Capitulo 5:

Afinal, quase tudo bem...

        Não podia ser... Não! Ele não queria aceitar! Estava tudo errado! Tudo! Ele escolhera ela! Ela! E agora estava ali, naquele corredor, parado, olhando através do vidro, vários bebês chorando. Mas olhava um em especial. Um bebê quase sem cabelos, pequeno, magro e frágil, dormindo.

        Ele olhava para o pequeno e novo ser, que estava dormindo, agora, fora de perigo, e lembrava dela. Queria entrar naquele maldito quarto e abraça-la, mas ela não queria vê-lo.

        "Pelo o menos está viva! Uma hora vocês terão que conversar!" Disse para si mesmo, em pensamento, diversas vezes.

        Ele não sabia como, mas Virginia e Richard haviam sobrevivido.

        Mas não era isso que importava agora. O que importava era que estavam vivos e fora de perigo.

- Malfoy, vá para casa. Descanse um pouco. Coma alguma coisa. É disso que você precisa. O dia está quase amanhecendo. Se ela resolver falar com você, olhe o seu estado! – disse uma voz atrás dele.

        Draco não precisou virar-se para saber quem era.

- Você não entende, não é Potter? – disse, segurando as lagrimas. Não poderia chorar na frente de qualquer um. Somente Gina o vira chorando. – É como se eu saísse daqui, ele fosse perder as forças... – disse, referindo-se ao bebê. – E ela não quer me ver. Já deixou isso bem claro.

- Malfoy, mas você precisa ter forças. Logo pela manhã, a Angelina trará Bia para ver a mãe. Você precisa mostrá-la que está tudo bem. Ela é só uma criança, e você é responsável por ela!

        Draco não se mexeu. Continuou fitando o pequeno ser. Viu uma medibruxa aproximar deles, e virou-se esperançoso para a mesma.

- Sr. Potter – chamou Harry, fazendo com que as esperanças de Draco se esvaíssem. – A Sra. Malfoy deseja vê-lo.

        Harry olhou para Draco, e o ultimo abaixou a cabeça, voltando sua atenção para dentro do berçário.

        Harry saiu com a enfermeira, que também olhava penalizada para Draco.

***

- Mas Gina, você não entende? O Malfoy está arrasado! Até EU senti pena dele! – Harry estava no quarto de Gina, no hospital.

- Harry, por favor! Não o defenda! – respirou fundo, antes de começar a se irritar até mesmo com Harry. – Mas você o viu? Quero dizer, meu filho?

        Harry sorriu.

- Vi. É lindo! – confessou.

- Harry... eu queria te pedir uma coisa... – disse Virginia, segurando as mãos de Harry na sua.

- Diga. – disse sorrindo, feliz com o toque.

- Quer ser o padrinho do Richard? – pediu de uma vez.

        Harry, primeiramente, ficou sem o que dizer.

- Mas, Gi... o Malfoy não vai concordar e...

- Esquece ele! Por mim! – pediu.

- Gina, como esquecer? Ele é o pai, também tem que concordar com isso!

        Gina bufou, levemente irritada.

- Aceita ou não?

        Harry começou a ficar preocupado. Ela não podia ficar irritada.

- Você sabe que eu aceito. – disse, passando as mãos nos cabelos ruivos, e sorrindo.

- Vou falar com Eliza, assim que ela chegar.

- Ela está aí. – disse Harry, apontando para a porta com a cabeça.

- Está?! – disse Gina, abrindo um sorriso.

- Ela, Rony, Fred, Carlinhos e... Malfoy.

        Gina ignorou a menção do nome do marido, e Harry continuou:

- Colin não queria que Eliza viesse. Você sabe, ela acabou de ter um filho também...

- E Bia? Onde está? – perguntou, preocupada com a filha.

- Está dormindo na casa da sua mãe, não se preocupe. Hermione está lá para ajuda-la também.

- A Granger está com a minha filha??? – perguntou, exaltando a voz, e sentindo uma pontada na barriga, onde estavam os pontos.

- Calma Gina! A Hermione se ofereceu para ajudar a sua mãe. Ela está com a Carol, o bebê mais novo, e o Colin está lá também. Com o filho dele.

- Harry! – Gina puxou o rapaz pela gola da camisa e o trouxe, com os narizes quase colando. E continuou com os dentes cerrados: - Traga a minha filha para cá imediatamente!

        Harry abriu a boca para falar, mas Gina o interrompeu:

- Eu não quero saber que sejam quatro e meia da manhã! Não me interessa que esteja frio e que ela pode se resfriar, eu só quero a minha filha aqui! Perto de mim! – disse, com raiva.

