Cap. 3 – Um ataque de Comensais
Harry acordou na manhã seguinte sentindo-se animado e bem disposto. Rony já estava de pé, trocando seu pijama por uma roupa mais apropriada, e lhe falou animadamente:
— Acorda logo seu preguiçoso! Vamos ao Beco Diagonal esta manhã. Venha tomar café.
Harry olhou para o amigo sem entender. Era quase como se a discussão da noite anterior nem tivesse acontecido. Mas achou que era melhor assim, não estava com cabeça para ficar martelando nesse assunto e muito menos para pedidos de desculpas.
— Eu já vou.
Vestiu-se e desceu para a cozinha com Rony, onde já estavam reunidos Gina, Fred e Jorge, e o sr. e a sra. Weasley. Percy não estava lá.
— Percy está dormindo? — perguntou a Rony.
— Ah, não. Ele saiu para trabalhar.
— Já?! — espantou-se Harry.
— Para você ver, Harry, que Jorge não estava brincando quando diz que Percy virou praticamente um zumbi.
Harry e Rony sentaram-se à mesa. O sr. Weasley, que estava lendo o Profeta Diário enquanto bebericava uma xícara de café, cumprimentou-os animado.
— Bom dia, garotos! Vejo que dormiram bem.
— Humhum — fez Rony.
— Bom dia, Harry. — cumprimentou Gina, timidamente.
— Bom dia — ele respondeu. Não pôde deixar de notar como ela estava... crescendo. Não que isso significasse alguma coisa, porque era de Cho que ele gostava, mas era impossível Harry não admitir para si mesmo que a irmã caçula do seu melhor amigo estava ficando uma belezinha. Então desviou o olhar para sua caneca, como se temesse que ela pudesse ler seus pensamentos.
A sra. Weasley começou a servi-lo de salsichas e pão.
— Hoje vamos comprar o material escolar de vocês. — e lançando um olhar faiscante aos gêmeos, continuou — E desta vez, não quero ninguém tentando entrar na Travessa do Tranco enquanto eu compro asas de besouro indiano. Estamos entendidos?
— Ora, mamãe, não estávamos tentando ir à Travessa do Tranco, estávamos apenas tentando resgatar a coruja do Rony! — falou Jorge, fingindo indignação.
— É verdade! — disse Fred — Pichitinho ficou louco, não podíamos deixar ele entrar sozinho naquele lugar! Nós tentamos impedi-lo, mas sabe como ele é pirado...
— Vocês mandaram Pichitinho ir até lá! — berrou a sra. Weasley — A coruja não tirou essa idéia do nada! Vocês usaram o pobrezinho como desculpa para suas travessuras!
— Como pode pensar tão mal da gente, mamãe?! — falou Fred, tentando parecer inocente — Nós nunca faríamos uma coisa dessas!
— Claro que não... — resmungou a sra. Weasley, ainda nervosa, num tom de quem não acreditava realmente no que acabara de ouvir — Mas nada de arranjar confusões hoje, está bem?
— Pode deixar, mamãe, vamos nos comportar como anjinh... — Jorge começou a falar, mas foi interrompido por uma exclamação alta e revoltada do pai.
— O que foi, Arthur? — perguntou a sra. Weasley preocupada.
— Leia isto. — respondeu o sr. Weasley, entregando-lhe o exemplar do Profeta Diário que ele estava lendo.
— Por Merlin!— ela levou uma mão à boca e deixou cair no chão com estrépito a chaleira que estava segurando. Olhava horrorizada e boquiaberta para o que quer que fosse que estava estampado no jornal.
Os gêmeos levantaram-se e contornaram a mesa indo em direção à mãe para ver o que a assustara tanto. Pegando o exemplar da mão dela, Fred exclamou.
— É a Marca Negra!
Tomando o Profeta Diário do irmão, Jorge leu em voz alta:
— "Ataque de Comensais da Morte na Bulgária".
Tomado pela curiosidade, Harry também foi ver o jornal, e viu o crânio brilhando na foto em preto e branco, a cobra saindo pela boca, pairando sobre uma casa com enormes jardins.
Rony pareceu subitamente desesperado.
— Não é a casa do Krum, é? Por favor, diz que não é!
