Capítulo 14

                   Todos olharam para Eriol, depois de sua exclamação assustada. O inglês, mesmo sendo alvo da atenção, não diminuia a expressão de espanto e encarava o casal a sua frente como se eles ouvessem cometido um pecado, ou algo desse tipo.

"Nós vamos ter um bebê!", Tomoyo repetiu a frase, contente demais para notar o semblante de Eriol. Touya, por sua vez, o fitava com um misto de prazer e orgulho, parecendo finalmente triunfar sobre os sentimentos de Eriol e sobre o direito dele de permanecer para sempre com Tomoyo.

                   A família Kinomoto se mostrou animada com a idéia e foram cum,primentar os mais novos pais. Sakura, depois de parabenizar o casal, voltou seu olhar para Eriol, que desolado, cumprimentou Touya e Tomoyo com um leve aperto de mão. Sentiu compaixão pelo amigo e por tudo o que ele estava sentindo.

"Nem posso crer que vou sair pai!", Touya dizia contente a Yukito, que respondia com a mesma animação. Eriol encarou o japonês com puro ódio e com todo o desprezo que sentia por ele.

                   Eriol sempre lamentara o fato de não ter firmado nenhum compromisso com Tomoyo. Ele bem sabia que Takawi, apesar de jamais ter o destratado e sido muitas vezes, um bom amigo, não apreciaria este tipo de união de nações diferentes e forçaria a filha a se casar com o primeiro nobre que viesse a aparecer, Mas, mesmo assim, deveria ter lutado por sua felicidade ao lado daquela mulher. Deveria, mas fora covarde e fugira da situação, pegando o primeiro navio para a Inglaterra.

                   Observou Sakura, que sorria para ele com um  sorriso amigo, compreensivel. Sorriu para ela também, apesar de seu sorriso não conter nenhum sentimento a não ser a profunda dor que carregava naquele momento.

                   Não odiava a criança que iria nascer. Ao contrário, estava até feliz, pois sempre soubera que o sonho de Tomoyo era ser mãe e formar uma família grande e bonita. Mas ele gostaria de ser o pai daquele bebê que ela carregava, tão carinhosamente no ventre. Gostaria de ter se deitado com aquela bela mulher e proporcionado a ela a felicidade que Touya havia oferecido.

                   Não prestou muita atenção quando a pequena governanta chamou todos para jantarem. Só percebeu que Tomoyo estava lá, o olhando confusa.

"Eriol, eu...", ela começou, mas ele ergueu a mão, no claro intuito de silenciá-la.

"Parabéns, minha querida. Eu fico feliz por você e...", ele sentiu certa dificuldade ao falar, mas mesmo assim disse, com a voz forçada. "E por seu marido, Touya".

"Oh, eu... Quero dizer, obrigada", ela se aproximou, com um sorriso doce. "E muito obrigado por compreender que não podemos permanecer juntos, Eriol. Foi um verdadeiro amigo, provou que merece a amizade desta família por você".

"Ora, não agradeça", ele disse, sarcástico. "Eu jamais iria contra o pedido de uma dama, apesar de minha verdadeira vontade é arrebatar você daqui e possuí-la na primeira cama que eu encontrasse", ele quase sorriu, com o rubor da face clara.

"Eriol, eu não o entendo. Por que ainda insistes nisso? Não a futuro para nós dois, seja aqui, seja no seu país. Deixamos nossas chances num passado em que tu me abandonaste e voltaste para seu lugar, que é a Inglaterra", ela afirmou, não escondendo a mágoa nos brilhantes olhos.

"Gostaria que eu tivesse permanecido e jamais ter a abandonado?", ele indagou, se aproximando.

"Qualquer garota apaixonada preferiria que o seu amado ficasse, não é?", ela respondeu. Apesar da voz um pouco confusa e embargada, ela não chorava.

"Fui tão covarde... me perdoe, Tomoyo. Touya sempre foi apaixonado por você e sua união a ele já era mais do que previsível. Temi destruir seus sonhos".

"Oh, o que você sabe sobre meus sonhos!", ela exclamou, andando até estar bem perto e agora com os olhos marejados, as lágrimas delicadas aflorando. "Você, mais do que todos, destruiu meus sonhos! Nem ao menos lutaste por mim, para saber dos meus sentimentos por você! Você, dentre Touya, meu pai ou qualquer outra pessoa, me fizeste ver que não a amor que sobreviva a covardia!".

