CAPÍTULO 04: VITÓRIA, MAS A QUE PREÇO?
Saindo de seus abrigos, o Mobile Suit Leo Custom de Sally Po e o Talgeese 4 de Chiang Wu Fei partem para ajudar os MS Sagittarius de Rafael Martins e Tommy Svensson, que estavam em situação de risco.
Embora os dois agentes Preventers "Gringo" (Rafael) e "Iceman" (Svensson) tivessem posto fora de combate as colunas blindadas do Coronel Chow que se dirigiam para tomar de assalto a importante represa hidroelétrica do Rio Vermelho, a situação estava longe de estar tranqüila.
Pelo contrário, uma nuvem negra no horizonte ameaçava a tênue vantagem obtida pelos agentes de Lady Une.
O insano "Senhor da Guerra" Liu Tang tinha algumas cartas escondidas na manga. Várias delas, de poderio mortal.
A primeira carta estava na forma de três baterias com dezoito canhões autopropulsados Type MOZ-170, de calibre 280 mm, que começaram a martelar as posições das forças governamentais, gerando várias mortes e caos.
Estas peças de artilharia estavam ocultas em abrigos subterrâneos camuflados e eletronicamente protegidas contra rastreamento por radar, e os satélites espiões enviados pelos Sagittarius dos Preventers descobriram a sua posição tarde demais.
Os canhões autopropulsados de Tang eram versões aperfeiçoadas da artilharia móvel que começou a ser utilizada na época da II Guerra Mundial.
Só que diferentemente dos antigos modelos usados pelos dois lados do conflito, estas monstruosidades blindadas possuíam poderosos canhões com sistema de tiro computadorizado e eram capazes de disparar uma salva de disparos a dezenas de quilômetros de distância, usando projéteis impulsionados por foguetes.
Também eles possuíam sofisticados sistemas de sensores e monitoramento de alvos, bem como blindagens de última geração, capazes de resistir aos efeitos indiretos de armas nucleares, bacteriológicas e químicas.
A segunda carta de Tang era duas esquadrilhas de aeronaves V-STOL com 16 unidades cada. Estas versões modernizadas dos desajeitados helicópteros do Século XX eram capazes de decolar e pousar verticalmente em pistas curtíssimas em qualquer tempo e circunstância.
Sendo um misto de helicóptero com avião, as aeronaves estavam armadas com pares de canhões calibre 35 milímetros, além de vários "casulos" de mísseis ar-ar e ar-terra equipados com sistemas de rastreamento "atire e esqueça".
A tecnologia bélica havia avançado, a ponto dos mísseis da era AC terem um alcance e precisão muito maior que seus equivalentes dos séculos anteriores. Mas possuindo dimensões e pesos mais compactos e reduzidos, a ponto de um simples aparelho armado carregar dezenas destes projéteis, aumentando o seu poder de fogo.
Não havia mais necessidade do piloto da Era AC enquadrar um alvo inimigo no radar tático antes de atacar, pois os mísseis estavam equipados com sistemas de rastreamento aperfeiçoados que identificavam múltiplos alvos prioritários no campo de batalha em qualquer condição climática.
Enquanto os helicópteros primitivos do século XX podiam carregar entre 4 a 16 destes mísseis, estas aeronaves modernas tinham capacidade de levar entre 24 a 48 mísseis por aparelho - sem qualquer perda de desempenho por excesso de peso - causando uma verdadeira tempestade de morte e destruição.
E finalmente estava claro pela terceira carta que Liu Tang possuía que ele não dava a menor importância para os ideais pacifistas de Relena Darlian e da nova Nação Unida, que propunha um mundo sem fronteiras.
O insano ditador chegou a guardar cuidadosamente os seus Mobile Suits Leo pertencentes ao batalhão que comandava durante a Eve Wars, além de ter confiscado mais alguns exemplares recém-chegados dos arsenais da OZ em Yunan durante o caos dos últimos dias de guerra.
Para a sua sorte, as inspeções de armas da Nação Unida somente concentraram as suas atenções em Nova Peking e nos grandes centros industriais da China, o que facilitou o seu movimento militar.
Além de dispor de vários MS e pilotos experientes, Tang contava em seus arsenais com várias peças de reposição, armas, munições e combustível suficiente para manter Yunan em pé de guerra durante meses e atacar as desguarnecidas províncias vizinhas.
Só que para ser vitorioso na sua campanha, ele precisava de mais dois recursos estratégicos: energia e alimentos. Foi por este motivo que o general Tang havia decidido atacar a rica província de Lang-Tse e sua vital represa hidroelétrica.
Sem dispor de armamentos pesados, as forças de paz da Nação Unida seriam um alvo fácil para o "Senhor da Guerra", que os esmagaria numa derrota terrível, forçando os diplomatas pacifistas a aceitarem qualquer condição sua imposta.
Só que ele não contava com duas surpresas: Um pequeno grupo de Agentes Preventers e entre eles, o piloto do Altron Gundam, Chiang Wu-Fei.
E isto iria fazer a diferença.
Um pouco antes do ataque da equipe da Major Sally às linhas inimigas, o Coronel Ian "Clooney" Rodgers estava fazendo uma inspeção às suas tropas de linha de frente.
Quarentão, de estatura média-alta, cabelos precocemente grisalhos, com uma aparência que lembrava à do antigo ator de Hollywood George Clooney e australiano de origem, Rodgers havia pertencido aos quadros militares da Aliança Terrestre e estava na Frente Australiana quando a Eve Wars terminou.
Em seguida ele foi transferido para a reserva e dispensado, tendo voltado à fazenda de gado aonde nasceu e fora criado.
Contudo, devido à necessidade de recrutar oficiais experientes, Ian foi de novo convocado, desta vez pelas Forças de Defesa da Nação Unida da Esfera Terrestre, devido ao seu passado limpo de atrocidades de guerra e as excelentes referências que obtivera quando estava servindo, incluindo uma recomendação do General Brecht, que fora seu superior durante a Eve Wars.
E ele estava no Estado-Maior do Ministério da Defesa quando foi designado para chefiar a Força de Paz destinada a pacificar a província chinesa de Yunan, libertando-a do domínio perverso de Liu Tang.
Como todo militar calejado pela guerra, o Coronel Rodgers logo descobriu que tudo era muito bom para ser verdade, ao chegar há pouco menos de três meses atrás na China.
A chamada "força de paz" de 7.500 homens era grande demais para ser comandada por um militar de sua patente. Mas em termos de força de combate a sua eficácia real era pouco menos do que uma piada.
Era na realidade, uma colcha de retalhos de vários pelotões, companhias e batalhões de soldados das mais diferentes etnias e raças: americanos, ingleses, franceses, alemães, japoneses, coreanos, turcos, australianos, russos, hindus, egípcios e até argentinos, entre outros.
Embora o uso do idioma universal minimizasse a diferença de linguagem; a falta de oficiais experientes, bem como o excesso de diversidade de culturas e etnias impedia uma coesão eficaz desta força multinacional.
O veterano comandante australiano suspeitava que o real motivo desta torre de babel militar fosse o desejo do Ministro Maxwell Taylor de mostrar a "unidade" e a "harmonia" das Forças de Defesa da NUET para a mídia.
Isto poderia ser bonito para fotos de propaganda e discursos bonitos, mas não para uma operação militar séria.
Foram prometidas tropas de apoio, mas ao chegar em Nova Peking, Rodgers amargamente descobriu que estes reforços nada mais eram que cerca de 2.500 soldados chineses integrantes das Forças de Defesa Territorial, muito mal equipados, mal armados e com a moral severamente abalada devido às sucessivas derrotas anteriores contra as forças de Tang, bem motivadas e bem equipadas.
Muitos destes homens estavam doentes, desnutridos e esgotados e vários sequer possuíam armas ou mesmo uniformes.
Para piorar, as forças de Rodgers somente tinham armas e veículos leves e o armamento mais poderoso à sua disposição eram um punhado de metralhadoras pesadas, alguns lança-mísseis portáteis e pouquíssimos carros blindados.
A sua aviação dispunha apenas de aparelhos de reconhecimento e transporte.
Os helicópteros V-STOL da NUET eram modelos desarmados que eram usados apenas para transporte de pessoal e de carga, bem como resgate.
Não haviam tanques, artilharia pesada, lançadores de mísseis pesados, aviões de caça, helicópteros de ataque ao solo e muito menos, Mobile Suits.
Durante a longa viagem até a fronteira com a província rebelde - cerca de 1.500 km pelo interior da China - o comboio da força de paz foi obrigado a gastar cerca de 1/3 do total do combustível e provisões pelo caminho apenas para levar sua preciosa carga.
Quem disse que havia postos de gasolina, estradas asfaltadas e armazéns de suprimentos aonde eles iriam passar?
Ainda assim, foi melhor do que nada. Mal chegaram na fronteira entre Yunan e Lang Tse, as tropas de Coronel "Clooney" tiveram o seu batismo de fogo, impedindo que as forças de Liu Tang cruzassem a divisa, repelindo-as devido à sua superioridade numérica.
Passada esta fase, o oficial australiano ordenou a ocupação de várias aldeias de província, a criação de um posto de comando e a fortificação da área ao redor do rio Vermelho, entre Yunan e Lang-Tse.
A pior parte, contudo, foi quando as tropas da NUEF se viram diante de uma tarefa ao qual não estavam preparadas:
O acolhimento de inúmeros refugiados e fugitivos das atrocidades de Liu Tang, vindos de Yunan, afora a proteção das aldeias vizinhas à fronteira, que sofriam saques e represálias por parte das tropas móveis do vingativo líder chinês.
Não havia infra-estrutura mínima para acolher aquela legião de miseráveis, na forma de hospitais, depósitos de alimentos, escolas, cantinas e mesmo banheiros coletivos decentes.
Em menos de uma semana, ergueu-se uma enorme cidade de tendas ao redor do posto de comando de Coronel Rodgers, totalizando cerca de 50 mil refugiados.
E o conforto nelas era ligeiramente melhor do que o de um campo de concentração da II Guerra Mundial.
A tensão entre as suas tropas e aquela multidão de almas desesperadas e famintas era enorme.
Choques entre as mentalidades milenares dos camponeses e a civilização representada pelas tropas da NUET eram quase que inevitáveis.
Numa das aldeias, uma jovem noiva foi quase linchada pelos seus pais e parentes em praça pública depois que se descobriu que ela foi estuprada por um soldado de Tang (pelos costumes locais, a mulher era sempre considerada culpada se é violentada) e o grupo de soldados americanos que tentou resgatá-la foi obrigado a abrir fogo contra a multidão ensandecida.
Numa outra aldeia, caminhões de ajuda humanitária simplesmente foram saqueados ao chegar e seus ocupantes mortos por centenas de famintos.
Em outro lugar, quatro soldados egípcios foram massacrados pela multidão faminta por terem se negado a abrir os depósitos de alimentos antes do horário de pré-estabelecido.
A grande maioria dos aldeões e camponeses de Yunan desconhecia por completo a língua universal da Nação Unida e a comunicação para se obter informações a respeito das tropas inimigas era lenta e confusa, já que o dialeto era bem diferente do chinês usado em Nova Peking e grandes centros.
Hostilidade e medo pairavam entre ambos os lados.
Para piorar, suspeitava-se que havia espiões e guerrilheiros de Tang infiltrados entre os aldeões, espalhando falsas informações e praticando atos de sabotagem e assassinato tanto entre os refugiados como nas tropas.
Embora fosse um bom oficial e considerado popular entre os soldados, o Coronel "Clooney" tentava manter a disciplina em seus quadros para evitar que suas tropas descambassem na anarquia.
Um Primeiro-Tenente de origem Norte-Americana foi preso e condenado por ter sido apanhado em flagrante comercializando armas e gêneros alimentícios no mercado negro, além de estar envolvido com mafiosos chineses que desviavam víveres dos depósitos para revendê-los a preços extorsivos ao povo.
Um suboficial russo foi punido por favorecimento à prostituição e pedofilia depois que foi descoberto um esquema de "favores sexuais" entre alguns soldados e oficiais com as jovens refugiadas a troco de quotas diárias maiores de comida, cigarros e roupas.
- "Fico imaginando se aqueles filmes sobre o Conflito do Vietnã não tinham um fundo de verdade..." - Pensa o Coronel Ian, lembrando-se de uma película chamada "Platoon" e outra chamada "Born To Kill", ambas produzidas há mais de dois séculos atrás sobre o histórico envolvimento dos Estados Unidos no conflito Vietnamita.
O oficial australiano havia estudado esta e outras guerras do Século XX durante os cursos do Estado Maior e até pesquisado vídeos e filmes, mas nunca imaginou que a realidade seria superior à ficção.
De certa forma, todo aquele horror que vira naqueles filmes antigos produzidos com técnicas primitivas estava agora real, na situação de seus homens, repentinamente enfurnados na insanidade da "guerra de libertação" empreendida pelo Senhor da Guerra Liu Tang.
Naquele momento, Rodgers passava em revista um destacamento de tropas nigerianas recém chegadas ao front, estando no banco de trás do seu "papamóvel", como foi carinhosamente apelidado o seu veículo de comando pelos soldados.
A seu lado estava o jovem oficial Major Richard Myers - o seu ajudante de ordens. Na frente, no lado direito, o veículo estava sendo conduzido por um sargento das forças armadas americanas; e no lado esquerdo estava um sério e carrancudo cabo russo empunhando uma metralhadora leve.
Uma banda tocava uma marcha animada enquanto as tropas nigerianas estavam orgulhosamente perfiladas em posição de sentido, sendo habilmente comandadas por um oficial de meia idade usando óculos escuros e uniforme cáqui.
Depois que a Aliança Terrestre fez as pazes com as Colônias, o design dos uniformes militares mudou radicalmente, trocando-se o pomposo estilo napoleônico dos mesmos - ao gosto de Treize e da Fundação Romefeller - por roupas mais funcionais e práticas.
