Capítulo 21
"Acalme-se", uma voz dizia, muito vagamente, em sua cabeça, enquanto ele observava Meiling se aproximar, com os cabelos negros presos em duas tranças delicadas. "Não a apresse. Se tudo der certo, vocês terão a vida inteira pela frente".
Ela sorria, como uma criança inocente. Sim, Nui sabia que era tolice comparar aquela bela jovem a uma garotinha, mas a ingenuidade contida em seus olhos o fazia imaginar se era digno mesmo de um amor tão puro. Ela enfrentara o pai e os obstáculos que suas diferentes condições sociais impunham com grande bravura e sem medo. E mesmo assim, não se abalara nem por um minuto. Era certo que receberiam muitos olhares de reprovação, afinal, a alta sociedade não veria com bons olhos um casamento de estirpes desiguais. Mas esses olhares não o incomodavam nem um pouco. O único olhar que queria era o da garota que ainda corria em sua direção.
"Nui...", ela parou para respirar, colocando a mão no coração. "Nossa! Como eu corri!".
"O que estava a fazer, pequena?", ajeitou uma mecha teimosa que saía do penteado dela. "Porque a pressa?".
"Eu nem creio, meu amor!", ela praticamente pulou no pescoço dele. "Vamos nos casar! Jamais imaginei que papai pudesse concordar com a nossa união, mas algo nos olhos dele mudou. O brilho dourado parece ter se renovado. Além do que, ele está muito orgulhoso!".
"Orgulhoso do quê?".
"Syaoran estava apaixonado, papai".
Os olhos de Shang se arregalaram em proporções enormes, os orbes dourados quase saltando de sua cabeça. Ele se levantou da cadeira onde estivera sentado e respirou fundo. A hipótese lhe parecia muito improvável, já que em toda a vida do chinês, ele não passara de um conquistador que se divertia as custas de frágeis corações femininos. Fitou a filha e apoio o queixo na mão, pensativo.
"Quem é essa mulher que conseguiu realizar tal feito??".
"Sakura Kinomoto, meu pai", ela falou, suavemente.
Não teve palavras. A vida era mesmo errônea e o destino, uma criança brincalhona. Seu filho, tão decidido a manter uma aversão total contra todos os japoneses, se apaixonara pela filha do general inimigo. Era difícil crer, e a situação era irônica. Não sabia se irritava-se, ou se simplesmente ignorava o fato. Talvez sua filha estivesse enganada. Caminhou em passos largos. Ou talvez não ela não estivesse errada. Meiling crescera muito nesse tempo de guerra e com certeza percebia certos assuntos com mais rapidez e menos inocência.
"Como isso pôde acontecer, minha filha?", ele perguntou, mais para ele mesmo do que para ela. "Apesar de eu não zombar de sua informação, a mensagem contida em suas palavras é um tanto inimaginável em minha mente".
"Eu o entendo, papai. Não pense que foi fácil acreditar nisso também. Mas essa convivência mais longa com ele me fez ver que atrás da aparência rude que ele insiste em sustentar, a um homem com profundos sentimentos dentro dele. E esse homem, depois de ter conhecido Sakura, despertou", deu uma graciosa risada. "Ora, papai! Mais dia, menos dia, ele iria se apaixonar. Está certo, era quase impossível que a 'felizarda' fosse uma japonesa, mas aconteceu".
"Que provas você tem, querida? Palavras de seu irmão são tão confiáveis como mercadores chineses...".
"Deixe-me lhe explicar", ela sentou na cadeira. "Sakura foi nossa prisioneira por algumas semanas. Diferente da maioria das mulheres, ela não era frágil e muito menos dócil. Pelo contrário, a japonesa era uma espiã que trabalhava para o pai, o que a levou ao nosso esconderijo. Desde de o início, ela e meu irmão não se deram bem. Era óbvio que ele a desejava, pois de fato, Sakura é uma mulher belíssima, de lindos cabelos ruivos e encantadores olhos verdes", ela sorria ao lembrar da amiga. "Mas acredito que o que realmente 'fisgou' Syaoran foi a geniosa e temperamental personalidade dela. Não sucumbia aos encantos de Syaoran Li, e ainda fazia pouco caso afirmando que ele não era tudo aquilo que aparentava ser. Porém...", ela abaixou a cabeça. "A guerra os separou. Ele, por fim, me disse, pela última vez que conversamos, que acreditava que ela não o amava. Chorou muito, se quer saber. E lágrimas vindo dele, só podem ser genuínas".
Shang terminou de escutar o relato surpreso. Admirava aquela mulher corajosa e forte que conseguira prender a atenção de seu filho. Sorriu. Se Syaoran, naquele momento, estivesse livre e liberto, faria o que sempre fez. Correria atrás do que queria.
"Bem, tudo me parece muito repentino. Que os sentimentos são verdadeiros, não duvido. Só esperava que essa história tivesse um final feliz, mas como vejo, ela terminou num desfecho muito triste".
"Eu ainda não perdi minhas esperanças!", Meiling caminhou até ele e segurou sua mão. "Meu irmão pode ser arrogante e metido, mas é dotado de extrema inteligência e com certeza, saíra dessa situação".
Assim esperava. Mas o que mais se orgulhava, naquele momento, era ver que a filha estava contente. Afinal, a China inteira sabia que ela iria se casar com um soldado raso. E orgulhava-se ainda mais de ver que ela pouco se importava com comentários maldosos. Existiam muitos homens de boa posição social que estavam dispostos a desposar sua filha. Mas ela, de bom e apaixonado coração, lançara sua sorte ao vento e entregara a Nui, tão simples e tão humilde, mas repleto de nobres sentimentos e de uma coragem doce e inspiradora.
"Hum...", Nui suspirou. "Então seu pai já sabe da história de seu irmão... Não perdeu tempo em contar, não é mesmo?".
"Lógico que não! Meu pai tinha o direito de saber!".
"Eu sei, eu sei...".
A jovem virou-se para ele e Nui notou o pôr-do-sol refletido em seus olhos. Aquela tarde, muito lhe parecia com a primeira vez que a beijara. E aquela lembrança, atormentava seus sonhos. Era delicioso saber que o destino lhe dera liberdade para escolher seu futuro.
"Nui...Eu... Eu estive pensando...", um rubor tomou conta das faces dela. "Lembra de quando eu lhe pedi para... Para que você me fizesse sua?".
"S-sim... Me lembro", ele engoliu um seco. "Porque diz isso, Meiling?".
"Eu ainda quero".
"Mas...".
"Sei que o certo deveria ser esperar até a data do casamento, mas não posso simplesmente ignorar minhas vontades", ela aproximou-se e deu um sorriso sincero. "Você ainda me quer?".
Nui deu um passo para trás. Aquela não era a Meiling que conhecera anos atrás, com um sorriso inocente e a mente ingênua. Olhou para os belos olhos, e viu que neles, além da coragem e do amor, havia uma fagulha de medo. Sorrindo também, ele suspirou. Ela não estava pronta para isso. Não agora.
