CAPÍTULO 05 - O segredo revelado
- Harry Potter! – A voz de Hermione ecoou pelo salão assustando o garoto que lia um livro muito interessado – Onde o senhor estava? Não compareceu em nenhuma aula, onde foi que você se meteu?
Rony a segurava pelo antebraço, tenteando assim conter seu ritmo apressado e concentrado na pessoa assustada de Harry. A menina, literalmente, o arrastava junto.
- Não ouvi resposta! – Grunhiu fazendo um esforço quase sobre-humano para chegar até Harry. Rony era muito forte e a segurava com firmeza. Hermione mantinha seu lábio contraído com força, o que indicava o seu péssimo humor.
- Aconteceu uma coisa, Mione! – Murmurou um pouco relutante. Devia mesmo falar? Ele tinha pensado nisto desde a hora que chegara lá, mas agora, frente à situação, sua incerteza voltara a aparecer – E eu não podia deixar daquele jeito...
- Que coisa? – Hermione se sentou irritada ao seu lado. – O que foi tão importante?
- Bom, a pessoa pediu segredo – Começou devagar, medindo com cuidado as palavras. Um deslize agora, e tudo podia se complicar. Eles poderiam ajudá-lo na tarefa contra Snape, e foi com esse pensamento que ele se convenceu que o melhor a fazer era contar aos amigos e pedir sua ajuda, sem, claro, revelar a identidade da vítima – Eu... Eu vi um professor com um aluno... – Ele fez uma pausa tentando encontrar uma boa definição, algo que explicasse mais do que ele já havia dito, mas nada veio a sua cabeça – Vocês me entendem, né?
Logo após a fala de Harry, fez-se um silêncio sepulcral durante alguns minutos no local. Tempo o suficiente para Rony e Hermione entenderem o que o outro tentava dizer de forma tão simplificada.
- Que? Eu entendi direito? Um professor com um aluno! – Repetiu Rony incrédulo – Quem era o garoto?
- Eu disse que pediu segredo, não vou falar! E sim, eram dois homens!
A expressão de rancor que Hermione carregava no rosto tomou rapidamente espaço para a de preocupação. Aquele assunto além de inusitado, era também perigoso.
- Esse tarado está mantendo relações sexuais com um aluno? Como pode? Harry onde é que eles estavam? Precisamos ajudar esse menino de qualquer jeito, seja quem for! – Dardejou inconformada, socando a almofada dourada em seu colo.
- Eu sei, eu sei! Foi por isso que contei, se não eu ficava em silêncio – Revirou os olhos tentando pensar numa solução – Não sei o que fazer... Preciso de ajuda!
- Tem certeza que esse guri não estava lá por que queria? Isso é muito estranho... – Falou Rony com uma expressão estranha no rosto.
- Não, Rony! Lógico que não! Você tinha que ver a feição da pessoa... O coitado estava arrasado! Fiquei com ele até agora pouco... Está acabado, em frangalhos! Dá dó!
- Pode dizer a casa dele pelo menos? Ou o nome do professor? – Sugestionou Hermione tentando tirar mais dados do amigo – Seria mais fácil saber com quem estamos lidando.
- Não sei sua casa – Mentiu sentindo uma pontada incomoda no estômago – Mas o professor era o Snape. – Não pode conter uma nota de raiva em sua voz.
- Só podia ser! – Falou Rony com um sorriso torto nos lábios, se tacando no sofá, levantando junto consigo Harry e Hermione, que perderam o equilíbrio caindo para o lado – Ele tem cara de ser um maníaco sexual compulsivo asqueroso, temos que ajudar!
- Quanto antes melhor! – Apoiou Hermione se recompondo – Deu alguma dica de quando vai ser o próximo encontro?
- Eu pergunto a ele amanhã... Mas não me sigam! Entenderam?
- Certo, certo! – Balbuciou Hermione revirando os olhos – Vou me deitar agora. Estou cansada e com muito sono! – Soou falsidade. Na verdade seu plano era pesquisar – Boa noite!
* * *
Na manhã seguinte, durante o café, Draco notara os olhares furtivos do mestre, virava o rosto em sinal de defesa, querendo a todo custo que ele se mancasse e o deixasse em paz, mas Snape, não atingido pelos insultos silenciosos, ainda olhava-o com desejo desinibido.
- Garoto lindo... Grácil, com quem ama, agressivo e rancoroso, com quem odeia! – Ele riu - Não me assusta!
- O que está falando prof° Snape? – Perguntou o mirrado Flitwick ao seu lado.
- Nada! – Retorquiu combativo cerrando os dentes. – Eu apenas pensei alto... Nada de mais! E agora volte a comer e me esqueça, certo?
Flitwick fez um gesto impaciente, tremendo todo seu corpinho minúsculo, murmurando algo parecido com "Homem rude" voltando logo em seguida sua atenção para o mingau de morango a sua frente. Snape olhou contrariado pelo resto da mesa verificando se mais ninguém ouvira seu deslize "não, ninguém ouviu!" Pensou aliviado se recostando novamente em sua cadeira, sem saber o quão errado estava. Minerva, com seu jeito sereno de agir, passara facilmente despercebida pela confiscada minuciosa do parceiro.
- Saco, para com isso! – Murmurou Draco apaticamente, escondendo o rosto com uma das mãos – Droga! Por que comigo?
- Que foi Draco?
- Nada Goyle, volta a comer! – Ordenou, observando o palerma ao seu lado obedecer a suas ordens com gosto.
Na mesa ao lado, o trio discuta sob um livro velho, com rostos muito colados e os braços entrelaçados uns nas costas do outro. O livro amarelado estava aberto em uma página completamente grifada, juntamente com algumas manchas do tempo e outras feitas por dedos sujos de carvão.