- Senhor Coronel, esta é a companhia 155 da Guarda Presidencial Nigeriana... Ela veio ontem à noite de Nova Peking e está comandada pelo Capital Henry Kanu Otombe, de Lagos. - Dizia protocolarmente Myers enquanto Rodgers olhava para o destacamento à sua frente.
- Excelente, depois da apresentação oficial, vamos conversar com o oficial comandante para que ele leve as suas tropas ao "Boot Camp" antes de começar a "diversão" de verdade... - Diz Rodgers em seu estilo peculiar.
O "Boot Camp" era o duro treinamento de emergência que o australiano aplicava as tropas recém-vindas ao front para acostumá-las aos rigores da batalha.
Ele durava duas semanas e os soldados e oficiais participantes (sem distinções ou privilégios de patente) eram submetidos a todo tipo de privações e dificuldades antes de serem considerados aptos para a luta.
Era também conhecido como a "antecâmara do Inferno".
Mas quem sobrevivesse ao mesmo podia se gabar de poder lutar em qualquer canto do planeta.
Para evitar o surgimento de "panelinhas" e rivalidades étnicas, Rodgers introduziu desde o início um esquema de rodízio no qual soldados recentemente aprovados no "Boot Camp" eram mandados as unidades mais calejadas, para melhorar o entrosamento entre elas e desenvolver um senso de camaradagem independentemente das nações ou etnias originais.
Após o batismo de fogo, os novatos eram reintegrados às suas unidades de origem para passar o que aprenderam para os outros.
Na realidade, esta tática não era nova, mas apenas os oficiais que chegaram a lutar na linha da frente como Rodgers sabiam da importância dela. De nada adiantava mandar ao fronte uma tropa recém-chegada, ainda que bem armada e equipada, pois uma coisa era lutar em exercícios simulados e com munição de festim. E outra enfrentar o inimigo numa situação real.
Quanto aos rumores de que havia Agentes Preventers na área, Rodgers era um dos poucos oficiais que sabiam dos detalhes, embora não dissesse isto em público.
Apesar da maioria dos seus colegas detestar este tipo de interferência por parte de um órgão não-militar, o coronel australiano respeitava o trabalho deles e até sentia-se mais tranqüilo, já que os Preventers eram uma força de elite respeitável.
Para este dia, as tarefas da Força de Paz seriam simples: Cobrir a linha da fronteira entre Yunan e Lang-Tse, guarnecer a importante represa do Rio Vermelho e repelir qualquer tentativa de infiltração de soldados regulares ou guerrilheiros de Tang.
Com um pouco de sorte, a Nação Unida enviaria mais um grupo de combate ao fronte e Rodgers passaria o comando a um general de carreira.
Desde que não fossem cometidos descuidos, a rebelião de Tang seria contida e cedo ou tarde, o movimento pereceria por falta de apoio externo.
E todos os seus homens poderiam voltar sãos e salvos para casa.
Para isto, era vital que as suas tropas bloqueassem o exército inimigo ao longo da fronteira até que as forças de reforço chegassem ao fronte, acabando por isolar definitivamente o Senhor da Guerra do restante da China.
Quando estava para voltar ao seu centro de comando, uma tragédia acontece na frente de Ian Rodgers.
Uma violentíssima explosão seguida de um estrondo pior do que mil trovões sacodem o acampamento. E depois outra, mais outra e mais outra.
O Coronel Australiano apenas tem tempo de instintivamente saltar do seu veículo antes que ele fosse atingido. Fogo e fumaça nublam a sua mente, enquanto que gritos desesperados e lamentos de agonia preenchem o lugar.
A confusão era indescritível. A maioria dos homens corria freneticamente enquanto que uns poucos tentavam ajudar os feridos e tentar colocar ordem no caos instalado pelo bombardeio da artilharia pesada.
A princípio, Rodgers sente uma dor lancinante e terrível nas suas costas e pernas. Com certeza ele foi atingido pelos estilhaços da explosão. Mas o fato dele sentir dor era sinal de que estava vivo... Por enquanto.
Com o seu canto do olho esquerdo, ele nota que o veículo onde estava ficou totalmente em chamas. O seu motorista foi feito em pedaços pelos estilhaços do projétil explosivo que caiu há poucos metros. E o seu guarda-costas havia sido decapitado por um pedaço do para-brisas à prova de balas.
E quanto ao seu ajudante de ordens? Pobre Richard Myers! Jamais poderia voltar para sua pequena casa e rever a jovem namorada e seus idosos pais. Com horror, Rodgers reconhece uma prancheta um pouco atrás à sua direita.
Era a prancheta de Richard, ainda com um bloco de anotações, totalmente ensangüentada... Juntamente com a mão e o pedaço do braço que ainda o segurava.
Sem tentar-se mexer, Rodgers aguarda a chegada de socorro, torcendo para não ser esquecido no meio da confusão. Era evidente que ele estava muito ferido, mas pouco podia fazer, já que não sabia a extensão de seus ferimentos...
Artilharia pesada... O maldito Senhor da Guerra tinha baterias de canhões autopropulsados! E em número expressivo para alterar o balanço da guerra....
E agora? Como convencer alguns milhares de homens mal armados por causa de uma estúpida determinação do Ministério de Defesa a lutar de igual para igual contra um grupo de fanáticos equipados com as sobras de guerra da OZ?
Como se as coisas não fossem fáceis...
Lentamente Rodgers fecha os olhos e entrega-se ao negro sabor da inconsciência, torcendo para que outros tivessem sucesso naquilo que ele havia falhado em adivinhar o que ocorreria...
A tarefa de Sally e de Wu Fei não seria nada fácil. Primeiro, eles teriam que salvar seus colegas Rafael e Svensson do ataque das unidades de Tang, antes que fosse tarde demais para seus amigos e paras as tropas em terra. .
Embora um MS como o Sagittarius pudesse vencer com folga um pequeno número de aeronaves de ataque, eles corriam risco de virar picadinho diante de duas esquadrilhas inteiras armadas até os dentes.
Isto, sem falar nos cinco MS Leo que Tang mandara - este sim uma ameaça terrível capaz de transformar as tropas da NUEF em picadinho.
- Agente Yang! Vamos neutralizar aquelas duas esquadrilhas e finalmente conter os MS inimigos, cobrindo a retirada de nossos companheiros. - Explica Sally o seu plano pelo intercomunicador do Leo.
- Feh... Isto é óbvio demais... Depois cuidaremos da artilharia pesada oculta nas colinas. - Responde o guerreiro chinês de maneira um pouco rude, como era o seu estilo.
- Agentes Gringo e Iceman: Permaneçam em formação e agüentem até chegarmos. Previsão de encontro entre cinco a sete minutos. Autorizo Situação "Amarelo Três" - Sally tenta se comunicar com os MS de seus colegas.
Situação Amarelo Três era o código que autorizava aos Preventers recorrerem ao uso da força, ainda que limitada. Acima dela existiam apenas as situações Vermelha ("Fogo à Vontade") e Negra ("Uso de Armas de Destruição Massiva"), somente autorizadas em casos excepcionais.
- Entendido, Agente Water. Câmbio e desligo. - Responde Svensson, terminando por desligar o intercomunicador de seu MS ao mesmo tempo em que ativa os sistemas de contramedidas eletrônicas do seu Sagitário.
- E então a Seleção Brasileira entra em campo, Torcida canarinho! - Fala Rafael, como se estivesse narrando uma partida de futebol.
- Vamos lá! - Diz Wu-Fei acelerando ao máximo o Talgeese 4.
A primeira leva de Helicópteros resolve finalmente atacar o MS de Rafael.
O líder da esquadrilha inimiga dispara uma salva de doze mísseis ar-ar simultaneamente no colosso de aço voador. Os seus seguidores também fazem o mesmo.
Só que o Sagittarius de Rafael ativara o seu módulo de contramedidas eletrônicas e valendo-se da mobilidade superior de seu aparelho, inicia uma série de manobras arriscadas enquanto atira com a sua metralhadora de 90 mm.
Era a primeira missão de combate do jovem moreno e ele não queria fazer feio. Embora o brasileiro fosse boa gente e detestasse violência, agora era uma questão de vida ou morte.
Uma série de explosões sacode o ar, numa seqüência ensurdecedora. Vários mísseis inimigos terminam explodindo entre si, confundidos pela emissão simultânea de "decoys" (iscas eletrônicas) preparados para enganar os sistemas de tiro dos inimigos, e outros acabam atingindo o vazio.
Repentinamente, uma das aeronaves é atingida por uma rajada curta da metralhadora do Sagittarius e explode numa bola de fogo alaranjada e negra.
O outro aparelho tenta se desviar de uma segunda rajada, mas não é o bastante. Em instantes ele viaja rumo ao solo, com o motor em chamas e a causa totalmente destruída.
Tentando encurtar a distância que o separava do Agente Gringo a toda velocidade, Svensson encara o enxame representado pela segunda esquadrilha de aeronaves, que o ataca em grupos de quatro.
Vários mísseis são disparados contra o seu Mobile Suit, mas com pouco efeito, devido as suas manobras evasivas, aliadas à sofisticada tecnologia antimíssil do colosso metálico.
Contudo, um deles chega a acertar a dura blindagem do Sagittarius, num impacto direto, seguido de outros dois, que explodem nas proximidades, com um efeito terrível nos sofisticados sensores do MS.
Mantendo o sangue frio, Svensson constata em seu computador de bordo que sofreu apenas danos leves. A carga explosiva do míssel ar-ar não foi o suficiente para arrebentar a blindagem de Titânio do Sagittarius.
Contudo, ele não podia se dar ao luxo de servir de alvo gratuitamente, pois os canhões múltiplos de 35 mm dos inimigos - se usados em conjunto e ao mesmo tempo - poderiam destruí-lo facilmente à curta distância.
O Sagittarius do agente sueco saca a sua impressionante metralhadora laser e dispara uma curta rajada na formação inimiga. A maioria dos aparelhos escapa, mas duas aeronaves são cortadas ao meio pelos projéteis a laser que riscam o céu do amanhecer naquela parte do interior da milenar China.
Mais um disparo é realizado - curto e seco - e o outro V-STOL explode no ar.
Com a esquadrilha inimiga momentaneamente dispersa devido aos seus ataques, o experiente sueco aproveita para colocar mais fogo no incêndio.
Ele dispara uma salva de mísseis ar-ar no centro da formação inimiga, provocando o caos, já que a distância era curta demais para os pilotos inimigos terem tempo de executarem as manobras evasivas.
Três dos mísseis falham, mas os outros cincos acabam derrubando os seus alvos.
Por seu turno, Rafael logra destruir mais quatro aeronaves V-STOL de ataque usando seus mísseis ar-ar.
Contudo, os aparelhos de ataque se aproximam mais e logo começam a disparar seus canhões duplos em regime automático, forçando o MS Sagittarius a se esquivar dos ataques.
- E então Rivaldo dribla um, dribla dois, dribla três e manda a bola para a rede, fazendo a alegria da galera... - Em estado de completa excitação pelo calor da batalha, Rafael continua narrando a sua partida imaginária de futebol, enquanto que sua máquina de combate consegue-se esquivar dos disparos de três aeronaves, destruindo mais um inimigo no processo...
Contudo um estrondo surdo e metálico estremece o cockpit do seu MS. Manobrando habilmente, um dos atacantes havia conseguido ficar por trás do seu Sagittarius e disparara um míssil quase à queima roupa. Embora o impacto não tenha causado grandes danos, foi o suficiente para danificar um dos propulsores do seu aparelho, reduzindo a sua manobrabilidade.
- Epa! Falta por trás! E o juiz disse que não houve nada! - Fala o brasileiro ironizando a sua própria situação enquanto vê os remanescentes da primeira esquadrilha se reagrupando ao seu redor.
Mais um pouco, as naves V-STOL estariam na posição ideal para desfechar um ataque devastador por todos os lados e o seu Mobile Suit seria reduzido lentamente em pedacinhos.
O MS de Rafael tenta se esquivar como pode das rajadas disparadas pelos V-STOL, mas devido à avaria sofrida, a estrutura de seu aparelho começa a ser alvejada pelos inimigos.
Os painéis dos seus sistemas táticos e de controle de avarias começam a piscar em tons preocupantes de laranja e o ruído do impacto dos disparos inimigos é simplesmente ensurdecedor.
Contudo, tiros isolados em rápida sucessão acabam por destruir três dos atacantes à sua frente. Um sinal familiar aparece no monitor tático de Rafael fazendo ele exclamar:
- E o Ronaldinho vem para ajudar Rivaldo!
- Cheguei a tempo de te salvar, mas creio que não poderemos fazer muita coisa, Pro Inferno com eles! - Diz o autor dos disparos, feitos com muita precisão e sangue frio, pelo intercomunicador.
Contudo, para poder ficar perto do seu parceiro, o Sagittarius de Svensson também estava no limite, com pouca munição e já tendo levado quadro disparos diretos, sendo dois de mísseis ar-ar e outros, de rajadas de 35 mm.
Rafael e Svensson se agrupam lado a lado, mas separados o suficiente para não se atrapalharem um ao outro.
Embora tivessem destruído metade dos V-STOL atacantes, seria uma questão de tempo até eles serem destruídos pelos inimigos remanescentes, que tinham raiva e munição de sobra para isto.
Não dispunham de mais mísseis e ambos estavam com pouca munição em suas metralhadoras, já que não estavam esperando por esta aparição de uma força inimiga tão grande.
Só que naquele exato momento, os dois Preventers testemunham um pequeno milagre. Dois aparelhos de Tang se desintegram sob o efeito de uma rajada devastadora de projéteis e outro aparelho se desfaz em chamas ao ser atingido por um tiro certeiro de metralhadora pesada.
A 7a Cavalaria, ou melhor, Sally e Wu-Fei haviam chegado a tempo.
- Yang! Water! Finalmente! - Exclama, aliviado, o aparentemente frio sueco.
- E a Seleção Canarinho entra em campo novamente! - Mesmo no auge da batalha, Rafael encontrava criatividade para satirizar a situação.
- Vocês dois! Recuem para a linha de defesa, enquanto damos cobertura! - Diz Sally em tom imperativo.