"Meiling", pegou nas mãos dela, que estavam geladas e trêmulas. "Tudo o que eu mais desejo é consumar o nosso compromisso, temendo principalmente não poder me casar contigo. Isso seria uma garantia, mas eu creio que...", ele sorriu ainda mais confiante. "Você não esteja pronta para assumir tal responsabilidade. A castidade de uma moça é o bem mais precioso que ela possuí. Sei que está tentando me fazer feliz, mas minha felicidade é ver o seu sorriso, é poder estar com você em todos os bons e maus momentos. Agora, que o destino não insiste mais em nos separar, temos todo o tempo de mundo. Sem pressa, está bem?".
Meiling deixou uma lágrima escapar. Afinal, Nui era um bom homem. Saberia esperar até que ela estivesse pronta para se entregar. Sim, tinha um desejo muito grande de pertencer a Nui de corpo e alma, mas também tinha medo. Medo de não agradá-lo, já que havia tido uma educação recatada e assuntos como esse eram completamente banidos dos mais rigorosos ensinamentos. Mas também se lembrava das cozinheiras falando sobre isso. Elas riam ao contar suas experiências, e as mais velhas e sábias diziam que uma entrega deve ser feita quando a amor e a plena certeza de um futuro juntos. Uma mulher desonrada não tinha futuro.
"Nui, eu... eu te agradeço", sem poder se controlar, atirou-se nos braços dele, sentindo ele a abraçar lentamente. "Quando eu era mais jovem, sempre imaginei que meu casamento seria assim".
"Assim como, minha querida?", ele falou contra os cabelos dela.
"Sabe, a maioria das mulheres é obrigada a se casar com um homem que não quer, não é verdade?", ele assentiu, mesmo sem entender onde ela queria chegar. "Na minha imaginação, eu queria que o meu marido fosse o homem mais forte, mais belo, mais gentil e amoroso, e não aquele que meu pai escolhesse. Pois, dentro de mim, sempre houve um coração, esperando por você".
"Ora, Meiling...", ele sorriu. "Não sou o mais forte, e com certeza nem o mais bonito... Mas prometo tentar ser o mais gentil e amoroso...".
"Você é o homem mais perfeito do mundo, Nui".
Nui afastou-se um pouco e beijou a testa dela com carinho. "Meiling, eu sempre fui muito descrente da felicidade... Quando o meu pai faleceu e tive que seguir o caminho do exército, pensei que o meu destino seria morrer também em um campo de batalha. Me resignei, porque tudo o que eu fazia era para lutar pelo bom nome de minha família. E eu tenho um pedido a fazer, já que você mostrou que meus sonhos não eram tolos", ela sorriu com carinho, e assentiu muito de leve com a cabeça. "Venha conhecer minha família".
Meiling novamente sorriu, orgulhosa. Seria uma honra para ela conhecer pessoas tão boas que eram motivo de felicidade para ele. "Está bem! Nada me agradaria mais!".
Num silêncio confortável, eles seguiram pelas ruas agitadas de Honk Kong. Muitos olhares eram perscrutadores, nada amigáveis. O povo acreditava fielmente que Shang Li havia enlouquecido por entregar a filha caçula a um soldado de tão baixos recursos. Porém, havia sempre as pessoas que o fitavam com simpatia, e com muita admiração. Afinal, haviam quebrado um tabu, que com certeza ainda seria seguido por muitos anos. Mas eles tiveram o poder de mudar o destino. E isso os deixava orgulhosos e contentes.
Chegaram a uma casa humilde, mas muito bem cuidada. Assim que se aproximaram, ouviram um assobio alegre, vir da casa. Nui sorriu. Seu irmão era um jovem muito otimista, sempre com um sorriso no rosto. Com certeza, ele e Meiling iriam se dar bem.
"Nabu!!!", ele gritou. Ouviu o barulho de algo cair no chão e controlou-se para não gargalhar. Ele também era muito desastrado.
Meiling observou um jovem correr, com um sorriso no rosto. Tinha os cabelos negros exatamente como os de Nui, só que mais curtos. Era bastante magro, com a face um tanto pálida. Mas com um sorriso contente. Quando chegou perto do irmão mais velho, o abraçou, com muito carinho. Lágrimas vieram a seus olhos. Jamais esperaria conhecer a família de Nui, mas estava ali. Presenteando tão fraternal cena e não se sentindo uma intrusa. Foi quando o irmão dela o olhou, com os enormes olhos castanhos, tão diferentes dos olhos prateados do irmão.
"Srta. Meiling Li!", ele curvou-se, com tanta devoção, que Meiling desviou o olhar. Será que a veriam sempre assim? A filha do general, e não a esposa de Nui? Decidida, ela exclamou.
"Não precisa se curvar", se esforçou, mas o tom pareceu magoado. Nui entendeu e aproximou os dois. Não queria um clima ruim no primeiro dia deles como uma família.
"Nabu, ela será minha esposa".
"O quê?", ele exclamou, levando a mão a boca, e depois, abrindo um largo sorriso. "Parabéns, mano! Tirou a sorte grande, não é mesmo?", ele aproximou-se de Meiling e pegou suas mãos, com uma expressão muito calma. "Sei que possivelmente, não terá uma vida tão luxuosa como a que teve com seu pai, mas prometo fazer de tudo para que se sinta a vontade em minha casa".
"Ora, para quem viveu tanto tempo na guerra, sua casa será um palácio", Meiling fez graça, e Nabu deu uma risada alta. "Será uma honra fazer parte da sua família".
"A honra será nossa... Mas, onde estão meus modos?", ele apontou a casa. "Mamãe vai ficar feliz com a notícia. Vamos informar a ela!".
Meiling fez que sim com a cabeça, e foi encaminhada por Nui e Nabu. Se pareciam muito, apesar dos traços de Nabu serem mais suaves e gentis. Observou os dois conversarem e rirem. Eram uma família unida, que não havia permitido que a guerra destruísse suas forças e nem suas esperanças. Sorriu interiormente. Era isso que sonhara, desde de criança. Ser uma pessoa simples, amada pelo o que ela era e não pelo o que ela tinha.
Observou o pequeno canteiro com as mais belas flores que ela já havia visto. Com certeza, criadas com muito amor. Foi quando viu uma peônia. Lembrou de queridas palavras. "Não acredito na utilidade das flores, mas se eu pudesse escolher um como minha preferida, eu escolheria uma peônia". Syaoran dissera isso uma vez, em uma das únicas conversas calmas que ele tiveram antes de irem para o Japão. Controlou as lágrimas insistentes. Nem sabia ao menos se Syaoran estava ou não estava vivo. Aquela angústia cresceu em seu peito, mas diminuiu quando viu a flor que estava do lado. Era uma flor de cerejeira. Era mais do que certo. O destino sempre dava um jeito para que Sakura e seu irmão pudessem permanecer juntos. Não em corpo. Mas em presença e espírito.
"Você está bem, cunhada?", a colocação foi tão carinhosa que Meiling sorriu.
