Capitulo 3
A mansão estava cheia de pessoas e iluminada. Deslumbrante. Tomoyo se emocionou ao pensar assim. Seu sogro e seu pai fizeram questão de preparar aquele jantar, para comemorar sua chegada. E, mesmo sendo modesta, perguntava-se por que tinha tanta sorte em viver ao lado de pessoas tão maravilhosas...
Fitou o marido ao lado. O achava muito atraente. A pele era bronzeada, os músculos, rijos e expostos sobre as roupas que usava. Os olhos eram castanhos, porém, o brilho a levasse a crer que eles às vezes lhe pareciam dourados. Os cabelos eram desalinhados, espalhados pela expressão forte dele. Mas o que mais gostava era do sorriso. O sorriso sincero, desde de a primeira vez que o olhara. Deitando a cabeça sobre o ombro dele, ela deixou as mãos fortes dele passarem por sua cintura, a apertando mais contra o corpo másculo. Como reclamar da sorte, se trouxera um homem como Touya para seu destino...?
"O que estás a pensar?", ele perguntou, próximo de seu ouvido. Ela sorriu, virando-se para encara-lo.
"Tudo é tão perfeito, meu amor... Tenho tanto medo de acordar e ver que estou em um sonho...", ela disse, suspirando. Ele acariciou a face da esposa, com carinho.
"Sonho é saber que estás aqui comigo, e que nada nem ninguém nos separara...", ele afirmou.
Um empregado foi até o casal, curvando-se diante dos patrões.
"Um convidado acaba de chegar... Trata-se de Eriol Hiiragisawa", ele prontamente avisou. O casal se entreolhou, curioso.
'Eriol... Eriol Hiiragisawa?', ela perguntou a si mesma, tentando fazer a mente se lembrar de quem seria este inesperado cavalheiro. Não teve tempo nem de pensar mais a respeito. O intrigante homem se encontrava na sua frente, sorrindo como se a conhecesse há muitos anos, porém, na mente da japonesa, não lhe ocorriam lembranças que envolvessem o Sr. Hiiragisawa.
O olhou, curiosa. O homem vestia um sobretudo azul escuro, calças negras e outros utensílios estritamente ocidentais. Tomoyo sabia disse por sair de seu país e passar algum tempo na Inglaterra. Era um homem alto, que aparentava força e uma extrema gentileza por trás dos óculos transparentes, que não escondiam os olhos azuis profundos. Os cabelos negros não eram rebeldes, eram penteados e brilhantes. Uma imagem surgiu na mente da japonesa. Conhecia aqueles olhos... Conhecia aquele sorriso... Como pudera esquecer do aluno de quem, futuramente, seria seu sogro? Como pudera esquecer do maravilhoso homem que a fizera descobrir o que era o amor?
"Sr. Hiiragisawa... É realmente uma surpresa vê-lo aqui", a voz grossa de Touya cumprimentou o homem a sua frente. O inglês sorriu, fazendo uma leve mensura ao casal.
"Estou surpreso que não tenhas esquecido de mim, meu caro Touya Kinomoto", Eriol respondeu, para depois se dirigir a japonesa que ainda o fitava surpresa. "Como está, Srta. Daidouji?"
"Muito bem", ela o brindou com um sorriso. "Mas sinto lhe formar que não me chamo Tomoyo Daidouji. Me chamo Tomoyo Kinomoto...", ela respondeu. Eriol notou a aliança na mão esquerda dela, e como os olhos castanhos de Touya transmitiam um certo incomodo com a sua presença...
Passando a mãos pelos cabelos azulados, ele olhou para Tomoyo, que ainda sorria, mas não mais para ele. Belíssima, ele concordou deslumbrado. Os cabelos negros caiam pelos ombros, combinando com a cor escura do quimono que ela utilizava. Ainda permanecia com os traços angelicais, com os olhos brilhando e expondo a cor tão rara que continham. Vendo seu erro ao encarar Tomoyo tão demoradamente, ele logo se corrigiu. "Mil perdões. Não imaginava que havia se casado, Sra. Kinomoto. Meus sinceros e atrasados votos de felicidade"
"Eriol?!?!", uma voz feminina soou. O inglês virou-se ao ouvir seu nome, deparando-se com Sakura, com a mão aos lábios, surpresa. Não mudara, em absolutamente nada, Eriol observou, enquanto ela sorria para ele, e se aproximava em uma velocidade impressionante.
"Minha amiga, Sakura Kinomoto. Se não tens um noivo, me permita fazer candidato. Estás mais bela do que nunca", ele cumprimentou, pegando a delicada mão e depositando um casto beijo sobre ela. Os olhos verdes da japonesa brilharam, como se agradecessem a gentileza.
"Oh, Eriol... Sabes como esperei desesperadamente por teu amor...", Sakura respondeu irônica, notando como o velho amigo ria dela. O carinho que tinha por Eriol era enorme. O considerava um irmão, mesmo tendo dez anos apenas quando o conheceu.
"Já cumprimentastes meu pai?", ela perguntou, e ele meneou com a cabeça. "Então, venhas! Papai ficara contente em revê-lo, meu amigo", ela exclamou, puxando o jovem pelo braço.
Touya o observou se afastar, relutante. Lembrava de quando, no passado, ele passara uma temporada na casa de seu pai. O inglês era simpático, divertido e um galanteador que de bobo, não tinha absolutamente nada. Sakura encantara-se e tornara-se uma grande amiga daquele homem, o que já gerara uma certa antipatia em Touya, enquanto Tomoyo, refinada e recatada, sentia-se cada vez mais atraída pelo convidado do general Fujitaka. Chegara até a confessar a Touya que estava apaixonada pelo inglês... O japonês se sentira humilhado e ressentido. Alem de ter que proteger a própria irmã contra as investidas infalíveis do inglês, tinha que suportar o fato de disputar Tomoyo, a quem amava tão secretamente e intensamente, com Eriol.
