O CAMINHO DE VOLTA - CAPÍTULO 4 - Coral e rocha não se separam...
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Comentários Iniciais:
Ah!!! Onde estão os comentários!? Mesmo que seja pra dizer que a fic está uma porcaria, comentem... Assim eu me manco e não escrevo mais... Este capítulo foi totalmente reescrito, tentei fazê-lo através de flashbacks, mas ficou um pouco confuso e enigmático. Não queria pensar que talvez as pessoas não entendessem o que houve. Certa vez li uma entrevista de um autor catarinense ((David Gonçalves, se lhes interessar)) e ele dizia que burro era o escritor que não conseguia passar sua mensagem, e não o leitor por não entender. Concordo com ele... Este capítulo contém fracos spoilers da Saga de Hades, porém eles não farão sentido algum para quem nunca sequer leu um resumo dessa saga ((ao menos eu tentarei fazer isto))... Trilha ao som de Ill Nino - How can I live...
Obs: Na presente fic, Shaka conta com 20 anos, Marine com 17, Amy com 15 e Lune com 12, exceto a primeira parte, um flashback do capítulo anterior.
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Já tinha anoitecido fazia algumas horas e Marine carregava a urna de sua armadura, caminhando lentamente na direção de sua casa. Talvez fosse o clima árido do Santuário ou talvez fosse o peso da urna, mas a moça andava como se carregasse um fardo enorme nas costas. E ela estava. As palavras do Mestre quando o reverenciou apresentando-se para fazer seu teste ecoavam em sua cabeça.
- "Marine, reverências não são mais necessárias... Fiquei sabendo de sua luta ontem, no escuro, contra Dócrates, e nela você provou ser digna de receber sua armadura. Os relatos que chegaram aos meus ouvidos é de que você lutou corajosamente, como a serpente que é pêga pela cauda e reage no último instante enrolando-se na vítima e estrangulando-a até que deixe de respirar... Você é ágil, inteligente e possui uma força interna tão grande quanto à de qualquer outro cavaleiro ou amazona! Soube também que sua irmã chegou pela manhã, e se os relatos que recebi sobre ela forem verdadeiros, ela é tão boa quanto você... Por isso, vou mandar-te para a Cordilheira dos Andes para treiná-la... Daqui cinco anos, você voltará e me apresentará os resultados dos treinamentos, mas até lá não quero sequer vê-la novamente por estas terras, entendido!?"
Sim, havia entendido. Não entendia como fora capaz de suportar aquelas palavras sem chorar ali mesmo. Deixar o Santuário!? O Mestre queria vê-la definhando e finalmente morrendo num lugar esquecido e distante... Pensando sobre isso, ia caminhando a pesarosos passos na direção de casa, tinha que conversar com Amy e Lune... Começou a pensar no que diria à elas... Lune tinha ficado tão contente de finalmente chegar no Santuário, e agora precisaria ir embora! E Amy!? Estava indo para longe de sua melhor amiga...
Diante da porta, parou, organizando seus últimos pensamentos. Logo um rosto curioso de criança surgiu na janela e em seguida no vão de uma porta que se abria, para recepcioná-la com abraços e beijos. Marine sorria, mas quem olhasse direito, veria em seus olhos uma profunda tristeza. Amy percebeu, logo chamando Lune para dentro e deixando que Marine entrasse e deixasse a armadura num canto, para o encanto da irmã.
Amy chamou a amiga para conversarem no quarto, e foi em meio à lágrimas que Marine contou o que teria de fazer. A outra também chorou, mas ajudou a preparar as malas, enquanto a pequena Lune se divertia tentando bisbilhotar a armadura dentro da urna.
Cansada sem conseguir abrir ou sequer subir em cima, Lune resolveu explorar o Santuário. Espiando por trás da porta entreaberta que as duas no quarto continuavam conversando e arrumando malas, abriu a porta sem fazer barulho e foi se esgueirando para fora, esticando o corpo e encolhendo a barriga.
Saltitante, deu seu passeio naquele pedacinho da Grécia, que mesmo durante a noite tinha um clima super agradável, muito diferente de sua casa. Parou quando esbarrou em algo maior que ela.
- Desculpe! - ela se levantou e foi logo providenciando uma reverência.
- Não é preciso reverências. Me diga uma coisa, você é a irmãzinha da Marine!? - perguntou o vulto.
