CAPÍTULO 2: Encontro à meia-noite (Revisto)


Tum-Dum...

...Tum-Dum...

...Tum-Dum...

...Tum-Dum...

O coração pulsava tão fortemente que o corpo parecia que não iria agüentar. Sakura levou a mão ao peito e sentiu que ele queria pular para fora dele, tamanha era a sua força. Por que estava se sentindo assim? Será que sabia que alguma coisa sairia errada? O que ela temia? Temia que ele não a aceitasse? Que não tivesse cumprido a promessa? O que estava acontecendo com ela?

Uma luva branca se dirigiu até a maçaneta da porta do apartamento 6B. Dedos delicados. Ela apertou a maçaneta redonda e dourada. Pressionou-a com força e começava a girá-la.

Sakura: 'Espere.'

Tomoyo: 'Quer voltar, Sakura?'

Sakura: 'Espere...'

Sakura fechou os olhos e respirou fundo, buscando forças no fundo da alma. Concentrou-se e...

Sakura: 'Ele não está aí.'

Aika: 'Como sabe?'

Sakura: 'Er... Intuição feminina. Hehehe.'

Tomoyo: 'E Mey Ling?'

Sakura: 'Deve estar.'

Sakura levou a mão delicada à porta e bateu com certa pressão nela. Aika olhou para as amigas e elas retribuíram o olhar. Estava um silêncio, mas não desconfortável, as três sabiam que a expectativa tomava conta do ambiente, já que não tinham conhecimento do que encontrariam do outro lado da porta. Nem com a magia de Sakura era possível saber se Mey Ling ou outro ser que não fosse mágico estivesse dentro daquele apartamento.

Não tardou e uma figura de um homem abriu a porta. Sakura arregalou seus olhos. Fitava a figura de um homem tão acabado. A barba estava mal-feita, o hálito cheirava álcool, o que pôde ser confirmado ao ver a garrafa de aguardente na mão do rapaz. Não passava dos 25 anos, mas parecia ter no mínimo 30.

Aika (comentando com Tomoyo): 'Esse é o Shaoran?'

Tomoyo: 'Eu não sei. Sakura?'

Sakura estava boquiaberta. Nada fazia, nada falava... Só fitava o homem a sua frente.

Homem: 'Bom dia... hic Opa! Boa noite...hahaha... hic ...Querem entrar?! Hahaha... hic ...'

Ele estava pra lá de alegre, mais dois minutos e ele podia vomitar ou desmaiar.

Um gemido ecoou de dentro do apartamento. Não era um gemido normal, parecia um gemido de alguém que não podia falar. Não era gemido de dor, prazer ou outra qualquer coisa, era de socorro.

Sakura caminhou para frente decidida e empurrou o homem para o lado. Do jeito que estava bêbado, ele nem pôde revidar mas só cair e desmaiar.

A visão que os olhos de Sakura sustentavam era horrível! Uma mulher estava ajoelhada em posição visivelmente desconfortável e amordaçada. Seus braços estavam amarrados juntos em suas costas. As pernas se encontravam juntas e também amarradas. Os punhos estavam amarrados no pé da mesa de jantar, que se encontrava na sala, do lado de uma mesa de telefone. No chão, perto da mulher, uma barra de ferro, provavelmente um cano.

Sakura: 'Mey Ling?'

A garota amarrada levantou a cabeça. Os cabelos longos e negros estavam desarrumados. Os olhos vermelhos da menina se tornavam mais vermelhos com o sangue que escorria de sua testa.

Sakura não hesitou e correu em sua direção, desamarrou-a por completo.

Sakura: 'Mey Ling?'

A garota Não conseguia falar direito devido ao lábio inchado por causa de repetidas batidas que complementavam os vários hematomas espalhados pelo corpo exposto, a não ser por uma saia preta muito curta e o sutiã vermelho. O sangue já fazia parte do cenário da pele dela.

Sakura: 'Mey...'

A garota confirmou com a cabeça.

Sakura a abraçou fortemente. Por mais que soubesse que estava doendo o corpo da menina, esqueceu esse fato de tantas saudades (e pena) que sentia.

Sakura afastou a cabeça e fitou os olhos vermelhos de Mey Ling. Tomoyo ajoelhou-se ao lado de Sakura. Aika permanecia atordoada na porta.

Sakura: 'O que aconteceu com você?'

