Capítulo 15 - Alguém tem que Ceder
Não tenho palavras para expressar a felicidade que tenho sentido nesses últimos dias. Voltar a conversar com a Lily era um dos maiores presentes que eu poderia ter ganhado. Acho que só me sentiria mais feliz se o Black aparecesse na minha frente e dissesse que gosta de mim (eu sei, estou querendo o impossível, não é mesmo? Não custa sonhar!).
Os boatos sobre a minha "possível paixão" pelo Potter não terminaram, mas diminuíram muito, já que eu agora andava com a maior cara de felicidade para cima e para baixo. O mesmo não aconteceu com a Annie, a namorada dele, que vivia emburrada e constantemente de mau humor (provavelmente o namoradinho não estava mais lhe dando tanta atenção).
Black não voltara a falar comigo. Parecia que a cada dia que passava ele sentia mais ódio de mim. Não acredito que ele esteja agindo dessa maneira comigo por eu ter gritado com ele no trem. Não, tinha que ter mais alguma coisa. Alguma coisa que eu tenha feito ou dito que não consigo me lembrar.
O fato é que fui descobrir o motivo hoje à tarde quando estava estudando na biblioteca. E não poderia ser mais surpreendente saber a verdade.
"Oi Perla" - Remo me tirou de meus pensamentos sobre o que eu poderia ter feito ao Black.
"Oi Remo!" – o sumido resolveu aparecer.
"Estudando muito?" - A voz dele soava tão doce, tão penetrante... como uma garota é capaz de não se apaixonar por ele?
"Ah, não" - respondi desanimada – "Eu tenho que fazer aquela maldita redação sobre as propriedades da Pedra da Lua que o professor Canterbury pediu. Lily e Alice já fizeram a delas, então estou tendo que me virar sozinha."
"E onde elas estão?" – Se não estão comigo, na biblioteca, o lugar favorito da senhorita Evans, onde mais elas poderiam estar?
"Foram visitar o Hagrid. E você o que faz por aqui? Onde estão os seus amiguinhos" - perguntei tentando disfarçar a minha curiosidade mortal de saber por onde andava o Black.
"Tiago e Sirius estão no treino de quadribol, o Pedro deve estar comendo em algum lugar e eu vim pensar um pouco."
"Pensar? Aqui na biblioteca?" - O Remo era tão cheio de surpresas.
"É, bem aqui é o lugar mais tranqüilo do castelo, então quando quero ficar sozinho e pensar eu venho pra cá" – Só ele mesmo. Vir pra biblioteca pra pensar!
"Ah! Então é aqui que você tem se escondido" - Remo riu. Alguma vez eu já disse que ele tem um sorriso maravilhoso? Tá, é um sorriso parecido com o do Black e com o do Potter quando estavam tramando alguma. Aquele sorriso maroto, absolutamente encantador!
"Como assim me escondido?" – ele perguntou, tentando disfarçar.
"Você sumiu por uma semana inteira. Não pense que eu não reparei" - mais uma vez ele sorriu. Sabe, se a gente pudesse controlar nossas emoções eu juro que teria me apaixonado por ele. O Remo é tão... encantador – "Não estava nas aulas, não estava no jogo de quadribol e nem na sala comunal."
"É que eu tive que viajar" - ele respondeu meio que na incerteza se deveria ter me dito isso. Eu senti que por algum motivo que eu desconhecia, ele não estava sendo totalmente sincero - "Problemas de família, sabe como é!"
"Se você está dizendo..." – Quem sou eu pra duvidar.
"Ah, e fico feliz que você e a Lílian tenham voltado a se falar" – Tive a ligeira sensação de que ele estava tentando mudar de assunto – "Ainda bem que vocês fizeram as pazes. Não agüentava mais ver você de triste pelos cantos".
"Então você sabia que eu andava triste pelos cantos por causa da minha briga com a Lily?" - perguntei com um pouco de descrença. A escola toda imaginava que o motivo era outro.
"Claro que sabia" - Remo parecia não ter entendido bem a minha pergunta. – "Bom você me disse aquele dia à noite que vocês brigaram..."
"É engraçado" - respondi com aspereza – "porque a escola inteira achava que eu estava triste porque o Potter estava namorando a Annie e que eu estava morrendo de ciúmes! E justamente você, que é o melhor amigo dele me diz que sabia que eu andava triste por causa da minha melhor amiga?"
"Perla, eu pensei que eu também fosse o seu melhor amigo" - Remo falou de um jeito triste, que me partiu o coração – "Em todo caso, eu falei centenas de vezes pro Tiago e pra quem me perguntasse que você estava triste por causa dela e não dele . Até o Sirius achava isso antes dele perder a aposta..."