- Não temos tempo, vão andando! - Wu-Fei está visivelmente impaciente para começar a sua parte.
Cumprindo as ordens, os Sagittarius partem, aproveitando o "buraco" aberto pelos MS de combate na formação inimiga.
Os remanescentes das esquadrilhas de Tang não ficaram parados. A maioria dos aparelhos investe contra o MS Leo da Sally - acreditando ser aquele velho modelo Leo um alvo fácil - enquanto que quatro aparelhos se separam para tentar perseguir os Sagittarius avariados,
Contudo, os sensores táticos do Talgeese 4 percebem a manobra dos rebeldes e - meio a contragosto - Wu-Fei aperta o gatilho que ativa as metralhadoras múltiplas dos antebraços de seu impressionante MS. Duas rajadas curtas foram mais que suficientes para reduzir os inimigos a cinzas.
A verdade era que o jovem lutador chinês nunca foi muito adepto do combate a longa distância - ao contrário do seu antigo colega Trowa e do atual parceiro sueco Svensson - preferindo o combate armado corpo-a-corpo, por entender que este era o caminho do guerreiro.
Quatro dos V-STOL abrem fogo com os mísseis ar-ar restantes contra o MS-Leo de Sally, enquanto as aeronaves restantes tentam manobrar para poder atingir o aparentemente antiquado modelo pelos flancos e pelas costas.
Contudo, a jovem ex-major é esperta e movimentando habilmente o bem conservado MS, ela dispara usando o poderoso rifle de assalto do Leo de um lado e atirando com o canhão duplo de 35mm instalado como defesa adicional na cabeça de outro.
As poderosas rajadas do rifle perfuram a frágil blindagem dos atacantes, enquanto o canhão duplo de 35 mm abate de forma impiedosa os aparelhos restantes, transformando-os em bolas de fogo no céu.
Dois trinta e dois aparelhos que compunham o grupo de ataque, apenas sobraram três sobreviventes, que tentam fugir para o Leste, em direção ao sol nascente...
- Covardes... - Resmunga Wu-Fei deplorando a atitude dos comandados de Tang.
Sem demonstrar a menor compaixão, ele ativa os canhões duplos de 35 mm instalados na cabeça do Talgeese 4 e dispara três rajadas curtas, para economizar munição.
Os sinais dos aparelhos inimigos desaparecem de seu visor tático, restando apenas três pontos negros e fumegantes por detrás das colinas da estepe asiática.
Mas o pior estava para vir. Tanto os seus sensores como os do aparelho de Sally já acusavam a presença dos MS-Leo que estavam voando a baixa altitude e dentro do campo de ataque.
E, diferentemente dos antigos modelos usados na frente asiática da Eve Wars, o esquadrão enviado por Tang era composto por modelos praticamente novos e em perfeitas condições de combate.
Rompendo a formação, dois dos Leo inimigos se preparam para atacar o Talgeese 4 de Wu-Fei e outros dois decidem cercar o Leo Custom de Sally; enquanto o aparelho líder dá cobertura, disparando rajadas curtas com o seu rifle..
A batalha se inicia. Wu-Fei - fiel ao seu estilo - ativa o escudo do Talgeese-4 e o empunha, ao mesmo tempo em que com um movimento agilmente sincronizado transforma os sabres laser duplos do "Cavalo Selvagem" numa enorme lança.
Os Leo inimigos disparam uma rajada devastadora com os seus rifles de 105 milímetros antes que decidam usar os seus sabres laser. Contudo, o fortíssimo escudo do Talgeese-4 resiste ao impacto dos projéteis.
Enquanto isto, os outros Leo tentam atacar o MS de Sally, fazendo uma manobra em forma de pinça, enquanto o líder da formação dispara para distrair a comandante Preventer.
Só que este movimento era deveras previsível e o Leo Custom de Sally se esquiva num movimento em zigue-zague lateral, ao mesmo tempo em que dispara rajadas curtas de três tiros cada com o seu rifle.
Para a sua surpresa, contudo, Sally vê um dos Leo se desintegrar quando ele estava para revidar aos disparos... O MS inimigo líder hesita em atirar. Será que?
- Iceman! É você? - Ela murmura. Apenas uma pessoa poderia ter sido capaz de fazer aquele disparo.
Svensson decidira dar sua última contribuição na sangrenta batalha do dia, antes de se retirar em definitivo, disparando um tiro de precisão contra um dos Leo que atacara a sua comandante.
Confiando no seu instinto de guerreiro e de franco-atirador, o Sueco havia decidido arriscar, fazendo um tiro de sorte estando fora do alcance operacional de sua arma e no limite de seu sensor ótico.
Os primeiros Leo disparam freneticamente contra o Talgeese 4, mas o fortíssimo escudo protetor rebate praticamente todos os disparos.
Antes que os pilotos inimigos possam acionar os seus sabres laser a tempo, Wu-Fei empunha ameaçadoramente sua lança dupla, girando-a rapidamente como se fosse um nunchaku de kung-fu.
O Leo mais adiantado instintivamente ergue o seu rifle para defender-se do ataque iminente.
Um ruído metálico e estridente sacode o ar, acompanhado de faíscas branco-azuladas com tons de dourado.
O ataque foi perfeito. O rifle de assalto cai em pedaços em direção ao solo, bem como um de braços mecânicos do Leo.
Aproveitando a chance, o outro MS dá uma rajada à queima roupa no Talgeese 4, mas consegue apenas causar três impactos na resistente blindagem de Neo Titanium do mesmo, pois o experiente piloto do Altron Gundam já previra o movimento inimigo.
O dano sofrido foi praticamente inofensivo, já que a nova blindagem era muito superior às dos Leo e mesmo dos modelos Talgeese anteriores, se aproximando do poder defensivo do legendário metal Gundanium.
Girando rapidamente o corpo do Talgeese, Wu-Fei investe contra o atacante remanescente com uma agressividade espantosa. A muito custo, o piloto inimigo consegue se esquivar da investida, mas é obrigado a largar o seu rifle - com a munição já esgotada - para poder sacar o seu sabre laser.
Um choque de lâminas de energia cruza o ar, que chia com faíscas de energia pura saltando pelo céu.
Até que o piloto do Leo era bem experiente e consegue trocar alguns golpes com Wu-Fei em pleno ar. Se ele estivesse enfrentando um piloto qualquer até que teria chances de ser vitorioso.
Só que para o seu azar, o seu oponente não era um piloto qualquer, mas Chiang Wu-Fei, o legendário piloto do Altron Gundam, conhecido como "Nataku".
Com um movimento preciso, Wu-Fei decepa com uma das pontas de sua enorme lança ambos os braços do Leo atacante e em seguida inutiliza o MS cortando a sua cabeça, num movimento lateral, tornando-o inoperante.
Era evidente que se quisesse, o chinês poderia ter destruído o inimigo, mas precisava capturar alguém com vida, o que não foi possível para com os tolos pilotos das esquadrilhas aniquiladas.
O MS inimigo não iria conseguir ir para parte alguma sem os seus sensores.
O Leo que foi atacado primeiro - e que perdera um dos braços - decide atacar Wu-Fei pelas costas usando o sabre laser remanescente no braço que estava ainda intacto, só que esta foi uma idéia simplesmente idiota.
Como um artista marcial consumado, Talgeese 4 bloqueia elegantemente o sabre inimigo com um movimento defensivo da lança, ao mesmo tempo em que a cabeça do MS Leo é destroçada com um chute de curta distância.
Irracionalmente, o agressor tenta escapar de qualquer maneira, mas a ausência dos sensores localizados na cabeça do Leo e as avarias do combate fazem com que ele se choque numa colina, selando o seu destino.
O primeiro piloto que atacara Wu-Fei decide ser mais sensato, aguardando o seu destino dentro do MS avariado. Ele podia tentar fugir ou se suicidar, mas o pavor era tanto que o impedia de pensar nisto.
Enquanto o chinês lutava, aproveitando que Sally estava em desvantagem tática, os Leos restantes atacam-na simultaneamente para tentar decidir o combate.
Um dos Leo inimigos dispara duas rajadas no seu oponente, enquanto o líder tenta uma investida lateral com o sabre laser em punho.
Sally dispara uma rajada curta e tenta-se esquivar das balas, mas o braço direito de seu MS é atingido de raspão.
Só que o seu atacante não iria se vangloriar desta pequena vitória, pois a seqüência de cinco disparos do Leo customizado de Sally acaba por perfurar a cabeça e o ombro esquerdo do seu atacante.
O Piloto do Exército de Libertação de Tang apenas tem tempo de se ejetar antes que o seu aparelho se desintegre no ar.
O líder do esquadrão, vendo se perdido, tenta arriscar uma cartada suicida, já que voltar para a base de mãos abanando não era uma opção e sim um pedido para ser morto da pior forma possível pelo seu irado comandante.
Ele decide atacar o Leo de Sally usando os seus dois sabres lasers simultaneamente, uma manobra rara, mas possível.
Acelerando ao máximo, ele investe contra ela antes que Wu-Fei possa ajudá-la.
Sally se esquiva com um movimento lateral brusco usando seus foguetes auxiliares, bloqueando um dos sabres com o seu rifle e sacando a sua arma de combate corporal com a mão livre.
Infelizmente o rifle explode ao contato com o feixe laser, provocando uma explosão que danifica ambos os MS. Um zumbido forte e estranho percorre o ar.
O MS de Wu-Fei se apressa em socorrê-la, mas logo ele percebe que pouco pode fazer, ficando a apenas uma distância segura.
O MS de Sally havia com uma parte da cabeça desfigurada e tivera um dos seus braços inteiramente cortado pelo violento golpe que sofrera. Só que ela ainda estava viva e apenas tem tempo de afastar o seu Leo da presença do seu atacante..
O Leo líder do inimigo estava aparentemente inteiro e com ambos os sabres ativados, brilhando no céu matutino da estepe.
Contudo, numa vista mais detalhada, o seu tronco estava cortado na transversal e o aparelho estava caindo lenta mais inexoravelmente no solo, acabando por explodir numa enorme bola de fumo e chamas.
Ligando o seu canal de comunicação, o jovem chinês percebe a expressão de horror e de espanto de sua jovem comandante e companheira.
Não que ela fosse um soldado inexperiente ou que nunca tivesse matado para se defender, mas ele sabia que ela não teve a intenção de matar o inimigo a sangue frio...
- Wu-Fei, eu... - Tenta balbuciar Sally ligando o seu aparelho intercomunicador. Era evidente que sua adrenalina estava em alta, mas ela não estava contente com o resultado da batalha.
- Shhh... eu sei... Vamos escoltar o prisioneiro até a nossa base da retaguarda. Eu irei guiá-los. - Diz laconicamente Wu-Fei, se referindo ao modo de transmissão automática de coordenadas, que possibilitava a qualquer aparelho Preventer guiar os outros MS compatíveis, caso eles estivessem com os sensores danificados demais.
Ainda restavam o problema dos canhões autopropulsados. Contudo, uma vez que eles revelaram a posição atirando contra as tropas fracassadas do Coronel Chow e em seguida nas posições inimigas, o seu destino estava selado.
Friamente, Wu-Fei aciona um botão e muda o modo de ataque do Talgeese 4 para as metralhadoras instaladas em seus antebraços. Não decidindo arriscar um combate próximo com o MS de Sally avariado seriamente e um prisioneiro para cuidar, ele resolve fazer o óbvio: Destruir os blindados inimigos a longa distância.
Com as coordenadas dos alvos fixadas pelo computador do Talgeese 4, o gladiador metálico começa a atirar curtas rajadas nos alvos. Os abrigos reforçados de aço nada representam para os projéteis perfurantes de calibre 90 milímetros, que devastam tudo.
Em menos de trinta segundos, nada resta das baterias pesadas de Tang.
Logo em seguida, o orgulhoso guerreiro chinês abre o canal de comunicação com o único sobrevivente e a imagem que ele vê dentro do Leo decapitado e desmembrado do inimigo é a de um jovem um pouco mais novo do que ele, em estado de completo medo e pavor diante do fim de seus companheiros.
Wu-Fei diz algo num dialeto chinês, ordenando ao cativo que o siga, sem tentar fazer gracinhas.
Ele detestava fazer a parte de negociação, mas resolvera tomar a iniciativa, já que Sally estava momentaneamente abalada, além dela não estar familiarizada com os dialetos do interior da nação milenar.
O prisioneiro balbucia, implorando para que lhe poupem a vida e um pouco contrariado, o agente Preventer lhe dá as garantias de praxe.
Finalmente, o jovem piloto do Leo - que lutara como um veterano - concorda com a rendição e lentamente ativa o seu MS, que apenas estava em condições de voar, mas não de lutar.
Um só movimento de fuga - e o MS inimigo seria transformado em um caixão fumegante, disse ele.
O piloto aciona cautelosamente os controles de seu avariado MS e, escoltado pelo Talgeese 4, junta-se ao Leo customizado de Sally. Os três aparelhos voam rumo ao aeroporto de Lang Tse, transformado em base aérea.
Os Pilotos Rafael e Svensson já tinham chegado à base e rapidamente foram socorridos pelas equipes de apoio.
Enquanto eles estavam sendo levados para o exame de rotina, seus MS foram mais do que rapidamente encaminhados a um hangar de campanha, aonde seriam reparados e os dados dos computadores de bordos, transmitidos para a central de dados da Agência.
Em sua fortaleza na província de Yunan, um silencioso Senhor da Guerra observa o fracasso de sua ofensiva: Um batalhão mecanizado, um batalhão blindado, duas esquadrilhas de ataque, três baterias de canhões autopropulsados e cinco MS Leo - Todos destruídos em menos de uma hora de combate!
A sua face estava pálida e incrédula, embora ninguém ousasse encará-la de frente.
Embora tivesse sido um leal e eficiente coronel da OZ no tempo da Eve Wars, o Senhor da Guerra se desiludiu com o movimento liderado por Sua Excelência Treize quando percebeu que a organização não era tão unificada quanto pretendia ser, rachando-se em duas facções; a do aristocrátiço nobre europeu e a do Duque Dermail junto com o Coronel Tubarov.
