Capítulo 12 - O Presente
Tenho evitado escrever neste diário o máximo que posso. O tempo todo que passo com Lily fico com medo que ela me peça pra ler novamente e desta vez não esteja brincando. Mas pra minha sorte ela realmente queria fazer apenas um teste e não voltou a tocar no assunto.
Essa semana conheci um menina chamada Emma Williams da Lufa-Lufa durante a aula de herbologia. A professora Sprout pediu para nos dividirmos em quartetos e ela pediu para se juntar a mim, Alice e Lily.
"Hoje vamos desempenhar uma tarefa extremamente trabalhosa e importante. Vamos trabalhar com mandrágoras. Alguém já ouviu delas?" - a professora Sprout perguntou a classe.
"Eu já professora. As mandrágoras são parte essencial da maioria dos antídotos" - Alice respondeu.
"Corretamente, Sra. Satins. Dez pontos para Grifinória. Mas as mandrágoras também podem ser muito perigosas. Alguém sabe dizer o por quê?" – Alice com certeza sabe.
"Por causa do seu grito, que é mortal" - dessa vez foi o Remo quem respondeu e assim que ele acabou de falar Emma soltou um suspiro.
"Exatamente Sr. Lupin. Mais dez pontos para Grifinória. Hoje nós aprenderemos como reenvasar mandrágoras. Quero que cada um de vocês apanhe um abafador de ouvido e o coloque assim que eu der o sinal. Todos entenderam?" – Não é tão difícil como parece.
Todos responderam sim. Depois que cada um colocou o seu abafador, a professora tirou uma mandrágora, puxando-a e recolocando num vaso. Depois fez sinal para os alunos retirarem os abafadores.
"As mandrágoras ainda são muito jovens por isso seu grito não é muito forte. Quero que cada um de vocês pegue uma mandrágora do tabuleiro e a coloque no vaso. Cuidado para não esquecerem os abafadores" - concluiu a professora.
Todos estavam tentando cumprir suas tarefas. Todos menos Black e Potter. Eles tiravam as mandrágoras do tabuleiro e ficavam brincando com elas, colocando o dedo na boca das plantas e tirando na hora que elas se preparavam para mordê-los. Eu achava graça em tudo, quando reparei que a Emma não tirava os olhos nem por um minuto dos marotos. Lily também percebeu a desatenção da lufa-lufa e a "trouxe a realidade" antes que uma mandrágora comesse uma mecha de seus cabelos.
No fim da aula, a professora Sprout pediu que fizéssemos um relatório sobre as propriedades das mandrágoras. Foi quando Emma começou a "tagarelar"
"Eles não são o máximo?"
"Quem?" - Lily perguntou, mas já sabia o que ela ia responder.
"Aquele quarteto, como é que eles se intitulam mesmo?" – E vem a fúria da Senhorita Evans.
"Marotos" - respondi de muito mau humor.
"Isso mesmo. Ah, o que eu não daria pra sair com um deles. O Potter é tão charmoso com aquele cabelo todo atrapalhado, e o Lupin então, tem um rosto angelical, parece ser muito carinhoso, e o Black então, o colírio de qualquer garota" – stress total da Lily. E crise interna de ciúmes da minha parte.
"Pra mim não passa de um bando de palhaços" - Lily respondeu, de muito mau humor.
"Ah Evans, você está com inveja porque eles são os garotos mais desejados de toda a escola e provavelmente nenhum deu bola pra você, não é mesmo?" – péssima colocação, Emma. Acabou de ganhar uma inimiga.
"Prefiro sair com um lobisomem a ter que sair com um deles" - Lily disse com raiva e saiu em direção ao castelo. Alice a seguiu. Eu fiz menção de fazer o mesmo, mas Emma me deteve.
"Montanes, você acha que um deles sairia comigo?" – eu não acredito que ela esteja me perguntando isso.
"Por que você não pergunta pra eles?"
"Bom, achei que... como você é da mesma casa que eles, poderia me ajudar" – Idéia idiota. Eu ajudá-la a sair com Sirius? Joguem uma pedra na minha cabeça.
"Infelizmente não dá. Eu não tenho nenhuma amizade com eles" - eu disse e saí na mesma hora.
Quem essa garota pensa que é? Onde já se viu, me pedindo ajuda pra sair com um dos marotos... pra sair com Sirius Black? Se nem eu consigo sair com ele, vou ser maluca de tentar ajudar outra garota?
