Capitulo 4
Olhou pela janela, impaciente, notando ainda estar longe do seu destino. Fazia anos que não voltava para a mansão, mas não lembrava do caminho ser tão comprido... Mas, a causa que o levava lá pedia calma e reflexão. O melhor é que tivesse tempo suficiente para por suas idéias em ordem e pensar na melhor maneira de resolver o seu novo dilema...
Yukito Tsukishiro sempre foi uma pessoa calma, paciente e generosa, mesmo quando era uma criança. Fora morar em Nagasaki quando era um bebê de colo. Quando cresceu, conheceu seus dois melhores amigos, Sakura e Touya. Os três eram muito unidos, quase inseparáveis. E, os pais das crianças decidiram que quando Sakura e Yukito tivessem uma idade avançada, iriam se casar.
A princípio, Yukito não gostou nada desta história. Ela era sua amiga de infância, e como podia, simplesmente, virar sua esposa? Bem, a dúvida não foi esclarecida, mas ao passar dos anos, Yukito começou a considerar o casamento arranjado. Percebia como sua amiga crescia, se transformando em uma mulher muito bela. Com o passar de mais alguns anos, ele notou estar perdidamente apaixonado pela garota de olhos verdes.
Porém, a geniosa garota era totalmente contra o casamento. Tinha um grande carinho por Yukito, mas isso não podia obriga-la a casar-se com o melhor amigo. Era contra sua vontade e seus sentimentos. Não houve como convence-la. Os pais tiveram que desfazer o noivado, e desde então, os dois nunca mais se viram.
Agora, como um senhor feudal rico e influente, Yukito estava decidido a não desistir tão fácil como fizera antigamente. Convenceria primeiramente o pai de Sakura e depois, com calma, conquistaria o coração daquela garota com espírito tão selvagem...
"Meu senhor, aqui estamos", uma voz tirou Yukito de seus devaneios, enquanto o coche parava diante de uma luxuosa mansão. "Passar bem"
"Igualmente. Obrigado", ele agradeceu, descendo da carruagem e fitando a casa, onde seus verdadeiros desafios começariam. Caminhou até um soldado, que guardava os portões da mansão Kinomoto.
"O que deseja, senhor", o homem perguntou.
"Sou um grande amigo de Fujitaka Kinomoto, Yukito Tsukishiro. Por favor, anuncie a minha chegada".
"Aguarde um momento, senhor", o homem disse, entrando na mansão. Yukito, curioso, viu muitos soldados espalhados por todo quintal da mansão. Sabia sobre a guerra, mas será que isso não era exagero? Ou estava acontecendo algo que ele não tinha consciência?
Alguns segundos depois, o homem voltava, abrindo os portões. "Por favor, senhor, entre!".
Ajeitando os cabelos acinzentados, Yukito entrou na mansão. Vasculhou o ambiente, lembrando-se de como era delicioso correr por aqueles verdes pastos, com seus amigos. Bons tempos, ele pensou. Notou a movimentação de uma bela dama, que parecia correr atrás de algo. Aproximando-se mais, ele sorriu. Encontrara muito facilmente seu objetivo.
"Sakura Kinomoto, quem diria ter o privilégio de ver-te correr atrás de uma galinha?", ele brincou. A jovem se endireitou, fitando curiosa e igualmente furiosa com o tom brincalhão da voz.
"Perdão, mas eu o conheço?", ela indagou. Yukito se aproximou, e sorriu ainda mais ao ver como os anos transformaram aquela linda garota em uma fogosa mulher...
"Não reconheces teu amigo de infância, minha senhorita? Estou desapontado", ele caçoou.
Por alguns instantes, Sakura fitou o homem a sua frente, tentando reconhece-lo, analisando cada detalhe. Bastou isto, ela soltou um gritinho de surpresa e de alegria correndo até o amigo, pulando sobre seus braços e o abraçando afetuosamente.
"Yukito!!!! Oh, pelos deuses, não consigo crer que estás aqui!!! Como podes me deixar sozinha por tanto tempo?!?", ela gritou, quase que histericamente. Sorrindo, Yukito respondeu, feliz com entusiasmo de sua velha companhia de brincadeiras.
"Acalma-te, guria. Primeiramente, saías de cima de mim... depois, conversamos", ele avisou. Sakura se ruborizou, levantando timidamente. Mas bastou olhar o sorriso dele, para que ela também sorrisse.
"Desculpe...".
"Não se preocupe quanto isso. Mas posso saber o que fazias correndo atrás daquela galinha ali?", ele perguntou, apontando para galinha que ainda piava, correndo desesperada.
"É que...", Sakura disse, enrolando a ponta dos cabelos com o dedo, mostrando estar constrangida na situação em que se encontrara. "Papai queria que eu a pegasse, para que pudéssemos jantar. Só que, infelizmente, deixei a porta do galinheiro aberta, e... ela fugiu", Yukito caiu na risada, e Sakura se enfureceu, cruzando os braços sobre o peito.
"Hahaha! Nunca escutei tamanha besteira!!!"
"Tu me julgas boba e inexperiente, porém não sabe do que sou capaz!", ela afirmou, com as sobrancelhas arqueadas.
"Realmente, te desconheço. Há muitos anos não temos noticias um do outro", ela respondeu. Aproveitou o momento em que ela sorriu, para avalia-la melhor. Estava sim, muito diferente, mais feminina e bela. Porém, os olhos adquiriram um brilho que misturava coragem e uma audácia irresistível... Como não querer conquistar uma mulher daquelas?
"Sim... Vamos entrar. Papai e Touya ficarão contentes em te ver", Sakura disse, puxando-o pela mão.
Os dois entraram caminharam até o salão principal, onde toda a família estava. A expressão surpresa de todos foi óbvia. Porém, todos se levantaram e cumprimentaram o homem com fervor e carinho. Além de ele ter sido devidamente apresentado a Eriol Hiiragisawa, o único que ele não conhecia. Sakura ficou a observa-lo. Yukito era um homem alto, não muito forte, porém muito belo. Tinha profundos olhos castanhos, cabelos tão negros que chegavam a ser acinzentados. Muito gentil e sedutor, seria o partido ideal para Sakura. Mas a mente da jovem japonesa ainda tentava assimilar a idéia de ter trocado um beijo com o inimigo...
"Sakura?", Kaho chamou a sua atenção. "Vá se arrumar! Não vês que estás demasiadamente inapropriada para se apresentar diante do Sr. Tsukishiro e...".
"Por favor, Sra. Kinomoto", Yukito a interrompeu, ao notar a expressão contraditora de Sakura ao ouvir as palavras venenosas da madrasta. "Não me ofende de maneira alguma, o modo como Sakura está vestida. Na verdade, ela está naturalmente belíssima".
Sakura corou com o comentário do amigo, mas achou melhor não criar desavenças com a madrasta. "Eu faço questão de me arrumar, Yukito. Seria um falta de cortesia, vires de um local distante para me veres em velhos trapos", e dizendo isso, ela caminhou até o corredor, seguindo para o quarto.
"Bem, Yukito, o que o trás aqui na cidade?", Touya perguntou, já imaginando a resposta.
"Primeiramente, visitar meus velhos amigos. Em segundo, o assunto é um tanto impróprio, por hora. Mas assim que tiver a oportunidade, comunicarei a vocês".
"Insistimos que fique conosco, Sr. Tsukishiro", Tomoyo prontamente avisou, cordialmente. "Não poderemos permitir que pernoite por estas bandas quando tens uma grande família para acolhe-lo durante sua estadia"
"Muito obrigado, Sra. Tomoyo. Mas de maneira algumas quero incomoda-los", ele disse. Se sua etiqueta mandava recusar o convite, o coração pedia desesperadamente para que ele ficasse, apenas por dormir sobre o mesmo solo da garota que tanto amava.
"Não será um incomodo. Será um prazer", Fujitaka rapidamente interveio na conversa. "Temos quartos e empregados para servi-lo. Seria uma honra que nossa humilde casa sirva de morada para você".
"Bem... Se insistem, confesso que me agrada muito mais ficar aqui com vocês do que em outro lugar qualquer"...
