Capítulo Onze: Livros e Pergaminhos

A noite chegou e Mariana, que pedira os enunciados dos exercícios de Aritmancia emprestados a uma colega, sentara-se em frente à lareira na sala comunal para responde-los.
À sua volta estavam Fred, Jorge, Lino, Alícia e Katie. Angelina subira ao dormitório logo depois da janta.
- Será que a Angel já está dormindo? – perguntou Lino se assustando com a própria idéia, uma vez que ainda eram oito da noite.
- Acho que não – respondeu Katie – Deve estar acabando o dever.
- E por que ela tem que acabar o dever lá em cima?
Katie encolheu os ombros.
Fred estava alheio à conversa, prestava atenção em Mariana, que enrolava o pergaminho com a tarefa de Aritmancia e pegava um outro, enrugando a testa. "Livros e pergaminhos... Você só pensa neles? Quem mais ocupa seus pensamentos? O que eu não daria para que fosse eu...".
Jorge olhou para o irmão, que estava parado fitando Mariana e soltou uma risadinha, comprimindo a sua vontade de sacudir a garota e perguntar por que ela sequer olhava para Fred.
Mas Fred não queria continuar a se perguntar por que Mariana não gostava dele. Queria faze-la gostar dele!
"Vamos à luta, Fred!" pensou o ruivo animando-se. Pensara naquela menina durante toda a tarde e se convencera de que precisava tê-la para ele. Mariana precisava enxerga-lo além da imagem que ele passava para todos.
- Posso ver? – perguntou apontando para um pergaminho que ela observava, parecendo ao mesmo tempo preocupada e desanimada.
- Pode.
Ela esticou o pergaminho para ele, que leu.
Puxa, agora dava para entender porque as pessoas se preocupavam tanto com os N.I.E.M.s! Mariana anotara uma lista com nada menos que quatorze nomes de poções das quais Snape mandara pesquisar os Ingredientes e o Modo de Preparo.
- Para quando é isso?
- Segunda-feira – Mariana fez uma careta – E eu nem comecei... Droga, devia ter feito antes, o relatório de História da Magia teria dado menos trabalho, agora... Ah! Não vou conseguir terminar tudo isso até segunda! Eu sou uma idiota mesmo.
- Onde você vai encontrar essas receitas?
- Na biblioteca, onde mais? O problema é que são poções diferentes umas das outras, devem estar em livros de seções variadas!
- Quer que eu ajude?
- Como?
Fred se sentiu ligeiramente ofendido com a pergunta, mas respondeu em tom de quem informa as horas:
- Eu poderia ir à biblioteca com você e te ajudar a procurar as poções.
- Faria isso? Ah, Fred, obrigada! Vejamos... Amanhã depois do almoço na biblioteca está bom?
- Por mim está!
- Ah, Fred... Você é um anjo sabia?
Mariana corou ligeiramente ao dizer isso, mas Fred não pôde conter um sorriso:
- Sabe que você é a única pessoa capaz de dizer isso?

- ...e por isso mesmo eu acho que você não deveria cortar o cabelo – era o almoço de sábado e Jorge estava dando sua opinião sobre a idéia que Alícia tivera.
- Eu acho que ela ia ficar uma graça! – disse Angelina – Não tem muitas garotas por aqui com cabelo chanel.
Jorge torceu o nariz e olhou para o próprio prato.
- Já acabou de comer, Fred? – perguntou Mariana, que acabara de vir da mesa da Corvinal.
- O Fred é ele – Jorge apontou para o lado.
- Espere um pouco – Fred tomou de um gole só o resto do copo de suco de abóbora – Pronto. Podemos ir?
Ele se levantou e já ia virando as costas quando Jorge perguntou aonde eles iam.
- Na biblioteca. Fazer trabalho de poções – respondeu apressado se afastando.
- Você acha que eles vão mesmo fazer trabalho de poções? – murmurou Lino desconfiado.
- Tá brincando! O Fred? Nem que ele fosse pago para isso! Quero dizer... Talvez se ele fosse pago até o faria!
Mariana e Fred foram até a biblioteca e se sentaram em uma mesa entre as prateleiras 36 e 37. Ele estava arrumando pergaminhos, penas e tinteiros sobre a mesa, quando Mariana desapareceu pelo corredor e voltou com uma pilha de livros.