A partir daí, o Senhor da Guerra decidiu seguir o seu próprio caminho, se preparando para o iminente fim da OZ, ao passo que tentava acumular o máximo de recursos para fazer a sua revolução mundial à sua maneira.
Admirador de líderes do passado como Napoleão Bonaparte, Mão Tse Tung, Che Guevara e Ho Chi Minh, Tang acreditara que era a hora dele reunificar a outrora poderosa China e fazer o Império do Meio voltar a ser forte e temido no seio das nações mundiais.
Fumando uma elegante cigarreira e trajando uma impecável túnica militar no estilo Mao-Tse Tung, o agora generalíssimo Liu Tang ordena laconicamente que suas tropas de infantaria - que estavam prestes a avançar contra Lang-Tse, recuassem para suas posições defensivas à espera do contra-ataque inimigo.
É claro que o General Liu Tang não estava completamente derrotado.
Se ele quisesse, podia lançar ainda cerca de quarenta e cinco Mobile Suits Leo e cinco Mobile Suits Taurus - incluindo o seu modelo particular customizado e aperfeiçoado - contra as frágeis posições da NUET, sem falar no restante de seus tanques, caças e helicópteros que ainda dispunha.
Só que ele temia que - mesmo que tivesse sucesso na conquista da estratégica represa - o seu avanço fosse posteriormente minado pelas baixas decorrentes da campanha e que os odiados inimigos tivessem mais Mobile Suits do que aparentava ser...
Como aqueles malditos preventers haviam obtido um Talgeese, ainda mais de um modelo que ele nunca tinha visto antes?
Sim, a subestimação do poderio inimigo foi uma falha gravíssima e isto custou a vida de centenas de soldados, bem como uma expressiva quantidade de material bélico que não seria reposta facilmente - a sua maior baixa desde o início de sua campanha de libertação nacional.
A única alternativa seria a de aguardar a reação do inimigo de maneira defensiva, e contra-atacar ao menor sinal de fraqueza.
Sim, esta era a tática mais adequada, pensava Liu Tang, acabando de soltar uma baforada com a sua cigarreira.
De súbito, ele nota que dois dos seus assessores de confiança estavam tentando sair discretamente do complexo. Em suas faces estavam escritos os estigmas da vergonha e do fracasso. E eles tinham que pagar.
Sem pestanejar, o cruel Senhor da Guerra ordena a seus guardas que prendam o seu Chefe de Estado Maior e o oficial comandante responsável pela operação.
De alguma forma eles iriam pagar com a morte mais cruel e dolorosa possível, já que não souberam prever tudo nos mínimos detalhes.
Ambos os oficiais - amigos de longa data de Liu Tang - imploram por suas vidas, derramando copiosas lágrimas e apelos, ajoelhando-se perante o seu algoz, mas friamente o cruel líder chinês vira as suas costas para ambos.
Aquilo era pior do que uma condenação aberta à morte.
Os guardas de elite de Liu dominam os dois homens com dolorosas coronhadas nas costas e os levam para a sala de torturas.
Só que este castigo não seria suficiente para aplacar o desejo de vingança do Senhor da Guerra.
Em seguida, ele ordena friamente o fuzilamento sumário de todos os prisioneiros de guerra da NUET em seus domínios, bem como o de algumas centenas de camponeses escolhidos aleatoriamente, acusados de "cumplicidade" com o inimigo.
Com um sorriso cruel em seus lábios, o oficial responsável pelo aparato repressivo de Yunan se adianta e declara que a ordem será cumprida inexoravelmente neste mesmo dia, para vingar "a honra" dos soldados mortos.
Finalmente Liu decide mudar de tática. Como a ofensiva convencional fracassara, ele iria passar para a tática de desgaste via guerrilha.
Com uma singela ordem, ele ordena ao comandante de seus "batalhões do povo" que enviem grupos de guerrilheiros - em bandos entre 12 a 50 homens cada - para atacar, saquear, violentar e matar tudo o que encontrassem nos postos de fronteira e nas aldeias.
O inimigo precisava sentir na pele a dor da perda e das lágrimas. Nisto, o cruel Senhor da Guerra era um mestre.
Em seguida, empunhando o braço direito ao ar em gesto de desafio, Liu retorna aos seus aposentos para descansar um pouco.
Enquanto tais fatos se desenrolavam em Yunan, Sally Po tentava entrar em contato com a central de comando da Agência:
- Agente Water para White Base. Agente Water para White Base... Alguém na linha? - Exclama uma voz feminina através do intercomunicador.
White Base era o nome em código do centro de comando dos Preventers, sediado em Nova Peking.
Refeita do choque decorrente da luta, Sally se recupera durante o trajeto de volta à base e decide comunicar-se com os seus superiores imediatos.
Um breve instante de silêncio acontece e finalmente White base responde ao chamado pelo intercomunicador, em linha codificada e cifrada.
- White Base na linha, câmbio. O que foi, Agente Water? - Responde uma voz feminina em tom delicado, mas firme.
Tratava-se da Oficial de Inteligência Melanie Klein, chefe provisória da Agência Preventer em Nova Peking. Ela tinha por volta de 32 anos, era loira, alta e usava um par de óculos de aro redondo, estando sempre vestida à caráter, parecendo mais uma jovem executiva do que uma espiã.
Embora não tivesse experiência militar prévia, Melanie foi escolhida como Agente Preventer pelo fato de ter sido uma das ex-gerentes da Paladin Security Inc. uma das melhores empresas de segurança particular do mundo, além de conhecer profundamente a área de investigação particular - sendo especialista em espionagem industrial e sabotagens. Tudo isto, afora os inúmeros contatos com grandes corporações e órgãos do governo.
- Temos problemas. Nossos Sagittarius ficaram avariados durante o reconhecimento e o meu Leo está fora de ação. Peço reforços. O Inimigo possui várias armas pesadas não confiscadas e um número indeterminado de MS... Repito, eles possuem MS. - Diz Sally.
- Muito bem, Vou ver o que posso fazer, Water. Só temos oito agentes de campo na Capital e não posso mandá-los todos de uma vez até a Central nos enviar reforços... Contudo, estarei enviando dois Shuttles na área, junto com quatro agentes. - Responde Melanie com raro senso de realismo, já que os recursos humanos da Agência eram muito restritos devido às restrições do Ministério de Defesa.
- O que pode nos oferecer, White? - Pergunta Sally com certo tom de ansiedade na voz.
- Que tal... Quatro MS Leo revisados, Dois Taurus e um brinquedinho que nos chegou ontem à tarde por via aérea? - Sorri Melanie ao perceber a apreensão de sua jovem amiga.
- Você não está falando do... - Sally Po fica intrigada, já que à exceção do Talgeese, dos Leo e alguns raros Taurus ela nunca ouvira falar de qualquer outro modelo de MS disponível aos Preventers.
Por motivos políticos óbvios, o uso de Mobile Dolls Virgo 1 e 2 foram vetados para uso militar, assim como os MS pesados Serpents remanescentes da tentativa de golpe de Dekim Barton e Mariemeia - embora estes modelos fossem mais avançados do que qualquer outro MS existente na agência, à exceção do "Cavalo Selvagem" usado por Zechs Marquise.
- Sim, esta notícia é quente, E vou ver se mobilizo uma equipe de apoio extra, bem como armas, munições e algumas peças de reposição pros teus MS avariados. Só não prometo que mando tudo ainda hoje... - Explica Melanie, já pensando mentalmente em como driblar a burocracia governamental para mobilizar os recursos prometidos à frente de guerra.
- Obrigado, White! Transmitiremos os dados de batalha assim que chegarmos.
- Mande um relatório completo. Ah, a Senhorita Relena Darlian deve estar vindo em visita oficial dentro de dois ou três dias ao teatro de operações. Cabe aos agentes providenciarem o melhor esquema de segurança para a subsecretária de assuntos exteriores. - Explica Melanie, ligeiramente preocupada com a notícia transmitida pelo computador da Agência em caráter secreto.
- Hum... Entendido. Câmbio e Desligo. Até mais. - Sorri Sally discretamente.
- Boa sorte, Water e a todos.
O Sol havia já aparecido e os seus raios iluminavam as colinas de Yunan, enquanto que o Talgeese 4 de Wu Fei, bem como o Leo de Sally, voam acima da linha do horizonte, enquanto escoltam o único sobrevivente da primeira luta de Mobile Suits após a revolução de Mariemeia.
Enquanto isto, num galpão abandonado da cidadezinha decadente de San Jose, na Costa Oeste dos EUA, uma figura andrajosa de um mendigo prosseguia incansável, digitando códigos e destravando senhas de um sofisticado computador que contrastava com a indigência do local.
O mendigo esmolava praticamente todos os dias, de manhã até o final da tarde, no seu "ponto", que ficava perto de dois bancos e de um shopping-center, raramente freqüentados pelos poucos afortunados que ainda habitavam a cidade, que já foi um dos maiores centros de tecnológica da era Pré-AC.
Só que ele não havia ido esmolar neste dia. Se bem que pouquíssima gente notou isto. E um pedinte a mais não iria fazer diferença em San José, já que mais de dois terços da população vivia abaixo da linha de pobreza. A cidade estava por demais cheia de mendigos, indigentes, crianças famintas e jovens subempregados para alguém prestar atenção neste detalhe.
Com os olhos avermelhados o mendigo anônimo sente uma dor crescente na nuca e um cansaço súbito, típico de quem passou a noite em claro.
Ele decide fazer uma pausa em seu insano trabalho de acessar aquele disco prateado enfiado na gaveta do seu leitor ótico - tarefa esta que o fizera esquecer de descansar, comer e dormir desde a tarde de ontem..
O miserável abre o seu frigobar - em estado tão deplorável quanto ele mesmo - e sem a menor cerimônia, bebe diretamente do bico da garrafa um gole de refrigerante barato, imitação servil da legendária "Coca-Cola", e em seguida serve-se de um pedaço amanhecido de uma pizza, comprada com os escassos níqueis que lhe haviam oferecido na semana passada.
Enquanto ele mata a fome, os seus olhos frios e penetrantes analisam a insana atividade do monitor do poderosíssimo computador à sua frente, mostrando centenas de códigos de acesso sendo desbloqueados e neutralizados pelo seu software hacker, talvez um dos mais sofisticados da Terra.
Evidentemente o desconhecido anônimo não era um mendigo comum e nem tampouco um hacker de fim de semana. Era um especialista em sua área e um dos melhores.
Só que por algum motivo ele teve a sua vida e o seu futuro destruído pelo pós-guerra, mergulhando o no pesadelo da indigência. Para os registros oficiais, ele sequer existia, estando impossibilitado de recorrer a qualquer ajuda governamental, encontrar um emprego decente ou simplesmente pleitear um prato quente de comida num dos programas de combate à fome.
Ele era o "incógnito", o "sem-nome", um rato, um pária da sociedade.
Contudo, logo em breve, muito breve, ele iria desencadear a sua vingança perante um mundo que o desprezara e o lançara no lamaçal. Ninguém iria escapar. TODOS, mas TODOS mesmo iriam pagar pelo que fizeram com a sua vida e os seus sonhos.
Enquanto o seu computador processava uma enormidade de informações de destravamento de rotinas e acessos, um anônimo porta retratos - com o vidro quebrado - estava ao lado da tosca mesa de madeira.
Nela, mostrava o mendigo desconhecido, com aparência mais jovem, barba bem feita, cabelos penteados e um detalhe curioso...
E naquela gravura levemente amassada e esmaecida pelo tempo, o desconhecido estava cercado de alguns homens usando jalecos brancos e ele trazia uma jaqueta com o emblema da Organização White Fang!
Um rugido de trovão distante sacode o galpão de metal, enquanto nuvens escuras formam-se no horizonte. Era muito difícil chover naquela época do ano na Costa Oeste, mas as alterações climáticas resultantes das guerras tornaram tudo imprevisível.
A tempestade estava para se formar...
Notas Complementares:
V-STOL: Abreviatura de "Vertical - Short Take Off - Landing". É um termo militar que é empregado para designar aeronaves capazes de decolar e aterrissar em pistas curtas com vôo vertical. O exemplar mais conhecido é o avião de combate Sea Harrier, que foi usado pelos ingleses na Guerra das Malvinas em 1982.
Para esta fic, imaginei as aeronaves V-STOL com características mistas de avião e helicóptero, tendo a velocidade do primeiro e a manobrabilidade do segundo.
Era AC: After Colony. É a linha de tempo usada na série Gundam Wing e que começa com a colonização do espaço sideral.
OZ: Organização do Zodíaco.Era um grupo semi-secreto nominalmente comandado pelo General Treize Kushrenada, mas na realidade mantido pela Fundação Romefeller, que manipulava a Aliança Terrestre, impondo às colônias um controle férreo.
NUET: Abreviatura de Nação Unida da Esfera Terrestre, nome dado à Aliança Terrestre após sua unificação com as colônias, após o conflito relatado em Gundam Wing.
Mobile Suit: Ou simplesmente MS, são mechas tripuláveis geralmente pilotados por uma só pessoas, sendo capazes de lutar em terra, ar e mar e no espaço dependendo do tipo;
Mobile Doll: Trata-se de Mobile Suits não tripulados e controlados via inteligência artificial. Este novo conceito foi empregado pela primeira vez nos Mobile Suits da série Taurus, mas finalmente atingindo seu apogeu na produção dos Mobile Dolls Virgo e Virgo II.
White Fang: Formado por uma dissidência radical da OZ, este grupo acabou por incitar as colônias a se rebelarem contra seus antigos opressores. Inspirado por um homem chamado Quinze, mais tarde esta facção rebelde acabou por ganhar o apoio de Zechs Marchise, ou Milliardo Peacecraft, que acreditava que a Terra era o centro de todos os males que afligiam as colônias espaciais e por isto, deveria ser destruída.
