Capítulo Sete: Tronquilhos e Poções
Lino, Jorge, Katie e Alícia já haviam acordado quando Fred chegou ao
Salão Principal na manhã seguinte.
- Então, Fred, encontrou o endereço daquela menina? –
perguntou Lino colocando uma torrada no prato do amigo.
Fred
nem ao menos prestou atenção no que o amigo dissera. Estava observando a mesa
da Corvinal, onde Mariana estava sentada com Penelope e com a menina de cabelos
negros que ele vira no Três Vassouras.
- Puxa vida, ela não quer nem se sentar mais com a gente?
Jorge
e Lino se entreolharam.
- Não é nada disso, cara – disse Jorge parecendo tranqüilo
– Ela costuma ir comer com a Penelope às vezes.
Fred
não respondeu. Pelo jeito Lino contara a Jorge o que ele dissera na noite
anterior. Mas ele não queria falar disso com Jorge. Na verdade não queria
falar de nada com ninguém.
Passou a o resto da refeição em silêncio, abrindo a boca apenas para
comer e dar bom-dia para Angelina quando esta sentou à sua frente.
Teve
uma manhã monótona: um tempo de Feitiços e dois de Herbologia.
No
intervalo entre as aulas, Jorge e Lino foram catar tronquilhos à orla da
floresta para soltar na aula do Snape. Fred não quis acompanha-los. Sentou-se
sozinho na escadaria de mármore comendo Feijõezinhos de Todos os Sabores
quando ouviu uma voz conhecida ao seu lado, que o fez engasgar com um feijãozinho
de chocolate.
- Por que está sozinho, Fred?
Era Mariana, que acabara de se sentar ao seu lado.
- Eu, er... Jorge e Lino foram lá fora e eu não quis ir.
- Eu te procurei a manhã inteira, onde esteve?
Fred
engoliu seco. Ela o procurara? Então não estava nervosa com ele. Isso
reacendia uma chama de esperança no peito dele.
- Feitiços e Herbologia.
- Ah, é mesmo, eu te vi entrando na estufa, mas não pude ir
atrás – lembrou-se Mariana apontando para a barra das vestes, que estava
queimada – Explosivins!
- Então, por que queria
falar comigo? – perguntou Fred oferecendo-lhe feijõezinhos.
Mariana não respondeu por um momento. Levou um feijãozinho à boca
enquanto tirava uma mecha de cabelo
do rosto e fez uma careta.
- Eca... Catarro! – disse rindo – Bem, eu queria te
perguntar se está chateado comigo. Você sabe, pelo que eu disse ontem. Você
nem falou comigo no café da manhã!
- Não, claro que não estou chateado... – mentiu, tentando ser educado - Isso acontece! E me
desculpe se não falei com você.
Os
dois olharam em direções diferentes. Fred (talvez pela primeira vez na vida)
se sentia envergonhado. Não se imaginava falando daquela conversa com Mariana.
Será que acontecera como entre ele e Angelina? Será que Mariana gostava dele,
mas preferia o tal do Patrick?
- Você ainda gosta dele? – "burro, não devia ter
perguntado!".
- Patrick? Não, não gosto. Eu estava sendo idiota, ele não
gosta de mim!
- Isso significa que eu ainda tenho chances?
- Hum... Talvez!
A
sineta tocou. Fred foi para as masmorras e Mariana para as estufas.
- Ela não resistiu, hein, Fred? – perguntou Jorge, que
estava à porta da sala de poções com Lino, Angelina e Alícia.
- Quem não resistiu?
- Ah, não se faça de burro! – disse Lino se aproximando de
Fred e dando uns tapinhas nas suas costas – Pensa que nós não vimos você e
a Mari conversando no saguão?
- Nós só estávamos conversando! – protestou Fred.
Angelina
notou que Fred estava se irritando com os dois e mudou de assunto.
- Lino, o que é isso na sua mão?
- O que, isso? – perguntou Lino levantando a mão que não
estava nas costas de Fred – Tronquilhos.
- Eu sei que são tronquilhos, babaca. Quero saber o que você
vai fazer com eles aqui embaixo.
- Você vai ver, Angel. Vai ver – respondeu rindo.
A
garota demonstrou certa desconfiança e entrou na sala que Snape havia acabado
de abrir. O quadro negro já continha instruções para o preparo da poção do
dia quando eles se sentaram, mas os meninos não tinham a mínima vontade de
faze-la.
