Capítulo I : Congelada pela eternidade

Dias de um passado (quase) esquecido

by Lexas

Joaotjr@hotmail.com

Maio/2001

Clarezas de um olhar, sentimentos de um despertar . Uma rotina . Uma agradável rotina . Os risos seguintes não poderiam ser contidos por um simples despertar . Que época seria ?

Primavera.

A lembrança lhe tocava a mente docemente, seguida de um abraço carinhoso de despertar . O toque dele a agradava, mais que suficiente para lembrar de que não era um sonho . O mundo imaginário pedia, não , ordenava sua permanência em seus domínios . Permanecer naquele estado era uma proposta quase que irrecusável .....

Levantando-se e agradecendo por não ser um sonho, ela caminha lentamente pela casa, vislumbrando cada parte dela . Um sentimento , não tão esquecido mas também não tão lembrado, voltava . Memórias . Memórias de uma garota . Memórias de uma época que parecia tão distante ....

Ao contrário do que muitos imaginariam, ela não se deteve nessa linha de pensamento durante longos minutos . Pelo contrário, continuou se dirigindo até a cozinha para preparar o desjejum . Enquanto esquenta o leite e o café, ela não deixa de prestar atenção numa pequena agenda presa na parede, contendo alguns telefones importantes à mostra . Aquilo lhe despertava as memórias . Memórias felizes, inocentes . Memórias tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximas .Quanto tempo não ligava para elas ?

Hmmm .....

Sua mente não demorou para lhe lembrar de que não fazia tanto tempo assim que não se falavam .É, pensava ela . Só podia ser uma coisa : memórias .

Poucos minutos depois, a mesa já estava servida, e as crianças já estavam sentadas, comendo . Por um segundo ela pensara em adverti-los sobre o horário, mas lembra-se de que era Sábado, portanto não haveria aula .

Carregando uma bandeja de lanche, ela adentra no quarto, carregando o café-da-manhã para seu amado . Ela poderia ficar ali pela eternidade, dando-lhe a fruta na boca, observando-o comer . A vontade de ficarem ali o dia inteiro era enorme, mas ambos sabiam que não podiam . Não podiam ? Quem disse que não ?

Embora a proposta fosse tentadora, ela se levanta junto com ele, e ambos saem do quarto .

- Mãe, já escovei os dentes !

- Mentira ! Eu escovei primeiro !

Os gêmeos eram mais uma de suas alegrias presentes . Anchitka e Kinji . Seus gêmeos . Seu orgulho . Na sua mais sincera opinião, a mais sincera prova de sua mudança .

- No que está pensando ?

- Eu ? Nada .

- conheço esse olhar . Alguma lembrança importante ?

- Sim . Algo que tenho me lembrar , mas não consigo saber o que é .

- Suas amigas ?

- Acho que tem algo a ver , não sei direito .

Sem mais o que conversar, ela se senta no sofá, catando o jornal do dia anterior . Um vento súbito termina de bagunçar se cabelo, junto com o jornal . Como as notícias voam, ela pensa , sorrindo . E o tempo também . Quanto tempo já teria se passado ? Anchitka e Kinji Já iam fazer quatro anos . O tempo passa . E como passa rápido . Já haviam se passado dez anos . Dez longos e prazerosos anos . Parecia que foi ontem . Ontem . As memórias de uma estudante, fervilhando cada vem mais rápidas .

Nisso, um estalo vem a sua mente . Era isso que ela estava tentando se lembrar esse tempo todo . E pensar que foi ontem que as coisas começaram e terminaram .....

Ou, pelo menos, era o que ela esperava . Uma rápida olhada no jornal a desperta por completa para a realidade. E o seu bip também !

- Ah, droga ! – Exclama seu marido – Mas eu pensei que nós íamos ter o dia de hoje só pra nós dois !

- Desculpe , mas é uma emergência, eu t....

- Ei, não estou brigando ou te dando uma bronca ! Sabia muito bem disso quando nos casamos, lembra ? Sei que é necessário ! Assinamos um "contrato", não foi ?

Ela não conseguira desfazer aquele rosto que o cativava, enquanto acariciava seu rosto :

- Quando eu voltar, a gente vai poder ter aquele momento só nosso, tá ?

- Vou estar te esperando .

