Cap. 13 – Tensão e Revelações
Não foi preciso muito esforço para espantar os alunos dali. Bastou que Hermione apontasse a varinha para eles com uma expressão ameaçadora que todos se dispersaram, já assustados com as possíveis conseqüências daquela briga que já arrasara uma boa parte do salão principal. Rony ficou parado com a boca aberta olhando a cena, enquanto Harry e Hermione junto com Sirius tentavam intervir.
Não era possível entender quase nada da discussão, mas Harry pôde ouvir claramente quando Remo perguntou "Por que nos chamou, então?", e Najla respondeu "Porque estamos em perigo!". Afora isso, uma ou outra ofensa de fraqueza, covardia, omissão e crueldade escapavam para seus ouvidos.
Quando desviou o olhar para o portal do outro lado do salão, Harry viu Dumbledore entrando, parecendo muito fraco e doente, e a profª McGonagall logo atrás dele, com o rosto tão preocupado como poucas vezes ela demonstrara antes.
Dumbledore, com muita dificuldade, caminhou na direção do redemoinho, até chegar perto o suficiente para falar, com a voz incrivelmente firme para quem parecia tão fraco:
— CHEGA!
O vento cessou, o redemoinho se desfez, os dois se calaram, sem desviar o olhar um do outro. Olhares que não revelavam ódio, e sim raiva e muita mágoa. Com a voz firme e a autoridade que só ele era capaz de exalar, o diretor falou:
— Que isso nunca mais se repita. Não quero presenciar outra cena como essa. — ele calou-se e fitou Najla e Remo, esperando uma mudança nas suas expressões, o que não ocorreu. Respirando fundo, ele dirigiu-se à ninfa — Najla, na minha sala, agora — a ninfa se retirou sem sequer olhar para Dumbledore, e seguiu pelo caminho que levava à sala dele. Desviando o olhar para Remo, Dumbledore completou — Vocês têm muito o que conversar. Civilizadamente. Venha comigo.
Quando os dois se retiraram do salão, a professora McGonagall falou, com a voz muito nervosa e estranhamente rouca:
— Que bagunça!... Tenho... Vou chamar os elfos para organizarem isso aqui... — e saiu.
Rony e Hermione trocaram um olhar inquisidor e depois olharam para Harry. Ele entendeu o recado e voltou-se para Sirius.
— Você vem conosco. Vai nos explicar direitinho o que significa isso que aconteceu aqui.
E saiu arrastando o cachorro.
— Onde podemos ir para que ninguém veja o Sirius transformado? — quis saber Rony.
— Bom... — começou Mione — Sempre tem o banheiro da Murta-Que-Geme...
— Da Murta...? Háhá, eu é que não volto mais lá!
— É a melhor opção que temos — falou Harry — Teremos certeza que ninguém vai flagrar o Sirius se estivermos lá.
Com Sirius literalmente arrastado e com Rony um tanto contrariado, eles seguiram para o banheiro feminino do segundo andar. Ignorando a placa "interditado" que continuaria eternamente pregada naquela porta, eles entraram.
Não havia nem sinal da Murta por ali, a julgar pelo silêncio que havia no local. Sirius transfigurou-se em homem e mirou os três, aborrecido.
— Por que me trouxeram aqui?
— Para você nos contar tudo. Pode começar dizendo por que eles estavam brigando — falou Harry em tom imperativo.
— Eu não tenho a menor idéia! Sei lá por que eles estavam brigando, e vamos encerrar esse interrogatório por aqui e sair logo deste lugar.
— Você sabe — disse Harry entre os dentes — Dava para perceber que você sabia pela sua expressão quando viu o que estava acontecendo.
— Hahaha, muito engraçado — retrucou Sirius com ironia — É realmente uma coisa simples compreender o significado das expressões de um cachorro. Os cães têm uma gama muito variada de expressões faciais.
— Sirius — pediu Hermione com jeito — Nós só queremos ajudar. E achamos um tanto óbvio que você saiba o motivo da discussão, afinal você saiu correndo para apartar a briga, antes mesmo de ver que eram os dois que estavam discutindo. Não foi difícil notar que você já sabia.
Sirius cruzou os braços contrariado e respondeu:
— Não vou me meter na vida dos outros, não mesmo! Não me peçam para fazer isso, o que quer que houve entre eles não me diz respeito.
