Sirius havia atirado o casaco de couro negro que o protegia da friagem e o jogado no chão, o mesmo fez com a camiseta, da mesma cor que a peça acima. Remo parecia muito atarefado no quarto superior, tentando ocultar alguns instrumentos que, pelo ruído, o animago não conseguiu distinguir. Nu da cintura para cima, Sirius espiou pela parede transparente que separava o quarto indiscreto, do banheiro igualmente indisfarçável, um tenso Remo, que não sabia se olhava para o lado, e tomaria uma ducha também, ou continuava ali, na sua mais cínica e artificial tranqüilidade. Sirius deu uma risada sincera, e o amigo apareceu com o rosto quase colado no vidro que dava visão completa do banheiro, observando de um modo muito febril e faminto o amigo, que só tinha uma toalha felpuda e vermelha encobrindo a cintura.
Grudou a testa no vidro, e apesar do riso de Sirius abafar qualquer voz aparente, o animago conseguiu ler os lábios de Remo sem muito esforço.'Eu ainda estou aqui. Tenha algum respeito e vista-se.', ele apenas mostrou um sorriso desdenhoso, e fingiu despir-se por totalidade, caçoando com a toalha, simulando que ela iria despencar a qualquer momento, e mexendo a cintura convulsivamente da forma que ele procedia, era bem provável que isso acontecesse. Mesmo que estivesse encoberto por uma camada de vidro, eram evidentes as manchas escarlates que povoavam seu rosto, alteando-se a cada movimento brincalhão de Sirius. E era precisamente isso que o animago ambicionava...Se o lobisomem não sustentava nenhum tipo de sentimento "distinto" pelo amigo, ao menos, Sirius teve certeza, que assisti-lo nu, e mesmo sem blusa, era uma visão que o embaraçava de uma forma muito....desconfiável. Claro, Tiago e Pedro já o haviam visto despido em tantas ocasiões que nem cabiam mais nos dedos das mãos e dos pés conjuntos. Mas nunca haviam ruborizado ou se escondido após isso, o que normalmente, Remo fazia, ao ver um naco de pele do amigo que não estivesse sob panos. Sirius não era tolo, e sabia que jamais seria qualificado como tal.
Raivoso, e com o rosto em chamas, Remo desceu as escadas, deparando-se com o riso histérico e enérgico de Sirius, que ainda se sustentava com a toalha. Pegou uma das almofadas que estavam desarrumadas sobre o chão, o rosto ainda contorcido de acanhamento."Toma isso, já que você gosta tanto de exibir o seu corpinho!", mesmo constrangido, Sirius sabia que o rapaz podia invocar toda a seiva da parte lupina que o compunha, em qualquer eventualidade. Esquecendo-se de considerar a possibilidade, o rapaz estremeceu convulsivamente quando os olhos âmbar, extensos e ternos de Remo confundiram-se numa tonalidade ameaçadoramente dourada, concedendo um traço de audácia e obscuridade ao rosto delicado de Remo, que arremessou a almofada, que não era nada delicada e surpreendentemente pesada diretamente no torso nu do amigo, atingindo-o com precisão na região do estômago.
O riso que estampava o rosto do rapaz desfez-se, ao passo que foi jogado com impacto para trás. Decerto, quando se tratava de vigor físico, Aluado não era digno de se desdenhar. Precipitou-se tanto, que nem havia notado o quão agressivamente havia atirado o travesseiro no amigo. O tombo estrepitoso de Sirius encheu os ouvidos do rapaz, seguido pelo barulho característico de uma considerável quantidade de água espalhando-se no chão, com a queda de Sirius na banheira. O baque foi tão forte, que Remo ficou inerte no lugar onde estava."Si...Sirius, você tá legal?...Sirius?...Pára de palhaçada, Sirius, e me responde.", misturou as palavras, arrependido do que fizera. Aproximou-se com precaução da hidromassagem larga, que quase ocupava todo o andar inferior do quarto pomposo, espaçoso e até um pouco suntuoso demais, nos padrões trouxas.
