Capítulo 11

Syaoran olhava para as pessoas em seu quarto. Nui, apesar de estar um pouco receoso, mostrava-se confiante, com os olhos brilhando, Syaoran não sabia se era de ira ou de satisfação. Já a pequena irmã, a quem considerava tão inocente, tinha os lábios inchados e avermelhados, as roupas um pouco amassadas e o rosto corado. Se não tivesse possuído por aquela ira enorme, iria chamar Sakura, para que ela cuidasse de Meiling. Mas, se a japonesa se metesse... Era possível que a dor de cabeça insuportável que sentia só aumentasse de tamanho...

"Bem, já que estamos aqui, alguém poderia me explicar a pouca vergonha a qual eu acabei de presenciar?!", ele perguntou. O casal o olhou de soslaio, mas ficou em silêncio. Bem, deveria ser mais enérgico. "Os dois são surdos ou o quê? Eu fiz uma pergunta! E como superior dos dois aqui presentes, exijo uma resposta!".

"Senhor Li, eu amo sua irmã", Nui foi sincero, Syaoran pode perceber. Mas, a honra de sua única parente mulher viva estava em jogo. Até Meiling virou-se, olhando para Nui com espanto e reprimindo um sorriso que só atiçou a raiva de Syaoran.

"Ah, isto é um grande consolo para mim. Pelo menos, não a levaria para sua cama sem o seu 'amor', não é soldado Bi? E este sentimento ajudaria muito quando esta garota engravidasse e você só pudesse alimentá-la com seu amor. A ela e a seu filho", ele relevou com sarcasmo. "O amor não alimenta e não paga dívidas. Como soldado, deveria saber disto".

"Por favor, Syaoran, Nui nunca faltaria com respeito a minha pessoa. Ele é um homem decente", Meiling sussurrou. O chinês voltou-se para ela, irado.

"Não pedi sua opinião, Meiling! Estou como nojo de você! Confiava em sua decência, em sua moralidade!", Syaoran disparou. Meiling retrocedeu e mergulhou novamente o rosto em lágrimas.

"Senhor, juro que nunca faltei em respeito com Meiling e jamais pensaria em fazer isso", Nui anunciou, firmemente.

"Sim, a não ser o momento em que o vi aos amassos com minha caçula no jardim. Como pôde ter a coragem, Nui? Lhe confiei a segurança de Meiling, mas se soubesse que ela estaria em perigo ao teu lado, jamais o teria feito".

"Se tem alguém culpado nesta história, meu senhor, este alguém sou eu. Não castigue Meiling. Peço humildemente para sofrer a pena e pagar por meu pecado perante a lei que achar ser a mais correta, capitão. Estarei pronto para qualquer penitência que estiver disposto a me impor".

"Oh, não, Nui...", Meiling suplicou. "Não podes morrer".

"Eu realmente deveria matá-lo, soldado. Pela ofensa a mim e a minha família, que lhe acolheu desde de que teu pai morreu naquela maldita guerra. Pena não ter herdado a mesma honra que ele tinha. Ele jamais estaria em situação parecida...", suspirando longamente, ele apontou para alguns papéis em sua mesa. "Assine estes papéis e eu o deportarei rapidamente a China. Sua presença aqui não será mais bem-vinda. Providenciarei para que quando chegar ao teu destino, sejas despedido de seu cargo. Está oficialmente fora do exército!"

Nui aceitou a pena com grande dor no coração. Apesar de não amar o trabalho, ele era o único sustento dele e deu sua família. De soslaio, olhou para Meiling. Amava aquela garota frágil e tão pequenina. E por causa de seu capitão, nunca mais poderia provar a doce essência daqueles lábios...

"Já podes se retirar, soldado. Teu olhar faz mal a minha pequena", Syaoran vociferou. Nui lançou um olhar apaixonado para Meiling, tentando lhe passar o que sintia, e fazendo reverência, saiu como lhe foi mandado.

Meiling olhou o amado partir. Depois, viu que Syaoran passava as mãos pelos cabelos, desenfreado. Vendo que não adiantaria ficar lá, esperando pelo perdão do irmão, que provavelmente nunca viria, ela fez menção de sair, levantando-se.

