Capitulo 7

Quando abriu os olhos, sentiu o rosto esquentar e o lugar onde estava se iluminar com os primeiros raios de sol. Levantando-se rapidamente, foi tomada por uma sensação de surpresa e grande alívio: Estava em casa.

Sentou da cama, sentindo um aroma delicioso. Certamente, Tomoyo estava preparando o desjejum. Fitou o quarto, antes de sorrir em pura felicidade. Levantou-se e caminhou até a penteadeira.

Tocou seus pertences com as pontas dos dedos, sentiu o cheiro das flores no vaso ao lado do espelho. Abriu o armário, vendo seus quimonos, suas túnicas e todos as suas roupas em perfeito estado, exalando um doce cheiro de primavera. Como pudera ficar aprisionada naquele quarto escuro, sem seus bibelôs e seus mimos, na mão de um ser tão desalmado como era aquele Syaoran Li? Será que tudo não havia passado de um simples sonho? Bem, todavia, não importava mais. Ter sua liberdade de volta sobrepunha qualquer dúvida ruim.

Abrindo as portas do cômodo, saiu pelo corredor. Porém, algo estava estranho. O silêncio era mortal, e quanto mais ela caminhava adiante, mas percebia como o corredor ficava vazio. Os quadros, verdadeira adoração de Kaho, não estavam lá. Os vasos, as esculturas e as plantas, muitos presentes de Yukito, também haviam sumido. Andando mais um pouco, chegou até o escritório do pai.

Assim que entrou, Sakura controlou-se para não soltar um gemido. O lugar onde seu pai trabalhava estava completamente vazio. Apenas uma poltrona, verde musgo, residia lá. Aproximando-se ainda mais, viu uma silhueta sentada no móvel, observando fixamente as chamas que dançavam sobra à lareira. Sorriu. Seu querido pai era o único que fazia sentido naquele lugar, que ela uma vez chamou de lar.

"Papai?".

Fujitaka olhou para trás, antes de tomar um bom gole de saque. Levantando, caminhou até Sakura, que sorria para o pai, mesmo confusa. Ela estremeceu. O homem lhe lançava um olhar gélido, sem sentimentos. Em seus olhos, um brilho quase vermelho tomava o lugar dos orbes castanhas, sempre tão gentis. Viu ele levantar a mão, para depois pronunciar, ferozmente.

"Como ousas me chamar de pai, sua vadia?!?"

Não pode nem ao menos responder. A mão forte do pai lhe desferiu um tapa, na altura da bochecha. Sakura abriu a boca para falar, porém, a voz simplesmente não saiu. Levando a mão ao lugar machucado, sentiu-o dolorido. Fujitaka ainda a olhava, com a mão levantada.

"Porquê?", ela murmurou, com um fio de voz.

"Tu me traístes, Sakura. Se enamorastes daquele homem chinês, pôs nossa nação em perigo. Vês...?", ele apontou para o cômodo vazio. "É tudo obra sua. Vivemos na miséria, minha querida. A comida é o pouco que nos resta. Touya e Kaho...", ele pausou novamente, suspirando fundo. A jovem ficara ainda mais confusa, mas nem por isso menos angustiada. "Morreram pelas mãos destes malditos... Pedi para que Eriol levasse Tomoyo para a Inglaterra. Estamos sem rumo, e tudo isto é fruto do teu pecado".

"Papai, como podes dizer isto? Eu nunca me enamorei de chinês algum. Seria incapaz de lhe trazer tamanha desgraça", ela disse, sentindo um leve desespero. O homem virou, sem fitá-la.

"Suas palavras não valem nada, sua estúpida. O chinês se deitou com você, divertiu-se e te iludiu. Agora, com tudo que temos, ele parte para a China, te deixando aqui, violada, desonrada. Saías daqui, Sakura. Tu não és mais minha filha!", ele gritou. Ela sentiu as lágrimas descerem por suas bochechas, como se lhe rasgassem a carne. Corajosa, ela secou o choro e fitou o pai, decidida, porém, temerosa.

"Não sei do que falas, papai. Tuas palavras me parecem tão confusas. Me expliques, não posso suportar tua indiferença. Eu o amo, papai. Tu és a única família que eu tenho...".

E quanto mais ela falava, mais via o homem se afastar. Sentindo-se desamparada e fraca, ela caiu de joelhos ao chão, escondendo o rosto com as mãos. Porque tudo aquilo? Na noite passada dormia em uma cama dura, e agora, discutia com o pai o fim daquela guerra. Vendo estar sozinha, notou as imagens ficarem borradas, o local escurecer.

