Os Amuletos Irmãos

Capítulo Cinco - Histórias de Fantasmas

-Por que você saiu sozinha? - Draco olhou de lado para Gina, que se sentou com seus joelhos dobrados até seu queixo. Estavam de volta ao beco, sentados lado a lado com suas costas de encontro à parede. Pela expressão dela, era óbvio que ela sentia-se estúpida.

-Eu... não conseguia dormir. - ela murmurou. Ela tinha problema em olhá-lo nos olhos e falar claramente.

-Oh, então decidiu sair sozinha? Está tentando me matar?

Neste momento Gina virou sua cabeça para olhá-lo. Sua boca estava ligeiramente aberta. -O quê?

-Você tem seis irmãos, Weasley. - Draco disse. -Nenhum deles poderia fazer muitos danos sozinhos, mas quando unidos, eles poderiam acabar comigo.

Draco prestou atenção a sua reação. Ela piscou diversas vezes, a seguir disse lentamente: -Você está com medo de meus irmãos?

-Não. - respondeu na defensiva. -Eu não estou com medo deles. Mas encaremos isso, se eu a perder nesta cidade, definitivamente eles me matariam. E eu realmente não quero morrer.

Ele não lhe dizia a verdade, é claro. O fato era que ele se sentia também um pouco incomodado. Havia acordado com um sentimento de que algo estava errado. Quando viu que Gina tinha saído, foi imediatamente procurá-la. Pela primeira vez ele estava se sentindo, bem, preocupado com alguém. Teve medo por outra pessoa. Não era um sentimento que estava acostumado, ou confortável com, assim encobriu-o com alguma mentira idiota sobre seus irmãos. Draco não estava com medo de nenhum deles, desde que não estivessem juntos. Eram Weasleys inofensivos, como ele gostava de pensar.

Gina esticou suas pernas para frente dela. -Não o matariam. - ela disse. -Odeiam você tanto quanto poderiam, não me inclua nisso. E não o mataram ainda, não é?

-Eu suponho que nós não temos que se preocupar com eles, porque você está certa. - ele disse agudamente.

Houve um longo silêncio.

-Eu nunca vou dormir esta noite! - Gina murmurou.

-Você deve tentar. Esses círculos sob seus olhos estão tão escuros que parece que alguém a socou aí.

-Não estão! - disse defensiva. Então sorriu. -Eu devo parecer com um desastre de trem. Não tomo banho há um tempo, e visto a mesma roupa por mais de vinte e quatro horas.

Ele lançou a ela um olhar escuro, e ela esperou que ele dissesse algo como "Você não está acostumada a vestir roupas sujas o tempo todo?". No entanto, ele afastou seus olhos e disse: -Você parece ótima.

Ficaram quietos outra vez, e quando Draco olhou de volta para ela, viu que ela o olhava de novo.

-O que é? - perguntou irritadamente.

-Nada. - ela olhou para frente, suas bochechas coraram com vergonha. Draco se perguntou como uma Weasley poderia ser tão bonita assim. Ele sempre pensou neles como feios, altos, sardentos, estranhos e magrelos. Mas Gina era a exceção. -O que nós fazermos agora? - perguntou com uma doçura forçada.

-Acender um fogo e contar histórias de fantasmas. - Draco disse sarcasticamente com a mesma quantidade de felicidade forçada.

Gina olhou fixamente para ele, e então começou a rir. Draco estreitou seus olhos para ela. -Estou te divertindo? - exigiu severamente.

Ela tentou parar de rir, seus olhos escuros enchiam-se de lágrimas. -Você soou realmente engraçado. - ela disse com a voz entrecortada, começando controlar-se. -Muito não-Malfoy.

-Estou honrado. - disse e levantou rapidamente. Cruzou o beco e sentou-se, olhando com cara feia.

-Eu não quis te ofender. - ela disse a ele.

-Quem diz que você me ofendeu?

-Bem, quando você ficou nervoso e saiu andando por aí, achei que tinha te ofendido. - Gina disse. Quando a olhou, viu que estava sorrindo. Ela tinha realmente um lindo sorriso. Alguma de sua irritação desvaneceu-se, e voltou então outra vez.

"Deus, eu não posso acreditar que eu estou sentado aqui realmente pensando que Gina Weasley é bonita" - ele pensou, irritado consigo.

-Eu tenho uma pergunta, Malfoy. - Gina disse alto após um breve silêncio.

-E você espera uma resposta? - respondeu. "Por que ela é assim feliz? Foi quase violada e assassinada por um desabrigado, e agora está agindo como se fosse nomeada Monitora."

Ela ignorou-o e perguntou de qualquer maneira. -Por que você é como seu pai?

Isso o desarmou. Olhou-a, e sorriu com desprezo para esconder sua surpresa. -Como eu disse, você espera uma resposta?

-Ah, me conta. - disse como se fosse sua amiga e que ele não quisesse lhe dizer por quem estava apaixonado. -A quem eu diria?

-Potter, Granger, seus irmãos, todos os grifinórios, a escola inteira, toda a Inglaterra... - Draco disse, contando em seus dedos.