Ela toca gentilmente os lábios dele com os seus, tão rápido que ele mal percebe;

- Só pra dar água na boca ! Tchauzinho !!!!

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Sangue . Sangue . A idéia já era comum em sua mente, mas não era nem um pouco agradável . A dor nos olhos dos outros não era nem um pouco agradável . Acidentes, contusões, fraturas ..... haviam dias em que sua rotina se resumia a isso . Ainda mais levando-se em conta a pessoa que estava sendo atendida naquele momento por ela .....

Aquilo lhe lembrava sua adolescência . Dias de luz, sonhos, desilusões , alegrias em conjunto com outros .... ela não se perde muito nessa linha de raciocínio e retorna a realidade . Raciocínio, ela pensa . E pensar que, por muito tempo, essa foi sua característica mais marcante ....

A sua frente estava uma mulher deitada na mesa de cirurgia, cerca de vinte e cinco anos, cabelos castanhos, e com um "machucado" feio na perna. Acidente de carro, por sinal . Teve sorte . Pelo menos, vai poder andar de novo . Já havia perdido o número de vezes em que seus pacientes não tiveram tanta sorte . A garota lhe era familiar . Muito familiar . Até demais ..... Há !!!

Todos da mesa a encaram por alguns instantes, o que lhe concluiu que havia pensado alto . De novo . Ignorando os olhares, ela continua o trabalho, fechando o ferimento .Ele havia tido muita sorte . Em outros casos, teria seqüelas permanentes e sérias . Nisso, a mulher acorda .

- O-onde .....

- Você está no hospital Hotaiko . Não se preocupe .- Ela continuava – Sofreu um acidente de carro, senhora Mitsuki . Seu marido sofreu ferimentos no braço e no torço, mas já foi atendido e passa bem . A senhora ficou presa entre as ferragens, mas, felizmente, não foi nada grave .

A voz daquela mulher era realmente confortante. Ela confiava nela, relaxando . Mas .... mas ..... aquela voz ..... aquela voz lhe era familiar .... mas não poderia ser ela . Aquela voz .... aquele jeito de falar ..... era totalmente contrário ao que ela já havia presenciado . A doutora, claro, não deixa de notar que a mulher lhe observava, falhando miseravelmente em fingir que não .

- As vezes eu fico olhando para vocês, já adultas, nas situações mais estranhas, como agora, vestidas com aqueles uniformes da Juuban Scholl ...

- Hã ?!?!?!?!?

Nisso, ela termina de costurar e colocar uma proteção sobre o ferimento .

- Nada grave, mas foi um corte feio . Vai deixar uma cicatriz . Nada repulsivo, mas uma pequena marca que ocasionalmente poderá ser percebida . Não se esforce muito e procure beber bastante líquidos . Você perdeu muito sangue, portanto tenha cuida nesses próximos dias . Ainda bem que estava usando o cinto de segurança, Molly .

- Como sabe meu nome ?

Ela , claro, se tocou da idiotice que havia dito . A médica tinha acesso a sua ficha, portanto, sabia seu nome, ela pensou . Que pergunta mais estúpida !

Porém, para sua surpresa, a mulher abaixa a proteção da boca, deixando-a pasma ; naquele instante, um turbilhão de memórias percorriam sua mente, colocando-a violentamente em ordem, ou quase . Como podia ter se esquecido disso, ela pensa . Podia agora se lembrar de cada sonho, de cada ambição de cada uma delas .....

- Amy ?!?!?!?!?!

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Minutos depois, as duas caminhavam lentamente pelos corredores do hospital . A primeira, mais relaxada do que nunca . A segunda, um tanto surpresa com o rumo que as "coisas" tomam . Lá estava ela, num Sábado , num hospital, ao lado de ninguém mais, ninguém menos do que Mizuno Amy . Mitsukai Amy, ela corrigia a si mesma . A CDF da escola . A inteligente . A garota que só estudava, estudava, estudava .....

- Amy ..... como você mudou .... nem te reconheci !

- Também, com aquela máscara ....

Os risos são incontroláveis . Molly ainda não acreditava que ela era aquela Amy que ela havia conhecido . Estava totalmente diferente .

- Então, se tornou médica . Parabéns !

- Obrigada . E você, como está ?

- Como já deve ter percebido , eu me casei . Temos uma menina .

- Mas .....