"Oh, papai, volte... Não me deixe desvanecer neste lugar...", ela suplicava, sentindo cada vez mais as próprias lágrimas. "Papai!!!"

"PAPAI!".

Sakura se levantou, olhando ao seu redor. Estava novamente presa as masmorras de Syaoran Li. Levou a mão à testa, sentindo o suor descer pelo rosto. Podia jurar que escutava as batidas do próprio coração. Suspirou aliviada. Tudo não passou de um pesadelo... Um terrível, porém, apenas um pesadelo.

"Sakura?".

Virando-se, deparou com Nui Bi a entrar no quarto, silenciosamente. Suspirou novamente, mais contente ainda. A prova viva que tudo não passara de ilusão estava ali, na sua frente. "O que faz aqui, Nui?".

"Que pergunta, hein, japonesa? Deverias saber que partira esta noite, daqui", ele falou, sorrindo.

Saindo da cama, Sakura rapidamente jogou-se nos braços de Nui, mergulhada na felicidade. Nem se importou com o rubor excessivo do soldado. Só queria agradecer. Agradecer ao amigo, por lhe dar esperanças que veria o pai, novamente.

"Oh, meu amigo! Não podes imaginar como me faz feliz a idéia de voltar para minha família!", ela gritou, depois de largar o estático Nui no mesmo lugar onde o abraçara.

"Deves agradecer a Meiling, e não a mim", ele afirmou, retribuindo o sorriso. Ela o encarou, interrogativamente.

"Por que, Nui? Onde está a irmã do capitão Li?".

"Neste exato momento, no quarto dele, pegando o que lhe pertence por direito".

Enquanto isto, furtivamente, Meiling subia as escadarias que levavam direto ao quarto de Syaoran. Estava praguejando interiormente, enquanto se aproximava do seu destino. Por que o quarto do capitão ficava justo ao lado da única saída que Sakura teria?

Abrindo a porta com delicadeza, ela espiou dentro do quarto. A cama estava vazia... Um leve desespero tomou conta dela, mas que rapidamente foi abafado pela visão seguinte da chinesa. Syaoran adormecera num canto do quarto, profundamente. Sorriu. Mesmo dormindo, ele mantinha a expressão defensiva. Os olhos prontos para se abrir ao sinal do qualquer ataque. Controlou um sorriso. Como ela, Meiling Li, delicada e gentil, pudera ter o mesmo sangue de Syaoran Li, fechado em seu mundo, lacrado a sete chaves? Bem, esta questão não convinha naquela hora.

Adentrou no cômodo, na ponta dos pés. Avistou, em uma mesa, alguns equipamentos, peculiares e um tanto... Estranhos, seria a palavra que ela usaria se pudesse falar. Aproximou-se, averiguando os objetos, curiosa. Via algumas 'estrelinhas', porém muito afiadas, e até sujas de sangue. Um gancho, preso a uma corda negra. Adagas finas e de formato singular, também apareciam. Várias facas, lanças e espadas. Mas o que mais gostou foi, o que apelido carinhosamente, de 'pata de gato'. Recolheu tudo, colocou na bolsa de couro que trouxera e partiu.

Desceu as escadarias, notando um movimento em sua frente. Do nada, apareceu um soldado, que ela não sabia o nome. Também, como podia, se naquele lugar residiam mais de 100 homens? Ele a olhou, desconfiado.

"Posso saber o que fazia lá nos aposentos do capitão Li, minha senhorita?".

"Não pode não!", ela rapidamente respondeu, virando-se para seguir seu caminho. "E olhas como falas comigo, soldado. Posso mandar te cortarem a língua se andares de fuxico por aí".

Não se deu ao trabalho de ouvir a resposta do homem. Não tinha tempo para gozar da sorte. Descendo as escuras escadarias, ela entrou na cela da japonesa, encontrando Sakura e Nui a conversarem, animadamente. Sentiu uma ponta de ciúmes no coração. Mas, por que? Não tinha porque sentir ciúmes do melhor amigo. Pigarreou, para chamar a atenção dos presentes.

"Meiling!", Sakura exclamou, contente. "Não precisavas arriscar tua vida para me ajudar, chinesa. Serei eternamente grata".

"Deixes de bobagem, garota", ela exclamou, entregando a bolsa para Sakura. "Prometa-me apenas que saíra daqui, e impedira ao máximo para que está guerra ocorra. És nossa esperança. Meu irmão nunca me ouvirá".