Mey Ling não conseguia falar nada e o pouco que mexia servia como seu meio de comunicação.

Tomoyo: 'Sakura? Nós temos que levá-la para um hospital imediatamente. Ela está muito machucada.'

Sakura nem desviou os olhos de Mey Ling e confirmou com a cabeça.

Tomoyo: 'Aika! Ligue para uma ambulância. A minha motorista já foi.'

Aika não demorou e logo pegou o telefone.

Aika: 'Está sem linha.'

Tomoyo jogou o seu celular e Aika alcançou-o no ar. Ela ligou para o hospital de Tomoeda que logo mandaria uma ambulância. Sakura estava cada vez mais perto de seu passado.


Eram 5 horas da manhã... O médico saiu do quarto de Mey Ling .

Médico (procurando): 'Srta. Daidouji?'

Tomoyo: 'Sim, Dr. Ito. Como ela está?'

Sakura também se levantou e ficou do lado da amiga, segurando sua mão. Aika ficou sentada olhando fixamente para o médico esperando uma espécie de "veredicto".

Dr. Ito: 'Ela vai sobreviver.' (as três deram um suspiro aliviado) 'Mas sofreu sérios danos e precisará de um mês ou dois para se recuperar completamente.'

Sakura: 'Podemos vê-la?'

Dr. Ito: 'Sim, somente uma de cada vez.'

Tomoyo: 'Vá você, Sakura.'

Dr. Ito: 'Srta. Daidouji? Pode, por favor, ir até a recepção e preencher o questionário de pacientes?'

Tomoyo: 'Claro.'

Aika: 'Vou com você.'

O médico se retirou e as duas caminharam até a recepção do andar, era preciso andar três corredores.

Aika (andando): 'O que será que aconteceu com ela?'

Tomoyo: 'Não sei. Mas é melhor ir se acostumando ao hospital.'

Aika: 'Por quê?'

Tomoyo: 'Algum dia você vai entender.'

Elas chegaram na recepção e um jovem parou ao lado delas perguntando para a atendente:

Jovem: 'Em que quarto está Mey Ling Li?'

Tomoyo: 'Ãn?'

O jovem virou-se para Tomoyo e pode ver o rosto branco contrastando com os olhos violetas da amiga.

Atendente: 'No quarto 388, à sua direita.'

Jovem (sem desviar os olhos de Tomoyo): 'Obrigado.'

Ele começou a andar na direção do quarto e logo começou a correr.

Tomoyo: 'Shaoran!?'

O jovem não se virou e continuou andando mais rapidamente.


Sakura entrou no quarto, olhou o corpo deitado na cama e viu como estava fraco e machucado. Os batimentos cardíacos estavam muito devagar. Sakura se aproximou puxando uma cadeira para perto da cama. Sentou naquele plástico gelado e observou a amiga.

O que teria acontecido com tudo que haviam passado juntas? O que tinha acontecido a ela? Sakura não parava de se perguntar isso. A imagem de Mey Ling amarrada naquele apartamento se repetia várias vezes em sua cabeça. Uma lágrima escorreu na face pálida de Sakura e contornou as curva no queixo. Sakura sofria tanto. Toda a felicidade alcançada pelo dia foi despedaçada ao ver aquela cena. Sabia que a amiga iria sobreviver, mas mesmo assim, sentia como se um pedaço de seu passado havia se quebrado.

Sakura pousou sua mão na da amiga e encostou seu rosto na mão fraca dela. As lágrimas molharam a pele de Mey Ling, porém ela não sentia, estava adormecida. Sakura pecebeu que a amiga iria acordar e então foi ao banheiro, Mey Ling não precisava saber que Sakura estava chorando, desse modo, a chinesa acabaria se sentindo culpada pelo sofrimento dela. Ela podia ser um tanto egocêntrica, mas tinha muita compaixão e amizade por Sakura.

Fechando a porta do banheiro, trancou-se lá dentro. Escorreu na porta sentindo-se fraca e tonta, já fazia mais de sete horas que Sakura não comia nada. Tentou se recompor, mas garantiu alguns minutos de descanso antes de voltar ao leito.

A porta do quarto abriu brutalmente. A luz do corredor invadiu-o iluminando os olhos vermelhos de Mey Ling, que ainda abriam.

Sakura abriu a torneira e molhou o rosto. Sentiu um alívio momentâneo ao saber que estava se refrescando, esquecendo por uma fração de segundo o que estava (ou pelo menos o que ela achava que estava) acontecendo a uma porta de distância.

