"Sirius, se você não diminuir a velocidade agora, eu juro que te transfiguro num coala..." ameaçou o jovem, cujos cabelos castanhos claros e sedosos estavam sendo fustigados pelo vento gélido da noite, e as traquinagens que o amigo, passageiro dianteiro, aprontava a cada curva e esquina, simplesmente para vê-lo aborrecido e provocá-lo, contudo, desde que Sirius entrara na cidade de Londres, guiando a sua reluzente e sombria moto, o estômago revirado de Remo vem sofrido o que não sofreu durante todo o percurso desgastante. Culpa do condutor desastrado, pensou o próprio jovem lobisomem, quase imaginando perfeitamente a imagem de Sirius recebendo o carinho do vento no rosto, coisa que sempre o enlevava, desde os tempos da escola. "Liberdade" era a sua palavra preferida, e qualquer sensação livre de consternação e preocupação era algo que colocava Sirius imerso num prazer indescritível. "Almofadinhas, meu velho, se você ainda gosta do seu rostinho safado, desça a moto...agora." rosnou, agora parecendo a única figura rara de um Maroto inconfundivelmente zangado...e no caso do jovem, extremamente nauseado. Descobrira que curvas acentuadas e seu fígado não era a combinação mais magistral possível. Talvez fosse por esse fato que sempre se sentisse desconfortável em cima de uma vassoura. Mas se chegasse a confessar isso para Tiago, o outro já estaria com um semblante arrasado em dois tempos. Tudo que se relacionasse a quadribol tinha a capacidade de contornar suas emoções. E Sirius, naturalmente, também era instigado pelo mesmo pensamento...mesmo que não fosse o inigualável apanhador que Tiago era, e nesse campo, tivera que admitir, perdia para ele descaradamente.

"Remo, agüenta um pouco, já estamos nos aproximando..." o outro implorou, com a voz mais casta e manhosa que conseguiu mascarar. Mas uma pontada agressiva nas costas, obviamente, a varinha de Remo em riste, fez sua insistência se esvair. Remo sempre mantinha sua palavra, por isso, não era nada seguro para a sua saúde física duvidar de qualquer sentença que ele dizia."Ta bom, Aluado, você venceu...O que você quer? Um bar? Hospital trouxa?" deu as alternativas, e quase que maquinalmente, a varinha que era pressionada contra um ponto de suas costas foi retirada e guardada no bolso de um certo lobisomem."Nenhum desses. Uma farmácia trouxa. Preciso de um sal-de-frutas." Informou, achegando-se mais para que Sirius pudesse ouvir, pois o ruído dos trouxas era perturbador, e por muitas, soprepunha-se até mesmo á voz altiva de Remo. Sirius sentiu um calafrio involuntário e quase prazeroso quando a mão do amigo roçou seu pescoço descoberto. "Um sal-de-QUÊ? Eu não sei do que se trata...mas tudo por você, Remo.", os dois riram gostosamente, e Remus esperou não se demorar em demasiado, pois Tiago lhes informara diversas e cansativas vezes, via-flu, para chegaram na data e na hora estipulada. Pedro já estava no local combinado, juntamente com Lílian e ele; entretanto, Sirius e ele, quando juntos, tinham a habilidade e destreza suficiente para se atrasar. Mas pontualidade era um quesito indispensável quando os amigos iriam se casar, ainda mais, quando o padrinho estava na sua companhia. Remo sentiu um frio na espinha ao imagina-los chegando após a celebração...Tiago seria capaz de querer esfolá-los vivos, sem nem ao menos se dar à magnificência da varinha para essa tarefa." É ali, Sirius, pára...Sirius, eu mandei parar...Não aí, tonto...Dentro da faixa amarela...Você é daltônico, Almofadinhas?...Tem que estacionar a, é a lei dos trouxas...Não venha reclamar pra mim, por acaso, eu tenho cara de trouxa?"  Nem um pouco, não pôde deixar de pensar Sirius, o seu rosto era delirante.

