O CAMINHO DE VOLTA - CAPÍTULO 3 - Quando se perde mais que uma luta...

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Comentários Iniciais:

Mais uma vez muito obrigada pelos comentários, são eles que me motivam a continuar escrevendo... A propósito, estou sem muito tempo e a luta aqui descrita ficou muito esdrúxula... Este capítulo, é ao som de Dido - All you want...

Obs: Na presente fic, Shaka conta com 15 anos, Marine com 12, Amy com 10 e Lune com 7.

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Marine estava inquieta, andando de um lado para outro. Amy, sentada num sofá, lia um livro, aproveitando a luz do sol que se punha. Estalando os dedos e refazendo o círculo imaginário no chão, a outra continuava nervosa, não deixando que ela se concentrasse em ler o livro.

- Nine ((era assim que ela a chamava)), dá pra você parar!? Estou tentando ler um livro, que por sinal foi ordem do meu mestre...

- Desculpe, Amy. Mas estou tão nervosa! A Lune deve chegar amanhã... E tem também o meu teste...

- Mas ficar nervosa não vai ajudar em nada! Se você continuar nessa ansiedade, mal vai conseguir dar um chute amanhã.

- Eu sei. Acho que dar um passeio e ver se me distraio um pouco.

- Vai sim... Mas não volte tarde, você tem que ir dormir cedo pra descansar e arrasar no teste!

Marine sorriu e saiu da casa fechando a porta atrás de si. "Ah Amy, sempre tão animada!", pensou enquanto a outra voltava para sua leitura. Não demorou muito, entretanto, para Amy ter a genial idéia de preparar um jantar reforçado para quando sua amiga voltasse. E Marine, a algumas horas apenas de se tornar uma amazona, procurava um lugar alto de onde pudesse observar o céu.

Era noite de lua nova, então as estrelas poderiam se destacar bastante no céu. No dia seguinte não precisaria competir com ninguém, apenas provar que estava à altura de receber a Armadura Sagrada de Serpente ((nota no final)). Apesar do nervosismo, sentia-se confiante, e ainda mais feliz pois quando sua irmã chegasse, poderia já exibir a armadura para ela. Ainda não conhecia Lune, o que a fazia querer ainda mais se tornar motivo de orgulho para a irmã menor.

Perdida em seus pensamentos, quase não sentiu a presença nada amistosa, enquanto um pouco de areia era derrubada à sua frente, chamando-lhe a atenção. Ergue os olhos para fitar o inimigo que estava sobre uma pedra, com os olhos postos nela, pronto a atacar.

- Dócrates!... - murmurou, assumindo uma básica posição de defesa, erguendo os punhos cerrados na altura do peito e separando os pés.

- Ora, olha quem eu encontro por aqui! Me diga uma coisa, é verdade o que dizem por aí que você não pode escutar!?

- Por que quer saber!?

- Ah, por nada. É só que daqui alguns minutos vai escurecer por completo, e como a lua não vai aparecer pra ajudar, achei que ficaria difícil para você enxergar quando eu te atacasse...

"Desgraçado!", pensou. "O pior é que ele tem razão. Sem luz, vai ficar bem difícil pra eu enxergar... Ai..."

- E como eu também ouvi que amanhã você faz seu teste para receber a Armadura, pensei em te desafiar para uma luta...

- Meus princípios não admitem lutas desnecessárias, o que inclui desafios.

- Desnecessária!? Acho que você não entendeu: se você não lutar comigo, eu te mato. Não estou perguntando se você quer ou não lutar, estou informando que você está obrigada a isso se quiser viver!

O olhar dos dois se cruzou e eles ficaram se confrontando deste modo por alguns instantes. Foi com um desespero crescente que Marine viu os últimos raios de sol morrendo atrás das montanhas, o que fez a alegria de Dócrates. Ainda assim, fazia dois anos que já se acostumara sem conseguir um som sequer, sendo que seus outros sentidos haviam se aguçado. Dependia geralmente de seus olhos para ler os movimentos do inimigo, mas assim, no escuro como estava, dependia exclusivamente de sua intuição... E de sorte. Podia sentir a presença dele à sua frente, mas ainda não tinham trocado nenhum golpe, e não sabia se conseguiria manter essa concentração depois que começassem a lutar. Só restava arriscar de vez...

