Capítulo Nove: Atitudes Imprevistas
A primeira coisa que Angelina fez quando acordou na quarta-feira foi
trocar de uniforme, já que dormira com um e este estava todo amarrotado.
Ela
olhou para o dormitório, que estava deserto, deixou escapar um longo bocejo e
olhou no relógio de pulso que acabara de colocar - eram sete e vinte.
- Droga – murmurou para a cama de Alícia, ao lado da sua,
como se essa fosse a culpada – Perdi a primeira aula!
Angelina
foi de mau-humor à sala comunal da Grifinória e se deitou em um sofá,
contemplando pela janela o céu nebuloso lá fora que anunciava chuva. Não
queria tomar café da manhã, não queria tentar entrar despercebida na aula de
Feitiços e acima de tudo não queria sair do sofá.
Sabia
o que, ou melhor, quem lhe causava todo esse desânimo: Fred. Não
conseguia parar de pensar nele um minuto sequer e não se perdoava por ter
perdido ele. E pensar que fora ela quem o apresentara à Mariana.
A
lágrima que rolou em seu rosto ao pensar isso foi seguida de muitas outras.
Sentia-se
sozinha, pois achava que ninguém no mundo poderia entender o que ela sentia.
Queria esquecer Fred, mas simplesmente não conseguia faze-lo. Talvez não
fosse falta de capacidade, mas sim de vontade: ele já fazia parte dela, não se
imaginava sem ele.
Por
outro lado, não conseguia ter nenhum sentimento ruim com relação a ele por
abandona-la e muito menos com relação à Mariana por rouba-lo dela. Pelo contrário,
achava que no fundo eles combinavam muito. Queria ver Fred feliz, por mais que
isso a fizesse sofrer.
O
buraco do retrato se abriu, o que a fez sentar-se depressa no sofá, e um aluno
do sexto ano, ruivo e com muitas sardas entrou comendo com bolinho.
- J-J-Jorge?
- Não, Fred – disse o menino parecendo curioso e
sentando-se ao seu lado – O que está fazendo aqui?
- Perdi a hora. E você?
- Não estava com a mínima vontade de assistir aula.
Angelina
fitou-o por um momento, em que Fred enfiou o resto do bolinho na boca.
- Você... Estava chorando? – ele perguntou, parecendo
preocupado.
- Eu? Não, só que... Acho que entrou um cisco no meu olho
- e ela tentou enxugar as lágrimas rapidamente na manga das vestes.
Fred
deixou escapar uma risada rouca.
- Que desculpa esfarrapada! Me fala, por que estava chorando?
- Por nada. Bobagem!
- Me conta, vai! Eu não sou digno de confiança?
- Claro que é, mas... Esquece, está bem? Era bobagem, sério!
Ela
sentiu aqueles olhos castanhos olharem bem no fundo de seus olhos negros e o ar
simplesmente fugiu de seus pulmões.
- Estava chorando por minha causa?
Angelina
não teve capacidade de responder. Não queria mentir para Fred, mas dizer a
verdade parecia ainda mais doloroso.
- Me desculpe, Angelina... Eu não queria te machucar. Juro!
A
voz dele estava estranhamente rouca. Ela mal notara isso e já sentia os lábios
dele encostando nos dela. Por um momento Angelina se entregou completamente ao
beijo, mas então seu cérebro voltou à realidade com um choque horrível e ela
o afastou, tremendo e com o coração disparado.
- Por que você faz isso comigo, Fred?
- Eu só queria que você entendesse que eu estou sofrendo
assim como você com tudo isso. Não quero que você continue triste, iludida.
- E você acha que vou ficar menos iludida se você me beijar?
– perguntou exasperada.
Fred
coçou a cabeça confuso. Ela não sabia se deveria sentir ódio ou carinho por
ele.
- Desculpe. Achei que você ia se sentir melhor...
- Mas não me sinto.
- Eu percebi, então me desculpe por favor! Esqueça o
que eu fiz, está bem? – embora parecesse perfeitamente tranqüilo, havia um
quê de desespero na voz de Fred – Agora eu... só quero... ser seu amigo...
como antes!
Angelina
baixou os olhos e sorriu por dentro, embora mantivesse os lábios crispados. Não
conseguia ficar brava com Fred, ele estava confuso com seus sentimentos. E ela
também estava.
