Capítulo 15
Estava tudo muito escuro e silencioso. Virou a cabeça, na intenção de enxergar alguma luz em meio aquele breu, e nada pode ver. Pouco a pouco, seus olhos foram se ajustando ao ambiente, e Sakura pode contemplar o teto, sem ânimo algum. Sentou-se na cama e olhou pela janela fechada. O céu estava estrelado e limpo, a luz da lua dominando a paisagem e se escondendo ligeiramente atrás de uma grande árvore. Deu uma leve tossidela e sentiu a fome ronronar no seu estômago. Sim, o que mais queria naquele momento era morrer, mesmo que fosse de fraqueza. Não havia razão para continuar uma existência sem mais objetivos sem mais seus sonhos. O que seriam de suas noitadas furtivas, suas lutas estupendas em nome de um ideal do pai? Seriam sempre lembranças. Teria que se tornar uma esposa perfeita. E era tudo o que menos queria ser. Uma dama...
Desajeitada e fraca, levantou-se e caminhou até a penteadeira. Sentou-se e fitou a própria imagem. Deu um leve gemido de dor e enojou-se com que o espelho refletia. Seus cabelos estavam em completo desalinho. A face, sempre corada, pálida e com profundas olheiras escuras, as maças do rosto bem mais salientes e pontudas. Estava até mais magra, concluiu ao notar largura de sua camisola. Suspirou e notou, depois de pensar um pouco, que aquela aparência era relevante e que o que mais importava era o coração, que não se via, mas sabia que estava ferido. Profundamente machucado,
Pegou uma escova e começou a escovar as madeixas ruivas. Devagar, elas foram se soltando e formando a bela cabeleira lisa que sempre tivera. Mas não via beleza naquilo. Em uma vida em que os sentimentos nada valiam, a aparência externa também não contava.
Pegou o seu hob e o vestiu, depois de abrir a janela e aspirar o cheiro gostoso de terra. Tornou-se a sentar na cama e fitar o céu, com os pensamentos longes daquela visão.
Eriol ainda estava isolado no quarto, lendo e hora ou outra, vindo ver como ela estava. Não partira, depois da morte de Fujitaka. Mas tão pouco comparecera ao velório e nem dera sombra de sua presença no enterro. Sakura o compreendia. Depois de perceber que Tomoyo lhe era inalcançável, o amigo tivera ainda que suportar a idéia de que seu melhor amigo e tutor morria, sem causa aparente. Ela fizera o mesmo. Não saiu da cama e alimentou-se muito pouco, chegando a ser quase nada. Yukito e Tomoyo lhe acompanharam os dias tristes, enquanto com profundo pesar, Touya negociava os tramites deixados pelo general com Takawi.
Ah, sim, aquele homem! No funeral, pelo que Yukito lhe contara, ele assumira uma posição de leve indiferença e partira cedo, antes do sacerdote queimar-lhe o corpo. Nos dias de luto, ele jamais prestara homenagem alguma e conformava-se em passar os dias conversando com Tomoyo. Kaho também tinha um comportamento suspeito. Sorrira e fora até em alguns bailes, alegando que a morte do marido não era a sua e que a vida, apesar de difícil, deveria continuar. Touya até se surpreendera com a falta de luto da mãe. Trajando vestes fortemente coloridas e usando jóias, ambas proibidas depois da morte do cônjuge, ela permaneceu com seus compromissos e compareceu em uma reunião com Takawi.Aqueles fatos, por um momento, instigaram a curiosidade da ruiva e ela até tentara se levantar, mas não conseguira esquecer a cena do pai, morto, pálido, sem nem mais um sopro de vida. Debulhava-se em lágrimas a cada vez que tinha aquela visão.
Tomoyo havia se entristecido muito, e Yukito também. Mas os dois permaneceram a seu lado. A jovem de olhos violetas também não apreciava o comportamento do pai, mas como filha, jamais ousava mostrar seu aborrecimento. Limitava-se a desabafar suas frustrações com ela, e Sakura, sem vontade alguma de lhe rebater os comentários, a escutava e quando muito, concordava com um leve aceno da cabeça.