Discutira uma vez, com Eriol. Lembrou-se de tê-lo encontrado com Tomoyo, na biblioteca. Eles estavam prestes a se beijar! Eriol segurava a morena pela cintura, enquanto ela apoiava-se no tórax dele, o fitando com olhos tão vislumbrados e translúcidos! Estavam tão próximos, tão íntimos, que Touya controlou-se a não ir até lá para separa-los, saindo do aposento e se posicionando para espiar os dois. Sentiu a dor o arrebater quando viu, pela brecha da porta, os dois se beijando, ardentemente.
Não conseguiu ao menos se mover, para impedir Eriol de continuar a beijar e a acariciar Tomoyo, praticamente sua noiva, com tanta intimidade. Viu ela interromper o beijo bruscamente, correndo pela outra porta, com a expressão confusa e chocada, deixando um Eriol atônito e surpreso. Não pode evitar. Entrou naquele aposento, e reunindo toda a magoa que sentia desde que aquela presença perturbara Tomoyo, discutiu com ele. O inglês calmamente, lhe deu uma única resposta: Havia se apaixonado pela garota de olhos violetas.
Mas, para sua sorte, aquele atrevido voltara para sua terra natal. Tomoyo, pelo que ele notara, esqueceu tudo. Esqueceu o beijo, esqueceu o quanto Eriol Hiiragisawa a amava e o quanto se iludira com ele. Casou-se com ele, e agora, lhe pertencia. Uma antiga paixão não deveria deixa-lo tão ressabiado!
"Querida?", ele chamou Tomoyo, que fitava o general receber afetuosamente o convidado inglês. "Lembra-se dele?".
"Sim...", ela praticamente se denunciou, suspirando tristemente. Touya averiguou, apavorado, que Eriol ainda causava 'aquelas' antigas sensações em sua esposa. Como há 10 anos atrás.
"Tomoyo, por que isto?!?", ele perguntou, aumentando o tom de voz, sentindo-a sair rouca e trêmula. "Desde de que ele chegou, tu nem se atreveu a desviar o olhar dele!"
"Touya...", ela tentou parecer calma, porém, seu semblante denunciava que ela estava igual ou até mais nervosa que o marido. "Acalme-se. Tudo aquilo que houve faz parte do passado. Sou sua esposa. Me casei por que te amo. Não pense em nada a não ser isto..."
Apesar das palavras bonitas, Touya não se convenceu por completo. Com aquela guerra, teria que se afastar da esposa, deixando-a sozinha naquela mansão com o inglês. Os pensamentos o abateram de um terrível forma. Arriscaria seu casamento por um batalha territorial? Lembrando de suas obrigações como filho do general japonês mais respeitado da Ásia, viu-se obrigado a responder que sim...
**
"Realmente, não passa pela minha cabeça como isto ocorreu...", Fujitaka lamentou para o amigo Takawi, enquanto se servia de alguns aperitivos. "Dei ordens para que os nossos exércitos não avançassem mais sobre território chinês. De repente, alguém chega e nos diz que o imperador quer a guerra?!?"
"Suspeito, meu caro, que alguém esteja querendo destruí-lo. Quer vê-lo morto, para talvez, sucede-lo", o japonês respondeu. Mas seus olhos se viraram para a garota ao seu lado. O que tanto ela fazia ali?
Atenta, Sakura realizava suas tarefas enquanto escutava a conversa que o pai tinha com o amigo. Considerava loucura, mas simplesmente não conseguia confiar naquele homem... Aquele sorriso maroto que tanto convencia seu pai, não conseguia nem ao menos lhe causar uma boa impressão!
"Providenciarei para que alguém descubra quem é o traidor! Decapitarei o safado, em praça pública", o general rapidamente disparou, cerrando os dentes. Os olhos violetas de Takawi brilharam, e ele abriu um sorriso largo, que somente uma pessoa perceptiva como Sakura, notaria que ele carregava uma traiçoeira malicia.
"Não te preocupes. Cuidarei pessoalmente disto. Fique tranqüilo...", a voz saiu um tanto rouca e denunciativa, o que Sakura notou.
Observando o ministro, estranhou o repentino interesse dele na proteção de Fujitaka. Sim, os dois eram amigos, porém, não a este ponto de confiança mutua tão forte. Talvez... Devesse vigia-lo... Não! Que absurdo! O homem não seria tão idiota a ponto de se expor desta maneira ao optar por ajuda-lo, se ele mesmo tivesse planejado tudo.
"Minha querida Sakura...", Takawi sorriu para a bela japonesa. "Se importaria em trazer um pouco de saque para mim? O que é uma festa sem uma bebida, não é mesmo?".
'Pelo que vejo, estás mais interessado em me afastar do que nesta idiota bebida... Que desculpa horrível', ela pensou desconfiada. Mas abriu um reluzente sorriso para o ministro, sorrindo. "Será um prazer servi-lo"
Pegando o cântaro de porcelana sobre a mesa, ela se retirou devagar, almejando escutar mais alguma palavra dita por aqueles dois. Mas não conseguiu escutar nada...
Chegou até a sua cozinha, observando pela vidraça, como a noite estava bonita. As estrelas não eram muitas, mas a Lua se mostrava majestosa, prendendo a atenção de Sakura. Mas um pequeno estalo, como se galhos quebrassem, fez Sakura voltar sua atenção para janela. Alguém a estava observando...
