Capítulo Nove - Irmã Perdida
Na noite seguinte, Gina estava deitada em sua cama pensando. Podia ouvir Sarah roncando alto e Laura falando incoerentemente em sua cama no quarto, mas não era isso que a mantinha acordada. E sim o fato de que Draco não a contou o que aconteceu.
Logo que ela acordou após ser estuporada, Draco estava lá. Com sua expressão neutra mas no fundo sua voz soando um pouco nervosa. Ela o perguntou o que houve, e ele disse que seu pai a havia estuporado.
-Eu sei disso. - ela disse. -Mas, e depois?
-Disse para ele ir, e ele foi. - Draco respondeu, obviamente mentindo. -Esperei até que você acordasse.
Ele deveria ter esperando um longo tempo, porque quando ela voltou para o dormitório, era próximo das onze horas da noite. Gina não acreditou na história toda que ele disse. O que realmente aconteceu?
"Provavelmente nunca descobrirei." - Gina pensou com um bocejo, se virando na cama.
O dia todo ela ficara pensando em desculpas para estar sozinha com Draco novamente. Mas Rony parecia suspeitar de algo e não saia do seu lado. Isso era muito chateante, porque quando não era Rony, era Harry, que nem sequer falava com ela, evitando contato visual. Gina se perguntava se ela tinha contado a seu irmão o que aconteceu.
E não ajudava o fato de que Draco não tentava nem um pouco encontrá-la. Ela teria entendido tudo errado sobre ele?
"Ele me beijou." - pensou teimosamente. -"Acho que ele está tentando me proteger do pai dele quando estava na frente dele. Como ele acha que eu interpretaria isso? Ou ele está enviando os sinais errados, ou estou ficando paranóica."
Gina bocejou novamente, pensando se nunca poderia sair sozinha. Até quando queria ir ao banheiro Rony fazia Hermione acompanhá-la. Hermione, que obviamente sabia o que estava acontecendo, olhava para Gina com pena, mas obedecia Rony.
Fechou seus olhos de novo, esperando seu cérebro se calar e finalmente dormir. Poucos minutos se passaram quando ela abriu seus olhos de repente após ouvir um baque. Sentou-se e ouviu, olhando as cortinas fechada em torno de sua cama. Rachel teria caído da cama de novo? Com o silêncio que se segui ela dispensou essa idéia, porque Rachel normalmente acordava, xingando alto quando tocava o chão.
"Você apenas imaginou, Gina." - disse a si, relutando em deitar-se na cama.
Mas ouviu outro som. Parecia o som de roupas se tocando, de alguém próximo. "Alguém está aqui, alguém que não devia."
Soube que não era Melanie, porque ela nunca levantava depois que dormia. E era difícil acordá-la de manhã. E não era Rachel, porque as roupas dela não faziam esse barulho, Laura continuava murmurando em seu sono, e Sarah ainda roncava.
Era outra pessoa.
Gina esperou, tão tensa que se sentia como um bloco de gelo, e ouviu por outro som. O próximo som que ouviu foi tão súbito, e ela viu o que aconteceu com o barulho: alguém abriu a cortina de sua cama.
Ela pulou para o lado, deixando escapar um grito. Por causa do barulho que fez, ela não pode ouvir a pessoa sussurrar algo. Não pode ver a varinha sendo apontada para ela, mas antes que tudo escurecesse, viu o brilho de cabelos prateados.
A manhã seguinte era um sábado, mas Draco estava vestido e desceu para o café da manhã cedo, esperando terminar antes que Gregory e Vicent chegassem. No entanto, por alguma razão, eles já o esperavam e o fizeram sentar-se com eles. Draco sentou rápido, para comer e sair, mas antes que ele estivesse no meio da refeição Pansy sentou na cadeira ao seu lado e começou a falar de como ele tinha sido corajoso estando sozinho na América.
Ele não estava sozinho, mas lembrar a Pansy que ele estava com Gina não era uma idéia boa. "Falando em Gina..." - Draco pensou, olhando para a mesa da Grifinória. Ela não estava lá, nem seu irmão e Potter. Draco pensou que eles não desceriam tão cedo.
Draco decidiu que precisava falar com Gina, então se levantaria com Pansy e se livraria dela vinte minutos antes que terminasse seu café. Ia se levantar quando entraram no Salão Pricipal Rony, Harry e Hermione.
Gina não estava com eles.