Já Yukito lhe provara realmente ser aquilo que ela esperava do melhor amigo e futuro esposo. Desmarcara o casamento visto o problema e a ajudara da melhor maneira possível, sem tocar em assuntos desagradáveis e apenas lhe contanto o cotidiano e o que acontecia fora das 4 paredes do quarto. Nunca se mostrara fadigado da tarefa quase muda de cuidar dela e fazia de tudo para que ela se animasse. Mesmo, provavelmente, sabendo que era impossível. Estava exausta de carregar tantos fardos e um sorriso falso era mais um peso que ela não suportaria ter.
Lembrou-se de Meiling e Nui e sorriu com grande tristeza para o nada. Não se despedira dos dois, saindo de maneira covarde e fria. Eles lhe foram maravilhosos e devia muito a aquelas almas carinhosas e amigáveis. Limpou a primeira lágrima que apareceu assim que se lembrou de Syaoran Li.
Aquele chinês que lhe roubara a alma, o coração e tudo que residia naquele corpo, deveria estar agora dormindo, sem nem ao menos se lembrar dela, ou daquela noite de amor que significara tanto para Sakura. Estava se cansando por obrigação, e também por querer intensamente que o desejo de seu pai, um casamento promissor com o amigo nobre, fosse realizado. Não amava Yukito, e cada vez que o olhava ou que lembrava do casamento, tinha o sonho tolo de que era Syaoran que estava no lugar do japonês, seguindo os costumes japoneses ansiando muito para que ela se tornasse sua. Era tolice, ela sabia muito bem. Fora uma diversão. Um tipo de passatempo ao que o chinês estava certamente acostumado.
"Droga de homem!", murmurou, incapaz de se conter.
Por mais que tentasse, não conseguia esquecer a sensação de ter aqueles lábios sobre sua boca, das mãos ansiosas a passearem sem descanso por seu corpo. E principalmente dos olhos dourados escurecendo-se de paixão e a fitando como um hábil caçador a espreitar a presa, indefesa. Era impossível lembrar-se dele com ódio, já que em seu coração, transbordava um amor que a cada dia, insistia para que ela partisse e fosse até aquele dojo procurar o maldito homem em que não parava de pensar.
Ouviu batidas na porta, e foi abri-la, esquecendo-se por um momento do bonito chinês. Era Tomoyo, lhe sorrindo e carregando consigo com uma xícara de chá. Deu passagem para a cunhada entrar.
"Eu acordei você?", ela perguntou. Sakura meneou a cabeça, e tentou dar um sorriso fraco.
"Eu já estava desperta. O que houve?".
"Ora, nada de importante. Vim lhe trazer um chá para lhe acalmar. E fico feliz em ver que não estás mais tão doente", ela estendeu o chá para a amiga, que pegou sem hesitar e o bebeu rapidamente, sem se importar com a etiqueta. Estava faminta!
"Eu realmente fiquei muito doente? Ouvi os médicos afirmarem que eu estava para morrer", falou, sorvendo o chá antes de colocá-lo novamente sobre o pires.
"Sim, estavas com uma anemia profunda. Mas exageraram ao dizer que estavas para morrer. Nem quero pensar nisso", ela sorriu e depois comentou distraidamente. "Seu irmão é realmente um bom homem".
"Por que dizes isso?", ela indagou, curiosa.
"Ele, preocupado em ocupar o lugar de seu pai e não aproveitar a minha gravidez, passou o título para meu pai".
"O que?!", Sakura se levantou. Tomoyo a olhou assustada. "Como ele pode fazer isso? Ele por acaso endoideceu?".
"Sakura, meu pai é um bom homem e certamente será um excelente general", ela retrucou, magoada. "Sei que meu sogro era hábil guerreiro e com muitos anos de experiência, mas recuso-me a presenciar sua indignação. Meu pai jamais deu motivos para que você duvidasse de sua integridade".
