Harry Potter e o Pássaro de Ouro

by Layse Ravenclaw

 

 

SINOPSE:

Harry Potter está em seu 5º ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde esperam por ele novos desafios, novos amigos e novos inimigos. Além dos velhos inimigos. Lord Voldemort está de volta, mais forte do que nunca, e dessa vez conta com uma nova aliada, que lhe entregou a mais poderosa e temida das criaturas. E seu alvo principal continua sendo Harry Potter.

Hogwarts está diferente; a comunidade mágica está diferente. O pânico se espalha aos poucos pela população, e raros são os que se sentem seguros. Mas aqueles que confiam num misterioso grupo de justiceiros que luta contra as forças das trevas conseguem enxergar alguma esperança no dia de amanhã.

Nossos protagonistas se metem em muitas confusões, e precisam aprender a lidar com as novidades dessa conturbada fase da vida que é a adolescência. E Harry descobre o amor; ou, pelo menos, aquilo que ele imagina que é o amor.

NOTA: spoilers de 1 a 4

Prólogo

Em uma propriedade no povoado trouxa de Little Hangleton, erguia-se uma imponente casa senhorial, já muito desgastada e maltratada pelo tempo. Os habitantes das redondezas imaginavam que a casa estivesse vazia; eles não podiam saber que dois bruxos a ocupavam. Lord Voldemort encontrava-se sentado no que ele chamava de "Meu Trono", na realidade uma poltrona que cheirara a mofo e umidade, e que fora restaurada por um de seus servos incompetentes, o Goyle. Ela agora estava forrada com veludo verde escuro, e botões prateados prendiam o tecido à madeira. Eram as cores de seu ancestral, Slytherin, o maior dos quatro grandes de Hogwarts.

— Vá chamá-la, Rabicho. Quero vê-la agora. E relaxar um pouco... — um sorrisinho esboçou-se no seu rosto — Depois continuaremos traçando os planos para chegar ao Santuário. Eles não perdem por esperar.

— Eles nem ao menos têm que esperar, não é, milorde? — sua voz estava nervosa — Com tantos servos querendo chamar a atenção de milorde, eles têm tido bastante trabalho, mesmo sem a arma principal...

— Não seja tolo, Rabicho. Dumbledore sabe que não me contento com pouco. Que se estou quieto até agora, é porque preparo algo maior e mais grandioso do que ele consegue imaginar. E ele está certo. — outro sorrisinho entortou de leve seu rosto de serpente — O velho caduco acha que está preparado para me enfrentar. Mas ele não espera que eu use uma arma que não pode ser neutralizada, que não pode ser destruída. Jamais passaria pela cabeça dele o que nós estamos fazendo, Rabicho. E essa é a nossa vantagem.

— Claro, milorde, como sempre, o senhor está certo. C-com licença, vou trazê-la para o senhor.

O homenzinho retirou-se e voltou minutos depois acompanhado. A mulher que ele trouxera olhou para o bruxo sentado na poltrona, correndo os olhos para a serpente que ondulava de maneira medonha sobre o tapete e, ocultando seu asco, sorriu.

— Mandou me chamar, milorde?

— Sim. — ele sorria maldosamente. A mulher agitou levemente os cachos prateados e caminhou na direção do bruxo.

Cap. 1 – O erro de Duda

Harry estava sentado na calçada da rua dos Alfeneiros, em frente ao nº 4, contemplando o asfalto à sua frente com o olhar perdido. Volta e meia desviava o olhar do asfalto e voltava-se para o pesado malão ao seu lado. A qualquer momento o sr. Weasley chegaria e o levaria dali, e Harry sabia o que o aguardava. Uma carta dizendo que ele tinha sido expulso de Hogwarts, é claro. Talvez ele até voltasse para o castelo, mas, chegando lá, encontraria a profª Minerva McGonagall de prontidão, pronta para quebrar a sua varinha. Era uma visão terrível, a da sua varinha sendo partida ao meio, mas ele não podia evitar porque por mais que tentasse desviar seus pensamentos eles teimavam em se voltar para a grande burrada que acabara de fazer.