"Achas que eu não sofri também?", ele rebateu, terrivelmente magoado e ofendido. "Achas que passei minhas noites dormindo bem, quando na verdade ficava a imaginar o que teria acontecido se pudéssemos ter uma chance? Pares de me culpar inteiramente por essa situação, pois quando eu a beijei, nas duas vezes, tu fugiste. Não quis encarar que nos amamos e que mesmo com o seu casamento de barreira, não esquecemos tudo o que passamos!".

"Eu estava tão confusa... E não fugi, eu apenas queria refletir. Ver se o que fizemos estava correto", Ela respondeu, no mesmo tom que ele.

"É lógico que não está correto, droga! É paixão, Tomoyo! Será que não percebes que nada certo pode ocorrer entre duas pessoas comprometidas com deveres que não podem esquecer?", ele perguntou, ainda muito revoltado. Daquela vez, Tomoyo perceberia que não existiam vítimas na história, e que os dois sofriam igualmente por erros juvenis do passado.

"Que compromisso tens, Eriol?", ela perguntou.

"O compromisso que tenho com minha honra, e com o grande afeto que tenho por tua família. Não vês que nada faço, pois tenho uma amizade de longa data com o teu pai, com o teu sogro? E ainda mais com tua prima, que é a melhor amiga que tenho. Não quero que pensem mal de você, nem de mim. Este é meu compromisso", ele retrucou. Logo em seguida, respirou fundo e a encarou, com profunda dor nos olhos. "Você também tem os seus compromissos".

"Oh, com toda a certeza", ela suspirou. "Apesar de tudo, Touya me é muito querido e eu jamais poderia faltar com meu sogro, ou com meu pai, permitindo que eles caíssem em desgraça", permitiu-se um leve sorriso. "E agora, com a minha criança...".

"Você será uma ótima mãe, e Touya, um bom pai", ele disse, com um sorriso meio torto.

"Oh, Eriol!", ela o fitou, os olhos marejados. Encostou-se a ele e o abraçou, enterrando a cabeça no peito forte. "Eu o amo muito... apenas quero que saibas disso".

                   Eriol se sentiu meio perdido com aquela confissão. Quanto tempo ansiara para ouvir aquela frase, aquelas palavras que declaravam que ela sentia o mesmo que ele? Sorriu, emocionado. Abraçou a pequena e aspirou o delicado perfume, a suave fragrância que impregnava seu casaco. Beijou a testa suave e novamente sorriu, murmurando com a voz recém-achada.

"É tão bom saber disso, querida".

                   Levantou o rosto tão amado e a beijou docemente nos lábios. Ela retribuiu com sua cadência, com a sua inocência e com a necessidade de sentir plenamente aquele toque amoroso. Depois de separados, ele murmurou no ouvido dela, tristemente.

"Sabe o que devo fazer, não sabes?".

"O que vais fazer?", ela murmurou, apreensiva.

"Eu vou embora, minha dama", ele respondeu, sua voz traindo todas as suas emoções. Ela ergueu a cabeça e o fitou, os olhos tristes e rasos de lágrimas.

"Não me deixes sozinha novamente", ela implorou.

                   O inglês respirou fundo. Era tão difícil tomar aquela decisão, ainda mais sabendo que ela o amava. Mas também sabia que jamais suportaria viver sobre o mesmo teto que ela, ansiando tocá-la e por amá-la, sabendo que aquilo jamais seria permitido. Acariciou a bochecha pálida e tentou sorrir, sem sucesso.

"Sabes que é melhor, meu amor. Cometemos erros irreversíveis, e agora temos que conviver com as conseqüências. Se eu partir, ainda é possível que você me esqueça".

"Não digas besteiras!", ela ralhou docemente. "Jamais poderei te esquecer".

"Bem, pelo menos podemos nos controlar um longe do outro, não é mesmo?", ele indagou. Ela assentiu, mesmo a contragosto.

"Então... vá Eriol!", ela pediu, num sussurro gentil. "Prometas que não voltarás e que não me não me esquecerás, pois eu jamais o farei".

"Adeus, Tomoyo...", ele murmurou, tomando os lábios em um beijo arrebatador. Depois, sorrindo tristemente, ele virou-se e saiu em direção a seu quarto.

                   Sakura, que observava tudo de longe, enxugou suas próprias lágrimas de emoção. Amava demais Eriol e Tomoyo, e a separação dos dois a afetava também, mexia em suas próprias feridas, parecidas com as deles. Saiu de trás do grande relógio em que estava escondida e foi até Tomoyo, que chorava desesperadamente, ajoelhada no chão. Apenas a abraçou e nada disse, ficou em silêncio, sentindo o tremor nos braços dela e a força dolorosa de inúmeros soluços. Sabia o que era sofrer e o melhor remédio era um bom abraço e nenhuma pergunta.