Exceto pela indiferença em relação à morte do meu pai, e a intrigante insistência para que o general permanecesse na mesa, no dia de sua morte. Aqueles pensamentos não deveriam ser transmitidos a Tomoyo. Ela era filha, e como tal, faria de tudo para que o pai fosse visto como um homem justo e digno do caso que agora ocupava. Além do que, era muito inocente. Como crescera sendo criada por ele, apenas por ele, jamais duvidaria de qualquer deslize ou problema que ele viesse a criar ou que houvesse causado. E aquele não era o melhor momento para uma intriga em família.
"Me perdoe. A notícia me pegou de surpresa. Sei o quanto seu pai é... é honesto", ela esforçou-se para não gaguejar, mas foi inútil. Agradeceu os céus pela cunhada não ter notado.
"Oh, eu sei. Bem, tomes o seu chá e descanse direitinho", ela se levantou e foi até a saída. Quando estava prestes a deixar o quarto, parou com a mão na maçaneta, e falou, sem se virar, com a voz trêmula de uma emoção que Sakura não pode deixar de notar.
"Eriol parte daqui amanhã à noite. Achei... bem, pensei que lhe interessaria saber".
Já sozinha, Sakura tornou a se deitar, mesmo não adormecendo. Estava com a cabeça lotada de inúmeros pensamentos. Mas só um pôde lhe ser decifrado: Tinha que se levantar e impedir que o império que seu pai havia construído com tanto esforço caísse nas mãos inescrupulosas de Takawi Daidouji.
**
Sorriu ao constatar que o guarda estava dormindo, roncado e se revirando na cadeira que mal suportava seu peso. Uma boa notícia, afinal! Esgueirou-se para dentro das masmorras e encontrou Nui adormecido. O fitou por uns instantes, sentindo as lágrimas da saudade aflorarem em seu rosto. Mas, sabendo que não dispunha de tempo para tanto, postou-se ao lado dele e começou a cutucá-lo.
"Nui...", ela o chamou baixinho. O soldado murmurou algo e abriu os belos olhos, os arregalando em espanto ao perceber de quem se tratava.
"Meiling!", exclamou, e ela calou a boca dele com a mão.
"Fales baixo, soldado", ela ordenou, e com suavidade, sorriu, o liberando do toque.
"O que fazes aqui, mulher? Podes ser pega", ele disse, ajudando-a a sentar na cama. Ela novamente lhe sorriu.
"Precisava lhe contar tudo que está acontecendo. E avisar que meu irmão vai atacar a mansão de Sakura esta noite".
Ele a fitou e depois perguntou. "O que houve com a japonesa?".
"Ela foi embora. Por algum motivo que ainda nos é desconhecido, marcou casamento com um nobre japonês. E, faz poucos dias, o pai dela faleceu. Soubemos através de um emissário que ela adoeceu e quase morreu. Mas o desalmado do meu irmão quer atacar a mansão alegando que este é o momento vulnerável que ele estava a esperar", Meiling terminou o relato com um suspiro sisudo.
"Hum...", Nui murmurou, coçando a nuca, meio confuso. "É estranho. Seu irmão ficou indiferente com a notícia de tudo o que houve com a moça? Ele parecia apaixonado, muito mesmo. Bem, mas eu deveria saber que ela era apenas mais uma conquista...".
"Ele está amando, Nui. Está sofrendo tanto que chegou a ponto de se enfurecer e desesperar-se. E eu realmente estou esgotando as possibilidades de ele retardar este ataque. Está determinado como nunca estava na vida. Mas também acredito que por trás de toda a sua decisão, há um desejo louco de rever Sakura", ela afirmou, triste. O soldado assentiu, e lhe acariciou a face, a fazendo enrubescer.
"E nós, Meiling. Sei que a situação de nossa amiga é muito importante, mas eu...", ele aproximou-se. "A dúvida é enorme. O que será do que sinto por você, quando toda essa guerra acabar. Independente de sermos os vencedores dessa batalha ou não, sua família saberá do ocorrido e poderei morrer enforcado. Mas o que mais temo é ter de lhe deixar a mercê de todos os lobos de seu clã. Você é uma dama, e como tal, não serás aceita na sociedade, ou em um bom casamento, se souberem do seu envolvimento com um pobre soldado", aquela palavras o torturavam tanto que a voz saía rouca, grossa.
