O CAMINHO DE VOLTA - CAPÍTULO 2 - Palavras não precisam ser ditas...
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Comentários Iniciais:
Muito obrigada pelos comentários e elogios... Exatamente por eles, faço a continuação da história... Este capítulo insere outra personagem, a Amy, persona de uma amiga minha... Espero que vocês gostem... Humilde sugestão de trilha sonora: Sarah McLachlan&Delerium - Silence, e Spice Girls - Viva forever ((não me trucidem!!!))...
Obs: Na presente fic, Shaka conta com 13 anos, Marine com 10 e Amy com 8.
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Saltando as pedras cinzentas da margem do rio, ela se aproximou da água. Estava a caminho de um dos muitos treinos extras que resolvia fazer, mesmo quando lhe era ordendo descanso. Ela se abaixou, tocando a água com a ponta dos dedos, fitando a correnteza por uns segundos. Pensava "Já se passaram quase três anos desde que...", enquanto selecionava algumas pedras maiores e as jogava num balde de alumínio. Levantou-se, voltando a caminhar na direção da cachoeira, quando olhou para trás, chamando:
- Amy, vamos logo, sua lerda!
Uma outra garota surgiu trilhando o mesmo caminho pela margem, também caregando um balde de alumínio. Ao contrário da outra, ela vinha arqueando o corpo e andando com uma certa dificuldade por causa do peso do balde, que estava cheio até a borda de pedras, enquanto o balde da outra tinha meia dúzia de pedras só.
- É que o meu está pesado, Marine!
- Quiser nós podemos trocar.
- Não, tudo bem. Eu preciso mesmo fazer coisas diferentes. - diz ela, sorrindo - Mas seria mais fácil fazer o balde levitar! - completa, apressando o passo e alcançando a outra.
Eram parecidas e ao mesmo tempo diferentes. Amy também treinava para ser uma amazona, mas sua força residia na telecinesia, o que a fazia treinar e estudar com afinco. Ela havia nascido na Inglaterra, porém um acidente com seus pais a tornou órfã e a obrigou a ir morar com os tios, na Grécia. Um ano depois, estava também no Santuário.
E há cerca de três anos elas começaram a treinar juntas, Marine lembrava bem disso porque tinha sido bem na época que... Bem... Elas se tornaram bastante amigas e passaram a andar sempre juntas. E procuravam os lugares mais bonitos e sossegados para seus treinos extras, mesmo que ficesse fora dos limites dos campos das amazonas, só para não ficarem sempre com aquela mesma visão de rochas e terra seca. Ali nas margens do rio a grama crescia por uma vasta extensão, pontilhada pelo branco das pequeninas flores, com o barulho da correnteza sempre nos ouvidos.
Hoje fariam um treino mútuo, enquanto Amy trabalharia sua telecinesia, Marine trabalharia seus reflexos. E, para isso, a garota romena já havia deixado, no dia anterior, as coisas que precisariam, menos as pedras, que tinham que pegar agora. Finalmente, chegaram ao local onde havia uam queda d'água. O barulho chegava a fazer os ouvidos doerem e por isso elas evitaram falar. Sabiam que agora teriam que subir a parede ao lado da cachoeira para chegar ao topo. Apesar da altura aquilo não demoraria, porque uma "escada" já estava marcada, com sulcos na terra barrosa vermelha. Neste momento, Marine olhou os baldes de pedras. Realmente, Amy tinha pego muito mais pedras que ela, e provavelmente não conseguiria subir com aquele peso todo. Disfarçadamente, jogou algumas pedras do balde dela no seu, deixando-o quase vazio e, prendendo-o às costas, começou a subir, antes que a outra notasse o que havia feito.
Alguns minutos apenas de escalada e Marine já estava lá em cima. Primeiramente, desatou o balde de pedra e o jogou, fazendo-o cair virado e algumas pedras rolarem. Só então ergueu o corpo, um pouco cansada pro ter que fazer a subida com aquele peso todo. Levantou o balde, juntou novamente as pedras e ficou esperando que Amy chegasse também. Se aproximou do rio novamente e, fechando as mãos em forma de concha, tomouum gole deágua e lavou o rosto.
- Alguém encomendou pedras!?