Sakura abraçou a bolsa, sentindo a forma de suas armas frias encostarem-se ao seu corpo. Todos os presentes que Tomoyo, carinhosamente, lhe trouxera. Averiguou a quantidade, sorrindo ao perceber que tudo estava como havia sido deixado. "Bem, me digam, como saio daqui?".

"Não pela porta da frente", Nui brincou, para depois sentir um tapa de Meiling na cabeça.

"Na verdade...", ela sorriu, ao ver o amigo massagear o machucado. "Saíras pelo mesmo lugar por onde entrou. Venha, vamos antes que o sol nasça".

Saindo do aposento, o trio seguiu na escuridão dos corredores daquele enorme Dojo. Sakura olhou tudo, surpresa. De fora, nunca poderia imaginar que Syaoran Li tinha tantos soldados. Perguntou-se, por um momento, se seria suficiente o número de homens que o pai convocara. Mas, não era o momento para isto.

"Por aqui", Meiling sussurrou, chamando a atenção da japonesa. Juntos, eles seguiram até uma escadaria, que dava para o escritório por onde Sakura viera.

"Bem...", Sakura suspirou, sorrindo para os novos amigos. "Acho que nunca mais os verei", ela abraçou os dois, limpando algumas lágrimas. "Adeus. Nunca esquecerei os que fizeram para mim".

"Até mais, japonesa. Cuide-se", Nui acenou. Meiling sorriu, acenando também.

"Foi um verdadeiro prazer lhe ajudar, Sakura. És a mulher mais forte que já conheci".

Acenando, Sakura subiu as escadarias devagar, já preparando sua Kawanaga. Passou pelo quarto do capitão chinês. Porém, enquanto a razão lhe mandava seguir, seu coração insistia para que ela espiasse. E foi isto que ela fez. Posicionando-se sobre a fresta da porta entreaberta, ela olhou dentro do aposento. E lá estava ele. Dormindo num canto do quarto, Syaoran Li tinha a expressão séria, os lábios pressionados sobre uma linha fina, como se estivesse a pensar. A japonesa de olhos verdes sorriu, notando a imobilidade do chinês. Parecia morto. Mas Sakura sabia que ele não estava. E se demorasse mais um segundo, ele poderia despertar e acabar com seu plano. E isto ela não queria pensar.

Endireitando-se, ela seguiu até a outra sala, abrindo a porta com cuidado para não fazer nenhum ruído. Entrando no local, ela percebeu que a janela estava aberta, como na noite em que ela entrara. Aproximou-se, e com muita delicadeza e sutileza, ela prendeu o gancho no parapeito da janela, jogando a corda pela mesma. Antes de pular, deu uma olhada naquela sala vazia. Seu coração parecia bater mais forte do que costume. Mesmo que tentasse evitar, sabia que Syaoran causara reações fortes e profundas nela. Os beijos, uma mistura de carinho e de paixão. Mas, aquele sonho que tivera tinha sua dose de realidade. Ele iria deitar-se com ela, usá-la, para depois descartá-la. Ela nunca passaria de uma nipônica, mais um conquista daquele verdadeiro galanteador. Então, o certo era ir embora enquanto não acordava o capitão.

Pulando sobre a janela, ela segurou-se na corda, descendo pela parede. Tinha que ter cuidado. Seus sapatos eram novos. Não conseguiriam se prender naquela parede lisa. Por isso, foi mais devagar, observando a paisagem abaixo de seus pés. Tudo deserto. Até os matagais pareciam abrir passagem para que ela saísse dali. Parecia perfeito. Perfeito até demais...

De repente, sentiu um impulso levá-la para cima. Confusa, ela tentou utilizar toda a força do corpo. Porém, aquilo, ou alguém, que puxava sua Kanagawa, era muito mais forte. Olhou para baixo. Se pulasse, naquela altura, corria o sério risco de quebrar algum membro. Deste jeito não poderia fugir...

Quando estava no parapeito da janela, ela pôs o pé nele. Agarrando-se as beiradas da janela com a mão, ela subiu. Fitou o homem que acabara com seus planos com ódio.

Enquanto isso, Syaoran Li, a sua frente, segurava a corda, rindo...

"Ias a algum lugar, minha querida?", ele ironizou, puxando a corda, fazendo com que a japonesa caísse no chão. Caminhando até ela, viu ela se levantar, defensiva.

"Vamos fazer um trato", ela propôs, arrumando a roupa amassada.

