Capitulo 6
Syaoran a observou, tão deslumbrado quanto desconfiado. Só soubera da presença daquela dama de preto quando um soldado a trouxe, dormente, em seus braços. Porém, algo o levava a acreditar que a conhecia. Algo simplesmente o impediu de mata-la. Então, assim que soube a causa da dormência dela, tratou de pedir para que Meiling providencia-se a produção do antídoto.
Aproximou-se dela, sentando-se do lado cama onde ela adormecia. Inclinou a cabeça sobre os cabelos sedosos, tendo a certeza de que conhecia aquele cheiro. Um cheiro doce, de flores tropicais. Olhando por alguns instantes, sentiu a enorme vontade de retirar-lhe aquela máscara, só para ver quem foi à dama que matara dois de seus melhores soldados. Com cuidado para não acorda-la, ele desamarrou os fios que prendiam a máscara de metal, tirando-a do rosto. Controlou um gemido de surpresa.
Era ela.
A expressão era calma e serena, não como da vez em que ele a encontrara no quintal da mansão Kinomoto. Se não estivesse tão perto, poderia até jurar que os lábios estavam curvados em um sorriso. Com a mão, acariciou as bochechas, coradas. Então, ela não morrera no ataque que planejara. Assim que seu dedo roçou nos lábios rosados, os dois olhos se abriram, paralisando os movimentos de Syaoran.
Sakura o fitou, ainda atordoada. Porém, mesmo dormente, saberia que se tratava do homem da clareira. Só bastava sentir o toque dele. O avaliou, notando como se enganara ao pensar que por trás da máscara que ele usava, se escondia uma figura horripilante, repleta de escoriações. O homem era bonito. Na verdade, era o homem mais bonito que ela já vira. A expressão era forte, masculina. Os lábios eram finos, bem desenhados, enquanto o nariz afilado combinada com o semblante dele, e com o queixo másculo. As sobrancelhas grossas ressaltavam os belos olhos dourados, que pareciam traga-la para dentro dele. Cabelos castanhos, rebeldes. Os ombros largos, o corpo que parecia forte e viril ao seu ver meio confuso. Tentou inutilmente se mover, porém, viu estar amarrada.
"Não adianta", a voz era rouca e impessoal. "Estás presa".
"Não posso acreditar!", ela praguejou, falando mais para si mesmo do que para Syaoran. "Falhei em minha missão!".
"Confesso estar surpreso. Quem diria, Sakura Kinomoto, trabalhando para o próprio pai?", o chinês argumentou, notando ela franzir o cenho, enquanto as bochechas coravam.
"Ainda lembra de mim?".
"Mesmo se não lembrasse, saberia de quem se tratava. Porém, creio que eras para estares morta. Não conversando comigo, nesta cama", ele brincou. Sakura, porém, não prestou atenção na brincadeira. Só sentiu as lágrimas escorrerem por ser rosto.
Sentia-se humilhada. Nunca, em todas as suas empreitadas, falhara. Nunca fora descoberta. Agora, a honra de seu pai estaria comprometida. Não conseguindo controlar o soluço, chorou sem se importar com o presente, visivelmente incomodado com o choro de Sakura.
"Você é Syaoran Li, não é mesmo?", ele a ouviu perguntar, com a voz trêmula.
"Sim, japonesa, sou eu mesmo".
Sentindo-se traída por seus próprios instintos, Sakura passou a ter nojo de Syaoran, que não sabia nem ao menos o que dizer. A japonesa de olhos verdes, munida de uma força que não sabia ter, conseguiu soltar um das mãos da corda que a prendia. Pronta para mata-lo com sua Sai, notou não estar com suas armas. Só sentiu mais desprezo por ele.
"Me mate!", ela gritou, com voz decidida. Syaoran a encarou, surpreso.
"Achas mesmo que eu cederei as tuas vontades?".
"Sei muito bem que desejas minha morte. Tu mandaste atacar meu quarto. Então, me mate. Não permitirei que meu pai passe por humilhação alguma", Sakura ordenou, ainda mais decidida.