- É uma poção simples de esquecimento – Sussurrava Hermione sentada entre os dois garotos, debruçada sobre o livro – A pessoa só o quebra se lembrar que recebeu a poção. 99,9% de chance de isso não acontecer!
- Mas e se acontecer? Afinal de contas ainda resta 0,01%, certo? – Perguntou Rony – Duvido que aconteça, mas se trata de Snape, e ele não é comum!
- Essa foi à única poção descente que encontrei, de todas que sei e já li, esta é a melhor...
- Quando foi que você pesquisou, Hermione? – Perguntou Harry olhando para a amiga sem precisar virar muito o rosto – Foi dormir cedo ontem!
- Antes de me deitar, dei uma revirada nos meus livros e achei este aqui!
- Não vai nem na biblioteca?
- De jeito nenhum! Eu não preciso, já decorei todos...
Os dois trocaram olhares audazes por trás da cabeça da garota. Não duvidavam de nada, já que ela era bem capaz de fazer isso sem muito esforço.
- Só tem um, porém! – Disse se jogando para trás – A poção demora mais de uma semana para ficar pronta! Até lá, nosso amiguinho vai ter que agüentar...
- Hug! – Gemeu Rony se contorcendo na cadeira – Não queria ser ele!
- Credo, uma semana! – Repetiu Harry com a voz esganiçada – Ai, Deus!
- Vou começar a prepará-la hoje mesmo! – Continuou a menina fingindo não notar as interrupções – Assim na próxima quarta vai estar pronta!
- Mas, Mione... Não seria mais fácil usar o Obliviate? Um feitiço de memória é bem mais fácil do que uma poção, né?
- Acontece, Harry, que nós não queremos que de repente o nosso professor de poção se esqueça de tudo e de quem ele mesmo é. Isso com certeza iria levantar suspeita! – Afirmou anotando algo no rodapé da página – Já esta poção faz o individuo esquecer-se de apenas alguns meses... E creio eu que seja tempo o suficiente para ele se esquecer do nosso amiguinho!
Harry pareceu pensar por algum tempo, sem duvidas ela tinha razão.
- Ok! Você tem razão... – Resmungou um pouco desapontado. Pensou então nos dias que Snape falara. Draco teria que se encontrar com ele, pelo menos, mais três vezes. – Droga! Vou ter que avisar o coitado...
As classes começavam a abandonar as mesas pouco tempo depois, dirigindo-se cada um para a sua respectiva classe, logo iria dar o horário. O trio conversava animadamente pelos corredores, as duas primeiras aulas dos garotos era TDCM. Eles haviam começado a estudar os unicórnios, Hagrid não estava muito feliz com os bichinhos. Para ele os bichinhos eram muito quietos e melancólicos, mas Hermione em compensação, os adorava. Achava lindo o modo que seus pêlos prateados brilhavam a luz do sol. Já haviam tido varias aulas práticas sobre eles anos passados, mas neste em especial, os estudariam mais profundamente. A aula correu normalmente, enquanto as alunas se derretiam pelo animal, encantadas, afagando sua crista macia.
- Ele deve estar feliz com tanta mulher em cima – Zombou Rony, sentado embaixo de uma árvore – Gostaria de ser um...
- Ouvi isso, Ronald Weasley! – Gritou Hermione do outro lado do campo – Vai se ver comigo depois! Aguarde!
- Puts, como ela ouviu de lá? – Gaguejou incrédulo, Harry segurou um riso engasgado – Essas meninas, nunca vou entendê-las...
Draco estava bem afastado dos dois, sentado na grama de baixo do sol, as pernas cruzadas, as mãos apoiadas para trás, com o rosto virado para o céu. Mantinha os olhos fechados, respirando profundamente o ar fresco que corria os campos. Abaixou a cabeça abrindo lentamente os olhos, averiguando que ainda tinha um bolinho de meninas em volta do bichinho, viu Pansy, coma cara enojada, mexer de leve na pelagem do animal, afastando-a logo depois com uma exclamação altíssima.
- Sebosa! – Comentou entortando o nariz – Coitado do bicho! Foi contaminado... Bleca, não queria ser ele!
- Draco! Draco! – Chamava Goyle correndo em sua direção com os monstruosos braços balançando pesadamente nos lados. O menino era realmente imenso – Tenho que falar com você!
- Você já esta falando! O que quer?
- É sobre o Crabbe – Disse se jogando pesadamente ao lado do menino. Draco se esquivou pelo susto – Tá agindo diferente...
- Diferente como? Especifique claramente, por favor.
- Me olha com cara de peixe morto – Enquanto dizia contava nos dedos com cara pensativa, o que lhe dava ainda mais a aparência de um demente – Vive me abraçando, tenta me beijar, gosta da minha voz... Hã, o que mais... Ah sim! E vive me dizendo como eu sou bonito!
- Não acredito! – Riu Draco depois da declaração. Pensava que isso só acontecera com ele no colégio inteiro, mas pelo jeito não – Goyle, não sei se você vai acreditar em mim, mas acho eu que o Crabbe está apaixonado por você...
- Que!? – Gritou o menino arregalando os olhos – Eca, ECA! Ah...
No mesmo instante o rapaz saiu correndo desenfreado pelo gramado, rodando os braços rapidamente, trombando sem querer com um grande grupo de meninas, derrubando todas como se fossem pinos de boliche.
- Eu, heim! Cada um que me aparece! – Disse Draco balançando a cabeça em sinal de total desaprovação.
* * *
Quando as classes se separavam dentro do castelo, Harry se escondeu em uma das várias salas abandonadas, e ficou de tocaia esperando por Draco. O mesmo caminhava tranqüilamente, sem nenhum dos dois brutamontes ao seu lado. Goyle havia desaparecido depois da conversa, e Crabbe estava chorando no banheiro do quarto andar. Draco era o último da fila, seguia, sem muita vontade, para a aula de Runas antigas que era em uma das salas do último andar, em conforme o seu ritmo, chegaria bem atrasado em relação à turma. Não tinha pressa.