"Não terminei com você, Meiling", a voz grossa e impessoal de Syaoran paralisou seu corpo. Virou-se e viu olhar dele para ela, sem muito interesse, mas com muita mágoa. Queria se desculpar, mas a verdade é que não se arrependia de nada que fizera aquela tarde... Nada mesmo...

"Sei que levarei chicotadas, provavelmente pelas tuas mãos, quando voltar a China, Syaoran. Porém, amo Nui e isto não me impedirá de correr atrás do que quero, mesmo sofrendo com os seus maus tratos", ela prontificou. O olhar nervoso de Syaoran mostrava que ele não gostara da resposta que ouvira.

"Não correrás atrás dele por que eu a amarrarei a sua cama e não permitirei que saías dela a não ser para comer, banhar-se e manter sua higiene. E isto de amor, me faça o favor de meu poupar destas baboseiras, sua tola! Amor é para fracos... E é por isso que Nui Bi não serve para o exército", Syaoran respondeu. Meiling, reconsiderando a vontade de sair do quarto de seu insuportável irmão, sentou novamente na cama dele, suspirando pesadamente, antes de voltar a falar.

"Se achas que amor é para os fracos e tolos, por que ama tão fervorosamente Sakura Kinomoto?".

"Quem disse que eu amo Sakura Kinomoto?!?", ele perguntou, exasperado. Meiling abriu um meio sorriso, satisfeita com a reação do irmão. Quando o assunto era os sentimentos verdadeiros de Syaoran, ele sempre explodia sua raiva, tentando esconder o que sentia. Mas a chinesa o conhecia e sabia que ele não conseguia enganá-la.

"Sabes que é verdade, meu irmão. Está em seus olhos. Amas nossa prisioneira e adoraria que ela retribuísse a estes sentimentos", a chinesa respondeu calmamente.

Oh, como adoraria que ela o amasse! Mas Syaoran sabia que mesmo se isto fosse verdade, sua posição militar não deixaria que ele tivesse um envolvimento tão físico quanto emocional com ela. Há quanto tempo não a beijava... Só as duas vezes que aquilo aconteceu, sentiu como se aquela boca delicada fosse feita para ser beijada somente por ele. Ela pertencia a ele. Mesmo que a japonesa não tivesse consciência disso. Mas nada disso poderia ser dito a sua irmã. Estava com raiva da indecência dela e mesmo que não estivesse, jamais revelaria seus pensamentos a uma mulher. Isto poderia ser demasiadamente perigoso.

"Sakura Kinomoto, filha de nossos verdadeiros inimigos, não significa nada para mim. Se eu a beijei, é por que ela é atraente e bonita. Sou um homem e tenho meus desejos, isso é inegável. Fora isso, Sakura poderia morrer que eu pisaria em seu túmulo, só para ter certeza de que se estivesse viva, ela não levantaria de sua cova".

"Ah, é isto que pensa a meu respeito, capitão Li? Reconheço que merecia um pouco mais de desprezo vindo de sua parte", uma voz doce e melancólica atingiu seus ouvidos em cheio. Virou-se e deparou com Sakura, com o rosto a mostra, deixando as lágrimas abundantes aparecerem. Bateu na testa com a mão. Ela havia escutado tudo que dissera, embora, as palavras fossem mentiras. As piores mentiras que ele fora obrigado a inventar.

**

Ouvira tudo, detrás da porta. Desde de o desentendimento de Li e Nui, até a parte que ele confirmava o desprezo que sentia por ela. E fora neste momento que toda sua vontade de ser ignorada evaporara. Entrara naquele quarto e quase sorriu ao ver a expressão de espanto do capitão. Mas não conseguia controlar as lágrimas tristes. Porém, seu coração precisava provar para si mesma que era forte. Que se enfrentasse aquela situação com o peito erguido, iria embora deixando um desolado Syaoran.

Mas, agora, diante do perigo, sentia-se encurralada. Syaoran a fitava, com uma expressão surpresa. Meiling a olhava também, como se pedisse que ela se controlasse. Mas estava magoada. Estava com raiva. Estava abatida. E acima de tudo, estava machucada. Aquela ferida jamais cicatrizaria.

"Repita o que disse capitão, para que eu tenha o prazer de dizer como sua presença também me incomoda", ela pediu. O homem a sua frente não respondeu. Apenas olhou para Meiling, firmemente.