"Do que se trata?", Syaoran perguntou. A garota sorriu, maliciosamente.

"Vamos lutar. Se eu vencer, tu me deixarás partir. Se venceres, eu fico aqui, e poderás fazer o que quiser comigo".

"Não sei", ele colocou a mão no queixo, pensando. "Tenho muito mais a perder do que ti. Mas, em todo caso". Colocando-se em posição de luta, ele sorriu. "Estou curioso ao saber como lutaras"

Ela meneou a cabeça. "Não uma luta corporal, capitão Li. Espada, contra espada".

Syaoran fingiu desapontamento. "Realmente, queria lutar com minhas mãos". Fitando ligeiramente o corpo da japonesa, viu ela corar, para depois rir novamente. "Mas, se assim que queres, terei o mais prazer em lhe mostrar que as técnicas chinesas são melhores que as suas".

Sakura desembainhou sua espada. Syaoran notou como aquela arma era diferente da sua. Era fina, reta e decorada. O cabo dela tinha flores douradas, além de um pequeno pano, na cor negra. A sua, contrário, era grossa, curvada e sem muitos detalhes. Apenas o selo real de sua família. Ele a escutou dizer "Não me menosprezes, Li. Minhas técnicas vão muito além de sua pequena compreensão sobre as artes japonesas".

"Então, o que está esperando para vir me atacar?".

E assim ela fez. Correndo até o chinês, ela o atacou com toda a força que reuniu, causando um impacto que assustou Syaoran. Porém, o capitão das tropas não iria levar este desaforo. Recuperando-se rapidamente do ataque sofrido, ele começou a atacá-la, desferindo golpes que davam a impressão de que as espadas estavam a dançar, e não a confrontar. Sakura, enquanto se defendia, começou a procurar a fraqueza do inimigo. Mesmo sabendo que os ninjas não eram treinados para ataques frontais, e sim os mais furtivos, Sakura insistira ao pai que queria aprender todas as artes espadachins que o dinheiro do general pudesse pagar. Agora, utilizava uma técnica dos samurais, a Hitten Mitsurumi. Notando que a perna direita dele movia-se mais lentamente do que à esquerda, Sakura tratou de aproveitar esta falha. Desviando-se de um golpe potente, ela virou a espada, acertando o cabo na perna dele. Porém, algo saíra errado. Syaoran mantinha-se de pé, sem mostrar sinal de dor.

"Mas... Como?", ela perguntou. Syaoran sorriu.

"Minha prisioneira, conheço a arte Ninja", ao falar isto, o capitão notou a expressão incrédula de Sakura. Continuou. "Sabias que atacarias meu ponto fraco. Todavia, eu não o tenho. Então, utilizei minha perna esquerda mais rapidamente, para ver se você caía neste truque tão velho. E vejo, que és uma criança ingênua no corpo de uma mulher".

Aquele comentário fez todo o corpo de Sakura arder de raiva. Não poderia usar suas técnicas furtivas, ele as conhecia. Então, se quisesse vencer, teria que usar algo exótico, algo que pudesse surpreender um homem como o capitão. Olhando para sua bolsa, viu algo que lhe chamou a atenção. Largando a espada no chão, ela exclamou.

"Surpreendente, chinês", ela afirmou, enquanto caminhava até seus pertences. "Porém, quero que mostre que és um conhecedor de minha arte".

Syaoran arqueou a sobrancelha direita, desconfiado. "Como?", ele indagou, enquanto caminhava até a moça. Ela colocou com um par de adagas afiadíssimas em suas mãos.

"Estas são as Sais, capitão. São armas novas, porém, se notar, estão sujas de sangue. Um pequeno trabalho antes de ser presa por você", ela disse, girando as armas com habilidade. "Vamos lutar, usando elas. São poderosas, podem matar".

"Confesso...", ele fez uma pausa, estudando a anatomia do objeto em mãos. Depois, continuou. "Confesso nunca ter estudado sobre estes objetos, Sakura. São estranhos a minhas mãos. Mas se estiveres disposta a me ensinar um pouco sobre eles, antes de iniciarmos nossa batalha, poderei até fazer um bom trabalho. Serei um aluno dedicado, prometo".

Sakura notou o sorriso nos lábios de Syaoran. Não pode negar. Pois, se ganhasse, partiria dali o mais depressa possível. "Preste atenção, capitão Li. Não pretendo lhe ensinar meus segredos, se é isto que queres. Mas, o básico, lhe contarei. Não posso lutar com aquele que não sabe minhas técnicas. Até para mim, uma guerreira noturna, isto seria um ato de covardia". Dizendo isto, ela foi até ele. "Vencerá que desarmas o oponente primeiro".