- Kevin ? Aquilo .... aquilo foi .... uma paixão adolescente . Brigamos no segundo colegial, lembra ?

- Hmm, não . Estava meio desligada quanto a isso . Eu também me casei .

- Percebi . Roger, não ?

- Isso . Sei no que está pensando .

- Desculpe . É que .... você está totalmente diferente da Amy que eu conheci no ginásio, sabe . Parece outra mulher . Está com uma cara mais madura, mais experiente .

- As pessoas mudam, Molly . As pessoas mudam . Tive uma postura no passado, e tenho outra agora . Todos mudam . Nem todos mudam muito, é verdade, mas mudam . Veja Usagi, por exemplo . Todos mudam . Eu sei que eu era um pouco fechada, chegando às vezes a ser um pouco anti-social, mas todos mudam . O fim da adolescência, a maioridade, a vida de casada, os filhos ..... tudo contribui para a mudança . Muitos achavam que eu não mudaria muito esses anos todos, que eu seria a eterna estudiosa de sempre . Não é que eu tenha mudado todos os meus hábitos . Mas a mudança de alguns foram cruciais para a minha transformação numa nova pessoa .

- Verdade, mas você continua analítica como sempre . Eu podia ter colocada o que você acabou de dizer na minha tese de psiquiatria !

- Se formou em psiquiatria ?!?!? Mas não tinha nada a ver com você !!!

- Verdade, mas, como você disse, "Às pessoas mudam ...." veja, é o meu marido !

- Hmm, nada mal ....

- Amy !!!

- Brincadeirinha !

- Sei . Tome, meu cartão . Venha me visitar um dia desses .

- Sayonara !

Enquanto Molly se distanciava, Amy lia atentamente o cartão . Era o endereço de uma clinica psiquiátrica . Pelo visto, ela estava falando sério .

Aquilo havia sido divertido, ela pensa . Reencontrar uma pessoa que não lhe conhecia tão bem assim havia lhe feito um bem . Por um instante, ela quase esquecera do seu outro compromisso . Olhando o relógio, confirmara que já eram meio-dia . Perfeito .

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Porto de Tóquio . 12:15 . Pelo horário, o lugar estava meio vazio . Perfeito . Não seria incomodada . Enquanto andava, lembranças lhe vinham a mente . Aquele lugar .... já havia lutado ali . Mais de uma vez . Aqueles tempos gloriosos, cheios de batalhas, cheios de inimigos . Felizmente, tudo aquilo já havia passado . Negaverso, Black Moon Clan, Fiori, as experiências genéticas do Dr. Tomoe, Vadiane, Caos ....tudo já havia terminado . Agora só lhes restavam esperar . É, esperar . Como Setsusa havia dito . Setsusa ? Não, Fate . Como sumiu depois que Caos foi derrotado, deveria estar no limbo novamente . Vai saber .

- O que nos leva até aqui .

Ela continua com sua linha de pensamento, não notando que havia falado aquilo, embora que bem baixo . Cada uma resolveu seguir seu rumo, lutar pelos seus sonhos e ideais, seguir suas carreiras . Sabiam que Cristal Tóquio chegaria , mas sabiam também que isso iria demorar . E, com a Terra livre de perigos, a única coisa que podiam fazer era se prepararem para o que o futuro tinha lhes reservado . E foi assim que cada uma "arrumou" a sua vida . E ninguém imaginaria as surpresas que o destino lhes reservava . Será que Fate sabia disso ?

- Vai saber .

Molly tinha razão, ela se lembrava . Havia mudado , e muito . Já não era mais aquela menininha reclusa, que só se abria e pouco com seu seleto grupo de amigas . Dez anos haviam se passado . Ela havia entrado na faculdade, conhecido Roger, se casado, tido dois maravilhosos filhos .... E só haviam se passa dez anos . Ou melhor, já haviam se passado dez anos . A Terra experimentava um momento de paz merecido . Todos os inimigos haviam sido derrotados, e a paz e harmonia tão desejada havia chegado .

Pena que parecia não querer durar muito tempo .

Incrível, ela pensara . Mesmo não usando seu visor, havia encontrado o que queria . Seu cérebro rapidamente lhe fornece uma resposta : Algumas partes do porto, como chão, pilastras, navios, paredes e outros, possuíam pequenas mascar pequenas, quase imperceptíveis . Apesar do estado do local, em que alguns navios velhos e sujos, junto com a sujeira em algumas partes contribuíam para o desaparecimento de pistas, ela notou essas marcas, e percebeu que não eram simples marcas, mas era como se algo tivesse atingido aqueles locais .