Syaoran olhou para a espada que carregava. Sua mente lhe gritava: Vá em frente, mate-a!O coração, desesperadamente, pedia: Não, não faça isto! Porém, ele era um guerreiro. Seu coração não podia exercer nenhuma força sobre sua mente e sobre suas decisões. A morte dela seria apenas um adiantamento de seus planos. Se por suas mãos não morrestes, certamente outro o faria. Então, posicionando a arma sobre o coração da jovem, Syaoran a encarou, por alguns segundos.
"Apesar de ser uma nipônica, admiro que queria preservar sua dignidade, matando a si mesma", ela argumentou, vendo que uma corrente de sangue já escorria sobre a lâmina de sua espada, enquanto ele pressionava cada vez mais a arma.
"Cale-se e faça logo isto!", ela ordenou, ignorando a dor que já sentia.
O guerreiro chinês ia mesmo fazer isto. Porém, não pode, a espada caiu de sua mão, como se o coração paralisasse seus movimentos. Cruzou os braços sobre o peito, meneando a cabeça, enquanto via expressão de Sakura se alterar de resignada a nervosa.
"Prefiro ver teu pai humilhado a te ver morta"
"Ah, seu covarde imprestável", ela gritou, antes de avançar sobre ele. "Vai morrer pelo o que teus lábios disseram"
Mesmo forte, Sakura sabia que não poderia nem ao menos ferir Syaoran. Ele era muito mais forte. E simplesmente, Sakura se sentia imobilizada ao sentir aquele olhar sobre ela. Cansada, ela sentiu os pulsos serem presos pelas mãos calejadas de Syaoran , enquanto ele a virava, colocando-a sobre o próprio corpo.
"Não sei como matastes meus homens se não pode nem se libertar de meus braços", ele disse, sorrindo. Sakura sentiu-se levemente ruborizada com aqueles lábios tão próximos dos seus. Mas não recuou.
"Estou com nojo de você. És a criatura mais desprezível que julgo já ter visto", ela disparou.
Syaoran novamente sorriu, mas Sakura notou a malícia contida naqueles lábios. Sentiu a mão dele se pressionar contra a sua nuca, aproximando os rostos, até as bocas estarem separadas por milímetros. Fechou os olhos assim que sentiu os lábios dele pressionarem-se sobre sua boca, delicadamente. Como evitar, se era simplesmente delicioso? Com os braços, abraçou o pescoço dele, aumentando o contato dos corpos.
Com aquela linda garota em seus braços, Syaoran sentiu incontrolável. Não poderia simplesmente mordiscar aqueles lábios. Tinha que provar o gosto daquela boca, tão convidativa. Lentamente, passou a língua para boca dela, sugando o sabor daquela bela mulher. Envolveu a cintura delgada com a cintura, impossibilitando-a de se libertar dos braços fortes.
"É a segunda vez que isto ocorre", Syaoran murmurou, ofegante, quando se separaram.
"Então, eras tu aquela noite? Por que mandaste me matar? Não entendo...", ela indagou. Como se a consciência lhe voltasse, Syaoran largou Sakura, levantando-se do chão, antes de responder, áspero.
"'Tu és minha inimiga, esqueceste? Mesmo com um beijo, meu ódio e meu dever não foram mudados".
Como se uma balde d'água caísse sobre sua cabeça, Sakura se levantou também, o fitando com desprezo.
"Como afirmas, sou uma nipônica. Então, por que não me mataste, quando tiveras a arma em mãos?", ela novamente perguntou.
"Por que viva, me serves melhor".
"Não sou sua criada!".
Syaoran sorriu. Se ela fosse uma mera empregada chinesa, seria muito mais fácil ser encontrado aos beijos com ela. Mas, para seu eterno azar, ela era sua inimiga. "Não, não és".
"Então pares de me tratar como uma!", ela disparou, nervosa.
O silencio que se seguiu foi incomodo. Porém, a bela japonesa não tinha nenhuma intenção de manter uma conversação com aquele homem tão presunçoso. E odiando admitir, ele tinha razão. Um beijo não mudaria a situação em que os dois se encontravam.
"Ficarás como prisioneira, até esta guerra acabar. Depois, eu a matarei", ele disse, virando-se, para sair do quarto. Ouviu-a dizer.
"Muito reconfortante, capitão Li".