"Lembranças, Nabu... Meu irmão se tornou um prisioneiro de guerra e nem ao menos sei se ele está vivo nesse momento".
"Talvez minha palavras não sejam de grande consolo, afinal jamais participei de uma guerra e não tenho intenção de fazer isso. Mas os prisioneiros de guerra tiram suas forças das lembranças que passaram com as pessoas amadas. Com certeza, o Sr. Syaoran lembra de você sorrindo e em seus melhores momentos", aproximou-se e secou gentilmente suas lágrimas. "Você, nesse momento, vai encontrar uma pessoa muito especial. Minha mãe vai sentir sua tristeza e conseqüentemente vai se entristecer também. Por isso, mantenha um sorriso no rosto e passe para ela toda a sua alegria".
Nui observou a interação de seu irmão com sua noiva, e ficou agradecido aos Deuses por ter a oportunidade de ver essa cena, que tanto o comovia. Logo, logo, também veria seus filhos crescerem naquele ambiente de paz, e depois de muitos anos, se o destino permitisse, ainda veria seus netos. Aposentaria-se do exército. Jamais gostaria de deixar Meiling desamparada, esperando por ele noites a fio, sem dormir, sem comer. Sabia bem do que falava, pois quando pequeno, sua mãe fazia exatamente a mesma coisa. Trabalhava o dia inteiro, e a noite, sentava-se em frente de casa e com a mão no coração, rezava para que seu pai voltasse vivo. E da última vez, quando recebeu a notícia de que ele havia morrido, a dor foi tão grande e a doença que a acometeu tão grave, que ela contraiu a cegueira. Era por isso que a admirava tanto. Com seus problemas físicos e emocionais, ela havia se fortalecido na própria tristeza e dela, extraído as forças para continuar criando ele e Nabu. O que fez muito bem. Sentiu um delicioso cheiro. E sorriu ao ver a figura esguia da mãe cuidar de pequenas flores.
"Mãe?".
Ela virou-se lentamente, deixando o cântaro que usava cair no chão. A água molhou seus pés e a barra do modesto quimono, mas ela não pareceu se importar. Observou ela caminhar, muito devagar, segura, como sempre fora. Ao aproximar-se, sentiu a mão ainda tão jovem tocar seu rosto, dedilhar cada centímetro de sua pele. Um sorriso meigo e gentil foi aparecendo na face corada. Os cabelos, castanhos da cor do caule de uma árvore, não tinham nenhum fio branco. Ela era muito nova ainda, havia se casado jovem. Os olhos, apesar de nada verem, não eram opacos, e sim de um prateado que iluminava suas vistas.
"Meu filho...", ela o abraçou, com toda a força. "Você voltou! Você voltou!".
"Sim, mãe", perdeu na essência tão deliciosa de flores que ela exalava e deixou escapar uma lágrima. Em suas noites mais terríveis, ela era uma imagem persistente que o fazia crer que teria muito que viver ainda.
Meiling observou a gentil mulher, e notou que ela era cega. Apesar de não parecer, já que os olhos eram muito vivos e brilhantes. Pareciam raios prateados que a Lua jorrava num rio. Temendo quebrar aquela magia do reencontro de mãe e filho, não se apresentou. Permaneceu quieta, com um sorriso tímido no rosto. Logo, a mulher virou-se para ela e arqueou as sobrancelhas.
"E você, minha filha?", como ela havia notado sua presença tão silenciosa? "Sou Yan Bi, mas não consigo identificá-la. Eu, por acaso, a conheço?".
"Meiling Li, minha senhora", ela curvou-se.
Yan calou-se por um momento, e a chinesa sentiu que ela a avaliava, que podia vê-la. Tomou a iniciativa e disse, com a voz mais doce. "Nui fala muito da senhora. É um prazer conhecê-la. Espero... bem, eu gostaria que nos déssemos bem".
"Minha filha, eu sinto grande gentileza nas suas palavras, mas sinceramente, desconheço o motivo de sua vinda. Tem algo a ver com um dos meus filhos?".
"Tem sim, minha mãe. Eu e Meiling iremos nos casar".
Não viu raiva nos olhos da gentil senhora, e sim uma dúvida que parecia deixar ela confusa. Por alguns minutos, o silêncio prevaleceu entre as quatro pessoas. Mas, logo em seguida, Yan abriu um sorriso fraco e puxou sua mão. "Posso falar com você por alguns minutos?".
"Lógico".
Caminharam sobre os olhares curiosos dos dois filhos. Chegaram até uma clareira onde havia um banco de madeira. Sentaram-se sobre as sombras que uma árvore projetava e logo, Yan começou a falar.
"Você é a filha do general Shang Li?".
"Sim, senhora".
"Você irá me perdoar, mas não vejo motivo para querer sair da sua vida tão cômoda para casar-se com Nui. Nós não temos nada a lhe oferecer", a mulher fechou os olhos. "Não quero que faça meu filho sofrer, menina".
"Eu a entendo", Meiling fitou o céu, que começava a escurecer. "A senhora não foi a primeira me perguntar os motivos pelo qual estou fazendo isso. Mas não há palavra melhor para expressar a razão de minhas ações: Amor. Eu amo o seu filho. Quando o conheci, em meio à tão conturbada revolta, percebi que estirpes ou classes diferentes não fazem o coração de uma pessoa. Não espero uma vida de luxo. Só gostaria que entendessem que meu verdadeiro intuito é me fazer e fazer Nui feliz".
Yan escutou as palavras com muita atenção. Realmente, aquela garota estava pronta para modificar sua vida em prol a um sentimento. Estava mais do que orgulhosa da escolha que o filho havia feito. Não queria admitir, mas Meiling lhe lembrava muito ela mesma, na sua juventude. Abandonando tudo e todos para poder ser feliz com quem amava.
"Sou uma mulher que acredita nos valores morais das pessoas e nos nobres sentimentos. Já sofri realmente muito. Inicialmente, quando meu marido ainda estava vivo, vivíamos na mais completa paz e fartura. Ele era um bom soldado, e trazia o sustento de nossa família. Mas quando ele morreu, eu senti que não poderia seguir. Mas eu tinha que fazer isso, por mim e por meus filhos. Não estou querendo me vangloriar, mas não conheço muitas pessoas que tenham a força que eu tenho. Acredito que você seja a pessoa certa para meu filho, mas e a sua felicidade. Com a dele, eu já não estou mais tão preocupada. Afinal, você demonstrou um amor incondicional largando suas riquezas para pertencer a minha família, tão humilde. Mas eu me pergunto se ele a fará feliz. Se você faz isso apenas para provar que pode viver sem o dinheiro de seu pai. Não quero que me entenda mal. Quero que apenas escute o seu coração e faça o que ele mandar".
Meiling esforçou-se para não chorar. Aquela mulher ainda não confiava nela. Acreditava que ela fazia isso por um capricho próprio, o que realmente a machucava. Quando as pessoas entenderiam que o material vai e vem, e o que sentimos dentro do coração era o que importava? Talvez aquela mulher estivesse certa, ou talvez estivesse errada, mas só queria que ela compreendesse que seus sentimentos eram de fonte verdadeira. "Eu escuto apenas o que meu coração fala. Não tenho dúvidas quanto ao que quero e acredito que Nui também não tenha. Só gostaria realmente que as pessoas entendessem", suspirou. "Mas não posso reclamar, pois desde de o início, eu sabia que iria ser difícil".