Trocando a postura puramente defensiva pela ofensiva, saltou para cima do outro. Dócrates tentou desviar, mas quando viu ela já estava com o pé em seu rosto. Percebeu que, apesar de atacar, ela não mantinha uma defesa permanente, o que permitiu que ele lhe acertasse um golpe na altura das costelas. Marine voou a uns metros de distância, caindo pesadamente de costas no chão. Tentou levantar, mas ele já estava do seu lado, estendendo o braço na direção dos tornozelos dela. O que Dócrates queria era levantá-la no alto como se fosse um coelho caçado, e ela não pareceu resistir a isso, deixando-se ser agarrada pela perna e suspensa no ar. Assim que pôde, a garota tomou impulso com o corpo e lançou-se contra Dócrates, cravando as unhas na carne dele. O cavaleiro tremeu, e ela, aproveitando-se disso, soltou o pé e subiu em suas costas, enlaçando o pescoço dele, estrangulando-o.

Ele ainda tentou arrancá-la de suas costas, mas ela tinha se prendido à sua cintura com as pernas com tal força que ele não conseguia soltá-la dali. Aos poucos, Dócrates foi ficando sem ar até que seus braços amoleceram e desistiram de buscá-la. As pernas dele bambearam e o cavaleiro caiu de joelhos no chão, o corpo tombando para a frente com o peso de Marine, que continuava agarrada às costas dele. A queda levantou poeira do chão seco, e a garota, quando se soltou, rolou alguns metros, batendo a cabeça e acabando de cara no chão. Virou o rosto para não respirar poeira, mas o pó coçava no nariz cada vez que puxava ar. Respirou fundo, sentindo o cheiro de sangue que raciocinou ser de Dócrates, pois apesar de seu corpo todo doer, não sentia nenhum corte aberto. "Bom, ao menos não estou morta, eu acho...", pensou, rindo enquanto tentava descansar antes de tentar levantar-se novamente. Estava se sentindo tonta e com uma dor dilacerante no abdômen. Achou que começava a delirar quando gotas de água fria caíram em suas costas, cada vez mais, até que os pingos de chuva começaram a doer mais que seus ferimentos. Depois disso, não sentiu mais nada...

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Amy sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando a trovoada começou e a outra não havia voltado para casa. "Só falta ela pegar um gripe bem no dia antes do teste!", pensou enquanto tampava as panelas e olhava para fora. Divisou um vulto se aproximando e foi animadamente abrir a porta, pronta a dar uma bronca em Marine - era a primeira vez que poderia fazer isso, porque era sempre ela quem levava as broncas.

- Aí está você! Entre que eu fiz um ensopado de carne e bata... - não terminou a frase, estava espantada demais com o que via.

Caminhando na direção da porta, vinha um rapaz de olhos fechados com o cabelo loiro grudando no rosto por causa da chuva forte que caía. Ele trazia Marine, desacordada, em seus braços. O rapaz parou na frente de Amy e por um instante pareceu sorrir.

- Eu aceito o ensopado, mas acho que pra ela, só uma toalha e um chá bem quente...

Amy concordou com a cabeça, ainda sem fala, recostando-se junto ao batente para que ele pudesse entrar. Trancou a porta logo em seguida...

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Marine abriu os olhos e enxergou o teto acima de sua cama. Sentia a pele queimando e o suor escorrendo pelo seu rosto. Olhou em volta, a casa iluminada pela luz amarela e tremeluzente de uma vela. Num canto com uma mesa, Amy e Shaka estavam sentados, perto do fogão, com comida em seus pratos. Conversavam. Ela tentou se esforçar para ler seus lábios e saber o que diziam, mas sua cabeça latejava. Amy comentava alguma coisa, Shaka levava um pedaço de pão à boca e Marine punha a mão sobre a testa, sua cabeça doía - e muito. O último movimento chamou a atenção de Amy.

- Ela acordou!

Os dois prontamente deixaram a refeição de lado e se aproximaram do leito dela, ficando um de cada lado. Amy tomou a mão dela nas suas.

- Como você está se sentindo, Nine!?

- B-bem, o que houve!? Eu só me lembro que o Dócrates...

"Esqueça isso por um instante. Não se esforce tanto em lembrar agora, você terá tempo para isso amanhã, depois do teste..." - era a voz de Shaka que ela escutava em sua mente.

Amy observava os dois olhando um para o outro, como se conversassem. Achou melhor não dizer nada por enquanto, mas continuou ao lado de Marine, ainda segurando sua mão, que estava gelada.

"Quero saber de tudo agora. Por quanto tempo estive dormindo!?"



"Algumas horas, pouco tempo, felizmente. Se você não acordasse, teria que mandar chamar um médico, já que você bateu a cabeça, mas vejo que está tudo bem... Mas você pegou bastante chuva e talvez fique resfriada. Sorte sua eu achar que você iria procurar um lugar alto para pensar um pouco e fui te procurar."

"O Dócrates, aquele cretino, ficou me esperando sabendo que eu não consigo escutar e por isso dependo basicamente da visão... Ele me deu um soco que... Ah, mas eu não sinto dor alguma!"

