Capítulo XII – A Teia Que Prende Cada Um de Nós Arakáejeaipo – Parte 3 - Mágoas

Dias de um Passado(quase) Esquecido

por Lexas

Joaotjr@hotmail.com

Abril/2002

- Naru ! Naru !

- Acalme-se, Seo . Eu a vi fugir, não é o que você está pensando !

- Eu estou calmo, e sei que o que a derrubou foi outra coisa ... olhe bem para ela . Vê alguma coisa ?

- Hmm ... não . Ela não parece ter nenhum ferimento grave . Espere um pouco, o que é isso no rosto dela ? Parece levemente inchado !

- Ela deve ter tido algum problema, mas um ferimento desses não a nocautearia . Parece estar dormindo, isso sim . Acho que sei quem foi que fez isso . Poderia cuidar dela por alguns instantes, por favor ?

Ele deixa Naru aos cuidados de Maki, enquanto atravessa os cômodos de sua casa . Pouco depois de passar pela cozinha, ele abre uma porta, a qual dá numa sala totalmente escura . Ele entra e fecha a porta, impossibilitando que qualquer coisa que fosse dita lá dentro fosse ouvida por quem estivesse do lado de fora .

- Olá, Mamoru .

- Olá, Seo . O que faz aqui ? Pensei que suas visitas fossem em outro horário .

- Tive que adiantar meu cronograma . Sabe de algo que possa me ajudar ?

- Você sabe o que eu tenho para dizer .

- Me pergunto até quando um homem como você irá ficar se repetindo .

- Eu é que me pergunto até quando um homem do seu nível agirá dessa forma . Diga-me, Seo, o que faz o Reitor da melhor universidade do país agir dessa maneira ?

- Não me questione quanto a isso, você não tem esse direito .

- Você é que não tem o direito de me manter aqui, e nem a minha esposa !

- Esposa, é ? – Seo estala os dedos, e uma luz ilumina um canto afastado de ambos, revelando um árvore . Mais do que isso, havia uma mulher presa naquela arvore de maneira surreal . Era como se seus braços, pernas e parte de seu corpo estivessem dentro da arvore, como se ela fosse uma só com a arvore – até agora você não me respondeu quem vocês dois são . Não são humanos comuns, disso tenho certeza . São poderosos demais para isso .

- Recuso-me a responder  uma pergunta feita por alguém da sua laia, Seo ! Você é o pior dos vermes, é o maior mal que esse mundo já enfrentou ! Comparados com você, os inimigos anteriores das Sailors são santos ! Você ... você tem consciência total do que está fazendo e mesmo assim continua ! Você é um monstro, Seo !

- Sim, eu sou um monstro . Não nego nenhuma de suas palavras ... mas é tolice sua achar que eu sou o maior mal do mundo . Pelo contrário, eu quero apenas o seu bem . Quero um mundo em que eu e minhas crianças possamos viver em paz e harmonia, um mundo aonde todos sejam tratados como iguais, sem qualquer tipo de preconceito . Um lugar no qual não tenhamos que nos sujeitar a reis absolutistas, os quais abandonam seus súditos à própria sorte . Um lugar em que os verdadeiros líderes são pessoas que realmente amam seus súditos, sentem suas dores e choram com eles .

- "... os quais abandonam seus súditos à própria ... sorte ?" Não, essa não ... eu não acredito que ... que ...

As palavras de Seo ecoaram seguidas vezes na mente de Mamoru . As palavras de Seo ... como aquilo poderia ser possível ? Ele realmente queria criar um reino no qual pudessem ser felizes ? Mas isso era uma verdade já revelada, uma vez que sabia que no futuro iria se erguer Cristal Tóquio ... Cristal Tóquio .... Cristal  Tóquio ... Cristal  ... !!!!!!!!!

Não era possível ! Eles haviam sido derrotados, não poderiam ser eles em nenhuma hipótese ! Pior, eles só surgiriam no futuro, não é mesmo ? Não é mesmo ?

Nem ele estava acreditando em suas próprias palavras ... afinal, eles surgiriam no futuro ... mas que futuro ? E quando isso seria ? Cem anos ? Duzentos ? Trezentos ? Dez ?

- O clã ...

As palavras não chegaram a sair de sua boca, visto que um gemido de Usagi tirara sua concentração . No entanto, seria aquilo realmente possível  ? Será mesmo que eles estavam enfrentando ...

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

Imersa em pensamentos duvidosos, ela tentava despertar, tendo enorme dificuldade nisso . No então, precisava fazer isso por aquela que estava ao seu lado, nem que morresse tentando .

Cerca de meia hora já havia se passado, e ambas estavam na sala conversando, enquanto que uma criança curiosa perguntava de minuto à minuto como sua mãe fizera aqueles truques e o que viria a ser uma Sailor, sem receber respostas . E as perguntas eram cada vez mais rápidas, não dando para elas tempo para formular novas desculpas .

- Makoto – dizia uma recém-chegada Minako, parada na porta da casa – você sentiu ... alguma coisa nas proximidades ?

- Só nós .

- Nada estranho, nenhum padrão diferente, um súbito aumento ... nada ?

- Nada . Algum problema ?

- Não .

Havia sido um sonho, ela pensa . O rapaz que teria supostamente encontrado era fruto de sua imaginação, e ela já começava a imaginar que talvez tenha sido ela quem derrotou Olho-de-Águia ...

(Makoto) – Você demorou .

(Minako) – Precisei sair . Rei já despertou ?

(Amy) – Nem entramos no quarto . E quanto ao seu filho ?

(Shin) – Mamãe ! Mamãe ! Mamãe !

(Minako) – Fala, filhinho !

(Shin) – O que é uma Sailor, mamãe ? E como a senhora fez aquilo, hein ? Hein ? Hein  ? Hein ? Hein ?

(Minako) – Ufff ! – ela abaixa a cabeça, já imaginando os problemas que teria ao explicar para Shin como fez aquilo e o que ela fora no passado . Por que não fizera aquilo antes ? Teria sido até mais fácil, como Rei e Makoto fizeram .... mas não, ela preferiu assim . O passado estava morto e enterrado, não era e não seria mais novamente a Sailor Vênus, nunca mais . Explicaria isso para Shin, assim que tivesse tempo . Agora, tinha algo muito importante para fazer .

Ignorando os apelos de Shin, ela abre a porta de seu quarto, fechando-a logo em seguida . Olhando para a cama, encontra sua amiga, deitada, descansando . Como uma onça que protege sua cria, ela abraçava sua jóia com todas as forças e com todo o amor .

Porém, mesmo dormindo, ela sabia que alguém havia adentrado no aposento, justamente devido aos seus poderes . Uma vez que era dotada de uma mente que conseguia perceber o mundo ao seu redor de forma diferente, dormir para ela era apenas um descanso para o corpo, pois sua mente estava sempre ativa .

- Rei ? Está me ouvindo, Rei ?

- Estou acordada, Minako .

- "timo – dizia enquanto se aproximava e colocava a mão sobre a testa de Rei – sente-se melhor ?

- Foi o melhor descanso que eu tive em dias .

- O que foi aquilo ?

- Eu utilizei toda a minha força mental para curar seus ferimentos e recuperar sua energia .

- E também curou Akira e Makoto, da mesma forma que o poder de Hotaru, não é mesmo ?

- Não, é diferente . A cura de Hotaru era um dom que ela tinha unicamente voltado para a cura . Como você sabe, eu sou uma paranormal, uma pessoa capaz de perceber o mundo ao seu redor com outros olhos e, mais do que isso, influenciá-lo com a força de sua mente . Descobri que possuía esse poder mental, mas também descobri o quanto ele é perigoso, uma vez que exige muito de mim . Dependendo do quanto eu utilizar, posso ficar esgotada fisicamente em poucos segundos !

- Eu percebi algumas queimaduras em Makoto antes de você ...

- Fui eu .

- Eu já imaginava .

- Me deixe explicar . Eu estava muito irritada, estava perdendo o controle de mim mesma ...

- Não serei eu a pessoa que irá te julgar, Rei . Vim aqui apenas para fazer Megumi voltar a ser o que era .

- Voltar ?

- Sim . Ela esta assim desde aquele incidente, e venho tentado desde então . Se você puder entrar na mente dela e conseguir fazê-la diminuir essa aura agressiva que se formou ao seu redor, poderei trabalhar .

- Aura ?

- Usei o termo errado . Todos tem uma aura, mas poucos tem uma aura ativa, como nós  ... e Megumi . A aura dela é muito parecida com a sua, fora alguns poucos detalhes . No entanto, a aura se intensificou, mudando de algo quase que inofensivo para um perigo para mim . Acredito que isso seja fruto de seu trauma, o qual faz com que ela esteja fechada para qualquer ajuda . Fale com ela e tente acalmá-la, que eu farei o resto .

- Não há necessidade .

- Por que não ?

- Minako, já viu uma teia de aranha de perto ? Já tocou em uma ? É uma coisa bela e, ao mesmo tempo, complexa . Ela representa todo o esforço de um ser em construir um padrão magnifico, no qual tudo leva a um único ponto . Milhares de caminhos são trilhados, mas todos retornam a somente um único caminho . Uma armadilha perfeita, na qual um único movimento em qualquer ponto dela alerta a caçadora, e qualquer ferimento em uma das partes tem capacidade para destrui-la por completo . Interessante o fato de que, se um dos pontos deixar de existir, a conexão com o centro pode ser afetada mais do que se imagina . E, apesar dessa suposta fragilidade, a teia de aranha é o material mais resistente existente na natureza, pois um fio de aço com a mesma espessura não teria a mesma força .

- E qual é a moral da história ?

- Pensei que soubesse, "Minako-sensei" – ela torna a olhar nos olhos de Minako, olha para Megumi e novamente olha para Minako – O corpo humano é a teia, e a mente, o centro . É impressionante a semelhança do corpo com uma teia de aranha, uma vez que ambas compartilham de muitos aspectos, já que ambos enviam informações para o centro . Sei que você não pode enxergar isso, mas eu vejo diversos pontos espalhados pelo corpo de Megumi, os quais estão seriamente danificados, consequentemente deixando de enviar mensagens para o centro do corpo . Isso acaba por impedir seus movimentos, sejam físicos, sejam mentais . Alguns pontos estão localizados em locais perigosos, como sua mente, o que tem impedido por completo sua comunicação . Restaurei alguns ligados aos seus movimentos, mas ainda não consertei os ligados as capacidades mentais .

- Tudo bem – ela se vira, caminhando até a saída – mas se precisar de ajuda, me chame .

- Minako ...

- Sim ?

- Eu sempre te ajudei, sempre te auxiliei ... mas saiba de uma coisa : eu sempre estarei ao seu lado, agora e sempre . Sempre apoiarei suas decisões e nunca me colocarei contra você . Qualquer coisa que precisar, qualquer coisa que quiser pedir, não hesite, pois eu farei de bom grado .

- Traga Megumi de volta, Rei  - ela vira o rosto para Rei e dá um sorriso – isso já é mais do que suficiente – e, depois disso, ela sai abre a porta, parando no ultimo instante – Rei, isso que você disse ...esses pontos dos quais você falou, eles poderiam aumentar ou surgir devido a algum motivo realmente forte ?

- Sim, mas isso é muito difícil . Por que ?

- Quando a encontrei, ela ainda falava . Com o tempo, foi ficando assim, quieta, calada, cabisbaixa .

- a pobrezinha deve ter sofrido muito, imagino .

- Mais do que você imagina ....

- Disse alguma coisa ?

- Nada, esqueça . Estarei aqui fora.

Minako sai, sem sequer olhar para trás . Havia tentado, mas falhara em conseguir coragem para dizer a Rei ... para falar a ela o que havia realmente colocado Megumi naquele estado ...

- Tia Amy .

- Sim ?

- Aquela mulher que minha mãe levou para o quarto ... é a mãe de Megumi ?

- É sim, por que ?

- Quem bom ! Espero que agora ela melhore !!!

(Makoto) – Ela vai melhorar . Rei não se dá por vencida tão facilmente ... pelo menos não antigamente .

(Shin) – Não é dela que eu estou falando, mas da outra !

(Makoto) – Que outra ?

(Shin) – A Megumi .

(Amy) – Hã, Shin  - um sensação ruim passava por ambas, tirando de seus lábios as palavras corretas . Mas que culpa elas tinham ? Afinal, como iriam explicar para ele que Megumi estava morta ? Melhor não explicar . Era apenas uma criança, a qual sequer tinha noção do que estava acontecendo . Elas se entreolhavam, concordando que Megumi havia feito uma "longa viagem" ... sem volta .

(Amy) – Shin, bem ... a Megumi, ela ... ela ... aham, Megumi ... ela ...

(Makoto) – Ela viajou para ... para ... para a Europa ! Vai passar um tempo lá com os parentes, por que ... por que ... por que as férias estão próximas, e sua mãe a dispensou !

(Shin) – Hein ? – a cara dele era de pura confusão, uma vez que o que elas acabaram de dizer simplesmente não fazia sentido – as senhoras querem dizer que ela vai para a Europa ? Que parte ? E quando ?

(Amy) – Para ... para ... para a República Tcheca, Shin . Ela viajou no Sábado !

(Shin) – Hein ? Ela foi no Sábado e voltou no Sábado ?

(Makoto) – Não, ela foi e não voltou mais .

Ele coloca a mão no queixo, tentando colocar seus pensamentos em ordens . Se havia entendido corretamente, Megumi havia viajado ? Mas ...

(Shin) ... se ela viajou, quem é que está no quarto de Okaasan com a dona Rei ?

(Makoto/Amy) - ?????

(Minako) – Algum problema, Shin ?

(Shin) – Mamãe, Elas estão dizendo que a Megumi viajou, então quem é que está no seu quarto ?

(Minako) – Shin, venha até aqui, por favor – ele segue até ela – agora coloque as mãos nos ouvidos de forma que os tape bem, e comece a cantarolar, e bem alto !

(Shin) – Tá ! – ele tapa os ouvidos, como filho obediente e exemplar, nas palavras de Megumi – LÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁ !

(Makoto) – E Rei ?

(Minako) – Acordada . O que disseram para ele ?

(Amy) – Nada que você deveria ter feito . Estávamos tentando explicar para ele o que houve com Megumi .

(Minako) – E o que houve com ela ?

(Makoto) – Ah, claro ! Eu havia me esquecido de que você não estava lá . O templo Hikawa foi atacado e ... – sua voz se tornara bastante baixa e seca nesse último instante – Megumi ... morreu .

(Minako) – Morta ? Eu não acredito nisso !

(Amy) – A mãe dele também não acreditou, e nós perdemos contato com ela durante dias .

(Minako) – Megumi não está morta, e sim viva .

(Makoto) – Lembra-se daquele energia estranha que sentimos no centro de Tóquio ? Era Rei . Não estava ali fisicamente, mas mentalmente . Lembra-se de como Rei sempra parecia prever que Megumi estava machucada ? Pois eu descobri o motivo : ambas são ligadas, uma pode sentir o que a outra sente . Uma ligação tão forte, que somente uma coisa podia corta-la .

(Minako) – Sua lógica está errada . Se fosse assim, alguma coisa extremamente forte também poderia destruir essa ligação . O ódio, rancor, o medo ... mas isso no momento não importa, mas sim que ela está viva .

(Makoto) – Você pode pedir que ele tampe os ouvidos para não escutar, mas não pode fazer o mesmo conosco .

(Minako) – Já que não acreditam, por que não olham o que eu tenho no meu quarto ?

(Amy) – O que você tem no seu ... não, não me diga que ... Minako, está falando sério ?

(Minako) – Olhe e confira .

Ambas se levantam, deixando Minako e um barulhento Shin para trás . Elas abrem a porta, tendo a maior surpresa de suas vidas .

(Shin) – Mãe !

(Minako) – Sim ?

(Shin) – Posso parar ?

(Minako) – Pode sim, querido . Você cuidou bem dela, não cuidou ?

(Shin) – Cuidei, sim ! Mas ela não queria comer nada do que a senhora preparou !

(Minako) – É, eu já esperava por isso .

(Shin) – Mãe .

(Minako) – Sim ?

(Shin) – O que é uma Sailor ? E como a senhora fez aquilo ?

(Minako) - ...... ai, ai .....

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Rei) – Você pode me perdoar, meu bem ? Por favor, você pode ? Pode ao menos me ouvir ? Pode ao menos ... me entender ? Será que não estaria ouvindo novamente, mas não consegue expressar o que pensa ?

Embora mal conseguisse se mover, Rei continua abraçando Megumi com todas as forças, depositando nela suas últimas esperanças . Tal como uma mãe, era um abraço caloroso e carregado de amor, o qual ela já havia passado para Megumi muitas e muitas vezes .

(Rei) – Mesmo assim, não mereço seu perdão . Mesmo tendo salvo o mundo tantas vezes, ainda assim fui incapaz de ter salvar . E você nunca teve culpa de nada, acabou por se tornar mais uma vitima no meio dessa guerra insana . Como eu gostava de acordar abraçada a você, ver o seu sorriso logo de manhã  e a sua alegria quando chegava em casa depois da escola . Como é grande a minha tristeza em te ver assim, desprovida de seu adorável sorriso !

- .... hmm .....

(Rei) – Hã ? Está ... está funcionando !