Quando abordou a ponta da banheira, sentiu uma mão úmida agarrando suas duas mãos, com impetuosidade e uma força semelhante á que acabara de usar...movida pelo ímpeto."AH! SIRIUS!", foi a única coisa que conseguiu sair de sua garganta, na forma de um grito assustado. Encharcado até os ossos, o animago sorriu com aquela fisionomia que sempre se servia quando pregava uma peça concluída com muito louvor."Eu gosto de mostrar o meu corpinho, eh? Mas agora eu estou mais no humor de mostrar outra coisa.", e antes que o amigo pudesse se libertar, puxou Remo pelos braços com toda força que conseguiu reunir. Obviamente, o rapaz estatelou-se da mesma forma que ele, a água abundante amortecendo a queda. O choque na banheira expurgou tanta água quanto o tombo de Sirius, e Remo só se deu conta que estava quase sob Sirius quando a ducha possante choveu em sua cabeça, o deixando tão ensopado quanto o amigo, que ria alucinadamente, os cabelos negros e sedosos grudando insistentemente em todos os cantos do rosto risonho." Isso - não - foi - nada - engraçado - seu - babaca.", tentou parecer ajuizado, mas acabou por gargalhar com tanto alvoroço quanto o amigo."Eu achei engraçadíssimo, particularmente...A sua cara de bobo, em especial, foi merecedor de uma Ordem de Merlin. Pode até desbancar a do Rabicho...", disse, quase engasgando ao falar e rir á mesmo marcha. Remo considerou tentar afoga-lo na ducha para coagi-lo a se calar, mas sua idéia de dissolveu quando notou a posição em que se encontravam. Sirius tinha a cabeça recostada na borda da banheira, os braços esticados displicentemente no mesmo local, as pernas esticadas dentro da hidromassagem e submersas em água, e Remo estava quase ajoelhado, tecnicamente em cima do amigo, pois as pernas se abriam onde as do amigo estavam fechadas, e suas cinturas quase roçavam uma á outra. Mas uma marca avermelhada e levemente inchada, já formava uma certa saliência na testa de Sirius, e um pequeno filete de sangue deslizava em união com a água, laçaram a atenção de Remo, que olhou com arrependimento para a ferida.
"Ah, droga...Eu sou um tonto mesmo...Perdão, Almofadinhas...Tá doendo muito?", questionou, debruçando-se no amigo, deixando os rostos á uma distância pecaminosa. Tentando afugentar os olhos dos lábios de Remo, que estavam ressequidos e brilhantes pela água corrente, Sirius respondeu, muito inseguramente, tentando não parecer tão atrapalhado por ter a boca que tanto ambicionara atiçando os seus reflexos tão arrojadamente."Hmm...Eu não dou a mín...Digo, não...Não se p-preocupe, A...a-Aluado...", gaguejou, sem realmente preocupar-se com o ferimento que gotejava em sua testa, proporcionando uma sensação cálida onde o líquido escorregava. No entanto, Remo parecia angustiado, apenas com a idéia de golpear seu amigo, já o mortificava. Roubou a mão livre de Sirius, colocando-o exatamente na sua, e levou-a onde a hemorragia se dispersava.
"Coloque a mão no ferimento, pra estancar o sangramento...Eu não tenho nenhuma poção Anti-Inflamação dentro da mala ou dos bolsos, mas eu acho que uns curativos trouxas podem ser de grande auxílio...", saltou para fora da banheira, sentindo o ar gélido da noite penetrar os poros e fazer um frio enregelante correr pelas veias. Precisaria de bandagens higiênicas e algodões umidificados para livrar o local de germes. Mas o braço robusto de Sirius o prendeu antes que seus pés pudessem carregá-lo para o banheiro. Impensadamente, os globos âmbar iluminados pelo banho que a noite distribuía encontrou os cinzentos leais do animago.