"Desculpa Remo. É claro que você é o meu melhor amigo" - respondi, mas o Remo não se convenceu muito porque apenas deu um sorrisinho forçado – "Eu juro, acredito em... PERAÍ...!"
Madame Pince fez sinal para mim pra que eu falasse baixo já que eu estava numa biblioteca e aquele definitivamente não era o lugar ideal para um grito.
"Que história é essa de aposta?" - continuei.
"Aposta?" – Ele fingiu uma surpresa.
"REMO LUPIN" - comecei a falar alto, mas Madame Pince me repreendeu mais uma vez – "você acabou de falar que o Sirius também falava que eu estava triste por causa da Lily até perder a aposta... que raios de aposta é essa?"
"Perla, eu gostaria de te contar, mas não posso! Promessa" - Ele respondeu, mas pela minha cara de raiva, ele logo percebeu que se não me contasse, eu seria capaz de jogar o meu exemplar de "Bebidas e Poções mágicas" na cabeça dele – "Olha, eu te conto! Mas você vai ter que prometer que não vai contar a ninguém o que eu te disser".
"Tudo que você quiser!" – respondi aliviada por ele me contar.
"Posso perder meus amigos por estar te contando." – Um suspiro que partiu novamente meu coração - "Bom, o fato é que desde que voltamos pra Hogwarts, Tiago vem dizendo para todo mundo que você gostava dele. Eu e Sirius não estávamos acreditando. Então o Tiago falou que ia provar."
"Como ele poderia provar algo que simplesmente era... impossível?" – minha cara de espanto foi pequena perto da que eu fiz ao escutar a resposta.
"Tiago te deu aquele livro de quadribol e você aceitou. Ele apostou com o Sirius que se você fosse ao treino de quadribol depois de ter brigado com a Lily era porque você gostava dele já que iria mesmo brigada com a sua melhor amiga! E que depois que você conhecesse a namorada dele no treino, você ia ficar muito deprimida! Sirius apostou que depois dessa briga você não ia mais falar com a gente e não ia dar a mínima em saber que o Tiago estava namorando." – Teoria do absurdo. Alguém conhece? – "Acontece que você foi ao treino e logo depois ficou deprimida".
"Mas eu estava assim por causa da Lily" - disse com raiva, muita raiva.
"Eu sei, Perla, porque eu tinha conversado com você na noite que vocês brigaram. Mas Sirius não. Ele acabou aceitando ter perdido a aposta para o Tiago, o que o deixou com raiva de você por ter perdido a coisa de que ele mais gostava."
"E qual era a coisa de que ele mais gostava?" - será que? Por um instante acreditei na possibilidade do Sirius gostar de mim. Mera ilusão.
"Eles apostaram a Comet do Sirius". – Ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia para ser a coisa que Sirius mais gostava.
"A o quê?" – perguntei confusa.
"Você não leu o livro que o Tiago te deu?"
"Não" - Pra falar a verdade, agora que o Remo tinha falado nele eu nem lembrava onde ele estava. – "mas o que é..."
"Uma vassoura. Sirius juntou dinheiro por desde que entrou em Hogwarts pra comprar essa vassoura esse ano e a apostou com o Tiago... e perdeu!" – Que tipo de pessoa aposta uma vassoura? O tipo que você ama, sua maluca!
"Sirius perdeu a vassoura dele?"
"Que milagre você o chamando de Sirius" - Remo falou ironicamente, mas eu não conseguia mais pensar em nada.
Afinal, era esse o motivo pelo qual ele estava me tratando tão mal. Por minha causa eu fiz ele perder uma das coisas de que mais gostava! Mesmo que fosse uma... vassoura.
"Desculpa Remo, eu tenho que ir" - e saí apressada da biblioteca deixando Remo sem entender nada do que se passava na minha cabeça. Nem eu mesma entendia.
Corri para o dormitório o mais rápido que consegui. Comecei a revirar o quarto inteiro. Tirei todas as minhas coisas do malão. Joguei todos os meus livros no chão. Lily e Alice chegaram e não entenderam nada do que estava acontecendo.
"Perla, cadê o furacão que passou aqui?" - Alice perguntou rindo.
"Lily" - perguntei – "onde está aquele livro que o Potter me deu?"
"Ah, aquele que você jogou em cima de mim e que quase quebrou meu nariz?" – Ela disse de brincadeira.
"Esse mesmo." – Como queria quebrar o nariz do Potter com ele.
"Posso saber o que você quer com ele?" – Respostas primeiro, explicações depois.
"Lily, me diz onde está e depois eu explico!"
"Está aqui" - disse Lily, abrindo a gaveta da mesa de cabeceira e tirando o livro de lá. – "Será que você pode..."