**

"Está tudo pronto, Kaho?", Takawi perguntou, ainda mexendo com a colher no chá a sua frente. A mulher sorriu, e assentiu, recolhendo a pequena garrafinha, ainda com muito conteúdo.

"Perfeitamente. Se o pó não for o suficiente, tenho ainda bastante de reserva, meu querido".

"Ótimo", o homem sorriu. "Agora, nada e nem ninguém poderá acabar com nossos planos...".

**

                   A família se reuniu na sala de jantar, em um clima ameno. Porém, Tomoyo e Eriol não compareceram, e todos pareciam estranhar a falta deles. Sakura ficou fitando os dois lugares vazios, e suspirou pesadamente. A cunhada havia ido descansar, não estava bem e ainda chorava muito, pedindo que Sakura não falasse do que ocorrera para ninguém. E Eriol, logicamente, estava preparando sua bagagem, visando pegar o primeiro navio de volta para Inglaterra.

"Querida?", ela ouviu o pai chamá-la e sorriu para ele, esquecendo de seus devaneios. "Onde estão Tomoyo e Eriol? Não os vejo faz um bom tempo".

"Bem, Tomoyo foi descansar, alegando estar sem fome, papai. Já Eriol está a fazer suas malas, pois vai partir de volta para casa", ela respondeu, o mais calmamente possível. Fujitaka franziu o cenho, e a encarou estreitamente.

"Por que Eriol vai embora?", ele perguntou, e sem esperar resposta, levantou-se. "Se me derem licença, vou falar com ele e tentar persuadi-lo a permanecer até o nascimento da criança de meu filho".

"Não!", Kaho também se levantou, exclamando, sem se importar com o olhar espantado dos convidados. "Jantes e depois fales com ele".

"Também concordo", replicou Takawi com um tom de voz muito brando, e Sakura o fitou desconfiada. Por que essa insistência na permanência do general naquela sala?

"Papai, escutes minha mãe", Touya disse. Sakura o fitou, esperando pelo menos a compreensão do irmão. Mas sabia que o maior desejo de Touya era que Eriol fosse embora e que não assombrasse mais os pensamentos de sua esposa. "Eriol não tem mais nada a fazer aqui a não ser abusar de sua hospitalidade, que já foi muita. Tenho certeza que já pegou todas as idéias para seu romance", reafirmou, com mais rispidez na voz.

"Mas, meu pai", ela disse, suavemente, quase sorrindo ao ver que Touya já bufava, sabendo que a irmã já ia contrariá-lo. "Talvez Eriol tenha seus motivos, mas eu odiaria que ele partisse sem ao menos se despedir de mim. Sabes o quanto eu o adoro e que agora, que voltei, o que mais quero é passar um tempo com meus amigos".

"Sakura tem toda a razão. Eriol é um bom homem, agradável companhia e não quero que ele parta sem nos motivos plausíveis para isto", Yukito sorriu par ela, e naquele momento, Sakura percebeu que aquele homem seria um bom marido. Prestativo e carinhoso. Sorriu para ele também.

"Bem", Fujitaka impôs sua voz autoritária, notando que daquela maneira, um jantar calmo não seria possível. "Eu falarei com ele depois".

                   Todos se calaram, mas Sakura conseguiu ouvir os suspiros de alívio de Takawi e Kaho, além do sorriso feliz de Touya. Fitou o prato, pensando intrigada. Kaho e Takawi, ao contrário de Touya, sempre mantiveram um relacionamento cordial e muitas vezes amigável com Eriol, adorando todas as vezes que ele vinha para o Japão. E agora, por que insistiam em retorcer o propósito do pai?A não ser que eles tivessem um bom motivo para impedir a saída do pai da mesa de jantar.

"Sakura", Touya a chamou, carrancudo. "Quero conversar contigo".

"Posso, papai?", ela perguntou, esperando a resposta negativa de Fujitaka. Com certeza, ouviria muito por tentar distorcer o que ele havia dito.

"Vá, minha filha. Tenho mesmo que conversar com Yukito".

                   Touya agarrou seu braço sem cerimônia e a levou até a sala. Quando chegaram lá, ele a encarou com os olhos repletos de fúria, e exclamou.

