Capítulo 22
Um céu estrelado. Isso era um bom presságio, ele tinha certeza. Porém, depois de tantos pontapés que levara na vida, Syaoran aprendera mais a confiar em seus próprios instintos do que na aparência da situação em que se encontrava. Olhou para o corpo e deu um riso cansado, sardônico. Comendo apenas as pequenas providências que Yukito deixara para ele, passara muita fome. Odiava admitir, mas devia a vida a aquele homem e provavelmente, o futuro inteiro.
Orgulho não era o sentimento mais compensador que existia. Nos cega de uma maneira traiçoeira. Ele sabia disso muito bem, já que por meses a fio, ele havia lutado contra seu amor por Sakura em prol ao seu tolo orgulho. Mas agora, livrara-se disso. Era um novo homem. Revigorado pela força de que não teria que renunciar a mulher que amava.
O que ela deveria estar pensando naquele exato momento? Certamente, deveria estar com raiva ou com mágoa dele. A idéia que sua fuga passara era que ele tivesse fugido e voltado ao seu país sem ela. Antigamente, seria isso mesmo. Quando ele não se preocupava com nada nem com ninguém, a não ser com ele mesmo e com suas egoístas vontades. Mas aquele Syaoran havia sido enterrado junto ao seu passado errôneo. Teria que começar uma nova vida. E se o destino permitisse, ao lado de Sakura.
Ajeitou a manta velha em cima dos ombros e cobriu seu rosto com ela. Ser descoberto estava absolutamente fora de cogitação. A noite estava deserta, mas a precaução nunca era pouca, já que devia ser procurado no país inteiro. Era um inimigo nacional, afinal. O que com certeza o orgulharia no passado lhe metia medo agora. Medo de não poder concretizar todos os seus sonhos em razão a essa busca que faziam desesperadamente para o encontrar. Mas teria que lutar por aquele objetivo. Não desistiria agora que tinha a oportunidade de encontrar direção para a sua vida.
Saiu da floresta e começou a caminhar em direção a uma pequena ponte. Do outro lado ficavam as casas mais luxuosas, pertencentes à classe alta da sociedade japonesa. E mansão Kinomoto também estava lá. Passou por dois homens, e sem intenção, escutou a conversa deles, dita em voz um pouco alta e engrolada. Estavam bêbados e com a garrafa ainda em mãos.
"Então é verdade?", o careca falava, enquanto o outro senhor de idade, vestido com roupas elegantes, assentia e tomava outro bom gole.
"Sim", ele falou. "Kaho e Takawi se suicidaram de maneira violeta. Eram amantes, e já fazia um bom tempo. Você consegue acreditar nisso? Todos martelavam as cabeças tentando descobrir que seria o responsável pela morte de Fujitaka, e era tudo uma tramóia dos dois".
"Caramba... Bem, eu nunca fui com a cara daquele ministro. Muito silencioso para meu gosto".
"E era muito estranho".
Syaoran controlou-se para não chamar a atenção dos homens e esclarecer algumas dúvidas. A família Kinomoto novamente sofria uma perda. Syaoran cerrou os próprios punhos ao pensar o quanto Sakura deveria estar sofrendo, afinal, sua família fora sempre vítima de muitos escândalos e aquilo não seria o último. Revirou os olhos e continuou a caminhar. Depois que a tivesse nos braços, a faria esquecer de tantos problemas. A faria esquecer da dor. Mesmo sabendo que cada uma dessas lembranças, inevitavelmente permaneceria na memória da japonesa. E nem todo o seu amor poderia apagar tais recordações. Mas faria o possível para amenizar aquela dor. Ergueu os olhos. Ali estava a morada da família Kinomoto.
Aproximou-se da mansão, notando que não havia muitos guardas, apenas dois. Ele poderia dar conta, sem problemas. Avaliou o porte dos homens, que muito sérios, andavam de um lado para o outro. Um deles era muito magro, mas levava uma espada muito pesada, e era nisso que deduzia que deveria ser forte. Já o outro era mais alto e um pouco mais gordo, só que tinha uma pistola no catre. Ou seja, tinha também uma vantagem. Era esse que deveria atacar primeiro para não correr o risco de levar um tiro enquanto lutava contra o outro.