Ao perceber que ficara sozinha no quarto, Sakura sentiu os olhos arderem. As lágrimas inundaram sua feição. A honra de seu pai foi seriamente comprometida quando ela fora pega. Como poderia, livrar a família de tal vergonha?
Não sabia. Só tinha em mente como escapar dali. Confinada sobre aquelas quatro paredes, nunca conseguiria avisar o pai sobre quaisquer planos dos chineses. O mais certo agora era se acalmar e pensar com clareza sobre a melhor maneira de escapar, sem deixar vestígios.
"Com licença".
Sakura viu entrar em seu quarto, uma delicada jovem, trazendo bandeja. Atrás dela, um homem, com uma espada, a escoltava. Notando a espada na cabeceira da cama, ela a pegou, posicionando-se na frente dos visitantes. A jovem se assustou, porém, sorriu. O soldado, ao contrario, se posicionou, pronto para lutar.
"O que vocês querem?", a japonesa perguntou.
"Sou Meiling, irmã de Syaoran. Estou aqui, a mando dele, para lhe trazer comida", a jovem de olhos avermelhados respondeu, depositando a bandeja perto da prisioneira.
"Obrigado", Sakura agradeceu, guardando a espada. "E você, soldado, quem é?".
"Nui Bi, japonesa. E espero que não tentes nada contra a Srta. Meiling. Ela foi por demais generosa ao trazer este ensopado", o homem respondeu, também guardando a espada.
"Então, você é Sakura Kinomoto?", Meiling perguntou, sentando-se ao lado da japonesa.
"Sim", Sakura respondeu, enquanto se deliciava com a comida. "Imagino a maravilhas que teu irmão disse ao meu respeito"
Meiling sorriu. Syaoran havia poupado palavras ao descrever a filha do general Kinomoto. Era muito bonita, corajosa e determinada. Simpatizou com a prisioneira do irmão. "Na verdade, ele me disse que tu eras muita bonita, Srta. Kinomoto. Porém, vejo que alem disso, tu és uma espiã que trabalha para o próprio pai, não é mesmo?", ela indagou.
"Estás certa. Trabalho para meu pai. Porém, depois do que houve aqui, duvido que saía viva deste cubículo", Sakura suspirou, tristemente. Nui se aproximou, sentando-se ao lado dela.
"Duvido que meu patrão ira lhe matar, japonesa", ele disse. Sakura sorriu para ele. Como um soldado, que trabalhava para aquele metido, poderia ser tão carinhoso?
"Sakura... posso chamá-la de Sakura?", Meiling indagou, e com o consentimento da japonesa, ela continuou. "Acredite em mim. Prometo fazer todo o possível para lhe ajudar".
"Não entendo, porque me ajudas? Não és minha inimiga?", Sakura perguntou, confusa.
"Se permite me responder, Sakura", Nui interrompeu, sorrindo. "Não lhe vemos como inimiga. Precisa sair daqui, se queres salvar tua família".
"Muito obrigado...".
"Não agradeça", Meiling replicou. "Fazemos isto por teu bem, minha amiga".
Sakura sorriu, depois que os dois saíram do quarto. Encontrara pessoas maravilhosas, dispostas a arriscar a liberdade somente para ajuda-la. Talvez, nem tudo estivesse tão perdido...
**
Tomoyo seguia para o quarto da cunhada, com o coração aos saltos e os lábios recitando um mantra de proteção. Pedira aos deuses que auxiliassem Sakura naquela empreitada. Mas algo dizia que nem tudo saíra como planejado. Que a bela ninja tivera sérios problemas.
Abriu as grandes portas de mármore do aposento de Sakura. Levou a mão à boca, emitindo um 'O' silencioso. A cama estava arrumada, sem sinal de que ela passara a noite ali. Pentes, vestes e utensílios, todos deixados no exato lugar onde Tomoyo colocara, antes de Sakura partir. Adentrou no local, com uma ponta de esperança que lhe restava. Mas, o que a recepcionou foi o silencio, apenas isto.
No instante seguinte, corria pelos corredores da mansão, atrás do sogro. Sua única esperança. Em sua pressa, trombou com alguém, que a segurou delicadamente.
"Está tubo bem, Sra. Tomoyo?", a voz soou. Tomoyo ergueu os olhos, para se deparar com o semblante sorridente de Eriol.