Escrito por: Calerom
Última Versão: 23/11/2003 13:00 Hrs
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Saindo de seus abrigos, o Mobile Suit Leo Custom de Sally Po e o Talgeese 4 de Chiang Wu Fei partem para ajudar os MS Sagittarius de Rafael Martins e Tommy Svensson, que estavam em situação de risco.
Embora os dois agentes Preventers "Gringo" (Rafael) e "Iceman" (Svensson) tivessem posto fora de combate as colunas blindadas do Coronel Chow que se dirigiam para tomar de assalto a importante represa hidroelétrica do Rio Vermelho, a situação estava longe de estar tranqüila.
Pelo contrário, uma nuvem negra no horizonte ameaçava a tênue vantagem obtida pelos agentes de Lady Une.
O insano "Senhor da Guerra" Liu Tang tinha algumas cartas escondidas na manga. Várias delas, de poderio mortal.
A primeira carta estava na forma de três baterias com dezoito canhões autopropulsados Type MOZ-170, de calibre 280 mm, que começaram a martelar as posições das forças governamentais, gerando várias mortes e caos.
Estas peças de artilharia estavam ocultas em abrigos subterrâneos camuflados e eletronicamente protegidas contra rastreamento por radar, e os satélites espiões enviados pelos Sagittarius dos Preventers descobriram a sua posição tarde demais.
Os canhões autopropulsados de Tang eram versões aperfeiçoadas da artilharia móvel que começou a ser utilizada na época da II Guerra Mundial.
Só que diferentemente dos antigos modelos usados pelos dois lados do conflito, estas monstruosidades blindadas possuíam poderosos canhões com sistema de tiro computadorizado e eram capazes de disparar uma salva de disparos a dezenas de quilômetros de distância, usando projéteis impulsionados por foguetes.
Também eles possuíam sofisticados sistemas de sensores e monitoramento de alvos, bem como blindagens de última geração, capazes de resistir aos efeitos indiretos de armas nucleares, bacteriológicas e químicas.
A segunda carta de Tang era duas esquadrilhas de aeronaves V-STOL com 16 unidades cada. Estas versões modernizadas dos desajeitados helicópteros do Século XX eram capazes de decolar e pousar verticalmente em pistas curtíssimas em qualquer tempo e circunstância.
Sendo um misto de helicóptero com avião, as aeronaves estavam armadas com pares de canhões calibre 35 milímetros, além de vários "casulos" de mísseis ar-ar e ar-terra equipados com sistemas de rastreamento "atire e esqueça".
A tecnologia bélica havia avançado, a ponto dos mísseis da era AC terem um alcance e precisão muito maior que seus equivalentes dos séculos anteriores. Mas possuindo dimensões e pesos mais compactos e reduzidos, a ponto de um simples aparelho armado carregar dezenas destes projéteis, aumentando o seu poder de fogo.
Não havia mais necessidade do piloto da Era AC enquadrar um alvo inimigo no radar tático antes de atacar, pois os mísseis estavam equipados com sistemas de rastreamento aperfeiçoados que identificavam múltiplos alvos prioritários no campo de batalha em qualquer condição climática.
Enquanto os helicópteros primitivos do século XX podiam carregar entre 4 a 16 destes mísseis, estas aeronaves modernas tinham capacidade de levar entre 24 a 48 mísseis por aparelho - sem qualquer perda de desempenho por excesso de peso - causando uma verdadeira tempestade de morte e destruição.
E finalmente estava claro pela terceira carta que Liu Tang possuía que ele não dava a menor importância para os ideais pacifistas de Relena Darlian e da nova Nação Unida, que propunha um mundo sem fronteiras.
O insano ditador chegou a guardar cuidadosamente os seus Mobile Suits Leo pertencentes ao batalhão que comandava durante a Eve Wars, além de ter confiscado mais alguns exemplares recém-chegados dos arsenais da OZ em Yunan durante o caos dos últimos dias de guerra.
Para a sua sorte, as inspeções de armas da Nação Unida somente concentraram as suas atenções em Nova Peking e nos grandes centros industriais da China, o que facilitou o seu movimento militar.
Além de dispor de vários MS e pilotos experientes, Tang contava em seus arsenais com várias peças de reposição, armas, munições e combustível suficiente para manter Yunan em pé de guerra durante meses e atacar as desguarnecidas províncias vizinhas.
Só que para ser vitorioso na sua campanha, ele precisava de mais dois recursos estratégicos: energia e alimentos. Foi por este motivo que o general Tang havia decidido atacar a rica província de Lang-Tse e sua vital represa hidroelétrica.
Sem dispor de armamentos pesados, as forças de paz da Nação Unida seriam um alvo fácil para o "Senhor da Guerra", que os esmagaria numa derrota terrível, forçando os diplomatas pacifistas a aceitarem qualquer condição sua imposta.
Só que ele não contava com duas surpresas: Um pequeno grupo de Agentes Preventers e entre eles, o piloto do Altron Gundam, Chiang Wu-Fei.
E isto iria fazer a diferença.
Um pouco antes do ataque da equipe da Major Sally às linhas inimigas, o Coronel Ian "Clooney" Rodgers estava fazendo uma inspeção às suas tropas de linha de frente.
Quarentão, de estatura média-alta, cabelos precocemente grisalhos, com uma aparência que lembrava à do antigo ator de Hollywood George Clooney e australiano de origem, Rodgers havia pertencido aos quadros militares da Aliança Terrestre e estava na Frente Australiana quando a Eve Wars terminou.
Em seguida ele foi transferido para a reserva e dispensado, tendo voltado à fazenda de gado aonde nasceu e fora criado.
Contudo, devido à necessidade de recrutar oficiais experientes, Ian foi de novo convocado, desta vez pelas Forças de Defesa da Nação Unida da Esfera Terrestre, devido ao seu passado limpo de atrocidades de guerra e as excelentes referências que obtivera quando estava servindo, incluindo uma recomendação do General Brecht, que fora seu superior durante a Eve Wars.
E ele estava no Estado-Maior do Ministério da Defesa quando foi designado para chefiar a Força de Paz destinada a pacificar a província chinesa de Yunan, libertando-a do domínio perverso de Liu Tang.
Como todo militar calejado pela guerra, o Coronel Rodgers logo descobriu que tudo era muito bom para ser verdade, ao chegar há pouco menos de três meses atrás na China.
A chamada "força de paz" de 7.500 homens era grande demais para ser comandada por um militar de sua patente. Mas em termos de força de combate a sua eficácia real era pouco menos do que uma piada.
Era na realidade, uma colcha de retalhos de vários pelotões, companhias e batalhões de soldados das mais diferentes etnias e raças: americanos, ingleses, franceses, alemães, japoneses, coreanos, turcos, australianos, russos, hindus, egípcios e até argentinos, entre outros.
Embora o uso do idioma universal minimizasse a diferença de linguagem; a falta de oficiais experientes, bem como o excesso de diversidade de culturas e etnias impedia uma coesão eficaz desta força multinacional.
O veterano comandante australiano suspeitava que o real motivo desta torre de babel militar fosse o desejo do Ministro Maxwell Taylor de mostrar a "unidade" e a "harmonia" das Forças de Defesa da NUET para a mídia.
Isto poderia ser bonito para fotos de propaganda e discursos bonitos, mas não para uma operação militar séria.
Foram prometidas tropas de apoio, mas ao chegar em Nova Peking, Rodgers amargamente descobriu que estes reforços nada mais eram que cerca de 2.500 soldados chineses integrantes das Forças de Defesa Territorial, muito mal equipados, mal armados e com a moral severamente abalada devido às sucessivas derrotas anteriores contra as forças de Tang, bem motivadas e bem equipadas.
Muitos destes homens estavam doentes, desnutridos e esgotados e vários sequer possuíam armas ou mesmo uniformes.
Para piorar, as forças de Rodgers somente tinham armas e veículos leves e o armamento mais poderoso à sua disposição eram um punhado de metralhadoras pesadas, alguns lança-mísseis portáteis e pouquíssimos carros blindados.
A sua aviação dispunha apenas de aparelhos de reconhecimento e transporte.
Os helicópteros V-STOL da NUET eram modelos desarmados que eram usados apenas para transporte de pessoal e de carga, bem como resgate.
Não haviam tanques, artilharia pesada, lançadores de mísseis pesados, aviões de caça, helicópteros de ataque ao solo e muito menos, Mobile Suits.
Durante a longa viagem até a fronteira com a província rebelde - cerca de 1.500 km pelo interior da China - o comboio da força de paz foi obrigado a gastar cerca de 1/3 do total do combustível e provisões pelo caminho apenas para levar sua preciosa carga.
Quem disse que havia postos de gasolina, estradas asfaltadas e armazéns de suprimentos aonde eles iriam passar?
Ainda assim, foi melhor do que nada. Mal chegaram na fronteira entre Yunan e Lang Tse, as tropas de Coronel "Clooney" tiveram o seu batismo de fogo, impedindo que as forças de Liu Tang cruzassem a divisa, repelindo-as devido à sua superioridade numérica.
Passada esta fase, o oficial australiano ordenou a ocupação de várias aldeias de província, a criação de um posto de comando e a fortificação da área ao redor do rio Vermelho, entre Yunan e Lang-Tse.
A pior parte, contudo, foi quando as tropas da NUEF se viram diante de uma tarefa ao qual não estavam preparadas:
O acolhimento de inúmeros refugiados e fugitivos das atrocidades de Liu Tang, vindos de Yunan, afora a proteção das aldeias vizinhas à fronteira, que sofriam saques e represálias por parte das tropas móveis do vingativo líder chinês.
Não havia infra-estrutura mínima para acolher aquela legião de miseráveis, na forma de hospitais, depósitos de alimentos, escolas, cantinas e mesmo banheiros coletivos decentes.
Em menos de uma semana, ergueu-se uma enorme cidade de tendas ao redor do posto de comando de Coronel Rodgers, totalizando cerca de 50 mil refugiados.
E o conforto nelas era ligeiramente melhor do que o de um campo de concentração da II Guerra Mundial.
A tensão entre as suas tropas e aquela multidão de almas desesperadas e famintas era enorme.
Choques entre as mentalidades milenares dos camponeses e a civilização representada pelas tropas da NUET eram quase que inevitáveis.
Numa das aldeias, uma jovem noiva foi quase linchada pelos seus pais e parentes em praça pública depois que se descobriu que ela foi estuprada por um soldado de Tang (pelos costumes locais, a mulher era sempre considerada culpada se é violentada) e o grupo de soldados americanos que tentou resgatá-la foi obrigado a abrir fogo contra a multidão ensandecida.
Numa outra aldeia, caminhões de ajuda humanitária simplesmente foram saqueados ao chegar e seus ocupantes mortos por centenas de famintos.
Em outro lugar, quatro soldados egípcios foram massacrados pela multidão faminta por terem se negado a abrir os depósitos de alimentos antes do horário de pré-estabelecido.
A grande maioria dos aldeões e camponeses de Yunan desconhecia por completo a língua universal da Nação Unida e a comunicação para se obter informações a respeito das tropas inimigas era lenta e confusa, já que o dialeto era bem diferente do chinês usado em Nova Peking e grandes centros.
Hostilidade e medo pairavam entre ambos os lados.
Para piorar, suspeitava-se que havia espiões e guerrilheiros de Tang infiltrados entre os aldeões, espalhando falsas informações e praticando atos de sabotagem e assassinato tanto entre os refugiados como nas tropas.
Embora fosse um bom oficial e considerado popular entre os soldados, o Coronel "Clooney" tentava manter a disciplina em seus quadros para evitar que suas tropas descambassem na anarquia.
Um Primeiro-Tenente de origem Norte-Americana foi preso e condenado por ter sido apanhado em flagrante comercializando armas e gêneros alimentícios no mercado negro, além de estar envolvido com mafiosos chineses que desviavam víveres dos depósitos para revendê-los a preços extorsivos ao povo.
Um suboficial russo foi punido por favorecimento à prostituição e pedofilia depois que foi descoberto um esquema de "favores sexuais" entre alguns soldados e oficiais com as jovens refugiadas a troco de quotas diárias maiores de comida, cigarros e roupas.
- "Fico imaginando se aqueles filmes sobre o Conflito do Vietnã não tinham um fundo de verdade..." - Pensa o Coronel Ian, lembrando-se de uma película chamada "Platoon" e outra chamada "Born To Kill", ambas produzidas há mais de dois séculos atrás sobre o histórico envolvimento dos Estados Unidos no conflito Vietnamita.
O oficial australiano havia estudado esta e outras guerras do Século XX durante os cursos do Estado Maior e até pesquisado vídeos e filmes, mas nunca imaginou que a realidade seria superior à ficção.
De certa forma, todo aquele horror que vira naqueles filmes antigos produzidos com técnicas primitivas estava agora real, na situação de seus homens, repentinamente enfurnados na insanidade da "guerra de libertação" empreendida pelo Senhor da Guerra Liu Tang.
Naquele momento, Rodgers passava em revista um destacamento de tropas nigerianas recém chegadas ao front, estando no banco de trás do seu "papamóvel", como foi carinhosamente apelidado o seu veículo de comando pelos soldados.
A seu lado estava o jovem oficial Major Richard Myers - o seu ajudante de ordens. Na frente, no lado direito, o veículo estava sendo conduzido por um sargento das forças armadas americanas; e no lado esquerdo estava um sério e carrancudo cabo russo empunhando uma metralhadora leve.
Uma banda tocava uma marcha animada enquanto as tropas nigerianas estavam orgulhosamente perfiladas em posição de sentido, sendo habilmente comandadas por um oficial de meia idade usando óculos escuros e uniforme cáqui.
Depois que a Aliança Terrestre fez as pazes com as Colônias, o design dos uniformes militares mudou radicalmente, trocando-se o pomposo estilo napoleônico dos mesmos - ao gosto de Treize e da Fundação Romefeller - por roupas mais funcionais e práticas.