Saindo do aposento, notou como as plantas perto da janela onde ela se encontrava, há alguns minutos atrás, mexiam-se. Não era o vento. A noite estava calma, sem um único sopro de brisa. Alguém estivera ali... Sentia-se sendo observada, mas não havia sinal de ninguém naquela clareira. A não ser que...
Correndo rapidamente entre os arbustos, com a primeira faca que encontrara na cozinha, ela viu estar cercada. Não por arvores, e sim por um homem. O vulto dele se aproximou, sutilmente. Sakura não se intimidou. Estava costumada a lidar com o perigo, já que constantemente agia na escuridão para ajudar o pai. Levantando o rosto, fitou o rapaz a prender com os braços, levando-a de encontro a uma arvore. Soltou um gemido quando bateu a cabeça na casca dura do vegetal, praguejando interiormente.
"Se gritar, você morre!", ele ordenou. Sakura fitou os olhos dourados, e com coragem, retrucou.
"Não pelas suas mãos!".
O homem pareceu surpreso, porém, não recuou. "Quem tu pensas que és, para gritares assim comigo?!?! És apenas uma mulher!"
Sakura o fitou, indignada com o tom sarcástico que falara enquanto pronunciava que era um mulher. A sociedade realmente era injusta com o suposto 'sexo frágil'. "Por eu ser uma mulher, achas que implorarei misericórdia, para que me deixe viver? Nunca me ajoelharia diante de teu injusto machismo"
"Diga teu nome, antes que eu corte tua língua por falar tantas asneiras!", ele ameaçou, aproximando seus lábios dos dela. Ela lentamente se sentiu encurralada, enquanto aquele homem a pressionava cada vez mais contra a arvore e contra o próprio corpo.
"Não abrirei a boca. Meu nome não lhe diz respeito!", ela retrucou.
"Bem, então não digas. Não me importo muito com teu nome. Ele não valera mais nada. Tu morreras, daqui a muito pouco tempo...", ele sussurrou, encostando seus lábios nos dela, os sentindo tremer. Afastou-se o bastante para ver que os olhos verdes o encaravam decididamente. Mas, por trás de todo aquela coragem, ele viu as lágrimas caírem por aquele lindo rosto, brilhando sobre as duas esmeraldas que praticamente o deixaram sem saber o que fazer.
"Diga seu nome...", ele perguntou mais suavemente. Insegura, ela murmurou com os lábios...
"Sakura... meu nome é Sakura Kinomoto"
A japonesa viu o completo estranho se aproximar. Sentiu os dedos dele passarem por seu rosto, contornarem seus lábios, deixando um rastro de fogo por onde passavam. Como um simples toque de um desconhecido, dotado de belos olhos, a deixara tão confortavelmente aquecida? Munida de uma coragem que mesmo ela não sabia possuir, ela se afastou, trêmula. Deixara, para seu infortúnio, a faca cair no chão. Nesta escuridão seria impossível encontra-la novamente. Seria inútil até procura-la.
"Vai me matar?", ela perguntou. Ouviu a risada discreta dele ecoar.
"Não necessito. Logo, logo, tudo que você ama, estará destruído. Eu farei isso. Destruirei tua nação, tua família. Até você... mas, por enquanto, não preciso me sujar com teu sangue", ele respondeu. Viu a garota apertar os punhos, nervosa. Mas, por que diabos, não ela ainda não saíra dali, se ele se afastara suficientemente para isso?!?
"Antes de por tuas mãos imundas em minha família, eu o matarei! Não sabe do que sou capaz!", ela disparou. O homem de olhos dourados novamente sorriu. A garota era determinada e estava decidida a enfrenta-lo.
"O que suas delicadas mãos poderiam fazer contra mim...", ele disse. A agarrando pelo braço, fez os dois corpos se aproximarem. Fitou-a com um inconfundível desejo. Ela não estava o vendo. Porém, ele tinha uma bela visão da jovem que expiava há alguns minutos atrás.
"Me deixe sair daqui...", ela pediu. Sakura sabia da guerra. Sabia da possibilidade de estar encurralada, sem saídas e sem a mínima defesa, contra um dos inimigos do pai. Talvez, ela conseguisse engana-lo, com um pouco de lábia. Ele era um homem. Com um pouco de charme, ela sairia daquela situação.
"Antes, um pedido", ele murmurou, inclinando a cabeça, sussurrando as palavras junto à boca de Sakura, que sentiu um arrepio percorrer a espinha. "Deixe-me vê-la melhor"
Ela, subitamente corada, assentiu com a cabeça. Ele a puxou pelo braço, a levando até onde a Lua mostrasse com quem exatamente ele estava lidando. Assim que a viu, agradeceu aos Deuses por não ter tido coragem suficiente para matá-la. Viu o medo nos olhos esmeraldas. A pele corada, as lágrimas já secas sobre a face angelical, sedosa ao seu toque. Os cabelos ruivos longos, presos em uma bela e elaborada trança, que já se desfazia, caindo pelos ombros e pelo rosto. O corpo escultural, tão junto ao seu... Como era bonita... Fitou os lábios, cheios e delicados, entreabertos, ofegantes e trêmulos. Uma terrível vontade de beija-la o levou a inclinar a cabeça, aproximando-se da linda garota.
Sakura, tentou recuar, porém não conseguiu. Os lábios dele já se pressionavam contra a sua boca, movimentando-se lentamente. Fechou os olhos, entregando-se ao beijo, que se tornou mais ardente quando a língua dele começou a saborear sua boca... Como poderia confiar num homem daqueles? Nem ao menos o vira! Apenas os olhos dourados, revelavam um pouco sobre aquele sujeito. Mas não pode evitar. Sentiu-se atraída por aquele ar misterioso. O enlaçando com os braços, obrigou-o a não parar o beijo...