Já era fato comprovado de que Remo tinha o rosto mais magnífico e inocente que o outro tivera a oportunidade de visualizar, por sete longos anos, o mesmo rosto imaculado, mas para o animado, ainda irresistivelmente carnal e atraente, que sempre habitara os sonhos mais cobiçosos. Uma pontinha de aborrecimento  atormentou Remo, sempre quando Sirius erguia a voz para replicar ou contestar. Sirius tinha um prazer maligno em contesta-lo, seja lá no que se tratasse. E, infelizmente, isso agoniava imensamente. Não se importaria se fosse o obstinado Tiago, nem se fosse o tímido Pedro...mas era Sirius, e, por mais estranho e doloroso que lhe parecesse, isso tinha fundamental estima para ele. Que Sirius parasse de desobedecê-lo, de desafia-lo com brincadeiras maldosas, de sempre descobrir uma falha ou sempre se esquivar de sua opinião."Está bom, agora, Sr. Eu Amo Os Trouxas?, zombou, descendo da moto com vagarosidade, carregando consigo o sorriso petulante mais popular de sua expressão. Remo revidou com um sorriso tão amargo que fez o de Sirius morrer instantaneamente, substituído por um tão impregnado de azedume quanto o do amigo.

 Remo se ergueu para sair da moto, tão mal-humorado quando desajeitado, sem deixar de mostrar o seu olhar descontente para Sirius, fitando-o com insatisfação o tempo todo, e ele retribuía com furor. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual o jovem lobisomem esqueceu totalmente um dos pés atrelados num suporte pedal em uma das laterais da moto, tropeçando teatralmente. Remo teria se estatelado de forma horrenda no centro da calçada, se Sirius, alerta, não o tivesse amparado automaticamente. Normalmente, o animago não dava muita atenção á isso, mas quando se deu conta do deslize de Remo, quase intuitivamente, se aproximou com rapidez, socorrendo-o, com um dos braços em suas costas e outro empacando exatamente na cintura do jovem, que enrubesceu ferozmente no mesmo instante que sentiu os braços viris e firmes do amigo circundando-o com tanta cautela. Todo o mau-humor pareceu evaporar, para dar lugar á um embaraço cavalar. Ele e Sirius não desgrudaram os olhos das íris do outro por um, ou dois longos e fatídicos minutos, suficientes para que a cor do rosto do animago se transferisse do rubro para o branco descorado.

"Hm...Obrigado, Sirius...", e ele verdadeiramente quis agradecer, não apenas pelo auxílio. Desvencilhou-se dos braços de Sirius fluentemente, já que a compressão já não estava mais tão resistente. Entrou na farmácia trouxa, tentando ocultar o rosto escarlate e a desordem que se alojava em sua barriga, adicionando ao enjôo, mais um mutirão de sensações equívocas e até amenas. Teve a nítida impressão de que Sirius permanecia estático no mesmo ponto onde havia sustado.

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"Er...Já está se sentindo melhor?" indagou, ligeiramente sem jeito, mas se importava genuinamente."Claro. Se não fossem as minhas aulas de Estudos dos Trouxas com a Sra. Jinns, teria que esperar um médico-bruxo.", informou, com um sorriso recomposto nos lábios rosados pelo frio, ia subindo a motocicleta, sentindo de novo a fragrância da pele morena de Sirius, mas tentando não fraquejar por isso. O animago sentiu um imenso alívio transpassar seu corpo, pois abominava ver o rostinho sereno de Aluado contorcido numa máscara de falso emburramento."Nossa, você deve ter se divertido á beça nessas aulas...Eu posso até imaginar como seria um golpe fatal  ter de falta-las...", brincou, e dessa vez, Remo acompanhou o riso com gosto."Mas não eram tão ruins assim, você devia tê-las feito comigo.", e novamente se puniu por falar o que não deveria desabrigar o teto dos pensamentos, somente eles deveriam ouvir esses devaneios, não Sirius. Rezou para que o rapaz não virasse para a traseira e se deparasse com seu rosto repleto por uma vermelhidão desconfiável."Digo...Hm... Você, Tiago e Pedro.", e para seu espanto, Sirius voltou a rir contente e roucamente."Se você tivesse a bondade de desgrudar o traseiro de uma cadeira e nos livrar das detenções, nós teríamos ido, Aluado...", o jovem lobisomem tentou figurar a circunstância, mas achou muito improvável que qualquer alma viva, provida ou desprovida de magia, conseguiria a proeza de mantê-los longe das traquinagens."Sabe, Aluado, a gente deveria continuar, visto que o Tiago vai ter um faniquito e... "AI!"  Remo não estava muito atento nas palavras de Sirius, mas o grito agudo de dor, seguido por uma exclamação de incredulidade, o fez deparar-se com uma coruja selvagem, corpulenta e de penas providas de uma tonalidade próxima á da ferrugem, Pelo pio desajustado e ininterrupto, só poderia ser a coruja de Tiago, naturalmente."Falando no diabo..." De fato, o amigo escolhera essa tal coruja em uma das lojas do Beco Furado justamente para que sempre atacasse o destinatário com pura agressividade. Ele sempre gostara desse tipo de animal, ainda mais quando se tratava de corujas. Não obstante, Remo achava que todo o empenho que tiveram para "domesticar" a fera nunca havia surtido efeito.

