ALICE

Capítulo 3 - Um novo amor para Lex

Alice lia o jornal de domingo, enquanto Lana, que revisava a matéria para a prova, vez e outra, lançava-lhe um olhar. Queria lhe fazer inúmeras perguntas, mas não sabia se devia. Queria considerá-la uma nova amiga, mas não a conhecia o suficiente. Então, para sua surpresa, como se Alice tivesse adivinhado seus pensamentos, esta se manifestou:

"Tudo bem", disse ela, parando a leitura e olhando para Lana, que também interrompia a sua suposta concentração nos livros. "Pode perguntar qualquer coisa".

"Como?", indagou Lana, um pouco sem graça.

"Eu sei que você está curiosa a meu respeito", explicou Alice. "E o fato de eu não dar respostas coerentes às suas perguntas deve estar aguçando ainda mais essa sua curiosidade. Por isso, vamos lá. Faça qualquer pergunta", provocou ela, confundindo Lana. "É um direito seu, afinal, estou hospedada num quarto que fica bem acima da sua caixa registradora".

Lana meio que sorriu, constrangida.

"Não estou insinuando nada, Alice", defendeu-se.

"Eu sei", retrucou ela. "Desculpe. Não quis falar assim... É que eu me coloquei no seu lugar e, vendo esses seus olhares curiosos para cima de mim. Realmente, não tem como evitar".

Alice sorriu, abaixando a guarda, e Lana perguntou:

"Posso mesmo fazer qualquer pergunta?"

Alice cruzou os braços sobre a mesa e olhou para o nada por um momento, até que, rendendo-se àquela menina que parecia tanto com ela há dez anos atrás, disse:

"Só não garanto que eu a responda".

Lana sorriu e, pensativa, desafiou-a:

"Por que saiu de Metrópolis?"

Alice respirou fundo e ficou pensativa. Era justamente aquela uma das perguntas dentre as quais não gostaria de ter que responder. Contudo, colocou-se no lugar de Lana e, soube, então, como devia ser difícil para ela aceitá-la, sem ao menos saber nada a seu respeito. E por mais que Alice pudesse simplesmente sair dali, sem lhe dar qualquer indicativo do seu passado, sabia que havia algo de extraordinário em Lana Lang. Era uma boa menina e merecia saber a verdade.

"Tudo bem se não quiser responder", disse Lana, depois de um curto silêncio, achando que estava pegando pesado com ela. "Aliás, vamos esquecer isso tudo..."

"Não", interrompeu ela, realmente disposta a quebrar as possíveis barreiras. "Eu respondo", disse, "parcialmente, mas respondo", encostou-se na cadeira, enquanto Lana a ouvia atentamente.

"Acabei um relacionamento de muitos anos", explicou ela, com o olhar fixo em Lana, como se pudesse lhe transmitir a dor que sentia com o aquele rompimento. "Na verdade, terminamos e reatamos muitas vezes. Porém, agora, tomei a iniciativa de sair de uma vez por todas de Metropolis, para que não sofrêssemos mais".

Depois de um minuto de silêncio, Lana disse:

"Sinto muito".

Alice sorriu.

"Tudo bem", disse ela. "A vida já é complicada demais para que nós a tornemos ainda mais dramática".

Sem entender, Lana perguntou porque ela decidiu ir para Smallville. E, pensativa, Alice simplesmente respondeu:

"Foi onde meu coração quis estar".

De repente, passos adentraram no Talon, e antes que Lana lhe fizesse mais alguma pergunta, viu que era Lex que se aproximava. Alice se virou e, ao vê- lo, mal pôde conter um sorriso de satisfação.

"Descobri que não tinha mais nada para fazer hoje", disse ele, sorrindo. Lana, que não entendeu coisa alguma da situação, apenas enrugou a testa.

"Lana", disse-lhe Alice, com os olhos brilhando. "O Sr. Luthor..."

"Lex", corrigiu ele. "Apenas Lex".

"Bem, vamos dar uma volta", disse.

"Tudo bem", disse Lana, ainda não entendendo o que estava acontecendo. Quando os dois saíram, ficou pensativa e, sorrindo, imaginou se, afinal, era aquela uma nova chance que o destino estava concedendo àqueles dois sofredores. No seu íntimo, Lana também desejava que, um dia, algo maravilhoso acontecesse com ela, como parecia ter acontecido à Alice, que, do nada, chegou à Smallville e encontrou alguém que parecia realmente ter mexido com ela, por mais dramático que tivesse sido o acontecimento que os uniu. Pensou, então, em Clark, e uma tristeza tomou conta de seu coração.

...

Minutos depois, nas cavernas Kawatche, a alguns quilômetros do centro de Smallville, Lex mostrava à Alice um dos maiores achados da estória do estado do Kansas. Era uma caverna indígena com desenhos nas paredes, desaparecida há séculos. Olhando para tudo com admiração, por um instante, Alice ficou imaginando se Lex era mesmo um conquistador. Para levá-la ali, ele devia ao menos imaginar o impacto que um lugar como aquele podia causar numa pessoa. Ainda sensível aos últimos acontecimentos, Alice se rendeu ao encanto do lugar. Mais do que maravilhada, ela estava emocionada.

