LOIS LANE

Surpreso com o impacto fulminante ocasionado pelo primeiro encontro com a prima de Chloe, Clark vai pedir conselhos ao amigo Lex.

Capítulo 2 - O quê é essa coisa chamada amor?

"Ei, Clark!", exclamou Lana, que estava atrás do balcão do Talon, assim que o viu entrar com Pete. Este último, aliás, antes de ver a amiga, foi cumprimentar uns colegas seus do time de futebol do colégio, que estavam sentados numa mesa próxima da janela.

"Oi, Lana", respondeu Clark, com um sorriso amável, e as mãos enfiadas nos bolsos da calça.

Os dois se entreolharam com receio. A situação estava difícil. Desde que Lana sofreu um acidente fatal no celeiro, quando tentava ajudar Lex a pedido de Clark, o relacionamento dos dois jamais voltou a ser o mesmo.

"Viu a Chloe?", perguntou ela, quebrando o silêncio quase fúnebre, enquanto limpava uns copos e os colocava numa prateleira atrás do balcão.

"É...", disse ele, sentando-se e cruzando as mãos sobre o balcão. "Acabei de encontrá-la aqui em frente. Estava com uma prima que veio de Metrópolis..."

"Lois Lane!", disse Lana, prontamente, acreditando que Clark não lembrava o nome dela. Confuso, ele assentiu. "Garota muito simpática, não?", perguntou ela, sorridente. "Espero ter a chance de conhecê-la bem...". Lana fez uma pausa e encarou Clark, para justificar seu comentário: "As pessoas da cidade grande são tão diferentes".

"Às vezes, não", disse Clark, levantando as sobrancelhas, não pensando, propriamente, em Lois Lane, mas se referindo, no seu íntimo, a Lex Luthor, que, por conta do fato de acumular uma fortuna e poder estar fazendo qualquer outra coisa longe de uma cidade tão enfastiante como Smallville, ainda assim, não parecia disposto a abrir mão de coisas simples, como a amizade que tinham e a generosidade com as pessoas que estavam à sua volta.

Lana se inclinou sobre o balcão, e encarando Clark, sussurrou, como se fosse um segredo:

"Na verdade, eu quis dizer que a cidade pode mudar as pessoas".

Tomando como crítica ao fato de que a sua ida para Metrópolis logo após o casamento de Lex Luthor com Helen Bryce e o acidente de carro que vitimou Martha e Jonathan, mudou seu jeito de ser em relação a ela, Clark preferiu omitir qualquer outra opinião, até que, para seu alívio, Pete chegou, e dando uma palmada no ombro do amigo, cumprimentou Lana e perguntou, sentando-se ao lado de Clark:

"A Chloe disse quanto tempo a prima dela vai ficar na cidade?"

Lana sorriu, compreendendo as intenções de Pete, mas disse que não sabia de nada. Limitou-se a dizer que sabia que ela estava em Smallville para fazer um trabalho da escola. Clark não escondeu o desconforto sobre o interesse de Pete, e disse:

"Acho que você não devia ficar dando em cima da prima da Chloe".

Lana e Pete se entreolharam:

"Por que não?!", perguntaram, quase simultaneamente.

Confuso, Clark tentou desconversar, mas acabou se complicando ainda mais:

"Bem, ela não parece ser o tipo de garota que vem de tão longe para uma aventura qualquer..."

Percebendo que havia algum interesse de Clark em Lois Lane, antes mesmo que Lana pudesse compreender, Pete disse, sorrindo:

"E quem disse que eu quero uma aventura? Com uma garota daquelas, eu até mesmo caso!"

Clark censurou o amigo com o olhar, mas depois de fitar Lana, vendo que ela podia ficar intrigada com o comentário, e compreendendo que Pete apenas fazia piada da situação, apenas brincou:

"Achei que você tinha dito que não era homem de uma só garota..."

"É... Mas eu nunca disse que não me casaria!", retrucou Pete, com um sorrisinho sarcástico no canto dos lábios.

Lana sorriu e colocando as palmas das mãos sobre a mesa, disse:

"Então, com licença, que eu tenho que atender alguns clientes que acabaram de chegar... Hoje, a Marie me deixou na mão!"

"De novo?", perguntou Pete, irônico, referindo-se à quarta falta ao serviço de uma das garçonetes do Talon.

"É... De novo!", confirmou Lana, sorrindo e caminhando em direcão a uma mesa perto da porta de entrada, com papel e caneta para anotar os pedidos.

Clark acompanhou com os olhos Lana se afastar. Ficou imaginando se ela teria ficado chateada com o comentário sobre a prima de Chloe. Mas Lana estava tranqüila. Aliás, parecia distante naqueles dias que se passavam. Era como se estivesse se concentrando para entrar num novo ritmo de vida.

Pete e Clark se olharam.

"Então eu não devia dar em cima da prima da Chloe?", perguntou Pete, em tom irônico, e rindo muito. "Por que não me disse lá fora que se interessou por ela?"

"Não sei do quê você está falando, Pete", desconversou Clark, olhando para os dedos cruzados sobre a mesa. Na verdade, ele sorriu. Era difícil enganar Pete, que já o conhecia há tantos anos. Realmente, havia alguma coisa que estava mexendo com Clark em relação à Lois Lane. Queria pelo menos saber como dizer para Pete. Era, simplesmente, inefável. Mas Clark sabia de alguém que talvez pudesse compreendê-lo.