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Estava estudando com Lily e Alice para Defesa Contra a Arte das Trevas. O professor Frederic Prewett não estava nos dando folga. Tínhamos que escrever dois rolos de pergaminho sobre trasgos. Bom, eu consigo falar tudo sobre trasgos em uma linha: não servem pra nada. Isso era uma tremenda chatice.
Por fim, vencidas pelo cansaço, resolvemos parar e terminar amanhã. Digo, eu e Alice deixamos pra terminar amanhã porque a Lily já tinha terminado e ia apenas "revisar" como ela mesma havia dito. Estávamos subindo quando o Potter me chamou e pediu pra falar comigo. Lily me lançou aquele olhar de "Vindo do Potter, boa coisa não pode ser", mas como eu não sou sem educação achei melhor ver o que ele queria enquanto as duas subiam para o dormitório.
"Sim Potter, o que você quer?" – perguntei sem o menor interesse.
"Senta aqui com a gente, Pê" - Em primeiro lugar que história é essa do Potter me chamando de Pê novamente? Desde quando eu dei intimidade pra ele me chamar assim? E o Sirius também não gostou nada dele ter me chamado assim e se já estava bravo por eu ter gritado com ele no trem, agora estava uma fera! E em segundo lugar, ele me chamou só pra pedir pra sentar com eles? Sinceramente tenho mais o que fazer (dormir, por exemplo, estou morta de cansaço!).
"Era só isso?" – perguntei entre um bocejo e outro.
"Pê, dá pra você sentar! Eu quero conversar com você!" – alguém já disse que ele é insistente?
"Você já está conversando, Potter! Eu acho que não preciso me sentar para conversar com você!" – respondi. Estava começando a ficar irritar. Em condições normais eu já ficaria. Com sono então, nem se fala.
"Meu caro, amigo Almofadinhas, você tem razão quando diz que a Pê é muito complicada" - Então Sirius me achava complicada? Ele deu um sorrisinho e preferiu nem olhar pra minha cara, o que foi bom porque eu estava espumando de raiva.
"Pronto, Potter" - disse me sentando do lado dele – "eu já sentei. Agora você pode falar o que tem de tão importante pra me dizer?"
"Na verdade..." - ele começou e passou o braço pelo meu pescoço – "... eu não quero falar nada."
"Então você quer me fazer de palhaça?" - disse retirando o braço dele do meu pescoço.
"Não! Eu quero te dar uma coisa!"
"Uma coisa. Que coisa?" – Como diria Lily, boa coisa não devia ser.
"Isto" - Potter disse no mesmo instante que me dava um embrulho retangular. – "Abra e veja se você gosta!"
Eu não tinha a menor vontade de abrir aquele embrulho. Sirius evitava me olhar. Remo me olhava com uma cara que misturava ansiedade com apreensão e Pettiggrew com um sorrisinho de expectativa. Potter me olhava com aquele sorriso maroto. Aquele mesmo que o Sirius dava quando queria impressionar. Por fim decidi abrir logo o embrulho. Era um livro.
"Quadribol Através dos Séculos... parece interessante. Por que o presente Potter?"
"Bom, no ano passado você mencionou uma vez que tinha lido Hogwarts - Uma História. Então eu pensei que somente alguém que gostasse de ler teria lido esse livro. Depois o meu amigo Al... – ele parou de falar ao se dar conta do que iria dizer. E que eu não fazia idéia do que era - Remo disse que você tem crise de insônia às vezes. E pra completar no torneio de quadribol do ano passado você ficou me fazendo um monte de perguntas a respeito de quadribol. Então eu resolvi te dar um presente que te ajudasse na tua insônia, que te desse conhecimento sobre quadribol e que também fosse algo pra você se distrair."
Apesar de eu não entender o por quê do Potter estar querendo me agradar, mas o fato é que os argumentos dele eram fortes. Eu realmente tenho muitas crises de insônia (Apesar de terem diminuído bastante depois que entrei pra Hogwarts) e também adoro ler, mas nem a Lily me dava presente fora das datas comemorativas, então por que o Potter?
"Obrigada Potter, mas por que está me dando isso?" – alguém conhece o ditado quando a esmola é demais o santo desconfia?
"Como por que? Eu não acabei de dizer que... "
"Sim, mas não é meu aniversário, nem natal, então eu não vejo um motivo pra você estar me dando esse presente" – alguém já ouviu falar em segundas intenções?