Enfeitiçar Duda... Era a última coisa que Harry deveria ter feito. E, no entanto, ele fez. Agora Duda estava lá, largado no sofá, cercado por tio Válter e pela tia Petúnia, com galhos cheios de maçãs brotando atrás das orelhas. Estava ridículo, é verdade, e Harry sentia uma vontade imensa de cair na gargalhada, mas era impedido pelo seu estômago, que revirava de dor, como se fosse inconcebível a idéia de ele achar qualquer coisa engraçada na iminência de ser expulso de Hogwarts.

A verdade é que Duda tinha merecido aquela macieira na cabeça. No dia anterior, tio Válter tinha mandado Harry ao mercado comprar carvão para um churrasco que eles dariam na casa dos Dursley em comemoração aos "lucros estratosféricos" que a Grunnings, a empresa de brocas da qual tio Válter era diretor, tinha alcançado, graças a um "excelente contrato" que ele conseguira assinar com o sr. Mason, finalmente, depois de tanto tempo tentando, desde que Harry arruinara o jantar deles há três anos.

Harry voltava do mercado com dois enormes sacos de carvão, um em cada braço, quando foi interceptado por dois grandalhões mal-encarados. Antes que pudesse se dar conta do que estava acontecendo, foi acertado por um direto no estômago. Alguém o segurou por trás, enquanto arrancavam os sacos de carvão e batiam com eles na sua cabeça. Logo ele estava estirado no chão, cheio de dores por todo o corpo, o carvão espalhado pela calçada, ouvindo uma mulher gritar feito uma maluca que uma gangue espancara um garotinho indefeso em frente à casa dela.

Harry queria dizer que não era um garotinho, e não era indefeso, mas não conseguiu porque quando abriu a boca tudo o que ele sentiu foi um gosto horrível de sangue. Contentou-se em ser levantado por um rapaz com cara de débil mental e ser levado, cambaleando, até à casa dos Dursley. Tia Petúnia ficara horrorizada com a visão de Harry absolutamente imundo em sua sala, e tio Válter só faltava botar fogo pelo nariz.

— Será que você não consegue agir como uma pessoa normal? Nem ir ao mercado você pode sem se meter em confusão! Hoje nós temos um encontro importantíssimo, e tudo o que você faz é arruiná-lo, como sempre fez, arruinou nossas vidas desde que chegou a esta casa!

Harry ficou indignado. Ele acabara de ser espancado, e tio Válter parecia nem ter se dado conta que ele estava cheio de cortes e de sangue. Sentiu uma imensa vontade de voar no pescoço do tio Válter, mas desistiu porque se lembrou de que tio Válter não tinha pescoço. Então ele murmurou um "Estou indo para o meu quarto" e subiu as escadas. Tomou um banho gelado, sentindo arder cada ferimento novamente, mas consciente de que logo estaria melhor. Pensou na única coisa que costumava pensar que o consolava quando estava com vontade de fazer o mundo explodir: Hogwarts. Faltavam duas semanas para Harry voltar para Hogwarts, e ele não tinha conseguido sair da casa dos Dursley ainda. Olhou para a gaiola vazia de Edwiges, que estava entregando uma carta para Sirius. Então abriu a gaveta, e começou a reler as últimas cartas que recebera de seus amigos.

Harry só conseguiu se levantar às 10h na manhã seguinte. E, estranhamente, tia Petúnia não viera acordá-lo aos berros. Ainda com dores pelo corpo, ele desceu as escadas e não encontrou ninguém, a casa estava completamente vazia. Isso era definitivamente estranho, os Dursley jamais o deixavam sozinho em casa, com medo de a encontrarem destruída quando voltassem. Então Harry lembrou-se que era o aniversário de Pedro Polkiss, um chato da turma do Duda, e que os Dursley passariam o dia todo fora. Mal conseguindo acreditar na própria sorte, Harry foi até a cozinha e preparou um super café da manhã. Fritou ovos, bacon, e comeu até o cereal do Duda. Há muito tempo ele não comia bem assim, desde que estava em Hogwarts. Depois, lavou todas as louças, achando que seria melhor tia Petúnia não suspeitar que ele andava comendo coisas escondido.