-Certo, certo. - interrompeu. -Mas eu não lhes direi. Eu prometo.

-Tá. E eu prometo que eu não mentirei mais.

-Por que você mente?

-É melhor dizer minha verdade. - disse-a, e corrigiu imediatamente. -Ou de qualquer um mais. - adicionou.

Gina deu-lhe um olhar estranho, obviamente não acreditando em sua segunda frase. -Dizem que quando você diz a alguém algo que o está incomodando, você termina se sentindo muito melhor sobre.

-Quem disse isso?

-Eu não sei... "eles". - disse, dando de ombros.

-Estão errados. - ele respondeu.

-Não. É verdade. - Gina contradisse. -Durante o primeiro ano, eu senti muito melhor depois que todos souberam que... - parou de repente.

Draco rolou seus olhos. -Weasley, todos sabem o que aconteceu esse ano. Se você pensa estar mantendo um segredo, está errada.

Gina pareceu perturbada por um momento, em pensamentos profundos. -Eu só achei que você se sentiria melhor se me dissesse. - ela finalmente disse docemente.

Draco começou realmente a considerar essa opção. Por que quereria dizer a um de seus piores inimigos, bem, a irmã de seu pior inimigo, sobre sua maravilhosa vida? Não fazia sentido. Mas enquanto olhou fixamente para ela, começou a se perguntar. Ela o olhava como se realmente quisesse ouvir o que ele tinha a dizer. Naturalmente, Draco tinha aprendido que os olhares podiam iludir. Era praticamente a regra número um de seu pai, e ele tinha muitas regras.

-Você realmente quer saber? - Draco perguntou.

-Claro que quero. - disse delicadamente. -Porque eu não acho que você é como ele. Em tudo.

-Ah, você anda comigo por um dia e meio e automaticamente você é a enciclopédia viva de Draco Malfoy?

-Bem, eu não acho que Crabbe e Goyle são. Alguém já te levou a sério, Malfoy? Eu quero dizer, alguém quis conhecê-lo melhor?

Ele olhou friamente para ela, esperando fazer que seu olhar se desviasse ou, que ela ao menos se chateasse. Mas ela manteve o olhar fixamente nele, com seus olhos castanhos delicados, e ele sentiu seu próprio olhar suavizar.

-Você sabe quando foi a última vez que eu chorei? - ele perguntou sussurrando friamente.

-O quê? - Gina disse, confusa.

-Eu tinha três - ele disse-lhe. -Três anos de idade. E eu não chorei desde então.

Sua expressão indicou claramente que ela não esperava aquilo. Ele prestou atenção, e viu que sua confusão transformava-se em algo mais. Não pena. "Graças a Deus, não quero pena de ninguém." - pensou. Era mais como compaixão.

-Meu pai dizia que chorar era um sinal de fraqueza. - Draco continuou. Manteve seus olhos bem nos dela, esperando ela afastá-los primeiro. Mas ela não o fez . -E é.

-Não para crianças pequenas. - Gina disse suavemente, deixando-o continuar.

-Quando eu era mais novo, eu quis agradá-lo. - disse, levantando um joelho e descansando seu braço nele. -Era como... meu gol na vida. Sim, há um tempo eu tive o gol da minha vida. Eu costumava me perguntar se Voldemort estivesse poderoso o suficiente, eu estava crescendo e talvez se tornasse mais fácil conviver com ele. Agora, eu tenho a resposta: Não, é claro que não. Na verdade ele se tornou mais duro comigo. Assim que comecei a andar, ele me ensinou a segurar e usar uma espada, disse que saber duelar era a habilidade mais importante na vida de todos homens. Uma vez ele me cortou tão seriamente que fiquei de cama por dias, então ele contratou um bruxo profissional para me ensinar. Minha mãe era, e ainda é, péssima quando tem que fazer algumas coisas como: cozinhar, cuidados médicos simples, limpeza. Ela sempre mandou os empregados fazerem esse tipo de serviço. Na sua defesa, eu nunca a vi tão assustada quanto quando meu pai me trouxe para dentro com aquele corte enorme. Não sei ao certo se ela fez realmente algo sobre isso, ou deixou o mordomo chamar alguém para me ajudar.

Draco não podia acreditar que as palavras escapassem tão rápido e fácil de sua boca. Ele odiava admitir, mas Gina estava certa. Era de alguma ajuda contar a alguém sobre tudo isso.

-Meu pai tentou ensinar-me a ler quando eu tinha três anos, mas naturalmente eu era muito novo. Chamava-me sempre de estúpido, e dizia que eu nunca aprenderia. A última vez que eu chorei foi quando ele me bateu na cabeça com um livro. Eu tive um traumatismo e então quase morri. Viu Gina tremer, e sentiu-se sorrir. "Você pediu isso." - ele pensou.