Mey Ling (deitada): 'Shaoran?'

Shaoran (fechando a porta): 'Sim.'

Mey Ling: 'Quanto tempo mais precisa para resolver isso?'

Shaoran: 'Mey Ling… Não deve falar. Descanse.'

Mey Ling: 'Shaoran, eu podia ter morrido hoje.'

Shaoran: 'Aquilo foi um acidente.'

Uma enfermeira entrou no quarto com uma bandeja.

Enfermeira: 'Senhor... Precisarei pedir para que se retire. Ela estava fraca e não deve se esforçar, nem falar.'

Shaoran: 'Está bem.'

Ele saiu do quarto e a enfermeira se aproximou da cama inclinando a cabeceira para que Mey Ling pudesse ficar sentada pra comer.

Mey Ling: 'Como vou comer se não posso mexer meus braços?'

Sakura (saindo do banheiro): 'Pode deixar que eu te dou comida.'

Enfermeira: 'Bom, eu não deveria fazer isso, mas er...' (dirigindo-se para Mey Ling) '... tudo bem?'

Mey Ling: 'Tudo bem.'

Sakura se aproximou da cama, sentou-se na cadeira e pegou a colher da sopa.

Enfermeira: 'Bem, cuidado porque a sopa ainda está um pouco quente.'

Sakura: 'Não se preocupe.'

A enfermeira concordou com a cabeça e saiu.

Sakura voltou a cabeça para Mey Ling e sorriu. Começou a lhe dar a sopa, servia a colher rasa com pouco daquele líquido amarelo que Mey Ling fez questão de criticar. Nossa, até doente ela reclamava.

Sakura: 'Mey Ling, você tem que comer tudo.'

Mey Ling: 'Está bem, mas fique sabendo que quando eu melhorar vou pegar uma amostra enorme dessa gororoba para te dar. Aí sim, você verá o que é ter que comer tudo...'

Sakura riu com o comentário mas logo sustentou o sorriso. Não queria que ele desabasse, não queria demonstrar vulnerabilidade.

Tomoyo e Aika voltavam os três corredores calmamente e com passos pequenos.

Aika: 'Então ele que é o Shaoran?'

Tomoyo: 'A aparência é muito parecida.'

Aika: 'Mas por que ele não te reconheceu?'

Tomoyo: 'Eu não sei. Bom, faz 5 anos que não nos vemos. '

Aika: 'Isso ta muito estranho.'

Tomoyo: 'Você não sabe o que é estranho.'

Aika: 'Tomoyo, Tomoyo... Você e esses seus enigmas. Sabia que a clara verdade não machuca ninguém?'

Tomoyo riu, e se pegou fugindo da realidade. Sua amiga estava em um quarto de hospital seriamente machucada enquanto ela ria. Bom, não podia negar que grande amiga era Aika para fazê-la rir em um momento tão triste. Aika tinha esse tipo de poder. Não era mágico nem nada, mas era um ótimo poder. Contagiar alegria, por mais momentânea que fosse.

Tomoyo sentou-se na almofada verde-musgo da cadeira e Aika acomodou-se ao seu lado.

Aika (após um longo suspiro): 'Acho que vou para casa, tomar um banho. Vocês não estão precisando de mim aqui.'

Tomoyo: 'Aika. Isso não é verdade. Precisamos de você aqui, sim.'

Aika: 'Tomoyo, eu não os conheço. O que estou fazendo aqui?'

Tomoyo: 'Se não fosse por você, não teríamos chegado aqui.'

Aika: 'Bom, de qualquer jeito eu vou ter que trabalhar daqui a pouco.'

Tomoyo: 'Ah.'

Aika: 'Já que estamos sem estudar estou aproveitando para trabalhar período integral.'

Tomoyo: 'Então está bem. Qualquer coisa... ligue no meu celular, tá?'

Aika: 'Tá. Tchau.'

A garota se dirigiu até o elevador e entrou. Tomoyo baixou a cabeça e afundou-a nas mãos. Estava cansada. Não havia dormido, comido, nada. Levantou-se com a intenção de ir até a máquina e pegar um café.

Voz: 'Tomoyo?'

Tomoyo virou-se e observou Shaoran. Ele tinha mudado muito.

Shaoran: 'Me desculpe aquela hora, mas fiquei um pouco atordoado.'