O animal, desesperado e ruidoso, pousou corretamente sob o ombro de Sirius, debatendo-se furiosamente contra a cabeça do animago, alastrando os cabelos negros para toda a dimensão do rosto, e, ora sim, ora não, aplicava bicadas eficientes e doloridas no topo da cabeça do amigo, fazendo-o ganir baixinho palavrões que conhecera, e alguns de sua própria autoria."Remo, me ajuda! Essa coruja vai comer meus miolos!", miou, tentando se livrar do bico certeiro do animal, gemendo de agonia, e removendo do rosto as mechas alvoroçadas. Remo, com um exímio esforço, arrancou o animal selvagem de cima do ombro esquerdo do amigo, segurando-o com segurança pelas asas, e arrancando a tira de pergaminho que havia sido enrolada especialmente desarrumada e amassada. Não precisava nem citar que era uma óbvia obra de Pontas." Pode ir, Medusa...Anda, vai embora...Eu mandei ir embora, não comer os meus dedos...Sirius, tira esse troço daqui antes que eu cometa algum crime contra as criaturas mágicas..." o animal continuava a se contorcer com ferocidade, considerando os dedos do lobisomem uma refeição um tanto saborosa." Transforma logo ela em capim-verde, Remo...eu falo pro Tiago que ela chegou morta..." Remo riu quando contemplou a fisionomia de seriedade do amigo.  E parece que Medusa também ouvira impecavelmente, pois largou os dedos de Remo com um estrépito, agitou as asas longas e resistentes e pôs-se a voar para bem distante dos dois.

Massageando os dedos inchados, Remo abriu o pergaminho quase destruído com prudência, topando com a caligrafia torta e vergonhosa de Tiago, muitas das letras maculadas de tinta negra e marcas de digitais bem visíveis, notavelmente, os dedos esguios do amigo. Sirius virou a cabeça para trás, a fim de acompanhar a leitura.

 " Caríssimos Almofadinhas e Aluado,

Se vocês ainda não aprenderam corretamente, aconselho a vocês que olhem melhor para os lados, quando estiverem na moto. O Ministério está exaltado com a atitude de vocês nessa moto, e por pouco, não a confiscaram.  Um ou dois trouxas viram vocês (não disse que eles eram abelhudos ao extremo?), mas meu pai foi ao Ministério pessoalmente cuidar do caso, e posso assegurar que ele vai resolver a situação do lado de vocês. Claro, oras, é meu pai. Ele recomendou que vocês ficassem na cidade onde estão, e arranjem um buraco pra dormir( foi exatamente isso que ele disse, não me culpem!). Rabicho descolou o tecletone, ou seja lá o que for, de um desses recintos...não sei como é o nome, mas eles  garantiram que é uma estada segura.

Mandei a Medusa, pois a Tétis da Lílian está seriamente ferida(foi o que eu disse para a Lílian...mas acho que vocês já devem ter suposto que foi a Medusa, na realidade. Aliás, não machuquem ela, seus desalmados. Isso vale especialmente pra você, Almofadinhas...). Não se atrasem muito, Rabicho e mais um pessoal da escola já estão aqui, sedentos para reverem todos os Marotos juntos novamente. Lílian está nas fronteiras  da insanidade com a bagunça, e como você, Aluado, não está aqui, eu estou tendo que (desafortunadamente) ajudar na limpeza, almoço, e todas essas esquisitices domésticas. Vocês conseguem crer que Líllian pensou em convidar o seboso do Ranhoso?O Ranhoso? Porém, eu afastei a hipótese rápido o suficiente para ela pensar em se tornar parte do real...vocês sabem, eu tenho meus métodos, e, modestamente, elas são muito eficientes.

