Os Amuletos Irmãos

Capítulo Oito - Poção da Verdade

Draco instintivamente ficou na frente de Gina, protegendo-a de seu pai. Ele era a última pessoa que esperava ver... diabos, se Snape os visse, seria bem melhor. Bem agora ele se sentia muito... idiota. Esperava que sua expressão permanecesse dura e não demonstrasse seus sentimentos. Se havia algo em que ele fosse bom, era disfarçar o que estava realmente pensando.

-Draco. - Lucio Malfoy disse, sorrindo firmemente.

-O que você está fazendo aqui? - Draco respondeu grosseiramente. "Não se pode aparatar ou desaparatar nos terrenos de Hogwarts, e essa é a única maneira que meu pai viaja." - pensou.

-Eu vim via Flu. - seu pai respondeu rápido, como se tivesse pressa em dizer mais alguma coisa. -Sua mãe insistiu que eu viesse ver se você está bem.

-Estou bem.

-Aparentemente. - Lucio disse se aproximando e olhando através dele para Gina. Draco teve uma forte necessidade de se mover, bloqueando a visão dele. Mas ele continuou. -Por que se esconde, garota? - seu pai disse rispidamente para ela.

Gina deu um passo ao lado de Draco. -Não estou.

Draco precisava reconhecer uma coisa, ela era corajosa. Qualquer outra garota que ele conhecia estaria soluçando ao falar com alguém tão poderoso. Mas novamente, todas as garotas que ele conhecia praticamente veneravam o chão que um Malfoy pisava. Gina não era como elas.

-Eu conversei anteriormente com Dumbledore. - Lucio continuou, ignorando Gina. -O tolo concordou, com alguma relutância, que você viesse comigo para casa por uns poucos dias.

-Estou bem. - Draco repetiu. -Não preciso ir para casa, isso só traria problemas para minhas tarefas da escola.

-Cuidarei disso. - Lucio disse confiante. -É claro que sua... amiga, poderia vir se ela quisesse.

Draco nem olhou para Gina, mas ela deu um passo mais perto dele e ele pode sentir os ombros dela contra os seus. "Meu pai sabe muito bem que ela é uma Weasley." - ele pensou, tentando ler a expressão de seu pai. Para seu azar, Lucio Malfoy era tão bom em esconder suas emoções quanto seu filho. "Ele preferiria comer a si mesmo em um jantar que deixar um deles em sua casa. Apenas a mataria."

-Nós dois ficaremos aqui, obrigada. - Gina disse claramente.

Lucio lançou a ela um olhar divertido. Antes que Draco compreendesse o que ele faria, Lucio tirou sua varinha de suas vestes e disse quase entediado:

-Estupefaça!

Gina deslizou de costas ao chão, seu cabelo vermelho volumoso cobrindo seu rosto. Draco olhou para ela se sentindo paralisado por um momento. Quando olhou para cima, seu pai cruzava a distância entre eles. Draco teve uma necessidade urgente de bater na cabeça de seu pai e tirar o olhar convencido que ele exibia.

Em vez disso, apenas olhou ameaçadoramente para ele. Lucio lhe deu um sorriso irônico, agarrou o braço de seu filho e pegou algo em seu bolso. Draco repentinamente sentiu uma puxada em torno de seu umbigo.

Um instante depois ele estava em uma sala muito familiar. "O escritório de meu pai." - pensou enquanto Lucio soltava seu braço.

Seu pai pegou a bolinha de gude que usara como chave de portal e colocou de lado.

-Eu te disse que não queria vir. - Draco disse entre os dentes cerrados. Imaginou Gina, ainda inconsciente, no chão em Hogwarts. Quando ela acordasse o que faria? Ela acharia que ele a teria deixado lá de propósito?

-Por que eu me importo? - se perguntou, e redirecionado seus pensamentos para o que estava acontecendo ali.

Seu pai havia andado até sua mesa e sentado. Ele gesticulou para a cadeira à frente da mesa, indicando onde Draco deveria sentar. Mas Draco não se moveu.

-Você pode voltar. - Lucio o disse calmamente. -Só quero lhe fazer algumas perguntas.

Draco quase gritou. Quando seu pai dizia que queria fazê-lo algumas perguntas queria dizer uma coisa: Poção da Verdade.

Ele começara a usar poções desse tipo em Draco no quinto ano, quando ele não quis mais dar informações sobre Potter para ele. Às vezes ele não queria dar informações para ele, porque se sentia mal fazendo isso. Mas não era sua culpa que soubesse tanto... também não era sua culpa que seu pai usasse poção da verdade nele. Então, por que se sentia mal?

Draco sentou-se pesadamente em uma cadeira em frente à mesa. Lucio sorriu perversamente, da maneira que sempre fazia quando conseguia o que queria.

-Vai me responder voluntariamente?

-Você sabe a resposta a essa pergunta. - Draco disse friamente. Seus olhos não se distanciavam dos de seu pai. Lucio o havia ensinado que o contato nos olhos é o que diferencia um garoto de um homem.

