LOIS LANE

Clark vai ao encontro do Dr. Virgil Swann para saber o quanto Lionel Luthor sabe a seu respeito e, ao voltar à Smallville descobre que pode ter perdido a chance de sua vida quando Lois Lane vai embora para Metrópolis.

Capítulo 7 - Partida

Nova York

"Eu fiquei imaginando quando você voltaria, Clark", disse o cientista, com sua voz calma e sem intensidade, detrás de uma mesa do seu laboratório.

Clark entrou cautelosamente, assim como da primeira vez. Parecia que havia sido há muito tempo atrás. Olhou à sua volta e tudo continuava a mesma coisa. Virgil Swann tinha o mesmo semblante de antes, mas parecia abatido e mais cansado. Imaginou que fosse por decorrência de suas recentes viagens pelo mundo, ministrando palestras em importantes congressos científicos, como diziam os artigos de jornais que Chloe lhe mostrara antes.

"Sente-se", disse, então, Swann, assim que o viu mais de perto.

"Na verdade, não tenho muito tempo", comentou Clark, que permanecia em pé. Para ele, muita coisa dependia daquele encontro. E saber até onde ia a curiosidade de Lionel Luthor a seu respeito era um fator determinante.

"Foi bom você ter vindo", disse o cientista, indiferente ao comentário de Clark. Sereno, ele parecia completamente alheio às suas preocupações. Virgil Swann era de uma calma absoluta. Sua tranqüilidade relaxou Clark de tal modo que este resolveu se sentar e ficar mais à vontade.

"Você conhece Lionel Luthor?", perguntou Clark, indo direto ao assunto.

"Fico mais tranqüilo sabendo que você já está à par da situação, Clark", disse o cientista depois de um tempo em silêncio, revelando estar ciente dos motivos que levaram Clark de volta ao seu encontro.

Clark ergueu as sobrancelhas, como sinal de surpresa, e perguntou:

"Então, você sabe porque eu vim?"

"Tenho-o visto em todas as últimas palestas que proferi", disse, referindo- se a Lionel Luthor, "e quando estive na Europa, há duas semanas atrás, soube que houve uma tentativa de arrombamento do meu laboratório", contou o centista, com sua tranqüilidade peculiar.

"E desconfia de Lionel Luthor?", perguntou Clark, referindo-se ao incidente do arrombamento, e curioso para saber onde a conversa chegaria.

"Você não tem com o quê se precupar", respondeu o Dr. Swann, encarando-o com firmeza, e antes que Clark dissesse qualquer coisa, ele continuou: "Tudo o quê você vê à nossa volta, nesse laboratório, são trabalhos de anos e ninguém mais tem acesso a eles. O sistema de segurança que desenvolvi aqui, é praticamente infalível".

Mas Clark ficou intrigado. Lionel era capaz de tudo. Não importava a barreira que estivesse à sua frente. E, se Virgil Swann tinha algum dado a respeito do seu segredo em qualquer parte daquele laboratório, mais dia, menos dia, de um jeito ou de outro, o pai de Lex teria acesso.

"Quanto ao que falamos da última vez que você esteve aqui, Clark", prosseguiu ele, movimentando a cadeira em direção a computador. "Todo o meu trabalho a respeito da existência de Krypton estava nessa máquina".

"Você disse que 'estava'?", perguntou Clark.

"Sim", respondeu. "O único motivo que me compelia a desistir de meus trabalhos a respeito de Krypton, era encontrá-lo" explicou. "Como isso eu já consegui, não havia mais razão para eu continuar a guardar qualquer informação sobre seu planeta natal, Clark, pois isso só interessa a você e ao que está reservado no seu futuro".

Clark se recostou à cadeira e, perplexo, esperou que o cientista prosseguisse:

"Depois que você esteve aqui, eu tive certeza de que ninguém mais podia ter conhecimento do que falamos naquele dia, para o seu bem e o de outras pessoas", explicou. "E sei que algo muito grandioso está reservado para você, Clark , e eu já fiz a minha parte, dando-lhe as informações adicionais sobre a sua origem".

"Não entendo", disse Clark, atordoado com a tamanha cumplicidade a que se sujeitava um cientista que, apesar de sua benevolência, podia continuar seus trabalhos sobre Krypton, principalmente depois de descobrir um sobrevivente da explosão do planeta. "Achei que fosse o trabalho de sua vida..."

"E é", respondeu ele, com um brilho nos olhos. "Mas já alcancei meu objetivo", disse, com um pequeno sorriso de satisfação no canto dos lábios. "Descobri 'o último filho de Krypton' e lhe dei as informações de que precisava para entender sua própria existência. E, agora que você já conhece a língua do seu planeta e sua exata localização, não preciso guardar mais nenhum informação a seu respeito. Tudo o mais que eu preciso saber, para ajudá-lo, está, agora, unicamente, na minha mente", esclareceu, confirmando, assim, que havia efetivamente apagado todas as informações que poderia ter sobre Krypton, seu dialeto, Clark e qualquer relação com a chuva de meteoros em Smallville.