"Como? Não consigo nem ao menos segurar estas coisas pontiagudas, como pode desarmá-la?".

Sakura sorriu, genuinamente. "Isto é um desafio que terás que aceitar, capitão".

"Bem, vale já algo. Consegui que sorristes para mim, com naturalidade". Ao ouvir isto, Sakura corou. Quem diria ela, odiando há poucos minutos aquele homem, agora ensinando-o a lutar?

"Bem Li, as Sais são armas muito fáceis de manejar. Mas, por sua leveza, é também muito fácil caírem de suas mãos. O mais certo, por princípio, e segurar com força o cabo, deixando na lâmina toda leveza. Tente, está bem?".

Syaoran segurou a adaga, porém, sua concentração estava naquela garota. Ela podia ser doce, quando queria... Concentrando-se novamente, ele indagou a ela, mostrando o modo com que segurava os objetos. "Assim?".

"Não, senhor Li", ela pegou a mão dele, sentindo um leve calafrio percorrer o corpo. Ele tinha os dedos calejados, quentes e fortes. Tentando quebrar a atenção que sentiu violentamente, ela tratou de explicar. "Pressione a força no dedão e no dedo mindinho. Eles são as extremidades de sua mão. Estão a segurar os outros dedos. Vamos, tentes novamente".

"E agora?", ele perguntou. Sakura sorriu.

"Muito bem. E agora, deves aprender a manejá-la", ela falou, pegando as próprias Sais. "Me observe. Movimente os pulsos, mas com cuidado. Eles devem dar suporte, não permitir que a arma se mova sozinha. Vamos tentar com apenas uma mão. Esquerda, direita e aponta".

Syaoran fez o mesmo, porém, achou a arma um tanto desajeitada. Iria argumentar, mas ao perceber como a 'tutora' fazia com facilidade, decidiu não desistir tão rápido. Concentrando-se, ele conseguiu fazer o gesto quase tão perfeitamente quanto Sakura.

"Isso mesmo, capitão. Agora, a defesa é um passo difícil. Nunca gire as Sais quando se defender. Elas não têm muito controle, podem cair ou não conseguirem bloquear o ataque do inimigo. Então, com a mão direita, defenda o lado esquerdo. Com a mão esquerda, faça o oposto. Vamos, vou tentar te atacar".

Indo até ele, Sakura começou a atacá-lo, devagar. Vendo que o dedicado aluno já conseguia dominar a defesa, ela começou a ir mais rápido, percebendo que ele também já atacava. Os dois conseguiam acompanhar o mesmo ritmo, até que, com uma distração da oponente, Syaoran defendeu-se com força, atirando a Sai de Sakura para longe. Com a lâmina da própria adaga, Syaoran encurralou Sakura, até que ela ficasse contra a parede, sem defesas. Ele pressionou a lâmina contra o pescoço da japonesa, sorrindo sarcasticamente.

"Bem, ganhei de minha mestra", ele disse. Sakura estranhou ao notar que não estava nervosa com este fato. Sentia até uma pontada de alívio.

"Sim... Vou ter que ficar aqui", ela suspirou. Ele largou a Sai no chão, puxando a mão de Sakura, levando-a consigo, enquanto caminhava para a saída do escritório.

"Não se preocupes, Sakura. Meiling e Nui também sofreram punições por tentarem te ajudar".

"O quê?", ela exclamou, encarando o homem que a puxava. "O que fez com eles?".

"Estão de castigo!", Syaoran riu da própria resposta. "Dividiram a mesma cela, até eu decidir o que acontecera a minha irmã conspiradora e o seu ajudante traidor".

Sakura mordeu o lábio inferior, nervosa. Não era justo que aquelas duas pessoas tão bondosas pagassem pelo seu erro. Não sabia se teria coragem de encarar Meiling e Nui, depois que falhou em sua fuga...

**

Touya caminhou até a sala do pai, ressabiado. Já passavam das onze da noite. Porém, sabia que o pai não havia dormido. Onde estava Sakura? Ela não aparecera no desjejum, nem em qualquer outra hora. E agora, quando fora ver o quarto dela, o encontrou vazio. Não entendia. Todavia, acreditava que o pai sabia a respostas para suas dúvidas.

"Papai?", ele chamou, enquanto entrava no local. Fujitaka estava parado diante a janela, a olhar as estrelas e a Lua, especialmente belas. Assim que ouviu seu nome, o general virou-se sorrindo tristemente para o filho.

