Capítulo 8

Touya entrou na mansão, procurando o pai. Não sabia do que tinha mais raiva. Da mentira que seu pai contara durante 10 anos ou da idéia de que sua irmã estivesse morta, ou ferida. Entrou no salão de reuniões. A família toda estava presente. Suspirou levemente. Deste jeito não poderia dar a notícia que o seu pai queria ouvir...

"Então, meu marido, achastes minha cunhada?", Tomoyo perguntou. Todos os olhares se voltaram para o jovem, esperando a resposta.

"Ela está desaparecida...".

Cada um teve sua própria reação a notícia. Fujitaka o olhou incrédulo. Tomoyo comprimiu as delicadas mãos, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas. Kaho, mesmo sempre sendo indiferente a presença de Sakura, mostrou tristeza diante a situação. Yukito abaixou os olhos, batendo discretamente o braço da poltrona em que se sentava. Eriol fechou os olhos e juntou as mãos, como se rezasse para que a amiga estivesse viva. Takawi pousou a mão sobre o ombro de Fujitaka, tentando oferecer algum conforto.

"Como pode estar desaparecida? Sakura é uma dama tão delicada, tão educada, nunca fez mal a nenhum chinês. O que pode ter despertado a fúria destes homens?", Eriol perguntou. Touya e o pai se entreolharam. Então, o general não havia comunicado a verdade à família.

"Certamente, o fato de ela ser a filha do general que irá liderar a guerra", Yukito respondeu. "Ele encararam isto como a oportunidade para enfraquecer o poderia o japonês. Mas...", com um suspiro resignado, ele se levantou e começou a caminhar em direção a porta, enquanto falava. "Vou me retirar. E sugiro o mesmo a vocês, pois posso ver as expressões cansadas de vocês".

Assim que Yukito o disse, as pessoas que se encontravam reunidas foram indo embora. No final, sobraram apenas Tomoyo, Touya e Fujitaka.

"Tomoyo, minha querida, nos de licença. Tenho que conversa com meu pai", Touya pediu, porém, Tomoyo meneou com a cabeça.

"Eu sei sobre a vida noturna de minha cunhada, Touya. Sei desde que ela começou a trabalhar para teu pai. Não te zangues, fizemos isto para não causar mais sofrimento a família", a japonesa respondeu. Touya olhou para ela surpreso, porém, a sinceridade daqueles olhos ametistas o impediram de ter raiva de sua esposa.

"Bem, Touya, me conte a verdade. O que realmente aconteceu?", Fujitaka indagou. Todos temeram a resposta do filho do general. E se Sakura estivesse morta?

"Fui até lá. Levei uns canhões e detonei completamente o lugar... Mas ela não foi até lá. Tenho um lenço dela, que foi achado perto do rio. E igual ao dela, e está cheio de mordidas de crocodilos, ensangüentado", ele respondeu. Pareceu-se ouvir um murmúrio de dor na sala.

"Touya...", Tomoyo se aproximou dele, abraçando o marido com carinho. "Espero que nada tenha acontecido a tua irmã".

"Sim, meu amor", Touya repetiu, dando um casto beijo na testa da esposa. "Espero que ela não se prejudique por ações inconseqüentes", neste momento, ele fitou o pai. O general, notando olhar frio do filho, rapidamente disse.

"Mande as nossas tropas que se encontram na China atacarem o território inimigo. Diga que matem todos sem piedade. Estou a partir até lá para dar apoio". Sem esperar a resposta do filho, Fujitaka se retirou. Tomoyo censurou o marido com o olhar.

"Touya, a culpa não foi de teu pai. Não o julgues pelo pouco que sabes", Tomoyo pediu, fitando o marido. Ele sorriu, acariciando a bochecha da esposa.

"Minha querida, não sabes o que é viver na sombra de um irmão. Meu pai tem uma peculiar adoração por Sakura. Me sinto enciumado a perceber que ele não confia em mim tanto quanto confia nela. Em todos estes anos, ocultou de mim algo que pode nos prejudicar. E muito. Me sinto traído por minha própria família", ele explicou. Tomoyo também sorriu.

"Não te sintas assim. Nós te amamos. És tão importante quanto Sakura".

"O que me importa...", ele disse, aproximando-se do rosto de boneca de Tomoyo. "É que você me ama", e ao dizer isto, ele a beijou.

**

Syaoran olhou a moça que enfaixava de seu ferimento. Sakura, mesmo sendo sua inimiga, mostrava-se dedicada e muito competente na tarefa que consistia em cuidar dele. Sorriu para ela. Sakura parou seus serviços, para fitá-lo, confusa.