"Não!...Hm, Espera, Remo, por favor..." embaralhou as palavras, tentando evitar o rosto de Remo, que parecia implorar por um esclarecimento. Mas não se deixou falhar, retendo-o com mais vigor. Ao levantar o rosto com vagarosidade, descobriu os botões da blusa de Remo quase todos abertos, e quase todos os membros do corpo parecia querer se pronunciar, em brasa."...é que tem outra coisa que você precisava me ajudar"
"Se você tentar me atirar na água mais uma vez, eu juro que faço esse machucado se multiplicar quantas vezes me der na cabeça..." advertiu, ligeiramente desconfiado das intenções do amigo, mas ao topar com o semblante inopinadamente rígido, o tom de ultimato se dissipou. "S- Sirius, é sério, de verdade? Perdão, pode me dizer, que eu te ajudo...", o amigo o empurrou com mais força, fazendo-o entrar na água mais uma vez, as roupas já pesavam dolorosamente com a quantidade de água absorvida.
"Acho melhor você sentar aqui dentro, pois eu vou necessitar de um certo tempo, e, de qualquer forma, você já está molhado..." informou, obrigando o amigo a sentar-se na sua frente, já que havia espaço restando para mais três pessoas, internamente."Tudo bem, já estou aqui...Pode me dizer, você já está me deixando apavorado com essas maneiras tão...diferentes do hábito.", confessou, com franqueza, verdadeiramente amedrontado do que Sirius poderia lhe segredar. E se fosse uma complicação grave? Antes que pudesse perceber ou movimentar-se, o corpo convulsionou num tremor inconsciente, de receio e de frio. As janelas estavam entreabertas em sua totalidade, e o ar fresco e silencioso da noite embarcou nos cômodos, juntando-se á água fria que incidia fortemente na cabeça do animago, respingando no amigo e nas paredes. Sirius resolveu adotar a iniciativa, vacilante e ao mesmo tempo seguro de cada sílaba que deixava seus lábios para habitarem os ouvidos de Remo."Basicamente, isso vem acontecendo há um certo tempo, e é uma grande agonia, da qual eu não posso compartilhar com ninguém...", revelou, e os olhos cristalinos de Remo se arregalaram em dúvida e descrença.
"Nem com o Tiago?", indagou, incerto da legitimidade das palavras do amigo. Sirius pareceu profundamente ofendido."Não me interrompa, Aluado...Hm...Nem mesmo com ele...", a réplica pareceu amansar Remo, que voltou a discorrer como se falasse consigo mesmo. "Suponho que seja sério mesmo...E porque ele não pode te ajudar?", o timbre de Sirius pareceu desgostoso novamente, e Remo sabia o exato motivo. "Remo, eu detesto me repetir, eu não gosto de ser interrompido...Mas como você perguntou, é porque ele não tem a capacidade de me ajudar, não dessa vez, eu presumo.", explicou, com simplicidade, mas Remo parecia cada vez mais envolvido e intrigado, sua voz se erguia para suceder desobedientemente a de Sirius.
"E o Pedro?", não conseguiu se refrear. "Mas que demônio, Remo! Hum...Muito menos com o Pedro...ele é um pouco...alienado...pra servir de auxílio...", redargüiu, genuinamente, e Remo assentiu, tentando absorver a informação. A única coisa que Sirius já ocultara de Tiago e Pedro era sua fraqueza em Poções, algo que somente Remo poderia resolver com algumas aulas particulares escondidas dos outros amigos. Contudo, fora esse episódio, não haveria nada, absolutamente nada que Sirius não pudesse relatar á Tiago ou Pedro, indubitavelmente. Esse tipo de conversa estava alimentando um sentimento de distinção em Remo, o quão especial ele era para Sirius, ao menos, nesse caso, o animago poderia somente confiar nos seus ouvidos e nas suas palavras, o que o fez vibrar internamente. "Entendo completamente.", apoiou, e Sirius prosseguiu, as orbes límpidas pareciam ver através do amigo. "Mas você não é como eles, presumo.", segredou, e Remo confirmou o que sentia com uma risada abafada, típica. "Não diga? Agora eu me senti especial, Sr. Black...", não poderia ter sido mais franco, e o amigo mostrou um sorriso fraco, mas radioso 'que bom que eu o faço sentir-se especial, já é um passo á frente', Remo apoiou o rosto nas mãos, fitando-o com devoção.