Andou lentamente, se escondendo atrás das árvores em volta da casa. Escolheu uma próxima ao seu alvo e nela se escondeu por mais alguns segundos. Com os olhos dourados atentos, observou o homem. Parecia muito seguro, andando com a cabeça levantada e com a postura reta. Sim, deveria ser um forte oponente, mas que certamente não usaria de força bruta, já que tinha a pistola nas mãos. Deveria imobilizado antes que tivesse a chance de pegar na arma.
Com passos rápidos e dignos de um capitão, ele correu até o homem, que ao vê-lo, tratou de tentar pegar a arma no catre. Mas Syaoran foi bem mais rápido e com um chute, acertou a mão do guarda. Ele gritou de dor, o que chamou a atenção do companheiro, que até então rondava o outro lado. Ele correu em sua direção, enquanto o outro homem ainda segurava a mão ferida. Não foi fácil se livrar do pequeno guarda e de sua enorme espada. Primeiramente desviou dos ataques da lâmina, que eram mais lentos, e depois com toda a sua força, chutou o estômago dele. O homem caiu para trás, e nessa distração, o chinês pegou a espada do braço dele e furou seu peito.
O pequeno caiu para trás, segurando o ferimento e morrendo depressa. Syaoran suspirou aliviado, mas não por muito tempo, porque dois braços fortes seguraram seu pescoço. Apesar da dificuldade de respirar, ele reuniu suas forças e deu uma forte cotovelada no estômago do soldado, que deu um pulo para trás. Syaoran usou de toda a sua rapidez. Com um golpe certeiro, atingiu a garganta do guarda.
Não lhe agradava a idéia de matar ninguém. Mas era preciso, ele sabia. Finalizou seu trabalho cravando a espada no peito do homem que ainda gemia no chão. Deu uma olhada a sua volta, notando que não havia chamado a atenção de ninguém. Com um soco, quebrou as fechaduras que selavam seu portão, e possivelmente, o inicio de sua nova vida.
Com cuidado, começou a caminhar pelo jardim florido. Tinha que chegar até os fundos da casa. Foi observando a bela paisagem do local, mas algo lhe chamou a atenção. A tristeza contida em todos os detalhes. Certamente deviam ter uma aparência espetacular ao nascer do sol, mas à noite, quando os vaga-lumes brilhavam por sobre as flores, ele notava que não havia alegria alguma. As flores, apesar de abertas, tinham pequenas gotas de orvalho. Pareciam chorar as mágoas da própria família. Uma pequena ponte que atravessava um córrego tinha cores opacas. E o rio era tão calmo que parecia morto. Aquilo lhe trouxe uma angustia terrível. Do que valia dinheiro, sucesso e posição social quando a vida era sofrida, marcada por tragédias? Em apenas uma guerra, quatro mortes. O general Fujitaka, homem que ele nunca conhecera, mas que por palavras de Sakura, sabia se tratar de um bom homem. Tomoyo, a cunhada e melhor amiga de Sakura, doce em sua gravidez mal iniciada. E apesar de traidores, o ministro e a esposa do general também não mereciam tão cruel destino.
Avistou um pequeno altar, com flores de magnólias e cravos. Sabia que não tinha tempo, mas algo simplesmente o tentou a ir para lá. Uma força misteriosa que o dizia que era o certo a fazer. Com passos vagarosos, chegou mais perto e leu, em voz baixa.
"Tomoyo Kinomoto", e no outro. "Fujitaka Kinomoto".
Naquele lugar, onde os espíritos de ambos descansavam Syaoran não sentia paz. Na verdade, sentia uma enorme culpa. Era um responsável indireto pela morte dos dois. Ajoelhou-se e tocou as lápides de pedra com suavidade, tentando mentalmente pedir desculpas. Era óbvio que aquilo não traria duas vidas injustamente sacrificadas de volta, mas era uma maneira que ele encontrava para se de redimir. Não merecia o perdão de ninguém. Mas precisava que as duas almas descansassem em paz.