Marine olhou e viu apenas o balde sendo jogado para cima, do mesmo jeito que havia feito. Logo Amy estava do seu lado, molhando o rosto e matando a sede.
- Será que agora você me explica o porquê das pedras!?
- Espere e verá...
E Marine foi procurar numas moitas próximas a ripa e o balstão de madeira que tinha escondido no dia anterior. Pegando a ripa de madeira que não tinha mais que 10 centímetros de largura, colocou-a sobre as pedras das margens, como que atravessando por sobre a cachoeira, que ali também não era muito larga, e caía como um fio de água transparente por toda a parede rochosa. Ao terminar isso, ela mesma se pôs sobre a tal ripa, ficando a ponto de despencar da cachoeira, segurando o bastão de madeira, que também não era leve.
- Amy, jogue as pedras tentando me acertar, mas não use as mãos! - disse finalmente, segurando o bastãodebaixo do braço enquanto amarrava uma venda nos olhos.
- Certo! - a outra sorria também, finalmente entendendo como seria o treinamento.
- Estou pronta, quando você quiser. - disse firmemente, fixando os pés sobre a ripa e mantendo o equilíbrio auxiliada pelo bastão.
Ao ouvir isso, Amy ergueu suas mãos e passou a se concentrar olhando as pedras nos baldes a seus pés. Sentindo o coração batendo rápido, viu a primeira das pedras começar a levitar, muito devagar, indo na direção de Marine, que apenas desviou jogando a cabeça um pouco para o lado. A segunda pedra foi mais rápida que a primeira, Marine precisou girar o bastão para rebatê-la. A pedra seguinte, pontiaguda, por pouco não abriu um rasgo na altura da cintura da outra, quando esta não conseguiu defendê-la.
- Desculpe por esta! - disse Amy, sem tirar os olhos das pedras que saíam do balde rapidamente agora, só ouvindo o barulho delas se chocando com o bastão de Marine.
- Está tudo bem. - ela sorriu entredentes, nervosa, estava conseguindo se defender das pedras mas algo a estava incomodando. Rebateu uma das últimas pedras e tornou a segurar o bastão debaixo do braço, tirando a venda - Amy... - não completou a frase, pois uma pedra atingia-lhe o tornozelo.
- Marine! - gritou, meio desesperada, esquecendo-se por um instante das outras dua pedras que estava sustentando no ar, fazendo-as cair a meio caminho do alvo.
Mas a outra não respondeu, ainda sobre a ripa tentando achar um ponto de equilíbrio. Depois de algumas tentativas frustradas de tentar fixar os pés firmemente sobre a ripa de madeira, seu pé escorregou e ela caiu. O bastão de madeira sumiu na espuma branca, enquanto ela ainda se agarrava por um braço à ripa. Suspirou, olhando rapidamente para baixo e vendo o bastão ir-se boiando pelo rio, enquanto Amy gritava por ela. Mas algo diferente na paisagem chamou sua atenção, um brilho dourado... Tentou ver o que era, mas achou melhor acalmar a amiga primeiro.
- Estou bem, Amy! Só me dê um instante! - dizendo isso, balançou o corpo, tomando impulso com o corpo e, como se fosse uma ginasta, subiu na ripa novamente ficando com os dois joelhos dobrados, os braços abertos - Pron... - e nesse momento a ripa quebrou ao meio - tooooo...
Marine não lembrava de muita coisa, só que há alguns minutos atrás tinha visto toda sua vista escurecida. Agora, com a roupa encharcada, estava deitada namargem, sendo puxada para fora da água por Amy, que gritava, sem que ela conseguisse ouvir a sua voz. "Oh, exatamente como naqueles filmes!", pensou divertida, sorrindo.
- Eu estou bem, Amy! Você não sabe o que... - e interrompeu a frase, não estava ouvindo sua própria voz. Sem ar, ficou pensando por alguns segundos. "Será que a queda da cachoeira...!? A mudança repentina de pressão...!? Meus tímpanos estouraram...!?". E olhou para a amiga com lágrimas nos olhos, gritando, pois não tinha mais noção da altura de sua voz - AMY, EU ESTOU SURDA!!!
Amy pensou alguns instantes, olhando para Marine, sem saber o que falar e nem o que fazer. Olhou fizamente para ela e falou bem devagar, para ver se a outra conseguia ler seus lábios.