"Por que me olhas com está cara abobalhada, capitão? Estás com algum problema nos dentes?", ela inquiriu. Syaoran abriu ainda mais o sorriso.

"Não precisas me tratar com tanta rudeza, Sakura. Além do que, pares com esta besteira de me chamar de capitão. Sou o superior de meus homens, e não de você", ele respondeu. Ela desviou o olhar, um pouco corada, continuando a tratar do ferimento.

"Isto é uma clara maneira de mostrar que não gosto de você", ela respondeu, calmamente. Mesmo tentando evitar, já sentia uma certa empatia por aquele homem. Negava apenas por saber que ele não nutria a mesma afeição por ela.

"Não gostas de mim? Seus beijos não me dizem isto", ele falou, sorrindo maliciosamente. Ela o fuzilou com o olhar, com a expressão nada contente.

"Syaoran, pensas o quê? Nunca neguei que és um homem atraente, e eu sou mulher. Não resistiria a um homem que nem você, mesmo tendo conhecido alguns mais bonitos que ti", ela disse. Ele estreitou o olhar, visivelmente desapontado, com um sorriso maroto.

"Duvido que exista um homem mais bonito que eu. Se existe, ainda não nasceu", ele contrariou. Sentiu a bandagem ser apertada com mais força. "Cuidado com o que faz!".

"És muito prepotente a afirmar que é o homem mais bonito da Terra. E não me obrigues a apertar a faixa mais, seu egocêntrico! Não quero ter que lidar com sua forma convencida de ser!", ela argumentou. Ele juntou as mãos, como se rezasse.

"É melhor eu já começar a fazer minhas preces para não morrer".

"O que estás dizendo, homem?", Sakura perguntou, exaltada. "Tenho cuidado de você dia e noite. Como podes dizer que estás para morrer?".

"Não deste machucado. E sim desta tua língua venenosa", ele respondeu. Sakura não pode evitar. Riu do comentário. Como aquele homem podia ser tão insuportável e tão charmoso?

"Você diz cada besteira, Syaoran" ela falou, ainda segurando o riso.

"Consegui arrancar seu riso! Devo agradecer aos meus ancestrais. Eles estão fazendo um bom trabalho ultimamente", ele comentou. Sakura sorriu novamente.

"Não pense que com meus risos conquistou minha amizade. Estás surdo e não escutou eu dizer que não gosto de você?", ela indagou. Não esperou resposta. "Pronto, acabei".

"Posso me levantar?", ele perguntou. Ela assentiu com a cabeça.

Com cuidado, Li levantou-se, recostando-se na parede. Sakura se sentou ao seu lado, entregando um copo com água. Ele bebeu e começou a olhá-la, como se tentasse descobrir seus segredos através dos olhos. Ela se sentiu incomodada com aquilo. Mesmo acostumada com aquela expressão, Sakura ainda tinha um certo receio com relação a ele. Era tão misterioso. Era impossível saber sobre o que ele pensava. Talvez fosse por isso que ela tivesse medo de ficar por muito tempo sozinha com ele...

"Porque não me contas a verdade?", ele perguntou, cortando o silêncio. Ela o fitou, para depois desviar o olhar, corada.

"Não a nada para lhe contar", ela afirmou.

"Diga-me...", ele pediu, segurando o queixo dela, obrigando-a a encará-lo. "Por que ficou quando teu irmão estava aqui para buscá-la? Poderias ter partido. Nada a impedia de fugir, já que eu quase morria".

"Você morreria. Ninguém conhece aquele veneno japonês. Era meu dever, Syaoran. Antes de ser sua inimiga, sou humana", ela respondeu. Sentia que estava mentindo. Que o verdadeiro motivo de sua ficada ainda estava oculto na profundidade que era seu coração.

"Isto não deveria incomodá-la. Na verdade, deverias é estar feliz em poder fugir, sendo que a pessoa que mais odeia está morta", ele continuou. Sentiu que deveria parar de tocá-la. Não queria cometer uma besteira. Retirando a mão do queixo dela, continuou a fitá-la.

"Eu não o odeio", ela respondeu, sinceramente, desta vez o olhando fixamente.

"Deverias".

"Sim, eu devia. Porém, não posso. Simplesmente, não consegues despertar este sentimento", ela retrucou. Ele sorriu.

"Achas que um dia, nos tornaremos amigos?", ele perguntou. Ela fitou o nada por alguns segundo, antes de sorrir.

"Espero que sim, Syaoran... Vejo que ficarei aqui por um longo tempo".

"Se depender de mim, não partirás nunca", ele sorriu, ao ver as bochechas dela corarem.