Quando chegou na mansão Luthor, Lex estava acabando de chegar de Metrópolis no seu helicóptero particular. Carregando uma valise e falando ao celular, Lex apenas pôde cumprimentá-lo com um sorriso e acenou com os olhos para que ele o acompanhasse até o escritório.

"Assinamos o contrato na quinta-feira, então, Sr. Wayne", disse ele, referindo-se a um grande negócio para a LuthorCorp. "Tudo bem. Falamos mais tarde".

Depois que desligou o telefone, Lex se rendeu. Sentou-se atrás da mesa e mostrou sinais de muito cansaço. Eram dias intensos, e ele quis compartilhar com o amigo:

"Gotham City", disse ele. Clark ergueu as sobrancelhas, sem entender. "Vou fechar um negócio de mihões com a Wayne Industries, de Gotham City".

"Puxa", disse Clark, sempre alheio aos negócios de Lex. "Isso parece muito bom..."

Lex sorriu. Geralmente não entrava em detalhes sobre assuntos de negócios com Clark, por mais amigos que fossem e por mais que, às vezes, fosse inevitável. E a simples menção de que ele estava celebrando uma transação milionária, podia comprometê-lo, já que não confiava mais nem na sua própria cadeira. Olhou para a superfície da mesa e lembrou de dias atrás, quando procurava grampos por todo o escritório.

"Vai ser ótimo", respondeu ele, simplesmente. Depois de um sorriso e de se levantar para se servir de uma bebida, oferecendo alguma coisa para Clark, perguntou como estavam as coisas.

Clark encostou-se na cadeira, enquanto Lex voltava a se sentar à sua frente, afrouxando o colarinho.

"Sabe aquele problema que eu estava tendo com a Lana?", perguntou Clark, referindo-se ao fato dos dois terem se afastado bruscamente depois de um acidente que vitimou Lana, obrigando-a a se submeter a um tratamento fisioteráptico no Instituto Médico de Smallville.

"Que eu saiba, você sempre teve problemas com a Lana", corrigiu Lex, com um sorriso, enquanto bebia seu drink. Desde que chegou a Smallville e se tornou amigo de Clark, Lex sempre esteve à par dos seus problemas amorosos com Lana Lang.

Clark sorriu, concordando com o amigo.

"Acho que, finalmente, posso superá-lo...", disse, com uma convicção sobre o assunto, que Lex jamais viu. "De uma vez por todas", completou.

Lex ergueu a sobrancelha e colocou o copo sobre o aparador na mesa. Entrelaçou os dedos e com seu característico sorriso irônico disse:

"Isso provavelmente se deve a alguém que deve ter preenchido o lugar antes ocupado por Lana".

"Bem, na verdade...", disse Clark, um pouco sem jeito, "Depois das experiências que você teve, deve saber melhor do que eu. Portanto, aqui vai: quando você sabe que está realmente apaixonado?"

Lex ajeitou-se na cadeira e, visivelmente surpreso, disse:

"Puxa vida, Clark! Logo você vem me perguntar isso? Tantos anos envolvido num relacionamento conturbado com Lana Lang e não sabe como é quando está apaixonado?"

Clark balançou a cabeça.

"O que eu sinto por Lana vem de muito tempo, Lex. Eu a conheci quando éramos crianças e, em todos esses anos, nada mudou. Acho que eu sempre gostei dela".

Lex balançou a cabeça, como se estivesse compreendendo.

"Minha dúvida", continuou Clark, "é que eu não lembro como começou e, sinceramente, acho que alguma coisa está começando agora", disse ele, com um olhar cheio de dúvidas e expectativas. "E eu não sei o quê é", completou.

"É...", disse Lex, tocando as pontas dos dedos no copo sobre a mesa. "Isso é complicado. Pode me dizer, pelo menos, de quem estamos falando?", perguntou ele, referindo-se ao novo interesse amoroso do amigo.

"Você não a conhece", respondeu Clark. "Acabou de chegar na cidade".

"Amor à primeira vista, Clark?", perguntou Lex, em tom de comentário. Talvez, por suas próprias experiências e pelas do amigo, que sempre acreditou na índole das pessoas, sem ao menos conhecê-las direito, disse: "Tome cuidado. Nem tudo é o que parece".

Clark ficou pensativo. A primeira coisa que lhe vinha à mente era Alicia e o desastroso envolvimento com a garota que se tornou obsessiva ao extremo e quase matou Lana. Mas Lois Lane parecia inofensiva, pensou ele. E, além do mais, era diferente. Com Alicia, era o segredo que os havia unido, e ao mesmo tempo, destruído. Não havia sentimentos maiores. Clark encarou, então, Lex, que bebia seu drink, tranqüilamente. Lembrou dos últimos acontecimentos e o quanto o amigo havia sofrido. Realmente, nada mais podia esperar de uma pessoa tão desconfiada, e que tinha o próprio pai como inimigo implacável. Mas Clark acreditava na sua intuição, e que, ao contrário do que Lex pensava, nem todos tinham más intenções.

Continua...