"Não...", ele disse, separando-se da mulher que inconscientemente, o deixara praticamente enlouquecido. "Vá para casa, antes que eu a mate!"
"Todos vocês são iguais!", ela replicou, nervosa. "Como podem ser tão insensíveis?"
O homem a fitou partir. Não deveria ter feito aquilo. O que o imperador chinês imaginaria ao ver Syaoran Li, o filho do mais respeitado oficial chinês, beijando uma japonesa, com tanta paixão? Ficou curioso... Nenhuma mulher fora suficientemente corajosa para enfrenta-lo, para mostrar que não tinha medo da morte. E aquela delicada garota, simplesmente, com os olhos verdes, o deixara sem total controle. Afastou-se da clareira, com a mente enevoada e com a louca vontade de não ter parado de beijar Sakura Kinomoto, a filha dos generais japoneses...
Enquanto isso, apressada, Sakura corria em direção a cozinha da onde saíra. Chorava quase que desesperadamente. Tocou os lábios inchados, desejando não ter deixado se levar por um belíssimo par de olhos dourados, tão vivos e ardentes... Ele simplesmente a jogaria numa cama, se divertiria e, depois, a jogaria fora.
'Como pude ser tão estúpida. Ele era um chinês, não era? Chinês...', ela pensou, parando subitamente. Os chineses haviam chegado no Japão. A prova disso era o sedutor espião que a deixara sem fôlego com seus beijos. Estava, finalmente, na hora de agir. E talvez, até, se vingar da humilhação que sentia ter passado.
**
Syaoran abriu as portas do velho Dojo, chamando a atenção dos companheiros, que dormiam profundamente. Um deles, Nui Bi, aproximou-se do capitão, receoso, o que Syaoran logo notou. Apesar da mente estar ocupada com outros assuntos...
"O que houve?", ele perguntou, sentindo que o soldado queria lhe dizer algo. A hesitação do outro só serviu para deixa-lo mais nervoso. "Desembuches, homem! Não vês que estou com a cabeça estourando, a ponto de matar alguém?!"
Literalmente, o homem deu um pulo, assustado com rompante do superior. Mas, escolhido para anunciar a noticia, não pode recuar. "Meu senhor, ocorreu algo...".
"Problemas?", Syaoran perguntou novamente, só que com um semblante mais preocupado no rosto.
"Não sei se nomeio de problema, senhor", ele suspirou longamente, limpando o suor gerado pelo nervosismo. "Temos um clandestino junto a nossas tropas"
"Clandestino? O que? Inimigos? Como?", ele se surpreendeu. Os olhos profundamente negros de Nui o fitaram, como se quisessem acalma-lo.
"Não. Veja com seus próprios olhos, meu senhor", ele explicou, apontando em direção a uma porta. O capitão, alterado, caminhou até lá, seguido pelo soldado, temendo o que ele faria com o convidado inesperado...
O quarto estava silencioso e escuro. Syaoran adentrou mais no local, esperando um inimigo ou soldado não escalado para a batalha. Se fosse um destes casos, o castigo seria morte, por desrespeitarem a lei do país. Porém, quem ele viu o deixou mais atônito e alterado do que Nui esperava.
"Meiling!!!!!!"
A garota o olhou timidamente, esboçando um sorriso inocente. "Olá, meu irmão"
"Olá? Você ainda tem a audácia de me dizer olá? Estás louca, guria? Como viestes parar aqui?!?! Como?!?!", Syaoran gritou. Nui, vendo a expressão temerosa e medrosa de Meiling, respondeu por ela.
"Meu senhor, se me permite explicar", ele pediu atenção, e o chinês o olhou, assentindo com a cabeça. "Ela se escondeu junto com as bagagens. Acho que..."
"Acha nada!", Syaoran vociferou, interrompendo o soldado. "Porque estás aqui, Meiling?"
"Por que...", ela disse, aproximando-se dele. "Eu não queria me separar de você"
"Achas que isto é uma desculpa razoável? Como explicarei a nosso pai, quando ele não te encontrar mais na China, sua irresponsável?", ele praticamente cuspia as palavras na cara da irmã. Ela se aproximou, sem derramar uma única lagrima.
"Lhe dirá que eu fugi contigo, porque quero que nada lhe aconteça, seu imbecil! Oh, eu te odeio, Syaoran Li! Se um navio estivesse a me esperar, eu certamente preferiria subir a ele do que ficar escutando suas besteiras", e ao dizer isto, a chinesa saiu juntando tudo o que viu pela frente, até alguns soldados dorminhocos.
O capitão deu um longo suspirou, deixando transparecer o quanto estava cansado. Depois, virou-se para Nui. "Cuides dela, Nui. Quando eu puder, a mandarei de volta".
O soldado assentiu, vendo Syaoran sair. Deixou escapar um sorriso. Adorava Meiling. Com certeza, sua estadia no Japão não seria tão penosa...
Fim***
Bom, gente, eu realmente sinto muito. Acho que demorei demais para postar este capitulo, e como eu não tenho recebido muitos comentários, minha auto-estima está lá embaixo... Mas, um dia eu supero... Se eu não coloquei glossário desta vez é porque não achei que tinha necessidade. Posso ter me enganado, mas não vi nada que as pessoas não conhecessem. Então, qualquer coisa, me manda um Rewiew (é assim que se escreve?)
Um beijo para todo o pessoal que está lendo este texto! De Jenny-Ci...