De repente sentiu uma mão lhe puxar o braço fortemente, forçando-o a entrar na sala escura. Aturdido segurou-se no batente com a mão livre como pode. Fosse quem fosse não iria levá-lo tão facilmente.
- Hei, me larga seja quem for! – Ordenou puxando o braço preso para si mesmo com estremo esforço, a mão presa ao batente doía, principalmente na região das juntas – Me larga, droga!
- Calma Draco, sou eu! – Confortou Harry, conseguido puxar um Draco desconfiado para junto de si.
- O que faz aqui? – Perguntou confuso, olhando ao redor – Eu tenho aula e...
- São cinco minutinhos, Draco! – Interrompeu puxando-o mais para o fundo do local sombrio, a fim de manter mais privacidade – Eu contei a eles!
- Quê!? Contou o quê, pra quem?
- Sobre você e o Snape para a Hermione e o Rony! – Suspirou, olhando de esguelha a cara de Draco – Relaxa, não disse que era você nem nada comprometedor...
Draco estava estagiado, seu cérebro parecia ter virado purê, mas ainda assim conseguia mandar impulsos elétricos por todo seu corpo causando pavor. Sua expressão ia de ira a susto, tudo misturado, o que desfigurava seu rosto.
- Como? Harry, você endoidou de vez foi? – Sua voz estava rouca e se prestasse muita atenção, rouca também – Por que contou? Era o nosso segredo...
- Precisamos de ajuda! E não adianta me dizer que não! – Completou antes que Draco o interrompe-se – Hermione é muito inteligente, você sabe, ela até já achou uma poção muito boa em menos de um dia...
- Qual? – Indagou descrente.
- Esquecimento, mas tem um porém desagradável no meio!
- E ele seria o que exatamente? Não vão ter que cortar um dedo meu, ou coisa do gênero, né?
- Não. Pior! – Conclui deixando Draco em estado de choque – Você vai ter que se encontrar com o Snape mais uma semana pelo menos...
- Ah, não! – Soluçou abatido – Eu odeio ele, não quero vê-lo mais, Harry!
- Desculpa! – Sussurrou arrebatando Draco num abraço apertado – Gostaria que fosse mais rápido!
- Não se culpe! – Murmurou com o rosto enterrado no pescoço de Harry – Você fez o que pôde! Eu... Eu vou agüentar mais um pouco... Por nós! – Murmurou erguendo o rosto para encarar Harry.
Seus lábios se encontraram com os do amante levemente, permitindo um beijo doce e calmo. Harry sabia a luta interna que Draco enfrentava para se manter calmo diante daquela situação desesperadora, lembrou-se que neste fim de semana haveria uma excursão a Hogsmeade e do baile de inverno na semana seguinte, uma idéia surgiu em sua mente.
- Draco, sabe... Eu me lembrei de uma coisa – Balbuciou, não contendo o sorriso – Daqui a pouco é o baile de inverno, certo?
- Sim e daí? – Perguntou absorto – Por que? O que está tramando...
- Quer ir ao baile comigo?
- Quê!? – Gritou com a voz estridente – Tá louco... O que vai acontecer se todos souberem?
- Ei, calma! – Sussurrou – Não saberão que é você!
- Me explique como! – Provocou Draco se encostando à parede com os braços cruzados – Como vai me esconder de Hogwarts inteira?
- Horas, é fácil! – Disse simplesmente se aproximando de Draco – Você vai ser Malu... Não esse nome é feio demais! Hum... Que tal Isabel, sim Isabel é melhor!
- Não compreendi! – Balbuciou confuso, perdendo alguns segundos para entender – EPA! Nem vem, isso nunca!
- Por que não? Tenho certeza que ninguém vai desconfiar...
- Então faz você isso.
- Não dá! – Ao ver a expressão de descontentamento de Draco completou – Meus amigos são inteligentes... Vão sentir minha falta, diferente de certos mentecaptos que conheço...
- Onde vou arranjar a roupa?
- Compramos em Hogsmeade neste fim de semana, eu pago!
- Não sei me comportar como uma.
- A gente treina esta semana que vai vir!
- To pouco me lixando – Reclamou virando o rosto para o lado oposto do de Harry – Não aceito isso! É muito constrangedor... Onde já se viu?
Aproximando-se feito um gato, Harry colou se corpo contra o de Draco num segundo, segurando seu rosto meigamente, encostando nariz com nariz, testa com testa.
- Faz isso por mim – Melodiou carinhoso – Me faça feliz! Por favor... Não quero convidar uma garota para ir no seu lugar.
- Chantagem sentimental não vale! – Sussurrou emburrado – É sempre assim, ai, ai – Bufou contrariado fechando os olhos. Aderiu - Tá bom, tá bom! Mas você me paga, Potter! – Ameaçou com um olhar assassino, que ornava tão bem com ele.
Harry sorriu, ainda encarando profundamente os olhos azuis tão próximos, os lábios a polegadas de distância, quase se tocando, ansiando um contato mais íntimo, a respiração ofegante latejando no contato com sua pele. Com um suspiro profundo de contentamento, Harry atravessou a distância que separava seus lábios, beijando de forma voluptuosa o rapaz, segurando seu rosto com insistência.
- Sabia que podia contar com você!
- É melhor do que ficar livre para o Snape!
Deram-se mais um breve beijo, cada um seguindo para sua aula logo depois. Harry para a de defesa contra a arte das trevas, e Draco para a de Runas antigas, a qual, por sinal, estava bem atrasado. Harry subiu correndo as escadarias até o quarto andar, entrando afobado na sala de aula, chamando atenção dos outros alunos e recebendo o olhar de desaprovação da professora.