Tomoyo abriu um sorriso. Aquele sorriso que mostra que ela sabia o que ele estava sentindo, o que estava se passando dentro do seu coração. Mas logo o fechou.

Tomoyo: 'Onde estava?'

Shaoran: 'Eu?'

Tomoyo confirmou com a cabeça mesmo sabendo que Shaoran só estava ganhando tempo para inventar uma mentira.

Shaoran: 'Eu... Eu estava vendo uma fraternidade. Conhecendo as opções. É isso!'

Tomoyo sorriu novamente, mas desta vez estava estampado em seu sorriso que ela realmente sabia que ele estava mentindo.

Tomoyo: 'Está bem. Eu vou pegar um café, você vem comigo?'

Shaoran: 'Estava pensando em ir lá fora, pegar um pouco de ar.'

Tomoyo: 'Bom, está bem, nos vemos depois.'

Tomoyo virou-se e continuou caminhando em direção à máquina de café. Shaoran se cansou de esperar o elevador e logo desceu as escadas.


Sakura: 'Como está se sentindo?'

Mey Ling: 'Bem, bem melhor.'

Sakura: 'Eu vou lá fora pegar um café e já volto.'

Mey Ling: 'Sakura?'

Sakura: 'Que foi?'

Mey Ling: 'Vai pra casa. Toma um banho... descansa.'

Sakura: 'Talvez daqui a pouco.'

Mey Ling: 'Não! Agora!'

Sakura: 'Mas, eu quero ficar com você.'

Mey ling: 'Estou ótima. Mas ficarei ruim se você ficar mais fraca do que já está.'

Sakura: 'Está bem, mas volto no final da tarde.'

Mey Ling: 'Tá bom. Mas coma direito, almoce bem! Se quiser pede um pouco de sopa pro hospital.'

Sakura riu com a piada e fechou a porta. Logo que viu Tomoyo adormecida no banco, percebeu o quanto as duas já tinham enfrentado juntas. Depois da partida de Li, nada de estranho ocorreu em Tomoeda... Nada de Cartas Clow nem re-encarnações de magos lendários. A garota não pôde resistir a um sorriso nostálgico. Voltou à realidade com um feixe de luz do sol brilhando no canto do seu olho.

Sakura: 'Tomoyo?'

Tomoyo virou-se com quem não quer ser acordado.

Sakura: 'Tomoyo? Eu estou indo pra casa, você fica um pouco com a Mey Ling? Só até eu voltar?'

Tomoyo (meio-acordada): 'Fico.'

Sakura: 'Tá... Tchau. Até daqui a pouco.'

Sakura chamou o elevador e desceu.


Já eram 6 da tarde quando Sakura, Tomoyo e Aika estavam (as três) "renovadas", no quarto de Mey Ling.

Sakura: 'Esta é a Aika. Uma grande amiga minha e da Tomoyo.'

Aika: 'Prazer. Elas falaram muito de você. Elas realmente se importam contigo.'

Mey Ling: 'O prazer é meu. E acho bom que falem só coisas boas de mim.'

Elas riram. Tomoyo e Sakura sentiram muita falta de toda aquela alegria entre elas. Mey Ling sentia o mesmo.

Tomoyo: 'Bem Mey Ling, é o seguinte. Nós vimos que você também passou na faculdade e ficamos muito felizes. Também ficamos sabendo que ainda não tem fraternidade para ficar. Nós queremos fazer um convite!'

Mey Ling: 'Ai… Lá vem.'

Aika: 'A gente teria esperado para perguntar, mas precisamos dar uma resposta até amanhã.'

Mey Ling: 'Ah. Diz logo.'

Sakura: 'Enfim... Quer morar conosco em uma fraternidade?'

Mey Ling: 'O quê!?'

Sakura: 'Não gostou?'

Mey Ling: 'Eu… Eu… Bem... EU ADORARIA!'

Ela hesitou um pouco e completou.

Mey Ling: 'Mas só se eu ficar com o quarto maior.'

Tomoyo deu um pulo e abraçou a adoentada. Aika e Sakura se abraçaram de felicidade, dando pulinhos!

Mey Ling: 'Daidouji!'

Tomoyo (se afastando da amiga): 'Desculpe, a felicidade é tanta que eu esqueci que estava machucada.'

Mey Ling: 'Deixa pra lá...'