**
Eriol vasculhava a biblioteca de amigo, atrás de algum romance. Na Inglaterra, as histórias lhe parecerem sempre tão iguais. Damas sempre emperiquitadas e homens lutando por elas. Agora estava à procura de uma experiência nova, que o marcasse e o levasse a crer que esta seria sua maior produção. Parando diante de uma prateleira, observou um titulo peculiar que o interessou muito: 'A Gueixa e a Cerejeira'.
"Sr. Hiiragisawa?", uma voz doce o chamou. Recolocando o livro no local onde encontrara, Eriol sorriu para Tomoyo, que trazia consigo uma bandeja com pequenos petiscos.
"Minha senhora, não precisava se incomodar com isto. Se eu precisasse me alimentar, certamente buscaria", ele prontamente avisou, retirando a bandeja das delicadas mãos de Tomoyo, que sorriu com a gentileza.
"Mas, estás a horas na biblioteca. Imaginei que estarias com fome, por isto preparei o bolo e o café", ela explicou. Eriol sorriu, sentindo-se lisonjeado por ter tido a atenção da bela dama.
"Por favor, Sra. Tomoyo, seria pedir demais, que pegasse o romance que coloquei na prateleira quando lhe escutei?"
"Oh, não seria incomodo algum. Diga me qual"
"'A Gueixa e a Cerejeira"
Tomoyo assentiu com a cabeça, levantando-se nas pontas dos pés para pegar o livro. "É um ótimo livro, Sr. Hiiragisawa. Não se arrependerás de ler. ", ela argumentou, tirando a poeira do livro do velho.
"Espero sinceramente que não...", ele disse. Os dois seguiram até uma pequena mesa, onde depositaram a bandeja e o livro.
"Sra. Tomoyo?", Eriol chamou a atenção dela, vendo que ela já se virava para ir embora. "Não quer me fazer companhia?".
A jovem o encarou por alguns segundos, sentindo um delicioso arrepio com o olhar tão azul do inglês. "Não irei lhe atrapalhar? Imagino que viestes aqui para obter silêncio e concentração. Não para ser atrapalhado por uma dama tão mal informada como eu".
'Como poderia? Será uma inspiração para meus romances', ele respondeu mentalmente. "Nunca irias me atrapalhar".
Sorrindo para Eriol, Tomoyo se aproximou, sentando-se no sofá, ao lado de Eriol. Ficaram por um silêncio incomôdo, sem ter o que dizer. As lembranças daquele beijo cruzaram as mentes do dois, que se sentiram levemente incomodados por estarem justamente no lugar onde aquilo ocorrera. Eriol a encarou pelo canto dos olhos, observando como ela torcia as mãos, fitando o chão, corada. Resolveu amenizar o clima.
"Por que, a senhora não me conta a história deste romance que acabei de escolher? Assim, não precisarei ler o livro todo, se ele não me interessar"
"Claro!... Bem, é a história de uma bela gueixa, que atrás de um homem que conhecerá anos atrás, deixou o Japão e buscou em terras o amado. A relação de tudo isto com a Cerejeira é que muitos fatos importantes no texto ocorrem de baixo desta árvore rosada O primeiro beijo, o reencontro... Mas, se me permites dizer, o senhor não tem cara de quem gosta de escrever romances", Tomoyo constatou, vendo a expressão desinteressada do inglês enquanto ela narrava a sinopse. Sorrindo, ele assentiu com a cabeça.
"Para ser sincero, nunca escrevi um romance. Não é o meu forte. Mas, sei que deverei ler muitos romances se quero criar o meu próprio".
"Ah, é por isto que estás aqui? Para escrever um romance?", ela perguntou, curiosa.
"Sim, minha senhora. Espero que este romance seja minha maior realização", ele confessou. Sentia-se bem ao falar tão abertamente com a bela jovem ao seu lado.
"Poderia me contar como planejas isso?".
Os dois iniciaram uma conversa animada. Tomoyo ria das graças de Eriol e se fascinava com o ponto de vista tão idealista do escritor. Já Eriol se sentia satisfeito em conversar com uma dama tão inteligente e que também opinasse e comentasse sobre os assuntos que eles estavam abordando. A conversa seguiu, até que um estrondo fez os dois pararem subitamente a conversação.
"O que foi isso?", Tomoyo exclamou, assustada. Eriol rapidamente se levantou, pegando a mão da jovem e se levantando junto a ela.
"Acho melhor sairmos daqui. Averiguarmos o que realmente houve"
Os dois sairiam rapidamente, notando alguns pedaços de madeira espalhados pelo chão. Seguindo pelo corredor, virão um quarto totalmente devastado, com as portas ao chão e uma enorme nuvem de poeira subindo e saindo por entre as paredes arrombadas. Tomoyo levou a mão à boca, com as lágrimas já inundando o rosto.
"De quem é este quarto, Sra. Tomoyo?", ele perguntou, preocupado com a expressão desesperada da morena.
"É quarto de Sakura...", ela falou num sussurro de voz. Eriol, alarmado, entrou no quarto, empurrando os escombros com as mãos. Vendo que assim, não a encontraria, ele começou a gritar pelo nome dela.
"Sakura!!!! Sakura!!!!", ele chamou, com toda a força dos pulmões. Sem escutar nada, ele ficou ainda mais desesperado. Pensamentos começaram a passar por sua mente? E se ela tivesse morrido?... Não! Não desistiria. Mesmo surpreso com todo aquele alvoroço, era seu dever salvar a amiga da morte.
"Eriol!!!"
Virando-se para trás, percebeu um braço embaixo de uma pilha de mármore e fuligem. Correndo até lá, tentou acalmar a amiga.
"Calma, Sakura, saíras daí rapidamente".
"Eu... ai... meu pé... eu não o sinto... por favor, me ajude...", ela disse sofreguidão, em suspiros alternados.
Com a ajuda de um pedaço de madeira, ele começou a retirar os escombros o mais depressa possível. Não era perito na área médica, mas sabia que se Sakura não sentia os pés, alguma problema grave havia acontecido. Depois de alguns minutos, pode ver o brilho dos olhos marejados de Sakura. Retirando o último escombro, pode ver a garota. Soltou uma exclamação assustada. Ela estava deitada, coberta de poeira, respirando com dificuldade. O pé, como ela mencionara, estava coberto de sangue seco, as pernas com hematomas e cortes. O rosto, milagrosamente, só tinha um arranhão na bochecha direita.
"Sakura, estás bem?", ele perguntou, se aproximando com cautela. A jovem ergueu o rosto, o fitando assustada, antes de assentir com cabeça, sorrindo.
"Olhes para mim, meu amigo. Lhe pareço em bom estado?", ela caçoou. Eriol sorriu, aliviado.
"Se consegues fazer piadas sem graça, estás perfeitamente bem", ele disse, a pegando no colo.
Do lado de fora, Tomoyo já não estava mais sozinha. Todos foram atraídos pelo enorme barulho e pela nuvem de poeira que rapidamente se espalhou pela casa. Quando viram Eriol aparecer com Sakura no colo, correram ao seu encontro, aliviados por não estarem com nenhum ferimento mais grave.
"Sakura!!!", Fujitaka exclamou, aproximando-se e tomando a filha caçula nos braços. Uma culpa o assolou, o impedindo de se movimentar. Não achava certo fato de ter a filha trabalhando para ele. Além de ser contra as rígidas leis do governo, era o futuro de Sakura que ele arriscava ao mandá-la espionar inimigos. Controlando o sentimento profundamente doloroso que bateu em seu peito, ele levou Sakura, seguido pela família, até um quarto, onde a depositou na cama.
Touya, preocupado, também não pode deixar de notar como se sentira, ao saber através da mãe, que Tomoyo fazia companhia ao jovem inglês. O orgulho ferido foi maior do que a dor do ciúme. Porém, a situação não era favorável. Na particularidade de seu quarto, conversaria seriamente com a sua esposa, a quem amparava carinhosamente.
"Minha querida, estás bem? Não te dói em nenhum lugar? Diga-me, estou com o coração aos saltos!", Yukito se exaltou, aproximando-se de leve da jovem machucada. Curvando os lábios em um meio sorriso, a falou.
"Não sinto meu pé direito. E meus olhos ardem. Minhas roupas estão em estado de devastação total. Os cabelos claros meus parecem mais palha cinzenta. Porém, tirando estes pequenos aspectos, juraria poder correr atrás de algumas galinhas", ela brincou, piscando para Yukito, que sorriu de volta, piscando também.