- Desculpa, profª Figg! – Disse em meio à respiração ofegante.
- Onde esteve Sr.Potter? A aula já começou há vinte minutos...
- Posso me sentar? – Perguntou, não a respondendo.
- Sente-se, mas um último aviso para o senhor... Da próxima vez vai perder pontos para sua casa, espero que esteja ciente disto.
- Sim, senhora!
Sem ligar muito para a advertência, seguiu até seu costumeiro lugar, ao lado de Rony e Hermione na terceira fileira. Pelo olhar 121 que Hermione lhe lançara ao se sentar, sabia que não ia escapar do interrogatório no fim da aula.
* * *
Durante o período do almoço inteiro foi bombardeado por perguntas de todos os tipos, feitas por Hermione, algumas inteligentes e bem pensadas outras tolas e vazias.
- Vigésima quarta pergunta:Por que não tomou mais cuidado?
- Foi apenas um lapso na minha memória, Mione.
- Por que não foi depois?
- Chega, Hermione! – Gritou agarrando os próprios cabelos com força – Já estou ficando doido com tantas perguntas.
Ela olhou duvidosa para ele, olhava intimidadora, algo estava errado naquela história. Batia com as pontas dos dedos nas mesas, o som de das unhas em contato com a madeira amedrontava ainda mais Harry... E Rony também.
- Hermione, minha querida! – Interrompeu Rony segurando suas mãos bem longe da mesa, beijando-a logo em seguida – Vamos dar uma chance a ele, sim?
- Estou de olho em você, Sr.Potter! – Caçoou desmanchando o rosto adstrito num sorriso amigável.
- Tudo bem! – Expirou aliviado.
- Ai credo! – Exclamou Rony de repente, assustando Harry e Hermione – Duas de poções agora... Eca! Que nojo! Blé... Blé...
Depois que o showzinho particular de Rony havia atraído atenção de vários alunos, os três acharam melhor sair rapidinho do salão principal. Hermione tentava manter escondida a vermelhidão apimentada que seu rosto ganhara. Juntos seguiram em silêncio pelos corredores do castelo até a sala de poções que estava fria e malcheirosa como sempre. Os alunos da sonserina já esperavam sentados em seus devidos lugares, lançando olhares desdenhosos e vulgares para o grupo da Grifinória, mas foi a posição de Draco que chamou a atenção de Harry. O menino estava encostado na parede com os olhos fechados, às mãos cruzadas sobre o peito e as pernas sobre a mesa incomodando a menina que sentava a sua frente, parecia inerte naquele estado, dava-se até para considerá-lo morto devido a sua palidez e fraca respiração que mal movimentava a camisa branca exposta através da capa aberta. Harry concluiu que ele deveria estar dormindo ou algo do gênero, mas na verdade, Draco pensava concentrado na aula que estava para começar, na qual teria que encarar novamente o mestre. "Caia da escada, torça a perna e frature a cabeça, role até a escadaria onde vai despencar quicando em cada degrau, perdendo todos os seus dentes e mordendo a língua a cada impacto!" Amaldiçoava sentindo arrepios frios escorrendo pela sua nuca "Que bom se isso ocorresse de verdade!" Porém os seus desejos não foram atendidos, logo em seguida o professor entrou rapidamente na sala carregando um livro velho e esfarrapado nos braços.
- Abram seus livros na página trinta e um, vamos começar hoje a fazer a poção da fome e ela requer ATENÇÃO! – Gritou para chamar atenção de Thomas e Simas – Quero silêncio total, fui claro?
Todos concordaram mudamente, apenas com movimentos positivos de cabeça. O pior era que a poção realmente era difícil. Eles tinham que ser meticulosos com os ingredientes, um grão a mais do que devia podia resultar numa poção do envelhecimento, sem cura. O silêncio predominava no lugar, todos estavam concentrados apenas em seus próprios pensamentos. Nem mesmo Harry olhava para Draco, que hoje estava tão perto dele, não queria virar um vovô ou coisa pior, mas às vezes lançava um olhar sórdido ao professor que vigiava Draco de perto.
Um estouro chamou a atenção de todos na classe. Na frente do trio, o caldeirão de Neville soltava centenas de bolhas rosadas que explodiam com estouros altíssimos onde quer que relassem. O menino trepara de forma urgente na mesa do trio caindo com força de costas no chão ao perder o equilíbrio. A turma se encolhia debaixo das mesas, ou então dançavam uma dança estranha para se livrar das bolhas, se protegendo do liquido ácido que voava pela classe inteira. Muitos alunos foram feridos, incluindo Harry que estava pertíssimo do local do acidente. Draco olhava preocupado para ele sem perceber uma grande bolha ácida que vinha em sua direção, explodindo ao encostar de leve em seu braço, queimando seu corpo. Draco gritou de dor.
- Poupe-me, Sr Longbottom! – Urrava o professor isolando o caldeirão em frações de segundos com um feitiço – Cinqüenta pontos a menos para a Grifinória e um mês de detenção! Os feridos me acompanhem!
Metade da sala acompanhou o professor, muitos choravam e soluçavam por causa dos ferimento. Harry olhava aflito para Draco, o menino havia se queimado sério, todo seu braço estava coberto por bolhas vermelhas e pulsantes que apreciam por debaixo do pano carbonizado da manga. Algumas haviam estourado, deixando em seu lugar carne viva que sangrava muito, pingando no chão. Os casos mais graves ficavam ao lado do professor. Eram apenas três: Draco, Simas e uma garota com cara de cavalo da Sonserina chamada Mirella, que mordia o lábio inferior com tanta força, que já estava o machucando. Harry foi obrigado a ficar para trás, longe do seu amado, tinha apenas uma chamuscada no ombro, realmente nada sério. Ia conversando com Lilá, que tampava com a mão a bolha que nascera em seu pescoço.