"Oh, sim... Bom dia, Sr. Hiiragisawa", ela cumprimentou, se endireitando.
O inglês arqueou uma sobrancelha, enquanto os olhos se estreitavam na jovem a sua frente. "Tem certeza? Não me pareces muito bem"
"Não se preocupes. Estou em perfeito estado", ela respondeu, antes de correr dali.
'Oh, o que ele pensara de mim agora?', a mente lhe perguntou. Porém, a situação não pedia que ela dessa atenção ao senhor Eriol. Entrando desesperadamente no escritório de Fujitaka, ela finalmente pode respirar.
"Meu sogro?".
A voz era tremula e ansiosa. Fujitaka, ao notar isto, parou suas atividades para fitar a nora. "Minha querida, o que lhe ocorreste?".
"A mim, meu sogro, nada. Porém, Sakura, ela não voltou da missão a qual foi destinada ontem".
Fujitaka sentiu uma dor terrível dominar seu coração. Arriscava sempre a vida da filha, a colocando nestas situações. Porém, para seu alivio, a garota era dotada de muita habilidade, ou de muita sorte.
"O que faremos agora?", Tomoyo indagou. Fujitaka baixou os olhos, murmurando.
"Nada"
"Como disse?", Tomoyo perguntou. Fujitaka se aproximou da jovem, dando um leve aperto em seu ombro.
"Absolutamente nada, minha querida. Sakura é uma mulher forte. Saberá se defender de todos os perigos que lhe surgirem. Agora...", ele fez uma pausa, para depois sorrir. "Vá tomar café, Tomoyo. Tenho certeza que uma boa alimentação lhe deixara mais aliviada".
Tomoyo olhou o sogro, surpresa. Nunca poderia esperar esta indiferença do próprio pai da espiã. "Meu sogro, confesso estar surpresa. Porém, se minha prima não voltar daqui a algumas horas, serei obrigada a comunicar as autoridades. Não podemos ignorar tal acontecimento".
Pisando duro, a japonesa saiu do aposento. 'Maldita tranqüilidade', ela pensou, aturdida, enquanto rumava para o próprio quarto. A idéia de ter que arriscar o nome da família lhe parecia mais justa do que te que arriscar a vida de Sakura....
Enquanto isso, Fujitaka sentia o remorso tomar conta de todo o seu corpo. Não podia confiar apenas na sorte de Sakura. Mas também não podia avisar as autoridades. Teria que resolver isto o mais rápido possível, antes que os chineses resolvessem atacar novamente...
**
"Posso saber, como faremos isto?", Nui perguntou, enquanto acompanhava Meiling em um de seus passeios noturnos.
"Já tenho tudo planejado. Com tua ajuda, nossa prisioneira poderá ir para a casa sem a menor suspeita".
"Tu fostes maluca ao dizer que a ajudaria. Se teu irmão sabe, somos deportados para a China. E isto, eu não quero!".
"Pares de fazer birra, soldado!", Meiling o repreendeu, docemente."Se digo que já sei o que fazer, deverias confiar em mim".
Nui parou de andar, fitando intensamente Meiling. "Eu confio, só que... Não quero que se arrisques".
A chinesa se sentiu levemente corada. "Não vou me arriscar, Nui. Apenas farei o que tem de ser feito. É uma injustiça o que estão fazendo com Sakura".
"Concordo", o soldado suspirou pesadamente. "O que pretendes fazer?".
"Pretendo ir ao quarto do meu irmão, quando este estiver a dormir, e roubar os pertences de nossa amiga. Com eles, ela poderá escapar pelo mesmo lugar da onde veio", ela explicou. Nui meneou a cabeça, desanimado.
"Sinto lhe desapontar, mas se não sabes, teu irmão é o melhor guerreiro da dinastia. Achas que ele pode ser enganado?".
"Acho sim. Não só acho, como tenho certeza. Grave minhas palavras, meu caro amigo. Syaoran Li vai ser enganado pela própria irmã...".
Fim***
Desculpe, mas não recebi autorizacoes para fazer as propagandas!!! Quero agradecer a todos que vem lendo, e aqueles que me mandam comentarios!!