Quando saiu no jardim para tomar um ar fresco, Harry avistou os dois malucos que tinham batido nele no dia anterior. Mais que rapidamente, ele se escondeu atrás da estátua de pedra de um homenzinho de farda, pois não queria que o vissem. Os brutamontes foram se aproximando, até parar em frente à porta do nº 4 e tocar a campainha. Seria possível que eles tinham vindo ali para terminar o serviço e matar Harry de uma vez? Harry achou que não seria um jeito muito legal de morrer, assim, de pancada. Ele só não conseguia entender por qu. Não tinha a menor idéia de quem seriam aqueles caras e muito menos por que o estariam perseguindo. Achou que talvez fosse porque simplesmente o viram um dia na rua e não foram com a cara dele. O que, aliás, era bem possível, já que eles pareciam meio pirados, mesmo. Mas a resposta para suas dúvidas veio quando ele ouviu um trecho da conversa dos dois.

— ...Duda está nos enrolando, ele devia ter vindo falar com a gente ainda ontem.

— Eu não quero nem saber, se ele não botar a grana nas nossas mãos agora, eu vou encher ele de porrada!

— Ele é muito burro, não? Podia ter batido no magrelo sozinho, nem precisava gastar dinheiro conosco. Mas é ridículo, ele parece que tem medo daquele fracote...

— O loirinho banhudo é mesmo uma comédia!! A vontade que eu tenho é de bater nele, sabe, ele me irrita. Só não faço isso porque sou muito bem pago... Você não acha que ele está demorando muito?

— Vai ver não tem ninguém em casa... Vem, a gente volta outra hora.

Enquanto os dois iam embora, Harry sentia a raiva crescer dentro dele, como se ele estivesse se incendiando por dentro, o fogo consumindo suas entranhas. Duda era o culpado, Duda tinha pagado àqueles hipopótamos para baterem nele. Duda era um covarde, morria de medo de fazer qualquer coisa contra Harry, um pouco por medo do próprio Harry, mas muito mais por medo de Sirius. Provavelmente achou que se alguma coisa acontecesse a Harry, sem que ele soubesse que tinha o dedo gordo do Duda no meio, Sirius não poderia fazer nada, não podia acusar Duda nem transformá-lo numa lesma gigante e gosmenta.

Decidiu que iria se vingar. Mal podia esperar para ver.

Então, quando os Dursley chegaram no finalzinho da tarde, cantarolando alegremente, Harry entrou em ação.

— Dois caras estiveram aqui hoje de manhã, procurando por você, primo.

Duda ficou subitamente pálido.

— Q-quem eram eles? O que eles queriam?

— Receber uma grana que você está devendo. — Harry sorriu cinicamente — Pelo showzinho de ontem. Sabe, os socos no meu estômago, esses cortes aqui, o carvão na calçada.

Tio Válter mantinha uma expressão de levemente intrigado, enquanto tia Petúnia estava decididamente horrorizada. Ela ficava horrorizada com tudo. E Duda estava ainda mais pálido. Harry continuou:

— Parece que eles não estão muito satisfeitos com o seu calote. Acho que estão com uma vontade incontrolável de socar você, também.

Duda gaguejava, tentando se explicar.

— Não, primo, acho que eles se enganaram, eu não fiz trato nenhum com ninguém, eu não paguei para ninguém bater em você, é... é sério... Isso é uma tremenda mentira...

— Eu só acho — interrompeu Harry — Que se você vai apanhar na rua, devia ter uma arma para se defender.

E pegou a varinha que ele estava segurando nas costas. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, tio Válter pulou na frente de Duda, ficando entre ele e Harry.

— Não vou permitir que você dê essa coisa para o meu filho, não você deixar você transformar ele num anormal como você! Ele jamais vai encostar nessa... vareta! E ele não vai fazer bruxarias!

— Não era essa a minha intenção, tio Válter — ele respondeu calmamente, saindo do alcance das garras gordas de tio Válter — Eu pensei em algo mais prático, como uma galharia.