"Devemos chamar um médico, meu marido. Não queremos que nada de ruim aconteça a minha enteada".
Sakura praguejou interiormente, com a sincera vontade de quebrar todos os dentes do sorriso falso de Kaho. Desde de que nascera, Kaho a tratava com desprezo, utilizando sempre como defesa o fato de saber que não era uma filha legítima. Mas, diante de todos, a mulher de cabelos avermelhados escondia muito bem seu ódio, utilizando sua gentileza para acabar com qualquer suspeita. Meneando com a cabeça, Sakura resolveu provocar a esposa do pai.
"Não deves se importar tanto com meu estado, minha madrasta. Nem pagares um médico, apenas para não se dar ao trabalho de cuidar de meus ferimentos tão superficiais", ela respondeu, áspera.
"Sakura Kinomoto!", Fujitaka gritou, assim que Sakura terminara de dizer as palavras. "Não permito que se dirijas a minha esposa com tal ousadia. Mas feliz, percebo que não estás seriamente ferida. Se tens boca para falares asneiras, já não necessita de meus cuidados".
Tomando a mão da esposa com precisão, Fujitaka saiu do quarto. Touya lançou um olhar repleto de ódio para a irmã. Odiava o modo como a família se tratava, mesmo não dando importância ao fato de que Sakura não tivesse a mesma mãe que ele. Apegara-se a irmã como se ela também nascesse do ventre de Kaho. Mas infelizmente, a bela esposa de Fujitaka não interpretou de forma tão pacífica o fato de ter que conviver com uma bastarda. A tratando com arrogância e desprezo, Kaho somente conseguiu o ódio e a amargura de Sakura. Porém, Touya sabia que sua mãe não era má pessoa. E que Sakura não tinha o direito de julgá-la se ela a tratava com tanta generosidade.
"Estimo melhoras, minha irmã. Para teu corpo e para esta tua boca venenosa", ele vociferou. Tomoyo, indignada, levantou-se para fitar o marido tão intensamente, que Touya sentiu o corpo arder.
"Touya! Tua irmã precisa de apoio, e não de tua proteção em relação a minha sogra!", Tomoyo o repreendeu. Viu o marido se aproximar, bufando de raiva e de uma fúria nunca vista por ela.
"Está guria estirada na cama precisa de uma surra, isto sim. Todavia, meu papel é proteger minha esposa, e não uma irmã mal-criada. Se concordares tanto com os modos de Sakura, sugiro que fiques aqui para escutar mais um monte de besteiras!", ele disparou. A jovem o mirou uma última vez, antes de se sentar entre Eriol e Yukito, ao lado da cama de Sakura e sorrir para os dois.
"Estão vendo, meus senhores? Isto é a prova concreta de que Sakura e Touya são irmãos. Teimosos, impetuosos e com a boca incontrolável!".
Os dois homens olharam a dama a sua frente, abismados com a coragem dela. Numa sociedade, a mulher geralmente se fazia de submissa e escutava os gritos do marido sem contestar. Mas aquele belo anjo de cabelos negros mostrava-se forte. Forte e bela, completou Eriol interiormente.
"Mulher teimosa!", Touya grunhiu, e enquanto batia as botas no chão, ele saiu do aposento.
"Tomoyo! Estou surpresa e orgulhosa. Tu és uma mulher que merece mesmo nossa admiração", Sakura elogiou.
Só então que a jovem notou ainda estar sendo observada. Yukito, levemente ruborizado, estava mudo e perplexo. Já o inglês, a fitava com um misto de orgulho e de surpresa. E foi neste olhar tão confiante que ela percebeu ter feito a coisa certa.
"Me desculpe. Não pretendia de maneira alguma presenciar o pequeno desentendimento entre você e Touya", Yukito ressaltou. A jovem, mesmo sem fitá-lo, sorriu, enquanto preparava os curativos para os machucados de Sakura.
"Tudo isto, meu caro senhor Yukito, acontece há muito tempo. Sakura, minha jovem cunhada, é uma mulher corajosa e inconseqüente, que enfrenta Kaho sem temer a ira do pai. Touya, meu marido, infelizmente, tem uma... como dizer... simpatia a mais pela mãe... então, a defende sem pensar muito que fala e nem se Kaho está errada ou certa. Mas asseguro-lhes que não escutaram mais estas infantilidades".
"Não me incomodo de maneira alguma, senhora Tomoyo. Apesar de ter sido criado por uma família... um tanto... diferente... sei que não podemos julgar o comportamento que acabamos de ver", Eriol rapidamente argumentou. Tomoyo novamente sorriu, mas agora o olhando fixamente. O inglês sentiu um calor confortável, porém, achou melhor não demonstrar suas emoções.
"Em minha sincera opinião, acho que este casamento arranjado entre vocês dois, está mais do que acabado", Sakura opinou. Tomoyo sentiu as bochechas ferverem. Amava Touya...Não como antigamente..., Mas ainda sim, o amava.
"Sakura!", ela repreendeu a cunhada, sem saber o que dizer. Fitou Eriol, que sorria misteriosamente diante de sua expressão. "Não devias... Sabes se alguém te escuta... Pelos ancestrais, tu tens a língua mais afiada de toda a província... Estou tão constrangida... Oh, como podes dizer tamanha mentira em frente aos nossos convidados?".
"Não se preocupes, minha senhora...", Eriol a interrompeu, divertido. "Minha boca servira de túmulo para as palavras de sua cunhada".
Tanto Yukito quanto Sakura riram, enquanto Eriol ainda beijava os dedos, jurando fidelidade. Tomoyo, mesmo sendo o alvo do comentário engraçado de Eriol, não pode deixar de sorrir. Aquele belo homem estava conseguindo a proeza de transformar sua monótona vida de dama japonesa em um mar de verdadeiras alegrias.
**
"Posso saber, meu senhor, por que fizemos aquilo?", um dos soldados perguntou, timidamente, a Syaoran Li, que parecia, a quem tivesse bons olhos, travar uma guerra entre sua mente e seu coração.
"Estás a contestar minhas ordens, soldado?", ele perguntou, autoritariamente. O pequeno e corpulento guerreiro encolheu os ombros, negando desesperadamente com a cabeça.
"Não!!! Jamais seria capaz de cometer tal traição!!! Porém... Porque atacamos o quarto da Kinomoto, quando podíamos ter destruído aquele frágil palácio inteiramente?"
"Para ser sincero, eu...", ele calou-se, de súbito, sem palavras. Não tinha um motivo aparente para isto. Talvez, se livrar da culpa de ter beijado a inimiga. Mas, mesmo com a morte dela, não conseguia deixar de sentir na boca o doce sabor daqueles lábios. Balançando a cabeça, viu o que o soldado o fitava, ainda esperando uma resposta. "Achei melhor provocarmos os covardes. Se matássemos a família inteira, que divertimento deixaríamos para o final?". Vendo que o homem não acreditou, logo disparou. "Agora, deu- se ao disparate de duvidar de minha palavra? Não preciso lhe lembrar de qual castigo sofrera por esta ousadia".
"Meu senhor, acredito em cada som que sai de seus lábios. Se tua vontade era esta, fico feliz que ela tenha sido cumprida com esmero", o soldado afirmou, curvando-se diante do superior, retirando-se em seguida. Syaoran ficou imerso na escuridão do aposento, junto aos seus pensamentos confusos.
Oras, era um homem! Qualquer um com um pingo de masculinidade no sangue se encantaria com uma bela garota de olhos verdes, corpo perfeito e expressão tanto ousada quanto angelical. Mas, pelos deuses, ela tinha que ser filha do homem mais odiado pelo exército chinês? Filha de Fujitaka Kinomoto? Tinha que possuir o dom de envolvê-lo tão facilmente, que Syaoran perguntava-se se foi certo matar aquela linda donzela? Mesmo depois de o corpo dela ser tragado pela terra, ele lembraria dos lábios com o sabor especial, cheios de paixão e de desejo.
"É um absurdo!", ele ouviu uma voz soar em sua direção. Não precisaria nem se dar ao trabalho de se virar para saber de quem se tratava.
Era Meiling. Sua explosiva e incorrigível irmã.