"Vá para seu quarto, irmã! E não saías de lá para nada. Está de castigo".

Meiling passou por Sakura, suplicando com o olhar algo, talvez paciência. Mas a japonesa não entendeu. Sua dor era enorme. Não havia espaço para compreender os sentimentos de mais ninguém.

"Sakura, me entenda...", ele começou, mas ela não permitiu que ele continuasse.

"Não, capitão! Não o entendo! Por que me mantém viva, se me odeias ao extremo de dançar sobre meu leito de morte? Por que não me mata, ao invés de deixar um estorvo como eu se servir da mesma comida que você, deitar-se sobre o mesmo teto que o seu? Eu definitivamente não o entendo!".

"Eu não a odeio, Sakura", Syaoran disse suavemente, se surpreendendo com o próprio tom de voz. A japonesa o fitou, mas a dor carregada naquela olhar frio foi o suficiente para ver que ela não acreditara em suas palavras.

"Me odeia, sim! Tuas palavras melosas não poderão vencer minha crença. O ódio é muito parecido com o amor, neste sentido. É intenso, desenfreado e jamais acaba. Teu ódio significa o quê, capitão? Que me quer ver morta, ou que me quer ver humilhada em praças públicas do seu país? Diga, não importará o motivo. Seus sentimentos não me feriram jamais".

Mentirosa! A mente de Sakura gritou. Todas aquelas palavras a deixaram vulnerável. Jogaria-se nos braços de Syaoran se não estivesse com tanta raiva daquele homem.

"Não a quero ver morta, muito menos humilhada diante de minha nação. Quero que me escute, apenas. Tenho direito a me defender de tuas acusações", ele falou, calmamente. Ela assentiu, e ele continuou. "Eu apenas disse isto a Meiling para que ela parasse de inventar histórias sobre um possível caso amoroso entre nós. Desmentindo isto, a protejo e também protejo minha reputação. Sou o comandante destas tropas. Ninguém ficaria satisfeito ao saber que eu me engracei com minha inimiga. E toda a admiração que sentem por você seria rapidamente dissolvida por uma enorme onda de ódio".

"E você estaria envolvido nestas pessoas que me odeiam, eu suponho", Sakura disse, com ironia.

"Pelos deuses, mulher! Não entendeu nada do que eu falei!", ele exclamou. Ela sorriu falsamente, mostrando novamente o sarcasmo contido naqueles lábios.

"Não acredito em nenhuma palavra do que diz, capitão. Vi como tratou Meiling e Nui. Ela não parecia sua irmã. Parecia uma criada qualquer. Deveria ser mais complacente em relação a ela. Não vês que ela ama Nui? E que ele a ama muito também?", ela mudou radicalmente de assunto. Syaoran notou isso. Apesar da indiferença na voz dela, sentia que ela estava cada vez mais vulnerável em relação a ele. Isto era ótimo!

"Mudou de assunto, minha japonesa? Por que de repente se interessou em algo que não lhe diz respeito?", ele replicou. Sakura o encarou, espantada.

'Minha japonesa'? Ela escutara bem ou havia um tom de carinho e sedução na voz de Syaoran Li. Oh, mas desta vez, o charme irresistível daquele homem não faria ela se rendar tão facilmente. Iria brigar. E com sua confiança e determinação, sairia daquele quarto com mais um trunfo na mão.

"Por que Meiling e Nui são muito importantes para mim", ela declarou. Syaoran se aproximou dela, com um sorriso maroto no rosto.

"Em que grau Nui é importante para você?", ele perguntou.

Não havia ciúmes na voz dele. Havia mais divertimento. O que só serviu para deixar Sakura mais irritada. Enquanto ela se desgastava com as palavras rudes do chinês, ele se divertia ao ver como ela jogava o jogo que ele planejara. Fechou os punhos, tentando controlar a raiva.

"No grau que convier a mim, capitão. Nui me foi generoso, amigo e leal. Não tenho queixas quanto ao comportamento dele, por isto, defendo a crença que ele sofre uma penitência desnecessária. Pagaria para que você trocasse de lugar com ele", ela afirmou, levantando os grandes olhos, para fitá-lo intensamente.