- Senhor Coronel, esta é a companhia 155 da Guarda Presidencial Nigeriana... Ela veio ontem à noite de Nova Peking e está comandada pelo Capital Henry Kanu Otombe, de Lagos. - Dizia protocolarmente Myers enquanto Rodgers olhava para o destacamento à sua frente.
- Excelente, depois da apresentação oficial, vamos conversar com o oficial comandante para que ele leve as suas tropas ao "Boot Camp" antes de começar a "diversão" de verdade... - Diz Rodgers em seu estilo peculiar.
O "Boot Camp" era o duro treinamento de emergência que o australiano aplicava as tropas recém-vindas ao front para acostumá-las aos rigores da batalha.
Ele durava duas semanas e os soldados e oficiais participantes (sem distinções ou privilégios de patente) eram submetidos a todo tipo de privações e dificuldades antes de serem considerados aptos para a luta.
Era também conhecido como a "antecâmara do Inferno".
Mas quem sobrevivesse ao mesmo podia se gabar de poder lutar em qualquer canto do planeta.
Para evitar o surgimento de "panelinhas" e rivalidades étnicas, Rodgers introduziu desde o início um esquema de rodízio no qual soldados recentemente aprovados no "Boot Camp" eram mandados as unidades mais calejadas, para melhorar o entrosamento entre elas e desenvolver um senso de camaradagem independentemente das nações ou etnias originais.
Após o batismo de fogo, os novatos eram reintegrados às suas unidades de origem para passar o que aprenderam para os outros.
Na realidade, esta tática não era nova, mas apenas os oficiais que chegaram a lutar na linha da frente como Rodgers sabiam da importância dela. De nada adiantava mandar ao fronte uma tropa recém-chegada, ainda que bem armada e equipada, pois uma coisa era lutar em exercícios simulados e com munição de festim. E outra enfrentar o inimigo numa situação real.
Quanto aos rumores de que havia Agentes Preventers na área, Rodgers era um dos poucos oficiais que sabiam dos detalhes, embora não dissesse isto em público.
Apesar da maioria dos seus colegas detestar este tipo de interferência por parte de um órgão não-militar, o coronel australiano respeitava o trabalho deles e até sentia-se mais tranqüilo, já que os Preventers eram uma força de elite respeitável.
Para este dia, as tarefas da Força de Paz seriam simples: Cobrir a linha da fronteira entre Yunan e Lang-Tse, guarnecer a importante represa do Rio Vermelho e repelir qualquer tentativa de infiltração de soldados regulares ou guerrilheiros de Tang.
Com um pouco de sorte, a Nação Unida enviaria mais um grupo de combate ao fronte e Rodgers passaria o comando a um general de carreira.
Desde que não fossem cometidos descuidos, a rebelião de Tang seria contida e cedo ou tarde, o movimento pereceria por falta de apoio externo.
E todos os seus homens poderiam voltar sãos e salvos para casa.
Para isto, era vital que as suas tropas bloqueassem o exército inimigo ao longo da fronteira até que as forças de reforço chegassem ao fronte, acabando por isolar definitivamente o Senhor da Guerra do restante da China.
Quando estava para voltar ao seu centro de comando, uma tragédia acontece na frente de Ian Rodgers.
Uma violentíssima explosão seguida de um estrondo pior do que mil trovões sacodem o acampamento. E depois outra, mais outra e mais outra.
O Coronel Australiano apenas tem tempo de instintivamente saltar do seu veículo antes que ele fosse atingido. Fogo e fumaça nublam a sua mente, enquanto que gritos desesperados e lamentos de agonia preenchem o lugar.
A confusão era indescritível. A maioria dos homens corria freneticamente enquanto que uns poucos tentavam ajudar os feridos e tentar colocar ordem no caos instalado pelo bombardeio da artilharia pesada.
A princípio, Rodgers sente uma dor lancinante e terrível nas suas costas e pernas. Com certeza ele foi atingido pelos estilhaços da explosão. Mas o fato dele sentir dor era sinal de que estava vivo... Por enquanto.
Com o seu canto do olho esquerdo, ele nota que o veículo onde estava ficou totalmente em chamas. O seu motorista foi feito em pedaços pelos estilhaços do projétil explosivo que caiu há poucos metros. E o seu guarda-costas havia sido decapitado por um pedaço do para-brisas à prova de balas.
E quanto ao seu ajudante de ordens? Pobre Richard Myers! Jamais poderia voltar para sua pequena casa e rever a jovem namorada e seus idosos pais. Com horror, Rodgers reconhece uma prancheta um pouco atrás à sua direita.
Era a prancheta de Richard, ainda com um bloco de anotações, totalmente ensangüentada... Juntamente com a mão e o pedaço do braço que ainda o segurava.
Sem tentar-se mexer, Rodgers aguarda a chegada de socorro, torcendo para não ser esquecido no meio da confusão. Era evidente que ele estava muito ferido, mas pouco podia fazer, já que não sabia a extensão de seus ferimentos...
Artilharia pesada... O maldito Senhor da Guerra tinha baterias de canhões autopropulsados! E em número expressivo para alterar o balanço da guerra....
E agora? Como convencer alguns milhares de homens mal armados por causa de uma estúpida determinação do Ministério de Defesa a lutar de igual para igual contra um grupo de fanáticos equipados com as sobras de guerra da OZ?
Como se as coisas não fossem fáceis...
Lentamente Rodgers fecha os olhos e entrega-se ao negro sabor da inconsciência, torcendo para que outros tivessem sucesso naquilo que ele havia falhado em adivinhar o que ocorreria...
A tarefa de Sally e de Wu Fei não seria nada fácil. Primeiro, eles teriam que salvar seus colegas Rafael e Svensson do ataque das unidades de Tang, antes que fosse tarde demais para seus amigos e paras as tropas em terra. .
Embora um MS como o Sagittarius pudesse vencer com folga um pequeno número de aeronaves de ataque, eles corriam risco de virar picadinho diante de duas esquadrilhas inteiras armadas até os dentes.
Isto, sem falar nos cinco MS Leo que Tang mandara - este sim uma ameaça terrível capaz de transformar as tropas da NUEF em picadinho.
- Agente Yang! Vamos neutralizar aquelas duas esquadrilhas e finalmente conter os MS inimigos, cobrindo a retirada de nossos companheiros. - Explica Sally o seu plano pelo intercomunicador do Leo.
- Feh... Isto é óbvio demais... Depois cuidaremos da artilharia pesada oculta nas colinas. - Responde o guerreiro chinês de maneira um pouco rude, como era o seu estilo.
- Agentes Gringo e Iceman: Permaneçam em formação e agüentem até chegarmos. Previsão de encontro entre cinco a sete minutos. Autorizo Situação "Amarelo Três" - Sally tenta se comunicar com os MS de seus colegas.
Situação Amarelo Três era o código que autorizava aos Preventers recorrerem ao uso da força, ainda que limitada. Acima dela existiam apenas as situações Vermelha ("Fogo à Vontade") e Negra ("Uso de Armas de Destruição Massiva"), somente autorizadas em casos excepcionais.
- Entendido, Agente Water. Câmbio e desligo. - Responde Svensson, terminando por desligar o intercomunicador de seu MS ao mesmo tempo em que ativa os sistemas de contramedidas eletrônicas do seu Sagitário.
- E então a Seleção Brasileira entra em campo, Torcida canarinho! - Fala Rafael, como se estivesse narrando uma partida de futebol.
- Vamos lá! - Diz Wu-Fei acelerando ao máximo o Talgeese 4.
A primeira leva de Helicópteros resolve finalmente atacar o MS de Rafael.
O líder da esquadrilha inimiga dispara uma salva de doze mísseis ar-ar simultaneamente no colosso de aço voador. Os seus seguidores também fazem o mesmo.
Só que o Sagittarius de Rafael ativara o seu módulo de contramedidas eletrônicas e valendo-se da mobilidade superior de seu aparelho, inicia uma série de manobras arriscadas enquanto atira com a sua metralhadora de 90 mm.
Era a primeira missão de combate do jovem moreno e ele não queria fazer feio. Embora o brasileiro fosse boa gente e detestasse violência, agora era uma questão de vida ou morte.
Uma série de explosões sacode o ar, numa seqüência ensurdecedora. Vários mísseis inimigos terminam explodindo entre si, confundidos pela emissão simultânea de "decoys" (iscas eletrônicas) preparados para enganar os sistemas de tiro dos inimigos, e outros acabam atingindo o vazio.
Repentinamente, uma das aeronaves é atingida por uma rajada curta da metralhadora do Sagittarius e explode numa bola de fogo alaranjada e negra.
O outro aparelho tenta se desviar de uma segunda rajada, mas não é o bastante. Em instantes ele viaja rumo ao solo, com o motor em chamas e a causa totalmente destruída.
Tentando encurtar a distância que o separava do Agente Gringo a toda velocidade, Svensson encara o enxame representado pela segunda esquadrilha de aeronaves, que o ataca em grupos de quatro.
Vários mísseis são disparados contra o seu Mobile Suit, mas com pouco efeito, devido as suas manobras evasivas, aliadas à sofisticada tecnologia antimíssil do colosso metálico.
Contudo, um deles chega a acertar a dura blindagem do Sagittarius, num impacto direto, seguido de outros dois, que explodem nas proximidades, com um efeito terrível nos sofisticados sensores do MS.
Mantendo o sangue frio, Svensson constata em seu computador de bordo que sofreu apenas danos leves. A carga explosiva do míssel ar-ar não foi o suficiente para arrebentar a blindagem de Titânio do Sagittarius.
Contudo, ele não podia se dar ao luxo de servir de alvo gratuitamente, pois os canhões múltiplos de 35 mm dos inimigos - se usados em conjunto e ao mesmo tempo - poderiam destruí-lo facilmente à curta distância.
O Sagittarius do agente sueco saca a sua impressionante metralhadora laser e dispara uma curta rajada na formação inimiga. A maioria dos aparelhos escapa, mas duas aeronaves são cortadas ao meio pelos projéteis a laser que riscam o céu do amanhecer naquela parte do interior da milenar China.
Mais um disparo é realizado - curto e seco - e o outro V-STOL explode no ar.
Com a esquadrilha inimiga momentaneamente dispersa devido aos seus ataques, o experiente sueco aproveita para colocar mais fogo no incêndio.
Ele dispara uma salva de mísseis ar-ar no centro da formação inimiga, provocando o caos, já que a distância era curta demais para os pilotos inimigos terem tempo de executarem as manobras evasivas.
Três dos mísseis falham, mas os outros cincos acabam derrubando os seus alvos.
Por seu turno, Rafael logra destruir mais quatro aeronaves V-STOL de ataque usando seus mísseis ar-ar.
Contudo, os aparelhos de ataque se aproximam mais e logo começam a disparar seus canhões duplos em regime automático, forçando o MS Sagittarius a se esquivar dos ataques.
- E então Rivaldo dribla um, dribla dois, dribla três e manda a bola para a rede, fazendo a alegria da galera... - Em estado de completa excitação pelo calor da batalha, Rafael continua narrando a sua partida imaginária de futebol, enquanto que sua máquina de combate consegue-se esquivar dos disparos de três aeronaves, destruindo mais um inimigo no processo...
Contudo um estrondo surdo e metálico estremece o cockpit do seu MS. Manobrando habilmente, um dos atacantes havia conseguido ficar por trás do seu Sagittarius e disparara um míssil quase à queima roupa. Embora o impacto não tenha causado grandes danos, foi o suficiente para danificar um dos propulsores do seu aparelho, reduzindo a sua manobrabilidade.
- Epa! Falta por trás! E o juiz disse que não houve nada! - Fala o brasileiro ironizando a sua própria situação enquanto vê os remanescentes da primeira esquadrilha se reagrupando ao seu redor.
Mais um pouco, as naves V-STOL estariam na posição ideal para desfechar um ataque devastador por todos os lados e o seu Mobile Suit seria reduzido lentamente em pedacinhos.
O MS de Rafael tenta se esquivar como pode das rajadas disparadas pelos V-STOL, mas devido à avaria sofrida, a estrutura de seu aparelho começa a ser alvejada pelos inimigos.
Os painéis dos seus sistemas táticos e de controle de avarias começam a piscar em tons preocupantes de laranja e o ruído do impacto dos disparos inimigos é simplesmente ensurdecedor.
Contudo, tiros isolados em rápida sucessão acabam por destruir três dos atacantes à sua frente. Um sinal familiar aparece no monitor tático de Rafael fazendo ele exclamar:
- E o Ronaldinho vem para ajudar Rivaldo!
- Cheguei a tempo de te salvar, mas creio que não poderemos fazer muita coisa, Pro Inferno com eles! - Diz o autor dos disparos, feitos com muita precisão e sangue frio, pelo intercomunicador.
Contudo, para poder ficar perto do seu parceiro, o Sagittarius de Svensson também estava no limite, com pouca munição e já tendo levado quadro disparos diretos, sendo dois de mísseis ar-ar e outros, de rajadas de 35 mm.
Rafael e Svensson se agrupam lado a lado, mas separados o suficiente para não se atrapalharem um ao outro.
Embora tivessem destruído metade dos V-STOL atacantes, seria uma questão de tempo até eles serem destruídos pelos inimigos remanescentes, que tinham raiva e munição de sobra para isto.
Não dispunham de mais mísseis e ambos estavam com pouca munição em suas metralhadoras, já que não estavam esperando por esta aparição de uma força inimiga tão grande.
Só que naquele exato momento, os dois Preventers testemunham um pequeno milagre. Dois aparelhos de Tang se desintegram sob o efeito de uma rajada devastadora de projéteis e outro aparelho se desfaz em chamas ao ser atingido por um tiro certeiro de metralhadora pesada.
A 7a Cavalaria, ou melhor, Sally e Wu-Fei haviam chegado a tempo.
- Yang! Water! Finalmente! - Exclama, aliviado, o aparentemente frio sueco.
- E a Seleção Canarinho entra em campo novamente! - Mesmo no auge da batalha, Rafael encontrava criatividade para satirizar a situação.
- Vocês dois! Recuem para a linha de defesa, enquanto damos cobertura! - Diz Sally em tom imperativo.