- Sim, eu sou... - ela respondeu, não muito certa do que estava falando.
- Soube que vocês vão partir. Você pode me fazer um favor!?
- Posso sim!
- Então... Cuide bem dela por mim...
Lune ia responder, mas o vulto de virou e fugiu correndo, tão rápido que Lune mal o enxergou. Mas viu um brilho dourado estranho, e sossegou. Foi logo voltando para a casa, antes que dessem pela sua falta.
Mais algumas horas e Marine praticamente arrastava Lune pelo braço. Como qualquer criança, tinhosa, não queria ir embora, agarrando-se em tudo que se passava. Quando se viu dentro do navio, finalmente parou de espernear, mas fez um bico que não se desfez até as duas chegarem na Bolívia. Do convés, Marine via a grécia ir se afastando aos pouos e a figura de Amy acenando de cima de um barranco. Tentou procurar pela figura de Shaka, mas ele não estava lá! Sentiu-se abandonada, mas foi exatamente nessa hora que o murmúrio do vento lhe trouxe um beijo e uma promessa futura.
O caminho subindo os Andes não era nada demais para Marine, mas era uma trilha forçada demais para Lune, então constantemente precisavam parar quando esta se sentia tonta. No caminho, passaram por diversas aldeias e Lune ficou encantada com as roupas coloridas que as pessoas usavam. Os nativos, entretanto, achavam muito estranho uma moça e uma menina com os rostos cobertos por máscaras subindo montanhas tão altas. Mas aquilo era como estar em casa! Pessoas simples, casas simples, plantações pequenas e animais... Como era na Romênia!
Como mestra de Lune, Marine não se mostrava muito paciente. Por isso continuava as caminhadas sempre que a menina já estivesse se sentindo melhor, mesmo que isso significasse subir no escuro. Numa das manhãs, elas finalmente pararam.
Caminhando até a beira do precipício, Marine olhou as nuvens de neblina subindo e descendo pelas encostas das colinas, escondendo as aldeias ao longe. O sol ainda não tinha nascido mas já estava claro, e ela observou o horizonte formado pelas montanhas. O mar estava tão longe agora! Suspirou, sentindo que o ar lhe faltava, não pela altura, mas pelo sentimento de vazio de ter que deixar para trás algo que lhe dava tanto alento.
- Mana! Olha! Parece algodão doce! - gritou Lune, puxando um pedaço da roupa da irmã.
Ela se virou a tempo de ler "algodão doce" nos lábios da menina. Sorriu, vendo do que se tratava, pois a pequena continuava apontando para a neblina que subia e descia em tufos espiralados nos pés das montanhas.
- Sim, pareca algodão-doce.
- Só não é rosa, né!? Nem azul e nem amarelo... Mas parece!
Marine sorriu, olhando para trás, para a casa de madeira ao molde dos templos budistas. Um pedaço do Tibet perdido no meio dos Andes!? Nessa hora o sol começava a nascer, tingindo as nuvens-algodão-doce de laranja.
- Mana! Que é aquilo!? - apontando para algo que reluzia em dourado.
- Aquele é o Salar de Uyuni... E aquilo... - apontando para o pico evado acima delas - é o Pico Lipez...
- O povo aqui fala engraçado.
- Eles falam espanhol. Mas não esqueça que nós também temos sangue espanhol na veias. Nossa avó era cigana, mas nasceu na Espanha e falava em espanhol em casa. Mas você não deve lembrar porque ela morreu antes de você nascer... Mas olhe... - e apontou com um gesto de cabeça para a casa - Ali nós vamos morar. Quer ir lá ver!?
- Agora não...
- Tudo bem... Eu vou arrumar as coisas e já volto, não saia daí...
Marine foi na direção da casa enquanto Lune se ajeitava no alto de uma rocha mais alta que tinha por ali.
Mal tinha entrado na casa, notou o piso de madeira grosso de poeira e as paredes cheias de teias de aranha. Sua primeira providência foi limpar isso, pois Lune era alérgica à pó e tinha pavor à aranhas. Na verdade ela também tinha, mas o medo de aranhas ela tinha superado com o tempo, e com tanto pó no Santuário, ela se acostumara. Enquanto limpava, Lune veio correndo de fora.
- Mana!
- Que é!?
- Quer ajuda!?