A mansão estava cheia de pessoas e iluminada. Deslumbrante. Tomoyo se emocionou ao pensar assim. Seu sogro e seu pai fizeram questão de preparar aquele jantar, para comemorar sua chegada. E, mesmo sendo modesta, perguntava-se por que tinha tanta sorte em viver ao lado de pessoas tão maravilhosas...
Fitou o marido ao lado. O achava muito atraente. A pele era bronzeada, os músculos, rijos e expostos sobre as roupas que usava. Os olhos eram castanhos, porém, o brilho a levasse a crer que eles às vezes lhe pareciam dourados. Os cabelos eram desalinhados, espalhados pela expressão forte dele. Mas o que mais gostava era do sorriso. O sorriso sincero, desde de a primeira vez que o olhara. Deitando a cabeça sobre o ombro dele, ela deixou as mãos fortes dele passarem por sua cintura, a apertando mais contra o corpo másculo. Como reclamar da sorte, se trouxera um homem como Touya para seu destino...?
"O que estás a pensar?", ele perguntou, próximo de seu ouvido. Ela sorriu, virando-se para encara-lo.
"Tudo é tão perfeito, meu amor... Tenho tanto medo de acordar e ver que estou em um sonho...", ela disse, suspirando. Ele acariciou a face da esposa, com carinho.
"Sonho é saber que estás aqui comigo, e que nada nem ninguém nos separara...", ele afirmou.
Um empregado foi até o casal, curvando-se diante dos patrões.
"Um convidado acaba de chegar... Trata-se de Eriol Hiiragisawa", ele prontamente avisou. O casal se entreolhou, curioso.
'Eriol... Eriol Hiiragisawa?', ela perguntou a si mesma, tentando fazer a mente se lembrar de quem seria este inesperado cavalheiro. Não teve tempo nem de pensar mais a respeito. O intrigante homem se encontrava na sua frente, sorrindo como se a conhecesse há muitos anos, porém, na mente da japonesa, não lhe ocorriam lembranças que envolvessem o Sr. Hiiragisawa.
O olhou, curiosa. O homem vestia um sobretudo azul escuro, calças negras e outros utensílios estritamente ocidentais. Tomoyo sabia disse por sair de seu país e passar algum tempo na Inglaterra. Era um homem alto, que aparentava força e uma extrema gentileza por trás dos óculos transparentes, que não escondiam os olhos azuis profundos. Os cabelos negros não eram rebeldes, eram penteados e brilhantes. Uma imagem surgiu na mente da japonesa. Conhecia aqueles olhos... Conhecia aquele sorriso... Como pudera esquecer do aluno de quem, futuramente, seria seu sogro? Como pudera esquecer do maravilhoso homem que a fizera descobrir o que era o amor?
"Sr. Hiiragisawa... É realmente uma surpresa vê-lo aqui", a voz grossa de Touya cumprimentou o homem a sua frente. O inglês sorriu, fazendo uma leve mensura ao casal.
"Estou surpreso que não tenhas esquecido de mim, meu caro Touya Kinomoto", Eriol respondeu, para depois se dirigir a japonesa que ainda o fitava surpresa. "Como está, Srta. Daidouji?"
"Muito bem", ela o brindou com um sorriso. "Mas sinto lhe formar que não me chamo Tomoyo Daidouji. Me chamo Tomoyo Kinomoto...", ela respondeu. Eriol notou a aliança na mão esquerda dela, e como os olhos castanhos de Touya transmitiam um certo incomodo com a sua presença...
Passando a mãos pelos cabelos azulados, ele olhou para Tomoyo, que ainda sorria, mas não mais para ele. Belíssima, ele concordou deslumbrado. Os cabelos negros caiam pelos ombros, combinando com a cor escura do quimono que ela utilizava. Ainda permanecia com os traços angelicais, com os olhos brilhando e expondo a cor tão rara que continham. Vendo seu erro ao encarar Tomoyo tão demoradamente, ele logo se corrigiu. "Mil perdões. Não imaginava que havia se casado, Sra. Kinomoto. Meus sinceros e atrasados votos de felicidade"
"Eriol?!?!", uma voz feminina soou. O inglês virou-se ao ouvir seu nome, deparando-se com Sakura, com a mão aos lábios, surpresa. Não mudara, em absolutamente nada, Eriol observou, enquanto ela sorria para ele, e se aproximava em uma velocidade impressionante.
"Minha amiga, Sakura Kinomoto. Se não tens um noivo, me permita fazer candidato. Estás mais bela do que nunca", ele cumprimentou, pegando a delicada mão e depositando um casto beijo sobre ela. Os olhos verdes da japonesa brilharam, como se agradecessem a gentileza.
"Oh, Eriol... Sabes como esperei desesperadamente por teu amor...", Sakura respondeu irônica, notando como o velho amigo ria dela. O carinho que tinha por Eriol era enorme. O considerava um irmão, mesmo tendo dez anos apenas quando o conheceu.
"Já cumprimentastes meu pai?", ela perguntou, e ele meneou com a cabeça. "Então, venhas! Papai ficara contente em revê-lo, meu amigo", ela exclamou, puxando o jovem pelo braço.
Touya o observou se afastar, relutante. Lembrava de quando, no passado, ele passara uma temporada na casa de seu pai. O inglês era simpático, divertido e um galanteador que de bobo, não tinha absolutamente nada. Sakura encantara-se e tornara-se uma grande amiga daquele homem, o que já gerara uma certa antipatia em Touya, enquanto Tomoyo, refinada e recatada, sentia-se cada vez mais atraída pelo convidado do general Fujitaka. Chegara até a confessar a Touya que estava apaixonada pelo inglês... O japonês se sentira humilhado e ressentido. Alem de ter que proteger a própria irmã contra as investidas infalíveis do inglês, tinha que suportar o fato de disputar Tomoyo, a quem amava tão secretamente e intensamente, com Eriol.