Não se metam em confusão(não sem mim, visivelmente), durmam bem, e, ah, tragam algo pra mim, pois torrei todos os galeões que tinha comprando o  anel de casamento para a Lílian...

Abraços do venerável Maroto,

Pontas."

Sirius emitiu um dilatado suspiro de consternação, e Remo abriu um sorriso enérgico quando releu a última palavra, exultante que Tiago fosse um esposo tão dedicado."Parece que eles estão bastante ocupados sem nós...", ponderou o animado, num trejeito desanimado, mas Remo lhe deu uns tapinhas animadores e confortantes nas costas, mais do que satisfeito com a felicidade conjugal do amigo distante, e quase conseguiu imaginar a face de excitação de Rabicho, sempre tão destinado e fiel á Tiago e Lílian. "E parece que um certo alguém não fica tão alegrinho quando  não é o centro das atenções, não estou certo?", o sorriso quase divino que enfeitava o rosto de Remo foi suficiente para fazer surgir um muito parecido nas faces de Sirius."Corta essa, bobão.  Eu estou felizes por eles, se quer saber...", avisou, mas não chegava a ser uma verdade palpável, pois não ansiava mais em ser o centro das atenções da escola, e nem ao menos atrair todas as garotas de todas as casas existentes para o seu magnetismo infalível. Ele desejava ser o centro das atenções, única e exclusivamente para Remo, em favor de Remo.

 Todavia, o jovem não era semelhante á essas garotas, seriamente, ele não tinha nenhum traço em comum com elas. Quando Sirius estalava os dedos, Remo não se jogava espontaneamente em seus braços, solícito a cada pedido, a cada ordem. Remo não o tratava como um objeto de entretenimento temporário, e nem considerava apenas sua beleza impagável como sua qualidade proeminente. Remo o prezava exatamente como ele era, sem esforços ou disfarces. Era o amigo admirável, para qualquer ocasião, sempre piedoso, compreensivo, simpático ou indisposto, sempre estava pronto para entregar a vida aos companheiros, qualquer fosse a razão. Lembrou-se da noite trágica com a bobagem que praticara com Snape, e tarde da madrugada, temeroso de que sua estadia na escola fosse repentinamente encurtada, o único que despertou voluntariamente, foi Remo, consolando-o e acalmando-o, sempre repetindo o quão impossível era que "o grande Black"  fosse expulso tão friamente da escola, por uma peça tão infantil e raivosa. Recordava-se de como o rosto, sempre de aparência fraca e debilitada, estava magnífico e adorável, iluminado pelo fulgor resplandecente da lua, que adentrava as janelas do dormitório da Grifinória. Naquela ocasião, Remo havia sido tão cordial, tão angelical, que Sirius teve dificuldades para acreditar que ele era um ser animado. Sorte que no dia seguinte, as previsões do rapaz se confirmaram, apesar dos meses que teve de padecer em detenção, lustrando as cadeiras empoeiradas dos últimos diretores de Hogwarts, e Snape, que juntamente á Lúcio, tentara surpreende-lo faxinando a escola, mas antes que pudessem se dar contas, estavam pendurados na parede da estufa, como duas bonecas rígidas e estuporadas. E a cara de Lupin ao ver tudo isso foi ainda mais recompensador. Era confortante relembrar como o semblante surpreendentemente belo e sempre correto de Remo se alterava em riso legítimo. E como esse riso era infeccioso. Mesmo que risse modestamente, ou sorrisse com validade raras vezes, quando isso acontecia, era meramente impossível refrear a mesma reação. Difícil era acreditar que uma criatura que houvesse sofrido de tudo na vida ainda tivesse a capacidade de ser tão puro.