"Por que insistes que aquele inglês fique, Sakura? Sabes que ele quase destruí o meu casamento?".

"Eu amo muito Eriol, ele é meu melhor amigo e confidente. Seus problemas conjugais não interferem em nada minha amizade com ele", ela respondeu sem encará-lo. Só escutou o suspiro exasperado dele, antes de outra explosão.

"Ousas ficar contra mim para poder facilitar o adultério de minha mulher com aquele desgraçado?".

"Primeiramente, Eriol não é nenhum desgraçado. Por infortúnio do destino , ele é apaixonado por uma mulher casada. Mas, mesmo assim, respeitou os limites e está partindo para tentar esquecer Tomoyo e para que ela siga a vida a teu lado. Um homem que renuncia a seu grande amor para que ela seja feliz não é um homem sem moral, e sim na verdade, um homem muito honrado. E Tomoyo, mesmo que você não queria admitir, ama Eriol e está abandonando este sentimento para que você, Touya,  não caia em desgraça e tenha um casamento invejado por toda a sociedade", ela respirou, depois de tanto falar e finalmente resolveu fitá-lo Viu que Touya passava compulsivamente a mão nos cabelos cor de chocolate, desesperado.

"Ela disse para você que amava o inglês?", ele perguntou, com a voz rouca e dolorida.

"Oh, Touya!", ela se aproximou e o abraçou, sentindo que ele abandonava toda a tristeza em seus braços. Deus, quantos pessoas chorariam em seus braços hoje?, ela se perguntou, acariciando os cabelos do amado irmão. "Me perdoe... Eu sei o quanto é difícil amar e não ser amado... É uma dor intensa, eu já a senti", lembrando-se de Syaoran, não pode impedir lágrimas e acompanhou silenciosa o próprio choro, o disfarçando para que Touya não o notasse. "Perdoe Tomoyo, esqueças Eriol. Eles não têm culpa do sentimento que carregam no peito. Você será pai, Touya. Não destrua sua família antes mesmo dela começar".

"Eu sei, Sakura", ele acariciou a bochecha da irmã e permitiu-se sorrir. "Serei pai, e você tem a fasta idéia do amor que isso gera em meu coração?".

"Oh, não, deve ser algo mágico e que só pode ser compreendido por aquele que tem aquele privilégio", ela murmurou.

"Terás essa dádiva quando tiveres seu primeiro filho. Yukito será um ótimo pai, também".

                   Sakura nada respondeu, perdida em suas dúvidas. Sempre quisera ter um filho e dar um motivo para o pai se orgulhar dela. Mas o que faria Yukito ao saber que a esposa não era mais virgem? A repudiaria? Ou compreenderia a situação e nada contaria a ninguém? Não sabia. A única certeza que tinha é que, depois de tudo, Yukito era aquele que lhe proporcionaria um futuro promissor e acarretaria a difícil tarefa de tentar fazê-la esquecer do seu amado chinês...

"Fujitaka!", escutou a voz fina de Kaho e correu para a sala de jantar, com Touya em seu encalço.

                   Entrou no cômodo, notando as pessoas em volta de Fujitaka, que jazia, sem consciência, na cadeira. Takawi estava ao lado dele, tentando fazer com que ele recobrasse os sentidos. Yukito do outro lado, fazendo o mesmo. Kaho chorava, com gritos altos e desesperados.

"Papai!", ela gritou também, indo até ele e se ajoelhando na frente da cadeira, onde o corpo ainda dava pequenas tossidelas, mas cada vez menos freqüentes. Até que os espasmos cessaram, e ele permaneceu imóvel, com os olhos aberto, sem vida.

"Oh, Meu Deus!", Kaho exclamou, com a voz afetada. Segurou com a mão fina o pulso do marido, e os olhos vermelhos derramaram lágrimas. "Deus, ele está morto!".

                   Sakura deixou de escutar todos os murmúrios. Sentiu as lágrimas descerem quentes por seu rosto, e só conseguia ver, em sua visão embaçada, a face desfalecida do pai. Morto... Seu pai, o seu maior herói, o homem que lutara contra o preconceito dela ser bastarda para poder abriga-la. Atirou-se nele e nem se importou com os protestos de todos. Chorou em seu peito e esperou resposta.

"Papai, acorde!! Não me deixe!!!!", ela gritou, desesperada, entre seus soluços.

"Sakura...", Yukito se aproximou dela e a afastou do corpo morto, mantendo-a aninhada ao peito, como se fazia com uma criança.