E, ao dizer isto, apontou a varinha para Duda e um lampejo marrom saiu da ponta dela acertando Duda no nariz. Galhos verdes brotaram atrás das orelhas dele, e começaram a frutificar. Pequeninas maçãs surgiram, e começaram a crescer. Harry ficou apenas observando os galhos cresceram e engrossarem, e as maçãs incharem. Estava se acabando de tanto rir.

Tia Petúnia estava desesperada, tentando arrancar os galhos da cabeça de Duda.

— Não, mamãe... Ai! Está doendo! Não, não puxa!...

Tio Válter estava com tanto ódio de Harry que mal conseguia falar. Sua imensa cara ganhara uma cor quase roxa, como se fosse explodir a qualquer momento. Tudo o que ele conseguiu foi gritar, quase sem fôlego, e enchendo Harry de cuspe.

— FORA... DA MINHA... CASA...! E NÃO VOLTE... NUNCA... MAIS...! SEU MOLEQUE... ATREVIDO... E ANORMAL!...

— Com todo o prazer! — berrou Harry em resposta, ainda com raiva, mas bem mais aliviado porque conseguira se vingar de Duda.

Ele pulou para trás do sofá, pegou o malão que tinha deixado arrumado e a gaiola vazia de Edwiges, e se precipitou para a porta da frente. Mas, nesse instante, uma grande coruja negra entrou voando e deixou cair uma carta na cabeça de Harry. Ele abriu.

Prezado Senhor H. Potter,

Acabamos de ser informados que um feitiço Arborum foi realizado em sua residência às 7:23h da tarde de hoje.

De acordo com o Decreto Para Restrição Racional da Prática de Bruxaria por Menores, 1875, parágrafo C, bruxos menores de idade não formados não podem fazer feitiços durante o período das férias.

Notificaremos a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts sobre o uso ilegal de magia pelo senhor, a fim de que possam tomar as providências necessárias.

Atenciosamente,

Mafalda Hopkirk

Escritório de Controle do Uso Indevido de Magia

Ministério da Magia

Harry terminou de ler a carta estupefato, dobrou-a rapidamente, enfiou-a no bolso de qualquer jeito, e já ia saindo quando outra coruja chegou derrubando um bilhete para Harry. Ele reconheceu como sendo Hermes, a coruja de Percy.

Harry,

Eu soube o que aconteceu. O Ministério vai notificar Hogwarts, querem que eles vejam uma punição para você. Acho que pretendem que você seja expulso. Mas não esquenta, papai prometeu aliviar as coisas para o seu lado. Fique pronto, espere na rua, estamos indo te buscar agora.

Rony.

Ele saiu correndo para a rua, sentou-se na calçada, esperando, o ar morno de fim de tarde a lhe fazer companhia. Escureceu, e Harry ainda estava lá. Não se preocupou em saber quanto tempo tinha passado; pareceu-lhe que eram horas.

E agora estava lá, com o olhar perdido, esperando. Sua cabeça estava em turbilhão, mais de uma vez ele achou que fosse ser expulso de Hogwarts, mas não era como agora. Ele enfeitiçara Duda, por vontade própria, usando uma varinha, chamando a atenção dos trouxas. Se algum dos vizinhos visse aquilo, o Ministério ia ter um bocado de trabalho. Ele planejara o feitiço, não fora um descontrole, como naquela vez com tia Guida. E Rony também achava que Harry seria expulso, o que significava que isso provavelmente aconteceria. Não era só paranóia.

Harry desviou os olhos do asfalto e olhou para o céu da rua dos Alfeneiros.

"Não é como o céu de Hogwarts", pensou. Voltou os olhos para o asfalto, e tornou a olhar para o céu. Seria possível?

Um pontinho verde no céu vinha crescendo, aproximando-se. À medida que chegava mais e mais perto, Harry notou que tinha uma forma retangular. Decididamente, não se parecia com um carro. Era um retângulo estampado em vários tons de verde, com desenhos florais, que crescia a cada segundo. E só quando a coisa aterrissou, pairando a uns 40 cm do chão, foi que Harry pôde entender de que se tratava. Quatro Weasleys, o sr. Weasley, Rony, Fred e Jorge, vieram buscá-lo. De tapete voador.

(continua...)