Sim, estava funcionando . Sua teoria estava correta, ela poderia utilizar sua cura psíquica para curar pessoas de traumas mentais e, felizmente, isso não a desgastava tanto quanto quando ela usava seu poder para curar um ferimento físico .

(Rei) – Megumi ! Por favor, responde, filhinha ! Mamãe vai te salvar, tá ! Isso não vai acontecer de novo, eu não vou deixar ! Quando você abrir os olhos, nós vamos para casa e esquecer tudo o que aconteceu ! Vamos poder viver novamente em paz, da mesma maneira que fizemos por tanto tempo !

Makoto e Amy, as quais haviam acabado de abrir a porta, estavam espantadas, pois estavam diante de um fantasma . Parecia ser uma ilusão, uma brincadeira de mal gosto, mas aquilo realmente estava acontecendo : diante de seus olhos, estava Rei, abraçando Megumi, de uma maneira tão forte, que parecia que ambas ficariam juntas por toda a eternidade .

(Amy) – Céus ... como ... como isso é possível ?

(Makoto) – Nem eu estou acreditando nisso . Será que é ela ?

(Rei) – Sim, é minha filha . Nem mesmo eu estou conseguindo acreditar, mas acreditar é a coisa mais importante agora . Tenho que acreditar que posso trazê-la de volta, do contrário terei falhado com ela novamente .

(Makoto) – Ela está viva ... mas parece haver algo errado com ela, o que houve ?

(Rei) – O choque foi grande demais pra pobrezinha, então ela ficou assim, mas eu vou fazer ela ficar bem .

(Amy) – Rei .. você ficou bastante cansada depois que fez aquilo, quase chegando a morrer . É muito bom que ela esteja viva, mas não acha melhor esperar mais um pouco até que suas energias ...

(Rei) – Não, eu não posso fazer isso . Tenho que fazer isso agora, não agüento vê-la nesse estado nem mais um segundo ! A mente da pobrezinha está presa em seu próprio corpo, você nem imagina o quanto ela está sofrendo ! Tem idéia do que é para ela, uma criança a qual foi criada com um mundo enorme para desvendar, de uma hora para a outra ficar confinada a um espaço tão minúsculo quanto seu próprio corpo ? Eu posso fazer isso, não estou ... tão ... fraca ...

(Amy) – Rei ! Espere um pouco, vou chamar Minako, ela parece entender disso e ...

(Rei) – Não ! Eu farei isso ! É minha obrigação fazer isso ! Por minha culpa, a inocência dessa criança foi arrancada de forma violenta ! Foi por isso que destrui o templo Hikawa, aqueles desgraçados macularam o local, ousaram causar mal a alguém tão puro quanto ela ! Embora tudo tenha sido destruído, quanto cheguei lá o templo já estava destruído, e você não imagina a extensão total da dor que Megumi deve ter sofrido quando viu seu lar desmoronar ! O único local que nos acolheu, o único local que sempre seria um lar para nós, agora estava destruído . Eu pude sentir a podridão da maldade de cada um deles à distancia, a qual infestava cada centímetro do templo . Pior, pude sentir os últimos vestígios de Megumi, o medo de uma inocente, o qual estava espalhado pelo local . Eu não apenas destrui o templo ... eu o purifiquei . E agora, eu tenho que trazer a minha filha de volta, uma vez que descobri o porque de não ter conseguido sentir a presença dela . Filha, acorde . Por favor, acorde, meu amor . Eu não vou te perder de novo, nunca mais . Você é a coisa mais importante que aconteceu na minha vida, sem você ela não tem mais sentido ! Não vou permitir que esses monstros façam com você o que fizeram comigo, não vou !

Amy estava quieta, observando o que acontecia, ou melhor, não observando, uma vez que não conseguia ver toda a energia psíquica que seguia de Rei para Megumi . Ela puxa seu celular e aponta para ambas, tentando descobrir alguma coisa .

(Makoto) – Conseguiu outro ?

(Amy) – Modifiquei o de Roger . Mas mesmo assim não consigo sentir nada . E você ?

(Makoto) – Mais ou menos . Essa energia mental é diferente do poder que Rei tem como guerreira do fogo . A única coisa que consigo é ter uma sensação estranha quando ela utiliza esse poder dela .

(Amy) – Ela não vai agüentar . Melhor parar com isso já !

(Makoto) – Não temos esse direito .

(Amy) – O que isso tem a ver com direito ? Estamos falando de duas vidas ! Se ela continuar, morrerá, e não poderemos curar Megumi !

(Makoto) – Você disse que perdeu ela de vista tão logo nos separamos naquele dia, então significa que ela ficou vagando pela cidade esse tempo todo . Deve ter dormido na rua, imagino . Vai ser uma alegria imensa para ela fazer isso, e eu sei que ela conseguirá . Não temos o direito de tirar esse momento dela .

(Rei) – Acorde ... Megumi ... por favor ...

Ela estava no fim de suas forças . Talvez se tivesse ouvido o conselho de Amy ... não, não iria desistir justamente agora . Iria trazer sua filha de volta, custe o que custar, e agora ! A coitadinha estava ferida mentalmente, impossibilitada de viver sua própria vida, e isso era não iria permitir, mas nunca iria mesmo !

- ... hmmm .... ma ..... ma ....

(Rei) – Vamos, Megumi . P-por favor , acord ....

- ..... ma .... ma ..... ma .... mãe ....

Novamente esgotada, ela entrega-se ao sono, vencedor desse round . Estava começando a desfrutar de um sono suave e tranqüilo e, mais importante do que isso, um sono feliz . Pois, mesmo exausta, estava sentindo novamente sua filha . Estava sentindo sua presença . Sentia sua dor, sua tristeza, seu medo ... mas sentia . Por puro reflexo, Megumi aconchega seu corpo entre os braços de Rei, abraçando-a também . Da mesma forma que Rei, ela sabia que tudo iria dar certo . Não saberia explicar como, mas sentia que havia alguém que sempre estaria por perto pra protegê-la, mas ajudá-la, para aplacar seus medos, alguém que sempre estaria junto e seria sua amiga, não importando as distâncias, não importando os fatos .

Agora sim ela tinha certeza de que tudo daria certo . Não importavam os ataques, a destruição causada, os feridos, mas ela sabia que, enquanto Megumi estivesse ali, ao seu lado, tudo daria certo . E daí que elas sequer sabiam o que seu inimigo pretendia ? E daí que sua casa estava destruída ? E daí ? Estava junto da pessoa que mais amava, e era isso o que realmente importava para ela . Os inimigos seriam derrotados e exterminados, disso ela tinha certeza . Não importavam as dificuldades, pois ela tinha certeza de que tudo daria certo .

- M-m-mamãe ... e-eu ... eu amo ... você ... – disse ela, instantes antes de se calar e se entregar, pela primeira vez em dias, a um sonho feliz e tranqüilo . Totalmente paralisada desde o incidente no templo, finalmente a pequenina estava em paz, livre das preocupações dos outros dias . Poderia descansar suavemente, entregando-se ao descanso dos justos, aonde poderia estar com todos os seus amigos, com todos aqueles que mais amava, ontem, hoje, amanhã e sempre .

(Amy) – Bárbaro ...

(Makoto) – Funcionou . Vamos .

(Amy) – Por que a pressa ?

(Makoto) – Não há mais nada que possamos fazer aqui, e agora que estamos quase todas aqui, Minako terá que dar explicações a vocês .

(Amy) – E por que você não faz isso ?

(Makoto) – Por que eu fiz uma promessa ...

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Makoto) – Shin, vem cá !

Inocentemente ele se aproxima dela, a qual se posiciona atrás dele e massageia seu pescoço . Segundos depois, ela cai no chão, inconsciente .

(Amy) – O que você fez ??!?!?!?

(Makoto) – Foi só um golpe de Judô no qual você pressiona pontos específicos para deixar o adversário inconsciente . Não se preocupe, ele está bem, mas como é pequeno e não tem nenhum treinamento, vai dormir por algum tempo – Makoto o coloca em seus braços e o leva até seu quarto, colocando-o na cama e saindo em seguida – tempo suficiente para termos algumas respostas. Não é mesmo, Minako ?

(Minako) – Eu vi isso . É bom que nada de ruim tenha acontecido com ele, senão ...

(Makoto) – Senão o que, Sailor Vênus ? Vai me atacar ? Se for assim, farei isso nele quantas vezes forem necessárias para que você abandona esse papo pseudopacifista !

(Minako) – Ao contrário de você, eu estou tentando resolver as coisas sem violência .

(Makoto) – E você acha que eu também não ? Aquele garoto que eu matei no centro de Tóquio, acha que eu gostei de fazer aquilo ?

(Minako) – Hunf ! – Minako lhe dá as costas, indo em direção a cozinha .

(Makoto) – Pra você também !

(Amy) – Sabe, eu acho que esse tipo de comportamento não ajuda em nada a resolver os nossos problemas .

(Makoto) – Não se preocupe, ela volta . Foi apenas fazer um café enquanto pensa melhor nos seus atos, mas ela volta . Hmm, estou sentindo algo estranho  por aqui .

(Amy) – Agora que disse, Minako preferiu atravessar um tiroteio à se transformar . Isso é muito estranho .

(Makoto) – Tudo bem, sinto que agora tudo dará certo, já que as coisas estão começando a tomar seu rumo .

(Amy) – Espero que sim . Não quero acordar em um restaurante só por que Rei resolveu fugir novamente .

- Eu ouvi isso .

(Amy) – Hmmm ? Rei ?

(Makoto) – Rei ?

- Quem mais seria ? Não posso dar às costas e vocês duas já começam a falar mal de mim ?

(Amy) – A sua voz ...

(Makoto) - ... eu não ouço com os ouvidos, mas ...

- Não estou aqui fisicamente, mas mentalmente .

(Makoto) – Como é ?

- Minha mente não precisa de tanto descanso quanto meu corpo .

Amy corre até o quarto e abre a porta, comprovando que Rei realmente estava deitada na cama com Megumi .

(Amy) – Então você está dizendo que sua mente pode abandonar seu corpo, não é ? Bem, porque não podemos vê-la ?

- A energia da mente é diferente das outras energias . Mas se fazem tanta questão, fechem os olhos .

(Makoto) – Para que ?

- Fechem os olhos, e você verá .

Ambas fecham os olhos e os abrem em seguida, tendo uma enorme surpresa : Rei estava lá, diante das duas ... brilhando . Era um brilho vermelho claro, o qual envolvia todo o seu corpo .

(Rei) – Satisfeitas ?

(Makoto) – Ficou melhor .

(Amy) – Incrível ! Eu posso ouvir a sua voz  com os meus próprios ouvidos !

(Rei) – Não, Amy, você não pode . Pensa que está fazendo isso, justamente por que essa imagem mental está aparecendo apenas em sua mente e afetando suas percepções . As suas, as de Makoto e a de Minako, a qual parece irritada com algo na cozinha . O que houve ?

(Makoto) – Ela não gostou de ouvir a verdade .

(Rei) – E qual seria ela ?

(Makoto) – O motivo dela não querer mais lutar . A propósito, respondendo a sua curiosidade, Amy, eu descobri uma coisa engraçada sobre a nossa transformação : Se você não acreditar nela do fundo do coração, se não acreditar que é capaz de superar todas as barreiras com ela, não funcionará . Já testei e não funcionou, acredite .

(Amy) – Isso é um pista ?

(Makoto) – Você é inteligente, vai saber responder .

(Amy) – Quer dizer que naquele dia Minako nunca teria conseguido se transformar ?

(Minako) – Que tal se vocês parassem de falar de mim e ... Rei ? – ela derruba a garrafa de café, surpresa com o que acabara de ver – é você ?

(Amy) – Não exatamente, trata-se de uma projeção psíquica que invade o seu subconsciente fornecendo falsas sensações de cheiro, cor, sabor, som ...

(Makoto) – Resumindo, a mente de Rei pode deixar seu corpo .- dizia Rei, enquanto fazia a garrafa de café parar em pleno ar, evitando que o chão ficasse sujo, surpreendendo Amy e Rei .

(Rei) – Como fez isso ?

(Makoto) – Magnetismo . Posso exercer um certo controle sobre metais, inclusive o metal dessa garrafa . – e, enquanto explica, a garrafa começa a girar em pleno ar, tocando em seguida a mesa em segurança .

(Rei) – Por que não usou isso naquele carro ?

(Makoto) – Não é tão fácil assim, ainda mais num veículo em movimento e a uma certa distância . Mas eu posso parar corpos menores do que isso, como um homem, por exemplo .

(Rei) – Como você pode fazer isso ?

(Makoto) – Controlando o ferro dos ossos das pessoas .

Amy e Minako, as quais estavam prestando mais atenção à nova habilidade de Makoto do que na explicação, sentiram um estalo na consciência e nos seus diplomas :

(Amy) – Ossos ? Ferro ? Espera um pouco ...

(Minako) – Puxa, Makoto ... você deve ser muito boa mesmo pra conseguir paralisar alguém pelos ossos !

(Makoto) – Por que muito boa ?

(Amy) – Osso não tem ferro, e sim o sangue .

(Minako) – Mais especificamente, a hemoglobina .

(Makoto) – Ora, vocês estão querendo rir às minhas custas ?

(Minako) – Makoto, eu sou professora ! Certa vez um dos meus alunos faltou por que estava anêmico e eu expliquei para os outros o motivo dele ter faltado .

(Makoto) – Pode ser professora, mas não quer dizer que saiba todas as respostas !

(Minako) – Essa eu sei . Sabia que existe uma diferença entre o ferro no nosso organismo e o de um carro ? O elemento químico é o mesmo, há apenas uma diferença: o dos carros é insolúvel em água e o que circula pelo corpo é solúvel porque está na forma de ícons, átomos com carga elétrica, que reagem com a água. Caso não fosse solúvel, não se ligaria aos aminoácidos para formar a hemoglobina, o pigmento do sangue que carrega oxigênio até os tecidos do corpo. A falta de ferro resulta em anemia. E a anemia é que causa problemas nos dentes. daí porque se deve ter dieta rica em ferro durante o crescimento, para preservar os dentes. É algo indireto...

(Amy) – Tem certeza que não gostaria de montar uma clinica comigo, Minako ?

(Minako) – Estou satisfeita com minha profissão .

(Amy) – Falo sério ! Você deveria ter feito medicina !

(Minako) – É melhor saber do que ter que passar pela vergonha de ouvir seus alunos perguntarem algo e você não souber responder . Disse isso para alguém, Makoto ?

(Makoto) – Hã ... não – e, naquele momento, ela lembrou-se de que havia dito aquilo bem alto para uma multidão de youmas – mas espere um pouco, se bem me lembro, existe um minério nos ossos, não existe ?

(Amy) – Cálcio, minério não metálico .

(Rei) – Aham ... isso tudo é muito interessante e educativo, mas ... que tal se tratássemos de assuntos mais atuais ? Makoto ainda assim pode paralisar as pessoas, só que usa o sangue ao invés dos ossos . Que tal mudarmos de assunto ?

(Amy) – Certo ... quem começa ? Ninguém se oferece ? Bem ... que tal você, Makoto ?

(Makoto) – Por que justamente eu ?

(Amy) – Vamos colocar as coisas em pratos limpos . Onde esteve nesses últimos dias ?

(Makoto) – Fui visitar um amigo .

(Amy) – Que amigo ?

(Makoto) – Você não conhece, é um youma – e ela disse isso com a maior naturalidade do mundo, assustando ainda mais todos os presentes, com exceção de Minako .

(Amy) – Então ... então aquela história sobre o Reino Negro ...

(Rei) – E ela trouxe alguns com ela, eu mesmo vi . Por falar nisso, será que aquela garota já saiu da delegacia ?

(Minako) – Então era lá que você estava ? Não era a toa que eu não consegui encontrá-la . Conversou com Sytil ?

(Amy) – Quem é Sytil ?

(Minako) – O líder atual dos Youmas . Por que você foi até lá, Makoto ?

(Makoto) – Obter algumas respostas .

(Rei) – De onde vocês duas o conhecem ?

(Minako) – De outros tempos .

(Amy) – Se for seguro, depois eu gostaria de ir até lá .

(Minako) – Não aconselho . É muito perigoso ir até lá agora .

(Rei) – Eles estão mais fortes ?

(Makoto) – Não é isso . Eles não gostam da nossa presença, simplesmente . A guerra contra Beryl matou muitos deles, e as memórias que eles tem de nós matando sua gente não some tão facilmente .

(Amy) – Certo . A propósito, de onde vieram aqueles ferimentos ?

(Rei) – Um inimigo que nós duas enfrentamos hoje de manhã .

(Amy) – Você e Makoto, eu e Akira ... vejo que todas nós tivemos problemas hoje . E você, Minako ? O que tem para nos contar ?

Ela até que queria contar, mas não sabia como começar . Afinal, como explicar um jovem misterioso na qual ela tropeça e depois incinera seu adversário com uma facilidade incrível, e o que era pior, ele some em seguida . No entanto, todos esses fatos não passaram desapercebidos por ela, pelo contrário, havia deixado diversos pontos importante latejando em sua mente ...

(Minako) – "... não vou permitir que surja mais uma pedra no nosso sapato" ... "não estava vivo" ... "o que houve com "punirei você em nome de Vênus"? .... !!!!!!!!!

(Makoto) – Mas do que é que você está falando ?

(Minako) – Céus ... tem algo errado . Algo terrivelmente errado . Eu ... eu encontrei Olho-de-Águia .