"Você ficou com duas ou três costelas quebradas. Mas cuidei disso já... Não se preocupe."

" Amanhã, Dócrates provavelmente vai querer uma revanche. E se ele quiser se vingar de mim na minha irmã!?"

"Pensei nisso já... Se você permitir, amanhã digo a ele, quando o encontrar, que na verdade ele quem venceu a luta e tive que levar você dali para que não morresse."

"Pode ser, pode ser... Assim, ninguém sai perdendo."

"Então está resolvido! Agora, é melhor descansar..."

"Não posso."

"Por quê não!?"

"Estou com fome..."

Shaka riu, divertido. Nesta hora, Amy teve certeza que os dois estavam conversando mentalmente. "Acho que sobrei, hã!?", cochichou bem baixinho, para Marine, que fez de conta não ouvir isso.

- Eu recomendo uam sopa beeem leve e nutritiva. Assim, você não tem pesadelos durante a noite e acorda bem disposta pela manhã.

- E pode deixar que eu preparo... - disse Amy, saindo do lado da amiga e indo na direção do fogão.

"Eu acho que é melhor ir. Preciso deixar você descansar. Amanhã, depois do seu teste, prometa que vai me procurar... Eu estarei esperado por você no lugar de sempre..."

"Está certo, Shaka..."

O rapaz se virava para ir embora, quando ouviu novamente a voz dela chamando-o.

"Shaka...?"

"Sim!?"

"Ahn... Nada não..."

Ele voltou a sorrir, acenando com a mão e indo se despedir de Amy. Depois, abriu a porta tomando o cuidado de não deixar muito vento entrar, acenou novamente para Marine e sumiu. Dali alguns segundinhos, a sopa ficava pronta, e Amy a trazia para a amiga.

- Tome tudo, e nada de dizer que minha comida é ruim...

Marine sorriu, Amy cozinhava melhor do que ela. Tomou a sopa até que bem rápido, estava com muita fome mesmo. Amy ia perguntar se ela queria mais quando recebeu de volta o prato vazio, mas ela disse que não, virou para o lado e adormeceu rapidamente. Amy achou melhor deixar a leitura para o outro dia, soprando a vela cuja chama trepidou um pouco antes de se apagar de vez...

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No dia seguinte, Marine já estava de pé assim que o sol levantou, à espera de um navio. De cima da montanha, avistou a fumaça no mar, e saiu correndo para o porto.

Logo, desembarcava uma menina de seus sete anos, de olhos verdes e cabelos cor-de-rosa ((???)), com cara de espanto e uma malinha de couro na mão. Estava com um vestido bem simples rosa-pálido e um lencinho azul-claro com florzinhas bordadas na cabeça. Tinha os olhos marejados pelas lágrimas de saudade de sua mãezinha doente que ficara na Romênia, e precisava procurar por uma irmã que nunca tinha visto na vida. Ia começar a chorar novamente, quando uma moça de cabelos azuis e uma máscara branca cobrindo o rosto de aproximou.

- Olá... Como é seu nome!?

A garotinha olhou para cima, tentando adivinhar quantos anos a outra tinha. Pela voz, no máximo dava uns onze ou doze anos para ela. Vestia roupas estranhas, ao menos diferente das que estava acostumada ver moças daquela idade usando. Onde já se viu sair por aí com calças tão justas coladas ao corpo!? E o corpete que ela usava, então!?

- Eu... Eu me chamo... Lune...

Por trás da máscara, Marine sorriu. Abaixou-se até ficar da altura da garotinha, olhando em volta para ver se alguém as observava. Tirou a máscara e os olhos violeta dela faiscaram.

- Eu me chamo Marine... Sou sua irmã... #^_^#

A garotinha deu uns passinhos para trás e quase caiu sentada no chão. Chegou bem perto dela e a ficou fitando nos olhos.

- É! Você tem os olhos da mamãe! - e abraçou a outra, que retribuiu, dando-lhe um beijo estalado na bochecha.

As duas ficaram se olhando longamente, até que alguém se aproximou e Marine foi obrigada a colocar a máscara novamente. Pegou Lune pela mão e começou a andar de volta para sua casa. Lune ficou intrigada com aquilo que tinha visto.

- Por que você tem que cobrir o rosto, mana!?

- Regras do Santuário... Você também quer ser uma amazona, não!?

- Quero, vim aqui pra isso.

- Então, também vai ter que usar...

Lune ainda estava se sentindo contrariada. Porquê tinha que ficar com o rosto coberto!?

- Mana, é bom ser uma amazona!?