"Syaoran Li!", Meiling berrou, posicionando-se na frente do irmão, com a expressão terrivelmente abalada. "Como podes ser capaz de cometer ato tão vil?".
Observando a irmã, notou que em vão, Nui tentava afastá-la dali, acalmá-la, antes que ela fizesse uma loucura ao se dirigir daquela maneira ao superior. Ignorando a pergunta da jovem chinesa, ele se dirigiu ao soldado. "Seu dever é cuidar para que ela se mantenha longe de meus assuntos pessoais. Sinto ao saber que não estás a cumprir seu trabalho como devia".
Apesar do tom calmo com que o capitão pronunciara as palavras, Nui recuou um passo diante da frieza daqueles olhos dourados. "Eu tentei... aceite minhas desculpas... eu apenas...".
"Não respondestes a minha pergunta, seu ser desalmado!", Meiling novamente berrou, interrompendo as explicações do soldado.
"O que faço e o que deixo de fazer são problemas meus. Saí daqui antes que eu lhe acerte a mão na cara, sua moleca intrometida!", ele rapidamente disparou, calando a boca da irmã. Porém, não demorou muito até que ela começasse a falasse novamente, com o tom mais suave.
"Tu fostes muito cruel, irmão. O que aquela pobre guria fizeste a ti?".
"A guerra é cruel, minha irmã", Syaoran disse, sentindo-se cada vez mais culpado e desconfortável com a morte daquela linda garota. "Ou você mata, ou morrerás".
"Porque ela, justamente uma inocente garota? Tu a viste? Era tão desprezível assim aquela que matastes com tanta rapidez e morbidez?".
Syaoran a fitou por um longo tempo, até perceber que seria impossível esconder da irmã algo de tamanha importância. Meiling era a única digna de sua confiança. "Nui! Vá dormir! Não preciso mais de teus serviços, por hora".
"Sim, senhor!", ele exclamou, se retirando do aposento, deixando os irmãos sozinhos. Depois, Syaoran novamente deu sua atenção a Meiling.
"Meiling... Eu a vi. Nunca, em toda a minha vida, contemplei tal beleza e pureza em uma garota como em Sakura Kinomoto".
"Então, me expliques, porque esta maldita idéia de matá-la? É desumano. Tu foste educado para ser um cavalheiro, saber respeitar os limites de sua própria autoridade. O que lhe levou a fazer este ato, Syaoran? Me digas, estou curiosa", ela ainda argumentou, mas com um sinal de silêncio, sentiu que o irmão ainda teria muito o quê falar.
"Eu estava observando-a, seguindo seus delicados passos. Porém, ainda não sei dizer como, ela descobriu minha presença. Corajosa como você, ela se embrenhou no matagal, com uma faca de cozinha na mão. Não resisti, fui até ela", ele disse, suspirando longamente. A irmã sorriu, notando a dedicação nas palavras de Syaoran, coisa tão como achar um chinesa que não apreciasse o Lótus.
"Como ela era?".
"Tinha longos cabelos cor de mel, chegando a serem ruivos, lisos e reluzentes. O rosto era tão perfeito, que nem minhas palavras fariam jus a tanta beleza. O corpo esguio, tão frágil, guardava uma força que me surpreendeu. Mas os olhos verdes eram divinos. Por isto, cometi uma insanidade".
"Não me diga que...", ela interrompeu a frase, corada. Entendendo a surpresa da irmã, ele logo tratou de corrigir seu erro.
"Não... Não chegamos a isto... Eu a beijei... Tão loucamente quanto apaixonadamente possível... Sei que não devia matá-la por ter a beijado, mas...", ele hesitou ao falar. Não gostava de expor seus sentimentos. "Não quero manchar minha reputação. Se o imperador confia em mim, devo dar motivos suficientes para isto".
"Syaoran...", ela iluminou os olhos, enquanto se aproximava dele. "Você está apaixonado".
"O que?!?!", ele se levantou da cadeira com tal ímpeto, que ela caiu para trás. "Achas mesmo que eu amaria uma nipônica qualquer!?!".
"Não era uma qualquer. Pelo modo como a descreveste, ela era por aparência, belíssima", Meiling alfinetou o irmão, sorrindo. Mas logo a alegria passou, como veio. "Não podias ter matado ela. Sinto pena da pobre moça".
"Meiling... logo, mesmo se não fosse por minhas mãos, ela também morreria...", ele afirmou, aproximando-se da irmã, que se afastou, como se a presença dele lhe assustasse.
"Não lhe passou pela cabeça a idéia de que ela teria se apaixonado por você, meu irmão? Não lhe dá magoa só de pensar que ela se iludiu com seus beijos? E que agora, cruelmente, você a assassinou?", a voz saiu trêmula, triste.
"Ela não poderia se apaixonar por mim, minha irmã. Sou um chinês. Treinado para matar os japoneses".
"Espero que a alma dela descanse em paz. E que pelos deuses, peço humildemente que ela não tenha morrido com a ilusão de amar você".
Aquelas palavras tocaram o coração do chinês de uma forma que ele mesmo desconheceu. Será mesmo que matara uma jovem que se apaixonara por ele? Não! O orgulho gritou em sua cabeça. Sim, o coração também respondeu. Sentindo-se arrasado, começou a pensar se fora mesmo uma boa idéia ter sido escalado como capitão.
Fim***
Senhor feudal: Um homem possuidor de um feudo, um lugar onde existiam terras e muitos camponeses trabalhando e morando em sua propriedade.
Oi, gente, tudo bem? Bom, antes de começar com minhas costumeiras notas finais, gostaria de agradecer a um comentário feito por Kath Klein. Ela me mostrou que não importa quantos comentários seus fanfics tenham. O que realmente importa é a dedicação e o amor que você tem a arte de escrever. Guardarei estas palavras para sempre em minha mente. Obrigado Kath *(*^_^ *)*
Para começar quero perguntar algumas coisas a vocês. Sou principiante, ainda não estudei toda a história japonesa. Por isto, fiquei com estas duas dúvidas em questão: Naquela época, em que o texto se passava, já existiam os senhores feudais? E a outra é, se o povo nipônico comia frango naquela época? Sei que não são enciclopédias, e devem estar pensando: Por que esta chata não larga do nosso pé? É, eu sou chata mesmo. Quero aprender o que puder. Então, se alguém quiser responder isto para mim...
Sei que muitos devem estar pensando, será que Syaoran realmente virou um bom homem, um verdadeiro mocinho da história? A resposta é não. Seus sentimentos estão um pouco abalados, mas meu real intuito era fazer do nosso guerreiro chinês, um homem diferente do que estamos acostumados. Não tão cruel como ele está no texto Flor Da China (Aliás, está crueldade o deixa muito mais bonito e charmoso... *Suspirando*. Parabéns a escritora). Queria que ele vivesse em conflito com suas emoções. Mas prometo não deixar ele muito bobinho, daqui para frente. Ele é um capitão, líder das tropas chinesas! Deve ser forte e orgulhoso como tal! E digam, pessoal, aquele homem não fica muito mais sexy quando faz cara de bravo? Bom, vou acreditar que todas responderam que sim... E aos leitores homens, me desculpem, mas nós mulheres temos o direito a expressar nossa opinião!
E aos normais agradecimentos: Há todos aqueles que vem acompanhando o desfecho da minha história. Como acabei de aprender, mesmo deixando ou não deixando comentários, o que mais me alegra é ver em seus lábios um sorriso depois de lerem este romance. Creio que todos os escritores pensam assim.
Juro que pensei seriamente em desistir deste fic. Mas sei que tem pessoas maravilhosas me apoiando, e não poderia deixar de citá-las: Meu pai e minha mãe, que vem me incentivando desde de o começo. Minha irmã, Bia, por todo o maravilhoso apoio e a enorme paciência em escutar minhas idéias sem pestanejar. A Bruna e a Julyana, escritoras que ainda não tiveram chance para expor seus trabalhos, mas que revisam meu fic e dizem o que tá bom e o que tá um lixo. E a todos aqueles que me deixaram comentários construtivos. Sem o apoio de vocês, jamais poderia estar postando este novo Cap.
Espero que tenham lido até o final das notas e que continuem a ler meu texto...
Um enorme beijo, de Jenny-Ci.