- O que ? – pergunta feita por todas as outras presentes, surpresas com as palavras finais da loira – Você está falando daquele sujeito que servia à rainha da lua negra ? – perguntava Rei .

(Amy) – Mas como isso é possível ? Eu pensei que ...

(Minako) – Havia algo de podre no ar, e eu descobri isso da pior maneira possível .

(Makoto) – Espera um pouco ! Se me lembro bem, o pégaso realizou o sonho dele e de seus outros amigos, e depois nunca mais os vimos . Por que voltariam ?

(Amy) – Será que não seria um fato isolado do que estamos enfrentando ?

(Minako) – Não . Não entendo como não pensei nisso antes . Havia algo cobrindo todo o bairro, uma espécie de redoma . Pior, não consegui descobrir qual era toda a finalidade dela . De uma coisa eu tenho certeza, quem fez isso não era uma pessoa qualquer, pelo contrário ...

(Makoto) – Era uma profissional . Encontramos uma mulher, e acredito que tenha sido ela quem fez isso .

(Minako) – Como ela era ?

(Rei) – Não deu pra ver . Havia um capuz cobrindo seu rosto e parecia que a escuridão ocultava sua face .

(Amy) – Como ? Estão dizendo que havia uma sombra por cima do rosto dela ?

(Makoto) – Uma sombra que não se desfazia de maneira alguma . Mesmo depois dos meus ataques e de eu ter destruído sua arma e parte de suas vestes, a sombra continuava cobrindo seu rosto . Seja quem for, é bastante poderosa, então é melhor tomarmos bastante cuidado . Não acredito que o próximo combate contra Death seja tão simples quanto o de agora .

(Minako) – Death ?

(Makoto) – Morte em inglês, "sensei" .

(Minako) – Eu sei disso, mas ela se apresentou com esse nome ?

(Makoto) – Não, foi apenas um nome que eu bolei, uma vez que ela não se apresentou .

(Amy) – Isso parece interessante, mas sabe mais alguma coisa sobre ela ? Seus poderes ?

(Minako) – Eu acho que tenho uma idéia ....

Makoto pra e pensa, lembrando-se de sua batalha, de cada momento e cada instante . Haviam diversos poderes que podiam ser confundidos, mas ela não iria se enganar, uma vez que havia prestado bastante atenção durante toda a luta, e tinha certeza do que era aquilo .

(Makoto) – Trevas . Estava controlando a escuridão .

(Minako) – Como a pessoa que eu enfrentei ... então era ela .

(Rei) – Lutou contra ela ? O que houve ?

(Minako) – Eu ... – Minako abaixa a cabeça, receosa pelo que iria dizer - ... acredito que tenha destruído-a .

(Rei) – Como ? Mas Makoto estava tendo problemas para ...

(Minako) – Acredito que ela não tenha utilizado tudo o que tem por estar próxima de um colégio, não é mesmo ?

(Makoto) – Muitos perspicaz, "Sailor Vênus" . Vejo que ficar de molho não eliminou sua experiência . Permite-me adivinha só uma coisinha ? Por acaso aquela luz que cobriu todo o bairro e em seguida se dissipou foi obra sua ?

(Minako) – Eu precisei fazer aquilo . Do contrário, seria uma questão de tempo até que todas nós estivéssemos mort ... !!!

Minako cessa sua frase, analisando o que acabara de dizer e imaginando o que Makoto diria .

(Makoto) – Ahá ! Quer dizer então que nossa destemida Minako resolveu agir para o bem de todos ! Muito bem, vejo que ainda existem resquícios de guerreira em você !

(Amy) – É impressão minha ou tem algo acontecendo entre vocês duas ?

(Makoto) – Você nem imagina o que está acont ...

(Rei) – Makoto, pare com isso agora .

(Makoto) – Por que está defendendo ela, Rei ?

(Rei) – Se quer discutir, faça isso lá fora . Agora, temos que resolver assuntos mais importantes como mulheres ADULTAS !

Makoto olha para a forma astral de Rei, a qual a encarava, e se lembra do que havia descoberto há pouco . Não importa o que dissesse, Rei defenderia Minako até o fim, devido aos últimos acontecimentos .

(Minako) – Como eu dizia, demorei demais para entender o que a barreira fazia, e não consegui descobrir por completo . Eu podia sentir um cheiro de morte e de podridão espalhado por todos os cantos e ... em Olho-de-Águia . O padrão energético dele era o mesmo da barreira, para ser mais exato .

(Amy) – Está dizendo que ele fez um acordo com alguém e ficou mais forte ? Que a barreira foi obra dele ?

(Rei) – Ou então ... aquela barreira o criou, não é mesmo ? Você enfrentou um falso Olho-de-Águia, não é ?

(Minako) – As duas hipóteses me assustam .

(Amy) – Minako, tem idéia do que você acabou de dizer ? Tem idéia do que isso significa ? Tem idéia do que está insinuando ?

(Minako) – Sim . Alguém esteve bastante atendo às batalhas que tivemos anos atrás, e agora tentou me enganar com uma réplica de um antigo inimigo . E o pior de tudo, possuía falhas !

(Makoto) – Poderia explicar melhor ?

(Minako) – Não era ele . Não se comportava como ele . Faz muito tempo, eu sei, mas o jeito de falar ... eu não me lembro de alguma vez ter ouvido ele falar assim . Ou ele mudou drasticamente nesse tempo todo, ou nós estamos com sérios problemas .

(Amy) – Entendo perfeitamente o que você quer dizer . Também estou muito frustrada com o que vem acontecendo . Ultimamente eu ... Rei, se me lembro bem, você leu a mente daquele rapaz, não é ?

(Rei) – Sim, mas eu tive alguns problemas para entender o que li ...

(Amy) – Isso já basta . Tem uma coisa que eu preciso mostrar para vocês . Pelo Poder do Cristal de Mercúrio, Transformação !

(Minako) – Imagino que vai usar seu visor .

(Amy) – Exato . Mas antes de começar, tem uma coisa que precisam saber : nesses últimos dias eu vi muitas coisas estranhas, as quais desafiariam a moral de qualquer um . Tudo o que vocês sentiram agora, eu já senti antes, portanto não se espantem muito diante da minha frieza, o.k. ? Pois bem, comecemos .

Seu visor surge, e ela começa a teclar  alguns códigos, até que uma luz sai do visor, criando uma imagem tridimensional .

(Makoto) – Nada mal . Nada mal mesmo .

(Amy) – Andei "fuçando" nele . Vocês não tem idéia do que essa coisinha é capaz . Vejam isso .

A imagem começa a tomar forma e, depois de observarem por um tempo, percebem que se tratava de um mapa . Um mapa bastante conhecido .

(Rei) – Tóquio . O que tem de tão importante assim nesse mapa ?

(Amy) – É um arquivo que sofreu algumas alterações nos últimos dois dias, e eu gostaria que prestassem bastante atenção no que irão ver agora ...

 *         *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

- Eu estou tentando entender seus motivos, Seo .

- Eu realmente preciso de um ?

- Todos tem . É apenas uma questão de tempo até que o seu seja descoberto .

- E você pensa que eu direi qual é ? Anda lendo muitas histórias em quadrinho, senhor Chiba .

- Por que não ? Afinal, uma vez que sei quem você é, acredito que seja algo muito importante, mas não tão complexo assim, não é mesmo, Reitor ?

Ele se aproxima de Mamoru, sem sequer demonstrar alguma surpresa .

- Impossível você ter estudado lá, eu saberia se isso acontecesse .

- O Reitor da Universidade de Tóquio não é um total desconhecido, obviamente .

- Muito perspicaz . Interessante a sua observação, talvez eu o solte, se resolver colaborar ... e a sua esposa também, é claro . – Seo estala o dedo, e uma luz ilumina um outro canto da sala, revelando a arvore aonde Usagi estava presa .

- Usagi ...

- Não gostaria de sair de onde está e abraça-la ? Pense bem, é uma proposta justa, algumas informações pelo bem estar da pessoa que você mais ama . Dou-lhe minha palavra de que será solto em seguida . Para começar, de onde vem toda essa energia dentro de você ?

- Eu nasci assim .

- Então é um de nós . E sua esposa, por que ela tem tanto poder ? Também é de nascença ?

- Exatamente .

- Você mente muito mal, senhor Chiba . Cidadãos comuns não nasceriam com o nível de poder que ela tem !

- Está me chamando de mentiroso ?

- Estou dizendo que não está sendo totalmente sincero . Sabe o que essa arvore que prende sua esposa faz ? Ela não só anula os poderes dela, como também os drena . Em alguns casos, quando ela estiver bastante fraca, a arvore começara a drenar sua essência . Claro, isso se ela não morrer antes de fome, uma vez que já está há algum tempo presa e sendo mal alimentada .

- Seu canalha ! – Mamoru pula pra cima dele, ignorando por completo o real motivo de ter ficado exatamente naquele local durante tanto tempo . Ele esbarra em algumas grandes energéticas, as quais descarregam toda a sua potência nele . Pior, elas impedem que ele se afastem, praticamente "colando" ele nelas . – AAAAAAAAHHHHHH !!!!! USAGIIIIIII !!!!!

- Algum problema, senhor Chiba ? Por acaso se esqueceu das grades que o prendem ? Espero que não, do contrário irá se arrepender mais ainda . Não se preocupe, as grades o segurarão durante alguns segundos e depois o soltarão . Mas, como eu dizia, é impossível que ambos tenham nascido com esse poder . Naru era um soldado, e nem ela possuía tanto poder quanto vocês . Logo ... vocês são como nós .

- Arrrrggghhh .... não sou como você, Seo !

- Você é quem se engana . Estamos mais ligados do que você imagina – Seo dá as costas para ele, enquanto dirige seu olhar para outro canto da sala, a qual permanecia totalmente escura – quanto a sua pergunta anterior, meus reais motivos ... eu apenas estou sendo leal a tudo o que acredito ... embora isso faça eu me arrepender amargamente – e essa última parte ele falou num tom muito baixo, do qual só ele podia escutar . – E quanto a você – ele se vira para outro canto do local – até quando ficará calada ?

- Você é bem perceptivo, Seo .

- Eu vim do mesmo lugar que você, a escuridão não me afeta facilmente . Está satisfeita com o que fez, "Dama das Trevas" ?

- Não quero discutir isso agora, Seo .

- Pois vai ! Seu plano foi um fracasso total, e quase perdi mais dois dos meus para te salvar ! E o pior de tudo, agora as Sailors conhecem o meu rosto, é apenas uma questão de tempo até descobrirem o que estamos fazendo !

- Seu idiota ! – Mamoru finalmente consegue se soltar das grades, caindo no chão, esgotado – Não subestime as Sailors, elas acabarão encontrando-o de uma maneira ou de outra !

- Eu realmente estou ficando irritado com tudo isso . Até agora não entendi o porque de você tê-lo trazido até aqui, "Dama das Trevas" .

- Pare de me chamar por esse nome, por favor .

- "Por favor" ? O que houve com a sua grosseria ? E por que ainda está escondida ? Você trouxe esse sujeito até aqui e não me deu a menor satisfação . Dê-me apenas um motivo para não matar o senhor Chiba agora, apenas um .

- Eu ... acredito ... eu acredito que ele seja Ad ....

- Que ?!?!?! Está dizendo que ele ... já entendi . Quando eliminamos todas as alternativas lógicas, a mais improvável e a certa . Ambos são fortes demais para serem civis ... Príncipe Endimion . Não imaginei que você também estivesse aqui nesse planeta, mas se as Sailors Estão ....

Aquilo bateu na testa de Mamoru, ecoou mil vezes pela sua cabeça e explodiu em seguida . Tamanho foi o susto, que ele mal teve tempo de desviar do tapa de Seo, o qual o jogou novamente contra as grades . Seu grito durava uma eternidade, alimentado pela dor infinita daquela prisão mágica .

- Seu verme ! Nojento ! Você não vai viver nem mais um instante, seu ...

- Espere, Seo .

- O que foi dessa vez ?

- Não o mate, deixe-o vivo . Lembre-se de que esse não é o nosso objetivo . Deixe-o vivo ... para que outra pessoa cuide dele .

Seo olha para o meio das sombra e para Mamoru, analisando a situação . Matar Mamoru agora o livraria de problemas futuros, é verdade, mas o direito de tirar a vida daquele homem só pertencia a uma pessoa, e não era ele .

- Que seja, mas isso não termina aqui . Você vai sofrer, senhor Chiba . Muito . Vai pagar caro por tudo o que fez, e será de maneira lenta e dolorosa !

Mamoru, no entanto, não estava prestando muita atenção nas palavras de Seo, pelo contrário, utilizava o pouco que restava de suas forças para se afastar da grade .

- Esqueça-o, Seo . Temos coisas mais importantes para fazer .

- Do que está falando ? Pelo que Maki me contou, sua luta foi tão violenta que teve que gastar muito do que estava guardado dentro de você !

- Não, Seo . Eu gastei apenas um pouco mas, mesmo que tivesse gastado muito, ainda assim não faria diferença, uma vez que terminei de coletar tudo o que precisávamos .

- Sua ... sua ... então Naru ... !!!

- Não se preocupe com isso . Absorvi apenas a energia de sua filha para me recuperar, e não a sua essência . E ela mesmo se ofereceu para isso, não a forcei a nada . Pelo visto, certas pessoas encaram de frente suas obrigações sem levar para o lado pessoal, ao contrário de outras .

- Não use essa palavra comigo, mulher. Lembre-se de quem eu fui, lembre-se claramente . Não se esqueça que, se não fosse por mim, ainda seria um ser estúpido enganado pelo fluxo da realidade . Lembre-se de quem abriu os seus olhos . Não se esqueça que foi a custa de muitos que você ...

- Seo ... eu sinto muito pelos seus filhos .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Makoto) – Um mapa de Tóquio ?

(Amy) – Exato . Eu o montei há pouco tempo . Prestem bem atenção no que verão agora .

Um ponto vermelho surge na tela, exatamente onde seria ...

(Rei) – Aqui ?

(Amy) – Não me lembro se comentei isso com vocês ou não, mas um carro com algumas pessoas muito bem armadas parou no meio do bairro e disparou uma saraivada de balas para todas as direções, sendo que foi um milagre que ninguém tenha se ferido gravemente .

(Minako) – Eles não desejavam isso .

(Amy) – Por falar nisso, você disse que aquilo era uma armadilha, mas poderia me explicar melhor ? A sua explicação anterior não me convenceu nem um pouco .

(Minako) – Eu posso sentir o estado de espirito das pessoas e acalma-lo . Aqueles homens estavam  num estado tão ... sereno . Digo, não exatamente assim, mas eles não pareciam nervosos, apreensivos, extasiados ... era como se tivessem feito aquilo apenas por fazer, ou então alguém havia ordenado aquilo .

(Makoto) – E ainda tem o centro ...

Tão logo Makoto fala, outro ponto vermelho, o qual era bem maior, surge aonde seria o centro de Tóquio .

(Rei) – Eu me lembro . Foi quando isso tudo começou .

(Amy) – Não, Rei . Não foi quando tudo começou .

(Rei) – O que quer dizer ?

Um outro ponto surge bem próximo ao ponto do bairro Juuban .

(Makoto) – Deixa eu adivinhar ... o templo ?

(Rei) – Desgraçados ... eles vão pagar caro por isso . Mas, Amy , Isso foi ...

(Minako) – Depois do tiroteio ... e depois do primeiro ataque .

(Amy) – Enganam-se . Vejam esse outro ponto .

Um outro ponto surge, porem bem distante do bairro Juuban e próximo ao centro de Tóquio .

(Rei) – Hmmm ...

(Minako) – Que lugar é esse ?

(Makoto) – A principio não o conheço, mas ...

(Amy) – Eu, sim . É o cais do porto . Lutei lá alguns dias antes de você batalhar no centro . Havia alguma coisa estranha acontecendo naqueles arredores, várias explosões haviam sido relatadas, mas não era nada sério, apenas alguns becos bagunçados e coisas assim . Depois de ver essa noticia várias vezes no jornal, resolvi investigar, e descobri que as paredes daquela área possuíam marcas que não podiam ser feitas por simples explosivos . Foi sorte eu ter encontrado rápido um beco com o causador daquilo tudo . Quando me viram, os mendigos saíram correndo, e eu fiquei me perguntando o porque, até que o "dono" do beco resolveu tirar satisfações comigo . Tive que detê-lo, do contrário boa parte do cais iria pelos ares .

(Makoto) – Pelos ares, é ? Não creio muito nisso .

(Amy) – O que quer dizer com isso ?

(Makoto) – Aqueles rapazes que atacaram o centro de Tóquio, bom, eles não eram grande coisa, não . Souberam agir antes que intervissemos, mas não eram tão fortes assim .

(Rei) – E aqueles outros que eu matei no templo também eram fracos demais .

(Amy) – Então nós temos uma anomalia no padrão . Ou melhor, duas anomalias . A primeira foi com o bêbado, e a segunda, com Akira, se bem que ele não é tão forte assim .

(Minako) – Você está enganada . Akira é bem forte, e você sabe muito bem disso .

(Amy) – Aquilo foi uma hipótese baseada em um aparelho experimental, eu não colocaria todas as minhas expectativas naquele resultado . Mas se você considera o fato de que ele teria alguma chance contra uma mulher que deveria ter o dobro de sua idade, então ela deveria ser bastante forte, mas não tanto, já que preferiu fugir à me enfrentar .