Bjs, De Jenny -Ci
Syaoran a observou, tão deslumbrado quanto desconfiado. Só soubera da presença daquela dama de preto quando um soldado a trouxe, dormente, em seus braços. Porém, algo o levava a acreditar que a conhecia. Algo simplesmente o impediu de mata-la. Então, assim que soube a causa da dormência dela, tratou de pedir para que Meiling providencia-se a produção do antídoto.
Aproximou-se dela, sentando-se do lado cama onde ela adormecia. Inclinou a cabeça sobre os cabelos sedosos, tendo a certeza de que conhecia aquele cheiro. Um cheiro doce, de flores tropicais. Olhando por alguns instantes, sentiu a enorme vontade de retirar-lhe aquela máscara, só para ver quem foi à dama que matara dois de seus melhores soldados. Com cuidado para não acorda-la, ele desamarrou os fios que prendiam a máscara de metal, tirando-a do rosto. Controlou um gemido de surpresa.
Era ela.
A expressão era calma e serena, não como da vez em que ele a encontrara no quintal da mansão Kinomoto. Se não estivesse tão perto, poderia até jurar que os lábios estavam curvados em um sorriso. Com a mão, acariciou as bochechas, coradas. Então, ela não morrera no ataque que planejara. Assim que seu dedo roçou nos lábios rosados, os dois olhos se abriram, paralisando os movimentos de Syaoran.
Sakura o fitou, ainda atordoada. Porém, mesmo dormente, saberia que se tratava do homem da clareira. Só bastava sentir o toque dele. O avaliou, notando como se enganara ao pensar que por trás da máscara que ele usava, se escondia uma figura horripilante, repleta de escoriações. O homem era bonito. Na verdade, era o homem mais bonito que ela já vira. A expressão era forte, masculina. Os lábios eram finos, bem desenhados, enquanto o nariz afilado combinada com o semblante dele, e com o queixo másculo. As sobrancelhas grossas ressaltavam os belos olhos dourados, que pareciam traga-la para dentro dele. Cabelos castanhos, rebeldes. Os ombros largos, o corpo que parecia forte e viril ao seu ver meio confuso. Tentou inutilmente se mover, porém, viu estar amarrada.
"Não adianta", a voz era rouca e impessoal. "Estás presa".
"Não posso acreditar!", ela praguejou, falando mais para si mesmo do que para Syaoran. "Falhei em minha missão!".
"Confesso estar surpreso. Quem diria, Sakura Kinomoto, trabalhando para o próprio pai?", o chinês argumentou, notando ela franzir o cenho, enquanto as bochechas coravam.
"Ainda lembra de mim?".
"Mesmo se não lembrasse, saberia de quem se tratava. Porém, creio que eras para estares morta. Não conversando comigo, nesta cama", ele brincou. Sakura, porém, não prestou atenção na brincadeira. Só sentiu as lágrimas escorrerem por ser rosto.
Sentia-se humilhada. Nunca, em todas as suas empreitadas, falhara. Nunca fora descoberta. Agora, a honra de seu pai estaria comprometida. Não conseguindo controlar o soluço, chorou sem se importar com o presente, visivelmente incomodado com o choro de Sakura.
"Você é Syaoran Li, não é mesmo?", ele a ouviu perguntar, com a voz trêmula.
"Sim, japonesa, sou eu mesmo".
Sentindo-se traída por seus próprios instintos, Sakura passou a ter nojo de Syaoran, que não sabia nem ao menos o que dizer. A japonesa de olhos verdes, munida de uma força que não sabia ter, conseguiu soltar um das mãos da corda que a prendia. Pronta para mata-lo com sua Sai, notou não estar com suas armas. Só sentiu mais desprezo por ele.
"Me mate!", ela gritou, com voz decidida. Syaoran a encarou, surpreso.
"Achas mesmo que eu cederei as tuas vontades?".
"Sei muito bem que desejas minha morte. Tu mandaste atacar meu quarto. Então, me mate. Não permitirei que meu pai passe por humilhação alguma", Sakura ordenou, ainda mais decidida.