Sakura (se sentando no sofá verde que havia no quarto): 'Mas enfim... Nos conte o que aconteceu.'

Tomoyo e Aika também se sentaram naquele sofá com cheiro de mofo e ficaram ansiosas para ouvir a menina falar, mas ela não o fez... Não falava nada, só olhava para a cara delas.

Aika (se levantando): 'Acho que eu devo sair.'

Mey Ling: 'Não. Pode se sentar. Só estou procurando a melhor forma de falar isso.'

Aika sentou-se novamente e os cabelos vermelhos e lisos escorreram para frente das orelhas.

Mey Ling: 'Ontem eu cheguei do mercado com muitas compras e um rapaz que ficava no estacionamento se ofereceu para me ajudar a levá-las para o apartamento. Só fui descobrir depois que o que ele queria mesmo era... Era... Não era só ajudar!'

Tomoyo se levantou e pegou a mão de Mey Ling. Ela não tinha forças para falar o que lhe havia acontecido. Uma lágrima caiu de seus olhos vermelhos. Sakura fitava a cena com os olhos marejados e Aika procurava sentir-se confortável naquele ambiente. Olhou para o lado e passou o braço por cima dos ombros de Sakura, tentando ampará-la. Por mais que não conhecesse Mey Ling, se identificava com ela e a cena era emocionante para todos os corações. Inclusive o de Sakura que estava paralisada e se culpava por isso.

Mey Ling: 'Mas enfim! Vamos falar de coisas alegres!'

Tomoyo: 'Isso mesmo!'

Aika (ajudando a desviar daquele assunto): 'Precisamos resolver uma coisa.'

Tomoyo: 'O quê?'

Aika: 'O nome da fraternidade, já que Mey Ling vai morar conosco. Digo... Não pode continuar Eclipse Apimentado, tem que ter algo mais. O que Mey Ling representará?'

Tomoyo: 'Eu não sei.'

Sakura (entrando naquele clima para desviar a atenção do acidente): 'Que tal se ela fosse o ingrediente secreto?'

Aika: 'Ótima idéia! O que acha Mey Ling?'

Mey Ling: 'Sabe Aika, mal te conheço e já gosto de você... Acho que é o seu jeito.'

Aika (rindo): 'Você tá me deixando sem graça.'

Sakura: 'Bem. Se eu sou o Sol, a Tomoyo é a Lua, a Aika é a Pimenta e a Mey Ling é o Ingrediente Secreto, qual será o nome da fraternidade?'

Mey Ling: 'Você não era regida pela sua Estrela, Sakura?'

Tomoyo (logo cortando a frase da chinesa): 'Pode ser Eclipse Temperado! O que acham?'

Do jeito que era perspicaz, apesar de imprudente em algumas horas, Mey Ling entendeu a indireta e não retomou o assunto.

Todas aceitaram a sugestão e conversaram mais um bom tempo, o suficiente para passar do anoitecer.

Sakura: 'Bem, está tarde.'(Sakura olhou no relógio de pulso) 'NOSSA! Já é quase meia-noite!!! Melhor ir indo mesmo! Já que a Tomoyo aceitou ficar aqui essa noite, eu vou indo e bem rápido!'

Aika: 'Eu também já vou.'

Mey Ling: 'Adorei te conhecer Aika, e até mais!'

Sakura (saindo pela porta): 'Tchauzinho...'

Aika (seguindo Sakura): 'Tchau.'

Tomoyo: 'Essas duas...'

Mey Ling: 'E o Kero? Não o vi até agora...'

Tomoyo (abrindo a mochila): 'É... Mas ele tava louco para te ver.'

Kero (com a cabeça para fora da mochila): 'A Tomoyo se embaralhou com as palavras...'

Mey Ling: 'Sei.'

Kero (voando até a cama de Mey Ling): 'É verdade.'

Mey Ling e Kero se olhavam receosos...

Tomoyo dava um sorriso sábio, aquele que delatava que ela sabia direitinho o que estava acontecendo.

Mey Ling: 'Bichinho de pelúcia!!'

Kero: 'Menina!!'

Os dois se abraçaram! Era tanta a saudade que milagrosamente até o orgulho foi prevalecido... Isso é o que a distância causa, não é mesmo?!

Kero (se afastando rapidadamente): 'Bom... É...'

Mey Ling: 'Vai dormir aqui, bola de pelo?'

Kero: 'Na primeira gaveta que encontrar.'