Tentou se levantar, mas foi quando notou o quanto cansado estava, e quanto suas pernas teimavam em lhe desobedecer. Continuou ajoelhado, imobilizado pelas correntes da vergonha que jorravam dúvidas inquietas em sua mente. Será que também faria Sakura sofrer daquela maneira? Seria apenas mais uma decepção na vida já tão amargurada dela? Não podia deixar isso acontecer. Tinha que se empenhar pela felicidade daquela garota. Da sua garota. Levantou-se e sorriu para si mesmo, confiante de seus propósitos.
"Quem é que está aí?".
Uma voz doce, chorosa o fez se virar. Lá estava ela. Certamente não o reconhecia, já que estava com o manto sobre o rosto. Mas Sakura tinha a beleza da mais bela e pura flor naquele instante. Só que com tristeza, ele averiguava a marca das lágrimas, do sofrimento no rosto tão bonito. Vestia um delicado quimono rosa, o que lhe dava um ar angelical. Não parecia uma guerreira, naquele instante. E sim um pássaro, uma borboleta. Que se erguesse às asas, estaria preste a voar. Não conseguiu desviar o olhar, por mais que precisasse anunciar sua chegada. Sua maior vontade era abraçar aquele corpo frágil e lhe trazer consolo. Faria isso no momento certo.
"Quem é você?", ela tornou a perguntar.
Ele ia responder, mas queria ver a reação dela ao averiguar que era ele. Se iria sorrir, se iria chorar. Com toda a sua coragem e com toda a força que reuniu dentro de seu ser, ele puxou com a mão o manto, mostrando sua face. Ela deixou a vela que segurava cair, sendo iluminada apenas pela luz das estrelas e pelo brilho da Lua. Os olhos verdes se arregalaram, e ela não se moveu. Apenas os lábios entreabriram-se, trêmulos de espanto.
"Syaoran...".
O chinês sorriu. Deu passos largos e não resistiu ao que mais quisera fazer desde de que a vira pela última vez. Com a mão, a puxou para si, e a abraçou. Circundou o corpo dela com seus braços e sorriu novamente. As lágrimas de mais pura felicidade deslizaram em seu rosto, sem vergonha. Ela ainda estava imobilizada. Os braços pendiam ao longo do corpo e os olhos opacos pediam uma explicação.
"Você não fugiu?".
"Não, meu amor... Fugirei apenas com você".
Essas foram às palavras que levaram Sakura a abraçá-lo com força. Quando o vira, pensara seriamente que fora sua imaginação. Já que ainda estava muito sensibilizada, era possível que fosse uma ilusão querendo brincar com seu coração. Mas não. Era real. Ela podia tocar. Ela podia sentir. Entregou-se ao carinho totalmente, temendo que ele fosse desaparecer. Pelo contrário. Ele beijava seus cabelos carinhosamente enquanto afagava sua cintura.
"O que... O que aconteceu, Syaoran?", ela perguntou, ao se afastarem um pouco.
"Eu pude fugir com ajuda de uma pessoa", deveria contar, ou não? Na dúvida, preferiu ficar calado, até que ela se pronunciasse novamente. Ela tocou o próprio coração, com as duas mãos pequenas, como se pudesse lhe acalmar. Mas seus olhos ainda estavam marejados, as mágoas ainda presentes. Não podia se entregar a felicidade se não sabia se ela era real.
"Bem... Eu... eu pensei que você tivesse me abandonado".
"Natural, meu amor", ele limpou as lágrimas dela com os dedos ásperos. "Aquele Syaoran que antes existia faria isso mesmo, sem hesitar e nem pensar por um minuto. Mas ele morreu para dar lugar a um homem completamente apaixonado por você, e que sabe que não poderá viver sua vida se Sakura Kinomoto não estiver ao seu lado".
"Seu...", ela deu uma risada graciosa. "Seu bobinho".
"Bobinho?", ele não entendeu a colocação dela.