- Não, se você respirar poeira, vai ficar ruim...
- Ah... É que eu também queria perguntar umas coisas...
- Tudo bem, eu já termino de limpar, me espere lá fora.
Contrariada, Lune obedeceu, indo esperar na varanda. Havia uns banquinhos feitos de troncos de árvores e ela os achou incrivelmente confortáveis. Marine logo apareceu, com uma bandeja com pão, queijo e leite, que tinha trazido da última vila que visitaram.
- Prontinho... Preparei um lanchinho também. Então, o que você queria perguntar!?
- Por que precisamos treinar justo aqui!?
- Por causa da altitude... Lembra à que constelação pertence a armadura que você quer!?
- Lebre...
- Exato! E qual a primeira característica que você lembra das lebres!?
- Elas são fofinhas!?
- Não, elas são rápidas... Treinando aqui, quando você estiver numa altitude menor, você vai estar muito mais rápida que os seus inimigos.
- Ah...
- Acabou!?
- Não...
- O que mais!?
- Por que temos que usar essas máscaras feias!?
- Para esconder nossa feminilidade... Ordens do Santuário...
- Mesmo aqui que só tem nós duas!?
- Mesmo aqui que só tem nós duas... Dentro de casa, talvez possamos andar sem elas, mas fora não...
- Ah...
- Mais alguma pergunta!?
- Só mais uma...
- Diga...
- Você já deixou algum cavaleiro ver seu rosto!?
Neste momento Marine ficou quieta. Lune gargalhava por dentro, com um sorriso super-maroto no rosto.
- Que foi, Lune!?
- Nada, lembrei de uma coisa...
- Ótimo, então conta que eu quero rir também...
- Ah... É que no dia que a gente foi embora, o seu namorado me disse pra cuidar bem de você...
- Meu namorado!? Ele disse isso!?
- Não... Mas... - e a menina caiu na gargalhada.
Sem saber onde enfiava a cara, Marine começou a fazer cócegas na barriga da irmã que finalmente caiu do banquinho, chorando de tanto rir.
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Tinham-se passado quase cinco anos! Da mesma varanda, a moça de cabelos azuis observava a garota de cabelos cor-de-rosa sentada sobre uam rocha na beira do precipício, seu lugar preferido.
Encostada no batente da porta, Marine estava perdida em pensamentos, mergulhada em seus piores temores e prevendo alguma tragédia.
Lune também podia sentir a luta que já estava acontecendo num lugar distante dali, mas às vezes confundia isso com fome, ou puro medo.
"Shaka..."
Marine não tinha resposta, nem sequer um murmúrio do vento. De repente, as duas sentiram um arrepio pela espinha.
"Não, Shaka, espere!"
Não só Marine, mas como outros Cavaleiros de Ouro e Athena pediam que o Cavaleiro de Virgem não se sacrificasse. Mas era preciso, e ele não hesitou. Mandou sua mensagem para Athena e desapareceu, finalmente.
Na varanda da casa de madeira, uma estática Marine tinha os olhos úmidos de lágrimas, que corriam livres pelo seu rosto, sem que ela as empedisse. Lune veio correndo até ela, preocupada. Ela disse para que não se preocupasse, mas deixou-se escorregar até o chão e, encolhendo os joelhos para junto do peito e abraçando-os, começou a soluçar baixinho, escondendo o rosto. Ficou assim por muitos minutos e talvez por algumas horas, tentando entender o que tinha acontecido. Lune ficou ali parada, sem saber como agir, até que a irmã levantou, limpando as lágrimas de seu rosto.
- Lune, quero que faça uma coisa por mim...
- Claro, Nine...
- Observe o céu... Veja, ele está ficando negro! - apontou para o pedacinho de céu que era visível da varanda.
- Ai, o que está acontecendo!?
- Algo muito terrível... Fique aqui e me avise quando o céu voltar ao normal, certo!?
A contragosto, Lune respondeu positivamente com um gesto de cabeça. Marine então sorriu, voltando-se na direção da porta da casa e entrando, fechando-a atrás de si. Lune segue para seu local do alto da rocha, e Marine senta-se em posição de meditação no centro da sala.
Diante do Muro das Lamentações, Shaka se reúne aos outros cavaleiros de Ouro. Eles sabem que só existe uma maneira de destruir o Muro e devolver a Armadura de Athena à ela.