(Rei) – Quer dizer que o que enfrentamos até agora foi apenas os "buchas" ?

(Amy) – Se aquele mendigo e aquela garota forem os mais fortes, então tem alguma coisa bastante errada ai .

(Rei) – Como assim ?

(Amy) – Isso poderia ser explicado de diversas maneiras . Basta entender que o que está acontecendo quebra as leis da probabilidade, da progressão geométrica e do acaso . Nossos inimigos deveriam ser mais fortes, no entanto ...

(Makoto) – E quanto a Death ?

(Amy) – Quantos como ela você enfrentou ?

(Rei) – Talvez seja tão fácil por que talvez nossos poderes tenham chegado ao limite .

(Minako) – Você não está dizendo tudo isso apenas para nos deixar preocupadas, não é mesmo ? Imagino que você queira dizer algo realmente sério .

(Amy) – Acredite nisso . Beryl coletava energia para ressuscitar sua ... aham ... "chefa", o clã Black Moon lutou para mudar o futuro, os caçadores da morte procuravam os talismãs que habitavam nos corações puros, o Circo da Lua da Morte procurava o mais belo sonho que podia existir, e Galáxia procurava por uma semente estelar em especial . Com exceção do clã Black Moon, o que os outros tinham em comum ?

(Makoto) – Hmmm ... eles ... eles ... eles utilizavam as pessoas inocentes para atingir seus objetivos ?

(Rei) – Mas ... mas ... eu  não percebi nada de estranho acontecendo, tampouco o fogo me revelou nada ! Como algo assim poderia acontecer sem que percebêssemos ?

(Amy) – Você nunca perceberia isso, Rei  . Nós nunca teríamos noticias de pessoas caindo no meio da rua por exaustão ou falta de outra coisa . E sabe por que ? Por que eles estavam recolhendo o lixo da porta dos fundos !

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

- Como é ?

- Eu sinto muito pelos seus filhos .

- Você sente ... muito ?

Ele fecha seu olhar em meio a escuridão, analisando pacientemente o significado daquelas palavras . Nesse tempo todo ela nunca sequer havia demonstrado alguma preocupação especial com os outros, apenas no que tinha que fazer . Uma pessoa fria, desprovida de sentimentos, a qual esmagaria o mundo inteiro se isso interferisse nos seus plano . Então, por que ela sentia muito pelos seus falecidos filhos ?

- Todos os que morreram, e aqueles outros dois que quase morreram para me ajudar, eu realmente sinto muito .

- VOCÊ SENTE MUITO ? Isso não adiante de nada ! Todos eles eram jovens, e possuíam uma vida inteira pela frente ! Sentir muito não vai trazê-los de volta !

- Eu sei, por isso me desculpo, mas você também não pode me acusar, uma vez que parte disso é culpa sua . Afinal, eu não sugeri sozinha que aquelas pessoas fossem mortas .

- Como ousa ?

- Embora não pareça, eu sou muito mais velha do que você, Seo . Entendo perfeitamente as decisões da guerra e as suas conseqüências . É verdade que eu disse que estaríamos fazendo um bem para a humanidade, mas foi você quem começou com tudo isso, lembre-se bem .

- Eu me lembro perfeitamente disso, moça – e, no fundo, ele se odiava por ela estar certa . A culpa disso ela dele, e não havia nada que pudesse mudar isso . Tentara esquecer esse fato, mas isso o perseguiria pelo fim de sua vida – tanto me lembro, que sequer questionei minhas obrigações . Tive que escolher entre minhas obrigações e minha lealdade, e você sabe muito bem quem venceu essa disputa . No entanto, parte disso tudo também tem a sua marca .

- Isso não teria acontecido se você não tivesse feito aquilo comigo .

- Eu fiz ? Você apenas olhou para mim e despertou ! Eu fiz alguma coisa ? Não, aquilo já estava programado para acontecer no momento certo quando você visse a pessoa certa, eu ! É verdade que envolvi meus filhos nisso, mas você não pode dizer nada depois do que fez com seus semelhantes ! Podia tê-los poupado, mas não o fez !

- Cale-se ! Eu estava confusa ! Tem idéia do que é despertar e descobrir que tudo o que você viveu, tudo o que passou, tudo aquilo no que acreditava era uma mentira ? Pura e simplesmente uma mentira ? Quando aquilo tudo eclodiu de dentro de mim, eu fiquei tão confusa que me descontrolei ! Se não fosse isso, nunca faria o que fiz com ... com ...

- Chorar agora não vai adiantar . Ambos cumprimos com nossa lealdade, mas acabamos por ferir aqueles que nos cercam . Pra falar a verdade, eu me sinto o pior de todos os monstros . Não por aqueles que matamos, pois eu acho que aquilo foi feito por um bem maior, mas pelas minhas crianças que fizeram o que fizeram por que acreditaram em minhas palavras .

- Palavras verdadeiras, não se esqueça .

- Mesmo que acreditem no que eu diga, ainda assim não fizeram pela nossa causa, mas por mim . Alguns dormiam nas ruas, outros moravam em orfanatos, outros eram filhos de famílias destruídas . É verdade que senti a potência mágica no sangue deles, mas eu os criei como meus filhos . Ainda me pergunto se teriam feito o que fizeram se não fosse a sua aura de maldade .

- Minha ... aura ?

- Imaginei que você não soubesse disso . Agora eu não a sinto, mas antes você emanava uma aura de pura maldade por onde passava . O simples fato deles terem sido expostos a isso por tanto tempo afetou suas mentes e suas personalidades, tendo como resultado final o fato deles terem feito coisas que nunca fariam em sã consciência .

- Está dizendo ... está dizendo que ... que ... que todas essas pessoas que eles mataram é culpa unicamente minha ?

- Não totalmente . Sua aura estava afetando o espirito deles, fazendo-os agir sem dor na consciência . Do contrário, duvido que Yuji e Aruma tivessem feito o que fizeram no centro de Tóquio . Acredito que você saiba do que estou falando, mas para fazer aquilo, é preciso muita crueldade, e um ser humano dificilmente possui tanta . Mas eu também tenho culpa nisso, uma vez que ordenei que fizessem aquilo e tantas outras coisas . Eu enxerguei o que estava acontecendo com eles, e no entanto prossegui . De alguma forma, vejo que algo mudou em você, mas isso já não tem mais importância .

- Minha ... culpa ...

- Não adianta se lamentar, o que está feito está feito . Você disse que não gastou muito de sua energia, gostaria que me explicasse como fez isso .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Amy) – Alguma vez vocês já se perguntaram o que ocorrem bem debaixo dos nossos narizes ?

(Makoto) – Explique-se .

(Amy) – Lembram-se das palavras de Plutão acerca de Tóquio de Cristal ? A primeira e verdadeira utopia que existiria, na qual todos são iguais e vivem em paz . Ao pensar em suas palavras e vislumbrar nossa sociedade atual, fico imaginando que esse futuro está mais distante do que imaginamos .

(Makoto) – Tóquio de Cristal será um lugar governado por uma soberana sábia, a qual proverá paz e tranqüilidade para todos os seus habitantes, não duvide disso .

(Amy) – Recentemente foi despertada em mim uma curiosidade enorme em descobrir de que forma ela usará essa sabedoria . Mas voltando ao nosso assunto principal, por que não percebemos os ataques antes ?

(Rei) – Eu não sei . Uma coisa dessas não passaria por nós sem que percebêssemos .

(Makoto) – Talvez passasse, mas nós não conseguimos enxergar a gravidade da situação .

(Minako) – Eles estão sumindo com quem não faz falta .

(Amy) – Bem observado . Pelo pouco que eu sei sobre sua carreira como Sailor V, você enfrentou muitos ladrões, não é mesmo ? Diga-me, Minako, você sempre desejava que os ladrões não voltassem a roubar, não é ? Ou melhor, desejava que eles não causassem mais problemas para os outros, não é mesmo ? Pois bem, e se eles não voltassem nunca mais ?

(Rei) – Quer dizer ... mortos ? Está dizendo que as pessoas que desapareceram eram bandidos ?

(Minako) – Não somente isso, Rei, mas gente que não fazia muita falta para a sociedade na qual vivemos .

(Makoto) – Ah, meu ... eu não acredito nisso ! Eles fizeram ... eles realmente fizeram isso !

(Amy) – Se eles não fizeram isso para não chamar a nossa atenção, então pelo menos conseguiram ocultar fatos da população .

(Minako) – "Bandido bom é bandido morto", dizem alguns .

(Amy) – Interessante esse ditado, mas às vezes eu sinto falta da época em que você não acertava uma, Minako . Pelo menos, era mais engraçado .

(Rei) – Eu não consigo acreditar que tenham feito isso sem chamar a menor atenção !

(Amy) – Mas fizeram, Rei . Imagine um homem saindo de casa e nunca mais voltando . A policia iniciaria uma busca, cartazes e folhetos seriam espalhados por todos os cantos, e o nome dele seria noticia pelos próximos meses . Mas o que acontece quando um bandido simplesmente some ? Muitos dizem que ele está escondido ou morreu por que não quitou com suas dividas .

(Makoto) – Bandidos mortos, é ? Hmm ...

(Minako) – São seres vivos como eu e você, Makoto . Não temos o direito de decidir quem vive e quem morre .

(Makoto) – Eu disse alguma coisa ? Só fiquei pensando se, uma vez que estão fazendo isso, o que os impedia de tentar outra coisa ?

(Amy) – Não, Makoto, eles já tentaram . Bandidos, assaltantes de carro, trobadinhas, prostitutas ... e mendigos, é claro . Tudo isso debaixo da lei, sem que ninguém perceba até que seja tarde .

(Rei) – Certo, mas como sabe de tudo isso ?

(Amy) – Não foi tão simples quanto imagina, tive que pesquisar vários fatos durante esse final de semana inteiro, não imagina o trabalho que me deu descobrir tudo isso . Depois que alguém me botou pra dormir e eu fui para casa ... aham ... eu sai em seguida e comecei a procurar por algumas coisas . Não sabia o que, mas não conseguia ficar parada . Foi então que eu voltei até o galpão em que eu lutei contra aquele bêbado . Pena que eu não consigo sentir energia como vocês, já que deu muito trabalho descobrir alguma coisa por lá, mas finalmente eu descobri . Congelei algumas fechaduras até que elas quebrassem, e finalmente descobri o que queria .

(Makoto) – Refere-se aos galpões ? Como sabia que havia algo neles ?

(Amy) – Digamos que uma rodada de cerveja é o suficiente para comprar as palavras de alguns "habitantes" dos becos locais . Infelizmente eles não davam informações muito precisas, então eu tive que procurar de galpão em galpão, até que encontrei alguma coisa .

(Minako) – Perigosa, eu imagino .

(Amy) – Nem tanto . Não sei como explicar, mas parecia que algo havia sido queimado naquele lugar nos últimos dias . E o mais estranho era que o galpão não tinha uma proteção muito boa, logo atear fogo naquele lugar deveria consumir tudo por completo . Eu sai e olhei no galpão seguinte, e foi ai que eu tive uma surpresa : ao abri-lo, vislumbrei com meus próprios olhos uma coisa queimando . Aquilo não era uma coisa, pois eu conhecia muito bem o que era. E o pior, não era apenas um, mas vários . Eram corpos . Corpos humanos .

Minako cospe o que estava tomando, enquanto que Makoto continua saboreando seu gole .

(Minako) – Como é ? O que foi que você disse ?

(Amy) – Corpos humanos . Todos eles ... pegando fogo .

(Rei) – Isso não é possível ! Como corpos poderiam estar pegando fogo sem chamar a menor atenção ? E o que faziam ali ?

(Minako) – Quantos eram, Amy ?

(Amy) – Não sei direito . Cem, duzentos ... eram muitos .

(Makoto) – Ora, não custava nada contar !

(Amy) – Ei, eu vomitei, se quer saber ! Não tenho estômago de aço !

(Rei) – Ainda não entendo como podem ter queimado sem chamarem qualquer atenção . Se for assim, então deveriam haver corpos no galpão anterior, não é mesmo ?

(Amy) – Observação correta . Não me pergunte, eu simplesmente não sei o que era aquilo . A única coisa que sei, é que a chama queimava vagarosamente, e cobria somente os corpos, sem afetar qualquer outra parte do galpão . Ah, claro, os corpos não emitiam nenhum outro cheiro . Prestei um pouco de atenção, e percebi que alguns dos corpos que ainda estavam inteiros usavam roupas rasgadas, outros eram tatuados, alguns ostentavam brincos e pulseiras no corpo, outros usavam piercing, haviam armas no chão  ...

(Minako) – Monstro assassino ! Devem ter atraído aquelas pessoas até lá e estavam se livrando da prova do crime !

(Amy) – Eu tenho uma teoria quanto a isso, embora ache que ela não tem muita base e vocês acharão que ela não é muito convincente : talvez aquelas pessoas tenham entrado ali por livre e expontânea vontade, mas acabaram por encontrar o que não queriam . Um convite, uma festa, um baile ... os que eu reconheci não me pareciam ser do tipo mais "decente", ou melhor, do tipo que agrada o resto da sociedade . Talvez uma festa com muita musica ou coisa parecida tenha atraído a atenção deles .

(Rei) – Mesmo assim, como o fogo não chamou a atenção de ninguém ?

(Amy) – Era o que eu queria saber, até que usei meu visor para analisar aquilo . Não era fogo comum, tampouco parecia proveniente de alguma pessoa, do contrário não manteria sua força por tanto tempo . Quando me aproximei, encontrei algo que parecia ser um papel, o qual portava alguns dizeres bem estranhos . Esfriei bastante a área ao redor da minha mão e peguei o papel, sem pensar duas vezes .

(Makoto) – Onde ele está ?

(Amy) – Em casa, lógico, mas já passei para o computador e para o visor o que estava escrito nele . Vejam .

Com um simples pensamento o mapa que estava sendo projetado some e em seu lugar aparece uma tela branca com algumas palavras escritas . A principio as outras tentam entender o que estava escrito, mas desistem em seguida .

"Abstutile Casti Furnnwert Grassient , Grassient, Grassient ! Titoy, golodadyndoloti Vardeterxer Andaricamaxiata ... Camiro !"

(Makoto) – Amy, que troço é esse ?

(Amy) – É um idioma antigo . Uma língua morta, na verdade .

(Rei) – Quer dizer, como o latim ? O jeito que as palavras estão organizadas ... parece um ritual antigo ou coisa parecida !

(Amy) – Mais do que isso . É uma língua ancestral,  utilizada por raríssimas pessoas hoje em dia, das quais eu conheço uma delas .

(Makoto) – E quem é ?

(Amy) – Eu mesma .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

- E então ?

- Tirei de Júpiter . Sua essência era é extremamente poderosa . Ou melhor, acredito que você saiba que a essência de uma Sailor é muito mais forte do que a das pessoas comuns, não é mesmo ?

- Quem dizer que já tem tudo o que precisa ?

- Exatamente . Não queria gastar esse energia tão especial para me recuperar, então absorvi o poder natural de sua filha .

- Isso é bastante conveniente . Diga, não se arrepende pelo que fez ?

Uma luz surge do alto e atinge o local aonde ela estava, revelando-a . Apesar de estar recuperada, ainda assim possuía diversos hematomas e marcas de queimaduras pelo corpo inteiro, fora o fato de que sua roupa estava totalmente destruída, inclusive a parte do capuz . Seo contemplava aquele rosto, perguntando para si mesmo se aquilo tudo valia à pena . Valia .

- Eu ... eu cansei de me esconder – Seo percebia o tom melancólico de sua voz, podendo jurar que havia um certo arrependimento nela . Realmente o encontro com as Sailors causou alguma mudança nela . – eu sou o que sou e nada muda isso . Durante um curto período eu me escondi debaixo de uma máscara, achando que era a maldade encarnada, mas eu não sou . Tinha que fazer algo muito importante e, para tanto, escolhi inconscientemente a única opção existente . Toda essa energia especial que coletamos foi agrupadas às custas de muitas vidas, eu sei, e não me refiro somente aos seu filhos, mas todos os que eles mataram . O primeiro grupo de humanos que eles mataram, a primeira vez que eu absorvi aquela energia especial ... eu nunca havia me sentido tão suja em toda a minha vida ! Enlouqueci naquele momento, não podia acreditar, não podia aceitar que estava fazendo tamanha abominação . Como ato tão inumano poderia ser praticado por alguém ? Pessoas de bem não fariam isso, apenas seres dominados puramente pela maldade . Eu me escondi nessa máscara, pois era mais fácil acreditar que eu era a maldade encarnada do que acreditar que um dia eu fora humana . E a cada vez que seus filhos matavam alguém, essa parte de mim ficava cada vez mais distante . Mas algo aconteceu, algo inesperado aconteceu hoje cedo . Algo que eu sequer esperava . Graças a ajuda de uma pessoa, eu pude voltar a ser quem eu era antes, pude voltar a ter o controle total de minha ações . E agora eu posso enxergar perfeitamente tudo o que fiz e como agi .

- Você – ele para, observando-a atentamente . Parecia algo impossível de se acreditar, mas ela havia voltado a ser o que era no dia em que eles haviam se encontrado pela primeira vez – você limpou sua alma, não é mesmo ? Lembro-me de que houve alguém com a capacidade de tocar no espirito das pessoas e curá-lo, mas isso já faz muito tempo . E, se houvesse alguém aqui que pudesse fazer isso além de você, seria a sucessora dessa pessoa. Diga-me, você lutou contra Sailor Vênus ?