Mey Ling: 'Hahaha… Tomoyo?'

Tomoyo: 'Que foi?'

Mey Ling: 'Não contou para a Sakura do Shaoran?'

Kero: 'O que!? Aquele moleque tá aqui também!?'

Mey Ling: 'Moleque!? Você vai ver o que é moleque!!'

Mey Ling agarrou Kero pela cabeça e meio que estava o asfixiando. Até perceber que ele tinha sofrido bastante demorou um pouco, mas sádica ela nunca tinha sido, pelo menos com o Kero. Talvez... Não tanto...

Tomoyo: 'Não.'

Mey Ling: 'Vai contar?'

Tomoyo: 'Não, quero que ela o veja por si, procure-o. Não que vá por que eu falei. Já avisei a Aika disso também e ela concordou que é o melhor a fazer.'

Mey Ling: 'Está bem, mas me avise de tudo, assim não dou fora, tá?'

Tomoyo: 'Tá!'

Mey Ling: 'Hoje foi por pouco. Não contaram nada sobre as cartas para a Aika ainda, né?'

Tomoyo: 'Não.'

Mey Ling: 'Pretendem?'

Tomoyo: 'Só se for necessário. Ainda mais porque é uma coisa da Sakura. Ela tem que decidir.'

Mey Ling: 'É... Mas concordo, por que preocupar e revolucionar os conceitos da garota se não há necessidade?'

Kero: 'Isso mesmo! Ainda bem que concordamos, menina!'

Os três caíram na gargalhada. Mey Ling nem tanto, mas ela estava feliz por estar perto de seus amigos.


Sakura e Aika, assim que entraram no elevador, encostaram a cabeça (de cansaço) no espelho gelado. Na verdade só a Sakura, a Aika estava vendo uma espinha que tinha na testa. A cabeça das duas viajava. Sakura pensava em onde estaria Shaoran enquanto Aika estava procurando o melhor produto para remover a espinha sem deixar marcas...

Aika (ainda se olhando no espelho): 'Pensando nele?'

Sakura (se assustando com adivinhação da amiga): 'Como?'

Aika: 'Está na cara que está.'

Sakura: 'Você está pegando essa mania de adivinhação da Tomoyo, hein...'

Aika (se virando para a amiga): 'Verdade. Está escrito na sua cara. Se bem que aquela espinha ali no queixo é uma vírgula fora de lugar.'

Sakura (rindo): 'Você sempre faz essas piadas nas horas certas. Te adoro.'

Aika: 'Eu também te adoro. Mas... É sério. Pare de pensar tanto nele. Há coisas mais importantes que homens. Por mais que eles possam ser proveitosos...'

Sakura: 'Disse A Experiente.'

Aika: 'Mais que você. Hehe.'

Aika passou a mão no braço da amiga e completou:

Aika: 'Só quero o seu bem.'

Sakura (sorrindo): 'Eu sei. '

Aika deu um passo a frente e abraçou Sakura. Por mais que Aika parecesse superficial, na realidade era muito profunda. Enquanto se preocupava com espinhas podia ver como a amiga se passava. Por trás do exterior de uma ruiva moderna e bem apimentada se escondia uma personalidade forte, persistente e difícil, acompanhada com um coração cheio de compaixão e amor para dar. Aika era uma grande amiga. Desde sempre foi assim. Sakura pensava desse modo.

As duas saíram do momento-amizade com o tranco do elevador anunciando a chegada ao andar térreo. Ambas saíram, dando passagem para um senhor e duas crianças entrarem. Já tinham saído do prédio quando Sakura bruscamente parou em frente à porta automática.

Aika: 'O que foi?'

Sakura: 'Eu... Não é nada.'

Aika: 'Então vamos!'

Sakura: 'Eu esqueci a minha bolsa lá em cima.'

Aika: 'Não esqueceu não. Está debaixo do seu braço.'

Sakura sorriu sem-graça.

Aika (sorrindo): 'Ok... Já entendi. Um daqueles momentos estranhos que você pára e tem que sumir.'

Sakura: 'Hehe... Pode ir indo. Nos vemos amanhã?'

Aika: 'Sim, você me encontra às 10 lá na Casa das Fraternidades para a gente cadastrar os moradores?'

Sakura: 'Encontro. Eu só preciso ficar um pouco só.'

Aika: 'Tudo bem se não quer dizer a razão, mas não invente, por favor.'

