ALICE
Capítulo 2 - O Convite
Enquanto esperava o resultado da tomografia que tinha feito, na sala de emergências do Centro Hospitalar de Smallville, Alice, que estava sentada numa maca, com um pequeno curativo acima do olho esquerdo, preenchia um formulário padrão de atendimento. Sem perceber, descobriu que não estava mais sozinha quando Lana chegou com Chloe, a qual, sabendo o que tinha acontecido, foi ver se a amiga precisava de ajuda.
Lana, porém, menos abalada, mostrou-se preocupada com Alice. E minutos antes, chegou a comentar com Chloe que era como se tivesse uma nuvem negra à volta da recém-chegada à Smallville, que a estaria impedindo de seguir em frente. Embora não conhecesse os motivos que a levavam para longe de Metrópolis, depois da tempestedade da noite anterior, que a obrigou parar em Smallville, e o acidente de carro naquela manhã, nada parecia mais mórbido do que aquele estranho pensamento. Apesar de um pouco transcendental demais a explicação da amiga, Chloe lhe deu uma carona até o Hospital, também com a intenção de conhecer a nova hóspede de Lana.
"Como você está?", perguntou Lana, entrando com Chloe na pequena sala de emergência, onde ela tinha sido atendida.
"Envergonhada", respondeu, com um sorriso amargo. "Completamente envergonhada".
"Ora, por quê?", perguntou Lana, meio que sorrindo.
"Eu fui muito descuidada, Lana", explicou ela, olhando para as duas. "Viu o estrago que fiz no carro daquele sujeito? Vou ter que trabalhar para conseguir o salário de pelo menos um ano inteiro para pagar o arranhão num carro como aquele!"
Chloe sorriu.
"Se está se referindo a Lex, pode esquecer. Ele é completamente desencanado com isso".
"Essa é minha amiga Chloe Sullivan", apresentou Lana.
"Oi, Chloe", disse Alice, gentilmente. Estava pálida e visivelmente cansada. "Não importa", disse ela, referindo-se ao comentário da amiga de Lana, "eu tenho que fazer o que é certo."
"Bom, eu trouxe sua bolsa", disse Lana, desconversando. "Você a esqueceu no carro".
"Obrigada", disse Alice pegando-a, e colocando-a ao seu lado, na maca. "Você se importa de me dar uma carona?"
"Não estou de carro", respondeu Lana. "Vim com a Chloe. Mas ela vai me deixar no Talon".
"Srta. Spencer", disse um jovem médico que entrou na sala, trazendo as radiografias, ignorando a presença de Lana e Chloe. "Aparentemente, não foi uma lesão grave", explicou, mostrando as radiografias contra um painel luminoso. "Mas gostaria que fizesse uma nova tomografia daqui a uns seis meses".
Alice ficou com as radiografias e, depois de se ajeitar e assinar o registro médico, saiu com Chloe e Lana do Hospital, em direção ao estacionamento. As duas amigas ficaram caladas por um tempo, como se esperassem que Alice dissesse alguma coisa.
"Que bom que não foi nada sério", disse Lana, subitamente, enquanto entravam no carro.
"É verdade", comentou Chloe, como se quisesse fazê-la sentir-se melhor, "você tem muita sorte, mesmo: primeiro, conseguiu um lugar para ficar, depois, sofreu um acidente que envolveu um carro que chega a mais de duzentos quilômetros por hora e só levou... quantos pontos?!"
"Sete pontos", respondeu Alice, sentando-se no banco detrás, e abrindo um sorriso.
"Tá vendo?!", disse Chloe. "Quer mais sorte do que isso?"
Era tarde da noite e, embora tivesse uma garçonete para atender os fregueses, Alice fez questão de ajudar Lana, que, por conta do pouco movimento no Talon, passou a tarde toda estudando com os amigos Chloe, Pete e Clark numa das mesas da cafeteria.
"Quantos anos ela tem?", perguntou Pete, repentinamente, quando davam uma pausa na discussão sobre história contemporânea.
Chloe, percebendo que o amigo se referia à Alice, perguntou:
"Não acha que ela já passou por muita coisa hoje?"
"E daí?!", questionou ele, sem entender. "Só perguntei à Lana a idade dela".
"Pete, você tem que parar com isso, ou vai acabar sozinho", explicou Chloe, sugerindo que ele era desesperado por garotas, enquanto balançava o lápis, como se estivesse lhe dando uma lição.
Clark e Lana riram.
"Vou pegar mais café", disse ela, levantando-se.
