governamentais e a distribuição de tarefas. Já acostumada a lidar com gente, ela procurava manter o bom humor e a harmonia do grupo, sem deixar de lado a sua preocupação com eficiência e qualidade.

Entre os homens que participaram daquele grupo, ficava claro que havia uma ligação muito especial, uma química unindo aquelas duas personalidades. Só que tanto Wu-Fei quanto Sally não deixavam seus sentimentos transparecerem em público, reservando-os para momentos mais reservados.

Rafael Martins era um soldado de origem latino-americana, possivelmente brasileira. Trabalhou como recruta numa base militar na América do Sul, aprendendo depois a pilotar MS. Em seu currículo constava especialização em comunicações e reparos.

Infelizmente ou afortunadamente, a guerra terminou antes dele enfrentar sua primeira batalha de verdade. Era um tipo bem humorado, brincalhão e falante. Sua principal virtude era o espírito de união com o pessoal e seu defeito uma confiança um pouco exagerada em si mesmo.

Anthony Svensson era de origem sueca e era o mais idoso do grupo, tendo mais de trinta anos. Muito alto, de cabelos loiros quase brancos e com uma barba mal-cuidada, ele serviu numa base militar no seu país de origem, embora não fosse ligado à OZ. Na realidade, em termos ideológicos, sempre acreditara na possibilidade de harmonia entre a esfera terrestre e suas colônias espaciais e aderiu na primeira oportunidade que pôde à Nação Unida.

De temperamento um pouco frio e silencioso, ele tinha como virtudes uma excelente memória, objetividade em combate e enorme resistência física. Militarmente falando, era um atirador de elite e especialista em reconhecimento.

A circunstância original desta missão era de que os agentes secretos estavam fortemente equipados e armados com os Mobile Suits dos Preventers.

Eles eram o único grupo de segurança autorizado a utilizar MS se fosse necessário.

Embora a Nação Unida tivesse proibido a produção de MS de guerra, fechado fábricas de armamentos pesados e convertido várias unidades que estavam nas linhas de montagem em MS de trabalho, haviam ainda uns poucos remanescentes da Eve Wars e da tentativa de golpe de Mariemeia.

Wu-Fei pilotava neste momento, um protótipo apelidado de Talgeese-4.

Longe de ser um modelo novo, tratava-se do mesmo Talgeese usado por Agente Wind (o famoso Zechs Marquise) em sua desesperada luta contra os MS Serpents de Mariemeia, nas ruas de Bruxelas.

Embora o modelo em questão tivesse sido severamente danificado durante a luta, ele foi recuperado e transportado a um local sigiloso, para os devidos reparos. Os dados armazenados pelo computador de bordo forneceram importantes informações para que o legendário modelo fosse aperfeiçoado a ponto de se rivalizar com os Gundans. .

As modificações feitas para o Talgeese 4 foram as seguintes:

Os canhões de 60 mm situados na cabeça foram substituídos por um modelo de apenas 35 mm, só que com maior capacidade de munição, cadência de tiro e precisão. Eles seriam usados como armamento contra veículos terrestres (carros blindados, tanques, etc.) e suporte de fogo antiaéreo (helicópteros e aviões de baixa altitude).

A pedido de Wu-Fei, os sabres laser duplos do Talgeese 3 foram modificados para que eles pudessem ser unidos entre si, formando uma espécie de lança com ponta dupla. Esta arma mortal lembrava o antigo tridente laser do Nataku. O orgulhoso guerreiro chinês manejava a lança dupla como se fosse um nunchaku, provando que a luta corporal era o seu forte.

O Talgeese-4 poderia usar a lança dupla em combate nos ambientes abertos e os sabres quando precisasse lutar dentro de ambientes cerrados.

O escudo armado com uma Heat-Rod do modelo 3 foi substituído por um novo modelo mais simples, que podia ser fixado no antebraço ou nas costas, conforme a necessidade tática.. Este escudo podia ser controlado de forma autônoma no espaço, como se fosse o satélite defensor que protegia os mobile dolls do temido Mobile Doll Virgo,

Finalmente, o protótipo era armado com duas metralhadoras Gatling de 90 mm com três canos cada - montadas cada uma nos antebraços - adicionando poder de fogo a média e a longa distância. Pessoalmente, Wu-Fei detestava este recurso

Em casos de emergência, o Talgeese-4 podia usar o poderoso Mega-Canhão de seu antecessor, montado no braço esquerdo.

Só que como esta arma seria destrutiva demais para o novo tipo de combate que os Preventers teriam que enfrentar - ele foi retirado, ficando no arsenal. da agência.