Discutira uma vez, com Eriol. Lembrou-se de tê-lo encontrado com Tomoyo, na biblioteca. Eles estavam prestes a se beijar! Eriol segurava a morena pela cintura, enquanto ela apoiava-se no tórax dele, o fitando com olhos tão vislumbrados e translúcidos! Estavam tão próximos, tão íntimos, que Touya controlou-se a não ir até lá para separa-los, saindo do aposento e se posicionando para espiar os dois. Sentiu a dor o arrebater quando viu, pela brecha da porta, os dois se beijando, ardentemente.
Não conseguiu ao menos se mover, para impedir Eriol de continuar a beijar e a acariciar Tomoyo, praticamente sua noiva, com tanta intimidade. Viu ela interromper o beijo bruscamente, correndo pela outra porta, com a expressão confusa e chocada, deixando um Eriol atônito e surpreso. Não pode evitar. Entrou naquele aposento, e reunindo toda a magoa que sentia desde que aquela presença perturbara Tomoyo, discutiu com ele. O inglês calmamente, lhe deu uma única resposta: Havia se apaixonado pela garota de olhos violetas.
Mas, para sua sorte, aquele atrevido voltara para sua terra natal. Tomoyo, pelo que ele notara, esqueceu tudo. Esqueceu o beijo, esqueceu o quanto Eriol Hiiragisawa a amava e o quanto se iludira com ele. Casou-se com ele, e agora, lhe pertencia. Uma antiga paixão não deveria deixa-lo tão ressabiado!
"Querida?", ele chamou Tomoyo, que fitava o general receber afetuosamente o convidado inglês. "Lembra-se dele?".
"Sim...", ela praticamente se denunciou, suspirando tristemente. Touya averiguou, apavorado, que Eriol ainda causava 'aquelas' antigas sensações em sua esposa. Como há 10 anos atrás.
"Tomoyo, por que isto?!?", ele perguntou, aumentando o tom de voz, sentindo-a sair rouca e trêmula. "Desde de que ele chegou, tu nem se atreveu a desviar o olhar dele!"
"Touya...", ela tentou parecer calma, porém, seu semblante denunciava que ela estava igual ou até mais nervosa que o marido. "Acalme-se. Tudo aquilo que houve faz parte do passado. Sou sua esposa. Me casei por que te amo. Não pense em nada a não ser isto..."
Apesar das palavras bonitas, Touya não se convenceu por completo. Com aquela guerra, teria que se afastar da esposa, deixando-a sozinha naquela mansão com o inglês. Os pensamentos o abateram de um terrível forma. Arriscaria seu casamento por um batalha territorial? Lembrando de suas obrigações como filho do general japonês mais respeitado da Ásia, viu-se obrigado a responder que sim...
**
"Realmente, não passa pela minha cabeça como isto ocorreu...", Fujitaka lamentou para o amigo Takawi, enquanto se servia de alguns aperitivos. "Dei ordens para que os nossos exércitos não avançassem mais sobre território chinês. De repente, alguém chega e nos diz que o imperador quer a guerra?!?"
"Suspeito, meu caro, que alguém esteja querendo destruí-lo. Quer vê-lo morto, para talvez, sucede-lo", o japonês respondeu. Mas seus olhos se viraram para a garota ao seu lado. O que tanto ela fazia ali?
Atenta, Sakura realizava suas tarefas enquanto escutava a conversa que o pai tinha com o amigo. Considerava loucura, mas simplesmente não conseguia confiar naquele homem... Aquele sorriso maroto que tanto convencia seu pai, não conseguia nem ao menos lhe causar uma boa impressão!
"Providenciarei para que alguém descubra quem é o traidor! Decapitarei o safado, em praça pública", o general rapidamente disparou, cerrando os dentes. Os olhos violetas de Takawi brilharam, e ele abriu um sorriso largo, que somente uma pessoa perceptiva como Sakura, notaria que ele carregava uma traiçoeira malicia.
"Não te preocupes. Cuidarei pessoalmente disto. Fique tranqüilo...", a voz saiu um tanto rouca e denunciativa, o que Sakura notou.
Observando o ministro, estranhou o repentino interesse dele na proteção de Fujitaka. Sim, os dois eram amigos, porém, não a este ponto de confiança mutua tão forte. Talvez... Devesse vigia-lo... Não! Que absurdo! O homem não seria tão idiota a ponto de se expor desta maneira ao optar por ajuda-lo, se ele mesmo tivesse planejado tudo.
"Minha querida Sakura...", Takawi sorriu para a bela japonesa. "Se importaria em trazer um pouco de saque para mim? O que é uma festa sem uma bebida, não é mesmo?".
'Pelo que vejo, estás mais interessado em me afastar do que nesta idiota bebida... Que desculpa horrível', ela pensou desconfiada. Mas abriu um reluzente sorriso para o ministro, sorrindo. "Será um prazer servi-lo"
Pegando o cântaro de porcelana sobre a mesa, ela se retirou devagar, almejando escutar mais alguma palavra dita por aqueles dois. Mas não conseguiu escutar nada...
Chegou até a sua cozinha, observando pela vidraça, como a noite estava bonita. As estrelas não eram muitas, mas a Lua se mostrava majestosa, prendendo a atenção de Sakura. Mas um pequeno estalo, como se galhos quebrassem, fez Sakura voltar sua atenção para janela. Alguém a estava observando...