- Eu... Vou... Procurar... Ajuda... Entendeu!?
- AMY! - ainda gritando - VOCÊ DISSE QUE VAI PROCURAR AJUDA, É ISSO!? - e com a confirmação num gesto de cabeça da outra, completou - Vá logo então, vou tentar não sair daqui...
A garota inglesa se levantou num salto e passou a correr a toda velocidade na direção do campo de treinamento, iria procurar Marin que, apesar de estar treinando um discípulo, viria ajudá-las. No caminho, foi pensando que ao menos Marine conseguia ler lábios. "Menos mal".
Sentada na margem da cachoeira, Marin fechou os olhos, sentindo a brisa trazer algumas gotas d'água até seu rosto. Entretanto, sentiu-se imensamente mal por não poder ouvir o ruído da cachoeira. Quando abriu os olhos, novamente notou o tal brilho dourado, que havia lhe chamado a atenção já na cahcoeira. Levantou batendo o tecido de suas roupas, agora já menos molhadas. Deu alguns passos entrando na parte onde as árvores eram mais numerosas, e onde a relva verde cobria o chão árido das terras ao redor do Santuário.
Estranhando tudo à sua volta e seguindo com extremo cuidado, ela ia vacilando no caminho, pensando em como seria agora que não conseguia ouvir som algum. Olhou para uma figura sentada ao pé de um árvore, ao memo tempo que seu coração parava e sua respiração pesava. Vestido numa túnica clara, os cabelos soltos, os olhos fechados, numa pose de meditação. O mesmo garoto que a salvara uma vez. Shaka!
- Ah... - nem percebeu o murmúrio que seus lábios deixaram escapar.
O garoto levantou um pouco o rosto na direção dela. Contava agora com 13 anos e, se fosse permitido a ela dizer, talvez fosse o garoto mais bonito que ela já tinha tido a chance de ver. Intimamente, ele sorriu quando a reconheceu, mas isso ele não deixou transparecer em seu rosto, que tinha uma expressão serena, mas que não exprimia nem dor nem alegria.
- Faz algum tempo, hã!? E novamente, aqui estamos num lugar onde nenhum de nós deveria estar...
De tão nervosa, Marine não conseguia prestar atenção ao que ele dizia. Tentou concentrar-se em ler os lábios dele, mas o coração aos pulos em seu peito não permitia. Por isso ele estranhou que ela não respondesse.
- Aconteceu alguma coisa!? Você me parece diferente...
- É QUE... - fechando os olhos, ela tentou baixar o tom de voz - É que... Eu caí da cachoeira... Não consigo ouvir nada.
Shaka ficou quieto um instante, e passou a também falar devagar para que ela pudesse entender.
- Me desculpe... Eu não tinha idéia... Mas, por favor... Feche seus olhos.
A garota obedeceu, fechou os olhos e sentou-se perto dele. Dentro do peito, sentiu uma coisa diferente, e ouviu dentro de sua cabeça a voz calma e suave dele.
"Você não precisa escutar para me ouvir. Está me ouvindo!?"
A garota respondeu sorrindo que sim, num gesto de cabeça.
"Estou falando diretamente com você através do meu cosmos. Sabe... Quando me disseram que eu deveria ficar de olhos fechados para acumular minha energia, também não gostei muito, demorei muito para me acostumar. Mas aqui estou eu, ainda vivo, não!? Por isso, não se preocupe, que você também consegue."
Ela sentia aquele calor a sufocar-lhe a garganta, como se estivesse prestes a chorar. Assim, não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Tentou pensar no que queria dizer a ele. Mas estava tão confusa que talvez dissesse mais do que devia.
"Não tenha medo de tentar, concentre-se e você também vai conseguir falar comigo... Vamos..."
Deixando escapar um suspiro, ela se concentrou rapidamente, tentando transmitir a ele tudo o que sentia, desde que o tinha conhecido, sem saber se estava adiantando. Como ela também estava de olhos fechados, não viu as bochechas de Shaka adquirirem uma cor avermelhada, como se estivesse queimando em febre. Mas ele achou melhor fingir que não tinha ouvido tudo aquilo, porque senão deixaria os dois constrangidos.
"Conseguiste... Falaste diretamente de teu cosmos para o meu. Estavas treinando quando caiu, hein!? Tome mais cuidado, me parece que você tem algum tipo de facilidade para quedas..."