Syaoran achegou-se ainda mais. Suficientemente próximo, ele perguntou. "Então, lhe garanto que não viveras para me ver morto, minha querida. E agora, voltando ao assunto e deixando de lado os problemas familiares de Meiling, me responda uma questão que me intriga: O que realmente vês em mim, Kinomoto?".

"Um homem que não sabe o que quer", ela disparou. Syaoran a fitou, confuso. Podia esperar qualquer adjetivo, mas sabia muito bem que não era um homem sem desejos ou objetivos. Realmente sabia o que queria.

"Sua maior luta é entre suas verdadeiras vontades e suas obrigações. Nega a felicidade para agradar o imperador, ou ao teu pai. Porém, agora me permita devolver a pergunta: O que você quer, Syaoran Li?".

A voz era para sair autoritária, mas o tom foi mais impessoal e sensual. Sakura soubera que cometera um erro quando os olhos dele brilharam. Lentamente, ele passou o braço pela sua cintura, a apertando contra o peito largo. Os olhos fixos em sua boca moviam como a contornar o desenho de seus lábios. Ele inclinou a cabeça, até ter certeza de que ela não poderia escapar...

"Quero você...", e no mesmo instante, sem tempo para respostas desnecessárias, ele a beijou.

O choque foi instantâneo. Sakura não teve tempo de se libertar dos braços fortes. Não teve tempo para pensar em absolutamente nada. A única coisa que lhe ocupava a mente era o desejo sedento nos lábios de Syaoran. E não hesitou ao retribuir com ímpeto a carícia, afundando as mãos nos cabelos grossos e sedosos da nuca dele, apesar de saber muito bem aonde aquilo levaria...

Depois de alguns segundos, a bocas inchadas puderam descansar, acariciando-se mais suavemente. Mas os dois corpos não se separaram. As mãos começaram a explorar, a apalpar, luxuriosas, não respeitado mais limite algum. Ele ergueu até que o corpo se moldasse perfeitamente ao seu, levantando-a um pouco do chão, antes de procurar a boca dela novamente, com exigência e fome que nunca tivera por outra mulher. Syaoran, sentindo não poder mais aguardar o momento que tanto esperava, foi levando-a, sem parar os beijos e as carícias, em direção a sua cama. Ela não mostrou hesitação alguma, e isto a deixou ainda mais desejável aos olhos dele.

Depois de deitados e abraçados, Sakura teve um leve acesso de receio. Lembrou-se do sonho que tivera há tempos, no qual o pai falava sobre um caso entre ela e Syaoran que acabaria com o Japão. Com toda a força que possuía, ela se afastou, respirando, ofegante. Syaoran a fitou, entre curioso e desapontado.

"Syaoran, sei o que está para acontecer... Não estou preparada... Eu sou...".

"Shhhh...", ele a interrompeu, pousando os dedos sobre os lábios rosados. "Eu sei o que você é, minha japonesa. A mulher mais linda e desejável de todas que já conheci", depois de alguns segundos, ele sorriu, acariciando o rosto delicado. "Jamais a machucaria...".

Viu nos olhos dele, além do desejo, algo mais reconfortante e que dava a confiança que ela necessitava. Sorrindo de volta, ela agarrou-se a nunca dele, explorando com suavidade os cabelos macios.

Voltaram-se a se beijar. As roupas foram sendo tiradas por mãos ansiosas, querendo mais, até que os dois corpos se encontrassem em um. Os beijos, as carícias, as palavras bem ditas e sussurradas com prazer, tudo fazia com que aquele momento único fosse extremamente perfeito. Os dois amaram-se com carinho, com desejo, e uma paixão que crescia a cada toque. O que mais queriam confessar seus sentimentos, dizer porque este simples ato se transformava em puro deleite para os dois corpos jovens. Mas não havia palavras. As sensações e os prazeres calavam as bocas, enfrentavam qualquer temor. E depois do momento de paixão ter terminado, os gemidos e sussurros se foram para dar lugar as respirações quentes e ofegantes, que ocupavam o quarto junto aos corpos entrelaçados e abraçados. Completos e satisfeitos, os dois deixaram-se levar pelo cansaço delicioso e adormeceram...