"Ah Pê... eu só estou querendo ser simpático com você" - Por que essa frase dele me deixou tão irritada? Eu olhei pro Remo pedindo ajuda, mas a cara que ele fez dizia "faça o que achar melhor".
"Se é assim, então obrigada Potter! Agora se me dão licença, eu vou dormir."
"Ah Pê... só mais uma coisa!"
"Sim Potter..." – respondi sonolenta.
"É que amanhã, eu e Sirius vamos fazer teste pro time de quadribol de Grifinória. Você podia ir lá assistir!"
"Ok, eu vou" - É eu sei que deveria ter dito não, ou vou pensar, mas estava tão cansada e doida pra sair de perto do Black que não parava de agir como se eu não existisse, que achei melhor dizer que eu iria, assim o Potter me deixaria em paz.
Assim que cheguei no dormitório, Lily estava sentada na minha cama me esperando chegar. Por uma fração de segundos eu achei que ela pudesse ter dado uma olhada no meu diário, pois a sua expressão era de quem estava muito zangada!
"Perla, por que você age dessa maneira?"
"Como assim?" – lá vem sessão sermão.
"Você faz tudo o que os marotos te mandam fazer, na hora que eles te mandam fazer!"
"Não é bem assim" - eu disse enquanto tentava esconder o livro que o Potter me deu, mas Lily o viu.
"O que é isso que você tem aí?"
"É só um livro, Lily" – respondi mostrando o livro pra ela.
"E onde foi que você arrumou esse livro? Na biblioteca é que não foi!" – preparação para a bomba.
"O Potter me deu" - Porque eu não pensei em uma desculpa qualquer como "O Lupin me emprestou" ou "Eu pedi emprestado pro Potter". Lily foi ficando roxa até explodir e acordar as outras meninas!
"EU NÃO ACREDITO NISSO, PERLA! VOCÊ TÁ SE VENDENDO PRO POTTER! ONDE ESTÁ O SEU JUÍZO? ENLOUQUECEU DE VEZ? SÓ FALTA ME DIZER AGORA QUE TAMBÉM VAI SAIR COM ELE! COMO PODE SER TÃO OFERECIDA?
Eu juro que não pensei depois que a Lily terminou de falar. Já com lágrimas nos olhos eu peguei o maldito livro e joguei nela acertando seu braço. Depois saí dali o mais rápido possível. Na sala comunal, só os marotos estavam presentes. Eu não conseguiria ficar ali, porque a Lily podia descer e continuar a briga lá embaixo e também não queria dizer para os garotos o que tinha acontecido. Saí as pressas da sala comunal, mais ainda a tempo de ouvir a voz do Potter perguntando "O que houve, Pê?". Corri o máximo que eu pude. Não me importava se eu fosse pega pelo Filch ou Madame Nor-r-a! Tudo que eu queria era ficar o mais longe possível de todos.
Por sorte cheguei ao jardim sem encontrar ninguém, nem ao menos um dos fantasmas. Me sentei em frente ao lago e chorei ainda mais. Não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo. Em doze anos eu nunca tinha brigado uma vez sequer com Lily, nem mesmo uma dessas briguinhas bobas que toda amiga tem. Mas desde que tínhamos começado Hogwarts e que ela tinha escolhido justamente os marotos pra odiar, nossa amizade nunca mais foi a mesma.
Passei algum tempo olhando pro lago e deixando as lágrimas escorrerem quando uma mão tocou meu ombro. Por um instante pensei que seria Lily me pedindo desculpas. Mas quando me virei dei de cara com Remo.
"Remo" - eu disse e o abracei com todas as forças que eu possuía naquele momento.
"Calma, está tudo bem" - ele disse e me soltou do abraço – "você quer conversar sobre o que aconteceu?"
"A Lily" - comecei e contei pra ele tudo o que tinha acontecido depois que eu tinha saído da sala comunal.
"Perla, eu não sei se você fez bem em aceitar o presente do Tiago"
"Quer saber Remo, eu também acho. Sabe, eu não sei o que tem acontecido comigo, mas tenho me sentido perdida desde que vim para Hogwarts. Quer dizer, no colégio que eu e a Lily estudávamos juntas, eu era a garota mais popular da escola e a Lily a mais inteligente. Aí eu venho pra cá e Lily continua sendo a mais inteligente junto com vocês e eu? Você e os meninos são os mais populares daqui. O que eu sou afinal nessa escola? Não sei droga nenhuma, não tenho nenhum parente bruxo, e quando tento ser agradável com todo mundo como eu sempre fui, acabo levando a pior. Então me diz o que eu tenho que fazer?"