Para prevenir de ocorrer o que aconteceu com o Taalgeese-3, Lady Une conseguiu uma autorização especial para que o modelo quatro fosse reforçado em suas partes vitais com a liga de Neo-Titanium - muito mais barata do que o Gundanium e quase tão resistente quanto este - que foi retirada de uns modelos Serpents destruídos no ano anterior.

Isto melhorava a blindagem e a proteção do piloto, sem sobrecarregar o chassi.

Em termos tecnológicos, alguns dos componentes mecânicos e eletrônicos do modelo original - cuja concepção datava de 175 AC - foram substituídos por controles mais modernos, tornando-o um oponente de respeito até para os Gundam. Nos testes secretos preliminares, Wu-Fei demonstrou que a antiga fama do venerável MS de ser um cavalo indomável não tinha tanto a razão de ser. Os novos controles eram tão sofisticados que ele podia se dar ao luxo de novimentar o Talgeese como se ele fosse um lutador marcial daqueles filmes de Hong Kong, bem exagerados. .

A Major Sally Po comandava um velho modelo Leo, versão terrestre, armado com o fuzil de 105 mm com um carregador padrão de cem projéteis, além de um sabre laser. A única customização que foi possível fazer no momento foi adicionar um canhão Vulcan de 60 mm no lado direito da cabeça, para combate aproximado além de um kit com sensores aperfeiçoados e equipamento adicional de comunicação no lado esquerdo, além de um sistema de mira um pouco mais aprimorado. .

A única sorte da oficial era de que o Leo que pilotava estava em muito bom estado de conservação - quase não havia sido usado e não chegou tomar parte em ação - e os controles reagiam como deveriam, além de seus componentes mecânicos e cibernéticos terem sido recentemente revisados.

Rafael e Svensson pilotavam dois MS Sagittarius cada um. Longe de ser um novo modelo do pós-guerra, tratava-se do velho MS Áries da OZ, modificado para reconhecimento aéreo, usado em escala bem limitada no final da Eve Wars, tendo as mesmas qualidades e deficiências do seu predecessor.

De novo mesmo, apenas aviônicos e sensores mais modernos, habilitando o MS a identificar e rastrear alvos à longa distância.

Em contrapartida, o rifle laser que equipava o Áries foi retirado, sendo que o Sagittarius usava como armamento principal uma submetralhadora experimental de calibre 90 mm, com um carregador destacável de 50 cartuchos.

Esta arma não era tão potente quanto o rifle do Leo ou do Taurus, mas tinha a vantagem de ser mais leve e mais precisa, sendo fácil de controlar, por ter recuo quase inexistente. Contudo, um só tiro era suficiente para destruir um tanque pesado.

Esta arma teria entrado na fase de produção em massa pelo lado da OZ se a guerra não tivesse acabado antes. O estoque remanescente ficou sob custódia dos Preventers.

O Sagittarius também tinha 8 suportes fixos para acomodar pares de mísseis modelo ar-ar, ar-terra, metralhadoras gatling de canos múltiplos e lança-foguetes.

Contudo, a qualidade mais temida do MS de reconhecimento era a sua capacidade de lançar até quatro minúsculos satélites espiões de um compartimento interno.

Estes satélites-robôs - altamente resistentes e praticamente indetectáveis - ampliavam a capacidade de reconhecimento do Sagittarius, rastreando e transmitindo dados, podendo cobrir uma área de dezenas de quilômetros cada um.

Naquele momento, os agentes Preventers estavam numa região do interior da China, protegendo uma importante usina hidrelétrica. Alguns guardas e seguranças patrulhavam com veículos leves o perímetro da gigantesca instalação, enquanto os MS davam cobertura a longa distância.

Mesmo após o fim das guerras, em muitas áreas do planeta havia regiões de conflito. Com o caos que se seguiu ao fim da OZ, alguns grupos radicais se levantaram em locais remotos do planeta, causando mortes e destruição.

Um destes grupos era o exército particular do assim proclamado "Senhor da Guerra" Liu Tang, um ex-oficial chinês que conseguiu se apoderar de uma província inteira no interior da China, chamada de Yunan.

Além de possuir centenas de soldados fanáticos bem armados com os despojos da guerra, Liu Tang possuía sua própria artilharia, aviação e blindados, quase tudo confiscado dos depósitos da OZ.

Valendo-se do seu regime de medo e terror, Liu era o senhor da vida e da morte de uma população de quase três milhões de almas, que não tinham para onde fugir. A menor infração era punida com a morte e histórias de atrocidades constituíam-se numa rotina.