Marine riu, Ia falar alguma coisa, mas a voz dele se fez ouvir novamente em sua mente.
"Estou ouvindo pessoas vindo... Acho que devem estar procurando por você. Seu nome é Marine, não!?"
"Sim, é... Então é melhor que eu vá...".
Ela se levantou para ir embora, quando voltou a ouvir a voz dele.
"Marine..."
"Sim Shaka!?"
"Eu estarei aqui amanhã, caso você queira conversar com alguém..."
Ao virar o rosto para olhá-lo, Marine sentiu novamente o coração parar de bater e o ar faltar-lhe. Shaka estava sorrindo para ela, de olhos abertos. Sinceramente, nunca tinha visto uma cor azul tão linda nos olhos de uma pessoa. Ele pensou a mesma coisa, finalmente vendo a cor violeta dos olhos dela. Os dois estavam corados, mas nenhum disse mais nada ao outro.
"Tchau mais uma vez, Shaka!"
Ela sorriu mais uma vez, correndo para a margem do rio, onde Amy e Marin a procuravam. Shaka voltou a meditar.
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Considerações Finais:
Costumo apresentar minhas fics às pessoas chegadas antes de publicá-las. Este último capítulo me rendeu atribuições de "malvada", por ter deixado a personagem surda... Não concordo com eles, pela razão de isso ser uma característica que torna a Marine ainda mais especial. Ela não pode escutar, dependendo basicamente de sua visão para conseguir se esquivar de golpes dos inimigos. Porém, sem a visão, ela se torna uma presa muito fácil, e precisa apelar para o sexto sentido ((tecnicamente, seria a rapidez de raciocínio, mas encaro o recolhimento e processamento de informações como uma forma de intuição inconsciente))... Não sei se consegui explicar do jeito que imagino as coisas, mas... A perda da audição devido à queda é uam observação que fiz assistindo um episódio de CSI ((não lembro se era o normal ou o Miami)), onde eles diziam que uma mudança brusca de pressão poderia fazer os tímpanos literalmente explodirem. Não tenho certeza disso, mas como imagino a cachoeira beeem alta...
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Comentários Iniciais:
Muito obrigada pelos comentários e elogios... Exatamente por eles, faço a continuação da história... Este capítulo insere outra personagem, a Amy, persona de uma amiga minha... Espero que vocês gostem... Humilde sugestão de trilha sonora: Sarah McLachlan&Delerium - Silence, e Spice Girls - Viva forever ((não me trucidem!!!))...
Obs: Na presente fic, Shaka conta com 13 anos, Marine com 10 e Amy com 8.
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Saltando as pedras cinzentas da margem do rio, ela se aproximou da água. Estava a caminho de um dos muitos treinos extras que resolvia fazer, mesmo quando lhe era ordendo descanso. Ela se abaixou, tocando a água com a ponta dos dedos, fitando a correnteza por uns segundos. Pensava "Já se passaram quase três anos desde que...", enquanto selecionava algumas pedras maiores e as jogava num balde de alumínio. Levantou-se, voltando a caminhar na direção da cachoeira, quando olhou para trás, chamando:
- Amy, vamos logo, sua lerda!
Uma outra garota surgiu trilhando o mesmo caminho pela margem, também caregando um balde de alumínio. Ao contrário da outra, ela vinha arqueando o corpo e andando com uma certa dificuldade por causa do peso do balde, que estava cheio até a borda de pedras, enquanto o balde da outra tinha meia dúzia de pedras só.
- É que o meu está pesado, Marine!
- Quiser nós podemos trocar.
- Não, tudo bem. Eu preciso mesmo fazer coisas diferentes. - diz ela, sorrindo - Mas seria mais fácil fazer o balde levitar! - completa, apressando o passo e alcançando a outra.
Eram parecidas e ao mesmo tempo diferentes. Amy também treinava para ser uma amazona, mas sua força residia na telecinesia, o que a fazia treinar e estudar com afinco. Ela havia nascido na Inglaterra, porém um acidente com seus pais a tornou órfã e a obrigou a ir morar com os tios, na Grécia. Um ano depois, estava também no Santuário.