"Talvez ela não esteja com fome" - Draco imaginou de cara feia. Mas, do outro lado do salão pode perceber que Rony parecia um pouco preocupado. Draco sabia que Gina sempre tomava o café da manhã, ela o havia contado em Nova York como estava faminta e como odiava não tomar café.
Ele sentiu uma pancada incomoda no estômago. Tentando dizer a si mesmo que Gina provavelmente tinha apenas brigado com Rony e não queria tomar café antes que ele saísse do salão, ficou na mesa um pouco mais.
Mas Gina não veio. E para o almoço, menos ainda.
Foi quando Draco soube que havia algo errado. Ele nem sequer se preocupou em explicar a si quando levantou abruptamente, mesmo com Pansy tentando dizer-lhe algo, e parou de frente a mesa da Grifinória.
Soube que aproximadamente cada grifinório o olhava , mas ele nem se importou. Estava acostumado com isso. Com os olhos fixos em Rony, parou entre Harry e Hermione e exigiu:
-Onde ela está?
-Nós pensávamos que você soubesse. - Hermione disse.
-Perdeu sua irmã, é? - disse sorrindo ironicamente a Rony.
-Não a perdi, alguém a levou. - ele respondeu.
Isso fez Draco parar de sorrir. Não porque Rony o tinha acusado, mas porque provavelmente ele estava certo. "Alguém a levou!". Teve muita vontade de se bater na cabeça, mas isso só daria aos grifinórios mais motivos para provocá-lo.
Draco virou-se e foi em direção à saída do salão. "Alguém a levou... é claro, eu deveria saber. Meu pai me perguntou aquilo por alguma razão. E eu não fiz nada... deveria ter avisado-a, ou colocado algum feitiço protetor nela..."
Tentava raciocinar. Aparentemente seu pai tinha seqüestrado Gina, Draco não sabia a razão exata, mas era óbvio que ele havia feito. "Para onde ele poderia levar Gina?" - se perguntou.
Havia milhares de lugares para onde ele a levaria. Mas a maioria deles seria muito público... ou perto das pessoas. Foi quando começou a perceber. Eles tinham uma casa de verão que ficava há quilômetros da casa, ou vila mais próxima.
Draco havia ido lá todos os verões até seu quarto ano. Não sabia o motivo exato de terem parado de ir, mas tinha a impressão de que a casa virou um ponto de encontro de Voldemort e os Comensais da Morte.
"É para onde ele a levou." - Draco pensou.
-Ei, Malfoy! - alguém gritou atrás dele.
Draco reconheceu a voz. Era Potter. Ele continuou andando, não querendo falar com ele.
Harry teve que correr para alcançá-lo, já que Draco andava muito rápido. Harry o segurou pelo ombro para pará-lo. Draco se virou, retirando a mão de Harry.
-Não me toque, Potter. - disse reflexivamente.
-Desculpe. - Harry respondeu, não soando culpado. -Mas você sabe onde Gina está, não é?
-Não fale comigo também. - disse e voltou a andar.
-Você sabe. - Harry disse quase impedindo-o de continuar. Ele estava seriamente começando a aborrecer Draco. -Você sabe exatamente onde ela está. Ela passou a noite com você?
Depois disso Draco teve que parar de andar. Virou-se para encarar Harry, que deu um passo para trás, como se esperasse que o outro garoto o batesse.
-Não. - ele disse asperamente. -Não a vejo desde ontem.
-Então como sabe onde ela está?
-Nunca disse que sabia!
-Mas é óbvio que você sabe. Então por que não me conta?
A calma dele apenas serviu para enfurecer Draco mais. Ele forçou-se a relaxar, forçou a si mesmo a não pegar os óculo de Harry e fazê-lo engolir.
-E o que você faria?
-Faria? Se você me dizer onde ela está, tudo o que farei é pegá-la.
-É, tenho certeza que sim. Sei que você amaria ser o único a resgatá-la, o corajoso Potter.
-Resgatá-la? - Harry repetiu. -Por que ela precisaria ser resgatada? Ela está em perigo?
-Bem... sim, eu acho que ela pode estar. - Draco respondeu.
-Onde ela está, Malfoy? - Harry perguntou novamente, dessa vez com mais raiva. -Se ela está com problemas você tem que contar a alguém onde ela está, mesmo que não seja eu.
Draco olhou para Harry por um momento. "Fácil para você dizer." - pensou. "Você não tem um pai que arrancaria seus intestinos se você pensasse em dizer qual é o lugar onde Voldemort se esconde."