— Não, não... — disse Harry, enquanto lia a notícia — Aqui diz que é uma casa de trouxas... Foi ontem, por volta das nove horas... Os vizinhos viram a Marca Negra e ligaram para a polícia dos trouxas, eles invadiram a casa e encontraram os corpos... Um casal e duas meninas pequenas... O Ministério da Bulgária teve muito trabalho para apagar a memória de toda essa gente...
À medida que lia, Harry se sentia tomado por uma profunda tristeza. Não lamentava tanto pela morte daquela família de trouxas que ele sequer conhecia, mas sim pelo que isso representava. Os Comensais da Morte agindo tão abertamente... Os tempos horríveis de que todos tinham medo estavam de volta...
Ele olhou para Rony e viu que Gina o estava abraçando, parecia estar tentando consolá-lo.
— Foi uma casa de trouxas, Rony, você ouviu... Mione está bem, tenho certeza de que está...
Então Harry lembrou-se. Como podia ter esquecido? Mione fora com os pais passar os últimos dias de férias na casa de Vítor Krum, na Bulgária. Era por isso que Rony andava tão nervoso e irritadiço. Ciúmes. Não tinha nada a ver com preocupação por causa da volta de Voldemort. Era pura e simplesmente porque Hermione estava naquele exato momento divertindo-se com Krum em algum lugar da Bulgária.
A sra. Weasley conseguiu se recuperar do choque assim que o sr. Weasley jogou-lhe um copo d'água no rosto.
— Você está bem, querida? Vamos, Molly, diga alguma coisa!
— Talvez seja melhor irmos ao Beco Diagonal amanhã... — sugeriu Gina timidamente.
— Não, querida — falou a sra. Weasley, levantando-se da cadeira em que estivera estirada, enquanto enxugava o rosto — Os Comensais não estão atacando o Beco Diagonal, estão? Então não há motivo para preocupações.
— Mas, mamãe, você acabou de...
— Isso não importa, eu estou bem de novo. Então... vamos?
— Claro, mamãe, vamos ver se encontramos alguns amigos por lá para comentar o ataque desta noite — falou Fred excitado.
E, servindo-se de Pó-de-Flu, Harry e os Weasley foram até o Caldeirão Furado, e de lá, para o Beco Diagonal, onde as mais fantásticas lojas de artigos de bruxaria apresentavam-se na rua apinhada de gente. Passaram em frente à Artigos de Qualidade para Quadribol, onde Harry pôde ver na vitrine uma vassoura igualzinha à dele — a Firebolt ainda era, de longe, a melhor vassoura do mundo. Ao que parecia, a tentativa da fabricante de vassouras Nimbus de desbancar a maravilhosa Firebolt com suas Nimbus Jet não estava dando muito certo, a julgar pelos pacotes de Nimbus Jet encalhados no fundo da loja.
Ladearam a rua até chegar em frente a um prédio de mármore branco, o banco de Gringotes, onde Harry resgatou uma bolsa cheia de moedas de seu cofre particular, e os Weasley as suas poucas economias. Depois, seguiram para a Floreios e Borrões a fim de comprar os livros, penas e pergaminhos para o novo ano letivo. O sr. e a sra. Weasley disseram que tinham assuntos a tratar e mandaram as crianças se divertirem enquanto eles estavam ocupados.
— Não sei onde ela está vendo crianças aqui — comentou Rony — Até mesmo Gina já tem 14 anos. Francamente!...
— Ei, Rony — chamou Jorge, enquanto Fred puxava o irmão mais novo pelo braço — Venha ver! O presente que lhe prometemos! — e dizendo isso, piscou para Harry.
Os gêmeos arrastaram Rony para dentro da loja de Madame Malkin, enquanto Harry, aturdido, seguiu-os, com Gina em seu encalço.
— O que...
Mas antes de alcançar a loja, ele ouviu uma voz que reconheceu na hora chamando pelo seu nome.
— Harry! Hei, Harry!
Era Colin Creevey, que vinha correndo pelo Beco Diagonal em sua direção, seguido pelo irmão Denis.
— Tudo bem, Harry? Puxa, legal ver você aqui! Oi Gina!