Incrível, ela pensara . Sua capacidade intelectual havia se desenvolvido bastante, a ponto de afetar algumas de suas percepções, o que a levava até uma parte pouco usada do cais . Entrando nela, deparou-se com diversas pessoas estiradas pelo caminha, ora dormindo, ora "falando demais" . Mendigos .

- É, acho que vai demorar um pouco mais para que Cristal Tóquio apareça ....

Ela é interrompida ao ouvir uma voz, vinda do fim daquela rua fechada . Nisso, seu cérebro disparou . A lembrança do motivo de estar ali voltava-lhe com todas as forças :

"MAIS UMA VEZ, UM ESTRANHO ACIDENTE OCORRE NO PORTO DE TÓQUIO . JÁ É A TERCEITA VEZ SÓ ESTE MÊS QUE OCORRE UMA EXPLOSAO . PERITOS NÃO CONSEGUEM DESCOBRIR A CAUSA, E TESTEMUNHAS AINDA ESTAO INCONSCIENTES" .

Claro, ela pensara, poderia ser uma coisa qualquer, um acidente, negligência de alguém, ou qualquer outra coisa . Mas talvez não . Por mais estranho que podia parecer, aquilo poderia ser o pior . A idéia não lhe agradava nem um pouco, mas não custava verificar . Ela não imaginava o quanto sua intuição estava certa .

- Qui cê qué, dona ?

Era um homem , com certa de 1,75m , uma barba enorme , cinza e muito feia , vestindo trapos e fedendo pros diabos, segundo Amy, e com um detalhe : Não tinha o olho direito . E, pelo estado não parecia que houve algum tratamento quanto a isso ....

- Céus !

- Qui foi ? Tá assustada com que ? Não só tão feio assim !

Nisso, ao perceberem que seu companheiro de beco havia se irritado, os demais mendigos, inclusive os que estavam dormindo, rapidamente se levantaram e começaram a correr do local , gritando. Parecia que estavam dando o sinal para os outros mendigos da área .Amy não deixa isso passar despercebido, e começa a formular uma teoria ;

Acho que me dei mal .....

Ele se afasta dela e pega uma pedra, tacando nela . Amy se desvia , um tanto confusa com a situação ;

- Sua véia ! Cê vai vê só ! Vô ti f### tôdinha !

O comentário não havia agradado, e ela parte pra cima dele . Ele joga outra pedra encima dela, a qual se desvia . Qual sua surpresa ao ouvir uma explosão, sendo em seguida atingida por várias pedras na nuca . Embora pequenas, a velocidades delas foram mais que suficientes para derruba-lá ; ela estava caída, de cara no chão , enquanto o homem se aproximava . Estava literalmente ferrada, assim pensava, e tinha que pensar em algo, e rápido ....

Empurrando o corpo e colocando-se de joelhos, ela dá uma rasteira , derrubando-o e aproveitando para se levantar e tomar distância . Ao olhar para trás, percebe várias pedrinhas no chão, parecidas com .... com .....

Ao voltar sua atenção, percebe que o homem havia atirado outra pedra . Ela teria que agir rápido se quisesse escapar . A pedra não a acerta, mas ela se joga no chão , esperando pelo pior . Ele não vem .

Levantando-se, sorri ao percebi que seu plano havia dado certo . Ao olhar para trás, encontra uma pedra de gelo do tamanho de uma mão . Ela a pega e a quebra, revelando o seu interior : pedrinhas . A pedra maior havia explodido, mas as camadas extras de gelo haviam contido a explosão . Aquilo era ....

- Energia Cinética . Então, é você quem está causando as explosões !

- Eu vô te mata , sua véia !

- Poderia parar de me chamar de velha ?

Ele aponta as duas mãos para ela, e começa a concentrar energia . Era uma energia ..... estranha , mas ao mesmo tempo familiar . E era ligeiramente esverdeada . Aos poucos, tomava a forma de um globo . Energia cinética . Energia de Impacto . Energia explosiva . Poderia ficar ali, horas e horas analisando aquele tipo de energia .... se sua mente não lhe desse um beliscão para que voltasse ao mundo real e percebesse que ele havia atirado aquela energia nela ! Era impressionante de se ver . A energia ali, pulsando, atingindo-a . Ou assim ele pensava .