"Eu ajudo", disse Clark, prontamente, enquanto Chloe e Pete ainda discutiam.
Enquanto Clark ajudava Lana a encher as canecas com mais café, perguntou:
"O quê acha da Alice?"
"Não sei, Clark", respondeu ela, vendo que a garota limpava umas mesas que haviam sido usadas. "Ela parece ser uma boa pessoa, mas tem algo de errado, e não me atrevo a me envolver".
Clark não concordou que havia alguma coisa de errado em Alice, mas ficou pensativo. Todos tinham problemas e, para ele, ela era apenas mais uma pessoa com algum problema do qual não queria falar.
"Tinha me esquecido como era duro o serviço de garçonete!", exclamou ela, que trazia alguns frascos de açúcar vazios, que estavam sobre as mesas.
"Você já foi garçonete?", perguntou Lana, surpresa.
"Fui", respondeu, e antes que Lana pensasse que aquela seria mais uma resposta nebulosa, Alice continuou: "Trabalhei por dois anos num restaurante em Metrópolis para pagar a faculdade".
"Sério? Que curso você fez?", questionou Lana, curiosa.
"Desisti antes que pudesse escolher o curso que faria", respondeu ela, um pouco triste.
"Mas nunca é tarde para recomeçar", comentou Clark, incentivando-a.
Alice sorriu e ficou pensando que, afinal, não era tão ruim estar em Smallville. As pessoas eram boas e amistosas. Sentia-se bem por encontrar um lugar acolhedor e rostos amigos que não a conheciam. Só não queria falar de seu passado. E, achando que já tinha falado até demais naquele momento, em relação ao comentário de Clark, apenas disse que era algo a se pensar.
Enquanto se preparavam para levar as canecas de café até a mesa onde estudavam, Clark e Lana foram surpreendidos com a chegada de Lex que, ao cumprimentá-los, não conseguia desviar a atenção de Alice que, por sua vez, ficou imaginando como ele entraria no assunto sobre as despesas no conserto do carro:
"Como se sente?", perguntou-lhe ele.
Lana e Clark, percebendo que o assunto era entre os dois, saíram de perto, e voltaram para a mesa onde Chloe e Pete já não discutiam mais.
"Sete pontos, mas nada de grave", disse ela, só percebendo depois que não respondia a pergunta feita e, com um sorriso nervoso, disse: "Ou seja, estou bem".
"Fico feliz por saber que está melhor", comentou ele, elegantemente. "Geralmente, muito sangue deixa as pessoas aflitas a ponto de pensarem que o ferimento é mais grave do que parece", disse, relembrando a cena daquela manhã.
"Pelo visto você já se feriu muitas vezes", disse ela.
Lex sorriu.
"Trabalhando por aqui, senhorita...?"
"Spencer. Alice Spencer", respondeu ela à pergunta que não foi feita. "Mas pode me chamar de Alice".
"Prazer", disse ele. "Lex Luthor".
Enquanto trocava um aperto de mão com ele, Alice ficou imaginando se já tinha ouvido aquele nome antes.
"Na verdade", respondeu ela, "estou alugando o quarto que fica no segundo andar".
Lex olhou para o alto das escadas, na direção em que Alice apontou com a cabeça, como se não soubesse onde ficava.
"Estou meio que compensando os transtornos que devo ter causado para a Lana", explicou, referindo-se ao fato de estar ajudando na arrumação do Talon, "mas sei que logo vou ter que procurar um trabalho de verdade, afinal, tenho o conserto de uma Ferrari para pagar", comentou Alice, sorrindo, e um pouco mais descontraída.
Para ela, Lex era um rapaz de boa aparência e muito elegante, que não a intimidava. Vê-lo, parado à sua frente, lembrava dos tempos de colégio, quando não conseguia fazer amigos e rapazes como ele lhe faziam gozações. Contudo, embora pudesse se sentir desconfortável com aquele homem de presença e carisma inquestionáveis, estava extremamente à vontade. E por mais que lhe devesse pelo acidente, e por mais que se sentisse mal com o acontecimento daquela manhã, gostava da atenção que ele lhe dispensava. Era algo que não tinha há algum tempo.
Lex sorriu.
"Então pretende ficar?", perguntou, sem saber ainda que Alice vinha de sua cidade natal, Metrópolis.
"Essa é a idéia", respondeu ela.
"Bom, se você quiser podemos discutir o assunto do carro num jantar", disse ele, erguendo uma das sobrancelhas. "O quê diz? Quem sabe podemos chegar a um acordo?"