Olhou pela janela, impaciente, notando ainda estar longe do seu destino. Fazia anos que não voltava para a mansão, mas não lembrava do caminho ser tão comprido... Mas, a causa que o levava lá pedia calma e reflexão. O melhor é que tivesse tempo suficiente para por suas idéias em ordem e pensar na melhor maneira de resolver o seu novo dilema...
Yukito Tsukishiro sempre foi uma pessoa calma, paciente e generosa, mesmo quando era uma criança. Fora morar em Nagasaki quando era um bebê de colo. Quando cresceu, conheceu seus dois melhores amigos, Sakura e Touya. Os três eram muito unidos, quase inseparáveis. E, os pais das crianças decidiram que quando Sakura e Yukito tivessem uma idade avançada, iriam se casar.
A princípio, Yukito não gostou nada desta história. Ela era sua amiga de infância, e como podia, simplesmente, virar sua esposa? Bem, a dúvida não foi esclarecida, mas ao passar dos anos, Yukito começou a considerar o casamento arranjado. Percebia como sua amiga crescia, se transformando em uma mulher muito bela. Com o passar de mais alguns anos, ele notou estar perdidamente apaixonado pela garota de olhos verdes.
Porém, a geniosa garota era totalmente contra o casamento. Tinha um grande carinho por Yukito, mas isso não podia obriga-la a casar-se com o melhor amigo. Era contra sua vontade e seus sentimentos. Não houve como convence-la. Os pais tiveram que desfazer o noivado, e desde então, os dois nunca mais se viram.
Agora, como um senhor feudal rico e influente, Yukito estava decidido a não desistir tão fácil como fizera antigamente. Convenceria primeiramente o pai de Sakura e depois, com calma, conquistaria o coração daquela garota com espírito tão selvagem...
"Meu senhor, aqui estamos", uma voz tirou Yukito de seus devaneios, enquanto o coche parava diante de uma luxuosa mansão. "Passar bem"
"Igualmente. Obrigado", ele agradeceu, descendo da carruagem e fitando a casa, onde seus verdadeiros desafios começariam. Caminhou até um soldado, que guardava os portões da mansão Kinomoto.
"O que deseja, senhor", o homem perguntou.
"Sou um grande amigo de Fujitaka Kinomoto, Yukito Tsukishiro. Por favor, anuncie a minha chegada".
"Aguarde um momento, senhor", o homem disse, entrando na mansão. Yukito, curioso, viu muitos soldados espalhados por todo quintal da mansão. Sabia sobre a guerra, mas será que isso não era exagero? Ou estava acontecendo algo que ele não tinha consciência?
Alguns segundos depois, o homem voltava, abrindo os portões. "Por favor, senhor, entre!".
Ajeitando os cabelos acinzentados, Yukito entrou na mansão. Vasculhou o ambiente, lembrando-se de como era delicioso correr por aqueles verdes pastos, com seus amigos. Bons tempos, ele pensou. Notou a movimentação de uma bela dama, que parecia correr atrás de algo. Aproximando-se mais, ele sorriu. Encontrara muito facilmente seu objetivo.
"Sakura Kinomoto, quem diria ter o privilégio de ver-te correr atrás de uma galinha?", ele brincou. A jovem se endireitou, fitando curiosa e igualmente furiosa com o tom brincalhão da voz.
"Perdão, mas eu o conheço?", ela indagou. Yukito se aproximou, e sorriu ainda mais ao ver como os anos transformaram aquela linda garota em uma fogosa mulher...
"Não reconheces teu amigo de infância, minha senhorita? Estou desapontado", ele caçoou.
Por alguns instantes, Sakura fitou o homem a sua frente, tentando reconhece-lo, analisando cada detalhe. Bastou isto, ela soltou um gritinho de surpresa e de alegria correndo até o amigo, pulando sobre seus braços e o abraçando afetuosamente.
"Yukito!!!! Oh, pelos deuses, não consigo crer que estás aqui!!! Como podes me deixar sozinha por tanto tempo?!?", ela gritou, quase que histericamente. Sorrindo, Yukito respondeu, feliz com entusiasmo de sua velha companhia de brincadeiras.
"Acalma-te, guria. Primeiramente, saías de cima de mim... depois, conversamos", ele avisou. Sakura se ruborizou, levantando timidamente. Mas bastou olhar o sorriso dele, para que ela também sorrisse.
"Desculpe...".
"Não se preocupe quanto isso. Mas posso saber o que fazias correndo atrás daquela galinha ali?", ele perguntou, apontando para galinha que ainda piava, correndo desesperada.
"É que...", Sakura disse, enrolando a ponta dos cabelos com o dedo, mostrando estar constrangida na situação em que se encontrara. "Papai queria que eu a pegasse, para que pudéssemos jantar. Só que, infelizmente, deixei a porta do galinheiro aberta, e... ela fugiu", Yukito caiu na risada, e Sakura se enfureceu, cruzando os braços sobre o peito.
"Hahaha! Nunca escutei tamanha besteira!!!"
"Tu me julgas boba e inexperiente, porém não sabe do que sou capaz!", ela afirmou, com as sobrancelhas arqueadas.
"Realmente, te desconheço. Há muitos anos não temos noticias um do outro", ela respondeu. Aproveitou o momento em que ela sorriu, para avalia-la melhor. Estava sim, muito diferente, mais feminina e bela. Porém, os olhos adquiriram um brilho que misturava coragem e uma audácia irresistível... Como não querer conquistar uma mulher daquelas?
"Sim... Vamos entrar. Papai e Touya ficarão contentes em te ver", Sakura disse, puxando-o pela mão.
Os dois entraram caminharam até o salão principal, onde toda a família estava. A expressão surpresa de todos foi óbvia. Porém, todos se levantaram e cumprimentaram o homem com fervor e carinho. Além de ele ter sido devidamente apresentado a Eriol Hiiragisawa, o único que ele não conhecia. Sakura ficou a observa-lo. Yukito era um homem alto, não muito forte, porém muito belo. Tinha profundos olhos castanhos, cabelos tão negros que chegavam a ser acinzentados. Muito gentil e sedutor, seria o partido ideal para Sakura. Mas a mente da jovem japonesa ainda tentava assimilar a idéia de ter trocado um beijo com o inimigo...
"Sakura?", Kaho chamou a sua atenção. "Vá se arrumar! Não vês que estás demasiadamente inapropriada para se apresentar diante do Sr. Tsukishiro e...".
"Por favor, Sra. Kinomoto", Yukito a interrompeu, ao notar a expressão contraditora de Sakura ao ouvir as palavras venenosas da madrasta. "Não me ofende de maneira alguma, o modo como Sakura está vestida. Na verdade, ela está naturalmente belíssima".
Sakura corou com o comentário do amigo, mas achou melhor não criar desavenças com a madrasta. "Eu faço questão de me arrumar, Yukito. Seria um falta de cortesia, vires de um local distante para me veres em velhos trapos", e dizendo isso, ela caminhou até o corredor, seguindo para o quarto.
"Bem, Yukito, o que o trás aqui na cidade?", Touya perguntou, já imaginando a resposta.
"Primeiramente, visitar meus velhos amigos. Em segundo, o assunto é um tanto impróprio, por hora. Mas assim que tiver a oportunidade, comunicarei a vocês".
"Insistimos que fique conosco, Sr. Tsukishiro", Tomoyo prontamente avisou, cordialmente. "Não poderemos permitir que pernoite por estas bandas quando tens uma grande família para acolhe-lo durante sua estadia"
"Muito obrigado, Sra. Tomoyo. Mas de maneira algumas quero incomoda-los", ele disse. Se sua etiqueta mandava recusar o convite, o coração pedia desesperadamente para que ele ficasse, apenas por dormir sobre o mesmo solo da garota que tanto amava.
"Não será um incomodo. Será um prazer", Fujitaka rapidamente interveio na conversa. "Temos quartos e empregados para servi-lo. Seria uma honra que nossa humilde casa sirva de morada para você".
"Bem... Se insistem, confesso que me agrada muito mais ficar aqui com vocês do que em outro lugar qualquer"...