                   A japonesa abraçou-se nele como se fosse sua tabua de salvação, como se naquele corpo houvesse conforto para sua paz acabada e sua dor. Tantas desgraças. Uma a uma, vinham sucessivamente. Perdera tudo aquilo em que mais acreditava. Perdera o pai, e agora só restava para ela um casamento sem amor e uma chance mínima de alcançar a felicidade. Olhou para Touya que reprimia as lágrimas, abraçado a Tomoyo, que viera atraída pelos gritos. Sentiu uma forte tontura, e quis mais do que tudo, morrer. Não havia mais motivo algum para viver.

**

Alguns dias depois...

**

                   Meiling encarou Syaoran, enquanto ele assinava inúmeros papéis, com pressa e sem desviar os olhos para nada. Sentada sobre a cama do irmão, continuou a observar ele. Estava mais nervoso do que nunca, descontando suas frustrações em todos, inclusive nela. Principalmente quando a descobrira tentando visitar Nui, encerrado nas masmorras a pão e água. Ele também havia mandado um soldado atrás de noticias da família Kinomoto, mas a chinesa sabia muito bem que o verdadeiro motivo por trás de seu propósito era saber o estado de Sakura.

                   Notou o soldado carrancudo entrar, pedindo licença. Syaoran ergueu os olhos por um momento, mas depois, continuou a escrever e murmurou.

"E então?".

"Fujitaka Kinomoto está morto".

                   Meiling encarou o irmão, notando que ele se surpreendera com a noticia. Depois, lembrou-se das palavras de Sakura. "Meu pai é um herói e um homem honrado. Ele jamais se importou de eu não ser filha de seu casamento. Eu morreria se algo de ruim acontecesse com ele. Não há melhor pessoa no mundo". Sorriu tristemente. Sakura deveria estar arrasada.

"Como?", Syaoran indagou, visivelmente surpreso.

"Parece que foi um ataque cardíaco. Ele caiu morto, na hora do jantar. Muitos planos foram adiados devido a esse infortúnio dos japoneses".

"Que planos?", foi à próxima pergunta de Syaoran, interessado.

"O filho de Fujitaka, Touya Kinomoto, está para ser pai. Então, se me permite dizer numa atitude covarde, ele renunciou ao cargo. Como não existem mais filhos homens para assumirem o posto, Takawi Daidouji ficará com o posto. O casamento de Sakura Kinomoto foi suspenso por tempo indeterminado, pois a garota não está nada bem e sofre de uma anemia terrível. Os médicos, pelo o que eu soube, não dão chances de sobrevivência a ela se ela não se alimentar e nem reagir.  Parece que de tão desolada, enfiou-se no quarto e diz que não saíra de lá por nada. Deitada na cama, não para de chorar. O noivo, pelo que o eu ouvi dizer, é um bom homem, apesar da raça. Compreendeu perfeitamente o problema e foi ele mesmo que cancelou o casamento, permanecendo seus dias com a garota".

                   Depois do relatório, Meiling suspirou. Sabia que Sakura ficaria arrasada, e gostaria muito de estar com ela, de consolá-la pela terrível perda. Quando sua mãe morreu, Meiling também ficou infeliz. Mas o estado da japonesa era deplorável.

                   Syaoran fitava os papéis, corroído por muitos sentimentos, confusos em sua mente. Não estava com cabeça para se dedicar aos negócios urgentes. Apenas sentia raiva, tristeza e principalmente ciúmes.

                   Raiva de ainda sentir amor por aquela traidora, de ainda se preocupar se ela estaria bem ou de estaria mal. Raiva de ser fraco ao ponto de deixar que as dores da garota afetassem sua mente daquela maneira, retirando seu raciocínio e o impedindo de continuar a trabalhar.

                   Tristeza por saber que aquela mulher estava em terrível estado, doente, precisando de afeto e de carinho. Sabia o que era perder um ente querido. A mãe, Yelan, era-lhe tão amada que no dia de sua morte, ele derramou sua primeira lágrima por uma mulher. Mas com certeza, não foi a última...

                   E ciúmes. Não era ele que a aninhava no peito, e que lhe dizia que ficaria tudo bem. Era aquele japonês maldito, dono legal dela. Seu noivo. E, pelo visto, amava a japonesa. Cancelar o casamento, mesmo sendo contra sua vontade, foi com certeza uma inegável prova de amor. Era disso que Sakura precisava. De um homem amoroso, que garantisse a ela uma família, um futuro lindo.

                   Fitou Meiling, que lhe sorriu. Irritado com seus tolos pensamentos, gritou, disposto a expelir nela toda a sua raiva.

