Capítulo 6

- Retiro o que disse, Marina . Foi uma péssima idéia !

- Ah, para de reclamar !

A idéia não fora tão ruim assim, ela pensava . Na verdade, a parte mais dificil fora convencer Minako de que estariam bem e que iriam para casa . A julgar pelo choro delas no hospital, queriam mandá-las para a casa de Minako até a mãe ficar melhor .

Mas ... como ? O estado dela só piorava, e até então Amy não encontrara nenhum antídoto para o veneno .

Tinham que fazer alguma coisa . Qualquer coisa .

A principio Allete não concordou, achou que a irmã estava louca . Depois, decidiu segui-la para impedir que ela fizesse alguma besteira . Quando pegaram o transporte e já estavam se afastando cada vez mais da cidade, a idéia lhe parecia válida .

Mas que estava começando a ficar irritante aquilo, estava .Ali era a montanha da vida ? Não parecia nem um pouco . Haviam trilhas, caminhos ... nada parecido com o que ouviram sua mãe falar .

- Satisfeita ? - Allete batia com o pé no chão e retirava sua mochila, tirando um pouco de água para saciar a sede - Não tem nada aqui ! A gente perdeu tempo a toa !

- Tem sim ! Tem que ter !A mamãe falou isso com tanto entusiasmo ...

- Mas você é uma tonta ! a gente já ta na "Montanha da Vida" ! Não tem nada aqui, nada !

- Ela disse que o poder está no topo, lembra ?

- Eu não vou lá de jeito nenhum !

- É pela mamãe, Allete !

- Ela estava brincando com a gente !

- Duvido ! Ela nunca foi de brincar com isso, nunca !

- Por que eu fui dar atenção a você ? A gente devia ter contado pra Joynah, assim ela nos ajudava !

- Se a gente contasse, ela não deixava a gente ir, lembra ?

- O que seria muito bom !

- Ah, quer saber ? Eu vou sozinha ! - ela começa a caminhar pelas trilhas, passando por arvores e buracos .

- Eu mereço ... - Allete segue atrás . Sabia que aquilo ia dar problemas . Pensando bem, já estava dando problemas . - espera, mana ! Eu tive uma idéia ! - Allete corria até Marina .

- O que foi ?

- Eu tive uma idéia, olha só - ela puxa um objeto da mochila, o qual Marina reconhece na hora .

- A caneta de transformação da mamãe ?

- Peguei na bolsa da Joynah ! Sabia que ia precisar . PELO PODER DO CRISTAL DE JÚPITER, TRANSFORMAÇÃO !!! E então, o que achou da roupa ?

- Acho que iria ficar bem melhor em mim - ela debochava - mas pra que você fez isso ?

- Simples - ela pega Marina pela cintura e começa a pular entre as arvores, cobrindo distancias maiores com os pulos - o que achou ?

- Nossa ! Assim a gente chega rápido ao topo !Eí, olha aquela placa !

- "Fim da trilha" . Ah, vamos até o fim para ver no que vai dar .

Allete continua saltando de galho em galho, até que para, percebendo que a trilha não apenas havia terminado, como também havia uma enorme "parede no caminho .

- Acho que é o fim da linha, Marina . Melhor a gente voltar .

- Que ? Espera um pouco ! Tem que ter outro caminho !

- É o fim . A trilha termina aqui . Podemos voltar e pegar outro caminho, mas não vamos conseguir ir mais longe . Acho que nenhuma trilha leva até o topo .A não ser ...

- A não ser ... ?

- A não ser que a gente escale essa parede ... mas ela é muito alta e tem uma péssima formação . E nenhuma rocha pra gente usar de apoio . Espera - ela segura Marina novamente e começa a subir nas arvores, pulando de uma para outra, até atingir o ponto mais alto . Quando percebe que está bastante alto, ela se prepara e salta, caindo no topo da parede .

- Viva ! Funcionou e ... e ...

- Que foi ?

- Olha só aquilo ali na frente .

Allete dá alguns passos, curiosa . O que teria sido aquilo que sua irmã havia visto ?

A mesma fica pasma . Estava no topo do paredão, caminhando, vendo uma das coisas mais belas que já viu .

Um vale .

A trilha terminava ali, mas aquele conjunto de pedras bloqueava a passagem para o resto da cordilheira . Provavelmente haveria um caminho que as levaria até o topo, mas ... uma coisa lhe batia na cabeça :

Por que o bloqueio ? Com a tecnologia atual, era simples abrir aquela passagem .