Mas não obteve resposta, pois as duas estavam caminhando lado a lado olhando para a frente, então Marine não conseguia ler os lábios da irmã. Lune parou, irritada, e puxou com força tentando soltar sua mão da de Marine.

- Você é mal-educada, não me responde as coisas!

Marine quis rir da situação, mas ao contrário disso, abaixou-se novamente e olhou bem diretamente para Lune.

- Lune, você vai me desculpar, mas faz algum tempo que eu não escuto nada... Só consigo saber que você está falando comigo quando vejo seu rosto. Se quiser perguntar alguma coisa, puxe minha mão e espere eu olhar para você. Desculpe... Qual foi sua pergunta!?

- Queria saber se é bom ser amazona...

- Bem, não sou uma ainda...

- Não é!?

- Não, farei o teste daqui a pouco... Por isso preciso te levar pra casa ainda... Depois faço meu teste e volto com a minha armadura pra você ver, o que acha!?

- Tá bom!

Lune voltou a dar a mãozinha para a irmã, agora curiosa sobre como a irmã tinha perdido a audição, porque sua mãe nunca tinha dito nada a respeito. Mas achou melhor não perguntar nada por enquanto, ela devia estar nervosa pelo tal teste.

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Naquele mesmo dia, pela tarde, Marine se apresentava ao Grande Mestre do Santuário. Saiu de lá carregando a urna de sua armadura. Era quase o pôr do sol e partiu em busca de Shaka. Encontrou-o no mesmo lugar que tinham se visto pela segunda vez, no meio das árvores na margem do rio perto da cachoeira.

Ela caminhou por entre as árvores, que agora no outono tinham folhas douradas que se desprendiam com o vento e voavam para longe. A grama verde continuava pontilhada pelo branco de pequenas flores, e o céu acima das árvores tinha uma coloração azul tingida de laranja pelo sol poente. Parou a alguns passos de Shaka, silenciosamente sentando na frente dele, que estava numa posição de meditação.

"Você conseguiu!?"

"Sim, ganhei minha armadura..."

"Fico muito feliz por você... Mas algo a está incomodando, o que é!?"

"O Mestre me deu algumas ordens... Difíceis para mim de cumprir..."

"Não diga isso... O que ele pediu, exatamente!?"

"Pediu para eu partir esta noite para a Cordilheira dos Andes, onde devo treinar a minha irmã. E não devo retornar até que ela tenha se mostrado digna de receber sua armadura..."

Eles ficaram um tempo silenciosos.

"Faça o que te é pedido, então..."

"Mas eu não quero!"

"Faça, é o Mestre do Santuário quem ordenou..."

"Eu não quero ir!"



"Por que não!?"

"Não quero deixar você..."

Ele temia ouvir essa resposta.

"Ainda estarei aqui quando voltar..."

"Eu sei... Mas serão ao menos cinco anos..."

Shaka sorriu. Logo, seu sorriso se tornou uma risada.

"Cinco anos não são nada... Não vê!? Faz cinco anos que agarrei seu braço lá no penhasco, e aqui estamos nós!"

"Tens razão. Se é assim, eu vou."

"Então..."

"É isso... Até logo, Shaka..."

Marine levantou para ir embora, mas Shaka a chamou novamente.

"Marine..."

"Sim!?"

"Bem... Não é nada... Tenha cuidado..."

"Terei, obrigada..."

Mas os pés dela não obedeciam seu comando de ir embora. Talvez porque ela não quisesse realmente fazer isso.

"Shaka..."

"Sim!?"

"É que... Eu..."

"Você...!?"

"Eu... Eu te amo..."

Shaka não pôde deixar de abrir seus olhos. Sorria, um sorriso sincero. Levantou e lançou-se envolvendo o corpo de Marine em seus braços. Assim, abraçados, ele sentiu as lágrimas quentes dela caindo em seu ombro, e a sentiu soluçar agarrando-se à sua roupa. Era muito bom sentí-la tão perto de si, coisa que há tempos queria. Segurou o rosto dela entre suas mãos, olhando-a bem nos olhos.

"Marine..."

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Considerações Finais:

Aqui faço você sofrerem um pouco... O próximo capítulo não vai demorar, então não há a necessidade de planejar meu esquartejamento ((ou há!?))... Espero que vocês estejam gostando da história... No começo, mencionei a Sagrada Armadura de Serpente e esta é totalmente invenção minha ((não sei se tem fundamento, mas))... Na verdade, a armadura da Sheena é regida pela constelação de serpentário. A constelação que regeria esta armadura, seria então, a da cauda da serpente, coisa q eu vou explicar direitinho no decorrer do próximo capítulo... Bjus e, novamente, obrigada pelos comentários.