Desconfiada, Alice ficou pensativa, mantendo o sorriso no canto dos lábios. Aquilo estaria acontecendo depressa demais?, pensou. Acabava de sair de um problema e mergulharia em outro? Mas ele era irresistível, pensou. E parecia inofensivo.
Lex, por seu turno, não demonstrava, mas estava ansioso que ela aceitasse o convite. Acreditava, apesar do encontro trágico demais, que ela era a pessoa mais fascinante que já via desde Helen. Suas longas madeixas avermelhadas caídas sobre os ombros, e que contrastavam com aquele verde quase transparente de seus olhos e com os lábios grandes e rosados o deixavam ainda mais intrigado e interessado.
"Não costumo sair com o primeiro que se envolve num acidente de trânsito comigo", disse ela, sorrindo, enquanto Lex acreditava que aceitaria o convite, "mas, sabe, preciso pensar um pouco. Esse foi um dia muito estranho..."
"Alice", ponderou ele, "é só um jantar".
Ela o encarou, já sem mais aquele sorriso tão amável nos lábios, e disse:
"Amanhã é domingo", disse ela, de repente. "Se não tiver mais nada para fazer, pode me mostrar um pouco da cidade. O quê acha?"
"Uma negociadora?", perguntou ele, ainda mais interessado. "Quer dizer que eu lhe faço uma proposta e você me vem com uma contra-proposta?"
Alice inclinou a cabeça, e olhando para a superfície do balcão da cafeteria, apenas sorriu.
"É o que eu posso oferecer..."
"Então, acho que não preciso dizer que vou ter que pensar no assunto, certo?", disse ele, sorrindo, enquanto se afastava. Alice também sorriu, e balançou a cabeça de forma a dar a entender que era ele que devia saber o que lhe era mais vantajoso. No fundo, ela sabia que estava prestes a jogar um jogo perigoso.
Lex ficou olhando para Alice enquanto caminhava meio que de costas na direção da mesa em que Lana e seus amigos estudavam e despediu-se deles. Depois, disse para Lana que assinaria os cheques na segunda-feira. Quando Lex saiu, Alice cobriu a face com uma das mãos e, adivinhando que ele devia ser o sócio-investidor do Talon, imaginou se teria dito bobagem ao comentar que estava hospedada ali.
Continua...
Capítulo 2 - O Convite
Enquanto esperava o resultado da tomografia que tinha feito, na sala de emergências do Centro Hospitalar de Smallville, Alice, que estava sentada numa maca, com um pequeno curativo acima do olho esquerdo, preenchia um formulário padrão de atendimento. Sem perceber, descobriu que não estava mais sozinha quando Lana chegou com Chloe, a qual, sabendo o que tinha acontecido, foi ver se a amiga precisava de ajuda.
Lana, porém, menos abalada, mostrou-se preocupada com Alice. E minutos antes, chegou a comentar com Chloe que era como se tivesse uma nuvem negra à volta da recém-chegada à Smallville, que a estaria impedindo de seguir em frente. Embora não conhecesse os motivos que a levavam para longe de Metrópolis, depois da tempestedade da noite anterior, que a obrigou parar em Smallville, e o acidente de carro naquela manhã, nada parecia mais mórbido do que aquele estranho pensamento. Apesar de um pouco transcendental demais a explicação da amiga, Chloe lhe deu uma carona até o Hospital, também com a intenção de conhecer a nova hóspede de Lana.
"Como você está?", perguntou Lana, entrando com Chloe na pequena sala de emergência, onde ela tinha sido atendida.
"Envergonhada", respondeu, com um sorriso amargo. "Completamente envergonhada".
"Ora, por quê?", perguntou Lana, meio que sorrindo.
"Eu fui muito descuidada, Lana", explicou ela, olhando para as duas. "Viu o estrago que fiz no carro daquele sujeito? Vou ter que trabalhar para conseguir o salário de pelo menos um ano inteiro para pagar o arranhão num carro como aquele!"
Chloe sorriu.
"Se está se referindo a Lex, pode esquecer. Ele é completamente desencanado com isso".
"Essa é minha amiga Chloe Sullivan", apresentou Lana.
"Oi, Chloe", disse Alice, gentilmente. Estava pálida e visivelmente cansada. "Não importa", disse ela, referindo-se ao comentário da amiga de Lana, "eu tenho que fazer o que é certo."
"Bom, eu trouxe sua bolsa", disse Lana, desconversando. "Você a esqueceu no carro".
"Obrigada", disse Alice pegando-a, e colocando-a ao seu lado, na maca. "Você se importa de me dar uma carona?"