- Faça uns três tronquilhos flutuarem até a poção do
Montague – murmurou Jorge para Lino, com a mão direita empunhando a varinha
embaixo da mesa e a esquerda segurando uma porção de tronquilhos que se
debatiam em seu bolso - Eu mando o resto para a mesa do Snape.
Fred
olhou para a mesa onde Montague estava sentado. O seu narigão estava perto
demais do caldeirão, o que causou um acidente...
A
intenção de Lino era apenas jogar os tronquilhos dentro da poção de Montague,
mas os bichinhos estavam desesperados por estarem flutuando precariamente através
da sala e quando passaram por Montague agarraram-se no rosto do menino. Este,
começou a gritar, com os olhos fechados de medo, apalpando a mesa em busca da
própria varinha.
- Professor! Um besouro grudou na minha cara!
- Não é um besouro, Montague, são tronquilhos – disse
Snape dirigindo-se até o aluno e tentando tirar os bichinhos dele, já que
estes tinham fincado suas pequenas garras nas bochechas dele.
Fred
não pôde deixar de rir, a cena era cômica. E como o resto da sala estava
distraído com aquilo, ninguém viu os oito tronquilhos que Jorge fez levitar até
a escrivaninha do professor.
Logo
Snape tirou os bichos do rosto de Montague, que estava com leves arranhões
espalhados pela face, o que já foi suficiente para que o professor o deixasse
ir à ala hospitalar.
Ele
voltou à sua escrivaninha, onde a maioria dos tronquilhos rasgavam pergaminhos
e jogavam seus pedaços no chão, embora dois deles pudessem ser vistos
quebrando penas no estojo de Snape que, para a surpresa dos meninos, não
demonstrou a menor alteração. Apenas petrificou os tronquilhos e jogou-os na
lixeira, enquanto restaurava seus pertences.
Isso
tudo havia ocupado toda a aula, de modo que quando a sineta tocou Lino e os gêmeos
não haviam sequer começado a preparar suas poções.
- Weasley, Weasley e Jordan! – chamou Snape quando eles
alcançaram a porta da sala.
- Que é? – perguntou Fred virando-se.
- Acabam de perder sessenta pontos para a Grifinória e deverão
comparecer à minha sala amanhã às oito e meia para cumprir suas detenções.
- Por quê? – perguntou indignada Angelina, que havia parado
junto a eles.
- Por indisciplina e porte de material desnecessário e
prejudicial à minha aula.
- Que material? – agora quem perguntava era Alícia.
Snape
mostrou à menina seu velho e conhecido sorriso de desdém.
- Tronquilhos, Srta.Spinnet. Que não devem ser retirados da
floresta.
- Mas não foram eles, você não tem a menor prova! –
Angelina alterara a voz, o que foi um grave erro.
- Menos vinte pontos para a
Grifinória pela impertinência das duas. E é melhor saírem da minha sala
antes que ganhem detenções também.
Eles
saíram da sala, os meninos nem um pouco preocupados com a detenção, mas
Angelina e Alícia muito nervosas.
- Viu o que vocês conseguem por se meter com o Snape? –
repreendeu Alícia.
- Vai começar a defender ele, é? – perguntou Fred.
- Não, só acho que vocês podiam ter evitado isso se
comportando melhor.
- Ah, cale a boca, você também perdeu pontos!
- Por sua causa!
Eles
encontraram com Katie em um corredor do segundo andar. Ela era um ano mais nova
e acabara de sair da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não se deu o
trabalho de perguntar o que estava acontecendo – desde que haviam terminado o
namoro Jorge e Alícia procuravam motivos para se xingar o tempo todo.
Alcançaram
o terceiro andar quando Angelina, parecendo realmente muito ofendida, finalmente
disse alguma coisa.
- Como ele pôde? Não tinha o direito de tirar pontos de vocês,
não fizeram nada! Isto é... Fizeram, mas ele não tinha provas! E você nem ao
menos estava envolvido e levou detenção também, Fred!
- E quem se importa? – disse Fred tranqüilo, sorrindo para
Mariana quando essa passava ao seu lado no corredor.
- Não esquenta a cabeça, Angel – disse Lino quando eles
chegaram à porta da sala de Transfiguração – Você sabe que mesmo se nos
comportássemos como santos o Snape ia dar um jeito de nos tirar pontos!
Angelina
sorriu para ele e entrou na sala.