Syaoran olhou para a espada que carregava. Sua mente lhe gritava: Vá em frente, mate-a!O coração, desesperadamente, pedia: Não, não faça isto! Porém, ele era um guerreiro. Seu coração não podia exercer nenhuma força sobre sua mente e sobre suas decisões. A morte dela seria apenas um adiantamento de seus planos. Se por suas mãos não morrestes, certamente outro o faria. Então, posicionando a arma sobre o coração da jovem, Syaoran a encarou, por alguns segundos.
"Apesar de ser uma nipônica, admiro que queria preservar sua dignidade, matando a si mesma", ela argumentou, vendo que uma corrente de sangue já escorria sobre a lâmina de sua espada, enquanto ele pressionava cada vez mais a arma.
"Cale-se e faça logo isto!", ela ordenou, ignorando a dor que já sentia.
O guerreiro chinês ia mesmo fazer isto. Porém, não pode, a espada caiu de sua mão, como se o coração paralisasse seus movimentos. Cruzou os braços sobre o peito, meneando a cabeça, enquanto via expressão de Sakura se alterar de resignada a nervosa.
"Prefiro ver teu pai humilhado a te ver morta"
"Ah, seu covarde imprestável", ela gritou, antes de avançar sobre ele. "Vai morrer pelo o que teus lábios disseram"
Mesmo forte, Sakura sabia que não poderia nem ao menos ferir Syaoran. Ele era muito mais forte. E simplesmente, Sakura se sentia imobilizada ao sentir aquele olhar sobre ela. Cansada, ela sentiu os pulsos serem presos pelas mãos calejadas de Syaoran , enquanto ele a virava, colocando-a sobre o próprio corpo.
"Não sei como matastes meus homens se não pode nem se libertar de meus braços", ele disse, sorrindo. Sakura sentiu-se levemente ruborizada com aqueles lábios tão próximos dos seus. Mas não recuou.
"Estou com nojo de você. És a criatura mais desprezível que julgo já ter visto", ela disparou.
Syaoran novamente sorriu, mas Sakura notou a malícia contida naqueles lábios. Sentiu a mão dele se pressionar contra a sua nuca, aproximando os rostos, até as bocas estarem separadas por milímetros. Fechou os olhos assim que sentiu os lábios dele pressionarem-se sobre sua boca, delicadamente. Como evitar, se era simplesmente delicioso? Com os braços, abraçou o pescoço dele, aumentando o contato dos corpos.
Com aquela linda garota em seus braços, Syaoran sentiu incontrolável. Não poderia simplesmente mordiscar aqueles lábios. Tinha que provar o gosto daquela boca, tão convidativa. Lentamente, passou a língua para boca dela, sugando o sabor daquela bela mulher. Envolveu a cintura delgada com a cintura, impossibilitando-a de se libertar dos braços fortes.
"É a segunda vez que isto ocorre", Syaoran murmurou, ofegante, quando se separaram.
"Então, eras tu aquela noite? Por que mandaste me matar? Não entendo...", ela indagou. Como se a consciência lhe voltasse, Syaoran largou Sakura, levantando-se do chão, antes de responder, áspero.
"'Tu és minha inimiga, esqueceste? Mesmo com um beijo, meu ódio e meu dever não foram mudados".
Como se uma balde d'água caísse sobre sua cabeça, Sakura se levantou também, o fitando com desprezo.
"Como afirmas, sou uma nipônica. Então, por que não me mataste, quando tiveras a arma em mãos?", ela novamente perguntou.
"Por que viva, me serves melhor".
"Não sou sua criada!".
Syaoran sorriu. Se ela fosse uma mera empregada chinesa, seria muito mais fácil ser encontrado aos beijos com ela. Mas, para seu eterno azar, ela era sua inimiga. "Não, não és".
"Então pares de me tratar como uma!", ela disparou, nervosa.
O silencio que se seguiu foi incomodo. Porém, a bela japonesa não tinha nenhuma intenção de manter uma conversação com aquele homem tão presunçoso. E odiando admitir, ele tinha razão. Um beijo não mudaria a situação em que os dois se encontravam.
"Ficarás como prisioneira, até esta guerra acabar. Depois, eu a matarei", ele disse, virando-se, para sair do quarto. Ouviu-a dizer.
"Muito reconfortante, capitão Li".