        Chega de esconder o desgosto que sentia por Granger! Chega de ter que fingir que nada acontecera! Depois do nascimento de Richard, Virginia se sentia diferente. Agora, viveria somente para os filhos, e ninguém mais!

- Está bem Gin! Eu vou lá agora mesmo. Mas eu poderia ao menos saber o por quê desse ódio repentino pela Hermione?

- Não é repentino, Harry. Apenas faça o que eu pedi! Depois eu explico!

        Harry concordou, e saiu.

        Logo em seguida, Eliza entrou no quarto. Elas conversavam e riam. Eliza também aceitara o cargo de madrinha de Richard. Assim como Harry, Eliza tentou convencer Virginia de permitir que Draco entrasse. Mas com o mesmo sucesso de Harry, Eliza foi embora.

***

        O sol começava a nascer naquele dia, mas parecia que o dia passado havia sido em outra vida. O corpo de Draco estava jogado em um banco daquele corredor. Ele estava sujo, cansado, descabelado, esfomeado, mas mesmo assim recusava-se em ir para casa.

        Ele abriu os olhos. Não devia ser nem seis horas da manhã ainda, mas aquela mãozinha que teimava em lhe fazer um carinho nos cabelos o fez acordar.

        Draco, com a visão menos embaçada pelo sono, pode enxergar os olhos cinzentos da filha, enquanto a sua mão lhe fazia um cafuné.

- Oh, minha princesinha, o que faz aqui tão cedo? – perguntou, sentando e colocando a filha no colo.

        A menina deu um bocejo, e apoiou a cabeça no ombro do pai, fechando os olhos.

- O Harry me trouxe... a vovó não queria deixar eu vir tão cedo. – disse, mais dormindo do que outra coisa.

- E com razão! Com que direito o Potter acha que tem pra te trazer para cá sem a minha autorização!? – Draco falava sozinho, pois Bia já voltara a dormir.

        Ele a ajeitou no banco, e levantou-se, indo até onde Harry estava, conversando com Eliza.

- Por que você trouxe a minha filha para cá? Você não vê que é muito cedo? Você não tinha permissão! – chegou explodindo, tentando controlar o volume da voz, pois Beatriz dormia a menos de 10 metros deles.

- Primeiro Malfoy: eu também não queria trazer a Bia para cá. Segundo: que está muito cedo, foi exatamente a desculpa que disse para não traze-la. E quanto à autorização, sua esposa me mataria se eu não trouxesse a Bia para cá!

        Draco revidaria, mas uma medibruxa estava passando, e ele pulou na frente da mesma:

- Eu quero ver a minha mulher. Eu quero saber como ela está! Quando ela vai sair. Por Merlin, vocês não podem me impedir de vê-la!

- Senhor, em nenhum momento nós o impedimos de ver a sua esposa! É ela que não deseja vê-lo. E ela receberá alta amanha de manhã.

- Eu quero vê-la! Por favor! – ele não ligava que estivesse pedindo, por favor, á uma completa estranha. Queria ver a mulher, e ele o faria. Não sabia como, mas o faria.

- Me desculpe senhor. Eu não posso. – e a medibruxa saiu, deixando Draco para trás.

        Harry respirou fundo e disse:

- Malfoy, venha comigo. – e saiu andando.

        Draco estranhou, mas, após pedir – sem dizer por favor, diga-se de passagem – a Eliza para que cuidasse de sua filha, ele seguiu Harry.

        Eles pararam em um local mais afastado do corredor, e Harry retornou a falar.

- Eu sei um jeito de você ver a Gina.

        Os olhos de Draco brilharam.

- Como Potter? Diga logo!

- Eu vou entrar no quarto, e você vai entrar também. Mas a Gina não pode te ver. – Draco ergueu uma sobrancelha, desconfiado e Harry continuou: - Eu entro só para me despedir, deixo a porta aberta, e você entra no quarto de baixo de uma capa de invisibilidade. Assim, quando eu sair, você pode conversar com a Gina.

        Draco ponderou, e olhou para Harry, dizendo sarcasticamente:

- "timo Potter! Plano perfeito! Só um pequeno detalhe: que capa de invisibilidade? Eu não tenho uma!

        Harry revirou os olhos e disse, tirando algo do bolso do casaco:

- Serve essa?

        Draco, primeiramente, nada fez. Depois de certo tempo, apenas captando a mensagem, disse:

- Está esperando o que para se despedir da Gina?