"Nui, eu...", ela interrompeu-se, corada. Não tinha como prever o futuro, e todas aquelas palavras cruéis eram a realidade inevitável.
"Continue, querida", ele murmurou, e Meiling não soube dizer como ele chegara tão perto.
"Eu amo você", ela balbuciou, tragada pelo brilho daqueles olhos. Só soube a resposta quando sentiu os braços a rodearem, e um olhar que deveria lhe intimidar, mas que apenas lhe instigou o desejo.
Ele abaixou a cabeça, e beijou aqueles doces lábios. Um beijo desprovido de qualquer gentileza ou amabilidade. Pura paixão. Aquilo que sentiam se extravasou numa explosão de emoções deliciosas que passavam de corpo para corpo. O contato estava se tornando insuportável de tanto era a ansiedade. Meiling interrompeu o beijo, ofegante.
"Precisamos parar...", ela disse, mesmo sem nenhuma força na débil voz. Ele ergueu a cabeça e lhe abraçou, trazendo-a junto ao peito, e ela sentiu o quanto ele tremia.
"Deves estar me achando o mais selvagem dos homens", ele murmurou, e ela permitiu-se um riso.
"Prometa-me algo", ela sussurrou, ele a encarou desconfiado.
"Não posso prometer que iremos ficar juntos, minha querida. Deus sabe o quanto quero isso, mas não posso".
"Disso eu sei", ela afirmou tristemente. "Peço que nesta guerra, ocorra o que ocorrer, não morrerás. Mesmo que isso signifique abandonarmos um futuro juntos, não pereças. A vida se tornará insuportável se não tiver o consolo que você, mesmo distante, estás bem".
Nui a encarou, analisando cada detalhe das palavras trêmulas. Não iria morrer. Prometeria cumprir a promessa e a honraria. Amava aquela chinesa e se fosse preciso afastar-se para vê-la feliz, o faria de bom grado.
"Prometo", levou a mão pequena até a boca e beijou os dedos delicados. "Agora, trates de ir antes que seu irmão venha me ver. Ele afirmou que tinha um assunto urgente a tratar comigo".
"Ele já havia falado com você antes?", ela perguntou, já se levantando.
"Não, mas mandou uma mensagem", sorriu, carinhoso. "Vá, e saibas que eu a amo muito, Mei".
Ela sorriu, contente com o apelido. Deixou Nui, que curioso, pensava no que Syaoran Li teria que falar com ele. Ele deveria odiá-lo, apesar de Nui entender sua situação. A honra de sua única irmã era muito importante, já que ele zelava por ela no local onde se encontravam. Estavam em uma época hostil, e o capitão deveria pensar que nem dentro de seu próprio alojamento a chinesa teria segurança. Bem, ele que imaginasse o que quisesse. Amava Meiling e as ameaças do seu ex-superior de nada valiam e não mais lhe metiam medo.
"Apresente-se, soldado", a voz grave o fez imergir de seus pensamentos, para fitar Syaoran, cujas feições pareciam ser esculpidas de pedra. Levantou-se e prestou reverência.
"Capitão".
"Bem...", o chinês de olhos dourados começou, inspirou fundo e retomou a palavra. "Antes de tudo, deves estar se perguntando o porque de sua demora aqui. Devo lhe dizer que nada me agradaria mais do que vê-lo partir, mas estamos com sérios problemas em Hong-kong e você seria mais um para a cabeça cansada de meu pai".
"E o que sugeres, senhor?", Nui indagou, apreensivo. Voltar para seu país seria esquecer Meiling e tentar sobreviver com a vergonha de ter sido expulso do exército.
"Sugiro que se cales, pois ainda não permiti que falasse", o homem o repreendeu, sem nem ao menos levantar o tom de voz. Mas o soldado sabia que naquela indiferença havia um profundo ódio. "Ficarás aqui até o ataque, que realizarei essa noite, acabar. Apesar de suas habilidades bélicas, não poderás acompanhar os outros homens. Não estarias nessa situação se fosse um soldado digno de seu posto".