- Hmmm ..... interessante . Preciso coletar uma amostra disso para analisar melhor . Talvez o meu visor .....

- Hã ?!? Comé cá sinhora faz isso ?

- Poderia repetir, por favor ?

O que ele não conseguia entender era como Amy poderia estar tão calma, apesar da bola de energia ter lhe atingido . Na verdade, se o homem tivesse prestado mais atenção, veria que o globo estava parado em frente a ela, chocando-se com algo quase imperceptível . Era um fino, porem muito resistente escudo de gelo quase que invisível que impedia o globo de atingi-lá . Claro, o homem não havia percebido isso . Amy para de perder tempo teorizando sobre a energia . Aquilo, segundo ela, já estava começando a ficar chato . E, se não agisse rápido, aquela energia iria explodir e, se com aquela quantidade anterior ele havia feito explodido aquela pedra, não queria descobrir o estrago que aquele globo de energia faria !

Aquele homem nunca teve tamanha surpresa . Algo .... algo se movia ao redor dele . Algo branco . Como diamante ..... ou cristais . Cristais de gelo . Mais e mais deles se ajuntavam ao redor do globo, criando uma bola de gelo ao redor dele, fechando-se totalmente . Segundos depois, o globo treme, fazendo com que Amy o deixe cair por alguns instantes , rachando-o . Para a surpresa do homem, a única coisa que sai de dentro é um pouco de fumaça !

- Bruxa ! Bruxa ! Bruxa ! Bruxa ! A sinhora num vai mi pega dessa vez não ! Num vô dexa !

Ele cria diversos globos de energia ao redor de si . Não eram tão grande quanto o primeiro, mas seu número era bastante assustador .

Nesse momento, Amy ficou realmente assustada . Mesmo que não fosse atingida, não podia impedir que o porto ou, pior ainda, algum outro mendigo fosse atingido . E, pelo ódio aparente no mendigo, percebia-se que era isso que o estava fazendo criar mais e mais globos . Sua mente trabalha rápido e, baseada no globo anterior e no tamanho desses, ela começa a deduzir a área atingida, o tamanho do estrago . Por um instante ela cogita a hipótese de estar errada quanto a quantidade de destruição, mas amaldiçoa a sua mente por perceber que a margem de erro era mínima .

- Pare ! Não sabe o que está fazendo ! Vai acabar machucando seus amigos ! Pare com isso ! Se continuar, não vai apenas me atingir !

Infelizmente par Amy , ele não a ouvia . Pelo contrário, criava mais e mais globos . Alguns encostavam na parede, criando uma pequena explosão e um grande rombo ! Era assustador !

- Pare agora , senão .....

Ela não acreditava que estava prestes a fazer aquilo . Demônios, alienígenas .... era seu trabalho . Mas matar sua gente ? Por um instante ela considerou as opções . Ao olhar para trás, lembrou que, por estar no porto, haviam navios com diferentes tipos de carga . Inclusive transportando material inflamável . E, se não bastasse, dependendo da explosão, os navios poderiam ser atingidos e explodirem, gerando uma reação em cadeia que culminaria em uma destruição em massa que, na melhor das hipóteses, destruiria por completo o porto . Não demorou muito pare decidir . Com um pensamento, criou uma parede de gelo atrás do homem e dos globos . Em seguida, outra camada à frente . Depois , outra acima . E os lados . Em seguida, congelou o chão debaixo dele . Nos instantes seguintes, toda a sua concentração estava voltada para fortificar mais e mais aquela prisão de gelo . Ela sabia o que estava fazendo . Queria que houvesse alternativa . Não houve .

Até que as esferas explodiram . Cada explosão que ocorria, era uma parte daquele homem que era destruída . Braços, pernas, tronco .... Em poucos segundos, ele foi reduzido a pouco menos do que nada . E ela havia assistido tudo, de camarote. Em outros tempos, ela choraria . Mas o que veio foi uma tremenda indignação . Um ódio crescente, que tomava lentamente seu ser . Nesse instante, ela para, tentando retomar o controle da situação . Instantes depois, os mendigos haviam voltado, encontrando pedras de gelo enormes no seu beco e nenhum sinal de seu amigo .....