"Me perdoe a ofendi com a minha desconfiança, menina", a mulher pegou sua mão e sorriu. "Mas é uma situação que eu nunca imaginei passar".
"E se quer sinceridade", Meiling permitiu-se esquecer de sua zanga e sorriu. "Eu também. A vida nos prega cada peça".
"Sim, sim", a mulher se levantou, e tocou o seu queixo, com o amor de uma mãe para com uma filha. "Você agora, a partir desse instante, faz parte da nossa família, menina. É como se fosse minha filha, a garota que meu falecido marido não me deu".
Filha... Aquela palavra era tão gostosa vindo da boca de uma pessoa querida. Sorriu, com as lágrimas de emoção, aflorando em sua pele. Tinha uma mãe, um marido, um cunhado... Ganhara tudo aquilo, em razão da guerra. Levantou-se e atirou-se nos braços daquela mulher gentil, permitindo aliviar suas tristezas.
"Chore, minha querida", Yan disse, em um sussurro compreensivo. "Mas lembre-se de recompensar cada lágrima com um belo sorriso".
**
Touya entrou no escritório de Takawi, com os pensamentos fervendo. Desde de a partida de Eriol de sua casa, o clima ficara muito estranho e desconfortável. Sakura sempre comia em seu quarto, e quando aparecia, os olhos estavam inchados, as bochechas pálidas e voz fraca, sofrida. Não conseguia parar de pensar que a culpa de toda aquela situação era sua. Se pudesse, podia evitar que Syaoran Li morresse enforcado. Mas o seu orgulho, tolo orgulho que ele não conseguia tirar do coração, o impedia de fazer isso. Queria vingar a morte de seu pai, de sua esposa e de seu filho.
Observou o local e notou o aspecto vazio que ele tinha. Muitas vezes, pegava Takawi sentado em sua poltrona, com os olhos tristes, fitando algum ponto do horizonte. Não era novidade para ninguém que ele ainda amava a esposa, tanto que não havia se casado novamente. E ainda sim, era um homem amargurado. Perdera tudo o que tinha de precioso. A mulher e a filha. Por isso, iria fazer o que planejara a noite inteira.
Takawi sempre mostrara que queria o posto de general das tropas. Era muito competente, ajudava seu pai em todas as tarefas possíveis. Nessa guerra, trabalhara como ninguém para se assegurar que tudo seria feito com esmero. E isso deixara Touya admirado. E era por isso que passaria o cargo que seria seu por direito para ele. Estava cansado.
Os assuntos bélicos já não lhe pareciam tão interessantes e atrantes. Cada vez mais, a palavra guerra lhe despertava um ódio mortal. Pois naquela maldita batalha, sua família, a qual considerava perfeita, havia desmoronado. Lembrar-se disso o fazia cerrar seus punhos e desejar que nada aquilo houvesse acontecido.
Não era natural e nem bom para um homem deixar-se ser tragado por lembranças. Mas estava sozinho. Quando acordava, todas as manhãs, sentia aquele perfume delicioso vindo do seu lado. Olhava para cama, e pensava que o corpo frágil de Tomoyo adormecia, envolto em fina seda. Era quando percebia que estava completamente só. Que as ilusões eram apenas fantasmas a assombrar sua vida e retirar sua paz interior.
E ainda se lembrava dos bons momentos que passara com seu pai. Das conversas longas, dos jantares em família e do treinamento para guerra. Fujitaka havia sido um homem exemplar em vida, e mesmo depois de morto, era lembrado com muito respeito por todos. Sempre comandara o país com justiça e com total serventia ao imperador.
Sentou na cadeira que pertencia ao sogro e olhou para a mesa tão friamente organizada. Não havia um vaso com uma flor. Tudo em tons pastéis. Pareciam obras mortas. Um livro em especial chamou sua atenção. Diferente dos outros, ele tinha uma coloração dourada e o nome de Takawi estava escrito em vermelho vinho. Talvez fosse um caderno de anotações.
Por algum motivo, ele não conseguiu recolocar o livro no lugar de onde o tirara. Parecia que algo o impelia a abrir aquele caderno e ler. O quanto mais sua consciência mandava, mas ficava tentado. Abriu a primeira página e começou a ler.
"Hoje, minha filha disse suas primeiras palavras. Fiquei realmente muito orgulhoso dela, pois quanto mais ela cresce, mas ela se torna parecida com minha falecida Sonomi. Os anos estão passando, na minha opinião, muito rápido, consumindo meu tempo. A vida tem se tornado cada vez mais difícil, e meus planos, cada vez mais complexos. Kaho vem me ajudado, mas ela sabe que é arriscado mantermos nossa relação em segredo. Ainda mais agora que firmamos o compromisso de casarmos nossos filhos. Tinha certeza de que no início isso facilitaria tudo, mas vejo que ainda terei problemas... Fujitaka está muito atento e desconfiado. E ainda tem o problema com a China... E é nesse aspecto que vou me aproveitar...".
Touya arregalou os olhos. Não estava entendo absolutamente nada. Na verdade, tudo lhe parecia muito confuso. Instigado a descobrir que planos seriam esses, ele virou mais algumas páginas e caiu numa folha que descrevia o dia do seu casamento.
Tomoyo, minha pequena magnólia, estava radiante. Parecia um anjo iluminado. Fico me perguntando sinceramente se Touya Kinomoto a merece. Talvez sim, talvez não. Só iremos descobrir isso daqui a alguns anos. Eu a levei até o altar, meio temeroso e inseguro. O quimono vermelho lhe dava um ar de pureza, contrastando com a pele tão branca e com os olhos violetas que refletiam o céu calmo. Os cabelos negros, que ela herdou de mim, estavam arrumados em um coque caprichado. Quando ela me deu o braço, meu sorriso conseguiu vencer todo o meu ódio, por alguns minutos. Afinal, ela era a única pessoa que conseguia manter viva a memória de minha falecida esposa e a única pessoa também que eu amava. A entreguei a Touya e observei a devoção com que ele a fitava. Confesso que fiquei surpreso e um tanto feliz, pois se dependesse de mim, aquele casamento seria próspero. Não me importo, sinceramente, com a felicidade do filho de Fujitaka, e sim com a de minha filha. Jamais permitirei que ela sofra como eu sofri. Com grande pesar, devo admitir que os olhos dela me farão falta, já que ela viveu a maior parte do tempo comigo, e a presença dela transformaria o ambiente em que eu vivia em frio novamente. Observei, por uns instantes, a filha bastarda do general. Belíssima, com os cabelos livres, diferente das outras mulheres. Mas algo nela me fazia temer os olhos verdes. Depois da cerimônia, dancei com Tomoyo. A abracei forte, pois sabia o quanto aquele momento era importante para nós dois. Olhei nos olhos violetas, e lembrei da primeira vez que Sonomi havia dançado comigo. Fora num baile realizado por nossos pais. E quando fitei os tão belos olhos, me senti voar muito lentamente pelo céu. Era como se despertasse pela primeira vez de um sono muito longo. E agora, a cena se repetia. Depois, recompus minhas emoções, as mandei para longe. Não podia fraquejar. O meu envolvimento com Kaho ia de vento em poupa, para se dizer popularmente, nada podia ser mais perfeito do que ter uma amante tão bela. Fujitaka estava caindo, eu sabia disso. Meus planos estavam dando certo e com certeza, daqui a alguns anos, uma guerra explodiria. E eu finalmente vou ver o império Kinomoto cair. E com orgulho, vou me reerguer em cima dele.