-Eu não preciso contar a ninguém. - finalmente disse, e recomeçou a andar.
-O quê? Vai simplesmente esquecê-la? - Harry o seguiu. Como Draco não respondeu ele continuou. -Ah, espere, eu esqueci! Por um minuto aqui eu esqueci totalmente que você é tão preocupado consigo que nunca ajudaria outro ser humano, nem que salvasse suas vidas. Mesmo que você não precisasse fazer nada mais do que dizer algumas poucas palavras e depois se sentar e não se preocupar com mais nada.
Draco quase riu, nunca tinha visto Harry agir dessa maneira. Em compensação apenas disse por sobre seu ombro:
-Vou buscá-la, seu grande dramático. Então pare de reclamar e me deixe em paz.
-Irei com você.
Draco novamente parou de andar e virou-se para ver se Harry falava sério.
-Você não vai, ou vai?
-Não pode me impedir de te seguir.
-Você pode fazer o que quiser. - Draco respondeu. -Só te digo uma coisa: Não estou me envolvendo nisso querendo ser proclamado herói.
-Muito menos eu.
Draco sorriu irônico: -Claro que não.
-Não estou. Vamos ficar aqui parados o dia inteiro ou vamos fazer alguma coisa?
Observou Harry por um momento. Antes de poder se impedir, disse:
-Me encontre no lago em meia hora. Traga sua vassoura.
Assim que Draco voltou a andar, num último momento, não pode evitar sentir como se cometesse um imenso erro.
Gina acordou com frio. Assim que abriu seus olhos tudo o que acontecera voltou a ela, a deixando ainda mais acordada. Sentou-se rapidamente e olhou a sua volta.
Ela estava em um quarto de pedra vazio. Não era exatamente um calabouço, porque havia uma velha porta de madeira num canto que obviamente levava para fora, que parecia impossível de ser quebrada. Abaixo dela havia palha, mas ela podia sentir a frieza do chão passando por ela.
Devagar se levantou. Ela vestia pijamas que foram de Rony quando ele tinha sete anos (e que foram de Fred e, também de Carlinhos antes dele). Como Gina era magrinha, ficava bem nele, mas nas calças as canelas apareciam e a blusa vestia bem, a não ser em torno do peito, que apertava. Não usava meias ou sapatos.
Revistando-se notou que estava sem sua varinha. "É claro." - pensou sentindo-se estúpida. "Não me deixariam com minha varinha." Sem mencionar que ela a colocava na mesinha ao lado da cama antes de dormir. Eles não seriam idiotas ao ponto de levá-la com ela.
"De qualquer maneira, ele está aqui!" - a única coisa que carregava embaixo do pijama era o amuleto dourado que estava sob sua blusa. Como se fizesse alguma diferença, especialmente por que o prateado estava com Harry. Ou ela achava que estava.
Gina cruzou seus braços com força e sentou na palha, tentando se aquecer. A não ser pelo fato de ser frio, e feito de pedras, o quarto era limpo. Era o tipo de lugar que se espera que água saísse das paredes e ratos entrassem e saíssem de buracos nas paredes e do chão. Mas tudo estava seco e relativamente limpo.
"O que estou fazendo aqui?" - se perguntou, lembrando do flash de cabelos prateados que viu antes de ser estuporada. Ela evitava acreditar essa pessoa fosse Draco, então só restava uma outra pessoa. "Lucio Malfoy. O que ele quer comigo?"
É claro que ele a tinha visto beijando seu filho mas, honestamente, ele a capturaria só por essa razão? "Ele é uma pessoa má." - ela raciocinou.
Parou de andar de um lado a outro da sala quando ouviu um barulho. A porta se abria, ela olhou sentindo como se seu estômago tivesse descido à seus pés.
Cinco pessoas encapuzadas entraram no quarto. Seguindo-os estava Lucio, que vestia roupas pretas e seu capuz para trás. E Lucio estava ao lado de outra pessoa encapuzada.
Mas essa pessoa era diferente. Percebeu que Lucio sorria para ela, mas ela manteve os olhos no homem ao lado dele. Uma onda de frio passou por ela, como se alguém a tivesse afundado em um grande vaso de água gelada.
A pessoa desceu o capuz para revelar um rosto que não pertencia a um homem. Na verdade, não pertencia a nenhuma criatura. Olhos vermelhos, fendas no lugar de narinas, pele mais branca que um crâneo...
Gina sentiu-se dormente.
Ela estava a metros de distância de Lord Voldemort.
Continua...