Admirado, Clark continuou a ouvi-lo, atentamente:

"E se alguém como Lionel Luthor estiver interessado no seu segredo", prosseguiu o cientista, "no que depender de mim, ele jamais vai ter acesso a coisa alguma, pois não há mais qualquer evidência de tudo o quê falamos naquele dia".

Surpreso com a revelação e a lealdade do cientista no que dizia respeito a manter intacto seu segredo, Clark se sentiu de todo aliviado, até que Virgil Swann lhe fez uma ressalva:

"Contudo, Clark, tome cuidado, pois, se ele já sabe que eu tenho algumas informações a respeito do seu segredo, é porque ele já sabe mais do que deveria".

Mais tarde, no Rancho Kent:

"E foi isso que ele me disse", contou Clark aos pais, esclarecendo todo o teor da conversa que teve com o cientista naquela tarde, no sentido de que, de sua parte, Lionel não sabia nada a respeito de Krypton.

Martha e Jonathan, que estavam em pé, diante do filho, no meio da cozinha, ficaram emocionados e bastante perplexos com a benevolência do cientista, que abria mão de um árduo trabalho de anos, para salvar Clark. Jonathan abraçou a mulher e beijou-a na cabeça, em sinal de alívio pelo bem estar do filho, mesmo sabendo que ainda não era motivo para alívio.

"Agora, precisamos tomar cuidado com Lionel", disse ele. "Mais do que nunca".

Clark apoiou as mãos sobre a mesa. Concordava com o pai, mas havia mais uma coisa que o perturbava:

"E descobrir o quanto a prima de Chloe sabe a respeito dos interesses do Lionel", completou.

Quando Clark chegou ao Talon, Lana estava atendendo aguns fregueses. A casa estava cheia naquele final de tarde e ela se atrapalhava com os pedidos, na falta de garçonetes.

"Ei, Clark!", exclamou ela, com um sorriso, carregando diversos pratos vazios em direção à cozinha. Clark a esperou no balcão.

"Sabe da Chloe?", perguntou Clark, quando Lana voltou da cozinha. "Eu fui à casa dela, mas não havia ninguém, e tentei ligar no celular, mas não respondeu".

"Ela deve estar na rodoviária", respondeu Lana, pegando o caderno para anotar pedidos e indo em direção à uma mesa, enquanto Clark a acompanhava. "A prima dela resolveu ir embora hoje", explicou, antes de atender os fregueses recém-chegados.

"Sério?", perguntou Clark, desapontado e, ao mesmo tempo, preocupado. "Ela disse o porquê?"

"Não", respondeu Lana, sem dar muita atenção.

"Falamos depois, Lana", disse Clark, indo embora, apressado.

Lana, que não se surpreendia mais nem um pouco com o comportamento de Clark, apenas balançou a cabeça em sinal de reprovação às suas rápidas idas e vindas, e voltou ao trabalho.

Com a caminhote no pai, Clark dirigiu até a estação rodoviária de Smallville. Não sabia bem o quê o estava levando até lá. Se era descobrir o quanto Lois Lane sabia a respeito dos interesses de Lionel em Virgil Swann, e a que ponto isso o comprometia, ou vê-la mais uma vez.

No entanto, por mais que se preocupasse com a estória que Lois poderia estar pretendendo desenvolver em cima dos interesses de Lionel nos assuntos do cientista, ainda assim, Clark já não estava mais tão preocupado como antes. A conversa com o Dr. Swann o havia tranqüilizado, de certo modo. E, além do mais, acreditava que Chloe já podia ter descoberto até onde ia o conhecimento de Lois Lane acerca de todos aqueles fatos.

Chegando à rodoviária, Clark se descobriu em um turbilhão de pensamentos. Aquelas últimas horas havam mexido muito com ele. Sua mente e seu coração já não eram mais os mesmos. E, deixando-se sentir o que o seu coração queria que sentisse, mesmo em meio ao receio do perigo a que Lionel podia estar incorrendo na sua vida e na de sua família e amigos, Clark só conseguia pensar em ver Lois Lane uma vez mais. Acreditava que revê-la lhe daria uma certeza, e era como essa certeza pudesse fazê-lo descobrir aonde precisava chegar.

Quando estacionou o carro, porém, viu que o ônibus para Metrópolis já estava saindo. Ao avistar Chloe, parada, em frente à plataforma da saída do ônibus, Clark foi ao seu encontro. A amiga o percebeu, mas apenas sorriu, depois, deu os últimos acenos à prima, que surgiu na janela. E Clark se contentou apenas com aquela cena. Seu rosto, com um pequeno sorriso triste que só Chloe entendia, à luz do sol que se punha. O coração de Clark disparou ao ver aquela imagem. Aceitar aquele novo sentimento já não lhe parecia mais tão confuso como vinha sendo naquelas últimas vinte e quatro horas, e mesmo com todos aqueles acontecimentos turbulentos. E, enquanto o ônibus desaparecia no horizonte, no seu íntimo, Clark Kent sabia que voltaria a vê-la.