"Perla, não são a popularidade e a inteligência que vão te fazer feliz. Você diz que eu sou inteligente e popular, mas eu te digo a coisa que tenho que mais importa pra mim são meus amigos. São pessoas que estão o tempo todo comigo, seja num momento bom, seja num momento ruim. É você tem uma coisa que muitas pessoas não tem. Você tem uma grande amiga! Sabe, já ouvi o Sirius falando que queria ter um amigo que ele conhecesse desde pequeno e que ainda fossem grandes amigos."
"Nesse ponto você está certo. Mas minha amizade com a Lily não tem sido a mesma desde que viemos pra cá.
"E você acha que isso é por sua causa ou por causa dela?" – pergunta que me deixou muito confusa.
"Ah Remo. A Lily está sempre implicando comigo, dizendo que eu tenho que parar de agir como se eu ainda fosse a garotinha popular da escola. Que aqui as pessoas não vão te tratar bem se você for simpática com elas e que se eu não correr atrás nas matérias vou me dar mal" – resposta que não tem nada a ver com a pergunta dele. Confesso. Tentei fugir da pergunta dele.
"E você acha que ela esteja errada?" – ele perguntou. Acho que ele percebeu minha fuga.
"Não, mas... ela desenvolveu uma antipatia muito grande por você e pelos outros marotos. E ela acha que por ela não gostar de vocês eu também não posso gostar! O que ela quer que eu faça? Que deixe de ser amiga de vocês?"
"Eu esperaria isso se fosse ela" - meu queixo caiu. Remo Lupin estava me dizendo que concordava concordando com a Lily? Ele queria que eu não fosse sua amiga? – "Afinal de contas, você já era amiga dela antes de nos conhecermos".
"Você está querendo dizer então que eu devia parar de falar com vocês pra atender um capricho da Lily?" – Sim, pra mim não passava de um capricho.
"Não disse isso. Eu acho que você devia dar mais atenção a ela e tentar mostrar de uma forma amigável que não somos pessoas tão ruins quanto possa parecer!"
"E você acha que isso seria possível?" – Com Lílian Evans? Mais fácil um trasgo falar.
"Perla, você não confia na Lílian? Não são sinceras uma com a outra?"
"Não tenho sido tão sincera com a Lily ultimamente" – Não acredito que confessei isso.
"Então acho que você devia pensar nisso. Como espera que a Lílian acredite em você se você não está mais sendo sincera com ela?" – sábio conselho.
Remo tinha razão. Afinal, eu tinha me importado muito mais em não desagradar os marotos do que em não desagradar minha melhor amiga. Mas como eu poderia ser sincera com ela? Se eu contasse que gosto do Black, ela ficaria uma fera e se não contasse jamais a convenceria a mudar de opinião em relação aos marotos.
"Perla, pensa com carinho e cuidado em tudo que eu te falei e depois toma a decisão que você achar melhor".
"Remo você é um grande amigo sabia. Os marotos têm sorte de ter você como um amigo."
"Nesse caso você também tem sorte. E eu também tenho sorte de ter amigos como Sirius, Tiago, Pedro e você".
Ás vezes eu paro e penso "Por que não me apaixonei pelo Remo?". Ele é tão carinhoso, dócil, amigo, parece um anjo que caiu do céu e veio me ajudar na Terra.
"Remo, o que eu faria se não fosse você!" – eu o abracei novamente.
"Não sei, mas é melhor nós entrarmos antes que alguém nos pegue aqui fora." – Boa. Mas como fazer isso, senhor sabe tudo?
"E como acha que vamos chegar a torre de Grifinória sem ninguém nos pegar dentro do castelo?"
"Isso você deixa comigo" - e Lupin me mostrou uma capa que ele trouxera e que eu não tinha reparado até então – "é uma capa da invisibilidade"!
"Você é cheio de surpresa, Remo!"
"Na verdade a capa é do Tiago. Ele me emprestou pra eu vir te buscar. Vamos, é melhor nos apressarmos."
E juntos eu e Remo entramos no castelo abraçados escondidos debaixo da capa da invisibilidade. E por um instante, me senti completamente em paz.
N/A: Mais um capítulo que eu dedico pra Anninha, a grande responsável pelo andamento da fic.