***

- Gi? – perguntou Harry, cauteloso, abrindo a porta do quarto, entrando no mesmo e deixando a entrada livre para que Draco entrasse sem ser percebido.

- Olá Harry... – ela disse em tom baixo, e Harry se perguntou se poderia fechar a porta, pois estava entrando um vento frio que definitivamente não fazia bem a ela.

- Eu vim me despedir. Vou ir para casa, tomar um banho, descansar, sabe? Estou precisando.

- Está bem...

- Ah! A Bia está lá fora. Eu a trouxe. E o Malfoy ainda insiste para te ver...

        Gina suspirou e disse simplesmente:

- Depois eu quero ver a Bia.

- E o Malfoy?

- Harry... por favor, os meus problemas conjugais eu resolvo, certo?

        Harry engoliu em seco e assentiu. Despediu-se com um aceno de cabeça e saiu.

        Draco pode observar o quarto. As paredes eram pintadas em um amarelo clarinho, alguns móveis eram brancos. Mas a sua atenção maior foi dada a Gina, que estava amamentando Richard, e olhava para o filho com um carinho enorme.

        Não agüentava mais, precisava tirar aquela capa e se mostrar presente. Mas aquela visão era tão agradável, que ele caminhou até a cama devagar, e ficou ao lado de Gina, observando os olhinhos – que já denunciavam que seriam azuis acinzentados, como os dos pai - de Richard arregalados, olhando diretamente para o pai, como se pudesse enxerga-lo.

        Era tão lindo, tão pequeno e frágil, ali, sugando o leite com força dos seios da mãe. E a ultima, olhava com uma ternura especial para aquele pequeno ser.

        Não resistia mais. Queria participar mais daquele momento especial. E foi pensando nisso, que arrancou a capa de si, provocando um susto em Virginia, mas nenhuma alteração no bebê.

- O que você está fazendo aqui!? – perguntou, exigente e raivosa.

- Eu não agüentava mais. Precisava te ver. Falar com você! – disse, dobrando a capa.

- Pensei que você tivesse entendido que eu não quero te ver! – ela estaria gritando, explodindo com ele se não fosse Richard em seu colo.

- Gina... por favor... – ele esticou a mão, para acariciar o topo da cabeça dela, mas ela se esquivou.

- Você não entendeu? Eu não quero te ver!

- Mas nós precisamos conversar! Eu preciso te explicar umas coisas e...

        Gina o interrompeu:

- Não! Nós iremos conversar, disso eu não posso escapar. Mas não aqui. Assim que eu receber alta.

- Mas não me empeça de te ver. Eu não consigo!

- Malfoy – aquilo o doeu. Não era o jeito que ela sempre falava, zombando dele. Mas, ela usou o tom tão frio, como se fosse vomitar se falasse 'Draco'. – Você não vê que estou amamentando, e se eu me irritar, o leite pode fazer mal ao meu filho. Saia. Eu já disse que quando receber alta, nós conversaremos! Antes disso, me poupe de olhar na sua cara, pois isso me dá ânsias!

        Não era possível. Aquela não podia ser a mesma Virginia pela qual ele se apaixonara. Draco estava se sentindo péssimo. Se sentia um lixo. Gina era a única fonte de felicidade dele, juntamente com Bia, e agora Richard. Mas, agora, ela lhe falando aquilo, o estava matando aos poucos.

        Virginia não acreditava que falara aquilo á Draco. Era verdade que ela não queria vê-lo durante um tempo. Estava magoada com ele. Mas quando percebeu, tudo já havia saído. Ela não pensava, muito menos sentia, aquilo realmente. Nunca sentiria ânsias ao olhar no rosto de Draco. Por mais magoada que estivesse com ele. Então como dissera aquilo?

        Pensou em pedir desculpas, mas desistiu antes mesmo do som sair de sua boca.

- Então, nos vemos em casa, certo? Quer que eu venha lhe pegar? – disse Draco, após um longo tempo em silencio.

- Harry me levará. – disse simplesmente.

        Draco se sentia a cada segundo pior.  E começava a sentir um enorme ciúme. Por que sempre o Potter tinha que se meter? Tudo bem que ele o ajudara a entrar para ver Gina, mas o que adianta dar com uma mão e tirar com as duas?

- Está bem... – e saiu do quarto, arrasado.

        Virginia respirou fundo, e voltando a atenção ao bebê, disse:

- Desculpe meu bem, mas acho que dessa conversa que terei com o seu pai, não sairá boa coisa...

CONTINUA...