" E então, padrinho? Vamos roncar os motores e arranjar um hotel para passarmos a noite?", disse o lobisomem, tentando soar animador, pois a idéia de dormir num dormitório de trouxas, era, naturalmente, uma concepção que o arrepiava até as últimas penugens. Sirius riu."Hotel...esse é o nome? E onde é o próximo, conhecedor dos trouxas?", a máquina expurgou montanhas de fumaça sufocante pela extremidade, fazendo os olhos de Remo lacrimejarem, mas ele puxou o guia que o trouxa lhe concedera na farmácia, esquadrinhando com os olhos os nomes dos hotéis mais conhecidos, ou próximos da localidade que se encontravam."Esse não é o tipo de elogio que eu gosto, mas o próximo hotel é daqui á 50 metros...", Sirius levou á máquina ao ar, e imediatamente, a voz de Remo fez-se ouvir."Almofadinhas! Você não precisa erguer essa coisa...Vai pela estrada, porque estamos perto...Eu disse que estamos perto...", repetiu, já que Sirius não acatava nenhuma de suas ordens. "Almofadinhas, eu ainda não desisti do coala...Ou será que você prefere uma fera tropical, pra se ajustar ao tom dos seus olhos, talvez?" , mais uma vez, uma saliência incomodante quase furou as costas de Sirius, por cima da blusa, onde Remo comprimia a varinha perigosamente. Sirius levantou os braços, uma réplica perfeita dos criminosos trouxas encurralados, e tomou o caminho que Remo especificara.

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"Esse também não têm vagas...Dá pra acreditar  nesses trouxas?", rosnou Remo, enfurecido ao deixar mais um dos hotéis, ouvindo, talvez pela décima vez que não haviam vagas disponíveis."Será que eles têm algum tipo de radar para detectar bruxos?", questionou o animago, pensativo e fantasioso."Claro que não, seu tonto. Quisera eu ter um radar para antecipar as besteiras que você fala e prevenir meus ouvidos...", atacou, venenosamente."Ah...E que tipo de coisa seus  "sensíveis"  tímpanos querem ouvir?", provocou Sirius, ciente de que Remo se calaria, impotente e sem réplica. Sirius corou violentamente ao pensar em Remo murmurando dúzias de frases sujas no seu ouvido. Mas o rapaz suspirou profundamente, assim como se estivesse reunindo fôlego."Coisas como:  Remo, meu querido, eu vou calar a boca e dirigir a joça que você e o Tiago tiveram a colossal falta de sagacidade de me dar de aniversário, e vou obedecer as suas ordens piamente até nós chegarmos num hotel trouxa decente porque eu compreendo que você está cansado, e não pretende mais ficar em cima desse troço que eu tenho a ousadia de chamar de motocicleta,  porque você não é maluco como eu..." , parou, com uma leve falta de fôlego, mesmo que sorrisse debochadamente, Sirius imitou uma perfeita careta de injustiçado." Mas...eu falei isso!", Remo se segurou para não cair na risada, pois a expressão de Sirius era quase idêntica á de Rabicho, os olhos lacrimejando igualmente."Ahã...E eu sou Morgana das Fadas e alguém precisa ir pro St. Mungus urgentemente...", disse num tom triunfal e drástico, vendo Sirius vencido, prosseguiu, mesmo que estivesse iniciando a pensar que seria particularmente difícil encontrar um hotel disponível ás margens da madrugada."Próximo hotel é daqui á 500 metros, Sirius... O que foi agora, Sirius?", averiguou, uma ruga de contrariedade surgindo entre as sobrancelhas. O amigo apontou para uma placa que cintilava luzes vermelhas ao longe, e, logicamente, chamara a atenção imediata do amigo. Remo apertou os olhos, esforçando-se ao máximo para enxergar as letras pintadas no letreiro, da mesma cor que as luzes, porém, apresentava um vermelho mais denso e letras caprichosamente enfeitadas.

"Olha lá, Remo...Agora você vai querer me mandar pro St. Mungus?", apurou, sem deixar de pregar os olhos no letreiro, mas Remo parecia ter críticas dificuldades para encaixar as letras.  "Mas por acaso tem algum contratempo se o H de Hotel estiver trocado por um  M?.....Alu-aaaa-doo?Você está me ouvindo?