Marine também sabe disso. Ainda, sabe que Shaka não responderá, mas estará ouvindo até o último segundo. Não perderá nada se tentar... Ser egoísta...
"Shaka..."
"Sei que você me ouve, pois há muito tempo somos um só..."
"Aprendi a transmitir meus pensamentos à você sem precisar de minha boca. Eu te amo e te desejo de todas as formas que poderia desejar... Continuo te respirando a cada manhã, te vendo em cada nuvem no céu, te ouvindo em cada sopro de vento, te sentindo em cada gota de chuva que molha minha pele."
"Eu lembro de você naquele dia. Lembro de quando nos despedimos e do quanto eu lutei contra o meu desejo de ficar ali. Ao seu lado eu me senti tão bem! E isso me fez necessitar de você, como o coral que precisa das rochas para existir."
"Quando eu consigo aceitar que este é o jeito das coisas serem, só consigo sentir ainda mais raiva, eu queria tanto poder exigir toda a sua atenção para mim... Mas sendo você um cavaleiro leal à Athena, não posso pedir isso. Então acho que o que vou fazer é melhor que ir morrendo aos poucos por dentro cada vez que lembrar de você."
Lune assistiu o sol se tornar quase negro e voltar a brilhar. Exultante de alegria, saiu correndo para dentro da casa, abrindo a porta de correr da sala, mas parando logo em seguida. O sorriso que trazia nos lábios feneceu, suas pernas amoleceram e por um segundo foi como se uma sombra tivesse tomado conta de todo seu ser.
Correu a abraçar a irmã caía no centro da sala. Haviam lágrimas quentes no rosto de Marine, mas ao tocar o corpo da irmã, Lune percebeu que ela estava gélida. Ficou olhando para o rosto pálido da irmã, de olhos fechados. Começou a soluçar baixinho, apertando a irmã num abraço desesperado, apertando os olhos para não chorar e sussurrando, implorando para que aquilo não estivesse acontecendo...
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Considerações Finais:
Isso "encerra" a fic... Ou não!? Escrevi um epílogo e um final alternativo... O epílogo deste final também já está publicado, por isso defini a fic como "concluída"... O final alternativo, só publico depois de comentários...
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Comentários Iniciais:
Ah!!! Onde estão os comentários!? Mesmo que seja pra dizer que a fic está uma porcaria, comentem... Assim eu me manco e não escrevo mais... Este capítulo foi totalmente reescrito, tentei fazê-lo através de flashbacks, mas ficou um pouco confuso e enigmático. Não queria pensar que talvez as pessoas não entendessem o que houve. Certa vez li uma entrevista de um autor catarinense ((David Gonçalves, se lhes interessar)) e ele dizia que burro era o escritor que não conseguia passar sua mensagem, e não o leitor por não entender. Concordo com ele... Este capítulo contém fracos spoilers da Saga de Hades, porém eles não farão sentido algum para quem nunca sequer leu um resumo dessa saga ((ao menos eu tentarei fazer isto))... Trilha ao som de Ill Nino - How can I live...
Obs: Na presente fic, Shaka conta com 20 anos, Marine com 17, Amy com 15 e Lune com 12, exceto a primeira parte, um flashback do capítulo anterior.
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Já tinha anoitecido fazia algumas horas e Marine carregava a urna de sua armadura, caminhando lentamente na direção de sua casa. Talvez fosse o clima árido do Santuário ou talvez fosse o peso da urna, mas a moça andava como se carregasse um fardo enorme nas costas. E ela estava. As palavras do Mestre quando o reverenciou apresentando-se para fazer seu teste ecoavam em sua cabeça.
- "Marine, reverências não são mais necessárias... Fiquei sabendo de sua luta ontem, no escuro, contra Dócrates, e nela você provou ser digna de receber sua armadura. Os relatos que chegaram aos meus ouvidos é de que você lutou corajosamente, como a serpente que é pêga pela cauda e reage no último instante enrolando-se na vítima e estrangulando-a até que deixe de respirar... Você é ágil, inteligente e possui uma força interna tão grande quanto à de qualquer outro cavaleiro ou amazona! Soube também que sua irmã chegou pela manhã, e se os relatos que recebi sobre ela forem verdadeiros, ela é tão boa quanto você... Por isso, vou mandar-te para a Cordilheira dos Andes para treiná-la... Daqui cinco anos, você voltará e me apresentará os resultados dos treinamentos, mas até lá não quero sequer vê-la novamente por estas terras, entendido!?"