'Mas, por que? Ela é uma nipônica. Na verdade, eu deveria odiá-la´, o guerreiro chinês se questionou. A verdade é que a presença de Sakura havia mudado por demais a vida de todos daquela casa. Até os soldados aprenderam a respeitá-la, e alguns, começaram até a ter uma certa afinidade para com aquela japonesa de olhos verdes. Uma vez, vasculhando o local, viu Sakura e Meiling conversando com vários soldados. Todos praticamente se cativavam com a delicadeza e a beleza da garota. Syaoran até se sentia enciumado e entristecido. Por que ela desperdiçava tanta atenção com os soldados, quando ele recebia pouco mais do que cumprimentos?

Enquanto isso, Meiling escutava cada palavra atrás da porta. Estava torcendo para que Syaoran percebesse que gostava da japonesa. Mas, do jeito que ele era orgulhoso e induzido a seguir todas as regras do reino chinês, teria que esperar que Sakura tomasse a iniciativa. Ao seu lado, Nui, mesmo disfarçadamente, escutava também toda a conversa. Mas, seu olhar estava totalmente direcionado para Meiling.

Há alguns dias atrás, ele se sentiu completamente diferente com relação a ela. A amizade era a mesma, senão melhor. Porém, quando a olhava, um estranho sentimento tomava conta de seu coração. Algo que simplesmente o aquecia, o engolfava em sensações deliciosas. Bastava fitar aqueles grandes olhos cor de rubi, para que o mundo não fizesse mais sentido algum. Mas, se seus pensamentos insistiam na chinesa, as regras e suas próprias convicções gritavam para que sua mente parasse de pensar besteiras. Irmã de seu capitão, Meiling nunca olharia para um Zé Ninguém como ele...

A chinesa, por sua vez, notou a luta interior que o amigo se encontrava, pelos belos olhos dele. Não pode deixar de notar como ele era um rapaz belo. Os cabelos eram negros, presos em uma longa trança. As feições eram fortes e marcantes, formando um rosto másculo e perfeito. O corpo definido por músculos bem feitos, não tanto quanto do próprio irmão, mas, ele também era um guerreiro exímio. Porém, o que mais atraía eram os olhos. Eram acinzentados, profundos e brilhantes. Queria tanto dizer a ele o que sentia. Mas assim que as palavras pousavam em seus lábios, o medo tomava conta de sua voz. E ela interrompia sua fala, mudando de assunto. Se sobrasse tempo, contaria a sua amiga. Sakura parecia ser experiente em assuntos do coração, visto que conseguia tanto tempo agüentar o charme de Syaoran. Certamente teria as respostas para sua dúvida.

"Meiling?", Nui a chamou. A chinesa se virou para ele e sorriu.

"Sim, Nui?".

"Acho melhor irmos. Teu irmão pode abrir a porta, e nosso esforço para sair do castigo não valerá de nada", ele explicou. Meiling o olhou, para depois sorrir.

"Não te preocupes, soldado. Somos suficientemente espertos para inventar outra desculpa".

"Oh, sim...", ele afirmou, com desdém. Neste momento, Sakura saiu do quarto de Syaoran, parecendo mais orgulhosa do que nunca.

"Meiling", ela perguntou. "Poderia me chamar um dos soldados. Pode ser Kio. Adoraria que ele lesse um livro comigo!".

"Sakura...", Meiling lhe sorriu. "Nenhum dos soldados sabe ler".

Sakura ficou, instantaneamente, indignada. Em seu país, os soldados eram obrigados a ler e a escrever e ainda ter pelo menos algum conhecimento sobre ciências e matemática. E estes pobres homens não tinham isto. Não eram letrados, viviam como meras marionetes da guerra e do que ela fazia.

"Syaoran, como superior, deveria ensinar aos seus homens a escrita chinesa", ela afirmou, olhando para os amigos à frente.

"Foi Syaoran que proibiu que os soldados fossem ensinados. Eu apenas o sei porque o Sr. Shang me tem em muita consideração". Nui deixou escapar. Sakura arregalou os olhos.

Não sabia o que aquele metido do Syaoran pretendia deixando seus homens sem a devida educação! Mas enquanto estivesse ali, a situação não ficaria desta maneira. Mesmo sem ou com a permissão do capitão para ensinar aos soldados, o faria. E quanto à amizade que um dia sonhara em ter com aquele homem, acabara de acabar!

"Ah, nojento! Se ele não tem a capacidade de lecionar para seus homens, eu tenho sim!".