Touya deixou o caderno por alguns minutos na mesa e cobriu os lábios com as mãos, pasmo e assustado. Takawi havia traído seu pai. Ele havia provocado essa guerra. Ele era o culpado direto de todos os problemas. Respirou fundo, mas as provas não mentiam. Era ele mesmo. Precisava saber mais. Apesar de pensar que depois disso, não podia imaginar mais atos da parte dele. E o que mais o impressionava, dentre tudo, era que sua mãe estivesse por trás disso. Virou mais algumas folhas e reiniciou a leitura.
Ela voltou. Sakura Kinomoto voltou, depois da chegada de Fujitaka e de meu genro. Na verdade, eu esperava que Fujitaka não sobrevivesse à batalha que vivera na China, mas ele sempre me surpreende com sua maldita sorte e vitalidade. Conseguiu sair ileso. E depois, aquela praga de menina voltou. Meu plano estava saindo como o esperado. Apesar de eu não querer sujar minhas mãos, prometi a Kaho que seria essa noite. Ela havia vindo em meu escritório, perguntar os detalhes da morte de Fujitaka. Mas eu não estava convencido, e um tanto inseguro. Minhas lembranças me assombravam novamente. E dentre elas, Sonomi era a mais presente. Tanto que quando Kaho se aproximou, eu não senti desejo, e sim um horrível desprezo. Tenho que concordar que ela é uma oferecida. E que o motivo por ela estar fazendo isso são as mágoas do passado, ou seja, o fato de Fujitaka ter amado uma gueixa e ter permitido que a filha deles fosse reconhecida. Mas nesse aspecto, eu não podia julgá-la, porque estava fazendo tudo isso em prol as injustiças cometidas no passado também. Ele sempre conseguia tudo mais rápido. Fujitaka tinha a esposa com ele, os filhos. Era isso que eu quero tirar dele. A motivação de viver. Espero que essa guerra mate Touya e Sakura. Assim, a linhagem Kinomoto estará findada para todo o sempre. Foi na hora do jantar. Kaho colocou o veneno de rato no prato de Fujitaka, com algumas gotas de beladona, para o caso de ele não morrer instantaneamente. Foi quando ele caiu morto no chão que eu senti minhas esperanças formarem um rio de infinitas possibilidades dentro de mim. E controlei-me para não sorrir diante da dor na expressão de todos. As lágrimas de Kaho eram tão forçadas que só tolos como eles não notavam que eram falsas. Mas estava acabado. O Japão é meu. Touya jamais abandonaria minha filha para seguir os passos do pai. E Sakura é uma mulher. Uma mulher inteligente e diferente, eu sei. Só que pelas nossas leis, felizmente ela não pode ocupar um cargo tão importante. A família Daidouji iria renascer, e depois do fim da maldita guerra, colocaremos o Japão, onde ele deve ficar.
Seus olhos encheram-se de lágrimas. Levantou-se rapidamente e não se importou com a cadeira que caiu no chão, nem com a folha que arrancara do diário dele. Uma raiva sem igual o consumia. E toda a sua tristeza, que minutos atrás não parecia ter fim, havia sido substituída por um desejo de vingança que jamais ocupara seu coração.
Fora cego. Por anos e anos, Takawi havia planejado aquela situação. Desde de os tempos em que Tomoyo era de colo. Não podia acreditar. Como uma pessoa que aparentava tanta calma, tranqüilidade e amizade a família Kinomoto podia ter uma mente tão maldosa? Tão calculista e fria? Passou a mãos pelos cabelos até estancar por alguns minutos. Não podia se esquecer...
Sakura tivera razão. Sua mãe não era de confiança. Antes, uma mulher amorosa e gentil, mas assim que Sakura veio morar com eles, se tornou amargurada, desconfiada. Passava seus dias trancada em seu quarto. Pelo menos era isso que aparentava. Por que com base naquelas palavras feitas pela mente doente de seu sogro, era muito provável que toda aquela fachada servia apenas para encobrir seu relacionamento com Takawi. Não conseguia acreditar. Ainda esperava estar sonhando e a qualquer momento acordar. Não era aquela a família perfeita? Um general dedicado, sua esposa fiel, a filha comportada, ele mesmo o homem honrado? Aquilo sim seria um bom tema para os romances de Eriol. E o que irritava mais era saber que as personagens dessa trama maldita eram eles. Sua família. Sua linhagem que, antes considerava perfeita.
"Droga!", bateu com a mão fechada na mesa. A raiva era tanta que poderia matar alguém. Mas não era isso que iria fazer.
"Touya?", ouviu duas vozes, e virou-se para ver Takawi e Kaho, o olhando, assustados.
Aquelas vozes lhe despertaram uma angústia, um ódio e um descontrole total. Aproximou-se, notando sua mãe ir ficar atrás de Takawi, temendo sua expressão furiosa. Mas não se importou com a etiqueta e nem com as boas maneiras. Afinal, aquele homem trapaceiro não havia feito tudo usando a maldade. Em um golpe certeiro, acertou um soco na face do homem, que cambaleou para trás, surpreso.
"Touya!", Kaho ajudou o ministro a se levantar e depois fitou o filho, confusa. "O que deu em você?".
"Sua... sua... sua vadia!", ele gritou, e quando ia acertar um tapa no rosto da mãe, a mão de Takawi segurou seu braço.
"O que está fazendo, Touya?".
"O que eu estou fazendo?!? O que eu deveria ter feito a muito tempo! Vocês não estavam contando com isso, não é mesmo?!?, e apontou na direção do diário aberto. Tanto o ministro como sua mãe arregalaram os olhos, surpresos.
"Você... você leu meu diário?", a fala de Takawi era pasma.
"Sim, sim...", deu um sorriso irônico. "Sei agora de tudo, seu maldito filho de uma porca!", apontou o dedo para a mãe. "A senhora foi uma decepção. Entregou-se a ele como uma cadela no cio, esperando apenas o momento certo para matar o meu pai, não é mesmo?!?".
"Touya... Oh, meu Deus", Kaho escondeu o rosto entre as mãos e começou a chorar. O ministro ainda estava paralisado, olhando para o diário aberto e com as mãos trêmulas.