**
Eriol vasculhava a biblioteca de amigo, atrás de algum romance. Na Inglaterra, as histórias lhe parecerem sempre tão iguais. Damas sempre emperiquitadas e homens lutando por elas. Agora estava à procura de uma experiência nova, que o marcasse e o levasse a crer que esta seria sua maior produção. Parando diante de uma prateleira, observou um titulo peculiar que o interessou muito: 'A Gueixa e a Cerejeira'.
"Sr. Hiiragisawa?", uma voz doce o chamou. Recolocando o livro no local onde encontrara, Eriol sorriu para Tomoyo, que trazia consigo uma bandeja com pequenos petiscos.
"Minha senhora, não precisava se incomodar com isto. Se eu precisasse me alimentar, certamente buscaria", ele prontamente avisou, retirando a bandeja das delicadas mãos de Tomoyo, que sorriu com a gentileza.
"Mas, estás a horas na biblioteca. Imaginei que estarias com fome, por isto preparei o bolo e o café", ela explicou. Eriol sorriu, sentindo-se lisonjeado por ter tido a atenção da bela dama.
"Por favor, Sra. Tomoyo, seria pedir demais, que pegasse o romance que coloquei na prateleira quando lhe escutei?"
"Oh, não seria incomodo algum. Diga me qual"
"'A Gueixa e a Cerejeira"
Tomoyo assentiu com a cabeça, levantando-se nas pontas dos pés para pegar o livro. "É um ótimo livro, Sr. Hiiragisawa. Não se arrependerás de ler. ", ela argumentou, tirando a poeira do livro do velho.
"Espero sinceramente que não...", ele disse. Os dois seguiram até uma pequena mesa, onde depositaram a bandeja e o livro.
"Sra. Tomoyo?", Eriol chamou a atenção dela, vendo que ela já se virava para ir embora. "Não quer me fazer companhia?".
A jovem o encarou por alguns segundos, sentindo um delicioso arrepio com o olhar tão azul do inglês. "Não irei lhe atrapalhar? Imagino que viestes aqui para obter silêncio e concentração. Não para ser atrapalhado por uma dama tão mal informada como eu".
'Como poderia? Será uma inspiração para meus romances', ele respondeu mentalmente. "Nunca irias me atrapalhar".
Sorrindo para Eriol, Tomoyo se aproximou, sentando-se no sofá, ao lado de Eriol. Ficaram por um silêncio incomôdo, sem ter o que dizer. As lembranças daquele beijo cruzaram as mentes do dois, que se sentiram levemente incomodados por estarem justamente no lugar onde aquilo ocorrera. Eriol a encarou pelo canto dos olhos, observando como ela torcia as mãos, fitando o chão, corada. Resolveu amenizar o clima.
"Por que, a senhora não me conta a história deste romance que acabei de escolher? Assim, não precisarei ler o livro todo, se ele não me interessar"
"Claro!... Bem, é a história de uma bela gueixa, que atrás de um homem que conhecerá anos atrás, deixou o Japão e buscou em terras o amado. A relação de tudo isto com a Cerejeira é que muitos fatos importantes no texto ocorrem de baixo desta árvore rosada O primeiro beijo, o reencontro... Mas, se me permites dizer, o senhor não tem cara de quem gosta de escrever romances", Tomoyo constatou, vendo a expressão desinteressada do inglês enquanto ela narrava a sinopse. Sorrindo, ele assentiu com a cabeça.
"Para ser sincero, nunca escrevi um romance. Não é o meu forte. Mas, sei que deverei ler muitos romances se quero criar o meu próprio".
"Ah, é por isto que estás aqui? Para escrever um romance?", ela perguntou, curiosa.
"Sim, minha senhora. Espero que este romance seja minha maior realização", ele confessou. Sentia-se bem ao falar tão abertamente com a bela jovem ao seu lado.
"Poderia me contar como planejas isso?".
Os dois iniciaram uma conversa animada. Tomoyo ria das graças de Eriol e se fascinava com o ponto de vista tão idealista do escritor. Já Eriol se sentia satisfeito em conversar com uma dama tão inteligente e que também opinasse e comentasse sobre os assuntos que eles estavam abordando. A conversa seguiu, até que um estrondo fez os dois pararem subitamente a conversação.
"O que foi isso?", Tomoyo exclamou, assustada. Eriol rapidamente se levantou, pegando a mão da jovem e se levantando junto a ela.
"Acho melhor sairmos daqui. Averiguarmos o que realmente houve"
Os dois sairiam rapidamente, notando alguns pedaços de madeira espalhados pelo chão. Seguindo pelo corredor, virão um quarto totalmente devastado, com as portas ao chão e uma enorme nuvem de poeira subindo e saindo por entre as paredes arrombadas. Tomoyo levou a mão à boca, com as lágrimas já inundando o rosto.
"De quem é este quarto, Sra. Tomoyo?", ele perguntou, preocupado com a expressão desesperada da morena.
"É quarto de Sakura...", ela falou num sussurro de voz. Eriol, alarmado, entrou no quarto, empurrando os escombros com as mãos. Vendo que assim, não a encontraria, ele começou a gritar pelo nome dela.
"Sakura!!!! Sakura!!!!", ele chamou, com toda a força dos pulmões. Sem escutar nada, ele ficou ainda mais desesperado. Pensamentos começaram a passar por sua mente? E se ela tivesse morrido?... Não! Não desistiria. Mesmo surpreso com todo aquele alvoroço, era seu dever salvar a amiga da morte.
"Eriol!!!"
Virando-se para trás, percebeu um braço embaixo de uma pilha de mármore e fuligem. Correndo até lá, tentou acalmar a amiga.
"Calma, Sakura, saíras daí rapidamente".
"Eu... ai... meu pé... eu não o sinto... por favor, me ajude...", ela disse sofreguidão, em suspiros alternados.
Com a ajuda de um pedaço de madeira, ele começou a retirar os escombros o mais depressa possível. Não era perito na área médica, mas sabia que se Sakura não sentia os pés, alguma problema grave havia acontecido. Depois de alguns minutos, pode ver o brilho dos olhos marejados de Sakura. Retirando o último escombro, pode ver a garota. Soltou uma exclamação assustada. Ela estava deitada, coberta de poeira, respirando com dificuldade. O pé, como ela mencionara, estava coberto de sangue seco, as pernas com hematomas e cortes. O rosto, milagrosamente, só tinha um arranhão na bochecha direita.
"Sakura, estás bem?", ele perguntou, se aproximando com cautela. A jovem ergueu o rosto, o fitando assustada, antes de assentir com cabeça, sorrindo.
"Olhes para mim, meu amigo. Lhe pareço em bom estado?", ela caçoou. Eriol sorriu, aliviado.
"Se consegues fazer piadas sem graça, estás perfeitamente bem", ele disse, a pegando no colo.
Do lado de fora, Tomoyo já não estava mais sozinha. Todos foram atraídos pelo enorme barulho e pela nuvem de poeira que rapidamente se espalhou pela casa. Quando viram Eriol aparecer com Sakura no colo, correram ao seu encontro, aliviados por não estarem com nenhum ferimento mais grave.
"Sakura!!!", Fujitaka exclamou, aproximando-se e tomando a filha caçula nos braços. Uma culpa o assolou, o impedindo de se movimentar. Não achava certo fato de ter a filha trabalhando para ele. Além de ser contra as rígidas leis do governo, era o futuro de Sakura que ele arriscava ao mandá-la espionar inimigos. Controlando o sentimento profundamente doloroso que bateu em seu peito, ele levou Sakura, seguido pela família, até um quarto, onde a depositou na cama.
Touya, preocupado, também não pode deixar de notar como se sentira, ao saber através da mãe, que Tomoyo fazia companhia ao jovem inglês. O orgulho ferido foi maior do que a dor do ciúme. Porém, a situação não era favorável. Na particularidade de seu quarto, conversaria seriamente com a sua esposa, a quem amparava carinhosamente.
"Minha querida, estás bem? Não te dói em nenhum lugar? Diga-me, estou com o coração aos saltos!", Yukito se exaltou, aproximando-se de leve da jovem machucada. Curvando os lábios em um meio sorriso, a falou.
"Não sinto meu pé direito. E meus olhos ardem. Minhas roupas estão em estado de devastação total. Os cabelos claros meus parecem mais palha cinzenta. Porém, tirando estes pequenos aspectos, juraria poder correr atrás de algumas galinhas", ela brincou, piscando para Yukito, que sorriu de volta, piscando também.
