Capítulo 1 – A Plataforma 9 ½ e a chegada em Hogwarts

Martha Scott ajeitou a bolsa mais para perto do corpo e olhou para o grande relógio da estação de trem em King's Cross. Eram 10h50min.

- Dez para as onze – disse ela em voz alta, nervosa, ao seu acompanhante.

- Não se preocupe. Temos bastante tempo para pegar o Expresso de Hogwarts na plataforma de onde ele sai.

O acompanhante de Martha era um homem magro, alto, de cabelos muito pretos que iam até o ombro, chamado Severo Snape. Eles haviam se conhecido há algumas semanas, e o mundo de Martha tinha virado de cabeça para baixo.

Há algumas semanas, Martha era uma pessoa comum, tão comum a ponto de ser enfadonha. Depois de ela conhecer Severo, ela soube da existência de um mundo mágico, de verdadeiras bruxas e bruxos, com feitiços, magia e poções. E agora ela tinha largado tudo em Londres e estava indo rumo àquele mundo com Severo, a quem ela descobriu amar muito e ser correspondida.

Quer dizer, ela estaria indo se achasse a plataforma correta para o embarque na estação de trem. Martha não via como eles achariam uma Plataforma 9 ½. Mas resolveu ficar calada, confiando em que Severo teria a solução.

Eles se dirigiram à Plataforma 9, e logo adiante estava a Plataforma 10, como Martha previra. Ela podia ouvir os alto-falantes chamando os passageiros a pegarem o trem das 11.

De repente, Severo se virou para ela:

- Você vai adorar isso. Pegue a minha mão. Basta não ter medo e seguir em frente, junto comigo. Pronta?

Em frente?

- Sim, estou pronta.

Ele a puxou pela mão direto para a coluna de pedra, e de tão surpresa, ela sequer gritou. De qualquer forma, não teria adiantado muito, porque Martha ficou sem voz porque ao invés de dar de cara com o tijolo sólido, como ela estava imaginando, ela tinha atravessado a coluna de pedra. Não só isso: daquele lado da coluna, estava a plataforma oculta, que tinha uma plaqueta indicando: "(9 ½)".

Nos trilhos, estava um trem a vapor preto em detalhes vermelhos, com indicativo dourado bem à mostra: "Expresso de Hogwarts". Havia poucas pessoas em volta, algumas delas com capas de viagem, outros com capas leves.

Martha observava tudo, boquiaberta. A voz de Severo a devolveu à realidade:

- Bem-vinda à Plataforma 9 ½. Um feitiço ajuda a desviar a atenção dos trouxas para a entrada.

Trouxa era o nome que os bruxos davam às pessoas não-mágicas, como a própria Martha. Várias vezes ela demonstrara irritação com o termo.

Mas, além da irritação, porém, o fato de Martha ser uma trouxa poderia ser fonte de grandes complicações para Severo. Ele havia alertado para os desafios que os dois enfrentariam com a ida dela ao mundo bruxo.

- Expresso de Hogwarts, todos a bordo! – gritou o encarregado da plataforma.

Severo ajudou Martha a subir no trem e os dois não demoraram a encontrar uma cabine vaga. Na verdade, o trem estava bem vazio. Ele explicou:

- O trem leva os estudantes a Hogwarts no final de agosto e os traz de volta em junho. Nas outras semanas do ano, ele só anda duas vezes por semana, e leva a uma pequena aldeia totalmente mágica chamada Hogsmeade.

Martha quis saber:

- Verdade que a viagem dura quase seis horas?

- Exato. Se você quiser ler ou dormir um pouco, eu...

- Não – ela interrompeu. – Fale-me mais sobre o lugar para onde estamos indo. Explique-me de novo isso sobre os fundadores de Hogwarts e as quatro casas.

Eles foram conversando nada menos do que toda a viagem, com a curiosidade de Martha gerando o insaciável. Fazia anos desde a última vez que Snape tomara o Expresso de Hogwarts, pois ele preferia aparatar nos arredores da escola. O trem certamente pouco mudara desde a época que Snape fora aluno.

Já tinha escurecido quando o trem parou na sua estação final, em Hogsmeade. Ajudando Martha a descer, Severo explicou:

- A entrada principal do Castelo de Hogwarts não é muito longe, mas devemos ir a pé. Você se importa?

- Vou adorar esticar as pernas depois dessa viagem.

Os dois percorreram o curto trajeto até as grandes portas de carvalho na entrada principal do castelo, Martha olhando o lago com admiração. Ao se ver diante da entrada, diante da porta que mudaria sua vida para sempre, Martha se virou para Severo e disse, como se fizesse um juramento:

- Severo, seja lá o que for que acontecer, não se esqueça de que tudo que eu disse é verdade. Eu amo você.

Snape sorriu para ela e apertou sua mão:

- Então confie nesse amor.

Ele bateu à porta imensa, que se abriu após alguns segundos. Martha entrou numa espécie de hall de entrada, feito todo de pedra, e viu-se frente a frente com um homem mal-encarado, parecendo ter saído diretamente de um filme de faroeste, recebê-los com caras de poucos amigos. Ele segurava um candelabro e tinha um gato de olhos vermelhos a seu lado.

- Prof. Snape – disse ele, numa voz sinistra -, o senhor trouxe mesmo um acompanhante.

Snape tinha arrumado todos os pertences que eles trouxeram (inclusive os encolhidos) numa pilha ao lado da porta e apresentou:

- Martha, esse é o Sr. Argo Filch, nosso zelador. Sr. Filch, a Srta. Martha Scott deverá se alojar nos meus aposentos. Ficaria agradecido se pudesse providenciar os arranjos.

Se os arranjos pareceram estranhos, Filch não demonstrou, porque ele simplesmente concordou:

- Claro, Professor. O Prof. Dumbledore pediu que fossem vê-los assim que chegassem.

- Agradecido, Sr. Filch.

O homem parecia satisfeito em ver Snape de volta, porque lançou um sorriso cheio de dentes escurecidos e desejou:.

- Seja bem-vindo de volta, Prof. Snape. Ah, agora as detenções voltarão a ser que eram!

Ele saiu, parecendo feliz da vida consigo mesmo. Snape indicou a Martha o caminho:

- Melhor irmos por aqui para evitarmos alunos.

Dito e feito. Eles passaram por corredores iluminados por grandes tochas, Martha tentando acompanhar tudo o que via. Havia quadros na parede – e as figuras se mexiam! Algumas até acenaram para ela. Martha tentou acenar de volta.

No final do corredor, havia escadas e Snape explicou que as escadas gostavam se mexer, e que ela deveria tomar cuidado com isso!

Os dois foram até o final de um corredor e ficaram frente a frente com uma imensa gárgula de pedra, uma que era duas vezes o tamanho de Martha. Severo pronunciou:

- Jujubinhas!

A gárgula pareceu criar vida e pulou para o lado deixando os dois passarem. Martha quase gritou, mas se controlou a tempo, apenas agarrando o braço de Severo. Snape deve ter notado o susto dela porque tocou em sua mão, de maneira confortante:

- Calma, querida. Você vai conhecer o diretor de Hogwarts. Ele sim, pode ser assustador, não uma estátua.

Martha subiu as escadas em caracol, um tanto maravilhada, mas em nada se sentindo mais confortada.