"Não estou de carro", respondeu Lana. "Vim com a Chloe. Mas ela vai me deixar no Talon".
"Srta. Spencer", disse um jovem médico que entrou na sala, trazendo as radiografias, ignorando a presença de Lana e Chloe. "Aparentemente, não foi uma lesão grave", explicou, mostrando as radiografias contra um painel luminoso. "Mas gostaria que fizesse uma nova tomografia daqui a uns seis meses".
Alice ficou com as radiografias e, depois de se ajeitar e assinar o registro médico, saiu com Chloe e Lana do Hospital, em direção ao estacionamento. As duas amigas ficaram caladas por um tempo, como se esperassem que Alice dissesse alguma coisa.
"Que bom que não foi nada sério", disse Lana, subitamente, enquanto entravam no carro.
"É verdade", comentou Chloe, como se quisesse fazê-la sentir-se melhor, "você tem muita sorte, mesmo: primeiro, conseguiu um lugar para ficar, depois, sofreu um acidente que envolveu um carro que chega a mais de duzentos quilômetros por hora e só levou... quantos pontos?!"
"Sete pontos", respondeu Alice, sentando-se no banco detrás, e abrindo um sorriso.
"Tá vendo?!", disse Chloe. "Quer mais sorte do que isso?"
Era tarde da noite e, embora tivesse uma garçonete para atender os fregueses, Alice fez questão de ajudar Lana, que, por conta do pouco movimento no Talon, passou a tarde toda estudando com os amigos Chloe, Pete e Clark numa das mesas da cafeteria.
"Quantos anos ela tem?", perguntou Pete, repentinamente, quando davam uma pausa na discussão sobre história contemporânea.
Chloe, percebendo que o amigo se referia à Alice, perguntou:
"Não acha que ela já passou por muita coisa hoje?"
"E daí?!", questionou ele, sem entender. "Só perguntei à Lana a idade dela".
"Pete, você tem que parar com isso, ou vai acabar sozinho", explicou Chloe, sugerindo que ele era desesperado por garotas, enquanto balançava o lápis, como se estivesse lhe dando uma lição.
Clark e Lana riram.
"Vou pegar mais café", disse ela, levantando-se.
"Eu ajudo", disse Clark, prontamente, enquanto Chloe e Pete ainda discutiam.
Enquanto Clark ajudava Lana a encher as canecas com mais café, perguntou:
"O quê acha da Alice?"
"Não sei, Clark", respondeu ela, vendo que a garota limpava umas mesas que haviam sido usadas. "Ela parece ser uma boa pessoa, mas tem algo de errado, e não me atrevo a me envolver".
Clark não concordou que havia alguma coisa de errado em Alice, mas ficou pensativo. Todos tinham problemas e, para ele, ela era apenas mais uma pessoa com algum problema do qual não queria falar.
"Tinha me esquecido como era duro o serviço de garçonete!", exclamou ela, que trazia alguns frascos de açúcar vazios, que estavam sobre as mesas.
"Você já foi garçonete?", perguntou Lana, surpresa.
"Fui", respondeu, e antes que Lana pensasse que aquela seria mais uma resposta nebulosa, Alice continuou: "Trabalhei por dois anos num restaurante em Metrópolis para pagar a faculdade".
"Sério? Que curso você fez?", questionou Lana, curiosa.
"Desisti antes que pudesse escolher o curso que faria", respondeu ela, um pouco triste.
"Mas nunca é tarde para recomeçar", comentou Clark, incentivando-a.
Alice sorriu e ficou pensando que, afinal, não era tão ruim estar em Smallville. As pessoas eram boas e amistosas. Sentia-se bem por encontrar um lugar acolhedor e rostos amigos que não a conheciam. Só não queria falar de seu passado. E, achando que já tinha falado até demais naquele momento, em relação ao comentário de Clark, apenas disse que era algo a se pensar.
Enquanto se preparavam para levar as canecas de café até a mesa onde estudavam, Clark e Lana foram surpreendidos com a chegada de Lex que, ao cumprimentá-los, não conseguia desviar a atenção de Alice que, por sua vez, ficou imaginando como ele entraria no assunto sobre as despesas no conserto do carro:
"Como se sente?", perguntou-lhe ele.
Lana e Clark, percebendo que o assunto era entre os dois, saíram de perto, e voltaram para a mesa onde Chloe e Pete já não discutiam mais.
"Sete pontos, mas nada de grave", disse ela, só percebendo depois que não respondia a pergunta feita e, com um sorriso nervoso, disse: "Ou seja, estou bem".