"Não me venha com os seus suspiros afetados e com seus gemidos falsos, sua desgraçada! Eu confiava em você, mas agora, nem se ao menos, posso te chamar de mãe! Tenho nojo de ter saído do seu ventre!".
Takawi nada disse. Aproximou-se da mesa, e num silêncio mórbido, tirou de dentro de uma gaveta uma arma prateada. Touya não se assustou. Aquele homem não iria ficar impune. Uma arma não iria parar o filho do general Fujitaka.
"O que vai fazer, Sr. Ministro??", pergunto, sarcástico. "Atirar em mim?? Ora, vá em frente! Não é uma boa idéia? Matará dois coelhos numa cajadada só! Além de se livrar de provas que o condenariam a morte, acabaria com a linhagem Kinomoto, não é mesmo? Vamos, me mate! Só quero que saiba que sairei do inferno para te buscar!".
"Não!", Kaho se postou na frente dele, com os olhos suplicantes. "Takawi, não o mate! Por favor! Ele é meu filho".
Touya a empurrou com força. "Saía, mulher! Não tenho mãe!".
"Matar você, Touya?", Takawi deu um sorriso fraco. "Me diga, porque eu faria isso? Eu já consegui o que eu queria, de todas as formas possíveis. Não se pode ressuscitar os mortos e muito menos reverter o destino deles. E seu pai, meu grande inimigo, está morto. Você não pode fazer nada quanto a isso. E sabe o que dá mais prazer?", ele girou a arma entre as mãos. "É saber que Tomoyo morreu não amando você. Que durante anos, enquanto ela deitava-se com você, via o rosto do inglês Hiragizawa, não é mesmo? Ela não dava prazer a você, seu tolo! Ela imaginava outro na cama! E não há melhor remédio para sua prepotência! Você não é homem o suficiente para fazer uma mulher se apaixonar por você", Touya ameaçou se aproximar, mas Takawi colocou a ponta da arma na cabeça. "Não se esforce, garoto! Vou facilitar as coisas para você! Nos vemos no inferno, Touya Kinomoto!", e com essas palavras, ele apertou o gatilho. E caiu morto no chão, segundos depois.
Touya nada disse, mas também não se importou com aquilo, afinal, depois daquelas palavras, o que mais queria era que Takawi pagasse com os mesmos sofrimentos que toda a família fora obrigada a passar. Estava cansado de ser obrigado a sentir pena de todos aqueles que cometiam falta. Observou Kaho chorar, no chão, com a maquiagem perfeita toda manchada, as lágrimas negras do lápis que ela usava. Sim, ainda amava aquela mulher que havia lhe dado a luz. Mas o ódio consumia seu coração e ele não iria permitir que ela o fizesse de tolo novamente. Aproximou-se a fazer levantar, puxando-a pelos cabelos.
"Você não terá o mesmo destino que ele, sua maldita...", aproximou os lábios do ouvido dela e sussurrou em tom sardônico. "Vague, pois na minha casa, em minha mansão, vagabundas não dormem. Não quero ver o seu rosto nem por mais alguns segundos".
Escutou passos, e logo Sakura entrava no cômodo. Os olhos verdes se arregalaram, e ela avaliou a cena, assustada. Takawi, morto com um tiro na cabeça. E Touya segurando a própria mãe pelos cabelos. Ela tinha um vergão no braço, e a marca das lágrimas rolando com insistência por seu rosto.
"O que está acontecendo, Touya?".
"Essa maldita e esse desgraçado, Sakura", e quando viu sua irmã, notou o quanto longe ia. Soltou os cabelos da mãe e observou ela se encolher no chão. Ela o temia. Sua própria mãe tinha medo do que ele iria fazer. Controlou as emoções e aproximou de Sakura, e a abraçou.
"Touya...", ela disse, suavemente.
"Essa mulher, Sakura... minha própria mãe... ela matou nosso pai, Sakura... junto a esse homem...".
Ao contrário do que pensava, Sakura não chorou. Apenas se afastou dele, e com os olhos decididos, caminhou até a mulher caída no chão.
"Você matou meu pai, Kaho?".
"Sim... e se você quer saber, não me arrependo! Pois eu jamais o amei! Fiz meus sacrifícios para poder subir na vida, e consegui!", ela encarou Touya, e depois Sakura, e deu um sorriso forçado. "Posso ser maldita, desgraçada e vagabunda, mas não sou uma bastarda! Não nasci de uma mísera prostituta! Fiz tudo por mim mesma! E você, sua garota impertinente, teve tudo o que mereceu. Seu sofrimento, seu seqüestro! Ah, eu não peço mais nada!", olhou para Touya. "Apesar de eu amar você demais, eu devo admitir que você é um fraco! É filho do seu pai!".
"Cale a boca!", Sakura esbravejou, e com a força de sua pequena mão, deu um tapa na cara de Kaho, que segurou a bochecha com a mão, ainda com um sorriso no rosto. A japonesa de olhos verdes se afastou, como se o toque a enojasse. "Você é indigna de falar o nome do meu pai, pois ele, em sua santa paz, a despreza, Kaho! Você não terá o perdão dos Deuses! E muito menos o nosso! Sim, bastarda eu sou, impertinente também, mas tenho minhas mãos tranqüilas, pois jamais traí ninguém!".
A bela mulher de olhos avermelhados passou a mão pelos lábios, que sangravam. Caminhou até o corpo de Takawi e retirou a arma de suas mãos. Com ela na mão, proferiu as seguintes palavras, ainda sarcástica.
"Escutem, vocês dois! Mereceram tudo que tiveram, tudo o que sofreram! A morte daquela desgraçada da Tomoyo, e a de seu pai também, outro fraco! Espero que vocês aprendam algo, com o que acabou de acontecer aqui! A ambição me levou e levou o ministro ao topo. A bondade e a justiça são formas do ser humano mostrar que pode vencer honestamente, mas no interior, toda pessoa sabe que não há maneira justa de vencer a vida! Que há sempre uma mentira que a salva! Vocês dois sempre estarão caindo, pois passaram a vida posando de uma santidade que ninguém tem!", colocou a arma dentro da boca e atirou. Caiu inerte, ao lado de Takawi.
Os dois irmãos nada disseram. O silêncio foi o único conforto que encontraram naquela situação que jamais imaginaram passar. Touya, apesar de tudo, sentia pela morte da mãe. Mas sabia que depois de todas as cruéis palavras, ela não se arrependia de seus cruéis atos. Merecia morrer e receber o castigo divino, que com certeza seria providenciado. Olhou para Sakura e não recuou. Deveria dizer a ela o que iria acontecer.
"Amanhã, Syaoran Li será morto", os olhos dela estavam inexpressivos, ainda encarando os corpos mortos. "Vou mandar alguém tirar esses corpos e mostrar as provas ao imperador".
O coração da japonesa, por alguns segundos, parou de bater. Ela sentiu que ele sangrava, doía. Quando? Quando aquela chacina iria parar? Quantas mortes mais seria obrigada a presenciar. Até perder exatamente tudo? Mas fizera uma promessa, não é mesmo? Estaria com Syaoran, na hora que ele mais precisasse.