Saindo do aposento, notou como as plantas perto da janela onde ela se encontrava, há alguns minutos atrás, mexiam-se. Não era o vento. A noite estava calma, sem um único sopro de brisa. Alguém estivera ali... Sentia-se sendo observada, mas não havia sinal de ninguém naquela clareira. A não ser que...
Correndo rapidamente entre os arbustos, com a primeira faca que encontrara na cozinha, ela viu estar cercada. Não por arvores, e sim por um homem. O vulto dele se aproximou, sutilmente. Sakura não se intimidou. Estava costumada a lidar com o perigo, já que constantemente agia na escuridão para ajudar o pai. Levantando o rosto, fitou o rapaz a prender com os braços, levando-a de encontro a uma arvore. Soltou um gemido quando bateu a cabeça na casca dura do vegetal, praguejando interiormente.
"Se gritar, você morre!", ele ordenou. Sakura fitou os olhos dourados, e com coragem, retrucou.
"Não pelas suas mãos!".
O homem pareceu surpreso, porém, não recuou. "Quem tu pensas que és, para gritares assim comigo?!?! És apenas uma mulher!"
Sakura o fitou, indignada com o tom sarcástico que falara enquanto pronunciava que era um mulher. A sociedade realmente era injusta com o suposto 'sexo frágil'. "Por eu ser uma mulher, achas que implorarei misericórdia, para que me deixe viver? Nunca me ajoelharia diante de teu injusto machismo"
"Diga teu nome, antes que eu corte tua língua por falar tantas asneiras!", ele ameaçou, aproximando seus lábios dos dela. Ela lentamente se sentiu encurralada, enquanto aquele homem a pressionava cada vez mais contra a arvore e contra o próprio corpo.
"Não abrirei a boca. Meu nome não lhe diz respeito!", ela retrucou.
"Bem, então não digas. Não me importo muito com teu nome. Ele não valera mais nada. Tu morreras, daqui a muito pouco tempo...", ele sussurrou, encostando seus lábios nos dela, os sentindo tremer. Afastou-se o bastante para ver que os olhos verdes o encaravam decididamente. Mas, por trás de todo aquela coragem, ele viu as lágrimas caírem por aquele lindo rosto, brilhando sobre as duas esmeraldas que praticamente o deixaram sem saber o que fazer.
"Diga seu nome...", ele perguntou mais suavemente. Insegura, ela murmurou com os lábios...
"Sakura... meu nome é Sakura Kinomoto"
A japonesa viu o completo estranho se aproximar. Sentiu os dedos dele passarem por seu rosto, contornarem seus lábios, deixando um rastro de fogo por onde passavam. Como um simples toque de um desconhecido, dotado de belos olhos, a deixara tão confortavelmente aquecida? Munida de uma coragem que mesmo ela não sabia possuir, ela se afastou, trêmula. Deixara, para seu infortúnio, a faca cair no chão. Nesta escuridão seria impossível encontra-la novamente. Seria inútil até procura-la.
"Vai me matar?", ela perguntou. Ouviu a risada discreta dele ecoar.
"Não necessito. Logo, logo, tudo que você ama, estará destruído. Eu farei isso. Destruirei tua nação, tua família. Até você... mas, por enquanto, não preciso me sujar com teu sangue", ele respondeu. Viu a garota apertar os punhos, nervosa. Mas, por que diabos, não ela ainda não saíra dali, se ele se afastara suficientemente para isso?!?
"Antes de por tuas mãos imundas em minha família, eu o matarei! Não sabe do que sou capaz!", ela disparou. O homem de olhos dourados novamente sorriu. A garota era determinada e estava decidida a enfrenta-lo.
"O que suas delicadas mãos poderiam fazer contra mim...", ele disse. A agarrando pelo braço, fez os dois corpos se aproximarem. Fitou-a com um inconfundível desejo. Ela não estava o vendo. Porém, ele tinha uma bela visão da jovem que expiava há alguns minutos atrás.
"Me deixe sair daqui...", ela pediu. Sakura sabia da guerra. Sabia da possibilidade de estar encurralada, sem saídas e sem a mínima defesa, contra um dos inimigos do pai. Talvez, ela conseguisse engana-lo, com um pouco de lábia. Ele era um homem. Com um pouco de charme, ela sairia daquela situação.
"Antes, um pedido", ele murmurou, inclinando a cabeça, sussurrando as palavras junto à boca de Sakura, que sentiu um arrepio percorrer a espinha. "Deixe-me vê-la melhor"
Ela, subitamente corada, assentiu com a cabeça. Ele a puxou pelo braço, a levando até onde a Lua mostrasse com quem exatamente ele estava lidando. Assim que a viu, agradeceu aos Deuses por não ter tido coragem suficiente para matá-la. Viu o medo nos olhos esmeraldas. A pele corada, as lágrimas já secas sobre a face angelical, sedosa ao seu toque. Os cabelos ruivos longos, presos em uma bela e elaborada trança, que já se desfazia, caindo pelos ombros e pelo rosto. O corpo escultural, tão junto ao seu... Como era bonita... Fitou os lábios, cheios e delicados, entreabertos, ofegantes e trêmulos. Uma terrível vontade de beija-la o levou a inclinar a cabeça, aproximando-se da linda garota.
Sakura, tentou recuar, porém não conseguiu. Os lábios dele já se pressionavam contra a sua boca, movimentando-se lentamente. Fechou os olhos, entregando-se ao beijo, que se tornou mais ardente quando a língua dele começou a saborear sua boca... Como poderia confiar num homem daqueles? Nem ao menos o vira! Apenas os olhos dourados, revelavam um pouco sobre aquele sujeito. Mas não pode evitar. Sentiu-se atraída por aquele ar misterioso. O enlaçando com os braços, obrigou-o a não parar o beijo...