— Não é "se meter na vida dos outros"! — retrucou Harry um tanto indignado — Não estamos falando de pessoas quaisquer! Estamos falando do seu melhor amigo e... da minha madrinha.
Sirius lançou a Harry um olhar que não demonstrava surpresa, e falou, como quem faz uma simples constatação:
— Então ela já lhe contou.
— É, contou sim. Mas não contou tudo, pelo que eu percebi agora. Vai me contar o resto ou não?
— Harry, você faria melhor se não se metesse nessa história. Até eu faço o máximo para evitar...
— Por favor, Sirius. — pediu Harry.
— É, Sirius, conta — interveio Rony, movido muito mais pela curiosidade do que por qualquer outra coisa — Explica para a gente por que eles se detestam tanto. Qual o problema entre eles?
— É muito mais complexo do que isso. Não estamos falando de um simples problema. Estamos falando de duas vidas, da história de duas vidas que poderia ter sido completamente diferente não fosse por essa maldita mania que ele têm de agir como duas crianças mimadas.
— Como assim? — perguntou Harry — O que há entre o Remo e a minha madrinha?
Aparentemente vencido pelo cansaço, Sirius resolveu contar.
— Harry, a Najla e o Remo, eles... eles são...
— São...?
— São... casados — concluiu, com um suspiro cansado — Estão casados há mais de quinze anos.
Por essa Harry não esperava. Ele não conseguiu falar nada, e ouviu quando Rony perguntou, com um ar meio abobado:
— Mas... por que eles se odeiam tanto?
— Odeiam? — Sirius soltou uma risada de reprovação — Odiar... Sabem, eu nunca vi duas pessoas se amarem tanto.
Por um instante, Harry pensou em perguntar se por acaso os pais dele não tinha se amado muito também, mas desistiu quando percebeu que não convinha à situação e compreendeu que aquilo soaria completamente idiota. Aliás, não só soaria idiota, era absolutamente idiota.
— Mas então, por que... a briga, toda aquela cena que nós vimos? — inquiriu Rony, piscando os olhos muitas vezes, tentando entender.
— Então você acha que duas pessoas que se amam não brigam nunca? Você, por acaso, não briga com seus amigos, com seus irmãos? Mesmo assim vocês se amam, não?
— Mas não daquele jeito! — protestou Rony — Eu nunca tentei matar ninguém, muito menos alguém de quem eu gosto!
Sirius soltou uma risada zombeteira.
— Eles não estavam se matando, Rony! Simplesmente fugiu do controle. Ninfas fazem coisas assim sem notar, por isso é realmente perigoso deixá-las furiosas. Ela não destruiu o salão de Hogwarts de propósito, não mesmo!
— Parece que tanto a Najla quanto o professor Lupin guardam muito ressentimento um do outro... — comentou Hermione distraidamente.
— Realmente guardam — falou Sirius, sério novamente — Não é amor o que falta entre eles, fiquem certos disso. Falta compreensão. Eles não se entendem e, se vocês querem saber, acho que nem querem se entender. Nenhum dos dois faz o mínimo esforço para isso. São dois hipogrifos teimosos.
Harry olhou para Rony e Mione a sua frente. O amigo estava andando de um lado para o outro, e ela estava parada apoiada nas pias. Parecia a descrição perfeita para eles. Não conseguem se entender. São dois hipogrifos teimosos.
Com um pouco mais de melancolia, pensou em si mesmo, e na garota que gostava, e que provavelmente nunca saberia disso. Ao menos eles nunca haviam brigado, mas, àquela altura, parecia muito mais insignificante. Eles mal haviam conversado em dois anos. Harry pensou que preferiria viver brigando com ela do que se tratando como estranhos. Mas, afinal de contas, eles eram dois estranhos.
Um grito esganiçado vindo do último boxe quebrou o silêncio no banheiro.
— Almofadinhas!
— Ah, não! — fez Sirius, batendo com a mão na testa. Murta Que Geme veio flutuando até ele com uma expressão de arrebatamento e exclamou:
— Você veio me ver! Há quanto tempo você não vem me visitar!
Sirius balançava a cabeça de um lado para o outro, murmurando "Ai, eu não mereço, eu não mereço".
— Você cresceu, sabe — continuou a Murta — Ficou mais... homem, hihihi. E está tão bonito... — ela ficou dando risadinhas e provavelmente teria ficado vermelha se não fosse um fantasma. Sirius, por sua vez, estava bem vermelho. De raiva, ou vergonha, vai saber. — Ah, Harry! — exclamou ela assim que viu o garoto — Você também veio! Aiai, dois dos meus mais queridos admiradores estão aqui, juntos... Que emoção...!