- Eu pedi para a Madame Pince separar estes para nós – informou despejando os livros sobre a mesa. Em seguida, pegou o primeiro da pilha e observou o índice – Acho que a poção do Morto-Vivo está em algum lugar no capítulo cinco. Pode dar uma olhada para mim, por favor?
Fred assentiu com a cabeça.
Eles passaram a tarde toda revirando livros e fazendo anotações. Às seis horas, já havia mais duas pilhas de livros sobre a mesa, Mariana já havia anotado sete receitas e Fred, quatro.
- Nada aqui – anunciou Fred largando um livro de lado e bocejando.
- Se você não quiser ficar aqui, Fred, eu posso terminar sozinha – disse Mariana preocupada, fechando seu livro também.
- Não, não, eu fico aqui com você. Mas preciso achar um livro que tenha essa tal Poção Polissuco.
- Ah, é a Polissuco que você está procurando? Já volto.
Mais uma vez ela sumiu de vista, e em cerca de cinco minutos estava de volta, com um livro bastante fino se comparado aos outros em que eles haviam pesquisado.
- Deixe-me ver... Aqui! Pode copiar para mim?
Fred puxou o livro para si e observou figuras de pessoas se transformando. As figuras tinham legendas que indicavam o estado do indivíduo antes, durante e depois da transformação, quando já estavam com a aparência completamente mudada.
Sob os ingredientes da poção, havia um aviso em letras maiúsculas:
"ATENÇÃO: A POÇÃO POLISSUCO NUNCA DEVE SER USADA COM O PROPÓSITO DE TRANSFORMAR UMA PESSOA EM ANIMAL OU VICE-VERSA."
Ao lado desse aviso, seguiam fotos de bruxos que tentaram se transformar em animais e não foram bem-sucedidos. Um deles, Rodolfo Cherem, ficou com uma tromba de elefante no lugar do nariz durante o resto da vida.
- Se você fosse um animago – perguntou Fred erguendo os olhos da foto de Cherem – em quê você se transformaria?
- Já pensei nisso antes. Gostaria de ser uma coruja – respondeu Mariana, também tirando os olhos de seu livro.
- Coruja? Por quê?
- Ah, pense bem: eu poderia voar, observar as pessoas sem que elas desconfiassem de mim e, se precisasse, pousaria no ombro de algum amigo e ele poderia dizer simplesmente que sou a coruja de estimação dele!
Fred ergueu as sobrancelhas. Nunca pensaria em se transformar em uma coruja, mas, pensando bem, até que seria interessante.
- E você? No que gostaria de se transformar?
- Um leão – respondeu ele prontamente.
Mariana deu uma risadinha.
- Um leão, Fred? Por que um leão?
- Oras, os leões estão no topo da cadeia alimentar, então nenhum outro animal iria se meter comigo. E além disso, os leões são ágeis e corajosos também – ele respondeu apontando para o brasão da Grifinória em seu uniforme.
- Mas você se esqueceu de que os leões não podem andar livres por aí.
- Como assim?
- Se você se transformasse em um leão, não iria poder andar pelas ruas sem ser notado. Aliás, o máximo que você iria conseguir seria passear pelo coração de alguma floresta!
- É mesmo... Mas ainda assim nenhum outro animal iria me atacar!
- Ah, Fred, você não tem jeito mesmo! – riu Mariana.
A essa altura, os dois já haviam fechado seus livros e se esquecido do trabalho.
- Você poderia se transformar em um peixe!
- Um peixe, Mariana! Um peixe também não pode andar por aí!
- Eu sei, mas você poderia ficar embaixo d'água quanto tempo quisesse!
Fred se espantou que à um minuto atrás tivesse pensado que Mariana tinha uma mente brilhante.
- Para que raios eu ia querer ficar embaixo d'água?
- Dependendo de que carreira você for seguir... Existem bruxos que pesquisam as propriedades mágicas de animais como grindylows!
- Mas eu não vou pesquisar grindylows, pode ter certeza.
- O que você quer fazer quando sair de Hogwarts?
- Vou abrir a loja de logros com meu irmão, o que mais?
- Ah, eu já estava me esquecendo, desculpe.
- E você, o que vai fazer?
- Vou ser curandeira.
- Legal!
Eles ficaram conversando na biblioteca até a hora do jantar, quando finalmente desistiram do trabalho, recolheram tudo e foram para o Salão Principal.