Por fim, os olhos de Remo alcançaram as letras, cuja discrição aparentava. "Love Time - Motel ", Sirius transportava no rosto travesso uma expressão típico do duende que acabara de encontrar o ouro no término do arco-íris. Tentou buscar nos arquivos da mente o significado da palavra trouxa...Motel...Retornou ás aulas da Sra. Finns, a mulher obesa e rosada, sempre paciente e dando explicações sobre as complicações intermináveis do mundo dos trouxas. Teve um lapso de memória, com a voz da mulher, diferenciando Hotel de Motel, cuja significação era ligeiramente distinta...Tentou procurar com mais clareza, como nos momentos tensos que fazia os exames, e que haveria de obrigar a mente a expelir alguma informação...Hotéis eram necessidades para viajantes, tanto para estadia permanente, ou para uma só noite, em alguns casos...E os Motéis? Ah, Remo Lupin, você estuda incansavelmente por sete longos anos, e precisamente na hora de aplicar o conhecido, você esquece? , discorreu.  Oh! Lembrara-se! Conseguiu visualizar Sra. Finns com seus olhos de garoto, discursando que Motéis eram os lugares onde normalmente os trouxas....ah....onde os trouxas faziam...coisas...Sentiu a boca seca, e a garganta retesar.

"Sirius, eu não sei, entende. O que você acha de ficar aqui mesmo?", sugeriu, e embora que soubesse a besteira que estava cometendo a conduzir um amigo para lá, a curiosidade baniu, de uma vez, todo o resto de juízo e razão que já estavam morrendo aos poucos."A diferença entre as letras eu não me lembro, mas não pode ser uma tragédia, não concorda?", tentou parecer convincente, e Sirius, ingênuo ao extremo, sucumbiu."Claro, Aluado...você está absolutamente certo, como sempre.", adicionou um sorriso confiante á frase, ao passo que ele e Remo se aproximavam da construção.

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 "Nós gostaríamos de uma suíte, por favor..."

 "Eu gostei disso...Remo, você tem... gibras espertinhas, não?"

"Libras esterlinas, Almofadinhas..."

"Pode levar pra mim?Nem vem, Aluado, sua carteira tá mais cheia do que boca de Pettigrew em banquete..."

Remo corou veementemente ao bater os olhos no objeto grandioso que Sirius havia pendurado em uma das mãos, com o semblante mais alienado e casto possivelmente existível.

"Sirius...Isso é uma boneca inflável...Solta isso, pelo amor de Merlin..."

Sirius parecia inebriado e deslumbrava-se com cada parede que seus olhos encontravam. Remo permanecia sério, tentando lidar com aquele lugar de luxúria como se lidaria com um mosteiro. Uma mulher trouxa, vulgar até o último fio de cabelo os atendeu, o ruído insuportável de seus dentes mascando um chiclete sendo o único som ao acompanhar os maravilhados suspiros de Sirius ("Ooooohhh...Isso tudo foi verdade que os trouxas construíram? Porque a Lílian nunca mencionou um lugar assim?") . A garota, cujos amplos olhos pareciam julgar Sirius de cima á baixo, estendeu um molho de chaves que foi rapidamente recebido por Remo, enquanto o animago vagava pela recepção, fazendo comparações entre o local e a admirável Sala Comunal da Grifinória, para com  seus próprios botões. A menina esfregou uma poeira inexistente da minissaia minúscula, fazendo uma bola rosada com o chiclete moído, e disse, com os lábios finos manchados do vermelho-vivo do batom."Temos uma suíte Máster disponível, é o primeiro quarto, e você...", disse, olhando de uma certa forma para Sirius, que nada agradou Remo."Pode deixar a moto no estacionamento, os quartos são exatamente acima...", o animago, que nem sequer a encarava nos olhos, apanhou um par de coleiras, deu uma risada baixa e disfarçada, e após, assentiu com gosto."Nós temos apetrechos especiais para casais homossexuais, se vocês estiverem interessados..." Remo sentiu que em qualquer instante, chamas iriam se precipitar pelo seu rosto, mas negou com um aceno de cabeça, gaguejando repetidamente."Não...Não, Sirius... Não!  N-Nós não somos um casal...", o que é, infelizmente, lamentável, pensou o animago, antes de levar os braços aos ombros de Remo, corajosamente, e o rapaz pareceu enregelar por dentro, ao sentir as mãos rígidas do amigo massagearem os ombros tensos."Liga pra ele não...Nós somos um casal, mas ele é muuuito tímido, o Aluado...", mostrou o olhar mais convincente e lascivo que conseguiu. Remo engoliu em seco, olhando seguramente para ele, como quem pergunta  'Que diabos é isso?' , a garota apenas sorriu, mostrando muitos dentes tortos, e um grande interesse."Sei do que se trata...Vocês gostam de encarnar os personagens... Aluado, huh?", teria sido uma situação ridiculamente hilária, se as mãos de Sirius não tivessem deslizado para sua cintura, e estivesse rindo devassamente."Agora você atingiu o ponto, querida. Menina inteligente...é das minhas.", deu uma piscadela, agarrando as chaves, e carregando Remo pela mão, através da recepção. O ar sedutor do amigo, fez Remus, automaticamente, recordar-se do mesmo que ele destilava na ala feminina da escola.