"Sim, meu filho? O que desejas?".

"Onde está Sakura, meu pai? Não a vi desde de que levantei. Yukito está demasiadamente preocupado, e eu também", Touya inquiriu. Fujitaka encarou o filho, antes de apontar para a cadeira.

"Sentes, meu filho", ele pediu, e Touya rapidamente obedeceu. "Sabes, que há muitos anos, uma pessoa descobre planos inimigos, desfaz trabalhos sujos, e outras funções para mim, não sabes?".

"Sim, meu pai", Touya confirmou, para depois continuar. "Gostaria muito de conhecer este de quem tem tantas confiança".

Fujitaka hesitou ao falar. Mas a situação, infelizmente, não poderia esperar por suas vontades. "Você já a conhece".

"Como?", Touya disse, surpreso. "Meu pai, ela é uma mulher? Sabes que... podes ser abdicado de teu posto por esta falta!".

"Touya, posso ser morto, se descobrirem quem eu contratei", Fujitaka completou. "Meu filho, o que saíra de minha boca e entrara em teus ouvidos é secreto. Se descobrir que dissestes a alguém, arrume tuas coisas que lhe expulso daqui".

"Me calarei", Touya disse.

"Quem eu contratei, foi... Sakura".

"O quê?", Touya exclamou, levantando-se de seu acento. "Como podes, meu pai? Minha irmã, trabalhando para ti? Como espiã?".

Fujitaka desviou o olhar. Não poderia recorrer atrás de sua decisão. A vida de sua filha estava em jogo. E esta batalha, ele não admitiria perder. "Pedi aos mestres da arte Ninjutsu para que treinassem sua irmã. Ela é uma ninja. Uma guerreira das sombras, se preferir. Ela trabalha para mim desde de que tinha 10 anos. E agora, ela corre perigo".

Touya olhou para o pai, decepcionado. Esperava confiança da parte dele, esperava que o governo que Fujitaka construía fosse feito de verdades e de sinceridade. Mas, ao ouvir que a vida de Sakura estava em perigo, não convinha discutir os valores morais do general. "O quê houve?".

"Creio que ela esteja no alojamento chinês, no antigo Dojo abandonado", Fujitaka explicou. "Vá até lá e a traga de volta. Mate qualquer chinês maldito que cruzar teu caminho. Quero o corpo dela, não importa vivo ou...", ele fez uma pausa. A imagem da filha morta seria algo que ele não poderia suportar. "Tragas ela, está bem? Por cada machucado no corpo dela, mate um soldado. Mas não quero uma guerra. Sei do paradeiro deles e espero que meus planos dêem certo para eu possa atacar o Dojo. Apenas a traga, e não se fira e nem provoque a ira de ninguém".

Sem nada dizer, Touya se levantou e foi caminhando em direção a porta, até que ouviu a voz de Fujitaka lhe falar.

"Obrigado, meu filho. Sei que conseguirás".

"Não agradeça", Touya disse secamente. "Faço isso por ela, e não por você".

Fujitaka ficou perdido em seus pensamentos, triste, se sentindo sozinho. Porém, sabia que a culpa fora sua. Que se sua família se tornasse alvo de comentários e a vergonha da nação, se culparia. Em sua revolta interior, não percebeu que olhos observaram a conversa, desde o começo.

**

"Me perdoem...".

Meiling e Nui lançaram olhares bondosos para Sakura. Os três estavam presos nas masmorras, sem comida e com apenas uma jarra de água. O castigo imposto pelo capitão Li...

"Não precisas se desculpar, japonesa. Fizemos o melhor, porém... Ele é melhor do que o nosso melhor", Nui respondeu, com uma ponta de sarcasmo na voz. Meiling olhava para janela, ansiando para ver a luz do dia por aquelas grades. Mas os raios não eram o suficiente para acalmar o coração de uma garota tão espirituosa.

"Ele receberá o castigo. Syaoran Li é uma cascavel se movimentando no solo errado", a chinesa disse, emburrada. Sakura sorriu.

"Pareces, ao meu ver, que tens muito controle sobre ele", ela comentou. Meiling virou-se para fitá-la, com os olhos repletos de orgulho.

"Meu pai certamente o castigará. Ora, como ele pode me prender?", ela inquiriu, nervosa.

"Tenho saudades de meu pai", Sakura falou. Nui a olhou, tristemente.