- Sim, foi ela quem me restaurou, embora não saiba disso . Eu a envolvi não com as trevas, mas com a maldade que emanava de dentro de mim . Ela deve ter percebido isso e abriu seu coração, colocando para fora toda a beleza de seu ser .

- Isso é muito bonito, mas ... então essa Sailor ... ?

- Não, ela não está operando com toda a sua força . Descobri isso quanto a ataquei e logo em seguida quando ela me atacou . Algo impede que ela utilize todo o seu potencial, quase como se fosse um desejo enorme de manter a sua paz interior . É como se ela tivesse perdido seu instinto de guerreira, embora eu não saiba como .

- Ela o quê ? Mas isso é impossível !

- Não, não é . Eu também toquei no espirito dela ... e descobri que ela está passando pelo mesmo problema que eu estou passando ... inversamente .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Makoto) – Certo, e eu ainda me surpreendo quando o "crânio" ataca .

(Amy) – Ei ! Não me chame assim !

(Makoto) – Me desculpe, dona CDF .

(Amy) – "É muito simples para vocês resumirem tudo o que eu sou, toda a minha genialidade,  em apenas uma palavra ."

(Minako) – Você disse que entendia o que estava escrito naquele papel .

(Amy) – Não totalmente . Era um idioma ancestral, mas eu consegui uma tradução dele, ou melhor, traduzi algumas palavras e as reuni de uma forma que fizessem algum sentido, embora não seja o mais próximo, deva servir .

(Minako) – E o que dizia ?

(Amy) – Algo do tipo "essência que arde pela eternidade, queime, queime, queime ! Liberte-se de sua prisão e tome o que é seu por direito ... devore !"

(Makoto) – Queimar ? Então deveria ser aquilo que estava queimando os corpos !

(Amy) – Provavelmente, sim .

(Rei) – Que coisa . Parece até ... até .... Makoto ! Lembra-se do que aquela youma disse ? Ela citou algo sobre mexerem com as forças do universo, não é mesmo ?

(Makoto) – Algo assim . Ela disse que havia alguém usufruindo dos conhecimentos místicos que pairavam sobre o universo, alguém manipulando as forças da essência e do poder .

(Rei) – Magia . Estamos enfrentando um bruxo .

(Amy) – Não seria um mago ?

(Rei) – Não é o caso dele usar magias boas ou ruins, mas a intenção, sim . E eu não acho que ele esteja usando-a ela para fazer algum bem .

(Minako) – Diga-me, Rei , você entende disso ?

(Rei) – Meu falecido avô me contou sobre antigos feiticeiros que viviam nessa terra, mas nunca imaginei que veria um deles . Será que aquele homem que vimos ... ?

(Makoto) – Eu duvido muito . Por que o líder deles, e eu acho que talvez esse bruxo seja o líder, se colocaria em tal perigo ?

(Minako) – Tantos mortos ... será que isso nunca acaba ? Lutamos tanto, salvamos tanto, mas no fim das contas estamos de mãos atadas perante isso .

(Makoto) – Não comece com seu papo pseudopacifista, Minako, por que eu sei que você já andou aprontando das suas pelas redondezas . Já que diz que não gosta de lutar, por que se intrometeu e desfez a barreira, ou melhor, por que foi que saiu da sua aula duas vezes, hoje e na semana passada ?

(Minako) – Por que ... por que ... eu ...

Nisso, toda a atenção da sala estava voltada para Minako, devido a questão que Makoto havia levantado . Realmente, ela não precisava ter se intrometido em nenhum dos dois casos, uma vez que Makoto e Rei haviam resolvido o problema com Death e, da primeira vez, ela praticamente não fez nada de significativo, além de tocar no espirito do rapaz, cabendo a Makoto cuidar dele .

Mas o mais agravante é que ela podia sentir a energia das outras, então por que interviu ? Hoje até que havia um motivo plausível, havia ficado preocupada com a escola, mas e dias atrás, no centro de Tóquio ? Ela literalmente explodiu sua energia para poder se deslocar mais rápido até aquele local, mas se ela conseguia sentir a energia daqueles dois atacantes, as quais, diga-se de passagem, eram extremamente baixas, como não sentiria a de Makoto, a qual estava próxima ao local, que era como um farol para ela ?

(Minako) – Eu ... eu ... eu ouvi ...

- Uááááááá !!!!!

Naquele momento, todas olham para o lado, bem a tempo de ver a porta do quarto de Shin se abrir e, durante alguns milésimos de segundos, elas tem uma surpresa : aquele rostinho redondinho, aquelas bochechas pedindo para serem apertadas, aqueles olhinhos azuis, verdadeiras jóias raras, o sorriso, os olhos inocentes e tão doces ... Rei, Makoto e Amy estavam contemplando a coisa mais ... "kawai" de suas vidas ... Shinnosuke acordando de um "soninho".

- Hmmm ... Okaasan !  - gritava, enquanto corria até Minako e a abraçava – eu sonhei que a senhora tinha me batido (~__~) !

Totalmente destruída pelas palavras de seu anjinho, ela apenas retribui o abraço, acariciando-o carinhosamente .

(Minako) – Calma, filhinho, calma . Foi só um sonho, só isso – ela continuava abraçando-o, enquanto olhava para a sala, percebendo que Rei e Amy olhavam de forma acusadora para Makoto .- Aham ...

(Makoto) – Ei, eu só o coloquei para dormir, sabe que eu não faria mal a ele !

(Minako) – Shin, o que você acha de ...

(Shin) – Okaasan .

(Minako) – Sim ?

(Shin) – Eu acabei de me lembrar de uma coisa ... o que é uma Sailor ?

Antes que pudesse demonstrar qualquer reação, a "mão" de Rei toca na cabeça de Shin, fazendo-o dormir . Pega de surpresa, Minako detém sua queda, amparando-o em seus braços .

(Minako) – Como ... ?

(Rei) – Eu o fiz dormir, não se preocupe . Como não estou no meu corpo e, já que vocês estão me vendo apenas em suas mentes, eu sou uma energia mental, e é mais fácil para mim fazer algumas coisas dessa forma . Não se precisa de preocupar, ele está bem, apenas está dormindo .

(Amy) – Acredite, é verdade . Eu diria que ele vai dormir por algumas horas, mas ficará bem, não é mesmo, Rei ?

(Rei) – Me desculpe .

(Amy) – Desculpar ? Tem idéia da vergonha que foi acordar babando naquela lanchonete ?

(Rei ) – Me desculpe .

(Amy) – Mesmo assim, eu queria te ajudar ! Olha a vergonha que você me fez passar !

(Rei) – Me desculpe .

(Amy) – E ainda ...

(Rei) – ME DESCULPE, DROGA ! O que é que eu preciso dizer para você me perdoar ?

(Amy) – Hã, deixa pra lá . Cadê a Minako ?

(Makoto) – Foi colocar o garoto no quarto enquanto vocês duas discutiam . E já está de volta . Pensei que ele iria ficar mais tempo apagado . E então, que tal se nos respondesse por que resolveu intervir ?

(Minako) – Eu te agradeço, Rei .

(Rei) – Não tem de que, é o mínimo que eu posso fazer . Também tomei a liberdade de apagar da mente dele o que aconteceu nas últimas horas, assim você não terá que se preocupar com novas perguntas futuramente .

(Minako) – Eu ... eu não sei como agradecer !

(Rei) – Qualquer coisa, a qualquer hora, a qualquer momento ... peça, e eu estarei lá para ajudá-la e ... e ... estou sentindo ... acho que já posso voltar .

Diante dos olhos delas, a imagem de Rei some, como se nunca estivesse estado junto delas;

(Amy) – Hã ? Para onde ela foi ?

(Minako) – Deve ter ficado cansada de tanto ...

(Makoto) – Acho que não . Ela deve ter voltado para o seu corpo . Pelo meu relógio ... ops, digo, pelo relógio da parede, já se passaram mais de uma hora desde que ela usou aquele truque em nós, e já faz algum tempo desde que ela utilizou aquilo em Megumi . Mas eu acho estranho ela ter se recuperado tão rapidamente .

(Amy) – Você sabe como ela é, quando coloca algo na cabeça, não volta atrás . Não creio que tenha se recuperado por completo, mas o suficiente para se manter de pé .

A porta do quarto de Minako se abre, confirmando as suposições de todas ... e trazendo uma surpresa também .

(Minako) – Você está b ... ??????

(Makoto) - ????????

(Amy) - ???????

(Rei) – O que foi ? Algum problema ?

Parecia uma pergunta simples, mas a resposta seria outra pergunta, a qual elas resolveram não fazer, pois cada uma formulava silenciosamente sua teoria sobre o assunto . Ela havia saído do quarto e agora acabara de se sentar exatamente aonde sua projeção psíquica estava, mas o que realmente chamou a atenção das outras foi o fato dela estar com um peso extra nos braços .

(Minako) – Hã, Rei ... você ... você está se sentindo bem ?

(Rei) – Estou sim . O que houve ?

(Minako) – Nada . Deveria ter descansado seu corpo mais um pouco .

(Rei) – Tenho forças o suficiente para andar e protegê-la .

(Makoto) – Será que tem mesmo ?

(Rei) – Gostaria de descobrir ?

(Minako) – Vou trazer algo para você comer, imagino que esteja com fome .

Enquanto Minako se retirava, Makoto tenta reunir coragem para falar com Rei, falhando . Embora tenha sido rápido, já imaginava o que estava acontecendo com Rei, e o que poderia acontecer se não fizessem nada a respeito .

(Amy) – Rei ... não gostaria de deixar Megumi no quarto enquanto conversamos ?

(Rei) – Tudo bem, ela está dormindo, não vai atrapalhar .

(Amy) – Mesmo sentada, pode ser exaustivo para você ficar tomando conta dela, melhor colocá-la no quarto .

(Rei) – Eu estou bem, não se preocupe .

(Amy) – Ela pode acordar com a nossa conversa, e sustos não são aconselháveis para quem passou o que ela passou .

(Rei) – Não se preocupe, ela dorme docemente . Veja esse sorriso, é um anjo de luz descansando suavemente .

(Amy) – Mas Rei ...

(Rei) – Eu me responsabilizo por ela, não se preocupe com isso, poderíamos retornar ao nosso assunto, por favor ?

(Amy) – Eu desisto .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

Mexendo nos armários a procura de algo adequado, ela pega alguns pães e prepara alguns sanduíches para sua amiga, pegando em seguida algumas frutas e leite, visando fazer uma vitamina .

- Isso vai ficar delicioso .

Não, aquilo não podia estar acontecendo . Ele, de novo, não .

- O – o que você ... o que faz na minha casa, e como entrou aqui ?

- Você disse que eu podia entrar quando eu quisesse, lembra-se ?

- Eu nunca disse isso !

- Mina, Mina ... eu acho que "perder a cabeça" te fez um mal danado, mal se lembra de quando eu toquei uma serenata pra você !

- Josh ... é esse o seu nome, não é mesmo ? Isso fica mais confuso a cada instante, se quer saber .

- Quem foi que disse que as coisas são simples ? Mas, mudando de assunto, o que vocês estão discutindo ai dentro ?

- Nada que um fruto da minha imaginação precise se preocupar . – ela praticamente o ignora enquanto mistura tudo no liqüidificador e prepara a vitamina .

- Por que está irritada ? Foi algo que eu fiz ?

- Não me leve a mal, mas já tenho problemas demais para ficar tendo alucinações em pleno dia .

- Não é isso que te irrita . Não quer conversar ?

- Josh ... se você tivesse que escolher entre lutar e não lutar, o que escolheria ?

- Ora, eu lutaria, é claro .

- Mesmo sabendo das conseqüências que seus atos acarretariam ?

- Mesmo assim .

- Mesmo sabendo da real extensão de cada ação sua, inclusive que você poderia prejudicar mais do que ajudar ?

- Eu não pensaria duas vezes e mataria todos os que precisassem serem mortos para que as pessoas de bem tivessem paz .

- Você fala isso com tanta naturalidade ... ou estaria fingindo ? Pelo sua face, já percebi que você está fazendo um esforço enorme para dizer isso . Diga-me, Josh ... você acha mesmo que vale a pena ?

- Sempre vale, e eu sempre lutei pelas pessoas que amava .

- Mas mesmo que lutemos, as coisas nunca mudam . No fim, a dor apenas é dirigida a pessoas diferentes . Aqueles que salvamos, esses são salvos às custas do sofrimento de outros . Será que realmente vale a pena interferir ? Não estaríamos impedindo o ciclo natural das coisas ao fazer isso ?

- Eu enfrento essa dor todos os dias, e sobrevivo, mas por que você está assim ?

- Você acha que entende de dor ? Todos acham que sua dor é a maior, mas já experimentou suportar a dor dos outros e sobreviver ?

- Já, e não gostei nem um pouco .

- Está mentindo .

- Não, não estou, e você sabe disso .

- Quer parar ? Você diz coisas que eu não sei e faz perguntas as quais eu não possua as respostas ! Que espécie de ilusão é você   ?

- Uma bem real .

Josh se aproxima e abraça Minako, surpreendendo-a . Não fora o ato em si, mas o fato dela estar sentindo o corpo dele encostar no seu . Sabia que ele era alto, mas não havia estado tão próximo para perceber que, embora fosse mais velha, ela tinha quase a mesma altura que ela .

- Não precisa ter medo, eu estou aqui .

- Você ... você é real ... afinal, quem é você ?

- Aquele que prometeu guardar sua vida por toda a eternidade e falhou, mas depois disso sempre te procurou e agora não tornará a falhar .

- Mas do que é que você está falando ? Eu nunca havia te visto em toda a minha vida !

- Viu, sim . Eu compreendo que não se lembre de mim, uma vez que a morte é uma experiência dolorosa . Nunca passei por isso, mas sempre estive perto de experimentá-la . E eu sou bastante paciente, mesmo que demore anos até que se lembre de mim, eu sempre estarei do seu lado . E não precisa lutar se não quiser, eu farei isso por você, protegerei seu mundo como havia prometido antes .

Presa no abraço dele, ela não conseguia escapar, não acreditando que aquele garoto fosse tão forte .

- Lutar ... de novo essa história . Você disse que mataria por mim, mas será que não entende que não é isso que eu quero ? Eu não quero mais lutar, não quero mais ferir ninguém ... nem ver alguém ferido por minha causa .

- Se não lutamos, perdemos aquilo que protegemos .

- E se lutamos, o que ganhamos com isso ? A satisfação temporária do dever cumprido, seguida de outra guerra por um motivo inútil, o qual acaba por ceifar as vidas daqueles que não conseguem enxergar mais além, enquanto que seus lideres lhes dão ordens e eles as seguem cegamente, perdendo suas vidas e tudo o mais por causa de um sonho ou desejo idiota ? É isso que você quer dizer ? Já matou alguém antes ? É horrível, e você não imagina o quanto . A dor dos que sobrevivem é maior do que a daqueles que morrem, por que esses tem que aprender a conviver, a duras penas, uma vida sem aqueles que os apoiavam em momentos difíceis . Eu não quero mais lutar, eu matei muitas pessoas, não quero tornar a fazer isso novamente – suas lágrimas eram cada vez mais fortes, enquanto ela praticamente se esquecia da posição na qual estava – se pudesse voltar atrás, tentaria conversar com meus inimigos aos invés de matá-los .

- Você acha que eu não gostaria que fosse assim ? Acha que eu gosto de lutar ? Naquele dia em que cheguei em casa e encontrei aquele homem-rato terminando de chacinar minha família, como acha que eu me senti ? Eu tentei, Mina, eu tentei ... lutei contra muitos sem matá-los, mas do que isso adiantou ? Eles acabam voltando . Não adianta pensarmos que ao derrotá-los nós os ensinamos uma lição, por que eles sempre voltam, e é nosso dever exterminar com essa corja da face da Terra .

- Você torna a falar coisas das quais eu desconheço, mas acredita mesmo que poderá acabar com o ódio praticando o ódio  ? Acabou de dizer que não matava as pessoas, apenas as derrotava para ensinar-lhes uma lição ... o que mudou isso ? Acha que o mundo é tão cruel a ponto de que ninguém mereça uma segunda chance ?

- Todos merecem uma chance, mas certas pessoas não são pessoas, mas animais que querem cumprir seus desejos mesquinhos .

- Belo discurso . Matamos todos os nossos inimigos a sangre frio, mas e depois ? Matamos os seguintes ? E os seguintes ? Mate o primeiro, e as mortes não irão parar . Nunca mais .

- Você nunca matou alguém, Mina !

Cansada daquele jogo, ela afasta os braços dele, livrando-se daquele abraço que, de uma hora para outra, havia se tornado incomodo .

- Tire essas mãos de mim, garoto – ela joga um olhar frio e desprovido de emoções para ele – você não me conhece, não tem idéia do que está falando . Eu já matei sim, não apenas seres irracionais, mas pessoas, pessoas como eu . Quando jovem, matei muitos que não tinham a menor culpa disso, mas mesmo assim eu os matei . Seguiam apenas ordens, acreditavam em um ideal, mas eu os matei . Mas não espero que uma pessoa que sequer existe compreenda isso .

- Mina, espere, eu ...