Mas por que não fizeram isso antes ?

Por que ?

- Puxa ... eu nunca imaginei encontrar algo assim - Allete estava pasma .

- A gente não vem muito aqui, mesmo . Mas que lugar é esse ? Tem praticamente uma montanha inteira cobrindo a passagem ! Será que esse é o caminho para o topo ?

- Não sei ... mas é o único caminho que nós temos . Vamos .

- Espera, eu ... e se a gente ligar para a Joynah, só para o caso ...

- VOcê mesma disse que ela iria vir nos buscar na mesma hora, lembra ? Aposto que a gente consegue o que mais deseja rapidamente - ela pega Marina no colo - se segura !!!

Allete pula, descendo a encosta pisando aos poucos dela, seja em pulos pequenos, seja em grande !

- IAAAHUUU !!!! Que inveja da mamãe e da Joynah ! Aposto que ela e o papai vivem se divertindo fazendo isso !

- Imagino - Allete se concentrava para não pisar em falso . Estava em uma descida, e o terreno oferecia diversos perigos . Um escorregão e poderia se machucar gravemente . - falando nisso ... prestou atenção na luta ?

- Se prestei ? Nossa, a mamãe foi incrível ! Ela acabou com aquela mulher ! Deve ser mais forte do que a rainha !

- É, mas ... foi impressão minha, ou ela não tinha se transformado ?

- Heim ?

- Quer dizer, as roupas dela ...

- Agora que você falou, a mamãe tava vestida com a mesma roupa de hoje cedo ... na verdade, eu nunca vi ela lutando assim, com tanta ...

- Violência ?

- É . Já tinha visto ela em ação antes, mas não daquele jeito . Ela parecia um titã, na verdade . E a forma como ela golpeava aquela mulher, os golpes ... eu nunca achei que a mamãe lutasse TANTO assim, nunca . Sei que ela está séculos na nossa frente, e que ainda hoje temos dificuldades para atingi-la, isso quando conseguimos ... mas a maneira como ela agia, o nível da "arte" dela era estupendo !

- Sei aonde você quer chegar . Já vi o Grande Mestre Nicholas treinando antes com o papai, e o técnica dele é suprema . Sume, Afonso e papai, apesar de não ser sua especialidade a luta, desenvolveram uma técnica boa com o passar dos anos ... mas eu sempre pensei que em nível de técnica de luta, a arte do Grande Mestre fosse imbativel , mas ... eu podia jurar que a mamãe lutou mais do que imaginávamos . A técnica dela ... eu não sei como, mas estava além de tudo o que pudéssemos supor, sabe . Parecia até mesmo o Grande Mestre lutando, com toda a sua arte .

- A mamãe tem muito mais do que a gente supõe dela, mana . Muito mais . Se bem que deve ter muito mais sobre ela que a gente desconheça, sabe .

- Me lembra de perguntar algumas coisas pra ela depois - Allete atingia o chão, observando o local . A despeito do que vira, era um vale em meio as montanhas, com uma bela paisagem, com animais os quais elas nunca viram antes ou só viram em filmes .

- Uau ! Por que será que ninguém vem aqui ? Eu não entendo, não é difícil, o transportador chega fácil, fácil aqui .

- Sei lá, vambora . Quanto antes encontrarmos o que queremos, poderemos ir embora - as duas vão caminhando, ora pelo campo aberto, ora pela floresta, ocasionalmente parando para admirar a flora local .

Era fascinante tudo aquilo, e não duvidavam que houvessem animais por ali . Talvez até alguns carnívoros, pensava Allete, por isso era bom continuar transformada .

Elas caminham por um bom tempo . Até que era um bom local para se passear . Tinha que se lembrar de olhar nos registros a respeito daquela área . Não se lembrava de nenhuma reserva no meio das montanhas .

Não se lembrava, mesmo .

Mas o mais curioso era a total falta de marcas na região . Quando o clã Blackmoon atacou o planeta Terra, seus ataques deixaram enormes crateras em todo o planeta, as quais grande parte existiam até hoje mas, no entanto, não havia nenhuma ali . Nenhuma, mesmo . E olha que Tóquio de Cristal foi o alvo do maior número de bombardeios .

Era um lado triste da história, nem sempre o aprendizado era um mar de rosas . O bombardeio do Clã Blackmoon matou um número aproximado de um bilhão de pessoas . Um bilhão .