-Eu aprendi eventualmente a ler quando tinha aproximadamente seis ou sete anos. Foi quando ele começou me ensinar Artes das Trevas. Eu cresci acreditando que o que todos usavam, que era a mágica que todos sabiam. Imediatamente antes de ir à Hogwarts que eu comecei a perceber que não era. Ainda, eu quis agradar a meu pai, assim que eu mantive-me aprendendo sem me queixar. Quando eu fui mandado à Hogwarts,  tive ordens estritas de me tornar amigo de Harry Potter. Eu suponho que meu pai quis ganhar sua confiança e convidá-lo para o Natal, assim poderia matá-lo. Eu acho que o Potter era mais esperto do que qualquer um de nós pensou, porque ele não quis ser meu amigo. Isso provavelmente salvou sua vida. Meu pai, de qualquer maneira quis tentar isso eventualmente. Disse-me para fazer a vida de Potter um inferno em Hogwarts. 'Faça-o acreditar que ninguém gosta dele e talvez então, quando o Lord das Trevas retornar...'. Ele sempre acreditou que Voldemort voltaria e era a única coisa que ele tinha certeza, que quando isso acontecesse Potter se juntaria aos Comensais da Morte. Isso é o que todos os Comensais da Morte são realmente, pessoas deprimidas e que não tinham mais para onde se voltar. Era o que meu pai queria fazer com o Potter. Infelizmente, para meu pai, eu quero dizer, Potter tem muitas pessoas que se importam com ele. Eu devo dizer que ele fez um bom trabalho me ignorando. Em torno do quinto ano, eu percebi que não importa o que eu fizer nunca irei satisfazer meu pai.

Os olhos de Draco não desviaram dos de Gina o tempo inteiro enquanto dizia sua história. A expressão dele permaneceu ilegível.

-Então desisti. Eu o odeio agora. Nunca realmente o amei antes, mas foi a única figura paterna que tive. - ela continuou olhando, como se esperando que ele continuasse. -É o fim. É essa, minha história.

-Mas... mas você não disse porque você acha que é como seu pai... - Gina indicou.

-Eu sou. - disse. -Acredite em mim. Eu sei exatamente o que vou me tornar.

-Você vai se tornar apenas o que você quiser.

-Claro.

 Ele se sentiu irritado outra vez. Havia dito a ela algo que nunca disse a ninguém em sua vida e ela nem ao menos pareceu grata. Isso incomodou-o. Assim levantou e andou à extremidade do beco. Parou em frente à parede em branco, tentando acalmar-se. Ele não estava certo porque irritara-se assim. Isso apenas o aborreceu. Por um minuto, ficou lá, olhando para a parede. Então ouviu Gina caminhar e parar atrás dele.

-A única coisa boa é que realmente tenho dinheiro. - Draco respondeu, esperando que ela fosse embora.

Mas ela não foi, fez o exato oposto. Sentiu seus braços deslizarem em torno de sua cintura, e sentiu ela pressionar seu corpo contra as suas costas. Ela apoiou seu queixo em seu ombro, e pode sentir sua respiração em sua orelha.

Draco ficou tenso. "Ela está me abraçando!" - pensou, mais chocado do que qualquer outra coisa.

Porém o calor dela pareceu acalmá-lo e se sentiu relaxar. Ninguém nunca tinha o abraçado assim por trás antes, na verdade ninguém nunca tinha o abraçado assim e realmente o envolvido. Isso era diferente, mas muito bom. Ele fechou seus olhos por um momento, se perguntando porque uma Weasley estava fazendo-o sentir tão confortável. Esse foi o primeiro pensamento que teve que não fosse malicioso.

Abrindo seus olhos ele virou-se nos braços dela para poder ver seu rosto. Ela olhou para ele, e sorriu de uma maneira que Draco sentiu seu estômago afundar.

"Por que eu nunca percebi que ela era tão linda?" - ele pensou, colocando suas mãos no queixo dela, acariciando seu rosto e parte da sua bochecha com seus dedos. O cabelo vermelho dela caiu sedoso, dispensando o fato que não tinha sido lavado já há algum tempo.

Ele não sabia o porquê, mas começou a aproximar seu rosto ao dela. Os olhos dela procuraram os seus, como se ela não acreditasse no que ele estava fazendo. Ele também não podia acreditar. Mas parecia tão certo.

"Ela é uma Weasley, uma Weasley, ela não é boa, isso nunca vai dar certo." - todos esses pensamentos passaram por seu cérebro, mas eles se misturavam em um único pensamento: "Eu não ligo!"

Seus lábios se encontraram meio abertos, mas ainda não era exatamente um beijo. Draco tentava parar a si mesmo, seus olhos abertos vendo as pálpebras dela fechadas.

-Gina? - disse suavemente, seus lábios próximos aos dela enquanto falava.

-Hum? - ela murmurou sonhadora.

-Seus irmãos vão me matar.

Sem nenhum dos dois se moverem, ela abriu seus olhos, sobressaltada. Ninguém se moveu, apenas ficaram parados abraçados com seus lábios levemente se tocando por um longo tempo.

Draco estava quase beijando-a completamente quando segurou sua respiração.

Ele tirou a cabeça dela de sua direção, parou e olhou na direção de onde vinham uns ruídos. Parados um pouco a frente estava um Potter extremamente chocado, e um Weasley extremamente bravo, os dois segurando um colar prateado.

Continua...