"Poderia ter fugido, já estar em seu país, com a liberdade em mãos, mas ao invés disso...", acariciou a face masculina, tocando em cada traço, como se quisesse guardar aquele rosto em seus próprios dedos. "Sacrificou a si mesmo para vir me buscar... Foi imprudente ao atravessar a cidade para poder fugir ao meu lado. Eu não sei como lhe dizer o que sinto nesse exato momento", ela sorriu e fechou os olhos suavemente. "É como se eu finalmente pudesse ser feliz sem culpas ou mágoas. Sinto-me leve. Você me faz pensar dessa maneira, meu amor. Eu o amo tanto".
"Eu também te amo, Sakura", ele pegou a mão dela entre as suas. E suas próximas palavras foram repletas de promessas, sonhos e desejos. Repletas de amor. "Quer se casar comigo?".
"O quê?", sempre o amara, mas jamais esperaria um pedido desse, naquele lugar, a luz das estrelas. Testemunhas fiéis da pergunta que mudaria seu destino.
"Cometi muitos erros em minha vida. Deixei passar muitas oportunidades em que realmente poderia ter sido feliz. Sei que também sofreu muito e sei que sou culpado disso também. Não me orgulho. Muito pelo contrário. Passarei o resto da vida tentando me redimir diante de você", ele deu uma breve olhada aos altares, como se pedisse inspiração a aquelas almas que descansavam em paz. "Eu a amo o bastante para renunciar minha fortuna, se o meu pai me deserdar. Amo você o bastante para abandonar a minha família e tudo aquilo que consegui nesses meus anos de vida. Só me de essa chance de provar que eu posso te fazer feliz. Que posso te fazer esquecer, não completamente, do seu passado. Me dê essa oportunidade, por favor".
"Lógico, Syaoran", ela sorriu. "Eu aceito me casar com você".
A abraçou novamente, com força. Era esse momento, que durante noites em claro, esperara. A chance de ser feliz. De fazer ela feliz. Afastou-se apenas para poder mirar-lhe o rosto, encharcado de lágrimas de pura felicidade. Afagou a bochecha molhada e aproximou-se dela, com um sorriso maroto, repleto de sua alegria.
"Você tem o coração de uma guerreira, Sakura", ele disse contra os lábios dela. "Preciso repetir que amo você?".
"Precisa", ela disse, com um sorriso travesso, os olhos se fechando e o corpo se entregando ao momento mágico que os envolvia.
"Eu amo você", e por fim, a beijou.
Entregaram-se ao beijo, sedentos um do outro. Syaoran a abraçou com força pela cintura, trazendo-a junto a si, tentando demonstrar o que as palavras, por mais que belas fossem, não podiam dizer. Sakura, por sua vez, o abraçou pelo pescoço, acariciando os sedosos cabelos, sentindo-se enfeitiçada pelo amor profundo em que mergulhava. Era isso que era amar. Surpreender-se com cada momento que a vida tem para oferecer. Naquele carinho tão delicioso, os dois jogavam as próprias emoções, os próprios pensamentos. Pois dentro de suas mentes, sabiam que cada coração entenderia o outro. Cada alma se completaria em um elo que jamais poderia ser quebrado.
Separaram-se, ambos com um sorriso carinhoso no rosto. Não havia palavras para expressar o que sentiam naquele momento, quando os dois corações, descompassados, disparavam em seus peitos. Deram as mãos e se encararam. A jovem sorriu, por alguns segundos e depois fez uma expressão duvidosa.
"Syaoran?".
"Sim?".
"Como sabia que eu iria aceitar fugir com você? Como sabia se eu não iria recusar".
"Eu não sabia, Sakura", ele fitou as estrelas e respirou fundo. "Tive que confiar que você ainda me amava".
"Mas... Mas você podia ter sido pego", ela parou de falar por uns instantes, como se a idéia se assustasse. "Ou ter sido morto".
"O risco valia a pena, Sakura".
"Valia?", ela fez uma expressão irônica, colocando as mãos sobre a cintura. "E se eu não quiser ir com você?", tentou parecer séria, mas um riso a denunciou e a sua artimanha também. Cruzou os braços. "Não pode me obrigar a fazer o que eu não quero".