"Não...", ele disse, separando-se da mulher que inconscientemente, o deixara praticamente enlouquecido. "Vá para casa, antes que eu a mate!"
"Todos vocês são iguais!", ela replicou, nervosa. "Como podem ser tão insensíveis?"
O homem a fitou partir. Não deveria ter feito aquilo. O que o imperador chinês imaginaria ao ver Syaoran Li, o filho do mais respeitado oficial chinês, beijando uma japonesa, com tanta paixão? Ficou curioso... Nenhuma mulher fora suficientemente corajosa para enfrenta-lo, para mostrar que não tinha medo da morte. E aquela delicada garota, simplesmente, com os olhos verdes, o deixara sem total controle. Afastou-se da clareira, com a mente enevoada e com a louca vontade de não ter parado de beijar Sakura Kinomoto, a filha dos generais japoneses...
Enquanto isso, apressada, Sakura corria em direção a cozinha da onde saíra. Chorava quase que desesperadamente. Tocou os lábios inchados, desejando não ter deixado se levar por um belíssimo par de olhos dourados, tão vivos e ardentes... Ele simplesmente a jogaria numa cama, se divertiria e, depois, a jogaria fora.
'Como pude ser tão estúpida. Ele era um chinês, não era? Chinês...', ela pensou, parando subitamente. Os chineses haviam chegado no Japão. A prova disso era o sedutor espião que a deixara sem fôlego com seus beijos. Estava, finalmente, na hora de agir. E talvez, até, se vingar da humilhação que sentia ter passado.
**
Syaoran abriu as portas do velho Dojo, chamando a atenção dos companheiros, que dormiam profundamente. Um deles, Nui Bi, aproximou-se do capitão, receoso, o que Syaoran logo notou. Apesar da mente estar ocupada com outros assuntos...
"O que houve?", ele perguntou, sentindo que o soldado queria lhe dizer algo. A hesitação do outro só serviu para deixa-lo mais nervoso. "Desembuches, homem! Não vês que estou com a cabeça estourando, a ponto de matar alguém?!"
Literalmente, o homem deu um pulo, assustado com rompante do superior. Mas, escolhido para anunciar a noticia, não pode recuar. "Meu senhor, ocorreu algo...".
"Problemas?", Syaoran perguntou novamente, só que com um semblante mais preocupado no rosto.
"Não sei se nomeio de problema, senhor", ele suspirou longamente, limpando o suor gerado pelo nervosismo. "Temos um clandestino junto a nossas tropas"
"Clandestino? O que? Inimigos? Como?", ele se surpreendeu. Os olhos profundamente negros de Nui o fitaram, como se quisessem acalma-lo.
"Não. Veja com seus próprios olhos, meu senhor", ele explicou, apontando em direção a uma porta. O capitão, alterado, caminhou até lá, seguido pelo soldado, temendo o que ele faria com o convidado inesperado...
O quarto estava silencioso e escuro. Syaoran adentrou mais no local, esperando um inimigo ou soldado não escalado para a batalha. Se fosse um destes casos, o castigo seria morte, por desrespeitarem a lei do país. Porém, quem ele viu o deixou mais atônito e alterado do que Nui esperava.
"Meiling!!!!!!"
A garota o olhou timidamente, esboçando um sorriso inocente. "Olá, meu irmão"
"Olá? Você ainda tem a audácia de me dizer olá? Estás louca, guria? Como viestes parar aqui?!?! Como?!?!", Syaoran gritou. Nui, vendo a expressão temerosa e medrosa de Meiling, respondeu por ela.
"Meu senhor, se me permite explicar", ele pediu atenção, e o chinês o olhou, assentindo com a cabeça. "Ela se escondeu junto com as bagagens. Acho que..."
"Acha nada!", Syaoran vociferou, interrompendo o soldado. "Porque estás aqui, Meiling?"
"Por que...", ela disse, aproximando-se dele. "Eu não queria me separar de você"
"Achas que isto é uma desculpa razoável? Como explicarei a nosso pai, quando ele não te encontrar mais na China, sua irresponsável?", ele praticamente cuspia as palavras na cara da irmã. Ela se aproximou, sem derramar uma única lagrima.
"Lhe dirá que eu fugi contigo, porque quero que nada lhe aconteça, seu imbecil! Oh, eu te odeio, Syaoran Li! Se um navio estivesse a me esperar, eu certamente preferiria subir a ele do que ficar escutando suas besteiras", e ao dizer isto, a chinesa saiu juntando tudo o que viu pela frente, até alguns soldados dorminhocos.
O capitão deu um longo suspirou, deixando transparecer o quanto estava cansado. Depois, virou-se para Nui. "Cuides dela, Nui. Quando eu puder, a mandarei de volta".
O soldado assentiu, vendo Syaoran sair. Deixou escapar um sorriso. Adorava Meiling. Com certeza, sua estadia no Japão não seria tão penosa...
Fim***
Bom, gente, eu realmente sinto muito. Acho que demorei demais para postar este capitulo, e como eu não tenho recebido muitos comentários, minha auto-estima está lá embaixo... Mas, um dia eu supero... Se eu não coloquei glossário desta vez é porque não achei que tinha necessidade. Posso ter me enganado, mas não vi nada que as pessoas não conhecessem. Então, qualquer coisa, me manda um Rewiew (é assim que se escreve?)
Um beijo para todo o pessoal que está lendo este texto! De Jenny-Ci...