Ao perceber que ficara sozinha no quarto, Sakura sentiu os olhos arderem. As lágrimas inundaram sua feição. A honra de seu pai foi seriamente comprometida quando ela fora pega. Como poderia, livrar a família de tal vergonha?
Não sabia. Só tinha em mente como escapar dali. Confinada sobre aquelas quatro paredes, nunca conseguiria avisar o pai sobre quaisquer planos dos chineses. O mais certo agora era se acalmar e pensar com clareza sobre a melhor maneira de escapar, sem deixar vestígios.
"Com licença".
Sakura viu entrar em seu quarto, uma delicada jovem, trazendo bandeja. Atrás dela, um homem, com uma espada, a escoltava. Notando a espada na cabeceira da cama, ela a pegou, posicionando-se na frente dos visitantes. A jovem se assustou, porém, sorriu. O soldado, ao contrario, se posicionou, pronto para lutar.
"O que vocês querem?", a japonesa perguntou.
"Sou Meiling, irmã de Syaoran. Estou aqui, a mando dele, para lhe trazer comida", a jovem de olhos avermelhados respondeu, depositando a bandeja perto da prisioneira.
"Obrigado", Sakura agradeceu, guardando a espada. "E você, soldado, quem é?".
"Nui Bi, japonesa. E espero que não tentes nada contra a Srta. Meiling. Ela foi por demais generosa ao trazer este ensopado", o homem respondeu, também guardando a espada.
"Então, você é Sakura Kinomoto?", Meiling perguntou, sentando-se ao lado da japonesa.
"Sim", Sakura respondeu, enquanto se deliciava com a comida. "Imagino a maravilhas que teu irmão disse ao meu respeito"
Meiling sorriu. Syaoran havia poupado palavras ao descrever a filha do general Kinomoto. Era muito bonita, corajosa e determinada. Simpatizou com a prisioneira do irmão. "Na verdade, ele me disse que tu eras muita bonita, Srta. Kinomoto. Porém, vejo que alem disso, tu és uma espiã que trabalha para o próprio pai, não é mesmo?", ela indagou.
"Estás certa. Trabalho para meu pai. Porém, depois do que houve aqui, duvido que saía viva deste cubículo", Sakura suspirou, tristemente. Nui se aproximou, sentando-se ao lado dela.
"Duvido que meu patrão ira lhe matar, japonesa", ele disse. Sakura sorriu para ele. Como um soldado, que trabalhava para aquele metido, poderia ser tão carinhoso?
"Sakura... posso chamá-la de Sakura?", Meiling indagou, e com o consentimento da japonesa, ela continuou. "Acredite em mim. Prometo fazer todo o possível para lhe ajudar".
"Não entendo, porque me ajudas? Não és minha inimiga?", Sakura perguntou, confusa.
"Se permite me responder, Sakura", Nui interrompeu, sorrindo. "Não lhe vemos como inimiga. Precisa sair daqui, se queres salvar tua família".
"Muito obrigado...".
"Não agradeça", Meiling replicou. "Fazemos isto por teu bem, minha amiga".
Sakura sorriu, depois que os dois saíram do quarto. Encontrara pessoas maravilhosas, dispostas a arriscar a liberdade somente para ajuda-la. Talvez, nem tudo estivesse tão perdido...
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Tomoyo seguia para o quarto da cunhada, com o coração aos saltos e os lábios recitando um mantra de proteção. Pedira aos deuses que auxiliassem Sakura naquela empreitada. Mas algo dizia que nem tudo saíra como planejado. Que a bela ninja tivera sérios problemas.
Abriu as grandes portas de mármore do aposento de Sakura. Levou a mão à boca, emitindo um 'O' silencioso. A cama estava arrumada, sem sinal de que ela passara a noite ali. Pentes, vestes e utensílios, todos deixados no exato lugar onde Tomoyo colocara, antes de Sakura partir. Adentrou no local, com uma ponta de esperança que lhe restava. Mas, o que a recepcionou foi o silencio, apenas isto.
No instante seguinte, corria pelos corredores da mansão, atrás do sogro. Sua única esperança. Em sua pressa, trombou com alguém, que a segurou delicadamente.
"Está tubo bem, Sra. Tomoyo?", a voz soou. Tomoyo ergueu os olhos, para se deparar com o semblante sorridente de Eriol.