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Por mais que parecesse fria, Amy analisara a situação de outra forma . Seus poderes .... ela não havia se transformado . Pelo contrário . Sua energia devia estar em um nível tão alto que ela manifestava parte de seus poderes mesmo destransformada . Não era a primeira vez que era demonstrava seus poderes sem se transformar nesses dez anos, apenas o que assustou foi o nível em que se encontravam . Congelar o ar até formar paredes tão poderosas que pudessem agüentar aquelas explosões exige disciplina, concentração e muita, mas muita energia . Efeito do sangue, lembrava-se . O sangue selenita estava começando a mostrar seus outros efeitos . Podia até sentir que sua força haviam aumentado . Não tanto quanto Makoto, claro, mas haviam aumentado um pouco . Isso significa que, em alguns anos, talvez meses, não sabia ao certo, não precisaria mais se transformar para usar todos o seu poder . Significaria também que, a qualquer momento , um outro problema que ela já havia cogitado antes iria começar, e seria algo , em sua atual situação, nada agradável.

Problemas a parte, ela entra no carro e se afasta rapidamente do porto . Precisava esvaziar sua mente para colocar os problemas em ordem . Era incrível a quantidade de "comos" , "ondes" , "quandos" e tantas outras perguntas que surgiam nos momentos de maior tensão . Mas agora não era hora pra isso . Não agora . Ela tinha que voltar pra sua casa, para seu marido, para seus filhos . Tinha que voltar para sua família ...

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Algo estava errado . Ele podia sentir isso .

Não era a primeira vez que Roger à via assim . Seu olhar estava distante . Embora estivesse brincando com as crianças, ela não estava ali .

Ele para por alguns instantes para pensar melhor . Havia ligado para ela, pedindo que se encontrassem no parque . Tinha achado que isso animaria ela, uma vez que era fato de que, em algumas das vezes em que ela respondia a um chamado de emergência , voltava para casa um tanto quanto desanimada .

Aliás, sua postura atual o lembrava muito de quando se conheceram . Uma garota bem simples, de poucas palavras, que passava a maior parte do seu tempo estudando . Mesmo quando passaram a sair junto, ela não era de falar muito . Na verdade, nas poucas vezes em que quebrava um pouco seu jeito, era quando estava com suas amigas .

Um pensamento feliz lhe veio a tona . Algo que era capaz de tira-lá da linha .....

- Quando vamos visitar a sua antiga gangue ?

- Gangue ? Mamãe, a senhora faz parte de uma gangue ?

- Roger ! Não, Kinji . Eu não faço parte de nenhum .....

- O Takeru falou que o irmão mais velho dele faz parte de uma gangue . Ele vai morrer de raiva quando souber !

- Anchit ....

- Todos os garotos da rua vão Ter medo da gente !!!!

Os gêmeos estavam girando, pulando de alegria pela descoberta . Ao seu lado, o espécime da raça madre estava passando por uma de suas metamorfoses : a madres raivosus .

- E ..... ah, mãe .... o que é uma gangue ?

Roger não parava de rir . Em nenhum momento ele pensara que um simples comentário pudesse lhe proporcionar mais diversão do que esperava .

- Anchi, minha querida, quer fazer o favor de ir brincar com seu irmão lááááá perto da árvore ? Obrigada . Roger .....

A coisa estava feia para ele . A sombra de Amy o cobria por completo . Podia jurar que tinha visto uma aura azul-escura ao redor de Amy, junto com eletricidade pulsando em torno de seu corpo . Não, ele disse . Era sua imaginação . Mulheres não podiam demonstrar sua raiva através de auras coloridas, não é ?

Ela se senta ao lado dele, encostando sua cabeça em seu ombro . Precisava descansar, refletir sobre os últimos acontecimentos . Roger gentilmente chega para trás, fazendo-a deitar sua cabeça sobre seu colo . Ele vai acariciando seus cabelos, fazendo-a relaxar enquanto é banhada pelo Sol . Aquilo era realmente confortante .

- Como foi lá ?

- Nada grave .

O silêncio predomina . Ambos ficam sem dizer nenhuma palavra por um minuto inteiro ;

- Encontrei com uma velha colega de classe . Ela me disse que havia se casado . E também se formou em psiquiatria .