Se fosse nos tempos de outrora, a Coronel Une teria mandado um grupo de operações especiais, acompanhado de vários MS para dar uma dura lição no general rebelde.

Contudo, muito tempo foi desperdiçado com tentativas diplomáticas inúteis.

Somente quando o arrogante Senhor da Guerra mandou fuzilar um grupo inteiro de missionários religiosos com cinqüenta mulheres e crianças numa igreja há 40 dias atrás - por um motivo fútil - é que o Presidente da Nação Unida da Esfera Terrestre autorizou os Preventers a intervirem no conflito, juntando-se aos efetivos territoriais existentes na ex-China.

Tendo suas linhas de comunicações e suprimentos paulatinamente bloqueadas pelas tropas da Nação Unida, Tang foi induzido à uma armadilha.

Para prosseguir em seus planos insanos de se tornar o novo imperador chinês, ele precisava se apoderar da província de Lang-Tse, rica em recursos agrícolas e geração de energia. E para viabilizar isto, era imperativo que suas forças cruzassem a fronteira do Rio Vermelho e se apoderassem da represa.

- Por que não acabamos com esta farsa? - Murmura Wu-Fei, checando os sensores de seu MS, parcialmente oculto atrás de uma montanha. A madrugada aos poucos cedia espaço às primeiras luzes da manhã. O seu canal de comunicação estava aberto para conversar com sua superior imediata. Mas por via das dúvidas, a transmissão era devidamente codificada e camuflada por geradores de estática presentes no sistema de contramedidas do Talgeese 4.

- Você conhece bem as ordens, Agente Yang. O Governo quer que acabemos com esta insurreição com o mínimo de força... - Responde a major tratando o seu parceiro e namorado pelo código Preventer.

- Isto é uma palhaçada daqueles burocratas utopistas. Enquanto ficamos aqui sentados esperando o general Tang aparecer para atacar, já tínhamos tempo de sobra para atacar a capital da província de Yunan de uma vez por todas.

- Só que isto teria um alto preço em vidas...

- Heh! Você também está endossando o ponto de vista da Senhorita Relena "Fazedora da Paz", Major?

- Se optássemos por um ataque frontal, haveria um número inaceitável de baixas civis e a nossa atuação vista como um escândalo público por setores do governo, tendo o risco da Agência ser fechada.

- Diga isto para os espíritos daquelas mulheres, crianças e velhos que Tang matou. Estas pobres almas não terão o descanso enquanto não fizermos a Justiça!

- Concordo, Wu-Fei, mas temos que deter o avanço deles. Nossas ordens são bastante claras. Cabe aos Preventers prevenir a ocorrência de mais atentados e atrocidades. Se acabarmos com a capacidade de suprimentos do General Liu, as forças territoriais da Nação Unida terão mais facilidade em retomar a província e capturar o líder rebelde.

- Bah! Ainda assim acho que é uma pura perda de...

- Espere... Uma transmissão em código de nossos "olhos e ouvidos"... Water está pronta para receber a mensagem. Câmbio - Alerta Sally ao observar um novo sinal de comunicação transmitido por um dos micro-satélites espiões na área. .

- Oi, Water, aqui quem fala é "Gringo". Bela noite, não? Como vai a nossa partida? Já estamos no ponto de intercepção. - Fala Rafael com o seu jeito informal e usando o jargão típico das equipes de reconhecimento. Partida, neste caso, significava a missão a ser feita.

- Está empatada. Gringo, alguma novidade?

- Por enquanto, nenhum sinal dos klingons. . Já botamos os passarinhos para cantar.

- Excelente. Mantenha posição e fique de olho neles. Câmbio. - Os Klingons eram a alcunha dada aos rebeldes e os passarinhos seriam os satélites espiões que ficavam voando a alta velocidade na zona de conflito.

- Water e Yang. Aqui quem fala é Iceman. Câmbio. - Fala um homem de voz tonitroante e expressão séria.

- Iceman! Water na escuta. Câmbio. Vê sinal de chuva no horizonte?

- Algumas nuvens se formando. Câmbio. - Nuvens significavam problemas táticos, isto é, inimigos à vista.

- Transmitindo dados, câmbio... Cinco tanques pesados, Dez tanques leves, uma meia dúzia de veículos de reconhecimento e uma forte coluna motorizada. Nenhum sinal de artilharia pesada ou de suporte aéreo.

- Excelente. A que distância?

- Cerca de cinqüenta e cinco quilômetros. Transmitindo imagens e dados da força oponente aos seus terminais. Desligo.