"Fico feliz por saber que está melhor", comentou ele, elegantemente. "Geralmente, muito sangue deixa as pessoas aflitas a ponto de pensarem que o ferimento é mais grave do que parece", disse, relembrando a cena daquela manhã.
"Pelo visto você já se feriu muitas vezes", disse ela.
Lex sorriu.
"Trabalhando por aqui, senhorita...?"
"Spencer. Alice Spencer", respondeu ela à pergunta que não foi feita. "Mas pode me chamar de Alice".
"Prazer", disse ele. "Lex Luthor".
Enquanto trocava um aperto de mão com ele, Alice ficou imaginando se já tinha ouvido aquele nome antes.
"Na verdade", respondeu ela, "estou alugando o quarto que fica no segundo andar".
Lex olhou para o alto das escadas, na direção em que Alice apontou com a cabeça, como se não soubesse onde ficava.
"Estou meio que compensando os transtornos que devo ter causado para a Lana", explicou, referindo-se ao fato de estar ajudando na arrumação do Talon, "mas sei que logo vou ter que procurar um trabalho de verdade, afinal, tenho o conserto de uma Ferrari para pagar", comentou Alice, sorrindo, e um pouco mais descontraída.
Para ela, Lex era um rapaz de boa aparência e muito elegante, que não a intimidava. Vê-lo, parado à sua frente, lembrava dos tempos de colégio, quando não conseguia fazer amigos e rapazes como ele lhe faziam gozações. Contudo, embora pudesse se sentir desconfortável com aquele homem de presença e carisma inquestionáveis, estava extremamente à vontade. E por mais que lhe devesse pelo acidente, e por mais que se sentisse mal com o acontecimento daquela manhã, gostava da atenção que ele lhe dispensava. Era algo que não tinha há algum tempo.
Lex sorriu.
"Então pretende ficar?", perguntou, sem saber ainda que Alice vinha de sua cidade natal, Metrópolis.
"Essa é a idéia", respondeu ela.
"Bom, se você quiser podemos discutir o assunto do carro num jantar", disse ele, erguendo uma das sobrancelhas. "O quê diz? Quem sabe podemos chegar a um acordo?"
Desconfiada, Alice ficou pensativa, mantendo o sorriso no canto dos lábios. Aquilo estaria acontecendo depressa demais?, pensou. Acabava de sair de um problema e mergulharia em outro? Mas ele era irresistível, pensou. E parecia inofensivo.
Lex, por seu turno, não demonstrava, mas estava ansioso que ela aceitasse o convite. Acreditava, apesar do encontro trágico demais, que ela era a pessoa mais fascinante que já via desde Helen. Suas longas madeixas avermelhadas caídas sobre os ombros, e que contrastavam com aquele verde quase transparente de seus olhos e com os lábios grandes e rosados o deixavam ainda mais intrigado e interessado.
"Não costumo sair com o primeiro que se envolve num acidente de trânsito comigo", disse ela, sorrindo, enquanto Lex acreditava que aceitaria o convite, "mas, sabe, preciso pensar um pouco. Esse foi um dia muito estranho..."
"Alice", ponderou ele, "é só um jantar".
Ela o encarou, já sem mais aquele sorriso tão amável nos lábios, e disse:
"Amanhã é domingo", disse ela, de repente. "Se não tiver mais nada para fazer, pode me mostrar um pouco da cidade. O quê acha?"
"Uma negociadora?", perguntou ele, ainda mais interessado. "Quer dizer que eu lhe faço uma proposta e você me vem com uma contra-proposta?"
Alice inclinou a cabeça, e olhando para a superfície do balcão da cafeteria, apenas sorriu.
"É o que eu posso oferecer..."
"Então, acho que não preciso dizer que vou ter que pensar no assunto, certo?", disse ele, sorrindo, enquanto se afastava. Alice também sorriu, e balançou a cabeça de forma a dar a entender que era ele que devia saber o que lhe era mais vantajoso. No fundo, ela sabia que estava prestes a jogar um jogo perigoso.
Lex ficou olhando para Alice enquanto caminhava meio que de costas na direção da mesa em que Lana e seus amigos estudavam e despediu-se deles. Depois, disse para Lana que assinaria os cheques na segunda-feira. Quando Lex saiu, Alice cobriu a face com uma das mãos e, adivinhando que ele devia ser o sócio-investidor do Talon, imaginou se teria dito bobagem ao comentar que estava hospedada ali.
Continua...