Remo o olhou com densa indignação, abriu a boca para despejar algum insulto ultrajante, mas sua cobiça se esfarelou imediatamente, e manteve-se mudo, mas Sirius, que não deixava nem um passo passar desapercebido, pronunciou-se. "Por Merlin, Aluado,  desfaça essa cara! Só porque nós disfarçamos  tudo para a garota, não significa que eu vou te agarrar quando você estiver olhando para o lado, cara!" , adicionou um sorriso perspicaz, e Remo dissimulou perfeitamente um alívio inexistente. Mesmo que fosse exatamente isso que eu quisesse fazer, o lado endiabrado do animago não pôde deixar de idealizar."E se você pudesse fazer o favor de me olhar com essa cara de elfo doméstico abandonado e abrir essa fechadura trouxa, eu agradeceria...", Remo agarrou o chaveiro, embirrado, e Sirius riu, pois o espetáculo mais delicioso era ver Remo furioso, ele se desfazia em risos ao analisar os lábios crispados do lobisomem e seus olhos âmbar chamejando de ira. Quando contornou a chave, a porta se escancarou, e o rapaz fez sinal para que adentrassem,"Entra logo, Black. E não emporcalhe nada, porque não estamos na casa do Tiago...", Sirius entrou faceiramente, arrastando os sapatos, antes lustrosos, agora empapados de lama gosmenta no chão polido e brilhante, fazendo o rosto do amigo se contrair involuntariamente." E nem na sua, n?", zombou, prevendo que Lupin riria. E foi justamente o que aconteceu, e sua expressão tensa foi se desanuviando delicadamente."é, seu panacão. Agora, tire os sapatos.", Sirius soltou um gemido longo e cansado, que mais parecia um murmúrio. Apontou para os calçados enlameados, e informou."Sabe, Aluado...Tô com preguiça...Tira pra mim...", ele usava um tom infantil e pidão, impossível para qualquer criatura negar um pedido tão carinhoso."Você está me achando com cara de Kreacher, ou é coisa da minha cabeça?", provocou, mas sabia que não iria surtir efeito contra o amigo, e foi estendendo a varinha, segura em um dos bolsos do casaco. "Mobiliarmus...Pronto, agora acenda a luz, porque quero tomar banho e ver como são as camas...", Sirius, ligeiramente confuso, apertou o interruptor, e o quarto se iluminou de tons amarelos, vermelhos e azuis, fazendo os olhos sensíveis de Remo arderem em aversão á tanta claridade. "Mas que diabos...?

Naturalmente, o rapaz pensara que seriam distribuídas camas de solteiro, num aposento modesto, cômodo e suficientemente simplório para uma só noite. Mas o que estava vendo contrariava todos os padrões estabelecidos mentalmente por ele. As paredes eram cobertas por um vermelho sangue que era intensamente provocante e convidativo, as poltronas pareciam ser esculpidas na forma de corpos humanos nus, e Sirius se aconchegou em um par de nádegas, cativado. Remo correu os olhos da poltrona em forma de seios avantajados, para a cama...pequena, íntima, tinha os contornos semelhantes á os de um coração, e um lençol resplandecente de seda rubra, como todos os acessório presentes, amoldado com requinte na base. Sob o frigobar, o único objeto branco no cômodo, havia uma lista das iguarias preparadas, e ao lado vário objetos coloridos e em abundância, que Remo distinguiu como sendo camisinhas sortidas. Espalhados como balas numa loja, os pacotes de lubrificantes, calcinhas, cintas e cuecas nas mais inimagináveis imagens serenavam ao lado da cama.