Sakura: 'Me desculpe... Eu... Só...'

Aika: 'Não pode dizer a razão. Eu sei. De vez em quando eu adivinho...'

Aika se virou e começou a andar... Ir embora.

Aika: '... mas outras vezes eu só falo o previsível.'

Sakura baixou a cabeça e se arrependeu de ter mentido para a amiga. Aquilo já estava se repetindo. Já sentiu muitas vontades de gritar para o mundo que não era normal, que possuía magia emanando naturalmente do seu corpo, mas não podia! Lembrava do sermão que Kero havia lhe dado por ter usado seus poderes uma vez no parque enquanto um menino estava brincando lá. Sorte que o garoto era pequeno e ninguém acreditou nele, mas isso não diminuiu o sermão que Sakura recebeu. Tomoyo saber já era o bastante, ninguém mais deveria. Já falou para Kero que iria contar para Aika, mas Kero sempre contrariava e fazia a cabeça dela. Mentir para o mundo era uma coisa, mentir para uma das melhores amigas era outra. Uma outra coisa completamente diferente. Muito diferente.

Sakura: 'Shaoran...'

...Tum-Dum...

...Tum-Dum...

...Tum-Dum...

...Tum-Dum...

Sakura: 'Shaoran está próximo.'

Sakura fechou os olhos para se concentrar e conseguir distinguir claramente de onde estava vindo a presença de Shaoran. Subitamente ela abriu os olhos e levantou a cabeça. Num suspiro ela disparou em direção ao hospital. Entrou pela porta com sensor e correndo foi esbarrando em todos os médicos e visitantes que estavam na recepção principal do hospital. Ia correndo tão rápido e contra o fluxo que mal conseguia se concentrar em desviar de obstáculos. Sentia a presença de Shaoran forte! Não sabia seu rumo ao certo, mas seguia sua intuição mais do que nunca.

Virou num corredor e conseguiu vê-lo vazio. Várias portas se estendiam ao longo das duas paredes metade brancas e metade verdes. Respirou fundo buscando força e se recuperando. Sakura avistou a porta-dupla de vidro no final do corredor. Foi andando devagar até ela, ia com passinhos pequenos cujo barulho ecoava no corredor. Sempre atenta e ainda ofegante olhava tudo ao seu redor. Ia com confiança na direção da porta. Sentiu as mãos forçarem a maçaneta gelada e enquanto a puxava para baixo pôde ouvir passos de alguém vindo. Rapidamente forçou a maçaneta e passou para o outro lado. Para sua surpresa era um beco. Muros de tijolos a cercavam. O chão estava molhado e com vários sacos de lixo. Ela passeou um pouco pelo lugar e descobriu que havia uma saída para a rua de trás, que dava em um morro perto do parque. Além, dessa saída, havia outra porta, que retornava ao hospital, uma porta de madeira envelhecida.

A esta altura ela já havia se desconcentrado e então retornou a se concentrar, precisava encontrar Shaoran. Não demorou em reconhecer sua presença, havia praticado durante anos. Porém só pôde sentir uma enorme fonte de energia emanando do céu, sem nenhuma demora ela abriu seus olhos e olhou para o céu.

Nunca havia visto tanto brilho. Uma enorme luz branca caía do céu, aos nossos olhos era um brilho que ia aumentando com a proximidade, mas para os seres mágicos como Sakura era uma fonte de energia encantadora. Sakura podia sentir que a energia emanando dela era pura e inofensível. Porém percebeu que o ponto de luz estava aumentando e não era aos poucos. A sua velocidade era tão grande que parecia que em menos de poucos segundos atingiria a superfície e tudo indicava que ele estava mirando para ser bem ali naquele beco do hospital. Sakura foi dando passos para trás até se encostar na parede úmida. Ao seu lado direito estava a porta-dupla de vidro que emitia as luzes do corredor, mas na frente, ainda na sua direita estava a porta de madeira envelhecida. Se olhasse para frente avistaria a saída para a rua de trás, e na sua esquerda se encontrava a terceira parede do beco.

Sakura olhava para o céu perplexa. Não sentia que aquilo iria atingir a terra com um impacto tremendo, capaz de machucá-la. Logo, sem mais nem menos quando o brilho estava no topo do prédio do hospital, que possuí 12 andares, Sakura ouviu uma voz:

Voz: 'Use o escudo!!'