Olhou
no relógio com a esperança de que já fosse hora da aula e os dois pudessem
sair dali (talvez os corredores de Hogwarts distraíssem um pouco eles). Mas
eram sete e quarenta, ainda tinham cinco minutos.
- Está com pressa? – Fred perguntou em tom quase inaudível.
Provavelmente percebera a expressão frustrada no rosto de Angelina ao ver as
horas.
- Não, não estou – respondeu ela desconcertada – Me
desculpe se eu fui rude com você, okay?
- Feito.
Os
dois contemplaram por um breve momento a mesa à sua frente.
- Está tendo sucesso com a Mari? – Angelina não se
conteve.
- Decididamente não – lamentou-se Fred – Ela acha que eu
sou um rebelde qualquer curtindo a vida.
- Não, não acha! A Mariana nunca pensaria isso de você!
- E qual é a imagem que você acha que eu passo às pessoas?
- As pessoas gostam de você, Fred! Olhe à sua volta,
garotinhas do primeiro e segundo ano suspiram quando você passa, garotos mais
velhos querem comprar os logros que você faz e a Mari...
- ... e a Mari não é do tipo que suspira quando um garoto
legal passa e nem do tipo que compra logros fabricados por um menor de idade.
Angelina
não descobriu como responder. Além do mais, a sineta havia tocado e eles
deveriam ir para a aula.
Eles
conversaram vagamente no caminho para a sala de Defesa Contra as Artes das
Trevas, ela ainda pensando seriamente nas verdades que Fred dissera sobre o
jeito de pensar de Mariana. Lamentou profundamente que não pudesse mudar as
opiniões pessoais de outros alunos.
- Por que será que eu tinha certeza de que você estaria
aqui?
Jorge
soltou uma exclamação de surpresa e levou a mão ao peito, fechando os olhos e
respirando com dificuldade.
- Não me assuste assim, Alícia!
Ela
acabara de abrir uma passagem secreta atrás de uma estátua no quinto andar,
onde ele estivera escondido (motivo pelo qual não comparecera ao jantar).
- Posso entrar aí?
- Não tem muito espaço.
- Se eu ficar aqui fora e deixar a porta aberta o Filch não
vai demorar muito a te descobrir – ameaçou Alícia apoiando o braço na
parede do corredor.
Ele
pensou em dizer a ela que fechasse a porta e fosse embora, mas acabou por
deixa-la entrar no esconderijo, onde os dois ficaram muito expremidos.
Alícia
fechou a porta secreta e a única iluminação ali passou a vir da varinha acesa
na mão de Jorge, que perguntou a ela confuso:
- Você estava me procurando?
- Lógico que estava! Você não aparece para jantar e nem
Fred nem Lino sabem onde você está: conclui que coisa boa isso não poderia
ser. Por que você está aqui?
- Queria ficar sozinho para
pensar um pouco.
Alícia sentiu que estava atrapalhando o garoto, mas em seguida chegou à
conclusão de que ele poderia muito bem ter ido à sala comunal, à essa hora
vazia. Lá ambos estariam mais confortáveis e ela poderia mais facilmente
pensar em uma desculpa para ir embora para o seu quarto naquele exato momento.
- Como me encontrou?
- Foi aqui que nós nos beijamos pela primeira vez – lembrou
Alícia agradecida que a iluminação precária não mostrasse seu rosto
vermelho – Ou será que já se esqueceu que nós éramos namorados?
- Lógico que não – respondeu ele também corando e ainda
com o coração disparado – Você foi a melhor namorada que já tive.
Em
outro lugar e em outra hora Jorge não haveria lhe contado isso, mas seus rostos
estavam muito próximos e ele estava desesperado, não lhe custaria nada
arriscar.
- E quantas namoradas você já teve?
Pela
primeira vez Alícia falava das ex-namoradas de Jorge sem ficar roxa de ciúmes.
- Contando com você, quatro.
- E se nós voltássemos a namorar? Eu voltaria a ser a quarta
ou seria a sua quinta namorada?
- Você está sugerindo alguma coisa, Alícia?
Alícia
fechou os olhos, aproximou ainda mais o rosto de Jorge e o beijou, como na
semana anterior pensara que nunca mais iria fazer.
N/A: Espero que tenham gostado desse capítulo – resenhem por favor! A
primeira parte dele é dedicada à minha amiga Kássia, que tem me dado umas
dicas bacanas (obrigada, Ka!). Já a segunda parte é para mim mesma (não iria
agüentar deixar o Jorge sozinho!).