Ela lhe dá as costas, retirando-se da cozinha carregando uma bandeja com alguns sanduíches e uma jarra de vitamina, até que para e olha novamente para ele, encarando-o ;

- Você não existe, não passa de uma ilusão criada pelo meu subconsciente ... e meu nome é Minako, senhorita Minako para você .

Ela se retira, deixando-o para trás, ignorando as últimas palavras dele .

(Makoto) – Opa, opa ! Aonde você pensa que vai com tanta pressa ?

(Minako) – Levar comida para ela, é claro . Algum problema ?

(Makoto) – Melhor ficarmos um pouco aqui dentro, algum problema ?

(Minako) – Não ... – Minako olha para trás, primeiramente assustando-se com o fato de que o rapaz que estivera ali há poucos instantes não se encontrava mais, mas em seguida ela se acostuma com a idéia – nenhum problema . O que foi ?

(Makoto) – Amy está tentando convencer Rei a colocar Megumi no quarto e ...

(Minako) – Eu também percebi . Mas não há nada que possamos fazer .

(Makoto) – Considerando o que ambas passaram, Rei não vai querer deixá-la sozinha tão cedo .

(Minako) – Mesmo que tente, não pode ficar ao lado de Megumi 24h por dia . Isso pode até ser prejudicial para a garota .

(Makoto) – Educamos nossos filhos da maneira que escolhemos, e colhemos os frutos de nossos atos, sejam eles bons ou maus .

(Minako) – Quando vai admitir ?

(Makoto) – Admitir o que ?

(Minako) – Que foi dura demais com Akira ? Eu ouvi a discussão do quarto, acho que você foi injusta com ele .

(Makoto) – Do meu filho cuido eu . Por acaso te digo como criar o seu ?

(Minako) – Não seja grossa ! Você acabou de dizer que criamos nossos filhos da maneira que escolhemos e colhemos os frutos, como teve coragem de agir daquela forma com o pobrezinho depois de tudo o que ele fez ?

(Makoto) – Eu sei o que faço, Minako .

(Minako) – Sabe mesmo ? O pobrezinho enfrentou o inferno no templo por causa de Megumi, e é assim que você o trata ? Não concordo com essa guerra, mas você o criou dessa maneira e quando ele resolve demonstrar tudo o que ele aprendeu você o repreende ?

(Makoto) – Minako ... eu não sou perfeita ... e nem você . Nem Amy, nem Rei . Tudo o que fazemos, tudo o que pensamos, é da maneira que achamos ser a mais certa, seja para nós ou para ele, embora muitas vezes façamos as coisas como nós queremos, ao invés de fazer da forma que eles queriam . Não sou uma mãe perfeita, não sou um exemplo para as mulheres desse país, não me vejo da forma que Akira me vê . No entanto, tudo o que faço é por ele e somente por ele . É muito difícil criar uma criança sozinha, e você sabe muito bem disso . Não tão bem quanto eu e Rei, mas sabe . Não acha que eu me arrependi ? Claro que sim ! Naquele momento, a raiva subiu pelo meu corpo e atingiu a cabeça, e eu não consegui me controlar . Não era o fato dele ter feito isso, mas dele ter me desobedecido . Se eu não teria feito o mesmo no lugar dele ? Claro que sim, mas o caso é diferente . Não treinei Akira para ser um guerreiro, mas para não se arrepender de sua falta de força . Mas ele é uma crianças, e nada muda isso . Suas únicas preocupações são correr por ai e brincar, estudar e aprender, fazer amigos e compartilhar com eles seus momentos importantes, e nada mais . Não quero que ele fique o dia todo pensando somente em lutar, lutar e lutar, quero que ele seja mais do que isso, e ele será, não tenha dúvida disso . E quando esse dia chegar, ele vai olhar para trás e se lembrar daqueles dias, dias tão doces, dias tão amáveis . Vai se lembrar da sua infância, dias de um passado quase esquecido mas não totalmente por estar incrustado nas suas mais profundas memórias . Ele vai poder seguir em frente e escolher melhor os seus caminhos na hora certa, justamente por que fez as coisas que deveria fazer na hora certa . Quando criança aprendeu a engatinhar, andar e falar, quando adolescente aprendeu a amar e se responsabilizar, quando adulto saberá o que fazer nas piores situações, justamente por que teve uma infância . Vamos para a sala, quero terminar logo com isso para que esses novos inimigos não nos causem mais inimigos ... e só mais uma coisa : eu não contei o que houve com você para elas .... ainda . aconselho-a a dizer para elas, e logo, antes que eu o faça, pois não me agrada ficar escondendo isso delas .

Ambas retornam aos seus lugares, enquanto Amy continua mexendo no seu visor, fazendo aparecer alguns números na tela .

(Minako) – Tome, Rei . Se não comer nada, pode ter outro desmaio .

(Rei) – Obrigada . Que números são esses, Amy ?

(Amy) – Hã, bem ... sabe ...

(Makoto) – Algum problema ?

(Amy) – É que ... esses números ...estou tendo algumas dificuldades e ... não sei ao certo – e, nessa última frase, ela se encolheu toda, ficando vermelha como um tomate .

(Makoto) – Como assim você não sabe ? Foi você mesma quem abriu esse troço !

(Amy) – Eu sei, mas ...

(Makoto) – O que é isso ?

(Amy) – Hã, depois de analisar um pouco, eu acho que é energia . Pelo menos, é o que eu acho .

(Makoto) – Por que você acha ? Alguma coisa estranha aconteceu ?

(Amy) – É que ... essa energia é complexa demais ! Até mesmo esses números não passam de meras suposições, já que meu computador não consegue catalogá-la !

(Makoto) – Deve ser o poder mental de Rei, Oras !

(Amy) – Eu mal consigo registrar o de Rei, quanto mais esse ! Alguma de vocês tem alguma idéia ?

(Minako) – Onde coletou isso ?

(Amy) – No cais do porto .

(Rei) – Não sei que tipo de energia é, mas pela forma que esse gráfico assume formas cada vez mais diferentes nesse holograma, parece algo inconstante, inquieto .

Todas ouvem um barulho, o qual faz com que todas olhem para Minako, a qual havia deixado seu copo cair no chão, enquanto que seu rosto demonstrava uma expressão de total surpresa, incredulidade e surpresa .

(Minako) – Não, não pode ser .

(Amy) – Algum problema ?

(Minako) – Eles não fariam ... não teriam a audácia de fazer isso ...

(Makoto) – O que não fariam, Minako ?

(Minako) – Mas aqueles gritos, seria possível ?

(Rei) – Minako ! Está me deixando preocupada ! Do que é que está falando ?

Arrancada de seus pensamentos, ela continua assustada, enquanto olha para suas amigas, as quais a encaravam de maneira extremamente curiosa .

(Rei) – Então ?

(Minako) – Eu ... eu não posso acreditar . Isso que está no seu visor, Amy ... essas coisas ... foi o motivo de eu ter ido até o centro de Tóquio . Vocês me perguntaram o por que de eu ter ido se Makoto estava lá . Pois bem, eu realmente senti que Makoto estava lá, mas tinha que ir até lá para ajudá-la, justamente por que comecei a ouvir gritos .

As últimas palavras haviam chamado bastante a atenção de Amy, uma vez que, já que seu intelecto se desenvolveu mais ainda, ele começou a afetar um pouco suas percepções . Ainda que o mesmo tivesse ocorrido com Minako, seria um absurdo ela poder ouvir gritos, ainda mais de onde vieram e de onde ela estava .

(Rei) – Sei o que está pensando, Amy . Até eu mesma estou surpresa com o que ela acabou de dizer, mas acredito que a resposta mais simples não seja a correta, não é mesmo ? Diga-me, Minako ... como eram esses gritos ?

(Minako) – Eram terríveis, agonizantes . Como se tivessem se originado no mais puro terror .

(Rei) – Naquele dia eu tive um pressentimento e cheguei a ver as explosões, mas como havia sentido você indo até lá e Makoto nas proximidades, achei que não havia nada que eu pudesse fazer . Por isso apenas observei  a luta .

(Makoto) – Então foi nesse momento que suas suspeitas quanto ao Reino Negro começaram ?

(Rei) – Como assim ? Não estou entendendo .

(Makoto) – Enquanto eu dava um jeito em um moleque que encontrei, passou rapidamente pela minha cabeça a idéia de que eles estivessem envolvidos, mas depois  eu pensei melhor e fui tomar satisfações com eles, descobrindo que não .

(Minako) – Duvido que sejam eles . Não creio que algum deles tenha o conhecimento para fazer o que estão fazendo .

(Amy) – E o que eles estão fazendo ? – Amy anotava pacientemente cada palavra que julgava importante, tentando montar seu quebra-cabeças, embora não estivesse pronta para ouvir o que iria ouvir .

(Minako) – Eles ... eles ... eles estão roubando ... as almas ... das pessoas .

(Amy) - !!!!!!!!!!!!

(Makoto) - !!!!!!!!!!!

(Rei) - !!!!!!!!!!

A surpresa era geral, fora o fato de que agora sim elas estavam começando a entender o motivo da tristeza de Minako . Já haviam roubado a energia, os corações puros, os sonhos, as sementes estelares ... mas as almas ?!?!?!? O que era isso, afinal de contas ? Que tipo de ser seria tão cruel a ponta de cometer tamanha barbaridade ? É verdade que nos casos anteriores sempre havia uma alternativa ou, na pior das hipóteses, havia a possibilidade de acabar com o sofrimento das vitimas, mas nesse caso ...

(Rei) – Piedade ....

(Amy) – Monstros ...

(Makoto) - ..... podemos reverter isso ?

Ela negou com a cabeça . Elas já começavam a ter uma noção do que isso significava, mas Minako não se deteve e começou a explicar : - a alma é muito mais do que uma energia, é a essência de alguém . Roubá-la é algo terrível, abominável . Dentre as coisas que nunca podem ser tiradas de alguém, está a sua alma . É algo muito precioso, inviolável . Quem quer que esteja fazendo isso, não é humano, disso eu tenho certeza . Ninguém com um pingo de humanidade seria capaz de fazer tal brutalidade !

(Amy) – Minako ... – Amy possuía um certo grau de hesitação em suas palavras, mas seguia em frente – como sabe disso ?

(Makoto) – Muito simples . Ela consegue acalmar a agonia dos espíritos das pessoas, não é muito difícil aceitar que ela seja capaz de ouvir o lamento das almas . Continue, Minako . Para que as almas das pessoas seriam roubadas ?

(Minako) – Disso eu não sei ... mas com certeza é para algo terrível . Quem está por trás disso, o monstro desalmado e sem consciência, com certeza está planejando algo grande . Mas eu duvido que ele seja o único envolvido .

(Rei) – Único ... Maki !

(Makoto) – E aquele homem que fugiu com ele ! Droga, se não tivéssemos deixado ele escapar, poderíamos ter chegado até o líder do grupo !

(Rei) – Ele é o líder do grupo .

(Makoto) – Como é ? Do que diabos está falando ? Como sabe disso ? E por que não me avisou antes ?

(Rei) – Eu não me lembrava direito, mas tive uma sensação estranha quando o vi, só agora eu consegui me lembrar por completo . Aquele homem é o líder do grupo, dele veio a ordem para agir .

(Minako) – Como sabe disso ?

(Rei) – Você não estava lá, mas eu absorvi muita coisa da mente do único sobrevivente da destruição do templo . Infelizmente, as memórias dele estavam muito confusas, e eu perdi bastante tempo arrumando-as .

(Makoto) – Magia .

(Rei) – Como a youma havia dito, mas acho que dessa vez não é o caso . Passei os últimos dias organizando as memórias, e ainda não consegui arrumar tudo ... mas não me pareceu que haviam embaralhado  de fora para dentro as memórias dele, e sim de dentro para fora .

(Makoto) – Quer dizer ...

(Rei) – Exato . Foi ele mesmo quem embaralhou seus conhecimentos ... inconscientemente . Sei disso por que não senti nenhum poder psíquico nele, e alguém sem esse poder não poderia fazer tal coisa coincidentemente . Sem querer, ele sentiu que alguém estava invadindo sua mente, que o espaço proibido estava sendo violado, e agiu dessa maneira . Mas eu estou quase terminando, mais um pouco e talvez tenhamos todas as respostas para as nossas perguntas .

(Amy) – Será que ele não fez aquilo por medo de alguém ?

(Rei) – Não foi o que pareceu . Era mais como se ele estivesse protegendo alguém, o qual nós não poderíamos descobrir a identidade . Felizmente eu já consegui a imagem dele, apenas preciso descobrir quem é .

(Amy) – Você poderia ... fazer um desenho dele para mim, por favor ?

(Rei) – Eu passaria mentalmente a imagem para você, mas eu estou muito cansada para isso, fora o fato de que se eu não arrumar tudo, qualquer informação isolada estará embaralhada . Me desculpe .

(Makoto) – Se for aquele homem que você disse, eu posso fazer um desenho para você depois, Amy .

(Minako) – Como era esse tal Maki ?

(Rei) – Estava vestido como uma pessoa normal, no fim da casa dos vinte .

(Minako) – Não é quem eu pensei que era . Aquela mulher que enfrentara, Death, eu senti uma agonia enorme vindo de dentro dela . Pior, voltei a ouvir os gritos quando me aproximei dela . Não sei explicar direito, mas ... é como se eu sentisse as almas dentro dela .

Outro choque, seguido de um silencio vindo da parte de todas .

(Makoto) – Eles passaram dos limites dessa vez .

(Amy) – Acho que, do jeito que está, pior não pode ficar .

(Minako) – Já está, Amy . Já está . Todas aquelas almas ... elas estão condenadas por toda a eternidade . Quando uma pessoa morre, a alma se liberta do corpo, só que, dessa vez, não foi isso o que aconteceu . Esses bárbaros mataram todas essas pessoas para que pudessem roubar suas almas !

(Rei) – Que tipo de gente faz esse tipo de coisa ?

(Amy) – Nossa própria gente .

(Rei) – Quê ???

(Amy) – Lembra-se daquele dia em que eu a encontrei no centro ? Pois bem, eu desci do carro e chutei o rosto de Maki para poder coletar um pouco de sangue, e fiquei fazendo alguns testes, até que ...

(Rei) – Pare de falar essas coisas, Amy ! Recuso-me a acreditar que seres humanos estão cometendo tal atrocidade ! Recuso-me ! Eles nunca fariam isso de livre e expontânea vontade, entendeu ? Nunca !

(Amy) – Nem sequer me deixa terminar de falar ...

(Rei) – Eu não preciso ouvir ... – vendo que estava falando alto demais e ameaçando acordar sua filha, ela diminui o tom de sua voz na hora – o restante, por que eu não acredito nisso !

(Amy) – O.k., Rei . Acredite no que quiser, mas vai se arrepender de não ter me ouvido .

(Makoto) – Escute, gostaria de ir até esse galpão do qual você falou, Amy . Talvez consigamos descobrir algo por lá . Nos acompanha, Minako ?

(Minako) – Não, eu já falei, não tomarei parte dessa atrocidade . Não vou me envolver nessa banho que sangue que querem promover .

(Makoto) – Sabe, Minako, esse seu papo de "paz e amor" já está me enchendo, e você mesma cai em contravenção por causa dele . Agora mesma estava irritada e furiosa por que esses caras estavam roubando a alma das pessoas, e no entanto recusa-se a mover um dedo para ajudar, dizendo que não quer mais ferir ninguém . E aí, como você quer que eu explique isso para elas ?

(Minako) – Não adianta, eu já tomei a minha decisão e, de qualquer forma, não tenho mais utilidade para vocês . Se continuar insistindo, terei que pedir que retire-se de minha casa .

Depois de passar bons momentos ouvindo as duas discutindo, Amy nem se dá ao trabalho de perguntar o que realmente estava acontecendo, apenas se levanta e reverte sua transformação, dirigindo-se até a saída .

- Quem vem comigo ?

(Makoto) – Eu vou . Rei ?

Ela se levanta e dirige-se até a saída, carregando Megumi no colo .

(Makoto) – Hã, Rei ... não acho que seja um bom local para levar a garota, que tal se ...

(Rei) – Eu a levarei comigo, e fim de papo . Vamos ?

(Amy) – Rei, ela não vai fugir ! O que aconteceu já passou ! Não pode ficar se remoendo para sempre !

(Rei) – Eu só quero estar por perto para protegê-la, isso é pedir demais ?

(Amy) – Sim, quando isso se torna uma obsessão !

(Makoto) – Tem que seguir em frente, Rei . Não pode viver como se aquele dia passasse a todo instante diante dos seus olhos ! Tem idéia de como seus atos podem afetar a garota ?

(Rei) – Sei, como Akira, não é mesmo ?

(Minako) – Rei ... se é assim que você quer, então faça, ninguém irá te impedir . Mas é perigoso sair com ela, não concorda ? Por favor, eu te peço, deixe-a comigo enquanto isso . Eu a protegi durante esses dois dias, e não me importo de continuar fazendo isso . Prometo que não sairei do lado dele nem por um instante, e dou-lhe minha palavra de que ela estará aqui quando você voltar .

Rei se aproxima de Minako, estendendo seus braços e entregando-lhe sua filha . Minako a arruma entre seus braços enquanto senta no sofá, tentando trazer paz e harmonia para aquela criança .

(Rei) – Proteja-a, por favor .

(Makoto) – Eu não entendi muito bem, mas ...