Sakura estava hipnotizada pela energia que usou o escudo. Era como se estivesse em uma transe na qual não pensava e só fazia o que os outros mandavam.

Sakura: 'ESCUDO!!!'

Da carta surgiu um brilho que envolvia Sakura em uma espécie de campo. A luz brilhante chegou à superfície. O chão tremeu, era como se desafiasse a realidade, não se portava como um terremoto, mas sim como ondas, como água! Parecia que o chão havia se liquidificado.

Sakura já que estava meio que em transe não conseguia ter muito domínio sobre sua magia. O escudo estava fraco. Ela sentia as queimaduras que a energia emanava. Podia sentir a pele doendo... Porém não havia fogo algum!

A energia foi aos poucos diminuindo, o brilho deixava de ser tão intenso. Tudo diminuía, o poder, a energia, a força, a intensidade, tudo.

Sakura retornou o Escudo para a sua forma de carta e avistou o que estava na sua frente. Era uma espécie de gato, mas ao mesmo tempo era um lobo. Estava deitado com as patas dianteiras sobre os olhos. A pele azul e os olhos escuros deixavam a criatura mais linda. Sakura se aproximou aos poucos. O lobo/gato tirou uma das patas do olho esquerdo e levantou a orelha esquerda. Queria ver a criatura que se aproximava.

Sakura pousou sua mão sobre a cabeça do "animal" e afagou-o. Ele sentiu-se confortado, porém a presença de Sakura era poderosa, o que fez com que ele recuasse e olhasse para ela com incerteza. Sakura sentiu-se rejeitada e olhou de modo questionador para a criatura. Ele não tardou em fugir, deu um pulo, se apoiou em uma das paredes, o que lhe deu o impulso necessário para pular o muro e fugir da vista de Sakura.

Sakura já havia virado e colocado sua mão esquerda sobre a maçaneta da porta-dupla de vidro quando e os olhos se arregalaram e a respiração parou. A presença que ela sentia atrás de si era a tão esperada. Nervosa, foi aos poucos negando a curiosidade de virar. Não sabia o que iria encontrar. Ela forçou a passagem pela porta e disparou pelo corredor. Ela corria, não queria ver, não queria ver! Não sabia por que, mas não queria.

Sakura foi diminuindo a velocidade... Ficando fraca.

Voz: 'Não pode fugir para sempre!'

Sakura parou subitamente. Virou-se e olhou bem nos olhos castanhos que estavam na outra extremidade do corredor. Fixou-se neles. Profundos olhos cor-de-chocolate. Olhou o resto da figura máscula que se mostrava junto à cabeça. Era uma figura alta, com ombros largos, um cabelo rebelde e bem marrom. Usava uma camisa azul e uma calça jeans.

Sakura: 'Shaoran... Eu... Eu...'

Shaoran: 'Eu sei.'

Sakura: 'Sabe?'

Shaoran: 'Sakura...'

Enquanto Shaoran falava, ele ia dando passos na direção de Sakura.

Shaoran: 'Ele está assustado. Só.'

Sakura: 'Eu...'

Shaoran se aproximou o suficiente para ficar a um metro de Sakura. Ela, por sua vez, se abraçava ameaçando um choro...

Sakura: 'Eu...'

Shaoran: 'Não foi você.'

Sakura (baixando a cabeça para esconder o choro): 'Shaoran? Como sabe que não fui eu?'

Shaoran: 'Eu estava lá.'

Shaoran aproximou-se o suficiente para pegar a mão de Sakura e colar seu corpo no dela. Shaoran abaixou a cabeça beijando os lábios de Sakura bem levemente. Ela levantou a cabeça e seguiu os movimentos do garoto. Entre o estalo de um beijo e outro Sakura parou.

Sakura: 'Isso não tá certo.'

Shaoran lhe olhou nos olhos e hesitou antes de perguntar.

Shaoran: 'Como não está certo?!'

Sakura foi recuando de costas.

Sakura: 'Nós não nos vemos há 5 anos, sua prima está doente, eu...'

Shaoran: 'Sakura?'

Sakura: 'Não, Shaoran.'

Sakura correu em direção a saída do hospital passando por quase que todo o andar térreo. Shaoran avistou a figura da menina de olhos verdes que nunca quebrou a promessa.


Continua...

Obs do autor: So...? Que acharam da continuação. Revisei este também.Vou me matar se achar algum erro. XDD

Até o próximo. Kisses!