"Mas você já , Aluado...Mas pra poder me ajudar a me livrar dessa agonia você precisa colaborar comigo...", alertou, e Remo o observou como se houvesse proposto algo desmerecedor de resposta. Colocou uma das mãos úmidas no topo da cabeça do amigo, como faria se estivesse na forma canina, acarinhando a cabeça com afeição e ingenuidade. Sirius pensou em roubar as mãos lívidas de Remo nas suas, e recheá-las de beijos, mas a voz composta de Remo fez suas idéias de apagarem assim como se tornaram elementos da mente. "Definitivamente tudo, Almofadinhas...Se for para o seu bem, eu faço o que estiver a meu dispor, e á sua vontade.", Sirius teve a nítida impressão de que alguma parte do seu corpo desejava gritar, voar e correr desesperadamente. "Tudo mesmo, Aluado?", Remo tirou a mão espalmada da sua cabeça. "Claro, porque não?Afinal, os amigos só servem pra ajudar nos estudos, eh?", confirmou, com um sorriso gentil, sempre amável. O animago pôde atestar que as pontas dos dedos estavam quase congelando debaixo d'água fria. Remo se calou, talvez esperando que ele demonstrasse algo. Seus ombros tremiam involuntariamente, e o amigo teve uma espontânea vontade de coloca-lo sob as cobertas e aperta-lo docemente contra si. "Eu agradeço, Remo...Poderia me fazer um grande favor agora? Claro, se estiver de acordo com a sua vontade..."
"Naturalmente, Sirius...O que quiser."
"Não vá dizer que eu não avisei..."
Antes que Remo pudesse perguntar o que aquilo supostamente significava, seus joelhos afundaram ainda mais na água, que com o peso de dois corpos, já transbordava pelos lados, e foi agressivamente levado para frente, deparando-se, em primeiro, o rosto esplendidamente belo de Sirius, para depois ter os lábios firmados ao encontro dos dele, com vigor, idolatria, avidez e um apetite que nunca havia presenciado semelhante. Precisou de alguns segundos para assimilar com legitimidade o que se passava, pois sua mente se demorava a absorver isso como um fato real. Sem se preocupar com qualquer categoria de reação que Remo fosse externar, o animago canino o pressionou contra a própria pele com ousadia, a língua ávida pedindo passagem para explorar a boca tão ansiada, para intensificar o que ele tanto fantasiara, para que, se Remo se considerasse ofendido ou traído, pudesse ter sugado o máximo desse momento, para que, ao tardar, não sentisse remorso, ou que ao menos carregasse por alguns dias ou semanas a lembrança do corpo frágil de Remo ajustando-se com primor no seu. Estava molhado e esgotado, mas ainda tinha vivacidade suficiente para persistir no que fazia por um período suficiente para uma vida.
Ao ser empurrado com tanta impulsividade, Remo quase se desequilibrou totalmente, apoiando-se no torso desnudo do amigo a na borda da hidromassagem, acidentalmente, derrubou vários frascos, do que pareciam ser fragrâncias altamente afrodisíacas, pois ao se estilhaçarem no chão, encheram o cômodo com um aroma delicioso de canela mesclada com rosas. Quando Remo forçou a nuca de Sirius para aprofundar a quase inexistente extensão que os separavam, mãos ágeis escorregaram por baixo da água, deslizando sorrateiramente debaixo do pano que grudava em sua pele, mimando de carícias toda a extensão de suas costas. Remo sentiu todas as partículas que caracterizavam sua vivência vibrando num só sentido de êxtase e fascinação. Quando o beijo sufocante e selvagem se quebrou, ambos estavam inteiramente desprovidos de fôlego, e o hálito quente de Sirius, recém-desvendado, roçou como uma camada de ar morno em sua orelha. Um arrepio sublime e potente desceu em suas costas, e os dois se afastaram, como se providos de eletricidade, encostando-se um em cada borda oposta da banheira, se encarando febrilmente, arfando fortemente. Os lábios de Remo, uma vez arroxeados pelo frio, se tingiram de um rosado quase encarnado.