Sirius analisou as bugigangas, com uma bisbilhotice distinta, a apanhou uma das camisinhas, olhando com interesse para o artefato incógnito. Remo achou um robe apropriado para vestir depois de banhar-se, mas isso não o impediu de ficar observando Sirius e sua indisfarçável ingenuidade com relação ao lugar, e seu interesse pela camisinha."O que é isso, Aluado?", ergueu-a no ar, balançando o pacote pela ponta, com os dizeres "Sabor Limão"  na embalagem esverdeada. Remo simplesmente negou com um aceno de cabeça, tentando parecer tão inocente quanto o amigo, que ainda olhava o preservativo, provavelmente, perguntando-se se deveria desempacotá-la, ou se era arriscado demais proceder assim. Optou pela segunda, e o objeto úmido foi para suas mãos, onde ele a deixou por um longo tempo, estudando de todos os ângulos possíveis, esperando que se alterasse num trasgo violento e extraísse sua cabeça do corpo. "Vamos lá, Sirius! Vai me dizer que está com medo do que esse brinquedo pode fazer com você? Posso garantir que a sua mãe não vai sair da, cara...", Sirius mostrou a língua, displicente, e a levou, inseguro, para a ponta do objeto, deixando o sabor azedo do limão artificial se dispersar pela boca. No final, sua expressão não era de todo desagrado. Ao acompanhar a ação do amigo, Remo teve certeza que suas bochechas já estavam malhadas de vermelho, e começava a transpirar perigosamente." Não é ruim...Acho que eu vou levar pro Prof. Dumbledore, ele não adora essas porcarias doces de trouxas?"  Remo sentiu o fígado se revirar, ao simular a conversa entre Sirius e o diretor da Hogwarts, o amigo, presenteando-o com uma camisinha com aroma e sabor de frutas. Tentou não pensar novamente na possibilidade da ousadia de Sirius ultrapassar seus devaneios mais temerosos."Não, Sirius. Você não pode fazer isso.", Sirius lambiscou o preservativo mais uma vez, como um chef que analisa o produto final de uma receita sofisticada." E porquê, Aluado? Você mesmo disse que a minha mãe não vai sair daqui de dentro.  Então, tecnicamente, não há perigo.", Remo estava prestes a assentir, e desistiu de persuadi-lo, era simplesmente cansativo demais. Resolveu apelar para um programa mais conservador, e menos penoso do que Sirius se deleitar com as camisinhas."Escuta, vamos assistir televisão, ok?", e trouxe o controle remoto nas mãos, Sirius seguindo piamente cada passo dado. "Você só precisa apertar o "power", Almofadinhas...Porque não tenta?", e ofereceu o mecanismo que Sirius recebeu logo após, inseguro, mas ciente das instruções.

O rapaz procedeu com o indicado, e o aparelho se acendeu ao comando, Sirius sorriu faceiramente, como se houvesse aprimorado um feitiço convocatório, na primeira aula do Prof. Flitwick, e Remo retribuiu o gesto, satisfeito com o entusiasmo do amigo. No entanto, cinco segundos depois, Remo pode distinguir uma das mãos grandes e protetoras de Sirius cobrirem uniformemente seus olhos com zelo, e se, seus ouvidos não estivessem pregando uma peça muito desgostosa nele, tinha certeza do fato de que Sirius havia achado um canal pornô logo no início, e, de acordo com os gemidos, altamente luxuriosos, suas suspeitas não estavam muito longe de ser verdade. "Caramba, Aluado! Que lugar é esse, pelas bolas de Merlin?"

E Remo, por fim notou, ao ver de relance o amigo conseguir desligar o aparelho, e se despir com demora, deixando o tórax maravilhosamente viril e irresistível á mostra e começar a encher a hidromassagem, que passar uma noite no Motel com Sirius poderia ser uma lição tão árdua, que nem mesmo a velha Sra. Finns poderia lhe lecionar. Ou será que havia perdido essa aula?