"Devemos chamar um médico, meu marido. Não queremos que nada de ruim aconteça a minha enteada".
Sakura praguejou interiormente, com a sincera vontade de quebrar todos os dentes do sorriso falso de Kaho. Desde de que nascera, Kaho a tratava com desprezo, utilizando sempre como defesa o fato de saber que não era uma filha legítima. Mas, diante de todos, a mulher de cabelos avermelhados escondia muito bem seu ódio, utilizando sua gentileza para acabar com qualquer suspeita. Meneando com a cabeça, Sakura resolveu provocar a esposa do pai.
"Não deves se importar tanto com meu estado, minha madrasta. Nem pagares um médico, apenas para não se dar ao trabalho de cuidar de meus ferimentos tão superficiais", ela respondeu, áspera.
"Sakura Kinomoto!", Fujitaka gritou, assim que Sakura terminara de dizer as palavras. "Não permito que se dirijas a minha esposa com tal ousadia. Mas feliz, percebo que não estás seriamente ferida. Se tens boca para falares asneiras, já não necessita de meus cuidados".
Tomando a mão da esposa com precisão, Fujitaka saiu do quarto. Touya lançou um olhar repleto de ódio para a irmã. Odiava o modo como a família se tratava, mesmo não dando importância ao fato de que Sakura não tivesse a mesma mãe que ele. Apegara-se a irmã como se ela também nascesse do ventre de Kaho. Mas infelizmente, a bela esposa de Fujitaka não interpretou de forma tão pacífica o fato de ter que conviver com uma bastarda. A tratando com arrogância e desprezo, Kaho somente conseguiu o ódio e a amargura de Sakura. Porém, Touya sabia que sua mãe não era má pessoa. E que Sakura não tinha o direito de julgá-la se ela a tratava com tanta generosidade.
"Estimo melhoras, minha irmã. Para teu corpo e para esta tua boca venenosa", ele vociferou. Tomoyo, indignada, levantou-se para fitar o marido tão intensamente, que Touya sentiu o corpo arder.
"Touya! Tua irmã precisa de apoio, e não de tua proteção em relação a minha sogra!", Tomoyo o repreendeu. Viu o marido se aproximar, bufando de raiva e de uma fúria nunca vista por ela.
"Está guria estirada na cama precisa de uma surra, isto sim. Todavia, meu papel é proteger minha esposa, e não uma irmã mal-criada. Se concordares tanto com os modos de Sakura, sugiro que fiques aqui para escutar mais um monte de besteiras!", ele disparou. A jovem o mirou uma última vez, antes de se sentar entre Eriol e Yukito, ao lado da cama de Sakura e sorrir para os dois.
"Estão vendo, meus senhores? Isto é a prova concreta de que Sakura e Touya são irmãos. Teimosos, impetuosos e com a boca incontrolável!".
Os dois homens olharam a dama a sua frente, abismados com a coragem dela. Numa sociedade, a mulher geralmente se fazia de submissa e escutava os gritos do marido sem contestar. Mas aquele belo anjo de cabelos negros mostrava-se forte. Forte e bela, completou Eriol interiormente.
"Mulher teimosa!", Touya grunhiu, e enquanto batia as botas no chão, ele saiu do aposento.
"Tomoyo! Estou surpresa e orgulhosa. Tu és uma mulher que merece mesmo nossa admiração", Sakura elogiou.
Só então que a jovem notou ainda estar sendo observada. Yukito, levemente ruborizado, estava mudo e perplexo. Já o inglês, a fitava com um misto de orgulho e de surpresa. E foi neste olhar tão confiante que ela percebeu ter feito a coisa certa.
"Me desculpe. Não pretendia de maneira alguma presenciar o pequeno desentendimento entre você e Touya", Yukito ressaltou. A jovem, mesmo sem fitá-lo, sorriu, enquanto preparava os curativos para os machucados de Sakura.
"Tudo isto, meu caro senhor Yukito, acontece há muito tempo. Sakura, minha jovem cunhada, é uma mulher corajosa e inconseqüente, que enfrenta Kaho sem temer a ira do pai. Touya, meu marido, infelizmente, tem uma... como dizer... simpatia a mais pela mãe... então, a defende sem pensar muito que fala e nem se Kaho está errada ou certa. Mas asseguro-lhes que não escutaram mais estas infantilidades".
"Não me incomodo de maneira alguma, senhora Tomoyo. Apesar de ter sido criado por uma família... um tanto... diferente... sei que não podemos julgar o comportamento que acabamos de ver", Eriol rapidamente argumentou. Tomoyo novamente sorriu, mas agora o olhando fixamente. O inglês sentiu um calor confortável, porém, achou melhor não demonstrar suas emoções.
"Em minha sincera opinião, acho que este casamento arranjado entre vocês dois, está mais do que acabado", Sakura opinou. Tomoyo sentiu as bochechas ferverem. Amava Touya...Não como antigamente..., Mas ainda sim, o amava.
"Sakura!", ela repreendeu a cunhada, sem saber o que dizer. Fitou Eriol, que sorria misteriosamente diante de sua expressão. "Não devias... Sabes se alguém te escuta... Pelos ancestrais, tu tens a língua mais afiada de toda a província... Estou tão constrangida... Oh, como podes dizer tamanha mentira em frente aos nossos convidados?".
"Não se preocupes, minha senhora...", Eriol a interrompeu, divertido. "Minha boca servira de túmulo para as palavras de sua cunhada".
Tanto Yukito quanto Sakura riram, enquanto Eriol ainda beijava os dedos, jurando fidelidade. Tomoyo, mesmo sendo o alvo do comentário engraçado de Eriol, não pode deixar de sorrir. Aquele belo homem estava conseguindo a proeza de transformar sua monótona vida de dama japonesa em um mar de verdadeiras alegrias.
**
"Posso saber, meu senhor, por que fizemos aquilo?", um dos soldados perguntou, timidamente, a Syaoran Li, que parecia, a quem tivesse bons olhos, travar uma guerra entre sua mente e seu coração.
"Estás a contestar minhas ordens, soldado?", ele perguntou, autoritariamente. O pequeno e corpulento guerreiro encolheu os ombros, negando desesperadamente com a cabeça.
"Não!!! Jamais seria capaz de cometer tal traição!!! Porém... Porque atacamos o quarto da Kinomoto, quando podíamos ter destruído aquele frágil palácio inteiramente?"
"Para ser sincero, eu...", ele calou-se, de súbito, sem palavras. Não tinha um motivo aparente para isto. Talvez, se livrar da culpa de ter beijado a inimiga. Mas, mesmo com a morte dela, não conseguia deixar de sentir na boca o doce sabor daqueles lábios. Balançando a cabeça, viu o que o soldado o fitava, ainda esperando uma resposta. "Achei melhor provocarmos os covardes. Se matássemos a família inteira, que divertimento deixaríamos para o final?". Vendo que o homem não acreditou, logo disparou. "Agora, deu- se ao disparate de duvidar de minha palavra? Não preciso lhe lembrar de qual castigo sofrera por esta ousadia".
"Meu senhor, acredito em cada som que sai de seus lábios. Se tua vontade era esta, fico feliz que ela tenha sido cumprida com esmero", o soldado afirmou, curvando-se diante do superior, retirando-se em seguida. Syaoran ficou imerso na escuridão do aposento, junto aos seus pensamentos confusos.
Oras, era um homem! Qualquer um com um pingo de masculinidade no sangue se encantaria com uma bela garota de olhos verdes, corpo perfeito e expressão tanto ousada quanto angelical. Mas, pelos deuses, ela tinha que ser filha do homem mais odiado pelo exército chinês? Filha de Fujitaka Kinomoto? Tinha que possuir o dom de envolvê-lo tão facilmente, que Syaoran perguntava-se se foi certo matar aquela linda donzela? Mesmo depois de o corpo dela ser tragado pela terra, ele lembraria dos lábios com o sabor especial, cheios de paixão e de desejo.
"É um absurdo!", ele ouviu uma voz soar em sua direção. Não precisaria nem se dar ao trabalho de se virar para saber de quem se tratava.
Era Meiling. Sua explosiva e incorrigível irmã.