"Depois Lily, depois" – respondi saindo apressada do quarto.
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Dois dias se passaram desde o dia que Remo havia me contado sobre a aposta. Black continuava sem falar comigo e Potter ficava me dando sorrisinhos insinuadores que eu fingia não ver.
Estávamos hoje no café da manhã quando o habitual correio-coruja chegou. Diversas corujas entraram pelo salão principal entregando suas encomendas aos seus respectivos donos. Mas hoje todos estavam mais preocupados em saber a quem pertencia uma encomenda trazida por quatro corujas. As corujas passaram pelo salão principal despertando o interesse de todos e foram pousar na mesa da Grifinória, na frente de ninguém menos que Sirius Black.
Eu, Alice e Lily estávamos sentadas um pouco distante dos marotos, mas mesmo assim dava pra ouvir sua conversa. Sirius se assustou quando as corujas lhe entregaram a encomenda e depois de passados alguns segundos de espanto, ele resolveu abrir o pacote que elas deixaram. E o que ele viu o deixou impressionado. Não só ele, mas como todos que olharam se assustaram. Sirius Black acabara de ganhar uma vassoura.
"Cara, essa é o novo modelo da Cleansweep. Saiu no mês passado" - Pettigrew falou com empolgação!
"Almofadinhas, quem foi o louco que te deu essa vassoura?" - Potter perguntou com inveja e espanto.
"Não faço a menor idéia" - Sirius olhava a vassoura com descrença. Parecia não conseguir acreditar que alguém pudesse lhe dar o novo modelo da Cleansweep.
"Será que foi a sua mãe?" - Pettigrew arriscou
"Pirou? Minha mãe nunca me daria um presente desses... ninguém da minha família me daria uma vassoura qualquer de presente, ainda mais sabendo que eu já tenho uma. Ou melhor, tinha" - Sirius corrigiu ao se lembrar que tinha perdido sua vassoura.
"Peraí Sirius, tem um cartão" - Remo pegou um cartão que estava no meio do embrulho da vassoura e que havia passado despercebido por Sirius.
"Deixa eu ver" - Sirius pegou o cartão da mão do Remo e leu em voz alta - "Espero que seja de grande serventia pra você! Não está assinado!"
"Deve ter sido uma das suas fãs" - Pettigrew arriscou outra vez entre uma mordida em sua torrada.
"Rabicho, sabe quanto custa uma vassoura dessas?"
Eu estava prestando atenção na conversa dos marotos, mas depois Lily me chamou e nós resolvemos ir para a aula, que já estava quase na hora.
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À noite, mais uma vez minha crise de insônia não me deixou em paz. Depois de muito tentar dormir, resolvi descer para a sala comunal para estudar um pouco. Desci as escadas sem fazer barulho para não acordar ninguém. Sentei na poltrona perto da lareira que ainda estava acesa e deixava um pouco da sala iluminada e comecei a ler o meu livro de Feitiços. Não haviam se passado nem cinco minutos que eu estava lendo, quando os marotos entraram na sala comunal. Potter veio andando em minha direção.
"Ei Pê! Acordada até essa hora?" – ele veio todo cheio de sorrisos. E eu precisava fazer alguma coisa.
"Potter! Você era justamente quem eu estava precisando ver " - respondi secamente.
"Ah Pê... que isso! Desse jeito fico envergonhado!" – pois ele vai realmente ficar.
"Pois é bom ficar mesmo. Em primeiro lugar, nunca mais me chame de Pê. Eu não te dei essa intimidade. Em segundo lugar, a próxima vez que eu ouvir que você anda espalhando boatos por aí que eu gosto de você, você vai precisar de mais do que duas vassouras pra se defender de mim" - Respondi me segurando pra não avançar nele.
"Pê...errla... de que você está falando?" - Ele perguntou e deu aquele sorriso maroto que sempre usava pra escapar de situações como essa. O que ele não esperava era que o sorriso dele não tinha o menor efeito em mim.
"Você sabe do que eu estou falando. Eu prefiro gostar de um trasgo a gostar de você. E pode ter certeza de que se algum dia eu gostar de você podem me internar no St Mungus, porque eu vou estar completamente MALUCA! – Os outros três marotos me encaravam, espantados com as minhas palavras – "E é melhor você sair da minha frente antes que eu acabe com você agora mesmo."
Potter se assustou dessa vez. Tentou disfarçar passando a mão nos cabelos, daquele jeito que ele fazia pra deixá-los bagunçados. E vendo que isso não estava mudando a minha opinião, pelo contrário, estava me deixando com mais raiva ainda, ele preferiu subir antes que eu o enforcasse.