- Harry Potter! – A voz de Hermione ecoou pelo salão assustando o garoto que lia um livro muito interessado – Onde o senhor estava? Não compareceu em nenhuma aula, onde foi que você se meteu?
Rony a segurava pelo antebraço, tenteando assim conter seu ritmo apressado e concentrado na pessoa assustada de Harry. A menina, literalmente, o arrastava junto.
- Não ouvi resposta! – Grunhiu fazendo um esforço quase sobre-humano para chegar até Harry. Rony era muito forte e a segurava com firmeza. Hermione mantinha seu lábio contraído com força, o que indicava o seu péssimo humor.
- Aconteceu uma coisa, Mione! – Murmurou um pouco relutante. Devia mesmo falar? Ele tinha pensado nisto desde a hora que chegara lá, mas agora, frente à situação, sua incerteza voltara a aparecer – E eu não podia deixar daquele jeito...
- Que coisa? – Hermione se sentou irritada ao seu lado. – O que foi tão importante?
- Bom, a pessoa pediu segredo – Começou devagar, medindo com cuidado as palavras. Um deslize agora, e tudo podia se complicar. Eles poderiam ajudá-lo na tarefa contra Snape, e foi com esse pensamento que ele se convenceu que o melhor a fazer era contar aos amigos e pedir sua ajuda, sem, claro, revelar a identidade da vítima – Eu... Eu vi um professor com um aluno... – Ele fez uma pausa tentando encontrar uma boa definição, algo que explicasse mais do que ele já havia dito, mas nada veio a sua cabeça – Vocês me entendem, né?
Logo após a fala de Harry, fez-se um silêncio sepulcral durante alguns minutos no local. Tempo o suficiente para Rony e Hermione entenderem o que o outro tentava dizer de forma tão simplificada.
- Que? Eu entendi direito? Um professor com um aluno! – Repetiu Rony incrédulo – Quem era o garoto?
- Eu disse que pediu segredo, não vou falar! E sim, eram dois homens!
A expressão de rancor que Hermione carregava no rosto tomou rapidamente espaço para a de preocupação. Aquele assunto além de inusitado, era também perigoso.
- Esse tarado está mantendo relações sexuais com um aluno? Como pode? Harry onde é que eles estavam? Precisamos ajudar esse menino de qualquer jeito, seja quem for! – Dardejou inconformada, socando a almofada dourada em seu colo.
- Eu sei, eu sei! Foi por isso que contei, se não eu ficava em silêncio – Revirou os olhos tentando pensar numa solução – Não sei o que fazer... Preciso de ajuda!
- Tem certeza que esse guri não estava lá por que queria? Isso é muito estranho... – Falou Rony com uma expressão estranha no rosto.
- Não, Rony! Lógico que não! Você tinha que ver a feição da pessoa... O coitado estava arrasado! Fiquei com ele até agora pouco... Está acabado, em frangalhos! Dá dó!
- Pode dizer a casa dele pelo menos? Ou o nome do professor? – Sugestionou Hermione tentando tirar mais dados do amigo – Seria mais fácil saber com quem estamos lidando.
- Não sei sua casa – Mentiu sentindo uma pontada incomoda no estômago – Mas o professor era o Snape. – Não pode conter uma nota de raiva em sua voz.
- Só podia ser! – Falou Rony com um sorriso torto nos lábios, se tacando no sofá, levantando junto consigo Harry e Hermione, que perderam o equilíbrio caindo para o lado – Ele tem cara de ser um maníaco sexual compulsivo asqueroso, temos que ajudar!
- Quanto antes melhor! – Apoiou Hermione se recompondo – Deu alguma dica de quando vai ser o próximo encontro?
- Eu pergunto a ele amanhã... Mas não me sigam! Entenderam?
- Certo, certo! – Balbuciou Hermione revirando os olhos – Vou me deitar agora. Estou cansada e com muito sono! – Soou falsidade. Na verdade seu plano era pesquisar – Boa noite!
* * *
Na manhã seguinte, durante o café, Draco notara os olhares furtivos do mestre, virava o rosto em sinal de defesa, querendo a todo custo que ele se mancasse e o deixasse em paz, mas Snape, não atingido pelos insultos silenciosos, ainda olhava-o com desejo desinibido.
- Garoto lindo... Grácil, com quem ama, agressivo e rancoroso, com quem odeia! – Ele riu - Não me assusta!
- O que está falando prof° Snape? – Perguntou o mirrado Flitwick ao seu lado.
- Nada! – Retorquiu combativo cerrando os dentes. – Eu apenas pensei alto... Nada de mais! E agora volte a comer e me esqueça, certo?
Flitwick fez um gesto impaciente, tremendo todo seu corpinho minúsculo, murmurando algo parecido com "Homem rude" voltando logo em seguida sua atenção para o mingau de morango a sua frente. Snape olhou contrariado pelo resto da mesa verificando se mais ninguém ouvira seu deslize "não, ninguém ouviu!" Pensou aliviado se recostando novamente em sua cadeira, sem saber o quão errado estava. Minerva, com seu jeito sereno de agir, passara facilmente despercebida pela confiscada minuciosa do parceiro.
- Saco, para com isso! – Murmurou Draco apaticamente, escondendo o rosto com uma das mãos – Droga! Por que comigo?
- Que foi Draco?
- Nada Goyle, volta a comer! – Ordenou, observando o palerma ao seu lado obedecer a suas ordens com gosto.
Na mesa ao lado, o trio discuta sob um livro velho, com rostos muito colados e os braços entrelaçados uns nas costas do outro. O livro amarelado estava aberto em uma página completamente grifada, juntamente com algumas manchas do tempo e outras feitas por dedos sujos de carvão.