Mas, naquele momento, não tinha tempo para isso . Não era o momento para pensar na humanidade, era o momento para ser egoísta e usar o caneta de Sailor Júpiter para objetivos pessoais, os quais envolviam a vida de sua mãe, e dane-se o que os demais iriam pensar .

"Clinf"

- Ouviu isso ?

- Não .

"Clinf"

- Eu ouvi !

- Está delirando, só isso !

"Clinf"

- T-tem alguma coisa aqui ... ao nosso redor !

- Para de falar besteira, não tem nada aqui, não precisa ter medo !

- Pra você é fácil falar, já que está transformada ! Deixa eu usar isso um pouco, deixa !

- Você não tem experiência como Sailor !

- Como se você tivesse ! Só se transformou uma vez e fez o maior tumulto, lembra ?

- Ah, eu sou mais velha, você só tem 12 anos, é muito nova pra ser Sailor !

- chata !

- Chata é você !

- É você !

- É você ! - ela empurra Marina, a qual cai na mesma hora - ops, esqueci da minha força !

- Você vai ver só ! Quando eu for a Sailor Júpiter, você vai aprender uma lição !

- Bobona ! - ela dava língua para a irmã - Agora que Joynah é a Sailor Terra, quem você acha que será a próxima Sailor Júpiter, heim ? - e colocava a mão na cintura, em pose de superioridade .

- Ah, isso não é justo ! Por que é que você sempre tem que ... - Marina fica em silêncio . Tinha certeza de que ouvira algo . - mana ?

Allete se virou bem a tempo na direção do ruído, de modo que, quando se dera conta, estava rolando no chão com algo agarrada a si . Demora um pouco até ela conseguir imobilizar seu atacante e se levantar, até que ela tem uma surpresa .

- Um urso ? - ela ficava surpresa .

- Um filhote de urso ? - Marina completava . Mas aquilo não fazia sentido, o que um ...

Allete dá um grito quando o bicho a morde, fazendo-a soltá-la enquanto a mesma corre para a escuridão da floresta .

- Ah, mas que monte de pelos safado ! Me mordeu !Ah, mas eu pego ele e ...

- Mana ... - Marina se aproximava dela, um pouco assustada - acho que temos companhia . - ela apontava, de modo que Allete vê um par de olhos vermelhos. E outro . E outro e mais outros . Quando se dão conta, estavam cercadas . Eram várias criaturas, as quais lembravam muito a filhotes de ursos, com a diferença que o olhar deles eram bem mais perigoso .

- Bota eles para correrem, mana !

- Não é tão simples assim - uma gota surgia na testa de Allete - não mesmo ! - ela agarra a irmã e, saltando entre os galhos, se afastam do local, dando de frente para um rio .

Ou melhor – Allete arregalava os olhos ao ver aquilo – não era exatamente um rio ... ou era ... ou não ... ah, dane-se !

- Vambora, Marina !

- Vambora ? Tá maluca ? – Marina arregalava os olhos igualzinho a irmã . Havia um verdadeiro precipício com um rio bem abaixo, e uma ponte unia aquela margem com a outra . No entanto ... – eu não ando nessa ponte mas nem morta !

- Prefere apostar seu cristal com aquilo ali atrás ? – Allete colocava ela no chão, enquanto ambos vêem um grande número de olhos brilharem em meio a es escuridão .

- Ah, o que eles podem fazer ? Você é a Sailor Júpiter, lembra ? Bota eles pra correrem .

E eles vieram . Do meio da floresta, oito pequenos "ursos" surgiram, encarando-as .

- Viu só ? São apenas filhotes, você bota eles pra correrem fácil, fácil ...

- Não sei, não ... e se a mãe deles aparecer ?

- Ah, quem liga ? Manda um raio na árvore e faz eles fugirem de medo !

- Eu posso causar um incêndio ! E não temos como apagar !

- Como você reclama ! Se eu estivesse transformada, já teria feito alguma coisa !

- Tá bom, tá bom ! Esquece o que eu disse, fica atrás de mim ! Vou tentar assustá-los ! – e ela corre em direção aos mesmos, pronta para atacá-los .

Não era o que espera agora que "era" uma senshi . Não mesmo ! Será que sua mãe alguma vez teve que lutar contra animais ? E ainda por cima, filhotes ?

Deviam estar caçando algo para comer, ou brincando com elas . Talvez ambas tenham entrando no território de brincadeiras deles e ...