E há cerca de três anos elas começaram a treinar juntas, Marine lembrava bem disso porque tinha sido bem na época que... Bem... Elas se tornaram bastante amigas e passaram a andar sempre juntas. E procuravam os lugares mais bonitos e sossegados para seus treinos extras, mesmo que ficesse fora dos limites dos campos das amazonas, só para não ficarem sempre com aquela mesma visão de rochas e terra seca. Ali nas margens do rio a grama crescia por uma vasta extensão, pontilhada pelo branco das pequeninas flores, com o barulho da correnteza sempre nos ouvidos.
Hoje fariam um treino mútuo, enquanto Amy trabalharia sua telecinesia, Marine trabalharia seus reflexos. E, para isso, a garota romena já havia deixado, no dia anterior, as coisas que precisariam, menos as pedras, que tinham que pegar agora. Finalmente, chegaram ao local onde havia uam queda d'água. O barulho chegava a fazer os ouvidos doerem e por isso elas evitaram falar. Sabiam que agora teriam que subir a parede ao lado da cachoeira para chegar ao topo. Apesar da altura aquilo não demoraria, porque uma "escada" já estava marcada, com sulcos na terra barrosa vermelha. Neste momento, Marine olhou os baldes de pedras. Realmente, Amy tinha pego muito mais pedras que ela, e provavelmente não conseguiria subir com aquele peso todo. Disfarçadamente, jogou algumas pedras do balde dela no seu, deixando-o quase vazio e, prendendo-o às costas, começou a subir, antes que a outra notasse o que havia feito.
Alguns minutos apenas de escalada e Marine já estava lá em cima. Primeiramente, desatou o balde de pedra e o jogou, fazendo-o cair virado e algumas pedras rolarem. Só então ergueu o corpo, um pouco cansada pro ter que fazer a subida com aquele peso todo. Levantou o balde, juntou novamente as pedras e ficou esperando que Amy chegasse também. Se aproximou do rio novamente e, fechando as mãos em forma de concha, tomouum gole deágua e lavou o rosto.
- Alguém encomendou pedras!?
Marine olhou e viu apenas o balde sendo jogado para cima, do mesmo jeito que havia feito. Logo Amy estava do seu lado, molhando o rosto e matando a sede.
- Será que agora você me explica o porquê das pedras!?
- Espere e verá...
E Marine foi procurar numas moitas próximas a ripa e o balstão de madeira que tinha escondido no dia anterior. Pegando a ripa de madeira que não tinha mais que 10 centímetros de largura, colocou-a sobre as pedras das margens, como que atravessando por sobre a cachoeira, que ali também não era muito larga, e caía como um fio de água transparente por toda a parede rochosa. Ao terminar isso, ela mesma se pôs sobre a tal ripa, ficando a ponto de despencar da cachoeira, segurando o bastão de madeira, que também não era leve.
- Amy, jogue as pedras tentando me acertar, mas não use as mãos! - disse finalmente, segurando o bastãodebaixo do braço enquanto amarrava uma venda nos olhos.
- Certo! - a outra sorria também, finalmente entendendo como seria o treinamento.
- Estou pronta, quando você quiser. - disse firmemente, fixando os pés sobre a ripa e mantendo o equilíbrio auxiliada pelo bastão.
Ao ouvir isso, Amy ergueu suas mãos e passou a se concentrar olhando as pedras nos baldes a seus pés. Sentindo o coração batendo rápido, viu a primeira das pedras começar a levitar, muito devagar, indo na direção de Marine, que apenas desviou jogando a cabeça um pouco para o lado. A segunda pedra foi mais rápida que a primeira, Marine precisou girar o bastão para rebatê-la. A pedra seguinte, pontiaguda, por pouco não abriu um rasgo na altura da cintura da outra, quando esta não conseguiu defendê-la.
- Desculpe por esta! - disse Amy, sem tirar os olhos das pedras que saíam do balde rapidamente agora, só ouvindo o barulho delas se chocando com o bastão de Marine.
- Está tudo bem. - ela sorriu entredentes, nervosa, estava conseguindo se defender das pedras mas algo a estava incomodando. Rebateu uma das últimas pedras e tornou a segurar o bastão debaixo do braço, tirando a venda - Amy... - não completou a frase, pois uma pedra atingia-lhe o tornozelo.