Depois de algum tempo, o guerreiro chinês despertou, olhando pela janela. O sol ainda não nascera, e o céu mostrava que isto estava longe de acontecer. Olhou, logo depois, para o anjo em seus braços. Ela aninhava-se ao peito dele, procurando proteção. As belas pernas entrelaçadas as dele, e a cabeleira ruiva esparramada sobre as costas nuas. Suspirou longamente. Depois desta longa e deliciosa noite, nada seria o mesmo. Admitira sua paixão, ali, venerando e amando Sakura como nunca fizera com outra, tornando-a mulher. Mais do que uma simples mulher, a sua mulher. Acariciou os fios de cabelo, sentindo um carinho imenso e um amor profundo por aquela garota. A sua garota...

"Eu a amo tanto...".

As quatro palavras saíram sem a mínima intenção. Porém, como se o corpo dela escutasse aquela declaração, ela o abraçou mais, murmurando seu nome, num sussurro cansado e satisfeito. Acariciou a face rosada. Não importava se ela houvesse escutado suas palavras. Só queria que aqueles lindos olhos se abrissem, o fitando como a momentos atrás, quando ela gritara seu nome no auge da paixão. Aquelas duas esmeraldas que cintilavam de puro e apaixonante desejo.

Por um sinal, os dois olhos dela se abriram. O fitaram por longos e infinitos minutos. Sorriram, como se aceitassem o convite contido no olhar de ambos. Juntos, fizeram amor novamente, agora, com todo o carinho e a dependência que tinham um do outro para viver...

**

Eriol via, da janela do seu quarto, os movimentos da mansão diminuírem. As camareiras e as damas de companhia, além das cozinheiras e faxineiras, se retiravam após um longo e árduo dia de trabalho. Com a ausência do patrão e com a despreocupação de Kaho, os empregados recorriam a Tomoyo, sobre o fazer naquela enorme casa. E aquela jovem dama executava a tarefa com esmero, apesar de que, das poucas vezes em que eles tinham se encontrado, a morena possuía olheiras e a pele branca estava mais pálida do que o habitual. Ela fingia estar bem, mas não podia enganar Eriol.

Tudo sobrecarregava a jovem. Primeiramente, a solidão. Takawi era um pai amoroso, ele notava, mas ausente. Kaho não gostava de ter longas conversas e nem de outras atividades femininas. Ficava a maior parte do tempo em seu quarto, fazendo só Deus sabe o que. E já ele... Bem, não tentara se aproximar ou tentar lhe falar. A situação já não era uma das melhores. Depois, Touya estava na guerra. Sabia do grande amor que o moreno sentia por Tomoyo. Respeitava este sentimento, apesar de sentir o sangue ferver cada vez que ele a tocava. Mas, era o convidado. O fato do beijo não poderia alterar a situação conjugal de ninguém.

Além do mais, o problema de Sakura era o que definitivamente piorava a tensão. Os dias passavam, e nenhum sinal da jovem estar viva. As buscas foram interrompidas. Não havia mais nada o que fazer. Se Sakura estivesse viva, o que estava fora de cogitação naquele momento, estaria perdida. E não em Nagasaki, pois conhecia aquela cidade como a palma de sua pequena mão. Via o desespero com que Yukito suportava a situação. Nas poucas vezes que conversara com ele, sentia a alegria do senhor feudal quando o assunto era Sakura. Mas, depois, a tristeza tomava conta dos olhos castanhos, ao se lembrarem de que, naquele momento, Sakura poderia não pertencer mais a aquele mundo.

Sentiu-se observado. Virou-se para trás e deparou-se com Tomoyo, a olhá-lo timidamente, com as mãos juntas ao colo. Sorriu para a bela jovem. Ela não estaria precisando de um amante e nem de perguntas sobre o que aconteceria entre eles dois futuramente. Precisava de um amigo, aquilo que sempre encontrara em Eriol, quando eram menores.

"Tomoyo... Por favor, entre", ele pediu. A jovem recuou para trás, mas ao notar o sorriso amigável dele, entrou no aposento. Ela balbuciou, trêmula.

"Na verdade, Eriol, vim lhe perguntar se precisa de algo, antes de se deitar. Os criadores já foram pernoitar, e eu só estou tentando ser gentil. Creio que sua estadia não tem sido uma das melhores aqui".

"Não estou precisando de nada, minha dama. Mas pareces estar sozinha nesta mansão. Sente-se, sim?", ele apontou um pequeno sofá e ela se sentou, quase que imediatamente. Notou que ela estava de camisola, pronta para dormir. O desejo veio rapidamente, mas ele o afastou. Ela parecia estar triste, não procurando beijos.