"Todos nós temos saudade de nossas famílias, minha amiga. Porém, não conheci meu pai. Como o Sr. Shang afirma, ele morreu para honrar o solo chinês. Fui criado por minha mãe, Yan. Apenas por ela".

Sakura novamente abaixou a cabeça, murmurando tristemente. "Minha mãe era uma gueixa, que trabalhava numa famosa casa de chá. Meu pai a conheceu, e se apaixonou, perdidamente. O resultado desta paixão proibida fui eu. Nunca a conheci, e meu pai não a menciona, provavelmente por respeito a minha madrasta. Ele afirma que foi um erro o que fez com minha mãe, mas diz que eu fui a compensação desta falha".

"Oh, Sakura", Meiling foi até ela, para segurar gentilmente a mão da japonesa. "Eu também não tive mãe. Ela morreu depois de dar à luz a mim. Uma vez, ouvi Syaoran dizer que eu fui à causa da morte dela. Porém, depois de algum tempo, ele veio me dizer que não. Apesar de aparentar, Syaoran não é uma má pessoa".

"Você tem irmãos, Nui?", Sakura perguntou rapidamente. Não queria colocar Syaoran na conversa. Nui sorriu, assentindo com a cabeça.

"Um irmão, de 16 anos. Ele se chama Nabu, porém, ele não irá se alistar na guerra como eu. Ele quer a vida, o amor e a arte. Não a batalha. Para ser sincero, não sei porque lutamos. Todos acreditavam no fim disso tudo".

"Se queres sinceridades, eu...", Sakura foi interrompida por um barulho estridente. Correndo até a janela, a japonesa de olhos verdes observou um homem caminhar por entre aquela fumaça toda, abatendo os soldados que cruzavam seu caminho. Soltou um gemido de surpresa.

"Oh, pelos deuses!".

"O que foi isso?", Meiling disse, aflita. Sakura trêmula fitou os amigos, antes de dizer.

"Touya... É o meu irmão... Ele veio...", ela balbuciou. Nui e Meiling se entreolharam, confusos.

"Temos que sair daqui", o soldado ordenou. Fitou a porta, tendo uma idéia. "Nós, juntos, conseguiremos arrombar a porta. Vamos tentar?".

Diante do rápido assentimento das garotas, o trio foi até a porta. Com as ordens de Nui, eles empurraram com força, até que a porta se arrombou e caiu no chão. Olharam para o caminho à frente, chocados. Vários destroços, poeira pelo chão e pelas paredes. Alguns homens, caídos, mortos. Mas Sakura não pensava nisso. Como Touya descobrira seu paradeiro? Só se...

"Vamos procurar o capitão!", Nui ordenou para as duas, tirando Sakura de seus pensamentos. "Nos dividiremos. Cuidarei para que um soldado negocie com teu irmão".

Todos se separaram. Sakura subiu as escadarias, vendo o rastro de sangue, que conduzia ao cômodo central. Abaixou-se e tocou o líquido com a ponta dos dedos. Estava quente. Isto significava que a vítima passara por ali faz pouco tempo. Deveria ajudar. O capitão poderia se cuidar sozinho.

Seguindo o rastro, ela caminhou até onde o sangue acabava. Notou um corpo, no chão, com uma flecha perto de seu peito. Achegando-se ao homem, sentiu os olhos se encherem de lágrimas.

Era Syaoran...

"Capitão?", ela o chamou, colocando a cabeça do homem sobre o colo. "Me responda! Não podes morrer! Acordes, capitão!!"

Para seu alívio, viu ela soltar um murmúrio, abrindo lentamente os olhos dourados.

"Sakura?", ele balbuciou, com um meio sorriso. "Não fostes embora ainda?".

"Como embora, Li? Achas que deixaria você aqui, para morrer?", ela disse, avaliando a flecha no corpo do capitão. Controlou mais lágrimas, em vão. Aquilo era uma combinação perigosa de venenos. Certamente cobras e algumas salamandras japonesas.

"Tire a flecha, Sakura. De qualquer modo, nada me adiantarás ficar com esta porcaria fincada em meu peito", ele ordenou. Sakura assim fez, retirando-a com cuidado para não causar mais nenhum dando. Viu ele gemer de dor. Sentiu- se mais tentada a ficar lá e cuidar daquele homem.

"Meiling cuidará de mim", Syaoran afirmou.

"Tua irmã não sabe nada sobre veneno de cobras nipônicas, seu homem teimoso! Deixe de birra! Cuidarei de você, mesmo sendo sua prisioneira".

