Cap. 1
Chovia. Seiya fitava os jardins através da vidraça da mansão de Saori, olhar perdido no tempo e no espaço.
Estava naquela cadeira de rodas havia quase um mês. E fora o pior mês de toda sua vida.
Saori não saía de perto dele para nada. Ela se desvelava em cuidados e atenções. Aquilo o irritava. A última coisa que queria era a sua piedade.
Além disso, nenhuma das batalhas que enfrentara o atormentara tanto quanto o fato de estar tão próximo de Saori, sem poder toca-la, beija-la...
Sim. Se antes da paralisia ele nunca revelara seus sentimentos, não seria agora que o faria.
Ela não teria coragem de rejeitar um inválido. Principalmente porque sua invalidez fora causada por ela, ainda que involuntariamente.
Saori tentava puxara conversa, mas ele a tratava com indiferença e frieza. Seu maior desejo era afastar-se dela para sempre. Tinha esperança de que a distância o ajudaria a esquecer aquele amor impossível.
Ela era a deusa Athena. Ele, apesar de ser um de seus Cavaleiros, não passava de um simples mortal. Como tal, jamais poderia almejar o amor de Saori.
Quantas vezes desabafara com Shyriu, seu melhor amigo! Este o aconselhava a tentar conquistar Saori, embora tivesse dúvidas de que Seiya seria correspondido.
Será possível que ninguém percebera o óbvio?
Saori também amava Seiya... Com todas as forças de seu coração.
Para Saori, era uma terrível provação ver o homem que amava naquele estado. Orgulhoso, Seiya jamais aceitaria levar uma vida como aquela - na qual dependia dos outros para quase tudo.
Quantas vezes ela chorara em sua cama, no silêncio da noite...
Seiya transformara-se num rapaz amargurado. Tratava-a com aspereza. Certamente, a julgava responsável pelo que lhe ocorrera...
Durante muito tempo, Saori lutara contra aquele amor. Seiya nunca a vira como mulher, mas sim como a deusa Athena, a quem deveria proteger e obedecer. Temia sua rejeição, por isso nunca revelou a ninguém o que sentia pelo cavaleiro, para que ele não descobrisse através de terceiros.
Como doía ouvir dele suas palavras duras e ácidas!!
Seiya tampouco se sentia bem ao machuca-la com tantas agressões verbais, mas achava que era a única forma de fazê-la se afastar. Mas Saori fingia não se incomodar com isso, e procurava manter a paciência.
O que nenhum dos dois esperava era a chegada de uma perigosa visitante - Artêmis, irmã de Athena.
Assim que Artêmis entrou na mansão Kido procurando por Saori, Seiya teve um mau pressentimento.
Artêmis revelou a Athena que era sua irmã. E mais: que estava disposta a castigar a humanidade, que afundara na ambição e no egoísmo.
Ela era muito esperta e logo percebeu a paixão de Saori por Seiya. Ameaçou:
- Começarei eliminando seu mais precioso cavaleiro: Seiya de Pégasus!
- Não!! Você não pode fazer isso! Seiya está numa cadeira de rodas e nada pode fazer contra você!!
- Ele não, mas você sim...
Com um sorriso maléfico, fez sua terrível proposta:
- Você seria capaz de abrir mão de todos os seus poderes de deusa e me entregar o Santuário para salvar a vida de Seiya?
Saori ficou pálida. Artêmis descobrira seu maior segredo!
Por Seiya, ela seria capaz de qualquer coisa.
- E então? Você não respondeu. Devo ou não poupá -lo? – insistiu Ártemis.
Desesperada, Saori gritou:
- Faça o que quiser, mas deixe Seiya em paz!
- Nossa - ironizou Artêmis - do que uma mulher apaixonada não é capaz...
Saori desviou o rosto, envergonhada.
- Muito bem - continuou Artêmis -quero que você me entregue o báculo sagrado. Sairá do Santuário, e levará com você esse aleijado que tanto ama.
- Não admito que você fale assim dele!
- Relax, maninha... Quando ele souber de sua prova de amor, nunca mais a deixará .
- Ele nunca saberá - murmurou Saori. Vou viajar para longe, e Seiya nunca mais me verá ...
Enquanto isso, Seiya refletia sobre seu relacionamento com Saori. Como podia tratar tão mal a pessoa que ele mais amava no mundo?
Ela o tratava com tanta doçura, tanta compreensão... Por mais que ele a magoasse, nunca perdia a calma. Estava disposto a lhe pedir perdão, quando de repente percebeu a presença de Artêmis na sala.
Ela o olhou com cinismo.
- Pode ir arrumando outro lugar para morar. Sou a nova dona deste lugar.