- Não temos tempo, vão andando! - Wu-Fei está visivelmente impaciente para começar a sua parte.
Cumprindo as ordens, os Sagittarius partem, aproveitando o "buraco" aberto pelos MS de combate na formação inimiga.
Os remanescentes das esquadrilhas de Tang não ficaram parados. A maioria dos aparelhos investe contra o MS Leo da Sally - acreditando ser aquele velho modelo Leo um alvo fácil - enquanto que quatro aparelhos se separam para tentar perseguir os Sagittarius avariados,
Contudo, os sensores táticos do Talgeese 4 percebem a manobra dos rebeldes e - meio a contragosto - Wu-Fei aperta o gatilho que ativa as metralhadoras múltiplas dos antebraços de seu impressionante MS. Duas rajadas curtas foram mais que suficientes para reduzir os inimigos a cinzas.
A verdade era que o jovem lutador chinês nunca foi muito adepto do combate a longa distância - ao contrário do seu antigo colega Trowa e do atual parceiro sueco Svensson - preferindo o combate armado corpo-a-corpo, por entender que este era o caminho do guerreiro.
Quatro dos V-STOL abrem fogo com os mísseis ar-ar restantes contra o MS-Leo de Sally, enquanto as aeronaves restantes tentam manobrar para poder atingir o aparentemente antiquado modelo pelos flancos e pelas costas.
Contudo, a jovem ex-major é esperta e movimentando habilmente o bem conservado MS, ela dispara usando o poderoso rifle de assalto do Leo de um lado e atirando com o canhão duplo de 35mm instalado como defesa adicional na cabeça de outro.
As poderosas rajadas do rifle perfuram a frágil blindagem dos atacantes, enquanto o canhão duplo de 35 mm abate de forma impiedosa os aparelhos restantes, transformando-os em bolas de fogo no céu.
Dois trinta e dois aparelhos que compunham o grupo de ataque, apenas sobraram três sobreviventes, que tentam fugir para o Leste, em direção ao sol nascente...
- Covardes... - Resmunga Wu-Fei deplorando a atitude dos comandados de Tang.
Sem demonstrar a menor compaixão, ele ativa os canhões duplos de 35 mm instalados na cabeça do Talgeese 4 e dispara três rajadas curtas, para economizar munição.
Os sinais dos aparelhos inimigos desaparecem de seu visor tático, restando apenas três pontos negros e fumegantes por detrás das colinas da estepe asiática.
Mas o pior estava para vir. Tanto os seus sensores como os do aparelho de Sally já acusavam a presença dos MS-Leo que estavam voando a baixa altitude e dentro do campo de ataque.
E, diferentemente dos antigos modelos usados na frente asiática da Eve Wars, o esquadrão enviado por Tang era composto por modelos praticamente novos e em perfeitas condições de combate.
Rompendo a formação, dois dos Leo inimigos se preparam para atacar o Talgeese 4 de Wu-Fei e outros dois decidem cercar o Leo Custom de Sally; enquanto o aparelho líder dá cobertura, disparando rajadas curtas com o seu rifle..
A batalha se inicia. Wu-Fei - fiel ao seu estilo - ativa o escudo do Talgeese-4 e o empunha, ao mesmo tempo em que com um movimento agilmente sincronizado transforma os sabres laser duplos do "Cavalo Selvagem" numa enorme lança.
Os Leo inimigos disparam uma rajada devastadora com os seus rifles de 105 milímetros antes que decidam usar os seus sabres laser. Contudo, o fortíssimo escudo do Talgeese-4 resiste ao impacto dos projéteis.
Enquanto isto, os outros Leo tentam atacar o MS de Sally, fazendo uma manobra em forma de pinça, enquanto o líder da formação dispara para distrair a comandante Preventer.
Só que este movimento era deveras previsível e o Leo Custom de Sally se esquiva num movimento em zigue-zague lateral, ao mesmo tempo em que dispara rajadas curtas de três tiros cada com o seu rifle.
Para a sua surpresa, contudo, Sally vê um dos Leo se desintegrar quando ele estava para revidar aos disparos... O MS inimigo líder hesita em atirar. Será que?
- Iceman! É você? - Ela murmura. Apenas uma pessoa poderia ter sido capaz de fazer aquele disparo.
Svensson decidira dar sua última contribuição na sangrenta batalha do dia, antes de se retirar em definitivo, disparando um tiro de precisão contra um dos Leo que atacara a sua comandante.
Confiando no seu instinto de guerreiro e de franco-atirador, o Sueco havia decidido arriscar, fazendo um tiro de sorte estando fora do alcance operacional de sua arma e no limite de seu sensor ótico.
Os primeiros Leo disparam freneticamente contra o Talgeese 4, mas o fortíssimo escudo protetor rebate praticamente todos os disparos.
Antes que os pilotos inimigos possam acionar os seus sabres laser a tempo, Wu-Fei empunha ameaçadoramente sua lança dupla, girando-a rapidamente como se fosse um nunchaku de kung-fu.
O Leo mais adiantado instintivamente ergue o seu rifle para defender-se do ataque iminente.
Um ruído metálico e estridente sacode o ar, acompanhado de faíscas branco-azuladas com tons de dourado.
O ataque foi perfeito. O rifle de assalto cai em pedaços em direção ao solo, bem como um de braços mecânicos do Leo.
Aproveitando a chance, o outro MS dá uma rajada à queima roupa no Talgeese 4, mas consegue apenas causar três impactos na resistente blindagem de Neo Titanium do mesmo, pois o experiente piloto do Altron Gundam já previra o movimento inimigo.
O dano sofrido foi praticamente inofensivo, já que a nova blindagem era muito superior às dos Leo e mesmo dos modelos Talgeese anteriores, se aproximando do poder defensivo do legendário metal Gundanium.
Girando rapidamente o corpo do Talgeese, Wu-Fei investe contra o atacante remanescente com uma agressividade espantosa. A muito custo, o piloto inimigo consegue se esquivar da investida, mas é obrigado a largar o seu rifle - com a munição já esgotada - para poder sacar o seu sabre laser.
Um choque de lâminas de energia cruza o ar, que chia com faíscas de energia pura saltando pelo céu.
Até que o piloto do Leo era bem experiente e consegue trocar alguns golpes com Wu-Fei em pleno ar. Se ele estivesse enfrentando um piloto qualquer até que teria chances de ser vitorioso.
Só que para o seu azar, o seu oponente não era um piloto qualquer, mas Chiang Wu-Fei, o legendário piloto do Altron Gundam, conhecido como "Nataku".
Com um movimento preciso, Wu-Fei decepa com uma das pontas de sua enorme lança ambos os braços do Leo atacante e em seguida inutiliza o MS cortando a sua cabeça, num movimento lateral, tornando-o inoperante.
Era evidente que se quisesse, o chinês poderia ter destruído o inimigo, mas precisava capturar alguém com vida, o que não foi possível para com os tolos pilotos das esquadrilhas aniquiladas.
O MS inimigo não iria conseguir ir para parte alguma sem os seus sensores.
O Leo que foi atacado primeiro - e que perdera um dos braços - decide atacar Wu-Fei pelas costas usando o sabre laser remanescente no braço que estava ainda intacto, só que esta foi uma idéia simplesmente idiota.
Como um artista marcial consumado, Talgeese 4 bloqueia elegantemente o sabre inimigo com um movimento defensivo da lança, ao mesmo tempo em que a cabeça do MS Leo é destroçada com um chute de curta distância.
Irracionalmente, o agressor tenta escapar de qualquer maneira, mas a ausência dos sensores localizados na cabeça do Leo e as avarias do combate fazem com que ele se choque numa colina, selando o seu destino.
O primeiro piloto que atacara Wu-Fei decide ser mais sensato, aguardando o seu destino dentro do MS avariado. Ele podia tentar fugir ou se suicidar, mas o pavor era tanto que o impedia de pensar nisto.
Enquanto o chinês lutava, aproveitando que Sally estava em desvantagem tática, os Leos restantes atacam-na simultaneamente para tentar decidir o combate.
Um dos Leo inimigos dispara duas rajadas no seu oponente, enquanto o líder tenta uma investida lateral com o sabre laser em punho.
Sally dispara uma rajada curta e tenta-se esquivar das balas, mas o braço direito de seu MS é atingido de raspão.
Só que o seu atacante não iria se vangloriar desta pequena vitória, pois a seqüência de cinco disparos do Leo customizado de Sally acaba por perfurar a cabeça e o ombro esquerdo do seu atacante.
O Piloto do Exército de Libertação de Tang apenas tem tempo de se ejetar antes que o seu aparelho se desintegre no ar.
O líder do esquadrão, vendo se perdido, tenta arriscar uma cartada suicida, já que voltar para a base de mãos abanando não era uma opção e sim um pedido para ser morto da pior forma possível pelo seu irado comandante.
Ele decide atacar o Leo de Sally usando os seus dois sabres lasers simultaneamente, uma manobra rara, mas possível.
Acelerando ao máximo, ele investe contra ela antes que Wu-Fei possa ajudá-la.
Sally se esquiva com um movimento lateral brusco usando seus foguetes auxiliares, bloqueando um dos sabres com o seu rifle e sacando a sua arma de combate corporal com a mão livre.
Infelizmente o rifle explode ao contato com o feixe laser, provocando uma explosão que danifica ambos os MS. Um zumbido forte e estranho percorre o ar.
O MS de Wu-Fei se apressa em socorrê-la, mas logo ele percebe que pouco pode fazer, ficando a apenas uma distância segura.
O MS de Sally havia com uma parte da cabeça desfigurada e tivera um dos seus braços inteiramente cortado pelo violento golpe que sofrera. Só que ela ainda estava viva e apenas tem tempo de afastar o seu Leo da presença do seu atacante..
O Leo líder do inimigo estava aparentemente inteiro e com ambos os sabres ativados, brilhando no céu matutino da estepe.
Contudo, numa vista mais detalhada, o seu tronco estava cortado na transversal e o aparelho estava caindo lenta mais inexoravelmente no solo, acabando por explodir numa enorme bola de fumo e chamas.
Ligando o seu canal de comunicação, o jovem chinês percebe a expressão de horror e de espanto de sua jovem comandante e companheira.
Não que ela fosse um soldado inexperiente ou que nunca tivesse matado para se defender, mas ele sabia que ela não teve a intenção de matar o inimigo a sangue frio...
- Wu-Fei, eu... - Tenta balbuciar Sally ligando o seu aparelho intercomunicador. Era evidente que sua adrenalina estava em alta, mas ela não estava contente com o resultado da batalha.
- Shhh... eu sei... Vamos escoltar o prisioneiro até a nossa base da retaguarda. Eu irei guiá-los. - Diz laconicamente Wu-Fei, se referindo ao modo de transmissão automática de coordenadas, que possibilitava a qualquer aparelho Preventer guiar os outros MS compatíveis, caso eles estivessem com os sensores danificados demais.
Ainda restavam o problema dos canhões autopropulsados. Contudo, uma vez que eles revelaram a posição atirando contra as tropas fracassadas do Coronel Chow e em seguida nas posições inimigas, o seu destino estava selado.
Friamente, Wu-Fei aciona um botão e muda o modo de ataque do Talgeese 4 para as metralhadoras instaladas em seus antebraços. Não decidindo arriscar um combate próximo com o MS de Sally avariado seriamente e um prisioneiro para cuidar, ele resolve fazer o óbvio: Destruir os blindados inimigos a longa distância.
Com as coordenadas dos alvos fixadas pelo computador do Talgeese 4, o gladiador metálico começa a atirar curtas rajadas nos alvos. Os abrigos reforçados de aço nada representam para os projéteis perfurantes de calibre 90 milímetros, que devastam tudo.
Em menos de trinta segundos, nada resta das baterias pesadas de Tang.
Logo em seguida, o orgulhoso guerreiro chinês abre o canal de comunicação com o único sobrevivente e a imagem que ele vê dentro do Leo decapitado e desmembrado do inimigo é a de um jovem um pouco mais novo do que ele, em estado de completo medo e pavor diante do fim de seus companheiros.
Wu-Fei diz algo num dialeto chinês, ordenando ao cativo que o siga, sem tentar fazer gracinhas.
Ele detestava fazer a parte de negociação, mas resolvera tomar a iniciativa, já que Sally estava momentaneamente abalada, além dela não estar familiarizada com os dialetos do interior da nação milenar.
O prisioneiro balbucia, implorando para que lhe poupem a vida e um pouco contrariado, o agente Preventer lhe dá as garantias de praxe.
Finalmente, o jovem piloto do Leo - que lutara como um veterano - concorda com a rendição e lentamente ativa o seu MS, que apenas estava em condições de voar, mas não de lutar.
Um só movimento de fuga - e o MS inimigo seria transformado em um caixão fumegante, disse ele.
O piloto aciona cautelosamente os controles de seu avariado MS e, escoltado pelo Talgeese 4, junta-se ao Leo customizado de Sally. Os três aparelhos voam rumo ao aeroporto de Lang Tse, transformado em base aérea.
Os Pilotos Rafael e Svensson já tinham chegado à base e rapidamente foram socorridos pelas equipes de apoio.
Enquanto eles estavam sendo levados para o exame de rotina, seus MS foram mais do que rapidamente encaminhados a um hangar de campanha, aonde seriam reparados e os dados dos computadores de bordos, transmitidos para a central de dados da Agência.
Em sua fortaleza na província de Yunan, um silencioso Senhor da Guerra observa o fracasso de sua ofensiva: Um batalhão mecanizado, um batalhão blindado, duas esquadrilhas de ataque, três baterias de canhões autopropulsados e cinco MS Leo - Todos destruídos em menos de uma hora de combate!
A sua face estava pálida e incrédula, embora ninguém ousasse encará-la de frente.
Embora tivesse sido um leal e eficiente coronel da OZ no tempo da Eve Wars, o Senhor da Guerra se desiludiu com o movimento liderado por Sua Excelência Treize quando percebeu que a organização não era tão unificada quanto pretendia ser, rachando-se em duas facções; a do aristocrátiço nobre europeu e a do Duque Dermail junto com o Coronel Tubarov.