"Você fez...o que você fez?", Remo foi o primeiro a se pronunciar, sua respiração entrecortada embargando a voz."Por Merlin...não acredito...", um vidro de óleo essencial tombou ao lado do licantropo, partindo-se em pedaços indistinguíveis, até o conteúdo perfumado e entorpecente se derramar na água. O resto de roupas que restavam no corpo de Remo emanavam um excessivo odor de canela silvestre, que ao se diluir com o perfume do seu corpo, provocava em Sirius uma reação entre o prazer e a psicose.
"O interessante é que parece que nós dois fizemos..." riu-se Sirius, tentando não arrancar as roupas esfarrapadas do rapaz, entorpecido com aquele cheiro que obstruía suas narinas e embaraçava seu cérebro. O peitoral de Remo subia e descia, descompassadamente."E parece que não foi nada mal. Se me permite, Remo, isso foi de grande ajuda, se quer saber...", perdera integralmente a noção das coisas, ao pensar que Remo fosse uma criança eterna, ele, simplesmente beijava espetacularmente bem.
"Típico. Você me enganou. Porque será que isso soa tão familiar?", os dois se encararam duramente, e a risada de Sirius preencheu o lugar como um gás tóxico, para depois ser acompanhada pela risada tímida de Remo. Quando as gargalhadas cessaram, ainda ofegante, Remo lançou um olhar felino, que Sirius jamais havia reconhecido, malícia parecia coligada nas pupilas âmbar."Mas, claro, se, eventualmente, você precisar de mais ajudas dessa...estarei sempre á disposição...", o animago resolveu brincar como o jogo estabelecia.
"Hmmm...Eu acho que posso fazer uma lista...", engatinhou até o rapaz, até que, novamente, estivessem quase colados."Mas como primeiro item, eu gostaria muito de beija-lo novamente..."
Sirius nem precisou de uma confirmação, dessa vez, Remo o puxou com rigor, e seus lábios se conheceram mais uma vez, agora com uma potência e ferocidade mais intensas. Era fácil, como se viesse praticando isso desde vidas passadas, um sabia agradar o outro instintivamente. Água e roupas eram estorvos, mas iriam se livrar delas, e, quando o beijo brutal foi tomando proporções diferentes, ambos se separaram, arquejando mais uma vez, mas com dois sorrisos realizados estampados nas faces afogueadas. Remo ainda estava muito, muito próximo do rosto de Sirius, mas isso não o permitiu ficar mudo."E, digamos, desde quando o Sr. Almofadinhas têm necessitado esse tipo de ajuda do Sr. Aluado...?, Sirius emitiu uma risada que foi substituída pela própria voz, num ar de escárnio distinguível."O Sr. Almofadinhas não acha que isso seja uma ajuda...Isso foi exclusivamente uma "mãozinha"...O Sr. Almofadinhas exige o corpo inteiro do Sr. Aluado...", agora foi a vez de Remo rir, pois Sirius prendera com precisão suas mãos nas costas, facilitando um panorama mais apropriado do peito nu do rapaz, que foi observado com genuína languidez."O Sr. Aluado concorda, sim, ele concorda...mas o Sr. Almofadinhas é extremamente depravado e ainda não respondeu a pergunta que lhe foi dirigida...", Sirius pareceu pensativo, e soltou os braços de Remo, que se relaxaram no rosto do animago, e Sirius teve a nítida impressão de que ninguém o afagara com tanta suavidade e ternura."Na realidade foi tudo devido á brincadeira do Sr. Pontas...Você lembra, não lembra?", perguntou num ar afundado de desdém, e Remo assentiu com atividade."E como eu ia conseguir tirar aquilo da minha cabeça?", e deixou a mente retornar á antiga peça que Tiago conseguira arrematar contra os dois amigos. Claro, só um digno Maroto conseguiria enganar outros dois, e no caso de Pontas, isso era uma perspectiva muito constante.
Seus pensamentos voaram até o Salão de Hogwarts, Sirius, ele, Tiago e Pedro, lado á lado na mesa de refeições. Aparentemente Sirius e Tiago estavam submersos numa conversa de extrema gravidade, obviamente, os olhos enterrados na mesa da Sonserina. Sirius havia proposto que Tiago usasse a Capa da Invisibilidade para invadir o dormitório feminino sonserino, com todo o estoque semanal da Zonko's, que eles faziam absoluta questão de recarregar toda a semana, e derramar "acidentalmente" Pó de Vômito nas toucas de banho que ficavam em estantes nos armários dos banheiros. Certamente, era uma tarefa muito arriscada, e Sirius só havia idealizado para assistir as vaidosas primas correndo para a Ala Hospitalar, com gosma fétida escorrendo pelos cabelos brilhosos e tão cuidadosamente arrumados. Mas nada era um desafio impossível para Tiago.