- É uma poção simples de esquecimento – Sussurrava Hermione sentada entre os dois garotos, debruçada sobre o livro – A pessoa só o quebra se lembrar que recebeu a poção. 99,9% de chance de isso não acontecer!
- Mas e se acontecer? Afinal de contas ainda resta 0,01%, certo? – Perguntou Rony – Duvido que aconteça, mas se trata de Snape, e ele não é comum!
- Essa foi à única poção descente que encontrei, de todas que sei e já li, esta é a melhor...
- Quando foi que você pesquisou, Hermione? – Perguntou Harry olhando para a amiga sem precisar virar muito o rosto – Foi dormir cedo ontem!
- Antes de me deitar, dei uma revirada nos meus livros e achei este aqui!
- Não vai nem na biblioteca?
- De jeito nenhum! Eu não preciso, já decorei todos...
Os dois trocaram olhares audazes por trás da cabeça da garota. Não duvidavam de nada, já que ela era bem capaz de fazer isso sem muito esforço.
- Só tem um, porém! – Disse se jogando para trás – A poção demora mais de uma semana para ficar pronta! Até lá, nosso amiguinho vai ter que agüentar...
- Hug! – Gemeu Rony se contorcendo na cadeira – Não queria ser ele!
- Credo, uma semana! – Repetiu Harry com a voz esganiçada – Ai, Deus!
- Vou começar a prepará-la hoje mesmo! – Continuou a menina fingindo não notar as interrupções – Assim na próxima quarta vai estar pronta!
- Mas, Mione... Não seria mais fácil usar o Obliviate? Um feitiço de memória é bem mais fácil do que uma poção, né?
- Acontece, Harry, que nós não queremos que de repente o nosso professor de poção se esqueça de tudo e de quem ele mesmo é. Isso com certeza iria levantar suspeita! – Afirmou anotando algo no rodapé da página – Já esta poção faz o individuo esquecer-se de apenas alguns meses... E creio eu que seja tempo o suficiente para ele se esquecer do nosso amiguinho!
Harry pareceu pensar por algum tempo, sem duvidas ela tinha razão.
- Ok! Você tem razão... – Resmungou um pouco desapontado. Pensou então nos dias que Snape falara. Draco teria que se encontrar com ele, pelo menos, mais três vezes. – Droga! Vou ter que avisar o coitado...
As classes começavam a abandonar as mesas pouco tempo depois, dirigindo-se cada um para a sua respectiva classe, logo iria dar o horário. O trio conversava animadamente pelos corredores, as duas primeiras aulas dos garotos era TDCM. Eles haviam começado a estudar os unicórnios, Hagrid não estava muito feliz com os bichinhos. Para ele os bichinhos eram muito quietos e melancólicos, mas Hermione em compensação, os adorava. Achava lindo o modo que seus pêlos prateados brilhavam a luz do sol. Já haviam tido varias aulas práticas sobre eles anos passados, mas neste em especial, os estudariam mais profundamente. A aula correu normalmente, enquanto as alunas se derretiam pelo animal, encantadas, afagando sua crista macia.
- Ele deve estar feliz com tanta mulher em cima – Zombou Rony, sentado embaixo de uma árvore – Gostaria de ser um...
- Ouvi isso, Ronald Weasley! – Gritou Hermione do outro lado do campo – Vai se ver comigo depois! Aguarde!
- Puts, como ela ouviu de lá? – Gaguejou incrédulo, Harry segurou um riso engasgado – Essas meninas, nunca vou entendê-las...
Draco estava bem afastado dos dois, sentado na grama de baixo do sol, as pernas cruzadas, as mãos apoiadas para trás, com o rosto virado para o céu. Mantinha os olhos fechados, respirando profundamente o ar fresco que corria os campos. Abaixou a cabeça abrindo lentamente os olhos, averiguando que ainda tinha um bolinho de meninas em volta do bichinho, viu Pansy, coma cara enojada, mexer de leve na pelagem do animal, afastando-a logo depois com uma exclamação altíssima.
- Sebosa! – Comentou entortando o nariz – Coitado do bicho! Foi contaminado... Bleca, não queria ser ele!
- Draco! Draco! – Chamava Goyle correndo em sua direção com os monstruosos braços balançando pesadamente nos lados. O menino era realmente imenso – Tenho que falar com você!
- Você já esta falando! O que quer?
- É sobre o Crabbe – Disse se jogando pesadamente ao lado do menino. Draco se esquivou pelo susto – Tá agindo diferente...
- Diferente como? Especifique claramente, por favor.
- Me olha com cara de peixe morto – Enquanto dizia contava nos dedos com cara pensativa, o que lhe dava ainda mais a aparência de um demente – Vive me abraçando, tenta me beijar, gosta da minha voz... Hã, o que mais... Ah sim! E vive me dizendo como eu sou bonito!
- Não acredito! – Riu Draco depois da declaração. Pensava que isso só acontecera com ele no colégio inteiro, mas pelo jeito não – Goyle, não sei se você vai acreditar em mim, mas acho eu que o Crabbe está apaixonado por você...
- Que!? – Gritou o menino arregalando os olhos – Eca, ECA! Ah...
No mesmo instante o rapaz saiu correndo desenfreado pelo gramado, rodando os braços rapidamente, trombando sem querer com um grande grupo de meninas, derrubando todas como se fossem pinos de boliche.
- Eu, heim! Cada um que me aparece! – Disse Draco balançando a cabeça em sinal de total desaprovação.
* * *
Quando as classes se separavam dentro do castelo, Harry se escondeu em uma das várias salas abandonadas, e ficou de tocaia esperando por Draco. O mesmo caminhava tranqüilamente, sem nenhum dos dois brutamontes ao seu lado. Goyle havia desaparecido depois da conversa, e Crabbe estava chorando no banheiro do quarto andar. Draco era o último da fila, seguia, sem muita vontade, para a aula de Runas antigas que era em uma das salas do último andar, em conforme o seu ritmo, chegaria bem atrasado em relação à turma. Não tinha pressa.