Syaoran, desta vez, nada respondeu ou argumentou. Apesar de ter sido tachado de teimoso, gostava de ver a preocupação daquela japonesa com relação a ele. Viu um soldado se aproximar, com a espada em mãos, apontada para a cabeça de Sakura. Ia dizer algo, porém, o dedo de Sakura o silenciou.

"É a tua chance de fugir, japonesa desgraçada. Teu irmão matou milhares de nós. Vá antes que eu lhe corte o pescoço", o homem vociferou. Sakura o olhou, decidida.

"Se eu for, teu capitão morrerás. Digas ao meu irmão que não vim para cá. Só não digas que estou aqui", ela pediu. O soldado não se convenceu, porém, retirou a espada de perto da japonesa.

"Só obedeço às ordens de meu superior, sua maldita. E você não é!", ele retrucou. Ia saindo, porém, escutou uma voz que o parou no mesmo lugar.

"Soldado, obedeças Sakura, ou morrerás pelas mãos dela", Syaoran gritou. Sakura o encarou, tão surpresa como o soldado. Mas, sorriu para o capitão.

"Vamos, capitão! Vamos tratar deste teu ferimento".

Enquanto isso, um soldado chinês caminhava com a espada levantada, sinal de que não estava ali para duelar com o irmão da japonesa. Touya entendeu o recado e também baixou a arma. O chinês se aproximou do japonês, perguntando.

"O que queres aqui?".

"Quero minha irmã, viva!", ele rapidamente respondeu. O soldado olhou para casa. Recebera ordens explicitas do capitão. Desta maneira, deveria ocultar a verdade do inimigo a sua frente.

"Não conheço esta japonesa... Vá embora!", ele vociferou. Touya franziu o cenho, antes de responder.

"Quero provas de que minha irmã não veio aqui!".

O soldado chinês olhou para a casa. O que inventar? Lembrou-se de um lenço que carregava no bolso, um lenço muito parecido com o que a japonesa estava naquele dia, mas, todo rasgado, por que pertencera ao seu pai em uma batalha, e ele sempre o carregava para dar sorte. Jogando o objeto na mão do homem, respondeu.

"Achamos este lenço feminino perto de um lago, repleto de crocodilos. Talvez, tua irmã tenha morrido lá".

Rapidamente, Touya agarrou o soldado pelo colarinho, Ele não mintia. Este lenço coberto de sangue e de furos era de Sakura. Mas, mesmo assim, nada o impedia de descontar sua raiva em alguém. Pegando sua faca, cravou no pescoço do homem, que desfaleceu rapidamente. Depois, seguiu seu caminho. Não sabia se Sakura estava morta. Só tinha a plena certeza de que as atitudes impensadas do pai colocaram Sakura nesta enrascada.

Continua...

Oi, gente!

Desculpe pela demora! É que um vírus nada bobo entrou no meu computador. Não sei se no de vocês houve a mesma coisa, é que só afeta quem tem o Windows XP e o MNs menssager. Espero que não tenha acontecido isso... Vamos aos esclarecimentos gerais:

Hitten Mitsurumi é uma técnica, para quem gosta de Samurai X, que é usada pelo (lindo, maravilhoso e fabulosamente meu!!!) Kenshin Himura. Não sei se ela existe, mas de fato, é uma técnica muito boa, e eu resolvi empregá-la no meu fic. Se souberem mais algumas técnicas com esses nomes esquisitos, é só me falar.

Quanto à propaganda, eu pretendo postar no próximo capítulo. Tudo está saindo as pressas e eu não tenho tido tempo. Mas, na próxima vez, já apresentarei minhas cinco primeiras sugestões de leitura.

Este é para a Hime e para a Mary:

Quero pedir muitas desculpas para vocês... Em primeiro para Hime, que muito amiga, foi me dar uns toques! Valeu mesmo, e prometo me esforçar para melhorar em tudo que for possível. E para a Mary, não tem nada a ver com este negócio de primos não... é que, eu to tão acostumada a fazer as duas parentes, que as vezes me esqueço que elas são cunhadas... Me perdoe e muito obrigada por me dar este toque!

Este capítulo ficou realmente grande, mas não liguem , pois os outros não serão deste jeito!!! Deixem seus comentário ( Elogios, xingos ou só um Oi). Adoro recebe-los!!!

Muitos Beijos, de Jenny-Ci (Respondam, acham que eu tenho que mudar o nome do meu Nick? Se a maioria das respostas for sim, mudarei. Se for não, explicarei por que me chamo assim!"