"Syaoran Li!", Meiling berrou, posicionando-se na frente do irmão, com a expressão terrivelmente abalada. "Como podes ser capaz de cometer ato tão vil?".
Observando a irmã, notou que em vão, Nui tentava afastá-la dali, acalmá-la, antes que ela fizesse uma loucura ao se dirigir daquela maneira ao superior. Ignorando a pergunta da jovem chinesa, ele se dirigiu ao soldado. "Seu dever é cuidar para que ela se mantenha longe de meus assuntos pessoais. Sinto ao saber que não estás a cumprir seu trabalho como devia".
Apesar do tom calmo com que o capitão pronunciara as palavras, Nui recuou um passo diante da frieza daqueles olhos dourados. "Eu tentei... aceite minhas desculpas... eu apenas...".
"Não respondestes a minha pergunta, seu ser desalmado!", Meiling novamente berrou, interrompendo as explicações do soldado.
"O que faço e o que deixo de fazer são problemas meus. Saí daqui antes que eu lhe acerte a mão na cara, sua moleca intrometida!", ele rapidamente disparou, calando a boca da irmã. Porém, não demorou muito até que ela começasse a falasse novamente, com o tom mais suave.
"Tu fostes muito cruel, irmão. O que aquela pobre guria fizeste a ti?".
"A guerra é cruel, minha irmã", Syaoran disse, sentindo-se cada vez mais culpado e desconfortável com a morte daquela linda garota. "Ou você mata, ou morrerás".
"Porque ela, justamente uma inocente garota? Tu a viste? Era tão desprezível assim aquela que matastes com tanta rapidez e morbidez?".
Syaoran a fitou por um longo tempo, até perceber que seria impossível esconder da irmã algo de tamanha importância. Meiling era a única digna de sua confiança. "Nui! Vá dormir! Não preciso mais de teus serviços, por hora".
"Sim, senhor!", ele exclamou, se retirando do aposento, deixando os irmãos sozinhos. Depois, Syaoran novamente deu sua atenção a Meiling.
"Meiling... Eu a vi. Nunca, em toda a minha vida, contemplei tal beleza e pureza em uma garota como em Sakura Kinomoto".
"Então, me expliques, porque esta maldita idéia de matá-la? É desumano. Tu foste educado para ser um cavalheiro, saber respeitar os limites de sua própria autoridade. O que lhe levou a fazer este ato, Syaoran? Me digas, estou curiosa", ela ainda argumentou, mas com um sinal de silêncio, sentiu que o irmão ainda teria muito o quê falar.
"Eu estava observando-a, seguindo seus delicados passos. Porém, ainda não sei dizer como, ela descobriu minha presença. Corajosa como você, ela se embrenhou no matagal, com uma faca de cozinha na mão. Não resisti, fui até ela", ele disse, suspirando longamente. A irmã sorriu, notando a dedicação nas palavras de Syaoran, coisa tão como achar um chinesa que não apreciasse o Lótus.
"Como ela era?".
"Tinha longos cabelos cor de mel, chegando a serem ruivos, lisos e reluzentes. O rosto era tão perfeito, que nem minhas palavras fariam jus a tanta beleza. O corpo esguio, tão frágil, guardava uma força que me surpreendeu. Mas os olhos verdes eram divinos. Por isto, cometi uma insanidade".
"Não me diga que...", ela interrompeu a frase, corada. Entendendo a surpresa da irmã, ele logo tratou de corrigir seu erro.
"Não... Não chegamos a isto... Eu a beijei... Tão loucamente quanto apaixonadamente possível... Sei que não devia matá-la por ter a beijado, mas...", ele hesitou ao falar. Não gostava de expor seus sentimentos. "Não quero manchar minha reputação. Se o imperador confia em mim, devo dar motivos suficientes para isto".
"Syaoran...", ela iluminou os olhos, enquanto se aproximava dele. "Você está apaixonado".
"O que?!?!", ele se levantou da cadeira com tal ímpeto, que ela caiu para trás. "Achas mesmo que eu amaria uma nipônica qualquer!?!".
"Não era uma qualquer. Pelo modo como a descreveste, ela era por aparência, belíssima", Meiling alfinetou o irmão, sorrindo. Mas logo a alegria passou, como veio. "Não podias ter matado ela. Sinto pena da pobre moça".
"Meiling... logo, mesmo se não fosse por minhas mãos, ela também morreria...", ele afirmou, aproximando-se da irmã, que se afastou, como se a presença dele lhe assustasse.
"Não lhe passou pela cabeça a idéia de que ela teria se apaixonado por você, meu irmão? Não lhe dá magoa só de pensar que ela se iludiu com seus beijos? E que agora, cruelmente, você a assassinou?", a voz saiu trêmula, triste.
"Ela não poderia se apaixonar por mim, minha irmã. Sou um chinês. Treinado para matar os japoneses".
"Espero que a alma dela descanse em paz. E que pelos deuses, peço humildemente que ela não tenha morrido com a ilusão de amar você".
Aquelas palavras tocaram o coração do chinês de uma forma que ele mesmo desconheceu. Será mesmo que matara uma jovem que se apaixonara por ele? Não! O orgulho gritou em sua cabeça. Sim, o coração também respondeu. Sentindo-se arrasado, começou a pensar se fora mesmo uma boa idéia ter sido escalado como capitão.
Fim***
Senhor feudal: Um homem possuidor de um feudo, um lugar onde existiam terras e muitos camponeses trabalhando e morando em sua propriedade.
Oi, gente, tudo bem? Bom, antes de começar com minhas costumeiras notas finais, gostaria de agradecer a um comentário feito por Kath Klein. Ela me mostrou que não importa quantos comentários seus fanfics tenham. O que realmente importa é a dedicação e o amor que você tem a arte de escrever. Guardarei estas palavras para sempre em minha mente. Obrigado Kath *(*^_^ *)*
Para começar quero perguntar algumas coisas a vocês. Sou principiante, ainda não estudei toda a história japonesa. Por isto, fiquei com estas duas dúvidas em questão: Naquela época, em que o texto se passava, já existiam os senhores feudais? E a outra é, se o povo nipônico comia frango naquela época? Sei que não são enciclopédias, e devem estar pensando: Por que esta chata não larga do nosso pé? É, eu sou chata mesmo. Quero aprender o que puder. Então, se alguém quiser responder isto para mim...
Sei que muitos devem estar pensando, será que Syaoran realmente virou um bom homem, um verdadeiro mocinho da história? A resposta é não. Seus sentimentos estão um pouco abalados, mas meu real intuito era fazer do nosso guerreiro chinês, um homem diferente do que estamos acostumados. Não tão cruel como ele está no texto Flor Da China (Aliás, está crueldade o deixa muito mais bonito e charmoso... *Suspirando*. Parabéns a escritora). Queria que ele vivesse em conflito com suas emoções. Mas prometo não deixar ele muito bobinho, daqui para frente. Ele é um capitão, líder das tropas chinesas! Deve ser forte e orgulhoso como tal! E digam, pessoal, aquele homem não fica muito mais sexy quando faz cara de bravo? Bom, vou acreditar que todas responderam que sim... E aos leitores homens, me desculpem, mas nós mulheres temos o direito a expressar nossa opinião!
E aos normais agradecimentos: Há todos aqueles que vem acompanhando o desfecho da minha história. Como acabei de aprender, mesmo deixando ou não deixando comentários, o que mais me alegra é ver em seus lábios um sorriso depois de lerem este romance. Creio que todos os escritores pensam assim.
Juro que pensei seriamente em desistir deste fic. Mas sei que tem pessoas maravilhosas me apoiando, e não poderia deixar de citá-las: Meu pai e minha mãe, que vem me incentivando desde de o começo. Minha irmã, Bia, por todo o maravilhoso apoio e a enorme paciência em escutar minhas idéias sem pestanejar. A Bruna e a Julyana, escritoras que ainda não tiveram chance para expor seus trabalhos, mas que revisam meu fic e dizem o que tá bom e o que tá um lixo. E a todos aqueles que me deixaram comentários construtivos. Sem o apoio de vocês, jamais poderia estar postando este novo Cap.
Espero que tenham lido até o final das notas e que continuem a ler meu texto...
Um enorme beijo, de Jenny-Ci.