"Entendo", Nui, na verdade, não entendia. Se o capitão amava Sakura, como Meiling havia dito, porque atacaria a mansão, pondo em risco a vida da amada? Confuso, fitou Syaoran e se arriscou a perguntar.
"Como está japonesa, capitão?". Naquele momento, o rosto duro e frio mostrou uma dor que Nui achou que Syaoran jamais pudesse sentir, contanto os anos de mais pura e afiada frieza em que conhecia o capitão. Ele quebrou o contato visual pela primeira vez e se virou, tentando esconder algo que o soldado sabia que era tristeza e mágoa.
"Isso não lhe diz respeito, soldado".
Nui não desistiu, pois uma de suas melhores qualidades era a persistência. "Se me permiti contrariá-lo, é da minha conta sim. Nenhum de seus homens diz ter visto a moça, e muitos têm estranhado essa ausência".
"Ela...", Syaoran andou até a janela, seus passos tão tensos quanto a sua voz. "Ela partiu. Foi embora um dia depois de sua prisão".
"E não temes feri-la nesse ataque, meu senhor?".
"Não tenho ligação nenhuma com aquela mulher", o capitão esforçou-se, mas o soldado notou a insegurança de sua voz. "A morte dela nada significará para mim".
Nui sorriu. Talvez, devesse arrancar as palavras de Syaoran de uma maneira mais drástica. "Eu a amo muito, meu senhor, e gostaria que evitasse a morte dela".
No mesmo instante, uma espada já estava apontada para seu peito, enquanto os olhos dourados do capitão flamejavam de ódio e de ciúmes.
"Se tocares no nome dela novamente ou afirmar que a ama com esse ar supremo de arrogância, preferirás as chicotadas em praça publica, seu desgraçado!".
"Acalme-se, meu senhor", Nui controlou o riso. "Eu a amo como uma irmã que não tenho. Meu coração pertence a só uma mulher".
Syaoran retirou a espada do peito de Nui e a guardou na bainha, relutante. Depois de respirar fundo e se acalmar, ele o fitou com um olhar desconfiado.
"O que o levou a desonrar a minha irmã, soldado, sendo que dediquei minha total confiança em você? Sei que Meiling é uma garota bonita, mas sobre o mesmo teto que eu cometer tal atrocidade?".
"O amor, senhor", ele disse, confiante, as palavras fluindo sem nenhuma vergonha. "O sentimento tão forte que carrego por essa chinesa. Não foi luxúria, capitão. Eu amo Meiling e tenho a plena certeza de que ela me ama também".
"É, deve amar", ele disse, num sussurro.
Nui entendia Syaoran. Ele deveria estar sofrendo, comungando com uma grande dor. E não era para menos, ele pensou, colocando-se no lugar do capitão. Sua vida seria vazia se Meiling não correspondesse ao seu amor e se fosse obrigado a abrir mão dela. Mas Sakura amava aquele homem.
"Ela o ama, senhor Li", ele disse, tentando passar toda a convicção de suas palavras na voz. Syaoran deu um sorriso fraco.
"Você não é a primeira pessoa a tentar me convencer disso, soldado. No entanto, estou inclinado acreditar que aqueles olhos verdes cegaram-no e também a minha irmã", ele deu um longo e frustrado suspiro. "Sakura só queria informações. E o meio mais rápido seria me iludir, me fazer de tolo. E ela, sinto dizer, conseguiu".
"Ela o ama", Nui repetiu. Syaoran, dessa vez, virou-se para fitá-lo.
"Como podes ter tanta certeza, soldado? Virou vidente?".
"Ela sofreu muito quando o senhor a ofendeu".
"Não estou lembrado", o capitão coçou a nuca, confuso.
"Porém, ela se lembrou muito bem. Vocês haviam discutido por ela ter criticado o seu tratamento em relação aos soldados. O senhor, não sei se incondicionalmente, a chamou de meretriz, ao afirmar que o que ela estava fazendo era ensinar os nossos soldados a tratar uma japonesa na cama. A sua irmã me contou".