Assim que o Potter subiu, sem dizer uma palavra, Pettigrew acompanhou e Remo fez o mesmo um minuto depois. Eu continuava sentada com o meu livro na mão sem consegui prestar atenção no que estava escrito. Black se aproximou.
"Perla, obrigado pela vassoura!" – ele disse de um jeito carinhoso.
"Ahn?" - Despertei do meu momento de inconsciência – "Que vassoura?"
"A que chegou pra mim hoje de manhã!" – ele respondeu, sentando ao meu lado.
"E porque você acha que fui eu quem te mandou essa vassoura?" – coração acelerado, respiração dificultada.
"Porque..." - Sirius começou e foi quando eu percebi que depois de meses Sirius estava falando comigo novamente – "porque fora os meninos você era a única que sabia que eu perdi minha vassoura pro Tiago."
"E quem disse que eu sabia?" – E quem disse que eu iria resistir por muito tempo?
"REMO"
"AHN" - Fiquei sem resposta. Não conseguiria mentir pro Black, ainda mais com ele tão perto de mim e falando comigo. Não ouvia aquela voz há tempos!
"Por que você fez isso?" – Por que eu gosto de você! Vontade de dizer isso deu, mas não era o momento pra isso.
"Bom, porque..." - comecei a responder, mas sem saber o que dizer. Apesar de estar falando comigo o Black não parecia muito feliz em saber que eu havia lhe dado a vassoura – "porque, bem o Remo me contou da aposta e como eu não acho que você a tenha perdido, e como também sei que é muito difícil convencer o Potter de que ele havia perdido a aposta pra ele devolver a sua vassoura, eu achei que era justo se eu te recompensasse de algum jeito já que você perdeu o que mais gostava (palavras do Remo) por minha causa."
Sirius riu. Eu não conseguia imaginar o que se passava na cabeça dele. Tinha medo de qual seria a sua reação. Ele me olhou por um tempo e depois disse.
"Sabe, eu não sei se você estava tentando me comprar pra me fazer voltar a falar com você" - ele começou e eu fiz uma cara de indignação e tentei me defender quando ele falou a frase "me comprar", mas ele fez sinal para que eu o esperasse terminar de falar – "mas se essa foi a sua intenção, então eu quero dizer que eu aceito ser comprado e que eu te devo desculpas por ter duvidado de você e ter te julgado mal!"
Não consigo acreditar! Sirius Black havia dito essas palavras ou a minha imaginação inventou tudo? Minha vontade era de agarrá-lo e dizer que SEMPRE gostei dele e não do Potter. Mas eu tive que me conter!
"Não precisa pedir desculpas. Sabe, você teve toda razão pra duvidar de mim. Eu fui uma burra de entrar no jogo do Potter. Espero que você possa me desculpar por ter te feito perder a vassoura!"
"Tá maluca? Você já está mais do que perdoada! A vassoura que você me deu é 10 vezes melhor do que a que eu tinha! Como você conseguiu comprá-la?"
"Bem, essa foi a tarefa difícil. Eu mandei uma carta a mamãe pedindo dinheiro, disse que tinha estragado a sua vassoura e que agora precisava te dar uma nova. Ela não gosta de receber cartas por corujas, sabe, não está acostumada. Mas aí ela pediu pro pai da Lily ir no Beco Diagonal, pra ele comprar uma vassoura nova e mandar entregar aqui. Mamãe acha que quando a gente estraga alguma coisa de alguém, tem que dar algo melhor no lugar. Então ela mandou o Sr. Evans comprar a melhor vassoura que tinha, que ela pagava.
"Uau! Que sorte a minha então ter perdido a minha vassoura por sua causa e que sorte que a sua mãe pensa assim. E ela não brigou com você por causa do dinheiro que ela gastou na vassoura?"
"Ah não, que isso. Só disse que eu não ganho mais nada até me formar" - Sirius riu mais uma vez. Mas dessa vez foi aquele sorriso maroto! Aquele que me deixa leve como uma pena – "Mas não tem problema. Eu não me importo com isso. Espero que você use bem o seu presente e ganhe a taça de quadribol. Não quero me arrepender!"
"E não vai, Pê! Pode ter certeza!" – Quem resiste a isso? Eu precisava sair dali ou teria um treco.
"Eu vou aproveitar que estou com sono e tentar dormir, senão amanhã não agüento assistir aula".
"Ok. Boa noite, Pê!" – Ele respondeu. Eu sorri ao ver que ele também sorria.
"Boa noite, Sirius" – disse enquanto subia as escadas. Black ficou me encarando como se eu tivesse feito algo de errado. É, eu o chamei de Sirius. Afinal, alguém tem que ceder.