"E essa é Lois Lane", disse Chloe, cruzando os braços, sem tirar os olhos da estrada. "Ela chega do nada, causa a maior confusão, e depois vai embora", explicou, olhando para o amigo, que não encontrava palavras para descrever para si mesmo o quê sentia naquele instante.

"E então?", perguntou Clark, tentando desconversar, embora seus pensamentos ainda estivessem em Lois Lane. "Falou com ela?"

"Falei", respondeu Chloe, com um olhar perdido, lembrando da conversa que tiveram. "Ela realmente não lembra da agressão na estrada", disse, já recomposta, "mas já peguei o resultado da pesquisa da placa que você anotou. O Departamento de Trânsito do Kansas disse que o veículo foi roubado em Jefferson City e, hoje mesmo a polícia o encontrou abandonado na estrada para Greenville, sem qualquer evidência que pudesse levar ao ladrão".

"E sobre Lionel?", perguntou Clark.

"Na verdade, ela já escreveu o artigo", respondeu ela.

Alarmado, Clark arregalou os olhos.

"Mas eu ainda não o li", continuou Chloe, "e ela também não me contou o seu teor, embora eu já imagine o quê seja".

"O quê você acha que ela escreveu nesse artigo?", perguntou Clark, curioso e preocupado.

"Não sei, Clark. Na verdade, prefiro acreditar que Lois Lane é esperta o bastante para saber que pode correr perigo, como correu por aqui, se escrever tudo o que sabe", respondeu ela. "Mas ninguém poderá detê-la se quiser ir à fundo no assunto".

Clark ficou pensativo. Não sabia se devia se preocupar tanto com o teor do artigo que podia ser publicado, ou com o bem estar de Lois Lane em relação à possível reação negativa de Lionel Luthor.

"E era para ser apenas um trabalho de escola", comentou Chloe, com certa ironia ao lembrar da chegada da prima e os motivos que ela dizia ter para estar em Smallville. Na verdade, ainda não acreditava que Lois Lane conseguia ser mais ousada do que ela.

"Ela pode não saber de tudo como imaginávamos", continuou Chloe, "mas ela pode saber o suficiente para incomodar Lionel Luthor".

E ao ouvir isso, Clark soube que Lois Lane não pararia por ali, e que, mesmo dando apenas uma brecha para um ponto de discussão, causaria muitos transtornos pela frente. Não sabia se suas pretensões eram boas ou ruins, e se poderia ser o estopim para uma reviravolta que traria seu segredo à tona, algum dia. Sabia, porém, que ela estava à mercê de grandes riscos.

Uma semana depois, da sala do seu escritório em Metrópolis, Lionel Luthor lia uma reportagem, bastante curiosa, no Diário Planeta:

"Estaria Smallville causando algum efeito inusitado nas mentes dos nossos grandes empresários? - por Lois Lane, revisada por Catherine Grant

Há cerca de dois anos e meio, depois de muitos anos deixar a fábrica de fertilizantes, em Smallville, aos cuidados de administradores relapsos, o empresário de Metrópolis, Lionel Luthor, Presidente Fundador da LuthorCorp, grupo empresarial dona de um conglomerado de empresas e com participação em diversos negócios pelo país, surpreendeu ao decidir mandar seu filho, Alexander Luthor, para a pequena e desvanecida cidade do interior do Kansas para remediar a situação. Com o tempo, entre despedida em massa, e falta de verba para manter a fábrica em operação, o herdeiro da LuthorCorp se mostrou imbatível no quesito 'sobrevivência' em meio à Capital Mundial dos Meteoros.

Mas a pequena cidade do Kansas pode estar causando um efeito um tanto incomum no núcleo dos Luthor. Sabe-se que, recentemente, Lionel Luthor mandou internar o próprio filho no Hospital Psiquiátrico Belle Reve, depois que sua psiquiatra, a Dra. Claire Foster, foi encontrada morta. Como se não bastasse, Lex Luthor voltou ao comando dos negócios da família, em Smallville, poucas semanas depois do internamento, dizendo, seus médicos, que havia sido totalmente curado.

Recentemente, Lionel Luthor, que divide a atenção dos seus negócios pelo mundo com um interesse bastante peculiar no pequeno e praticamente insignificante investimento no estado do Kansas, também vêm demonstrando sinais de desvio de comportamento. Ao ser visto em importantes congressos e seminários sobre astronomia, parece estar mostrando denotado interesse a respeito do cientista premiado pelo Nobel, Dr. Virgil Swann, de NY. E, a menos que seu próximo investimento seja colonizar um planeta, parece ser poética sua pretensão de conhecer a fundo um universo de pesquisa do qual sempre esteve alheio, assim como, quando, há cerca de um ano e meio atrás, investiu milhões em projetos de pesquisa numa Caverna Indígena, em Smallville, abandonando a injeção de verbas num empenho que tinha por cunho a preservação cultural da região, sem qualquer justificativa plausível.

Pergunta-se: até onde a obsessão por um lugar tão esquecido pelo mundo, como Smallville, pode se tornar o fim culminante da mente brilhante de um grande empresário?"

Ao concluir a leitura, Lionel apenas sorriu.

Fim