(Amy) – É muito simples . Minako a salvou, e agora ela é a única pessoa na qual Rei confia a vida de Megumi .

(Minako) – Estão erradas . Não fui eu quem a salvou, e sim Akira .

(Makoto) – Hum ???

(Minako) – Eu os encontrei no bosque, e Megumi estava chorando desesperadamente e, segundo o que ele me contou, se ele não tivesse agido, ela teria sido soterrada pelos escombros do templo . Ele também me contou que em certo momento esteve cercado por um monte de pessoas, mas ele os distraiu para que Megumi fugisse e conseguiu derrubar um deles escada abaixo, mas acho que ele "aumentou" um pouco as coisas nesse ponto .

(Rei) – Aquelas pessoas ...

(Makoto) – Aquele sujeito ... não, ele não mentiu – Makoto olhava de forma pensativa para Minako – eu me lembro de ter encontrado um homem caído na escadaria e ... Rei ?

(Rei) – Aquelas pessoas ... – os olhos de Rei estavam lacrimejante incontrolavelmente . Aquelas pessoas, em sua mais profunda opinião, eram pessoas comuns, as quais haviam conseguido causar mais estrago do que seus antigos inimigos causaram . Segurando as lágrimas e se recompondo, ela cessa suas trágicas lembranças - ... ele é corajoso . É um menino muito corajoso, como a mãe . Meus parabéns, Makoto .

(Makoto) – Não o treinei para agir impulsivamente .

Surpresa com a frieza de Makoto, Rei controla ao máximo suas emoções para não gritar, e finalmente dá uma resposta .

(Rei) – Não irei discutir com você, pois você é a mãe e sabe o que é melhor para ele ... mas impulsivamente ou não, ele fez uma coisa muito especial, e agora é o meu herói . E mesmo como mãe, você não tinha o direito de tê-lo proibido de ir até lá .

(Makoto) – Eu sei o que é melhor para ele e sei como educá-lo, obrigado por perguntar . E você não pode me dizer que eu não tenho direito sobre ele, não .

(Rei) – Tem razão, talvez você deva descobrir o significado disso por si própria – Rei atravessa a porta, aguardando Makoto, a qual vem logo em seguida, mas ...

(Minako) – Makoto ... tome cuidado . Pode ser perigoso encontrar mais alguém como aquela mulher .

(Makoto) – Tudo bem, eu dou um jeito .

(Minako) – Pensei que havia percebido, mas você entrou aqui desmaiada, e sequer tentou descobrir o motivo ?

(Makoto) – Eu tentei, mas não consegui descobrir o que foi aquilo . Você sabe ?

(Minako) – Sim, eu sei . Seja quem for que fez isso, estava drenando a sua alma . Exatamente o que está pensando, não estamos enfrentando uma pessoa qualquer ... mas alguém que realmente sabe o que está fazendo .

(Makoto) – Minha ... alma ? Aquela mulher estava ... céus ...

Naquele momento ela se lembrou de tudo ... a dor, aquela dor que não parava de maneira nenhuma, aquela terrível dor que vinha de lugar nenhum e parecia estar devorando-a ... então foi isso o que aconteceu . Por isso aquela dor era tão agonizante, já que estava tendo a sua alma devorada ... mas então, como ela ... ?

(Makoto) – Mas você disse que uma pessoa tem que estar morta ... ?

(Minako) – Talvez eu não esteja tão certa assim e, se for assim, então aquelas pessoas agonizaram durante cada instante antes que seus corpos perdessem o sopro da vida . Mas não são apenas nossos poderes que aumentam quando nos transformamos, lembre-se . É possível que nossas almas sejam, de alguma forma, mais fortes, mais  ... superiores do que a das demais pessoas, afinal, nos reencarnamos, não é mesmo ?

(Makoto) – Está dizendo ... está dizendo que ela estava se alimentando com a minha alma ... e que a única coisa que impediu que eu morresse foi minha transformação ?

(Minako) – Embora isso seja possível, não passa de uma teoria .

(Makoto) – Agora que você disse, as dores haviam retornado depois que eu  reverti minha transformação . Talvez você esteja certa quanto a isso .

(Minako) – Quando você chegou, eu podia sentir um imenso distúrbio dentro de você, como se estivesse faltando alguma coisa .

(Makoto) – Você recuperou minha alma, então .

(Minako) – Não exatamente . Eu entrei em sintonia com a sua alma e a incitei para que ela se recuperasse . Não foi uma coisa fácil, portanto não sei se conseguirei fazer isso novamente .

(Makoto) – Obrigado pela dica . É realmente uma pena que não nos acompanhe, Minako .

(Makoto) – Eu ...

(Makoto) – Por favor, para . Eu não irei discutir com você isso novamente . Não quero que pense que implico com você, apenas gostaria que você voltasse a ser o que era antes .

(Minako) – Você é que não entende, amiga . Eu estou feliz do jeito que estou . Sua preocupação é desnecessária .

(Makoto) – Está feliz do jeito que está ... mas qual Minako está dizendo isso ? A antiga ... ou a nova ? Você me fez prometer que nunca contaria para ninguém, e eu só concordei por causa do seu olhar . Aquele olhar de calma, de suplica ... se eu tivesse contado para as outras o que houve, você estaria diferente, estaria ...

(Minako) – Como há anos atrás ? As pessoas mudam, Makoto . A mudança é inevitável, você mesma deveria saber disso . Não posso voltar a ser o que eu era antes, compreenda .

(Makoto) – Não quero que volte a ser o que era antes, mas que seja o que realmente deveria ter sido .

Ela olha bem fundo nos olhos de Minako e se distancia . Pouco antes de cruzar a porta, ela para e torna a olhar para ela, aquela tola Sailor pacifista .

- Baka ...

(Amy) – O que estavam conversando ?

(Makoto) – Nada demais .Vamos .

(Rei) – Espero que seja rápido, não quero perder muito tempo nesse lugar .

(Amy) – Será rápido, chegamos lá em menos de vinte minut .... oh, shit !

(Rei) – Algum problema ?

Problema era uma palavra bem simples para explicar a situação . Ela tinha um verdadeiro trambolho, na verdade . Como foi se esquecer desse detalhe ? Um pequeno, mínimo e ínfimo detalhe ? Na correria, acabou se esquecendo de um pequeno detalhe, o qual acabara de se revelar crucial : seu carro .

(Amy) – Droga, meu carrinho ! Eu deixei ele parado no meio do transito !

(Makoto) – Talvez ainda esteja lá, pode ser que ...

(Amy) – Makoto, nunca ouvi falar sobre a teoria da perfeição e do fracasso total ? Se alguém só faz coisas certas, se tudo o que ele faz dá certo, se não há falhas em seus planos, se tudo corre às mil maravilhas para ele, então quando ocorrer o fátido dia dele falhar, será um verdadeiro strike ! Vamos indo antes que mais alguma coisa aconteça ...

Minako observa pela janela enquanto as três se afastam . Por que não foi ? Ela estava se fazendo a mesma pergunta ...

Mas aquilo poderia ficar para depois . No momento, o que realmente importava era a criança que descansava em seus braços . O estrago já estava feito e nada mudaria isso, o que quer que fosse feito . Já que as férias de meio de ano já haviam começado, teria tempo para ajudar Rei com a garota  .

Era estranho pensar naquilo . Amanhã seria Terça, justamente uma semana desde que elas começaram a perceber os ataques .

E a propósito, por acaso o supervisor do corredor teria lembrado de avisar ao professor substituto de que naquele dia ela não estava passando nenhuma matéria nova, e sim aplicando uma dinâmica de despedida com o resto da turma pelo último dia de aula ? Esperava que sim . Aquele estagiário, como era mesmo o nome dele ? Fuyutsuki, lembrava-se . Ele tinha talento, embora precisasse aprender um pouco mais sobre autoridade .

Mas nada disso importava, somente o fato daquela criança que estava nos seus braços . Pobrezinha, como sofreu . Se não fosse por Akira ... o coitado também devia estar abalado, mas fazer o que ? Afinal, só por que alguém é especial na profissão, não quer dizer que seja perfeita em sua vida pessoal . Nunca foi perfeita, e suas amigas também não, mas não esperava que Akira fosse vitima disso . Onde estaria o pobrezinho ? Com certeza devia estar perambulando por ai ou escondido em algum parque, chorando .

Pobre Akira . Pobre Megumi . Pobre Rei .

Como explicar para ela o que aconteceu ? Como ? Seria crueldade fazer isso em seu estado atual, mas aquilo viria à tona mais cedo ou mais tarde .

Pobre Rei . Se soubesse, se culparia por toda a eternidade, se mataria, até .

Ela  estava no parque, participando de um divertido piquenique com Shin, quando sentiu aquelas presenças se aproximando do templo . Imediatamente havia mandado ele para casa e partido para o local. A principio não entendeu o por que de sentir a energia de suas amigas tão longe daquele local, ainda mais Rei, a qual deveria ter sentido aquilo também . Mas aquilo não importava, pois seja lá o que elas estivessem planejando, ela não podia permitir que uma inocente sofresse .

Mesmo assim, não queria se envolver em um combate, o que acabou levando-a a contornar o monte do templo e subir pelas rochas da encosta que ficava atrás do templo . Foi difícil, mesmo para alguém com suas capacidades atléticas, mas a partir do momento em que utilizou seus poderes para saltar mais alto, sua luz, ela diminuiu esse tempo . Fez justamente isso por que pôde sentir o sofrimento de alguém há poucos metros dali, o que a fez ficar desesperada . Chegando ao topo, havia encontrado uma criança mas, para sua surpresa, era Akira . Correndo mais alguns segundos pelo bosque, ambos encontram Megumi, no chão ... chorando .

A explicação para aquilo não era a das mais complicadas . A garota estava super assustada . Traumatizada, até . Pelo que Akira lhe contou depois, haviam destruído o templo diante de seus olhos ... uma crueldade . Aquele lugar era o lar da menina, o local de maior importância para ela . uma vez que nunca abandonou aquele local, tinha um apego por ele maior do que o de Rei .

Como ... como iria explicar para Rei o que aconteceu ? Se ela entrou na mente de Megumi como havia dito, e não conseguiu encontrar a resposta, era por que o ocorrido estava enterrado nas mais profundas memórias de Megumi .

Talvez fosse assim, do contrário, como Rei reagiria se soubesse que era a responsável pelo estado no qual sua filha se encontrava ?

Como explicar tal coisa ? A menina já estava mentalmente abalada por causa da destruição do tempo, e então veio aquilo ... aquela coisa ... aquela ... tormenta . Tal coisa não poderia ter nome mais adequado para isso . Nada no mundo a teria preparado para aquilo que a atingiu . Se ela tivesse chegado antes, a pobrezinha não teria passado por tudo isso, mas não conseguiu .

Aquele golpe ... tão poderoso, tão devastador ... era uma tempestade de fogo que cobria cada centímetro do local, devorando cada parte numa fome selvagem e insaciável, a qual aumentava cada vez mais que se alimentava . Como uma fera selvagem que não desiste enquanto não mata sua presa, o fogo se espalhou de maneira selvagem por cada centímetro daquele local, atingindo os três . Se não tivesse erguido uma barreira a tempo, ambos teriam sido exterminados no mesmo instante, mas percebendo que não agüentaria por muito tempo, ainda mais que não estava transformada, foi obrigada a recuar . Agarrou os dois e, num esforço hercúleo, expandiu até o limite o brilho que circundava seu corpo e seguiu pelo caminho que havia percorrido anteriormente . Por alguns instantes seu corpo havia ignorado o calor das chamas, visto que ela se movia entre elas, mas rapidamente ela começou a sentir as coisas esquentarem, conseguindo chegar até a encosta do morro por puro milagre . Sem pensar duas vezes, havia saltado e, recuperando o fôlego, canalizava ainda mais sua energia para agüentar o peso de duas crianças e saltar para baixo até a descido, de pouco em pouco .

O que havia sido, era a pergunta que não saia de sua mente no momento em que aconteceu . Rei, a resposta veio rapidamente . Sempre soube que ela perdia a paciência facilmente, mas não imaginava que sua fúria pudesse aumentar tanto seu poder . Se bem que, agora há pouco, ela estava bem calma .

Queria que tudo fosse assim  . Que um momento de fúria pudesse ser esquecido depois de alguns momentos de descanso, mas não era possível . A coitadinha não teve essa sorte .

Ela olha mais uma vez para Megumi, acariciando seus cabelos e ajeitando-a em seu colo . Que tipo de vida esperava aquela garota depois daquilo ? Superaria seu medo ? Disso ela duvidava . Se até Akira, o qual estava bastante nervoso quando chegaram em casa, então Megumi estava em um estado bem pior . Era evidente a frustração dele por não ter conseguido salvar o templo, e muito provavelmente o estado dele pioraria se ela não tivesse feito algo . Com um simples toque na testa, ela o fez se acalmar, diminuindo a raiva dele e fazendo-o ficar mais calma referente ao problema de sua amiga .

Amiga . Impressionante como eles eram amigos . Akira havia recebido algumas suspensões algumas vezes justamente por brigar na escola, por ele e por Megumi . Não era de se admirar que ele tenha ido salvá-la . Nesse caso, foi realmente uma pena que ele não tenha conseguido impedir que ela tivesse ficado naquele estado catatônico . Qualquer criança também ficaria, se também fosse atingida em cheia por uma tormenta de fogo que se espalhava por todos os cantos e consumia cada centímetro de tudo  que estava ao seu redor, numa fome insaciável que aumentava cada vez mais . Embora Minako a tenha protegido, a simples visão das chamas ... sua mãe sempre havia lhe dito para não ter medo do fogo, para enfrentá-lo de peito aberto ... essa disputa ela perdeu, e feio . Não sabia de onde as chamas tinham vindo, mas estar no meio delas foi mais do que suficiente para  deixá-la naquele estado .

Como contar para Rei isso ? Como explicar que ela foi a responsável pelo estado de Megumi ? Como explicar, sem piorar sua situação ? Como ?

- Pobre garota . Tão pequena, tão bonita ... tão marcada ...

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

- Aonde você pensa que vai, Seo ?

- Dar  uma volta .

- Mas do que está falando ? Já temos tudo pronto, terminemos nossa missão agora !

- Não, eu quero dar uma volta antes ... eu preciso dar uma volta, e não há força no mundo que me impeça de fazer isso .

- Não seja tolo, Seo ! Agora é você quem age por interesse próprio ? Complete o que temos que fazer, depois você poderá sair daqui !

- Não – ele vira o rosto para ela, encarando-a de tal forma que ela até se assusta com sua frieza recentemente adquirida  - Eu preciso dar uma volta . Antes de realizar esse ritual, preciso passar em um lugar antes . É muito importante .

- Para quem ? Para nós ? Para seus filhos ? Para nossa missão ?

- Para a minha consciência .

Seo atravessa aquela sala escura e, antes de sair dela, dá uma última olhada em Mamoru, o qual ainda estava caído chão . Finalmente haviam conseguido ... mas poderia ele conviver com isso ?

- Até amanhã .

- AMANHÃ ?!?!?!? Ficou louco ? Não agüento esperar até amanhã para fazermos isso !

- Não grite, não percebe que o senhor Chiba está tentando dormir, apesar dos ferimentos ? Onde está o seu respeito ?

- No mesmo lugar em que você jogou o seu . Seo, eu não agüento mais ! Já esperamos uma eternidade, não me faça ter que esperar novamente . Centenas de civilizações vieram e caíram depois de nós, e essa na qual vivemos atualmente também cairá, não tenha dúvida ! Mas se é para ser assim, que seja para dar lugar a um lugar grandioso, a maior civilização que já existiu nesse planeta ... não, ao maior Reino que já houve em todo o universo . É o meu desejo, e o seu também .

- Mesmo a custa dos outros ?

- Pelo que me lembro, foi você mesmo quem disse que o que faríamos não era certo, mas era necessário para um propósito maior . Pois bem, eu admito que fiz coisas terríveis, admito que o povo de hoje nos julgará sem piedade pelos nossos atos, mas veja o futuro dessa vez . Se os de hoje nos culpam, os de amanhã irão nos agradecer, pois seremos o estopim para a semente que será plantada e desencadeará o maior de todos, o tão aguardado e dito Reino do Amanhã . Eu realmente sinto pelo que fiz, mas nada pode ser feito quanto a isso . Serei perseguida pela minha consciência por um longo tempo, mas terei que superar isso ou, ao menos, aprender a conviver com esse sentimento de culpa . Mas se eu tivesse a opção de voltar no tempo e escolher um novo caminho, trilharia o mesmo, pois foi ele que nos levou a vitória . Se eu não tivesse sido tão fria e insensível,  jamais teria absorvido a alma de todas aquelas pessoas, inclusive a dos seus filhos mortos pelas Sailors, as quais eu pude descobrir que eram mais poderosas do que a maioria dos humanos comuns . Se não tivesse sido tão fria, nunca teria enfrentado Júpiter e Vênus nos arredores daquela escola, mas assim o fiz . Teria acabado com Júpiter se Marte não tivesse interferido, mas prefiro assim, pelo menos é algo a menos para eu me preocupar . Em outros tempos, eu nunca teria me alimentado da alma de Júpiter, mas assim o fiz . Se eu me arrependo do que fiz ? Como pessoa sim, pois ao me alimentar das almas dessa gente, trai esse povo maravilhoso, violentei brutalmente essa maravilhosa raça, o povo desse planeta que havia me dado uma chance para começar de novo, livre de obrigações, deveres e ligações com o passado . Mas como serva, eu não me arrependo e tornaria a fazer isso novamente . E novamente . E novamente .