"Meiling é inocente e Sakura lhe era muito querida. Seria fácil para ela enganar minha irmã", alegou, mas depois, seus olhos assumiram a postura de curiosidade. "O que ela disse, realmente".
"Ela disse, que partiria, pois tinha saudades da família. Meiling afirmou que conversaria com o senhor, mas a japonesa pediu que não, pois não queria falar com o senhor. Depois, quando Meiling foi a minha procura, disse que ela ainda chorava lágrimas genuínas e que soluçava de dor", ele contou.
O capitão estava confuso, inquieto. O olhar perdido no nada mostrava que aquelas palavras haviam feito muitas de suas idéias mudarem, e que agora já não tinha tanta certeza se Sakura era mentirosa. Mas foi só por um momento. Em seguida, ele já retomava o brilho de arrogância nos olhos e com a voz firme, pronunciou.
"Sinto lhe dizer, soldado, mas você também foi enganado. A japonesa era uma espiã, e como tal, sabia atuar muito bem. Creio que vocês também foram peças do espetáculo dela", ele virou-se, com um quê de indiferença e parou na soleira da porta. "Além do que, você nada tem a ver com aquela mulher. Maldita seja por ter nos enganado dessa maneira", empertigado, ele saiu do aposento.
Nui gostaria de sorrir, mas não sabia de tinha motivos para tanto. Tentar convencer o capitão não fora seu plano inicial, mas sabia que seu relato havia confundido a cabeça dura do homem. Por outro lado, sua situação, a qual ele tentaria remediar naquele breve encontro, foi totalmente esquecida. Deveria se preocupar com seus planos, mas por mais que tentasse, não conseguia odiar o capitão. Bem sabia que no fundo, estava sofrendo tanto quanto ele.
**
Eriol observou a mansão, enquanto um criado ajeitava suas malas num coche. Bem, perdera mais do que ganhar nessa viagem.
Observou Sakura lhe sorrir fracamente e retribuiu o sorriso. Estava sim, muito triste com o decorrer dos acontecimentos. Mas sabia que sua pequena dor não podia ser comparada com o sofrimento intenso que aquela garota de 4 olhos verdes tinha dentro de si. Aproximou-se dela e lhe acariciou a bochecha alva. Ela e Yukito eram as únicas pessoas que haviam vindo se despedir dele. Mas era melhor assim. Se Tomoyo estivesse presente, temia não conseguir subir no coche e ir embora se tornaria mais penoso do que já estava sendo.
"Estás melhor, esmeralda?", ele perguntou, num tom gentil. Ela meneou a cabeça, deixando escapar uma teimosa lágrima.
"Estou me recuperando, Eriol. Mas quero que saibas que sua partida em nada vai me ajudar. Preciso tanto de meus amigos, nesse momento e você tem a idéia maluca de nos deixar. Eu não devia perdoá-lo", ela disse, com um sorriso travesso.
Se Fujitaka ainda estivesse vivo, com toda a certeza estaria ali, sorrindo e pedindo para que ele passasse mais tempo com eles. Mas, para seu profundo desgosto, o homem falecera. Seu professor, seu tutor e acima de tudo, seu melhor amigo, morrera no auge de sua vida.
"Foi um prazer conhecer você, Eriol", Yukito lhe estendeu a mão, a qual era cumprimentou, amigável.
"O prazer foi meu, amigo, mas a sorte foi sua. Está para se casar com a criatura mais preciosa, espero que cuide bem dela", ele disse, divertido, mas com total veracidade em suas palavras. Sakura merecia uma vida maravilhosa, depois de tantos sofrimentos.
A ruiva jogou-se em seus braços, e ele a abraçou, carinhoso. Ela era sua irmã. Não de sangue, mas de coração. Não havia pessoa nesse mundo que o conhecesse melhor e nem que lhe fosse tão amiga.
Esforçou-se, mas não pôde evitar olhar para as janelas da mansão, esperando ver Tomoyo. Mas só havia a sombra dos objetos, e nenhum sorriso caloroso do amor da sua vida.