"Eriol, não quero lhe incomodar, só vim...".

"Não me incomodas, Tomoyo", ele a interrompeu, sorrindo. "Agora, o que lhe aflige? A desculpa de me servir não me convenceu".

"Estou me sentindo solitária. Sei que não deveria, tenho muitas pessoas em minha companhia. Mas, sinto que falta algo. E este algo é minha cunhada. Era uma garota maravilhosa, sabes? Minha melhor amiga... Nem sei se está viva", ela desabafou. Eriol sentou-se ao lado dela. Tentou passar ternura com o olhar.

"Por que usas os verbos no passado, minha querida? Tenha fé, está bem? Creia na força dela.... Tente acreditar".

As palavras eram encorajadoras. Mas, ao seu ver, Eriol sentiu que Tomoyo não confiou em suas palavras. Iria argumentar algo, quando ela novamente falou.

"Eriol, passei muito tempo de minha vida tentando acreditar que tudo vai melhorar. Porém, sei que estas tuas palavras amigas não mudaram nossos destino. Quando eu era pequena... Meu pai era um homem ocupado, passei metade de minha infância com babás e amas. Só comecei a ser feliz quando conhecia Touya e Sakura. Não estava mais sozinha...", ela esfregou os olhos, sinal de que estava cansada. "Mas, esta guerra vai tirar tudo de mim. Já tirou Sakura, minha melhor amiga. Agora, teima a tirar meu marido. O que farei, meu amigo? O que farei quando estiver sozinha?".

Eriol ficou em silêncio, sentindo as palavras de Tomoyo surtirem efeito em sua mente. Primeiro, quando afirmava que amava o marido. Depois, dizendo que o considerava um amigo... Ah, amigos não se beijavam numa biblioteca! Mas, sua dúvida o levou direto a pergunta que entalava em sua garganta desde que chegara.

"Você ama seu marido, Tomoyo?", ele perguntou, diretamente.

Os olhos violetas se arregalaram, surpresos. "Como disse, Eriol?".

"Ama Touya Kinomoto, aquele que a desposou?", ele inquiriu novamente, com um ar sério. Tomoyo levantou-se, indignada.

"Não podes fazer esta pergunta a mim, Eriol! É indiscreto de sua parte! Não podes simplesmente entrar em minha vida pessoal como se fizesse parte dela!", ela disparou, colocando as mãos na cintura, contraindo os lábios.

"Como podes dizer isto, Tomoyo? Outro dia, estávamos nos beijando! Ainda afirmas que não tenho nada ver com o que sente?", ele rebateu, deixando o tom da voz soar magoado. Ela o encarou, atônita, por alguns segundos, mas logo se recompôs para responder.

"Foi um deslize! Eu estava suscetível, tinha acabado de brigar com meu marido! Não me venhas culpar, por que foi tu que colocastes a língua em minha boca!".

"Olhe o linguajar, Tomoyo? Se nos beijamos, tens de ao menos dizer que retribuiu a carícia!", ele argumentou. A garota virou-se e partiu, dizendo minutos antes de passar pela porta.

"Foi em erro, Eriol Hiiragisawa. Erro que será concertado assim que Touya voltar!".

Eriol olhou para a porta fechada, a sombra dela passando pela fresta da porta. Uma raiva subiu-lhe o corpo. Aproximou-se do criado mudo perto da cama, e estendeu o braço para pegar um copo com água. Deixou o líquido gelado descer por seu sangue, tentando acalmá-lo. Mas Tomoyo era sua fúria. Encarava o beijo como um erro. E este erro seria concertado por Touya.

"Ah, sim! Aquela teimosa dama vai ter que me escutar, nem que eu a amarre e lhe tape a boca com um pano!", e dizendo isso, ele pôs fortemente o copo na mesa, praguejando um palavrão inglês.

Fim***

Bem, vamos aos agradecimentos a este pessoal super especial que da força pra gente continuar a escrever!:

Saki Kinomoto

erica-oliveira

Tomoyo Tatsuhiko D

Anna Li Kinomoto

Renata 7

Miaka Hiiragisawa

Hime Hayashi