**

Tomoyo olhou-se no espelho. A face corada e os olhos inchados mostravam que as palavras amorosas do marido não foram o suficiente para acalmá-la. Por mais que tentasse acreditar que Sakura estava bem, era muito difícil. Não que não acreditasse na habilidade da cunhada, mas ela era uma mulher. Por maior que fosse sua força, ela era frágil. Afundou-se nos próprios braços. Queria ter o treinamento de Sakura para ajudá-la naqueles momentos tão complicados. Mas era só uma dama japonesa, treinada em altos padrões, para servir o marido e a família.

Escutou batidas na porta. Se fosse Touya, não estaria disposta a escutar mais nada. O marido tinha boas intenções, mas ela precisava ficar sozinha.

"Quem é?", ela murmurou.

"Sou eu, Eriol", uma voz masculina exclamou.

Levantando-se da cadeira, ela ajeitou o quimono, limpou as faces e penteou rapidamente os cabelos. O convidado de seu tio deveria ser bem tratado, mesmo que ela tivesse em condições deploráveis. Abriu a porta e se deparou com o carinhoso, porém preocupado, sorriso de Eriol.

"Estás bem, Sra. Tomoyo?".

"Não te incomodes, meu senhor", ela disse, dando um meio sorriso. "Minha indisposição é apenas o resultado do desaparecimento de minha cunhada. Nada mais".

"Eu a entendo", Eriol disse. "Sakura é uma das melhores pessoas que julgo ter conhecido. Não quero que nada de mal a aconteça", depois de uma pausa, ele abriu um belo sorriso. "Não queres passear comigo no jardim, Sra. Tomoyo? Um pouco de ar livre nos cairia bem".

"Com uma condição", ela afirmou, enquanto saía do aposento. "Que paremos de formalidades e nos chamemos pelo primeiro nome. Nos conhecemos há bastante tempo".

"Está bem, Tomoyo. Se é assim que desejas, assim será", ele disse, dando braço para a japonesa, que rapidamente o enlaçou.

O casal seguiu até o jardim. Voltaram seus olhares para o céu. Este estava nublado, claros sinais de que iria chover. Eriol olhou para a moça ao lado. Não notou nenhum tipo de desapontamento pelo clima estável. Então, continuaram a andar.

"Tomoyo, me perdoe a indiscrição, porém, estou a pensar: Como seqüestraram Sakura, se pensavam que ela estava morta?", Eriol perguntou. Tomoyo se sentiu levemente desconfortável. Todos da casa se conformaram com a notícia. Porém, Eriol era inteligente e queria respostas.

"Realmente eu não...", ela interrompeu. Não saberia mentir para aquele olhar tão sincero.

"Continue", ele pediu. Juntou suas mãos com as dela, para depois continuar. "Prometo guardar segredo, qualquer sejam suas palavras".

"Eriol, não sei se devo, porém, confio em tua palavra, que ao meu ver me parece sincera o bastante", Tomoyo falou. Apontando para um banco, eles seguiram até lá. Confortavelmente instalados, ela continuou com a narração. "Começarei a contar a história há 10 anos atrás. Meu sogro, sempre foi motivo de muitas especulações e subornos. Sakura, como você mesmo o sabe, é uma mulher determinada e acima de tudo, preocupada com o pai. E sempre foi, mesmo quando pequena. E esta determinação fez com que ela, mesmo sabendo de suas opções limitadas, pedisse ao general para que ela pudesse ajudá-lo", Eriol pareceu surpreso, porém, Tomoyo sabia que está seria a reação dele, ou de qualquer pessoa para quem contasse este segredo revelador. "Meu sogro hesitou, mas a insistência de minha cunhada praticamente o atirou a esta decisão. Então, durante anos, ela foi treinada por mestres espadachins, em artes marciais, além de ter o treinamento de uma ninja. Quando completou 15 anos, é que seu trabalho começou verdadeiramente, mas desde os 10 ela já praticava suas habilidades com pequenas sabotagens em favor ao governo de meu tio".

"Tomoyo, se tudo que me contas é verdade...", Eriol fez uma pausa. Precisava digerir as informações. "Tua cunhada, a linda e um tanto teimosa dama a quem muito aprecio, é uma... guerreira noturna... uma ninja?"

"Sakura despertou o interesse dos chineses, pois ser o alvo que poderia abalar o governo japonês. Mas, o que eles não sabiam, era que minha cunhada fosse uma lutadora dedicada e uma forte mulher. Então, depois do ataque sofrido, Sakura foi cumprir mais uma de suas missões. Foi até a sede dos militares chineses, buscar informações que poderiam nos ser úteis. Só que, como meu marido afirma, ela deve estar perdida no pântano próximo ao Dojo. O que mais tememos é que ela tenha sido... machucada pelos crocodilos que lá habitam", Tomoyo concluiu.