Não ... tinha algo errado ali . Filhotes de ursos não tinham presas tão grandes assim . E as garras deles ... eram bem maiores do que o comum . Na verdade, poderia jurar que as garras e as presas eram de um urso adulto, apesar do tamanho deles .

Mas mesmo assim, eram elas quem eram as intrusas ali . E como aquela área parecia mais com uma reserva florestal, então não deviam ver humanos com freqüência . Se é que algum dia os viram .

Allete dá um chute no chão fazendo um grande barulho mas, para sua surpresas, eles permanecem na posição em que estavam . A mesma dá um soco de leve em uma arvore, fazendo a mesma balançar, mas as criaturas continuam em posição de ataque .

Um deles pula em sua direção, mas Allete recua e evita o ataque, fingindo dar um soco para assustar o "filhote", de modo que ele recua . De onde estava, Marina suava um pouco ao perceber que as pequenas criaturas começam a fazer um circulo envolta da irmã, rugindo ao mesmo tempo, como se tentassem assustá-la .

E estavam conseguindo, mas não da forma que podiam esperar . Pois o maior medo ela não era agir, e sim de ferir gravemente aquelas pobres criaturas . Não eram seres maldosos, eram animais e, como tais, guiados pelos seus instintos . Não podia, não era capaz de ferí-los .

Tal conceito não iria durar por muito tempo .

- Mas heim ? – ambas arregalam os olhos quando presenciam aquilo . Os "filhotes" se erguem, ficando apoiados nas patas traseiras, como se quisessem amedrontar ainda mais Allete, mas ela fica realmente assustada e surpresa quando as criaturas continuam naquela posição por um longo tempo e se aproximam dela . Estavam ... estavam andando nas duas patas normalmente ... e vindo em sua direção ...

Só naquela hora que ela percebeu que, seja lá o que fosse aquele tipo de criatura, não era um filhote . Mas o estranho brilho nos olhos e a maneira como moviam suas garras era o que realmente a preocupava .

- Allete, dá um jeito nessas coisas ! Não notou que não são ursos ? Frita eles !

- Hmmm ... tá ! Como é mesmo que a mamãe fazia ? Ah, lembrei ! Trovão de Júpiter, Ress ... – Allete não terminava sua invocação quando uma das criaturas pula em direção mirando seu pescoço, de modo que ela dá um passo em falso , caindo e escapando por pouco . Quando olha para cima, ela jura que estava delirando, pois podia ver claramente um sorriso nos focinhos cheios de dentes dos "Chibi-ursos", e percebe que estava em uma péssima posição . Apoiando a mão no chão e fazendo-se valer de sua força acima do normal, ela se impulsiona para dois metros acima das criaturas, mas pouco pode fazer quando uma delas salta e, no alto, a atinge . Furiosa ela dá um soco em um dos bichos, o qual voa como uma bala em direção a uma das arvores, chocando-se tão violentamente que ficam totalmente imóvel . As demais criaturas recuam, indo em direção ao membro, um pouco assustadas com aquilo .

Arfando um pouco ela dá um passo para trás, e continua caminhando até se aproximar de Marina .

- Belo golpe, Mana ! Assustou eles !

- Marina ... vamos ... vamos embora – a mesma suava, tentando não olhar para trás .

- Por que ? Eles não vão mais nos incomodar . A gente acabar com isso é ...

- É melhor ... nós irmos ... embora . – Ela aponta para as criaturas, as quais estavam cheirando seu companheiro, até que se viram para elas . Havia algo diferente, com se um brilho diferente emanasse dos olhos daqueles ursos superdesenvolvidos . Elas não entendiam exatamente o que era, mas sentiam que não era bom .

- Ah, bota eles pra correrem, mana . É fácil .

- Nem tanto – ela dá outro passo para trás, apoiando-se na ponte . Na hora, Marina dá um grito devido ao susto que tomou ao ver uma mancha avermelhada em Allete, na altura da barriga . Demorou menos de um segundo para a ficha cair e ela se lembrar do bicho que atingiu Allete no alto . – acho que ... posso me segurar, mas ... não sei ... vou tentar disparar um raio pra fazer eles se assustarem, então .

Aquele definitivamente estava sendo o dia das surpresas . Primeiro aquela "reserva" escondida que haviam encontrado, e agora, isso .

Allete cruza os braços na altura da cabeça, pronta para invocar o ataque de sua mãe, quando algo estranho acontece .