Sim, havia entendido. Não entendia como fora capaz de suportar aquelas palavras sem chorar ali mesmo. Deixar o Santuário!? O Mestre queria vê-la definhando e finalmente morrendo num lugar esquecido e distante... Pensando sobre isso, ia caminhando a pesarosos passos na direção de casa, tinha que conversar com Amy e Lune... Começou a pensar no que diria à elas... Lune tinha ficado tão contente de finalmente chegar no Santuário, e agora precisaria ir embora! E Amy!? Estava indo para longe de sua melhor amiga...
Diante da porta, parou, organizando seus últimos pensamentos. Logo um rosto curioso de criança surgiu na janela e em seguida no vão de uma porta que se abria, para recepcioná-la com abraços e beijos. Marine sorria, mas quem olhasse direito, veria em seus olhos uma profunda tristeza. Amy percebeu, logo chamando Lune para dentro e deixando que Marine entrasse e deixasse a armadura num canto, para o encanto da irmã.
Amy chamou a amiga para conversarem no quarto, e foi em meio à lágrimas que Marine contou o que teria de fazer. A outra também chorou, mas ajudou a preparar as malas, enquanto a pequena Lune se divertia tentando bisbilhotar a armadura dentro da urna.
Cansada sem conseguir abrir ou sequer subir em cima, Lune resolveu explorar o Santuário. Espiando por trás da porta entreaberta que as duas no quarto continuavam conversando e arrumando malas, abriu a porta sem fazer barulho e foi se esgueirando para fora, esticando o corpo e encolhendo a barriga.
Saltitante, deu seu passeio naquele pedacinho da Grécia, que mesmo durante a noite tinha um clima super agradável, muito diferente de sua casa. Parou quando esbarrou em algo maior que ela.
- Desculpe! - ela se levantou e foi logo providenciando uma reverência.
- Não é preciso reverências. Me diga uma coisa, você é a irmãzinha da Marine!? - perguntou o vulto.
- Sim, eu sou... - ela respondeu, não muito certa do que estava falando.
- Soube que vocês vão partir. Você pode me fazer um favor!?
- Posso sim!
- Então... Cuide bem dela por mim...
Lune ia responder, mas o vulto de virou e fugiu correndo, tão rápido que Lune mal o enxergou. Mas viu um brilho dourado estranho, e sossegou. Foi logo voltando para a casa, antes que dessem pela sua falta.
Mais algumas horas e Marine praticamente arrastava Lune pelo braço. Como qualquer criança, tinhosa, não queria ir embora, agarrando-se em tudo que se passava. Quando se viu dentro do navio, finalmente parou de espernear, mas fez um bico que não se desfez até as duas chegarem na Bolívia. Do convés, Marine via a grécia ir se afastando aos pouos e a figura de Amy acenando de cima de um barranco. Tentou procurar pela figura de Shaka, mas ele não estava lá! Sentiu-se abandonada, mas foi exatamente nessa hora que o murmúrio do vento lhe trouxe um beijo e uma promessa futura.
O caminho subindo os Andes não era nada demais para Marine, mas era uma trilha forçada demais para Lune, então constantemente precisavam parar quando esta se sentia tonta. No caminho, passaram por diversas aldeias e Lune ficou encantada com as roupas coloridas que as pessoas usavam. Os nativos, entretanto, achavam muito estranho uma moça e uma menina com os rostos cobertos por máscaras subindo montanhas tão altas. Mas aquilo era como estar em casa! Pessoas simples, casas simples, plantações pequenas e animais... Como era na Romênia!
Como mestra de Lune, Marine não se mostrava muito paciente. Por isso continuava as caminhadas sempre que a menina já estivesse se sentindo melhor, mesmo que isso significasse subir no escuro. Numa das manhãs, elas finalmente pararam.
Caminhando até a beira do precipício, Marine olhou as nuvens de neblina subindo e descendo pelas encostas das colinas, escondendo as aldeias ao longe. O sol ainda não tinha nascido mas já estava claro, e ela observou o horizonte formado pelas montanhas. O mar estava tão longe agora! Suspirou, sentindo que o ar lhe faltava, não pela altura, mas pelo sentimento de vazio de ter que deixar para trás algo que lhe dava tanto alento.