"Por que estás me olhando com essa cara?", ele indagou, zangado.

"Ora, não é estranho? Para quem julgas nada sentir, você ficou abalado com o segmento de todas essa notícias".

                   Meiling sabia como lhe provocar. Sabia o quanto ele era sensível, com relação a Sakura. Inspirou grande quantidade de ar e soltou-o lentamente, temendo dar uma resposta com a qual pudesse se arrepender. Olhou para os papeis, para as ordens de seu pai. Decidiu acatá-las, visando talvez diminuir o sofrimento constante.

"Meiling, eu vou atacar a mansão Kinomoto daqui a alguns dias".

"O que disse?!", ela exclamou, visivelmente alterada e surpresa. "Como pode fazer isso? Não percebe que Sakura está sofrendo, que o Japão está em crise por causa da morte do general Kinomoto? Deixe de ser insensível!".

"É por causa deste momento vulnerável que vou atacar o Japão. Vês momento melhor para tal ato?", ele indagou, sem perder a paciência. Logicamente, temia por Sakura, temia que ela morresse na guerra que estava prestes a começar mas jamais deixaria que alguém descobrissem seus sentimentos, dessa maneira.

"Queres saber de algo, Syaoran? Sakura estava completamente certa! Você é um grosso, rude e insensível, que não merece nada do que tem", ela disse, levantando os braços aos céus, em sinal de rendição. Syaoran a encarou.

"O que ela disse?", por que deveria ficar interessado? Droga, se sentia tão impotente em relação a Sakura que tinha a sincera vontade de quebrar algo.

"Que você jamais se preocupava com algo que não fosse seu nariz. E mesmo te amando, ela já havia afirmado que partiria, pois você jamais aprenderia a ter bons sentimentos por alguém".

"E você acreditou nas palavras daquela mentirosa? És mais inocente do que eu pensava, irmã", ele disse com desdém. Mas por dentro, a terrível vontade de saber se aquilo era verdade ou só mais uma simulação de Sakura para conseguir a compaixão de Meiling.

"Mentiras... O que você sabe sobre elas, Syaoran Li? Você cresceu num mundo  de falsidades, acreditando na força da mente, e não na do coração e dos sentimentos. Confia em sua lei, desacreditando em tudo e em todos que lhe causem desconfiança. Julga sem saber, sem conhecer. Sakura tem sorte. Se casarás com um homem bom, repleto de lindos sentimentos e de um amor inextinguível. E você, seu chinês arrogante, morrerás sozinho pensando no que poderia ter acontecido se confiasse em sua alma, em seus sentimentos, e não nessa sua cabeça fria e dura!", dizendo isso, ela girou os calcanhares e saiu do seu quarto.

                   Syaoran olhou para a janela, visando o tempo bonito. Estava realmente cansado de escutar sermões, apesar de saber que Meiling, em parte, dissera verdades que ele, por muito não enxergava. Mas não podia confiar cegamente. Se Sakura realmente o amasse, jamais se casaria com outro e voltaria para ele. Então, não havia outra alternativa, a não ser esquecer completamente aqueles olhos verdes e continuar seu plano.

Continua 

Oi, pessoal, td bem?

                   Estou com crise de criatividade, e sem muitas idéias. O cap ficou bobo, não fiquei com muita vontade escreve-lo. Sabe, problemas em casa... Bom, deixa de enrolação e vamos aos agradecimentos.

Nina-KinomotoLi: Acredite amiga, eu também chorei muito ao escrever essa parte do cap... Beijos.

Misao Hayashi: Que bom que gostou! Espero que continue a ler. Beijos

Tomoyo Tatsuhiko D: Que bom que voltou a postar. Mas o mais importante é que goste realmente do meu fic. Bjs

Suu-Chan: Ah, mas deu dó do Syaoran, não é mesmo? Mas concordo com você, ele é incrivelmente teimoso! Mas, quanto a Tomoyo, você vai ter uma grande surpresa.

Hime Hayashi: O Touya está realmente muito lindinho nesse fic! E espere, ele ainda vai ter uma grande surpresa. Bjs.

Anna Li Kinomoto: Fiquei até sem graça... Aplaudindo, que legal!! Quero que saiba que também adoro seus fics, amiga!

Miaka Hiiragizawa: Eu, malvada? Ah, amiga, fosse acha que realmente facilitaria as coisas dessa maneira? Muitos Beijos...

Beijos, de Jenny-Ci