A partir daí, o Senhor da Guerra decidiu seguir o seu próprio caminho, se preparando para o iminente fim da OZ, ao passo que tentava acumular o máximo de recursos para fazer a sua revolução mundial à sua maneira.
Admirador de líderes do passado como Napoleão Bonaparte, Mão Tse Tung, Che Guevara e Ho Chi Minh, Tang acreditara que era a hora dele reunificar a outrora poderosa China e fazer o Império do Meio voltar a ser forte e temido no seio das nações mundiais.
Fumando uma elegante cigarreira e trajando uma impecável túnica militar no estilo Mao-Tse Tung, o agora generalíssimo Liu Tang ordena laconicamente que suas tropas de infantaria - que estavam prestes a avançar contra Lang-Tse, recuassem para suas posições defensivas à espera do contra-ataque inimigo.
É claro que o General Liu Tang não estava completamente derrotado.
Se ele quisesse, podia lançar ainda cerca de quarenta e cinco Mobile Suits Leo e cinco Mobile Suits Taurus - incluindo o seu modelo particular customizado e aperfeiçoado - contra as frágeis posições da NUET, sem falar no restante de seus tanques, caças e helicópteros que ainda dispunha.
Só que ele temia que - mesmo que tivesse sucesso na conquista da estratégica represa - o seu avanço fosse posteriormente minado pelas baixas decorrentes da campanha e que os odiados inimigos tivessem mais Mobile Suits do que aparentava ser...
Como aqueles malditos preventers haviam obtido um Talgeese, ainda mais de um modelo que ele nunca tinha visto antes?
Sim, a subestimação do poderio inimigo foi uma falha gravíssima e isto custou a vida de centenas de soldados, bem como uma expressiva quantidade de material bélico que não seria reposta facilmente - a sua maior baixa desde o início de sua campanha de libertação nacional.
A única alternativa seria a de aguardar a reação do inimigo de maneira defensiva, e contra-atacar ao menor sinal de fraqueza.
Sim, esta era a tática mais adequada, pensava Liu Tang, acabando de soltar uma baforada com a sua cigarreira.
De súbito, ele nota que dois dos seus assessores de confiança estavam tentando sair discretamente do complexo. Em suas faces estavam escritos os estigmas da vergonha e do fracasso. E eles tinham que pagar.
Sem pestanejar, o cruel Senhor da Guerra ordena a seus guardas que prendam o seu Chefe de Estado Maior e o oficial comandante responsável pela operação.
De alguma forma eles iriam pagar com a morte mais cruel e dolorosa possível, já que não souberam prever tudo nos mínimos detalhes.
Ambos os oficiais - amigos de longa data de Liu Tang - imploram por suas vidas, derramando copiosas lágrimas e apelos, ajoelhando-se perante o seu algoz, mas friamente o cruel líder chinês vira as suas costas para ambos.
Aquilo era pior do que uma condenação aberta à morte.
Os guardas de elite de Liu dominam os dois homens com dolorosas coronhadas nas costas e os levam para a sala de torturas.
Só que este castigo não seria suficiente para aplacar o desejo de vingança do Senhor da Guerra.
Em seguida, ele ordena friamente o fuzilamento sumário de todos os prisioneiros de guerra da NUET em seus domínios, bem como o de algumas centenas de camponeses escolhidos aleatoriamente, acusados de "cumplicidade" com o inimigo.
Com um sorriso cruel em seus lábios, o oficial responsável pelo aparato repressivo de Yunan se adianta e declara que a ordem será cumprida inexoravelmente neste mesmo dia, para vingar "a honra" dos soldados mortos.
Finalmente Liu decide mudar de tática. Como a ofensiva convencional fracassara, ele iria passar para a tática de desgaste via guerrilha.
Com uma singela ordem, ele ordena ao comandante de seus "batalhões do povo" que enviem grupos de guerrilheiros - em bandos entre 12 a 50 homens cada - para atacar, saquear, violentar e matar tudo o que encontrassem nos postos de fronteira e nas aldeias.
O inimigo precisava sentir na pele a dor da perda e das lágrimas. Nisto, o cruel Senhor da Guerra era um mestre.
Em seguida, empunhando o braço direito ao ar em gesto de desafio, Liu retorna aos seus aposentos para descansar um pouco.
Enquanto tais fatos se desenrolavam em Yunan, Sally Po tentava entrar em contato com a central de comando da Agência:
- Agente Water para White Base. Agente Water para White Base... Alguém na linha? - Exclama uma voz feminina através do intercomunicador.
White Base era o nome em código do centro de comando dos Preventers, sediado em Nova Peking.
Refeita do choque decorrente da luta, Sally se recupera durante o trajeto de volta à base e decide comunicar-se com os seus superiores imediatos.
Um breve instante de silêncio acontece e finalmente White base responde ao chamado pelo intercomunicador, em linha codificada e cifrada.
- White Base na linha, câmbio. O que foi, Agente Water? - Responde uma voz feminina em tom delicado, mas firme.
Tratava-se da Oficial de Inteligência Melanie Klein, chefe provisória da Agência Preventer em Nova Peking. Ela tinha por volta de 32 anos, era loira, alta e usava um par de óculos de aro redondo, estando sempre vestida à caráter, parecendo mais uma jovem executiva do que uma espiã.
Embora não tivesse experiência militar prévia, Melanie foi escolhida como Agente Preventer pelo fato de ter sido uma das ex-gerentes da Paladin Security Inc. uma das melhores empresas de segurança particular do mundo, além de conhecer profundamente a área de investigação particular - sendo especialista em espionagem industrial e sabotagens. Tudo isto, afora os inúmeros contatos com grandes corporações e órgãos do governo.
- Temos problemas. Nossos Sagittarius ficaram avariados durante o reconhecimento e o meu Leo está fora de ação. Peço reforços. O Inimigo possui várias armas pesadas não confiscadas e um número indeterminado de MS... Repito, eles possuem MS. - Diz Sally.
- Muito bem, Vou ver o que posso fazer, Water. Só temos oito agentes de campo na Capital e não posso mandá-los todos de uma vez até a Central nos enviar reforços... Contudo, estarei enviando dois Shuttles na área, junto com quatro agentes. - Responde Melanie com raro senso de realismo, já que os recursos humanos da Agência eram muito restritos devido às restrições do Ministério de Defesa.
- O que pode nos oferecer, White? - Pergunta Sally com certo tom de ansiedade na voz.
- Que tal... Quatro MS Leo revisados, Dois Taurus e um brinquedinho que nos chegou ontem à tarde por via aérea? - Sorri Melanie ao perceber a apreensão de sua jovem amiga.
- Você não está falando do... - Sally Po fica intrigada, já que à exceção do Talgeese, dos Leo e alguns raros Taurus ela nunca ouvira falar de qualquer outro modelo de MS disponível aos Preventers.
Por motivos políticos óbvios, o uso de Mobile Dolls Virgo 1 e 2 foram vetados para uso militar, assim como os MS pesados Serpents remanescentes da tentativa de golpe de Dekim Barton e Mariemeia - embora estes modelos fossem mais avançados do que qualquer outro MS existente na agência, à exceção do "Cavalo Selvagem" usado por Zechs Marquise.
- Sim, esta notícia é quente, E vou ver se mobilizo uma equipe de apoio extra, bem como armas, munições e algumas peças de reposição pros teus MS avariados. Só não prometo que mando tudo ainda hoje... - Explica Melanie, já pensando mentalmente em como driblar a burocracia governamental para mobilizar os recursos prometidos à frente de guerra.
- Obrigado, White! Transmitiremos os dados de batalha assim que chegarmos.
- Mande um relatório completo. Ah, a Senhorita Relena Darlian deve estar vindo em visita oficial dentro de dois ou três dias ao teatro de operações. Cabe aos agentes providenciarem o melhor esquema de segurança para a subsecretária de assuntos exteriores. - Explica Melanie, ligeiramente preocupada com a notícia transmitida pelo computador da Agência em caráter secreto.
- Hum... Entendido. Câmbio e Desligo. Até mais. - Sorri Sally discretamente.
- Boa sorte, Water e a todos.
O Sol havia já aparecido e os seus raios iluminavam as colinas de Yunan, enquanto que o Talgeese 4 de Wu Fei, bem como o Leo de Sally, voam acima da linha do horizonte, enquanto escoltam o único sobrevivente da primeira luta de Mobile Suits após a revolução de Mariemeia.
Enquanto isto, num galpão abandonado da cidadezinha decadente de San Jose, na Costa Oeste dos EUA, uma figura andrajosa de um mendigo prosseguia incansável, digitando códigos e destravando senhas de um sofisticado computador que contrastava com a indigência do local.
O mendigo esmolava praticamente todos os dias, de manhã até o final da tarde, no seu "ponto", que ficava perto de dois bancos e de um shopping-center, raramente freqüentados pelos poucos afortunados que ainda habitavam a cidade, que já foi um dos maiores centros de tecnológica da era Pré-AC.
Só que ele não havia ido esmolar neste dia. Se bem que pouquíssima gente notou isto. E um pedinte a mais não iria fazer diferença em San José, já que mais de dois terços da população vivia abaixo da linha de pobreza. A cidade estava por demais cheia de mendigos, indigentes, crianças famintas e jovens subempregados para alguém prestar atenção neste detalhe.
Com os olhos avermelhados o mendigo anônimo sente uma dor crescente na nuca e um cansaço súbito, típico de quem passou a noite em claro.
Ele decide fazer uma pausa em seu insano trabalho de acessar aquele disco prateado enfiado na gaveta do seu leitor ótico - tarefa esta que o fizera esquecer de descansar, comer e dormir desde a tarde de ontem..
O miserável abre o seu frigobar - em estado tão deplorável quanto ele mesmo - e sem a menor cerimônia, bebe diretamente do bico da garrafa um gole de refrigerante barato, imitação servil da legendária "Coca-Cola", e em seguida serve-se de um pedaço amanhecido de uma pizza, comprada com os escassos níqueis que lhe haviam oferecido na semana passada.
Enquanto ele mata a fome, os seus olhos frios e penetrantes analisam a insana atividade do monitor do poderosíssimo computador à sua frente, mostrando centenas de códigos de acesso sendo desbloqueados e neutralizados pelo seu software hacker, talvez um dos mais sofisticados da Terra.
Evidentemente o desconhecido anônimo não era um mendigo comum e nem tampouco um hacker de fim de semana. Era um especialista em sua área e um dos melhores.
Só que por algum motivo ele teve a sua vida e o seu futuro destruído pelo pós-guerra, mergulhando o no pesadelo da indigência. Para os registros oficiais, ele sequer existia, estando impossibilitado de recorrer a qualquer ajuda governamental, encontrar um emprego decente ou simplesmente pleitear um prato quente de comida num dos programas de combate à fome.
Ele era o "incógnito", o "sem-nome", um rato, um pária da sociedade.
Contudo, logo em breve, muito breve, ele iria desencadear a sua vingança perante um mundo que o desprezara e o lançara no lamaçal. Ninguém iria escapar. TODOS, mas TODOS mesmo iriam pagar pelo que fizeram com a sua vida e os seus sonhos.
Enquanto o seu computador processava uma enormidade de informações de destravamento de rotinas e acessos, um anônimo porta retratos - com o vidro quebrado - estava ao lado da tosca mesa de madeira.
Nela, mostrava o mendigo desconhecido, com aparência mais jovem, barba bem feita, cabelos penteados e um detalhe curioso...
E naquela gravura levemente amassada e esmaecida pelo tempo, o desconhecido estava cercado de alguns homens usando jalecos brancos e ele trazia uma jaqueta com o emblema da Organização White Fang!
Um rugido de trovão distante sacode o galpão de metal, enquanto nuvens escuras formam-se no horizonte. Era muito difícil chover naquela época do ano na Costa Oeste, mas as alterações climáticas resultantes das guerras tornaram tudo imprevisível.
A tempestade estava para se formar...
Notas Complementares:
V-STOL: Abreviatura de "Vertical - Short Take Off - Landing". É um termo militar que é empregado para designar aeronaves capazes de decolar e aterrissar em pistas curtas com vôo vertical. O exemplar mais conhecido é o avião de combate Sea Harrier, que foi usado pelos ingleses na Guerra das Malvinas em 1982.
Para esta fic, imaginei as aeronaves V-STOL com características mistas de avião e helicóptero, tendo a velocidade do primeiro e a manobrabilidade do segundo.
Era AC: After Colony. É a linha de tempo usada na série Gundam Wing e que começa com a colonização do espaço sideral.
OZ: Organização do Zodíaco.Era um grupo semi-secreto nominalmente comandado pelo General Treize Kushrenada, mas na realidade mantido pela Fundação Romefeller, que manipulava a Aliança Terrestre, impondo às colônias um controle férreo.
NUET: Abreviatura de Nação Unida da Esfera Terrestre, nome dado à Aliança Terrestre após sua unificação com as colônias, após o conflito relatado em Gundam Wing.
Mobile Suit: Ou simplesmente MS, são mechas tripuláveis geralmente pilotados por uma só pessoas, sendo capazes de lutar em terra, ar e mar e no espaço dependendo do tipo;
Mobile Doll: Trata-se de Mobile Suits não tripulados e controlados via inteligência artificial. Este novo conceito foi empregado pela primeira vez nos Mobile Suits da série Taurus, mas finalmente atingindo seu apogeu na produção dos Mobile Dolls Virgo e Virgo II.
White Fang: Formado por uma dissidência radical da OZ, este grupo acabou por incitar as colônias a se rebelarem contra seus antigos opressores. Inspirado por um homem chamado Quinze, mais tarde esta facção rebelde acabou por ganhar o apoio de Zechs Marchise, ou Milliardo Peacecraft, que acreditava que a Terra era o centro de todos os males que afligiam as colônias espaciais e por isto, deveria ser destruída.
Escrito por: Calerom
Última Versão: 23/11/2003 13:00 Hrs
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