**
"Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe?", Yukito repetiu, mais uma vez. Sakura meneou a cabeça, com um sorriso gentil.
"Prefiro ver tudo sozinha, Yukito", em suas mãos, uma pequena peônia. Não sabia porque a levava, mas quando vira a flor no jardim, a pegara na mão. "Ele vai precisar de mim".
"Sakura...".
"O que foi?", ela perguntou.
"É... nada, não", Yukito abriu um sorriso e abraçou ela com carinho. "Seja forte, está bem?".
"Sim, serei. Ele precisa de confiança, e não de lágrimas", afastou-se e sorriu. "Eu não demorarei".
Começou a caminhar em seus passos mais lentos e vagos. E cada vez que caminhava, sentia-se aproximar do seu final de vida. Pois a morte dele, de uma maneira ou de outra, acabaria por tornar seus dias frios, sem mais nenhuma motivação.
Saiu da mansão, muito lentamente. De longe, parecia escutar uma música. Doce música na melodia de uma flauta. Yukito gostava de tocar instrumentos. E aquela música a fez lembrar das palavras queridas. Da declaração tão bonita, tão emocionante que Syaoran havia feito. Ele a amava. Ela não conseguia acreditar. Tinha forças para continuar apenas por saber disso. Por saber que para sempre, ele estaria ali, zelando sua vida com seus maravilhoso olhos dourados.
Olhos que invadiam sua mente dia e noite. Quando mais precisava de paz, mais ela sentia aquele olhar tão poderoso sobre seu corpo, sobre sua alma. Não conseguia esquecer. Ou melhor, não queria esquecer. Pois isso era o amor. A vontade louca de deixar tudo para trás e seguir os passos daquele que se ama, sem se importar com mais nada.
Mas a morte dele não era um obstáculo tão fácil de ser transposto. Tudo parecia acontecer contra eles. O destino, que os unira em uma guerra triste, os fizera entender que para cada male, existe um bem. Mas não era dessa maneira que conseguia aceitar a decisão de Syaoran de não lutar pela vida. Era apenas pelo fato de que precisava que ela o entendesse. E o ajudaria. Não importava o quanto tivesse que sofrer.
Aproximou-se da praça central, e perguntou-se qual era o prazer dos cidadãos em ver um homem morrer. Um homem sofrer. Mas todos pareciam muito contentes. Afinal, a morte dele seria o significado da derrota chinesa. O que alegrava o povo japonês. Em silêncio, foi abrindo espaço entre a multidão. Não queria ser vista. As pessoas apontando para seu rosto, perguntando o motivo de sua vinda ali, era demais para ela.
A bancada feita de madeira estava pronta. Um homem estava ao lado da corda que findaria com seus sonhos. Naquele momento, só gostaria de poder vê-lo. De saber se ele estava sendo muito maltratado ou já estava melhor. Se sentia saudades. Aquela angústia era uma das únicas razões que a impeliam ali, naquele momento, o desejo de ver ele. Forte, orgulhoso, confiante. Seu Syaoran Li.
Na bancada, também estavam Touya, o imperador Ming e alguns ministros. Seu irmão a olhou, e deu um sorriso fraco. Ele estava arrasado com os recentes acontecimentos. A morte de sua mãe e de Takawi havia chocado o país, que já sabia de sua traição. Todos comentavam. E a família Kinomoto se sentia incomodada com tal atenção, mas não se abalava. Ela mesma estava ali. Para provar que a traição só significava algo: Que eles teriam que se reerguer novamente.
Um dos homens colocou-se a frente dos outros, e com a voz alta e repleta de orgulho, gritou. "Neste dia, o prisioneiro chinês Syaoran Li será enforcado por liderar o país inimigo. O carcereiro o buscara nesse exato momento e daremos início a cerimônia".
Preparou-se. O coração praticamente saltou pela sua boca, mas ela nada disse. A primeira lágrima caiu, mas ela tratou de secá-la. Não queria que ele a visse derrotada pelo fim desse relacionamento. Ergueu a cabeça e esperou. Ele não tardaria em aparecer.
Logo, as pessoas começaram a se impacientar. Até Sakura estranhou a demora da vinda dele. O povo começou a gritar e a se tumultuar, e em seguida, o carcereiro gritou, subindo a bancada, desesperado. "O prisioneiro fugiu".
Sentiu um peso sair de suas costas. As lágrimas de mais repleta felicidade ainda escorrendo por seu rosto. Caminhou, não importando-se em ser empurrada ou não. As pessoas corriam, desesperadas, temendo que ele estivesse andando entre a multidão, mas Sakura sabia que não.
Provavelmente, ele estaria pegando um navio e partindo para a China nesse exato momento. Esse era Syaoran Li, não é mesmo? Sempre, em qualquer situação, conseguia se livrar. Estava orgulhosa. O homem que ela amava havia lutado pela vida, exatamente como ela queria. Nada podia deixá-la mais feliz. Ele desfrutaria o sabor da liberdade. Sentiu um toque em seu ombro e a esperança cresceu, desenfreada. Virou-se, muito devagar.
"Você tem algo a ver com isso, Sakura?", a voz de Touya, autoritária e irritada, a tirou de seus mais doces sonhos.
"Não, Touya", ela abaixou a cabeça. "Eu nem sei onde ele está".
Touya partiu, mas o vazio ficou. Porque? Porque ele não havia chamado por ela? Ela não teria hesitado em largar o que restava de sua família para viver com ele na China. Será que ele a amava mesmo? Ou será que dissera tudo aquilo apenas para enganá-la e fugir sem que ninguém soubesse? Tinha muitas dúvidas, e a maioria delas machucava seu coração insanamente. Tentava não pensar nisso, mas era muito difícil. Cada vez mais se afastava da multidão, cada vez mais se aventurava na solidão. E quando pensava que Syaoran novamente teria uma vida normal, não trazia raiva. Trazia dor. Um sentimento tão triste, que não conseguiu imaginar se poderia respirar.
Reencostou-se em uma árvore muito antiga e fitou o céu azul. Tinha que recomeçar a sua vida. Syaoran não parou a vida dele para lutar por ela. Ela não podia fazer isso também. Tinha que ser forte. Tomou o caminho de casa. Yukito a esperava lá. Talvez, pudesse voltar a ser feliz com ele...
Continua...
Muito boa noite a todos vocês!
Primeiramente, eu gostaria de agradecer a todos os review que me mandaram! Passei por uma fase muito complicada, mas agora estou bem melhor, e em grande parte graças à ajuda e a compreensão de vocês! O outro assunto que tratarei, creio que será de interesse de todos vocês!
O meu fic, O Coração de Uma Guerreira, está em sua reta final. Esse foi o penúltimo capítulo, e daqui a alguns dias, o último estará chegando com um epílogo para ninguém botar defeito! Ou seja, daqui a alguns dias, o meu novo fic vai estar aparecendo na fanfiction.net. É justamente sobre ele que eu vou falar!