- E isso te lembrou de que , se tivesse feito psiquiatria, poderia ter atendido um príncipe com problemas existenciais, curado sua dúvidas e se casado com ele, tendo agora nesse instante um palácio lotado de servos, sem precisar lavar, passar e muito menos trocar fraldas, não é ?

Ela levanta lentamente e o beija , abraçando-o ; ela o beija cheia de amor e carinho, chamando a atenção de todos os que passavam pelo local na hora . Cinco minutos depois, um guarda passava pelo local, não deixando de prestar atenção no ocorrido . Dando uma "leve" batida com seu bastão em Roger, ele se faz presente ;

- Aham !!!!

- Aí ! Uops !!!

- Hã .... bem, seu guarda ..... eu , bem .....

- Hã, nós .... estávamos ..... hã ..... nos beijando ?

Uma gota surgira na testa de Amy e do guarda , diante da resposta . Ele , por sinal, resumiu-se a um simples "huf" e partiu em seguida . Roger ficou pasmo .

- Hã ? Mas eu pensei que ele ia nos prender !

- Com uma resposta dessas, meu amor, tivemos sorte dele não Ter nos mandado para o hospício .

Ao menos saiu barato . Lembra-se da última vez que fizemos isso ? Fomos multados ! Consegue acreditar nisso ? Fui multado por beijar a minha mulher !!!

- Talvez valha a pena .

Ela torna a beijá-lo, dessa vez com mais força do que antes, o que volta a chamar a atenção das pessoas .

- Mmmmm , quermmmmm , o guardmmm vai voltar e mmmmm ..... esquece!

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Tarde da noite . Ela se levantava silenciosamente da cama para não acordá-lo, saindo do quarto em seguida . Quando compraram aquela casa, ela havia pedido que um quarto ficasse vazio para suas "experiências" . Roger não entendera muito bem na época, mas não perdeu tempo discutindo . O que ele não sabia era que ela havia escondido o laboratório . Além do fato de que os anos contribuíram para que ele esquecesse disso . Depois de passar pela sala, alcança sua biblioteca . Por se tratar de um acervo particular, era impressionante . Tinha duas vezes e meia o tamanho do seu quarto, portanto diversas estantes com livros de diversos tipos e autores . Sim senhora, uma bela de uma mini-biblioteca . Enquanto caminha , encontra uma estante encostada na parede . Embora quase que Inaudível, seus lábios produzem uma palavra oriunda de uma linguagem morta . A estante se divide em duas, revelando uma porta que possuía metade do tamanho de Amy . Instantes após atravessa-lá, a estante volta ao seu lugar e a porta se fecha .

E lá estava ela, novamente naquele lugar . Já fazia algum tempo desde a última vez que tinha vindo até aqui .

Naquela sala , ela continha muito mais do que qualquer podia imaginar . Estantes contendo livros, isso era o que preenchia quase toda a sala, mas o que mais chamaria a atenção de qualquer outra pessoa que adentrasse naquele aposento seria os equipamentos que se encontravam na sua extremidade .

Aparelhos cirúrgicos, peças de automóveis, de eletrodomésticos, computador, impressora, scanner, metros e mais metros de fios saindo pelas paredes, tubos de ensaios .... um laboratório particular, diga-se de passagem . Sem contar, é claro, com alguns troféus adquiridos ao longo dos anos .

Levantando sua caneta de transformação, ela diz num tom extremamente baixo palavras não pronunciadas há muito tempo :

- Mercury Crystal Power ! Make Up !

E novamente ela sentia toda aquela energia percorrer seu corpo . Mais uma vez ela sentia a totalidade de seus poderes . Mais uma vez ela era Sailor Mercury . A senshi da inteligência e do raciocínio.

Aquele dia era especial . Tantas memória afloravam em sua mente, tantas lembranças doces, e outras nem tantas .....transformar-se era só mais uma parte . Só mais uma parte do processo, ela pensava enquanto se lembrava de que sua mente voltava a fervilhar como antigamente .

Fazendo seu visor surgir, ela o conecta ao computador através de um cabo, o qual havia sido preparado para isso . Em seguida, ela começa a fornecer ao computador os dados obtidos , uma vez que não teve tempo de usar o visor . Aquela prometia ser uma noite longa ..... e muito, mas muito divertida, em sua mais sincera opinião .....

Continua ... ?