E Sirius, inocente, apostara que ele nunca iria conseguir realizar o dito. Tiago propôs que, se ele vencesse a aposta, Sirius teria que beijar apaixonadamente(isso foi acrescentado pelo próprio Tiago) a primeira pessoa que depositasse os pés na Torre Grifinória, sem distinção de aparência, sexo, ou idade. Claro, os dois aceitaram.
Mas o que o pobre Sirius não poderia imaginar, é que, ao anoitecer, Tiago fizesse uma aparição meteórica na Sala Comunal, enrolado na capa, e com o sorriso debochado que viam por tantas vezes, sorriso de triunfo, sucesso. O queixo de Sirius quase abordava o chão, e Pedro parecia haver esquecido completamente de mastigar os feijõezinhos. Maravilharam-se ainda mais quando os gritos agudos e horrorizados correram o castelo, e muitos se reuniram perto da lareira, investigando o que poderia ter assolado a escola daquela vez.
Mesmo que Tiago houvesse corrido como um maratonista para alcançar o dormitório da sonserina em plena noite, os berros podiam ser ouvidos com precisão da lareira. A mochila de Tiago ainda tinha alguns vestígios do Pó de Vômito, quando o garoto explodiu em risadas, ao ver vários monitores na entrada, e Sirius estremeceu, perguntando-se se Tiago ainda se lembraria que o amigo teria que pagar pelo prometido. A fila de monitores discutia acaloradamente, alguns muito suados com segundanistas sonserinos resmungando meia dúzia de maldições, segurando as mechas cobertas de uma lama que em muito se assemelhava á vômito. Remo estava á frente deles, assim como Lílian, que conduzia todos á Ala Hospitalar, tentando finalizar o efeito do pó com a própria varinha. Apesar de muito ocupado, Remo parecia muito consciente do dono da peça, seu olhar correu toda a Sala Comunal, antes de entrar, e parou em Tiago que se contorcia de tanto gargalhar, Pedro o acompanhando.
Sirius demonstrava estar muito ofendido, e quase não reparara que o amigo se erguera, com Pedro nos calcanhares, ambos localizaram Remo no final do corredor, e desataram a berrar, aos plenos pulmões: "Remo, a lua cheia!Lua-cheia!Vem dar uma olhada!", certos do mais temido perigo para o amigo, e não se importando muito com os alunos que os olhavam com curiosidade, ruminando a idéia de que os Marotos estavam por trás da confusão noturna. Remo, sobressaltado, correu para a Sala Comunal, quase fazendo Tiago e Pedro desabarem nele. Sirius escondia o rosto nas mãos, e nem fazia idéia da razão para tanta comoção. A última coisa que conseguiu recordar, era Sirius sussurrando um muito embaraçado "Tudo bem, desde que seja rápido e indolor", e Tiago sorrir travessamente. Ele e Pedro se entreolharam com profundidade, e um pareceu desvendar o pensamento do outro. Um segundo depois, os dois garotos agarraram Remo pelos braços e pernas, imobilizando-o. Sirius se aproximou, mas acanhado que nunca, e o beijou com rapidez e relutância. O Salão, Tiago e Pedro detonaram em risadas quando Remo e Sirius se afastaram, ambos fumegando de timidez. Um minuto depois, Sirius descia e subia as Torres, exasperado, atrás de Pedro e Tiago, determinado a atirá-los impiedosamente em uma das lareiras.
Os dois voltaram a rir da recordação quando mais um vidro de sabão líquido com um aroma dominante de lavanda encheu a água, e Sirius se antecipou em desfazer os botões a camisa social que Remo trajava, plantando mimos, beijos e afagos em todo o corpo descoberto do lobisomem, secando-o primorosamente com uma toalha felpuda.