Ele se chamara Candy Pleasures (Doces Prazeres). A história se passara em Londres, no bordel de mesmo nome que o fic. Se eu contar mais alguma coisa, estragarei a surpresa! Mas antes de recusarem-se a ler o fic pelo tema que ele irá abordar, vale lembrá-lo que se eu decidir colocar Hentai, o que é bastante improvável já que eu não consigo trabalhar com esse assunto facilmente, eu avisarei a vocês. A classificação ainda está por ser definida, mas acredito que será PG. Por isso, se vocês quiserem ler, coloquem essa classificação, está bem? Mas não se preocupem! Nada forte e nem muito pesado! A história está mais centralizada nos sentimentos da Sakura e do Syaoran, e da posição que se encontram em cada uma das situações! Nada mais falarei se não estragarei a surpresa!
E quem gosta de Inuyasha, podem esperar! Estou com um novo projeto e esse com certeza vai para a fanfiction também. Só que estou precisando de uma certa ajuda, e se não for pedir demais, eu gostaria de que se, alguém se interessasse pelo assunto... Entrasse em contato comigo. O meu e-mail está no profile, mas caso alguém esteja com preguiça de ir ver: jenny_ci741@hotmail.com. Recado dado, agora é com vocês! Quem estiver aberto a me ajudar...
Antes de começar os agradecimentos costumeiros, eu gostaria de pedir desculpas a Yoruki Mizonutsuki: Amiga, eu sei que prometi a participação das suas idéias, mas infelizmente surgiram idéias na minha cabeça e eu não pude desperdiçar! Espero sinceramente que você não tenha se entristecido comigo, está bem???
Agora, vamos aos agradecimentos:
Warina-Kinomoto: Você acreditaria, se eu dissesse que não sabia que você tinha um fic de SCC na fanfiction? Me desculpe, mas agora que percebi, prometo ler, está bem? Agradeço pelos inúmeros FOFA, E concordo com você, o Yukito e a Sakura não combinam...! Obrigada pelo review! Bjs!
B166ER: Sim, é sempre muito difícil perdermos pessoas queridas, mas o melhor a fazermos é colocarmos todas as nossas emoções no papel e deixar a criatividade criar asas e voar! Que bom que gostou do Yukito ter salvado o Syaoran, essa idéia sempre passou pela minha cabeça, assim que eu comecei a escrever o fic... Obrigada pelos elogios!
Yoruki Mizonutsuki: Não sei porque, mas senti que você ficou sentida... Me desculpe mesmo, jamais minha intenção foi ofender você, viu? Acreditava que as suas idéias eram boas, mas o salvamento de Syaoran feito pelo Yukito passou pela minha cabeça muito rápido e eu não pude deixar de aproveitar essa idéia que me pareceu estupenda! Mas isso não significa que eu não queira mais das suas idéias, está bem? Sua opinião é muito importante para mim! E fico feliz que tenha gostado do capítulo, está bem?
Rafa Himura: O seu review me deixou realmente muito contente! Deixe-me explicar porque: Suas palavras de incentivo foram tão verdadeiras que eu me emocionei! Nunca imaginei que uma pessoa fosse ser tão carinhosa! E sim, eu preciso realmente muito conversar com alguém, para desabafar! Porque as vezes, quando coisas graves acontecem com a gente, é preciso contar com alguém! E com você eu sei que posso! Obrigada pelos elogios, que me valeram muito também! E por mais incrível que pareça, apesar de não nos falarmos muito, considero você uma grande amiga também! Faz um favor para mim? Me manda um e-mail com seu endereço! Quero te fazer uma cartinha, está bem? Agradecendo tudo e também, para te amolar um pouco!
Anna: Obrigada pelos elogios, mas creio que ainda falta muito para eu ser uma ótima escritora que nem você, amiga! Pois com toda a certeza, as suas palavras são a minha fonte de inspiração!
Nina: Nesse exato momento, eu estava falando com você e com a Natasha no msn! O trio inseparável, não é mesmo? Ainda precisamos de um nome para nosso grupo? Eu e a Natasha estamos pensando nisso, nesse momento! Mas que bom que tiramos a conversa em dia, não é mesmo? Estava morrendo de saudades de você! Ah, você sabia que a Natasha é minha parente??? Ela é casada com o meu celular! Só porque ele parece com o Inuyasha...! Vê se pode? Acabamos de escolher a minha personagem! É a Kagome! Ah!!!!!!! Que felicidade! E você é a Sakura, não é mesmo?? Que trio pesado, hein?
Lan Ayath: Obrigado pelo apoio e pelo review! Suas palavras amigas e incentivadoras me ajudaram muito mesmo, viu?
DarkAngel: Oi, Alexiel, tudo bem com você, amiga? Ah, um dia sem falar com você e com a Nina já dá saudades, viu? É, mas agora que nós já temos personagens definidas só falta o nome, né? Bom, nisso eu ainda estou pensando! E o que achou do meu capítulo? Está legal, está médio ou está ruim? Você sabe que a sua opinião sincera é realmente muito, muito importante mesmo, viu? Afinal, já somos bastante amigas! Mas você não me respondeu. E a conferência de Anime? Você vai comigo ou não? Preciso de companhia e também seria ótimo te conhecer pessoalmente, não é mesmo? Beijos!
Miaka Hiiragizawa: Olá, Miaka! Tudo bem? É, minha fic já está realmente acabando. Não tem porque prolongar algo que já está no fim, não é mesmo? Mas não se preocupe. Daqui há alguns dias, como você deve ter percebido nas minhas notas finais, eu vou postar o meu mais novo projeto, e espero sinceramente contar com o seu apoio como eu contei nesse meu filhinho aqui! Eu também te adoro, e se precisar de mim, pode chamar! Beijos!
Fab Lang: Oi, amiga, tudo bem? Adorei escrever com você, viu? Digo e repito, foi uma ótima experiência que com certeza adicionou pontos ao meu aprendizado como escritora, afinal, ninguém é perfeito e é dever do próprio escritor personalizar seu modo de escrever, não é mesmo? Então, tenho muito o que agradecer, não é? Espero que esteja gostando do meu fic tanto quanto eu gosto do seu!
Bella-Chan: Que bom que pude te resgatar! Afinal, para que servem os amigos se não para isso, não é? Aliás, se você quer mesmo saber, eu também corria o risco de ir para o hospício, de tanto que estou ficando ansiosa para ver a continuação do seu fic! Bem lembrado que o fic não é de autoria sua, mas você deve convir comigo que esse seu trabalho de tradução está sendo magnífico e não seria nada sem você, viu?
Bem, agradecimentos feitos! O que acharam do capítulo de hoje? A parte do Touya e da sua descoberta foi o mais difícil de fazer, afinal, eu me especializo na arte do romantismo, não é mesmo? Brigas são sempre uma parte difícil mas fundamental no andamento de um texto! Qualquer critica, ou sugestão, não hesitem em me dizer! Porque estou no fim e preciso de todo o apoio para continuar! Agradeço imensamente por contar com a amizade de vocês! Um beijo para todos que lêem!
De Jenny-Ci