De repente sentiu uma mão lhe puxar o braço fortemente, forçando-o a entrar na sala escura. Aturdido segurou-se no batente com a mão livre como pode. Fosse quem fosse não iria levá-lo tão facilmente.
- Hei, me larga seja quem for! – Ordenou puxando o braço preso para si mesmo com estremo esforço, a mão presa ao batente doía, principalmente na região das juntas – Me larga, droga!
- Calma Draco, sou eu! – Confortou Harry, conseguido puxar um Draco desconfiado para junto de si.
- O que faz aqui? – Perguntou confuso, olhando ao redor – Eu tenho aula e...
- São cinco minutinhos, Draco! – Interrompeu puxando-o mais para o fundo do local sombrio, a fim de manter mais privacidade – Eu contei a eles!
- Quê!? Contou o quê, pra quem?
- Sobre você e o Snape para a Hermione e o Rony! – Suspirou, olhando de esguelha a cara de Draco – Relaxa, não disse que era você nem nada comprometedor...
Draco estava estagiado, seu cérebro parecia ter virado purê, mas ainda assim conseguia mandar impulsos elétricos por todo seu corpo causando pavor. Sua expressão ia de ira a susto, tudo misturado, o que desfigurava seu rosto.
- Como? Harry, você endoidou de vez foi? – Sua voz estava rouca e se prestasse muita atenção, rouca também – Por que contou? Era o nosso segredo...
- Precisamos de ajuda! E não adianta me dizer que não! – Completou antes que Draco o interrompe-se – Hermione é muito inteligente, você sabe, ela até já achou uma poção muito boa em menos de um dia...
- Qual? – Indagou descrente.
- Esquecimento, mas tem um porém desagradável no meio!
- E ele seria o que exatamente? Não vão ter que cortar um dedo meu, ou coisa do gênero, né?
- Não. Pior! – Conclui deixando Draco em estado de choque – Você vai ter que se encontrar com o Snape mais uma semana pelo menos...
- Ah, não! – Soluçou abatido – Eu odeio ele, não quero vê-lo mais, Harry!
- Desculpa! – Sussurrou arrebatando Draco num abraço apertado – Gostaria que fosse mais rápido!
- Não se culpe! – Murmurou com o rosto enterrado no pescoço de Harry – Você fez o que pôde! Eu... Eu vou agüentar mais um pouco... Por nós! – Murmurou erguendo o rosto para encarar Harry.
Seus lábios se encontraram com os do amante levemente, permitindo um beijo doce e calmo. Harry sabia a luta interna que Draco enfrentava para se manter calmo diante daquela situação desesperadora, lembrou-se que neste fim de semana haveria uma excursão a Hogsmeade e do baile de inverno na semana seguinte, uma idéia surgiu em sua mente.
- Draco, sabe... Eu me lembrei de uma coisa – Balbuciou, não contendo o sorriso – Daqui a pouco é o baile de inverno, certo?
- Sim e daí? – Perguntou absorto – Por que? O que está tramando...
- Quer ir ao baile comigo?
- Quê!? – Gritou com a voz estridente – Tá louco... O que vai acontecer se todos souberem?
- Ei, calma! – Sussurrou – Não saberão que é você!
- Me explique como! – Provocou Draco se encostando à parede com os braços cruzados – Como vai me esconder de Hogwarts inteira?
- Horas, é fácil! – Disse simplesmente se aproximando de Draco – Você vai ser Malu... Não esse nome é feio demais! Hum... Que tal Isabel, sim Isabel é melhor!
- Não compreendi! – Balbuciou confuso, perdendo alguns segundos para entender – EPA! Nem vem, isso nunca!
- Por que não? Tenho certeza que ninguém vai desconfiar...
- Então faz você isso.
- Não dá! – Ao ver a expressão de descontentamento de Draco completou – Meus amigos são inteligentes... Vão sentir minha falta, diferente de certos mentecaptos que conheço...
- Onde vou arranjar a roupa?
- Compramos em Hogsmeade neste fim de semana, eu pago!
- Não sei me comportar como uma.
- A gente treina esta semana que vai vir!
- To pouco me lixando – Reclamou virando o rosto para o lado oposto do de Harry – Não aceito isso! É muito constrangedor... Onde já se viu?
Aproximando-se feito um gato, Harry colou se corpo contra o de Draco num segundo, segurando seu rosto meigamente, encostando nariz com nariz, testa com testa.
- Faz isso por mim – Melodiou carinhoso – Me faça feliz! Por favor... Não quero convidar uma garota para ir no seu lugar.
- Chantagem sentimental não vale! – Sussurrou emburrado – É sempre assim, ai, ai – Bufou contrariado fechando os olhos. Aderiu - Tá bom, tá bom! Mas você me paga, Potter! – Ameaçou com um olhar assassino, que ornava tão bem com ele.
Harry sorriu, ainda encarando profundamente os olhos azuis tão próximos, os lábios a polegadas de distância, quase se tocando, ansiando um contato mais íntimo, a respiração ofegante latejando no contato com sua pele. Com um suspiro profundo de contentamento, Harry atravessou a distância que separava seus lábios, beijando de forma voluptuosa o rapaz, segurando seu rosto com insistência.
- Sabia que podia contar com você!
- É melhor do que ficar livre para o Snape!
Deram-se mais um breve beijo, cada um seguindo para sua aula logo depois. Harry para a de defesa contra a arte das trevas, e Draco para a de Runas antigas, a qual, por sinal, estava bem atrasado. Harry subiu correndo as escadarias até o quarto andar, entrando afobado na sala de aula, chamando atenção dos outros alunos e recebendo o olhar de desaprovação da professora.