- Marine! - gritou, meio desesperada, esquecendo-se por um instante das outras dua pedras que estava sustentando no ar, fazendo-as cair a meio caminho do alvo.
Mas a outra não respondeu, ainda sobre a ripa tentando achar um ponto de equilíbrio. Depois de algumas tentativas frustradas de tentar fixar os pés firmemente sobre a ripa de madeira, seu pé escorregou e ela caiu. O bastão de madeira sumiu na espuma branca, enquanto ela ainda se agarrava por um braço à ripa. Suspirou, olhando rapidamente para baixo e vendo o bastão ir-se boiando pelo rio, enquanto Amy gritava por ela. Mas algo diferente na paisagem chamou sua atenção, um brilho dourado... Tentou ver o que era, mas achou melhor acalmar a amiga primeiro.
- Estou bem, Amy! Só me dê um instante! - dizendo isso, balançou o corpo, tomando impulso com o corpo e, como se fosse uma ginasta, subiu na ripa novamente ficando com os dois joelhos dobrados, os braços abertos - Pron... - e nesse momento a ripa quebrou ao meio - tooooo...
Marine não lembrava de muita coisa, só que há alguns minutos atrás tinha visto toda sua vista escurecida. Agora, com a roupa encharcada, estava deitada namargem, sendo puxada para fora da água por Amy, que gritava, sem que ela conseguisse ouvir a sua voz. "Oh, exatamente como naqueles filmes!", pensou divertida, sorrindo.
- Eu estou bem, Amy! Você não sabe o que... - e interrompeu a frase, não estava ouvindo sua própria voz. Sem ar, ficou pensando por alguns segundos. "Será que a queda da cachoeira...!? A mudança repentina de pressão...!? Meus tímpanos estouraram...!?". E olhou para a amiga com lágrimas nos olhos, gritando, pois não tinha mais noção da altura de sua voz - AMY, EU ESTOU SURDA!!!
Amy pensou alguns instantes, olhando para Marine, sem saber o que falar e nem o que fazer. Olhou fizamente para ela e falou bem devagar, para ver se a outra conseguia ler seus lábios.
- Eu... Vou... Procurar... Ajuda... Entendeu!?
- AMY! - ainda gritando - VOCÊ DISSE QUE VAI PROCURAR AJUDA, É ISSO!? - e com a confirmação num gesto de cabeça da outra, completou - Vá logo então, vou tentar não sair daqui...
A garota inglesa se levantou num salto e passou a correr a toda velocidade na direção do campo de treinamento, iria procurar Marin que, apesar de estar treinando um discípulo, viria ajudá-las. No caminho, foi pensando que ao menos Marine conseguia ler lábios. "Menos mal".
Sentada na margem da cachoeira, Marin fechou os olhos, sentindo a brisa trazer algumas gotas d'água até seu rosto. Entretanto, sentiu-se imensamente mal por não poder ouvir o ruído da cachoeira. Quando abriu os olhos, novamente notou o tal brilho dourado, que havia lhe chamado a atenção já na cahcoeira. Levantou batendo o tecido de suas roupas, agora já menos molhadas. Deu alguns passos entrando na parte onde as árvores eram mais numerosas, e onde a relva verde cobria o chão árido das terras ao redor do Santuário.
Estranhando tudo à sua volta e seguindo com extremo cuidado, ela ia vacilando no caminho, pensando em como seria agora que não conseguia ouvir som algum. Olhou para uma figura sentada ao pé de um árvore, ao memo tempo que seu coração parava e sua respiração pesava. Vestido numa túnica clara, os cabelos soltos, os olhos fechados, numa pose de meditação. O mesmo garoto que a salvara uma vez. Shaka!
- Ah... - nem percebeu o murmúrio que seus lábios deixaram escapar.
O garoto levantou um pouco o rosto na direção dela. Contava agora com 13 anos e, se fosse permitido a ela dizer, talvez fosse o garoto mais bonito que ela já tinha tido a chance de ver. Intimamente, ele sorriu quando a reconheceu, mas isso ele não deixou transparecer em seu rosto, que tinha uma expressão serena, mas que não exprimia nem dor nem alegria.
- Faz algum tempo, hã!? E novamente, aqui estamos num lugar onde nenhum de nós deveria estar...