Algo inesperado . Seu corpo começa a brilhar, e a mesma fica assustada quando, junto com a luz que sumia, suas roupas de Sailor também desapareciam .

- Allete ! Isso não é hora para brincadeiras !

- Mas ... eu ... – ela coloca novamente a mão na barriga, sentindo a enorme dor pelo corte profundo . Se já era difícil suportar tal coisa transformada, destransformada então ...- não estou ... brincando ... eu ... eu me destransformei ... contra a minha vontade . – ela arregala os olhos ao ver a caneta de transformação caída no chão, e as criaturas se aproximando .

- Deixa que eu faço isso, então . – ela se abaixa, pegando a caneta – finalmente vou ter a minha chance ! – ela erguia a caneta acima da cabeça, e com um sorriso enorme no rosto – PELO PODER DO PLANETA JÚPITER, TRANSFORMAÇÃO !

- Sua burra ! Deve falar "do cristal"!!!

Ih, foi mal ! – ela dava um sorriso, levemente

encabulada – agora vai, então . PELO PODER DO CRISTAL DE JÚPITER, TRANSFORMAÇÃO !!!!!

Ela erguia novamente a caneta acima da cabeça, com um sorriso de um canto a outro . Desde que vira sua irmã se transformar, tivera uma certa curiosidade quanto a isso . Sua mãe quando se transformava sempre a inspirou . Em verdade Joynah não precisava se transformar, uma vez que tinha poderes sem se transformar . Mas quando viu Allete fazer aquilo ... ela não agüentou . Precisava experimentar, estava com o dedo coçando, quase invadindo o quarto da mãe para pegar o item de transformação .

Infelizmente para ela, não seria desta vez, por que, ao invés de fazer a roupa de Sailor cobrir seu corpo, algo diferente aconteceu : a caneta saiu de suas mãos, elevou-se alguns metros no céu ... e sumiu .

Naquele momento, uma surpresa enorme tomou conta de Marina, assim como um sentimento o qual ela não esperava passar : falha . Ela havia sido recusada, não considerada apta para tal coisa .

Havia sido ... rejeitada .

As palavras de sua mãe ainda ecoavam em sua mente, quando ela disse que não era você quem escolhia a caneta, era a caneta quem escolhia você .

Mas não era ela a única afetada ali . Um pânico total tomava conta de Allete, a qual viu desaparecer diante de seus olhos toda e qualquer chance de sobrevivência naquele local .

E as criaturas estavam se aproximando .

Demora menos de um segundo para ela puxar Marina dali – a qual ainda estava atônica – e sair correndo pela ponte . Não conseguia olhar para trás, mal conseguia olhar para baixo, pois sabia que algo aconteceria se o fizesse, apenas ouviu o som daquelas criaturas em seu encalço .

E, no fim, tudo perdido . Confiaram tanto na caneta de sua mãe, e no fim ela as abandonou pura e simplesmente .

Mancando, colocando a mão na barriga para estancar o ferimento e ainda por cima arrastando uma decepcionada Marina, ela se arrisca a olhar para trás enquanto corre, apenas para ver as criaturas paradas , observando-as .

Não entendia aquilo . De certo modo, possuíam um certo grau de inteligência, apesar da aparência . E pareciam ... sorrir para ela ?

Ela apura sua visão, ao perceber que dois deles estavam cortando as cortas da ponte .CORTANDO AS CORDAS ?

Nada mais lhe importava, apenas correr, correr, correr e correr . Salvar sua vida, sair dali, qualquer coisa .

Não deu tempo, a ponte se rompeu, e ambas sentiram sumir o que apoiava seus pés, enquanto caiam rapidamente .

Quando pensava que era o fim, ela se dá conta de que iria cair em um rio . O impacto da queda desnorteia-a um pouco, fazendo-as engolir bastante água, fora o fato da correnteza estar tão forte que as empurrava, mal dando-lhes chance de escapar .

Ela estava no limite de suas forças, sejam físicas, sejam mentais . Queria chorar, queria pedir por socorro, queria pedir qualquer coisa, desde que não estivesse mais ali . Seu pai, sua mãe, a rainha, o Rei ... qualquer um .

No entanto, o socorro não veio, apenas sentia suas forças se esvaindo enquanto ela e sua irmã eram arrastadas , enquanto seus gritos se perdiam em meio a correnteza .

Gritos que ficariam ali, perdidos em meio a escuridão daquele vale .