"Ela ama você, Eriol", Sakura sussurrou, a seu ouvido, como se lhe pudesse ler os pensamentos. "Lembre-se somente disso".
O inglês reprimiu a vontade de chorar. Mas, talvez, fosse mais sensato esquecer. Não era isso que ela iria fazer?
Acenou mais uma vez para seus amigos. Preparou-se para entrar no coche, mas segundos antes, uma enorme flecha de fogo pousou ao seu lado. Virou-se para encarar o céu e notou muitas dela voarem na direção deles.
Juntou-se a Sakura e a Yukito, correndo com eles para dentro da mansão. Notou vários empregados serem atingidos por essa flecha, em mesmo em sua correria, rezou por suas almas. Pessoas inocentes estavam sendo mortas, e ele já sabia o motivo.
Sakura sabia que o momento havia chegado. Não precisava olhar para trás para saber que china resolvera dar as caras e atacar o Japão, certamente já sabendo do estado tão frágil que a nação enfrentava. Entrando na mansão, depararam-se com Tomoyo e Kaho.
"Deus, o que é isso?", Kaho fitava todos os lados, confusa com o fogo e com os gritos selvagens.
"É a guerra, Kaho", Sakura sussurrou, notando a entrada dos primeiros homens pela mansão. Desviou o olhar, temendo vê-lo. "Isso é apenas o começo".
Continua...
Essas notas, dessa vez, vão ser especiais (Leiam, por favor):
Esse ano, na verdade, foi um ano muito especial. Assim que acessamos a Fanfiction.Net, nos deslumbramos com os mais belos fanfics que a internet possui. Exemplos clássicos são: Entre A Cruz E A Espada, Os Oito Guardiões, a série Os Feiticeiros, Stairway To Heaven, Vivendo No Limite, Estrela Da Escuridão, a série Primeiro Pecado, Amor à Segunda Vista!, Um Amor de Academia... Enfim, todos os maravilhosos fics que fazem nossa imaginação voar mais alto, para mergulharmos em um mundo de fantasia, romance, aventura e muitos outros gêneros. Mas, o que é realmente escrever? Será que é apenas pegar as nossas idéias e coloca-las nos papel, ou em nosso caso, escritores virtuais, o computador? Não, eu creio que não. Muitas vezes, passamos noites em claro apenas para ter a idéia do que fazer no próximo capítulo. Em outros dias, passamos tanto tempo em frente a telinha que nossos dedos criam calos. E mesmo assim, nós não desistimos. Não podemos agradar a todos, e às vezes, um comentário que nos critica nos põem para baixo. Mas não é isso que é ser um escritor? Esperar boas e más críticas, mas jamais desistir. Uma vez ou outra, eu olho para o computador me pergunto que porcaria que eu estou fazendo. Tem dias em que ficamos desesperados, imaginando se o rumo da história é legal, ou se aquela fala foi mesmo idiota... No entanto, eu estou aqui para aplaudir a todos os escritores da Fanfiction.Net. Admito que não li metades de todos os textos, mas isso não foi preciso para saber que todos nós nos esforçamos muito esse ano. Os que começaram agora, como eu, e aqueles que estão escrevendo há muito tempo. Parabéns aos escritores, a todos. Mereciam muito mais do que palavras, mas é tudo que posso oferecer. Por isso, em 2004, espero que as mesmas pessoas, e que novas ou aquelas que também pararam, fiquem conosco no nosso site. E é lógico, quero agradecer aos leitores, sejam aqueles que escrevem ou não. São vocês que fazem nosso trabalho realmente valer a pena!
Agora, gostaria de agradecer a algumas pessoas maravilhosas e muito especiais que lêem meu texto:
Yoruki Mizunotsuki
B166ER
Anna Li Kinomoto
Hime Hayashi
Nina-KinomotoLi
Miaka Hiiragizawa ( Para você, minha grande amiga, não sei nem como agradecer. Contei com você desde o começo de meu fic. Obrigado por tudo!)
Luci-Chan
Kath-Klein
Suu-Chan
Um Feliz Natal Para Todos Da Fanfiction.Net e até 2004!