- Obrigada. Responde Sally enquanto analisa rapidamente os informes sobre a força inimiga, transmitida pelos computadores do Sagittarius. O seu MS já sabia quantos inimigos eram e a melhor forma de enfrentá-los, o mesmo ocorrendo com o Talgeese de Wu-Fei.

- Ei... Water e Yang. Uma outra coluna se aproxima do Sul. Possível ataque em formação de pinça. - Exclama Rafael com uma voz excitada e nervosa.

- Quantas unidades, gringo?

- Putz... Um batalhão de blindados inteiro e cinquenta veículos de suporte. Estão vindo com tudo! - Continua falando o latino, como se narrasse uma partida de futebol.

- Muito bem, Gringo e Iceman. Cabe a vocês darem as boas vindas. Estamos a caminho... Se tiverem problemas, recuem para a primeira linha de defesa. Repito, não tentem enfrentar nada acima da sua capacidade. Atirem e recuem. - Explica a Major, mantendo sua calma, embora no fundo quisesse dar uma bronca no Gringo pelo excesso de loquacidade.

Ao longo do horizonte, uma nuvem de cor amarelada se distingue no horizonte cinzento, como o prenúncio de tempestade.

Correndo contra o tempo, Tang mandara suas melhores tropas para atacarem a província vizinha, causando um rude golpe às forças da Nação Unida. Se ele tivesse sucesso, nada mais restaria aqueles burocratas acomodados sentarem-se de novo à mesa de negociações. Nada iria demover o Senhor da Guerra a avançar rumo à Capital, Nova Peking.

Em seu palácio fortificado na cidade miserável de Yunan, o insano senhor da guerra acompanhava o desenrolar da batalha, com os seus assessores mais próximos, numa sala de guerra repleta de terminais de comunicação e computadores.

Nada poderia deter o seu avanço Se a represa e a província de Lang-Tse fosse tomada, ele teria condições para não apenas prolongar a guerra como também arregimentar homens e material suficiente para pôr um terço da China a seus pés.

Sentindo-se um novo Mão-Tse-Tung, Liu Tang faria o dragão chinês cuspir fogo novamente, retomando o seu lugar que era de direito no mundo. Ele não fazia isto por mero idealismo, mas sim para satisfazer seu orgulho pessoal.

Afora os homens, armas e equipamentos que conseguira arregimentar dos antigos quartéis da Aliança Terrestre, Liu tinha ainda uma cartada oculta caso as débeis forças da Nação Unida tentassem impedi-lo. Algo capaz de mudar o rumo da sua revolução e pôr os seus odiados inimigos de joelhos...

À frente de sua coluna motorizada, o obeso e bigodudo Coronel Chow dava as suas últimas ordens para a formação que deveria romper as linhas da guarda territorial da NUEF e tomar a represa do rio Lang-Tse. Quase todos os seus veículos estavam equipados por sofisticados terminais de comunicação e seus computadores de bordo estavam interligados uns aos outros, permitindo a coordenação de táticas complexas.

Guerreiro experiente com mais de vinte e cinco anos de batalhas, Chow limpa a fronte molhada de suor com um lenço de seda.

Caberia ele a dar o primeiro golpe, abrindo caminho para o grosso das tropas de infantaria de seu General Tang.

Se ele tivesse sucesso, seria promovido a Brigadeiro-General e ganharia vários privilégios, como ouro, mulheres lindas e quem sabe, uma mansão. Caso contrário... Não... Nem era bom pensar nisto. O Senhor da Guerra não era conhecido por sua misericórdia, mas sim por seu extremo rigor e ausência de piedade.

Justamente por ter deixado alguns soldados da NUEF escaparem após um cerco, o antecessor de Chow foi morto da forma mais cruel e espantosa possível, com técnicas de tortura usadas somente na época medieval da China.

Subitamente, um dos veículos de reconhecimento dá o alarma. Um objeto voador não identificado se aproximava da coluna a grande velocidade. Chow ordena que seus homens tomem posição e as armas antiaéreas são postas em sua máxima prontidão.

Foi tudo muito rápido. De repente, os computadores dos sistemas antiaéreos ficaram que nem loucos, devido às contramedidas eletrônicas implantadas no modelo Sagittarius, inutilizando os esforços de detecção. Com os sensores e radares inimigos "cegados", o objeto voador - voando suficientemente alto para não ser identificado visualmente - ativa os seus lança-foguetes, disparando dezenas de projéteis que riscam o céu como estrelas cadentes. .

Em instantes, uma saraivada de projéteis inteligentes varre a coluna, barrando o seu avanço de forma brutal..