- Desculpa, profª Figg! – Disse em meio à respiração ofegante.
- Onde esteve Sr.Potter? A aula já começou há vinte minutos...
- Posso me sentar? – Perguntou, não a respondendo.
- Sente-se, mas um último aviso para o senhor... Da próxima vez vai perder pontos para sua casa, espero que esteja ciente disto.
- Sim, senhora!
Sem ligar muito para a advertência, seguiu até seu costumeiro lugar, ao lado de Rony e Hermione na terceira fileira. Pelo olhar 121 que Hermione lhe lançara ao se sentar, sabia que não ia escapar do interrogatório no fim da aula.
* * *
Durante o período do almoço inteiro foi bombardeado por perguntas de todos os tipos, feitas por Hermione, algumas inteligentes e bem pensadas outras tolas e vazias.
- Vigésima quarta pergunta:Por que não tomou mais cuidado?
- Foi apenas um lapso na minha memória, Mione.
- Por que não foi depois?
- Chega, Hermione! – Gritou agarrando os próprios cabelos com força – Já estou ficando doido com tantas perguntas.
Ela olhou duvidosa para ele, olhava intimidadora, algo estava errado naquela história. Batia com as pontas dos dedos nas mesas, o som de das unhas em contato com a madeira amedrontava ainda mais Harry... E Rony também.
- Hermione, minha querida! – Interrompeu Rony segurando suas mãos bem longe da mesa, beijando-a logo em seguida – Vamos dar uma chance a ele, sim?
- Estou de olho em você, Sr.Potter! – Caçoou desmanchando o rosto adstrito num sorriso amigável.
- Tudo bem! – Expirou aliviado.
- Ai credo! – Exclamou Rony de repente, assustando Harry e Hermione – Duas de poções agora... Eca! Que nojo! Blé... Blé...
Depois que o showzinho particular de Rony havia atraído atenção de vários alunos, os três acharam melhor sair rapidinho do salão principal. Hermione tentava manter escondida a vermelhidão apimentada que seu rosto ganhara. Juntos seguiram em silêncio pelos corredores do castelo até a sala de poções que estava fria e malcheirosa como sempre. Os alunos da sonserina já esperavam sentados em seus devidos lugares, lançando olhares desdenhosos e vulgares para o grupo da Grifinória, mas foi a posição de Draco que chamou a atenção de Harry. O menino estava encostado na parede com os olhos fechados, às mãos cruzadas sobre o peito e as pernas sobre a mesa incomodando a menina que sentava a sua frente, parecia inerte naquele estado, dava-se até para considerá-lo morto devido a sua palidez e fraca respiração que mal movimentava a camisa branca exposta através da capa aberta. Harry concluiu que ele deveria estar dormindo ou algo do gênero, mas na verdade, Draco pensava concentrado na aula que estava para começar, na qual teria que encarar novamente o mestre. "Caia da escada, torça a perna e frature a cabeça, role até a escadaria onde vai despencar quicando em cada degrau, perdendo todos os seus dentes e mordendo a língua a cada impacto!" Amaldiçoava sentindo arrepios frios escorrendo pela sua nuca "Que bom se isso ocorresse de verdade!" Porém os seus desejos não foram atendidos, logo em seguida o professor entrou rapidamente na sala carregando um livro velho e esfarrapado nos braços.
- Abram seus livros na página trinta e um, vamos começar hoje a fazer a poção da fome e ela requer ATENÇÃO! – Gritou para chamar atenção de Thomas e Simas – Quero silêncio total, fui claro?
Todos concordaram mudamente, apenas com movimentos positivos de cabeça. O pior era que a poção realmente era difícil. Eles tinham que ser meticulosos com os ingredientes, um grão a mais do que devia podia resultar numa poção do envelhecimento, sem cura. O silêncio predominava no lugar, todos estavam concentrados apenas em seus próprios pensamentos. Nem mesmo Harry olhava para Draco, que hoje estava tão perto dele, não queria virar um vovô ou coisa pior, mas às vezes lançava um olhar sórdido ao professor que vigiava Draco de perto.
Um estouro chamou a atenção de todos na classe. Na frente do trio, o caldeirão de Neville soltava centenas de bolhas rosadas que explodiam com estouros altíssimos onde quer que relassem. O menino trepara de forma urgente na mesa do trio caindo com força de costas no chão ao perder o equilíbrio. A turma se encolhia debaixo das mesas, ou então dançavam uma dança estranha para se livrar das bolhas, se protegendo do liquido ácido que voava pela classe inteira. Muitos alunos foram feridos, incluindo Harry que estava pertíssimo do local do acidente. Draco olhava preocupado para ele sem perceber uma grande bolha ácida que vinha em sua direção, explodindo ao encostar de leve em seu braço, queimando seu corpo. Draco gritou de dor.
- Poupe-me, Sr Longbottom! – Urrava o professor isolando o caldeirão em frações de segundos com um feitiço – Cinqüenta pontos a menos para a Grifinória e um mês de detenção! Os feridos me acompanhem!
Metade da sala acompanhou o professor, muitos choravam e soluçavam por causa dos ferimento. Harry olhava aflito para Draco, o menino havia se queimado sério, todo seu braço estava coberto por bolhas vermelhas e pulsantes que apreciam por debaixo do pano carbonizado da manga. Algumas haviam estourado, deixando em seu lugar carne viva que sangrava muito, pingando no chão. Os casos mais graves ficavam ao lado do professor. Eram apenas três: Draco, Simas e uma garota com cara de cavalo da Sonserina chamada Mirella, que mordia o lábio inferior com tanta força, que já estava o machucando. Harry foi obrigado a ficar para trás, longe do seu amado, tinha apenas uma chamuscada no ombro, realmente nada sério. Ia conversando com Lilá, que tampava com a mão a bolha que nascera em seu pescoço.