- Mana! Olha! Parece algodão doce! - gritou Lune, puxando um pedaço da roupa da irmã.
Ela se virou a tempo de ler "algodão doce" nos lábios da menina. Sorriu, vendo do que se tratava, pois a pequena continuava apontando para a neblina que subia e descia em tufos espiralados nos pés das montanhas.
- Sim, pareca algodão-doce.
- Só não é rosa, né!? Nem azul e nem amarelo... Mas parece!
Marine sorriu, olhando para trás, para a casa de madeira ao molde dos templos budistas. Um pedaço do Tibet perdido no meio dos Andes!? Nessa hora o sol começava a nascer, tingindo as nuvens-algodão-doce de laranja.
- Mana! Que é aquilo!? - apontando para algo que reluzia em dourado.
- Aquele é o Salar de Uyuni... E aquilo... - apontando para o pico evado acima delas - é o Pico Lipez...
- O povo aqui fala engraçado.
- Eles falam espanhol. Mas não esqueça que nós também temos sangue espanhol na veias. Nossa avó era cigana, mas nasceu na Espanha e falava em espanhol em casa. Mas você não deve lembrar porque ela morreu antes de você nascer... Mas olhe... - e apontou com um gesto de cabeça para a casa - Ali nós vamos morar. Quer ir lá ver!?
- Agora não...
- Tudo bem... Eu vou arrumar as coisas e já volto, não saia daí...
Marine foi na direção da casa enquanto Lune se ajeitava no alto de uma rocha mais alta que tinha por ali.
Mal tinha entrado na casa, notou o piso de madeira grosso de poeira e as paredes cheias de teias de aranha. Sua primeira providência foi limpar isso, pois Lune era alérgica à pó e tinha pavor à aranhas. Na verdade ela também tinha, mas o medo de aranhas ela tinha superado com o tempo, e com tanto pó no Santuário, ela se acostumara. Enquanto limpava, Lune veio correndo de fora.
- Mana!
- Que é!?
- Quer ajuda!?
- Não, se você respirar poeira, vai ficar ruim...
- Ah... É que eu também queria perguntar umas coisas...
- Tudo bem, eu já termino de limpar, me espere lá fora.
Contrariada, Lune obedeceu, indo esperar na varanda. Havia uns banquinhos feitos de troncos de árvores e ela os achou incrivelmente confortáveis. Marine logo apareceu, com uma bandeja com pão, queijo e leite, que tinha trazido da última vila que visitaram.
- Prontinho... Preparei um lanchinho também. Então, o que você queria perguntar!?
- Por que precisamos treinar justo aqui!?
- Por causa da altitude... Lembra à que constelação pertence a armadura que você quer!?
- Lebre...
- Exato! E qual a primeira característica que você lembra das lebres!?
- Elas são fofinhas!?
- Não, elas são rápidas... Treinando aqui, quando você estiver numa altitude menor, você vai estar muito mais rápida que os seus inimigos.
- Ah...
- Acabou!?
- Não...
- O que mais!?
- Por que temos que usar essas máscaras feias!?
- Para esconder nossa feminilidade... Ordens do Santuário...
- Mesmo aqui que só tem nós duas!?
- Mesmo aqui que só tem nós duas... Dentro de casa, talvez possamos andar sem elas, mas fora não...
- Ah...
- Mais alguma pergunta!?
- Só mais uma...
- Diga...
- Você já deixou algum cavaleiro ver seu rosto!?
Neste momento Marine ficou quieta. Lune gargalhava por dentro, com um sorriso super-maroto no rosto.
- Que foi, Lune!?
- Nada, lembrei de uma coisa...
- Ótimo, então conta que eu quero rir também...
- Ah... É que no dia que a gente foi embora, o seu namorado me disse pra cuidar bem de você...
- Meu namorado!? Ele disse isso!?
- Não... Mas... - e a menina caiu na gargalhada.
Sem saber onde enfiava a cara, Marine começou a fazer cócegas na barriga da irmã que finalmente caiu do banquinho, chorando de tanto rir.
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Tinham-se passado quase cinco anos! Da mesma varanda, a moça de cabelos azuis observava a garota de cabelos cor-de-rosa sentada sobre uam rocha na beira do precipício, seu lugar preferido.