Paradoxalmente, as baixas humanas foram mínimas, ao contrário dos carros de combate da coluna, que foram severamente danificados. Tratava-se de um novíssimo tipo de munição eletromagnética que tinha o poder de desativar todos os tipos de veículos, acabando com seus sistemas de direção, navegação, controle de tiro e radares.

Chow fica furioso e desesperado ao ver pelo seu radar os seus carros irem parando um a um - como ferro-velho - até que uma descarga atinge o seu carro de combate. O oficial apenas tem tempo de tentar cobrir os olhos ao ver a tela de seu terminal chiar com um brilho azulado. No instante seguinte, ele percebe um cheiro de queimado e nota que o seu veículo está imóvel.

Os poucos carros que não foram atingidos tentam atirar para cima, tentando localizar um inimigo praticamente invisível. Com os radares e sensores óticos inutilizados, era como procurar uma agulha num palheiro. E que palheiro!

O atacante desconhecido atira novamente e em instantes os veículos remanescentes perdem a sua mobilidade.

Desesperados, os rebeldes tentam sair dos caminhões e viaturas para inutilmente empurrar as carcaças inertes que formam uma fila agonizante na vastidão da estepe.

Acuado, Chow ordena a seus homens que retirem o máximo de equipamento possível das viaturas inutilizadas pelo repentino ataque e prossigam ao alvo, nem que tenham de marchar a pé.

Ele tenta olhar com o seu binóculo para o lado em que a segunda coluna estava avançando, como uma pinça, na vã tentativa de que pelo menos esta tenha conseguido escapar. Só que o coronel pragueja em Chinês ao ver a quilômetros de distância uma outra fila inerte de carcaças de tanques e carros blindados parados, totalmente inutilizados.

Agindo com sigilo e frieza, o agente Iceman (Svensson) desferiu três ondas sucessivas de ataque sobre a poderosa coluna blindada que faria o ataque lateral às tropas da Nação Unida e imobilizou-a praticamente. Apenas um tanque pesado - armado com um canhão duplo automático de 150 mm - logrou escapar do ataque das bombas eletromagnéticas, mas foi rapidamente imobilizado por um disparo certeiro da metralhadora do Sagittarius. Com sua mira afiadíssima, o sueco logrou acertar a lagarta do tanque sem matar os seus tripulantes, a uma distância de dezenas de quilômetros.

Os Preventers haviam ganhado o primeiro round, usando o mínimo de força possível. Com o ataque à Represa totalmente paralisado, o General Liu Tang seria obrigado a passar à defensiva ou se entregar às tropas governamentais da Nação Unida.

Satisfeita com o resultado, a Major Sally se prepara para abrir novamente o canal de comunicação e elogiar a ação de seus subordinados, quando...

Wu-Fei murmura um insulto em sua língua natal quando ouve as explosões preencherem o ar, estremecendo o solo. O maldito Senhor da Guerra tinha um trunfo escondido: Canhões autopropulsados calibre 280 mm, disparando projéteis impulsionados por foguetes e capazes de atingir alvos a uma distância de mais de 30 quilômetros ou mais - ocultos com pedras e areia em abrigos abertos no solo. Um velho truque, mas sempre eficaz.

Irritado por ver as suas tropas imobilizadas, o infame general Tang ordenou à sua artilharia pesada que abrisse fogo contra seus próprios homens. Em segundos, Chow e os seus subordinados são reduzidos a cinzas. Depois, seria a vez das despreparadas forças territorias da Nação Unida, apenas equipadas com veículos e armamentos leves.

Em seguida, os sensores dos quatro MS preventers detectam simultaneamente a presença de mais inimigos, afora as baterias de artilharia móvel pesada de Tang. Duas esquadrilhas de helicópteros de guerra pesadamente armados - com 16 aeronaves cada - estavam partindo rapidamente em direção ao local onde Rafael e Svensson estavam. E, o que era pior, o radar de ambos acusava a presença de um esquadrão de cinco Mobile Suits Leo completamente equipados e armados indo na sua direção! Mas como?...

Tendo gastado quase toda a sua munição eletromagnética nas duas colunas, os MS de Rafael e Svensson estavam em maus lençóis. Ambos os Sagittarius estavam equipados apenas para a ação que fizeram e não para enfrentar um combate intenso.

Se os canhões autopropulsados, os helicópteros e principalmente os MS não fossem detidos, a represa estaria nas mãos do exército revolucionário até o final da tarde.

Era a vez da corajosa Major e do lendário piloto do Gundam dar cobertura a seus companheiros, recepcionando os inimigos com fogo, aço e coragem.. Saindo do seu abrigo, Sally e Wu-Fei aceleram suas máquinas, dispostos a resgatar seus companheiros.

Escrito por: Calerom

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