De tão nervosa, Marine não conseguia prestar atenção ao que ele dizia. Tentou concentrar-se em ler os lábios dele, mas o coração aos pulos em seu peito não permitia. Por isso ele estranhou que ela não respondesse.
- Aconteceu alguma coisa!? Você me parece diferente...
- É QUE... - fechando os olhos, ela tentou baixar o tom de voz - É que... Eu caí da cachoeira... Não consigo ouvir nada.
Shaka ficou quieto um instante, e passou a também falar devagar para que ela pudesse entender.
- Me desculpe... Eu não tinha idéia... Mas, por favor... Feche seus olhos.
A garota obedeceu, fechou os olhos e sentou-se perto dele. Dentro do peito, sentiu uma coisa diferente, e ouviu dentro de sua cabeça a voz calma e suave dele.
"Você não precisa escutar para me ouvir. Está me ouvindo!?"
A garota respondeu sorrindo que sim, num gesto de cabeça.
"Estou falando diretamente com você através do meu cosmos. Sabe... Quando me disseram que eu deveria ficar de olhos fechados para acumular minha energia, também não gostei muito, demorei muito para me acostumar. Mas aqui estou eu, ainda vivo, não!? Por isso, não se preocupe, que você também consegue."
Ela sentia aquele calor a sufocar-lhe a garganta, como se estivesse prestes a chorar. Assim, não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Tentou pensar no que queria dizer a ele. Mas estava tão confusa que talvez dissesse mais do que devia.
"Não tenha medo de tentar, concentre-se e você também vai conseguir falar comigo... Vamos..."
Deixando escapar um suspiro, ela se concentrou rapidamente, tentando transmitir a ele tudo o que sentia, desde que o tinha conhecido, sem saber se estava adiantando. Como ela também estava de olhos fechados, não viu as bochechas de Shaka adquirirem uma cor avermelhada, como se estivesse queimando em febre. Mas ele achou melhor fingir que não tinha ouvido tudo aquilo, porque senão deixaria os dois constrangidos.
"Conseguiste... Falaste diretamente de teu cosmos para o meu. Estavas treinando quando caiu, hein!? Tome mais cuidado, me parece que você tem algum tipo de facilidade para quedas..."
Marine riu, Ia falar alguma coisa, mas a voz dele se fez ouvir novamente em sua mente.
"Estou ouvindo pessoas vindo... Acho que devem estar procurando por você. Seu nome é Marine, não!?"
"Sim, é... Então é melhor que eu vá...".
Ela se levantou para ir embora, quando voltou a ouvir a voz dele.
"Marine..."
"Sim Shaka!?"
"Eu estarei aqui amanhã, caso você queira conversar com alguém..."
Ao virar o rosto para olhá-lo, Marine sentiu novamente o coração parar de bater e o ar faltar-lhe. Shaka estava sorrindo para ela, de olhos abertos. Sinceramente, nunca tinha visto uma cor azul tão linda nos olhos de uma pessoa. Ele pensou a mesma coisa, finalmente vendo a cor violeta dos olhos dela. Os dois estavam corados, mas nenhum disse mais nada ao outro.
"Tchau mais uma vez, Shaka!"
Ela sorriu mais uma vez, correndo para a margem do rio, onde Amy e Marin a procuravam. Shaka voltou a meditar.
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Considerações Finais:
Costumo apresentar minhas fics às pessoas chegadas antes de publicá-las. Este último capítulo me rendeu atribuições de "malvada", por ter deixado a personagem surda... Não concordo com eles, pela razão de isso ser uma característica que torna a Marine ainda mais especial. Ela não pode escutar, dependendo basicamente de sua visão para conseguir se esquivar de golpes dos inimigos. Porém, sem a visão, ela se torna uma presa muito fácil, e precisa apelar para o sexto sentido ((tecnicamente, seria a rapidez de raciocínio, mas encaro o recolhimento e processamento de informações como uma forma de intuição inconsciente))... Não sei se consegui explicar do jeito que imagino as coisas, mas... A perda da audição devido à queda é uam observação que fiz assistindo um episódio de CSI ((não lembro se era o normal ou o Miami)), onde eles diziam que uma mudança brusca de pressão poderia fazer os tímpanos literalmente explodirem. Não tenho certeza disso, mas como imagino a cachoeira beeem alta...