— Oi, Colin — responderam os dois, em uníssono. Gina visivelmente mais animada com a presença dele do que Harry, que notou que Colin, graças a Deus, não trazia uma máquina fotográfica.
— Desculpe, Colin, Denis, eu tenho que ir, Rony está lá dentro, eu vou ver como ele está...
— Mas, Harry... Eu quero mostrar uma coisa pra você, espera...
Só que Harry não estava mais ouvindo. Ao entrar na loja Madame Malkin – Roupas para Todas as Ocasiões, deparou-se com Rony sorrindo de orelha a orelha, uma caixa na mão, enquanto os gêmeos acertavam com a dona da loja.
— Veja, Harry, vestes a rigor novas! — e abrindo a caixa mostrou uma veste alaranjada com detalhes em negro — Não é linda?
Era realmente bonita. Bom, comparada com as vestes que Rony usara no Baile de Inverno do ano anterior, essa era maravilhosa. "Pelo visto, Fred e Jorge cumpriram com a promessa", pensou Harry, enquanto elogiava a boa ação dos gêmeos, dando-lhes depois uma piscadela sem que Rony visse.
Ao saírem para a rua, avistaram Gina entretida numa animada conversa com Colin Creevey, enquanto Denis lambia um enorme sorvete da Florean Fortescue, sem sequer dar atenção a eles.
— Olha lá — apontou Fred — Até que eles formam um casal bonitinho!
— Eu não acho! — resmungou Rony — Garoto chato. Vou lá chamar Gina.
— Ah, não vai, não! — retrucou Fred, segurando o irmão pela gola por trás, o que quase o estrangulou — Deixa ela em paz, Rony, eles estão só conversando. São colegas, esqueceu?
— Humpf — fez Rony, com a cara amarrada.
Harry nem fez questão de esconder o quanto achara a cena engraçada.
— Você está ridículo, Rony, bancando o irmão ciumento — disse ele aos risos.
Eles passaram o resto da manhã no Beco Diagonal, onde encontraram alguns conhecidos de Hogwarts. Conversaram com Simas Finnigan e Lilá Brown que, para surpresa deles, estavam namorando.
— É, desde a semana passada — contou Lilá, levemente corada, em meio a uma risadinha.
— Eu já gostava dela há algum tempo, sabem, faltava coragem para pedir ela em namoro — confidenciou Simas mais tarde.
Harry olhou para Rony significativamente, quando Simas perguntou de Hermione, mas ele não pareceu entender.
Quando estavam no Caldeirão Furado, preparando-se para ir embora, Harry ouviu dois garotos um pouco mais velhos do que ele conversando sobre quadribol. O garoto moreno, mais alto e forte dizia:
— ...um fracasso de vendas a nova Nimbus Jet, meu tio me contou.
— O que é uma pena — dizia o outro, que usava óculos quadrados e tinha os cabelos muito pretos — Uma excelente vassoura, e não é tão cara quanto a Firebolt, claro que também não é tão boa.
— De qualquer forma, tio Roger teve um prejuízo danado, vai tentar devolver o estoque encalhado para a fábrica, acho que ele não vai conseguir, não...
— Minha mãe comprou uma pra mim o mês passado, se eu soubesse que seu tio estava tendo tantos problemas, teria pedido a ela que comprasse aqui e não lá em Hogsmeade...
Então Harry entrou na lareira e ordenou que o mandasse para a Toca.
O almoço na Toca estava delicioso, como tudo o que a sra. Weasley preparava. À tarde, Fred e Jorge mostraram suas últimas invenções para Harry.
— Estas são mais algumas das inocentes diversões Gemialidades Weasley, patrocinadas por Harry Potter — anunciou Jorge, despejando um punhado de coisas que não pareciam nada inocentes em cima da cama. — Esta gelatina fez Rony soluçar soltando bolhas azul-escuras pela boca por duas horas. E este pirulito deixou Gina com as orelhas inchadas e peludas.
— Eles são nossas cobaias, sabe — explicou Fred — Na falta de alguém disposto a comer nossos doces, nossos queridos irmãozinhos comem sem saber. Caso contrário, eles não concordariam, sabendo que a cara pode ficar cheia de pintinhas verdes.
(continua...)