Draco ouviu as portas do escritório abrirem-se atrás dele, mas não se virou. Lucio quebrou o contato primeiro porque um dos servos trouxe um cálice, o cálice que continha a Poção da Verdade.

Lucio dispensou o servo antes de dar o cálice nas mãos de Draco. Relutante, Draco o pegou e ficou olhando.

-Você vai beber ou ficar amigo dele? - Lucio perguntou.

Draco obviamente não estava encobrindo seus pensamentos muito bem, porque seu pai instantaneamente respondeu a pergunta em sua cabeça: "De onde veio isso?"

-Você pode ficar amigo de Weasleys. Acho que se poder fazer isso, talvez possa se tornar amigo de pedras também.

Draco apenas o olhou furioso.

-Bem, eu vou ter que enfiá-lo garganta a baixo ou você vai tomar voluntariamente? Qualquer das duas maneiras está ótimo para mim.

Draco tentou não revidar. Ele já tinha experimentado seu pai enfiar a poção em sua garganta antes, e não foi o momento mais prazeroso de sua vida. Não importava, tinha que beber, melhor fazer da maneira mais fácil.

A Poção da Verdade não tinha cheiro ou gosto. Draco tentou beber o menor gole possível, mas a quantidade não importava. Um gole é tão poderoso quanto vinte galões.

Lucio pegou sua varinha e apontou para Draco.

-Enervate! - ele disse.

Draco sentiu-se normal. Mas ele aprendeu, pelo modo mais difícil, que começaria a doer quando não respondesse às perguntas.

-Com quem Harry Potter se importa? - Lucio perguntou.

Draco foi surpreendido. Normalmente seu pai lhe perguntava coisas estúpidas, como: 'Você já dançou nu no seu quarto?' ou 'Já teve pensamentos impuros com sua mãe?' - típica diversão para Lucio Malfoy. Mas dessa vez foi diferente, ele pulou direto para o assunto principal.

-Dumbledore, Hermione Granger, Rony Weasley, Cho Chang... - Harry tinha namorado com ela um ano antes que se formasse em Hogwarts e acabasse com ele. -Sirius Black, Remo Lupin...

-Gina Weasley se importa com ele?

Draco estava acostumado a ser interrompido, seu pai sempre pensava questões melhores enquanto ele respondia uma.

-Sim. - "Isso é obvio. Todos sabem que Gina foi apaixonada por ele quase a vida inteira." - pensou.

-E Potter se importa com ela?

Era claro que Harry se importava com Gina, mais provavelmente mais como irmã do que qualquer outra coisa. Por alguma razão, Draco teve um mau pressentimento sobre essa pergunta. Ele não queria respondê-la. Por um momento, manteve sua boca fechada. Mas começou a sentir uma dor em volta de seu coração. Mais alguns segundos e a dor aumentou consideravelmente. Logo tornou-se impossível de agüentar, e ele gritou:

-Sim.

-Você se importa com Hermione Granger?

-Não. - essa era muito fácil.

-Rony Weasley?

-Não. - e ele soube o que viria a seguir.

Lucio sorriu perversamente e perguntou:

-Você se importa com Gina Weasley?

Certo, essa era exatamente a pergunta que ele não queria responder. Ele não falaria, mesmo que isso o matasse. A dor cresceu e cresceu, como se seu peito fosse se abrir. Mordeu seu lábio tão fortemente que passou a sentir o sangue. "Eu não me importo que morra, não irei responder. Não, não, não vou dizer..."  Seu pai assistia, entretido, enquanto ele lutava.

E ainda, mesmo que Draco preferisse morrer a responder, a poção o fez falar:

-Sim.

"Ninguém nunca morreu por causa de uma Poção da Verdade. Elas não foram feitas para isso... e sim para forçar a pessoa a responder a verdade." - pensou.

-Muito bem. - Lucio disse, parecendo satisfeito. -Finite incantatem!

A Poção da Verdade não funcionava mais. Draco poderia mentir o quanto quisesse agora. Mas era muito tarde... Ele tinha acabado de admitir a única coisa que nunca admitiria, nem mesmo para Gina.

-Não te disse várias vezes, Draco. - Lucio disse com uma voz baixa e perigosa. -Que ter sentimentos por alguém te deixa fraco.

-Vou voltar agora, com ou sem sua ajuda. - Draco manteve sua expressão fria o quanto pode.

-Isso te levará de volta. - Lucio disse, tirando de sua mão, desprezivelmente, outra bola de gude e colocando-a na mesa.

Draco não sabia se ele estava dizendo a verdade, mas ser transportado para o meio de um monte de dragões famintos era melhor do que ficar com Lucio. Ele pegou a bolinha e o escritório de seu pai sumiu, se transformando nos jardins de Hogwarts, bem onde ele estava antes de sair.

Gina ainda estava inconsciente no chão.

Continua...