"Oh, sim... Bom dia, Sr. Hiiragisawa", ela cumprimentou, se endireitando.
O inglês arqueou uma sobrancelha, enquanto os olhos se estreitavam na jovem a sua frente. "Tem certeza? Não me pareces muito bem"
"Não se preocupes. Estou em perfeito estado", ela respondeu, antes de correr dali.
'Oh, o que ele pensara de mim agora?', a mente lhe perguntou. Porém, a situação não pedia que ela dessa atenção ao senhor Eriol. Entrando desesperadamente no escritório de Fujitaka, ela finalmente pode respirar.
"Meu sogro?".
A voz era tremula e ansiosa. Fujitaka, ao notar isto, parou suas atividades para fitar a nora. "Minha querida, o que lhe ocorreste?".
"A mim, meu sogro, nada. Porém, Sakura, ela não voltou da missão a qual foi destinada ontem".
Fujitaka sentiu uma dor terrível dominar seu coração. Arriscava sempre a vida da filha, a colocando nestas situações. Porém, para seu alivio, a garota era dotada de muita habilidade, ou de muita sorte.
"O que faremos agora?", Tomoyo indagou. Fujitaka baixou os olhos, murmurando.
"Nada"
"Como disse?", Tomoyo perguntou. Fujitaka se aproximou da jovem, dando um leve aperto em seu ombro.
"Absolutamente nada, minha querida. Sakura é uma mulher forte. Saberá se defender de todos os perigos que lhe surgirem. Agora...", ele fez uma pausa, para depois sorrir. "Vá tomar café, Tomoyo. Tenho certeza que uma boa alimentação lhe deixara mais aliviada".
Tomoyo olhou o sogro, surpresa. Nunca poderia esperar esta indiferença do próprio pai da espiã. "Meu sogro, confesso estar surpresa. Porém, se minha prima não voltar daqui a algumas horas, serei obrigada a comunicar as autoridades. Não podemos ignorar tal acontecimento".
Pisando duro, a japonesa saiu do aposento. 'Maldita tranqüilidade', ela pensou, aturdida, enquanto rumava para o próprio quarto. A idéia de ter que arriscar o nome da família lhe parecia mais justa do que te que arriscar a vida de Sakura....
Enquanto isso, Fujitaka sentia o remorso tomar conta de todo o seu corpo. Não podia confiar apenas na sorte de Sakura. Mas também não podia avisar as autoridades. Teria que resolver isto o mais rápido possível, antes que os chineses resolvessem atacar novamente...
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"Posso saber, como faremos isto?", Nui perguntou, enquanto acompanhava Meiling em um de seus passeios noturnos.
"Já tenho tudo planejado. Com tua ajuda, nossa prisioneira poderá ir para a casa sem a menor suspeita".
"Tu fostes maluca ao dizer que a ajudaria. Se teu irmão sabe, somos deportados para a China. E isto, eu não quero!".
"Pares de fazer birra, soldado!", Meiling o repreendeu, docemente."Se digo que já sei o que fazer, deverias confiar em mim".
Nui parou de andar, fitando intensamente Meiling. "Eu confio, só que... Não quero que se arrisques".
A chinesa se sentiu levemente corada. "Não vou me arriscar, Nui. Apenas farei o que tem de ser feito. É uma injustiça o que estão fazendo com Sakura".
"Concordo", o soldado suspirou pesadamente. "O que pretendes fazer?".
"Pretendo ir ao quarto do meu irmão, quando este estiver a dormir, e roubar os pertences de nossa amiga. Com eles, ela poderá escapar pelo mesmo lugar da onde veio", ela explicou. Nui meneou a cabeça, desanimado.
"Sinto lhe desapontar, mas se não sabes, teu irmão é o melhor guerreiro da dinastia. Achas que ele pode ser enganado?".
"Acho sim. Não só acho, como tenho certeza. Grave minhas palavras, meu caro amigo. Syaoran Li vai ser enganado pela própria irmã...".
Fim***
Desculpe, mas não recebi autorizacoes para fazer as propagandas!!! Quero agradecer a todos que vem lendo, e aqueles que me mandam comentarios!!
Bjs, De Jenny -Ci