Lex, que não conseguira pensar num lugar melhor para levá-la em Smallville, olhando para o lugar, enquanto Alice tocava admirada as gravuras nas paredes, lembrou como aquela caverna despertou, por quase um ano inteiro, o interesse de muitas pessoas, principalmente de Clark, e como esse interesse o deixou perturbado, e até mesmo o seu pai, Lionel, que depois de investir num caro projeto de pesquisa no lugar, acabou largando tudo após o estranho incidente com o Dr. Walden. Pensativo, Lex também lembrou como muitas coisas mudaram entre ele e seu amigo filho de fazendeiros, desde então.

"Que lugar lindo, Lex", disse Alice, olhando-o com ternura. Era como se precisasse estar ali. Era como se a energia daquele lugar a estivesse fazendo se sentir mais forte quanto aos problemas da vida.

Lex retribuiu o comentário apenas com um sorriso. Há muito tempo ele perdera o fascínio por aquelas cavernas, que se lhe tornaram objeto de obsessão por um longo tempo. Ainda intrigavam-lhe os significados das figuras nas paredes, mas era como se já soubesse que nada mais tinha a descorbrir sobre elas que tenha ocasionado a morte do Dr. Walden.

Enquanto observava Lex com seu olhar perdido, Alice não sabia ainda o quê estava sentindo por aquele rapaz poucos anos mais jovem do que ela. Também não sabia se era recíproco. Sabia, contudo, que havia alguma coisa extraordinária a seu respeito. Era como se já o tivesse conhecido antes, em seus sonhos. Se ele podia ou não amá-la, não importava. Para ela, eram aqueles momentos que importavam. A atenção que ele lhe dispensava parecia completar um vazio há bastante tempo esquecido, e valia todo o sacrifício de um sentimento não correspondido. Sentia-se atraída por ele. Não sabia se era amor. Seu coração ainda estava ferido e, talvez, jamais voltasse a amar, mas estar com Lex a fazia sentir-se bem. Eram novas forças que a recompunham. Ele se tornava seu sustentáculo. Sua juventude, sua paixão. Como o desejava naquele instante.

Lex, que ainda estava absorto nos seus pensamentos sobre a estória da caverna, aproximou-se, então, de Alice, que, para disfarçar seus desejos por ele, continuava a olhar tudo à sua volta, mostrando-se cada vez mais fascinada pela caverna, até que se viu presa contra uma parede. Ele a havia encurralado num canto da caverna, que estava parcialmente iluminada por uma brecha de luz que vinha de uma rachadura acima.

Os olhos de Alice não conseguiam desviar os dele. Foram longos segundos aqueles, em que os dois se olharam, como se quisessem ver a alma um do outro refletida nos olhos, até que Lex tomou a iniciativa. Tocou seu rosto, onde havia se ferido, e depois roçou as pontas dos dedos por toda a sua face. Não se contendo mais, tocou aqueles lábios salientes e macios, com um beijo. Envolvido pelo perfume exalado de seus cabelos sedosos e sua pele delicada, percebendo que Alice cedia cada vez mais, Lex a puxou gentilmente para si e, num abraço, beijaram-se por um longo tempo. Alice soube, então, que aquele não foi o primeiro beijo deles.

Ao se desvencilharem, quase ofegantes, trocaram olhares insinuantes. Alice descobriu que jamais havia se sentido daquele jeito por qualquer outro homem. Um turbilhão de emoções quase não a permitia se conter. Era uma irresistível atração.

"Se eu soubesse disso antes, teria preferido o convite para jantar", disse ela, encostada na parede, como se estivesse recuperando as forças. Ela não desmerecia o romantismo daquele lugar tão maravilhoso, porém, sugeria que não era adequado.

Lex sorriu e a tocou nas faces com as pontas dos dedos, interessado num segundo beijo e, antes que ele o fizesse, ela apenas teve tempo para murmurar alguma coisa:

"Ah, meu Deus... onde é que eu estou me metendo?"

Depois do beijo, os dois flertaram por mais um instante. Lex beijou suas faces e os dois se abraçaram como se dançassem uma música inaudível. Era como se já tivessem dançado aquela música desconhecida, que os fazia embalar num abraço agradável e amoroso. Uma sombra desceu sobre Lex, e ele soube que nenhuma outra mulher o havia deixado tão vulnerável como Alice o deixara, e que por mais que pudesse ter a garota que quisesse, jamais teria alguém como Alice. E, então, com os olhos fechados, sentindo o perfume dela naquele abraço aconchegante, que parecia afastá-lo de todos os problemas do mundo, do seu mundo, era ele que se perguntava onde, afinal, Lex Luthor estava se metendo.

Continua...