Eriol sabia que Sakura era uma garota um tanto diferente das outras damas japonesas. Sempre disposta a quebrar regras, a passar por cima de qualquer obstáculo para conseguir o que queria. Mas... Ser uma ninja era algo que Eriol nunca suspeitaria. Vendo a expressão de Tomoyo, resolveu sorrir. Não era justo preocupar e dar mais sofrimento a aquela jovem, que já passava por dores suficientes.

"Fico contente ao ver que confias em mim, Tomoyo. Farei o possível para ser digno desta tua afinidade. Agora...", ele levantou, pegando a delicada mão de Tomoyo. "Que tal continuarmos nosso passeio?".

"Eu adoraria", Tomoyo disse, levantando-se com o inglês. Quando achava que nada mais vindo dele poderia surpreendê-la, se via enganada. Eriol Hiiragisawa, nunca mudara, desde o dia em que se conheceram.

Chegaram até um pequeno riacho. A vista era admirável, pensava Eriol, enquanto via a pequena ponte sobre a água corrente. Sentiu a mão de Tomoyo o chamá-lo.

"Eriol, o que me dizes de teu romance? Adoraria ser a primeira a escutar, se isto não o incomodar, logicamente", Tomoyo comentou. O jovem inglês perdeu-se naqueles olhos violetas. A pergunta pairou no ar, até que o encanto em que Eriol se via preso acabara.

"Para ser sincero, não tenho planos. Li muitos romances. Mas, particularmente, me sentia atraído por um", ele respondeu. Tomoyo o fitou curiosa.

"E qual seria este livro que prendeu a tua atenção?".

"Lendas Do Mar", ele disse.

"Por que? A historia é tão dramática... Me emocionei a primeira vez que a li", Tomoyo confessou.

"A personagem principal da história. Como pode ser tão ingênua, se a vida trouxe-lhe tantas dificuldades? Porém, ela se parece contigo, Tomoyo", Eriol argumentou. A japonesa o olhou confusa, com um olhar perguntando o porque. "Porque, apesar de todas as dificuldades, ela era uma dama, acima de tudo. Quando seus problemas começaram, ela mostrou-se forte, com classe e dignidade. E é assim que a vejo, Tomoyo. Uma linda dama que, tendo tanto o que chorar, está aqui comigo, desfrutando de um passeio que não seria tão bom sem sua amável companhia".

"Estás enganado, Eriol", Tomoyo disse, desviando o olhar, ruborizada. "Do que vale minha classe e minha educação refinada quando ela não salva vidas. Sou uma frágil flor de estufa, sentenciada a viver uma sina sem emoções e sem nada do que me orgulhar".

Eriol sorriu. Além de todas aquelas qualidades, a jovem era modesta. Tocou a mão dela, vendo-a virar para encará-lo. "Não podes culpar-te pelo que aconteceu a Sakura. És alguém preciosa, Tomoyo. Deverias te orgulhar pelo o que é. Todos temos um destino. Não era de meu agrado ter ficado longe de ti por tanto tempo. Mas, nada me deixa mais contente de estar contigo novamente".

A morena o encarou, com os lábios subitamente secos. A face começou a ruborizar-se. Aquele sentimento, de novo não! Sentira aquilo quando ele a beijou, há muitos anos atrás. Viu a aproximação lenta dele. Não era tola. Previa o que ia acontecer... O mais difícil, agora, seria evitar.

"Lembro-me daquela tarde como se houvesse acontecido ontem. Lembro-me de teus lábios, de teus olhos, de teu cheiro. Nunca me esqueci...", ele sussurrou, próximo ao ouvido da moça. Ela o fitou, murmurando com os lábios, tão próximos que podiam tocar a boca dele.

"Eu também, Eriol. Eu também...".

"TOMOYO!!!"

Separando-se bruscamente, o casal fitou a vinda irada de Touya Kinomoto. O japonês veio sem cerimônias. Agarrando os braços de Tomoyo sem o mínimo de delicadeza, partiu com ela para dentro da mansão. Eriol olhou tudo, surpreso. Achava-se um tolo. Perderia a mulher da sua vida para o filho de seu tutor? Não! Nunca!

Continua...

Oi, pessoal, td blz?

Desculpe pela demora... Problemas escolares são demorados de se resolver... Prometo não decepcioná-los da próxima vez!

Quero mandar um beijo para algumas pessoas: Kath Klein, Miaka Hiiragisawa, Hime, Lally-Chan, em especial... E a todos as outras que apertam a maravilhosa tecla "go" e me mandam um comentário...

Agradeço de todo o coração... Muito obrigada"

Bjs, de Jenny-Ci