— Vamos embora daqui — sibilou Sirius, puxando Harry pelo braço, enquanto dizia em voz alta — Foi um... hã... prazer rever você, Murta, mas... agora eu realmente tenho que... nós estamos com muita pressa se é que me entende... Então, até breve.
— Tchau, Murta — disse Harry já saindo na porta.
Quando saíram no corredor, Rony e Hermione estavam roxos e se acabando de tanto rir.
— Ai, Sirius — disse Rony entre os risos — Não me diga que a Murta também é apaixonada por você! Eu nunca imaginaria, sabe!
— Há há há, e o que é que você fazia no banheiro da Murta, hein? — perguntou Hermione, sem conseguir controlar as risadas — E que intimidade, você viu? Ela te chamou de Almofadinhas!
— Riam, podem rir — retrucou o bruxo irritado — Mas aquele banheiro era o único lugar seguro e de fácil acesso para que a gente pudesse preparar o Mapa do Maroto. E... falando nisso, como é que a Murta conhece você, Harry?!
Harry era outro que estava rindo, embora não tanto quanto os amigos. Mas ele bem que tentou fazer uma cara séria quando respondeu:
— Nós três precisávamos de um lugar seguro para preparar uma poção polissuco. Foi na época da abertura da câmara secreta, achávamos que Malfoy tinha algo a ver com isso, e nos disfarçamos de sonserinos. Mas, no final das contas, ele não tinha nada a verffhaha... — Harry engasgou no final com a própria risada, sem conseguir completar a frase.
— Entendo — disse Sirius com uma careta — E... você disse Malfoy? Seria por acaso o filho de Lucio Malfoy?
— É, seria. Você conhece ele, aquele comensal?
— Não muito bem, para falar a verdade. Ele estudou em Hogwarts na mesma época que eu, alguns anos adiantado. Eu me lembro até hoje — comentou ele com um sorriso — do dia que ele recebeu uma lição bem dada pela sua mãe. Ela tinha só 11 anos na época, já chegou na escola estraçalhando o Malfoy e provando que podia se tornar uma grande bruxa, como de fato se tornou.
Harry abriu a boca. Era a primeira vez que Sirius falava sobre Lílian Potter. Ele ia perguntar mais sobre ela, quando ouviram passos pelo corredor próximos dali. Rapidamente, Sirius transfigurou-se em cachorro. Quando a pessoa que estava andando apareceu na dobra do corredor, eles viram que era Gina.
— Ah, vocês estão aí — constatou a menina — E estão com o cachorro, bem que madame Pomfrey falou. Ela pediu que eu levasse Snuffles para a sala dela, parece que Dumbledore está querendo ele por perto. Vocês viram o estado do diretor? Nossa, eu nunca vi ele assim...
— O que ele tem? — perguntou Harry.
— Não sei. Olhando assim, parece uma gripe muito forte. Mas eu não me arrisco a dizer o que é. Tudo o que Madame Pomfrey diz é que o diretor está doente, precisa de repouso e não devemos incomodá-lo. Ela ficou realmente furiosa quando a profª McGonagall veio chamá-lo para resolver aquela confusão no salão principal.
— Mas você sabe se o que ele tem é muito grave? — insistiu Rony.
— Não, não sei. Madame Pomfrey não fala nada, nem mesmo para mim. Mas eu imagino que seja realmente grave, afinal, ele está de cama. De qualquer forma, eu vou levar o cachorro comigo, como ela pediu. Vem, Snuffles, vem.
Sirius acompanhou Gina sem objeção, e quando eles já estavam longe o suficiente, Rony comentou:
— Mamãe está inchando de orgulho da Gina, desde que ela decidiu ser enfermeira. O único que ainda ganha dela na preferência de mamãe é o Percy, só porque entrou para o ministério e ainda por cima colabora com a Ordem com todos aqueles relatórios que ele analisa dia e noite.
Se ele falou de Gina com certo orgulho, foi com azedume que se referiu a Percy.
E se aquela quarta-feira foi tensa, a quinta seguinte foi pior ainda. A quinta-feira 30 de novembro que entrou nas edições seguintes de Hogwarts: Uma História como a mais horrível já vivida dentro dos limites da escola.
(continua...)