Encostada no batente da porta, Marine estava perdida em pensamentos, mergulhada em seus piores temores e prevendo alguma tragédia.
Lune também podia sentir a luta que já estava acontecendo num lugar distante dali, mas às vezes confundia isso com fome, ou puro medo.
"Shaka..."
Marine não tinha resposta, nem sequer um murmúrio do vento. De repente, as duas sentiram um arrepio pela espinha.
"Não, Shaka, espere!"
Não só Marine, mas como outros Cavaleiros de Ouro e Athena pediam que o Cavaleiro de Virgem não se sacrificasse. Mas era preciso, e ele não hesitou. Mandou sua mensagem para Athena e desapareceu, finalmente.
Na varanda da casa de madeira, uma estática Marine tinha os olhos úmidos de lágrimas, que corriam livres pelo seu rosto, sem que ela as empedisse. Lune veio correndo até ela, preocupada. Ela disse para que não se preocupasse, mas deixou-se escorregar até o chão e, encolhendo os joelhos para junto do peito e abraçando-os, começou a soluçar baixinho, escondendo o rosto. Ficou assim por muitos minutos e talvez por algumas horas, tentando entender o que tinha acontecido. Lune ficou ali parada, sem saber como agir, até que a irmã levantou, limpando as lágrimas de seu rosto.
- Lune, quero que faça uma coisa por mim...
- Claro, Nine...
- Observe o céu... Veja, ele está ficando negro! - apontou para o pedacinho de céu que era visível da varanda.
- Ai, o que está acontecendo!?
- Algo muito terrível... Fique aqui e me avise quando o céu voltar ao normal, certo!?
A contragosto, Lune respondeu positivamente com um gesto de cabeça. Marine então sorriu, voltando-se na direção da porta da casa e entrando, fechando-a atrás de si. Lune segue para seu local do alto da rocha, e Marine senta-se em posição de meditação no centro da sala.
Diante do Muro das Lamentações, Shaka se reúne aos outros cavaleiros de Ouro. Eles sabem que só existe uma maneira de destruir o Muro e devolver a Armadura de Athena à ela.
Marine também sabe disso. Ainda, sabe que Shaka não responderá, mas estará ouvindo até o último segundo. Não perderá nada se tentar... Ser egoísta...
"Shaka..."
"Sei que você me ouve, pois há muito tempo somos um só..."
"Aprendi a transmitir meus pensamentos à você sem precisar de minha boca. Eu te amo e te desejo de todas as formas que poderia desejar... Continuo te respirando a cada manhã, te vendo em cada nuvem no céu, te ouvindo em cada sopro de vento, te sentindo em cada gota de chuva que molha minha pele."
"Eu lembro de você naquele dia. Lembro de quando nos despedimos e do quanto eu lutei contra o meu desejo de ficar ali. Ao seu lado eu me senti tão bem! E isso me fez necessitar de você, como o coral que precisa das rochas para existir."
"Quando eu consigo aceitar que este é o jeito das coisas serem, só consigo sentir ainda mais raiva, eu queria tanto poder exigir toda a sua atenção para mim... Mas sendo você um cavaleiro leal à Athena, não posso pedir isso. Então acho que o que vou fazer é melhor que ir morrendo aos poucos por dentro cada vez que lembrar de você."
Lune assistiu o sol se tornar quase negro e voltar a brilhar. Exultante de alegria, saiu correndo para dentro da casa, abrindo a porta de correr da sala, mas parando logo em seguida. O sorriso que trazia nos lábios feneceu, suas pernas amoleceram e por um segundo foi como se uma sombra tivesse tomado conta de todo seu ser.
Correu a abraçar a irmã caía no centro da sala. Haviam lágrimas quentes no rosto de Marine, mas ao tocar o corpo da irmã, Lune percebeu que ela estava gélida. Ficou olhando para o rosto pálido da irmã, de olhos fechados. Começou a soluçar baixinho, apertando a irmã num abraço desesperado, apertando os olhos para não chorar e sussurrando, implorando para que aquilo não estivesse acontecendo...
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Considerações Finais:
Isso "encerra" a fic... Ou não!? Escrevi um epílogo e um final alternativo... O epílogo deste final também já está publicado, por isso defini a fic como "concluída"... O final alternativo, só publico depois de comentários...