- É essa a principal diferença entre você e eu . Embora eu possua mais conhecimento, ainda assim você é mais antiga do que eu, embora não aparente . Sou leal a minha causa, mas como não vivi na mesma época que você, meu fervor não possui a mesma intensidade que você tem . É que haviam algumas diferenças, mas eu vivi numa época de paz e guerra, saúde e doença, amor e ódio . A principio as diferenças entre a sua época podem não ser muitas, mas elas haviam, e essas eram fundamentais . E nessa época eu aprendi que você não pode ter dois senhores, pois acabará odiando um e amando o outro, ou amando um e odiando o outro  . Eu amo meu senhor atual, mas também amo meu outros senhor ... esse povo no qual vivemos . Mesmo assim, eu não demonstrei o que sentia por eles, agi de forma contrária .

- Seo ...

- Até mais, mulher . não se preocupe, eu retornarei e faremos isso amanhã . De uma maneira ou de outra, tudo termina amanhã .

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

(Makoto) - É por aqui, Amy ?

As três se movimentavam rapidamente pelas ruas do cais, em busca de seu destino . Uma delas, em especial, parecia não estar prestando atenção aos apelos de sua amiga, mas em assuntos pessoais . Seu carro, pra ser mais exato . A viagem até ali não havia sido exatamente irritante, mas ter que subir em um ônibus quando os três componentes do grupo já estavam bastante estressados, isso sim era demais .

(Amy) – Vamos entrar na próxima rua à esquerda – e, mais uma vez, não lhe escapou o fato de que aquela parte do cais era bastante deserta, com exceção de alguns mendigos .

(Rei) – É esse aqui ?

(Amy) – Sim .

Sem dar tempo para Amy agir, Makoto aperta o cadeado e o esmigalha na hora, abrindo assim a porta do balcão .

(Makoto) – Não tem nada aqui .

(Amy) – Tudo queimado, lembra ? E os mais estranho é que não restaram sequer cinzas . Mas tem mais uma coisa que eu não havia contado . Alguns não foram queimados .

(Rei) – O que houve com eles ?

Amy guia-as até uma parte afastada da entrada e se aproxima de uma escada, apontando para debaixo dela . Makoto e Rei olham para baixo, não encontrando nada embaixo .

(Rei) – Então ?

(Amy) – Olhe de novo .

Ambas o fazem, só que, dessa vez, percebem que havia uma mancha vermelha enorme na parede, e o chão abaixo dela também possuía a mesma mancha .

(Makoto) – O que houve aqui ? De quem é esse sangue ?

(Amy) – De um corpo que eu encontrei . Como estava exalando um cheiro horrível, eu o peguei, colocando uma proteção nas mais para impedir que minhas digitais ficassem nele, é claro, e o coloquei dentro da sala que fica no fim dessa escada . Venham, eu vou mostrar .

Instantes depois, lá estavam elas . A principio Rei e Makoto ficam surpresas com o que vêem, mas logo prestam mais atenção aos detalhes . Seja quem fosse, era um homem, aparentava ter entre 30 à 40 anos, e possuía algumas queimaduras pelo corpo . Makoto cobre as mãos e vira seu corpo, comprovando  que grande parte do sangue saia das costas dele . Ao encostar sua mão naquele lugar, ela sente rapidamente os cortes .

(Makoto) – Pobre coitado . Deve ter sofrido muito .

(Amy) – Suspeito que ele tenha sido dado como morto e, antes que os corpos fossem queimados, deve ter se escondido embaixo da escada e morreu pela falta de sangue . Coletei um pouco do sangue dele e comprovei que não havia nenhuma espécie de droga nele . Também registrei seu rosto com meu visor e tentei rastreá-lo, cheguei até a invadir os arquivos da policia para isso, mas foi em vão . É como se ele não existisse .

(Rei) – Isso não é tão estranho assim, Amy . Até hoje existem muitas pessoas que vivem de viajar mundo afora em busca de aventura e liberdade . Também existem aqueles que simplesmente não possuem nenhuma forma de provarem sua existência, simplesmente por que não possuem documentos . Ele pode ser um andarilho, alguém sem documentos ... pode ser até um ladrão andarilho sem documentos, ou um profissional de assaltos que apagou sua identidade para não ser identificado . A questão é que você disse que a maioria era de mendigos e outros tipos, mas parece que esse aqui é a única coisa que restou .

(Amy) - Deixa eu te contar mais uma coisa, Rei : embora estivessem queimando, alguns corpos ainda estavam um pouco "identificáveis", e eu me aproveitei disso . Meu visor gravou o rosto de várias pessoas, e depois eu passei os dados para o meu computador  . E mesmo assim haviam poucos que tinham alguma serventia, pois seu rosto não estava bom o suficiente para o computador .

(Makoto) – Como sua máquina consegue acessar a central de policia tão facilmente ?

(Amy) – Ele foi montado para interagir com o meu visor, Makoto . Quando os dois se ligam, posso codificar mais facilmente informações da rede, fora a facilidade que tenho para quebrar sistemas de segurança com esse visor . Se quer saber, meu visor de Sailor Mercúrio ultrapassa "brincando" a marca de 15 teraflots .

(Rei) – O que é um tenafo ... como é mesmo o nome ?

(Amy) – Depois eu te explico . Como sabe, hoje em dia as centrais de policia tem uma facilidade maior para reconhecer as pessoas devido aos seus registros modernos, de forma que uma foto pode ser catalogada e reconhecida em segundos . Foi o que eu fiz . Das fotos que enviei, todos já haviam passado pela policia . Ladrão de bancos, ladrão de carros, trombadinha, matador de aluguel ... recebi a ficha completa . Alguns deles, os quais não possuíam ficha, batiam com a descrição dos mendigos de seus amigos desaparecidos, como pude constatar depois .

(Makoto) – E, no entanto, isso não acrescenta nada ao que já sabemos . É provável que o que disseram era verdade, eles deveriam estar canalizando as almas dessas pessoas para algum fim . Mas qual ? Não acredito que seja para ressuscitar ou trazer alguém, é simples demais .

(Amy) – Como assim  ?

(Makoto) – Tem alguma coisa estranha nisso tudo . Hoje eu e Rei encontramos um sujeito que veio ajudar aquele tal de Maki na delegacia, e depois Rei disse que ele era mandante de tudo isso, mas por que ele apareceu pessoalmente, se estava tendo uma dificuldade enorme para fugir de nós ? Era como se estivesse declarando que nada que fizéssemos iria adiantar ! Que droga !

(Amy) – Ficar nervosa agora não vai adiantar de nada, melhor se acalmar .

(Makoto) – Você não entende ? Nunca teve a sensação de que o que você está vendo é apenas a ponta do iceberg ? Não teme o fato de que aquilo pelo que lutamos vá por água abaixo ?

(Amy) – Eu temo saber quem nós realmente estamos enfrentando, isso sim .

(Makoto) – Por que disse isso ? Tem alguma coisa que eu não sei ?

(Amy) – Digamos que eu saiba, de que isso adiantaria ?

(Makoto) – De que adiantaria ? Eu vou te dizer de que adiantaria, Amy ! Se eu soubesse que tipo de pessoa estamos enfrentando, saberia exatamente como agir .

(Amy) – Acho que não .

(Makoto) – Mas é claro que sim ! Rei, que tal se ... Rei ? Pra onde ela foi ?

(Amy) – Agora que percebeu que ela sumiu ? Devia ficar mais atenta !

(Makoto) – Não brinque . Melhor nós a procurarmos, antes que ...

(Amy) – Não se preocupe, tenho certeza de que, esteja onde estiver, ela voltará para a casa de Minako, mais cedo ou mais tarde .

Makoto fecha os olhos e se concentra, tentando rastrear a área ao seu redor . No entanto, era inútil, pois não sentia nada . Havia desenvolvido a capacidade de sentir o poder das pessoas, mas no fundo ela sabia que seria impossível rastrear Rei, a primeira a ter essa capacidade . Com certeza ela deve ter anulado seu poder para que ninguém soubesse onde ela estava . Deve ter sido por isso que Amy não a encontrou antes, ela deve ter um controle tão alto que conseguiu enganar até o visor de Amy . Muito esperta .

(Makoto) – Eu temo por aquela garota . Como será que ela irá enfrentar tudo o que passou ?

(Amy) – Eu temo por Rei . Ela não está em seu juízo perfeito, pode enlouquecer a qualquer momento, se é que já não  esta . Mas, diga-me ... quer mesmo saber o que estamos enfrentando ?

(Makoto) – Quero .

(Amy) – Mesmo que isso possa te causar mais dor no futuro ?

(Makoto) – Mesmo assim .

Amy retira uma seringa da bolsa e, sem nenhuma cerimônia, estica o braço de Makoto – não temos tempo para preparar seu braço, então colabore enquanto eu procuro uma veia, certo ? Obrigada . – ela atinge uma veia e, pouco depois, retira um pouco do sangue de Makoto . Em seguida ela retira um pequeno frasco da bolsa e, abrindo a seringa, derrama o sangue dentro dele, fechando-o em seguida  . Ao prestar mais atenção, Makoto percebe que já havia nele um frasco com seu nome, logo ...

(Makoto) – Há quanto tempo queria me pedir isso ?

(Amy) – Desde Sábado . Vá para casa descansar, depois eu te ligo .

(Makoto) – Para que isso, Amy ?

(Amy) – Apenas um teste que estou fazendo nesses últimos dias com o visor, quando estiver pronto eu te ligo .

(Makoto) – Mas o que o meu sangue tem a ver ...

(Amy) – Vá para casa, Makoto – a entonação da voz dela estava bastante grossa, chegando a assustar Makoto – não há nada que possamos fazer aqui, melhor nos recolhermos e nos prepararmos para o pior .

As palavras dela ... o que ela queria dizer com isso ? Estaria ela predizendo o futuro ? Mas como, se apenas Rei tinha essa habilidade ? E para que o sangue ?

Decidindo que realmente não havia nada que poderia fazer, ela abre a porta e sai do galpão, acompanhada de Amy . Ao saírem, Makoto toma o caminho contrário ao de Amy, mas a mesma rapidamente entende o que isso significa .

(Amy) – Não adianta, você não vai encontrá-la de jeito nenhum . Melhor ir para casa descansar, pois ficar aqui não vai adiantar de nada . E Makoto ... veja lá o que vai fazer com o coitado do Akira . Ele já apanhou demais por um dia . E não venha me dizer que o filho é seu e você sabe o que é melhor para ele, pois isso tudo é culpa de todas nós . Nossas crianças estão crescendo aprendendo sobre nossos feitos, não é surpresa que eles tentem repeti-los . Mas eles tem que entender que eles não são nós, que isso tudo é muito perigoso . Tem que entender que o que fazíamos, não fazíamos por diversão, mas por entendermos que grandes poderes trazem grandes responsabilidades . Seja lá o que vai fazer com ele, tenha isso na cabeça . Não vou te criticar por ter batido nele, pois acho que, no seu modo de pensar, você estava fazendo o melhor para ele, mas você tem que fazê-lo entender que isso não é um jogo, um passatempo ou uma diversão, mas uma coisa séria na qual todos correm risco de vida, e isso é uma coisa que temos que preservar com todas as forças, já que só temos uma .

Terminando de ouvir, Makoto dá as costas para Amy, afastando-se cada vez mais . Amy olha mais uma vez para o frasco, pensativa .

(Amy) – Makoto ... eu esqueci de perguntar – ela praticamente gritava para que sua amiga a ouvisse – o que está acontecendo com Minako ? O que foi que houve para ela ficar assim, desse jeito ?

(Makoto) – Olha, me desculpe – ela sequer se dá ao trabalho de olhar para trás – Mas isso eu não posso te contar, lamento .

(Amy) – É, eu estava imaginando que diria algo parecido . Então, ao menos, poderia me dizer o que está acontecendo com ela ? Por que ela está agindo desse jeito ? Não parece a Minako de sempre !

(Makoto) – Ora, Amy ... me espanta ouvir isso justamente de você, justamente a sabe tudo do grupo !

(Amy) – Sei aonde quer chegar . As pessoas mudam, é verdade, mas Minako está mais diferente do que o normal . Geralmente as pessoas mudam seu modo de se desenvolverem devido a um novo fator que entra durante seu processo de desenvolvimento . A pergunta é, que fator é esse ? Como sei que não vai me responder, então me diga : como esse fator age, por que eu ainda estou confusa .

(Makoto) – Bondade .

(Amy) – Como ?

(Makoto) – Ela é bondosa demais, pensa que é a bondade .

(Amy) – Como assim  ? Ainda não estou entendendo !

(Makoto) – É difícil entender uma coisa dessas, Amy . Minako ... ela ... ela está pura e simplesmente tomada pela bondade . Na verdade ... ela pensa que a bondade encarnada !

(Amy) – Isso é absurdo ! Não faz o menor sentido !

(Makoto) – Em algum momento eu disse que fazia ? Abra os olhos, Amy . Existem mais coisas no universo do que o seu visor pode catalogar . Existem tipos de energia tão diferentes entre si, que nem mesmo seu visor pode cataloga-los, já que se apresentam em um padrão tão estranho que sequer podem ser catalogados como se fossem um tipo de energia, como o poder mental de Rei .

(Amy) – Então, como isso é possível ?

Ela dá uma risada, a qual estava entalada na garganta a muito tempo .

(Amy) – Qual é a graça ?

(Makoto) – A graça é justamente isso tudo, Amy . Não entende ? Não compreende ? Somos Sailors, guerreiras que lutam para proteger as pessoas . Consegue imaginar uma Sailor que não quer lutar, uma pacifista ? Eu simplesmente não aceito isso, mas estou perdendo essa luta lentamente .

(Amy) – Você podia ter nos contado para que ...

(Makoto) – Negativo ! Eu fiz uma promessa, e prometo cumpri-la . Bem ou mal, ainda é nossa amiga, e se é isso que ela quer, que seja, mas não pode me impedir de continuar tentando . Se quiser saber mais, vá falar com ela . Adeus, Amy .

Terminando de falar, Makoto afasta-se cada vez mais . Amy olha mais uma vez para o frasco, pensativa .

(Amy) – Minako ... – ela olha novamente para o frasco - Será possível ? Será mesmo que nossos inimigos ...?

*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *

Tantas horas do dia, e justamente agora um carro parava em frente àquele lugar . Era um carro bonito, mas não era ele quem roubava a cena, mas justamente aquele local . Esplendoroso em todos os sentidos, era um ponto de referência para aquele lugar, para aquela cidade . Conhecida como a melhor instituição de ensino de seu país, entrar nela era uma honra para qualquer indivíduo . E, no entanto, ele estava ali, parado diante dela, contemplando tudo o que se passou desde aquele dia . Todas as experiências, todas as alegrias, todas as frustrações ... cada ponto perdido, cada ponto conquistado . Cada tristeza que teve, cada sorriso que fez brotar no rosto de uma criança . E, no entanto, tudo perdido por causa daquelas malditas Sailors . Se elas não tivesse interferido, se elas não tivesse aparecido, tudo teria dado certo . Nenhum dos seus pagaria pela sua decisão, e todos seriam felizes ... a quem estava tentando enganar ? O resultado era visível desde o principio . Sabia das conseqüências quando aceitou a missão. Há tempos atrás, quando tentou fazer isso pela primeira vez, já tinha algumas reservas quanto aquele ritual, ainda mais agora, mediante a sua posição . Reitor da Universidade de Tóquio . Quem iria acreditar nisso ? É verdade que o doutor Tomoe era um cientista renomado quando foi possuído, mas quem imaginaria que o Reitor, professor de muitos, admirado por tantos outros, estaria por trás disso tudo ? Não senhor, ninguém acreditaria . Nem ele mesmo .

- Hunf ! O que foi que eu fiz ? Baka .

- Eu vou dizer o que você fez, Seo ...

Continua ...

Grossário

"- E você pensa que eu direi qual é ? Anda lendo muitas histórias em quadrinho, senhor Chiba ." – Frase dita  originalmente pela doutora Octopus para um ameaçado de morte Aranha –escarlate, quando ele disse que, se iria morrer, ela bem que poderia lhe contar seus planos, e ela diz para ele crescer por que estava lendo quadrinhos demais .

"É muito simples para vocês resumirem tudo o que eu sou, toda a minha genialidade,  em apenas uma palavra ." – Apenas uma resposta de uma amigo meu para outras pessoas que o haviam chamado de nerd, cocão, cabeçudo, CDF, crânio ( na verdade, seus próprios amigos, mas eles não estavam debochando dele ou usando esses termos de forma perjorativa, estavam elogiando-o, até, mas ele não gostou muito dos elogios ...)

Teraflot – Teraflot é uma medida de velocidade utilizada em computadores, geralmente em maiframes para medir sua velocidade ou, em outros casos, definir a quantidade de máquinas para executar uma determinada tarefa . Outra definição para teraflot é a de que é a velocidade igual a um trilhão de operações matemáticas por segundo . Foram utilizadas mais de cinqüenta maquinas para se chegar até o maior número primo existente(em teoria, já que descobriram que ainda não era o maior), e cada máquina trabalhava numa velocidade máxima de cerca de 2 ou três teraflots, já o visor de Amy ...