"Se não quiser?", ele sorria também, enquanto se aproximava. "Eu vou ter que pegá-la no colo, raptá-la daqui e iremos fugir num cavalo do estábulo da mansão".
"Bem...", ela sorriu, enrolando os cabelos na ponta do dedo. "Não quero ir com você".
Ele sorriu. O relacionamento deles era assim. Feito dos momentos engraçados aos mais tocantes. Por que eram feitos apenas um para o outro. Tinham um futuro grandioso pela frente. Um futuro que pertencia somente a eles dois. Sakura e Syaoran. Ninguém mais. Avançou sobre a garota e a tomou nos braços, a colocando sobre os ombros como um saco de batatas.
"Syaoran!", ela dava soquinhos, enquanto ria mais e mais. "Pare com isso! Eu só estava brincando!".
Ele riu também, mas não respondeu. Continuou a correr, até chegarem no estábulo rústico. Entraram e ele a desceu do colo, mas ainda segurando a mão pequena. Ofegava. Mas ainda tinha a expressão divertida no rosto. Será que seria sempre assim? Uma vida plena de felicidade, com risos e bons momentos? Não, sabia que não. Pois tudo era feito de altos e baixos. Mas ao lado dela, tudo ficaria bem. Pois não estava mais sozinho. Tinha Sakura para dividir suas lágrimas. Suas frustrações. Cada momento, começando a partir de agora.
"Qual cavalo escolhemos?", ele perguntou, olhando para todos os animais, que estavam assustados. A japonesa sorriu, travessa, e apontou para um garanhão negro que relinchava, irritado com a interrupção de seu sonho.
"Acha que pode domar o meu cavalo?".
"Com certeza", beijou os lábios dela docemente e piscou. "Pude domar a dona dele... Por que com o cavalo haveria de ser diferente?".
"Syaoran!", ela fez uma expressão emburrada. "Quem disse que o senhor me domou?", ela jogou os cabelos para trás com as mãos e deu um sorriso irônico. "Vai demorar muito para um homem ter poder sobre mim", ela subiu no cavalo, que se acalmou um pouco quando ela tocou em sua crina e disse palavras suaves.
"Tem razão", ele subiu atrás dela e segurou a cintura da jovem. "Você me domou, Sakura".
Ela virou-se e viu que ele sorria, não dizia com a ironia costumeira. Mais do que isso. Ele entregava a vida de ambos em suas mãos, quando dava ela a chance da guiar o cavalo que seria o condutor para a estrada de seus sonhos. Não respondeu, não eram necessárias palavras naqueles minutos preciosos. Apenas aquele gesto demonstrava o poder do amor que existia entre eles. Sabiam do futuro? Não. E muito menos do que a vida reservava para eles. Mas assim que Sakura guiou o cavalo para fora do estábulo e que começaram a cavalgar em direção a saída da mansão, as inseguranças e os medos desapareceram. Não havia mais o que temer. Olharam um para o outro, novamente. Os olhos dourados de Syaoran encontraram com o olhar esmeraldino de Sakura e uma promessa silenciosa foi feita: De que jamais deixariam de se amar.
No silêncio da noite, seu quarto estava mergulhado na penumbra. Touya Kinomoto assistira aquela cena com uma terrível dor. Perdera toda a sua família. Mas não era por causa disso que deixaria Sakura mergulhar em sua mesma felicidade. Enxugando uma fria lágrima que escorreu por sua face, ele deu um sorriso sincero.
"Encontre e lute por sua felicidade, Sakura", fechou as cortinas e caiu no chão, levado apenas pela emoção que sentia. Era direito dela buscar seu próprio mundo. Já que el perdera o seu.
Epílogo
Meiling olhou para Syaoran, que andava impacientemente pelo corredor escuro. Sentada em um pequeno banco, ela também aguardava, mas sabia muito bem que a angústia de Syaoran, comparada a sua, era muito maior. Levantou-se e com a mão, chamou sua atenção.
"Syaoran, acalme-se", ela sorriu com confiança. "Vai dar tudo certo, você vai ver".
"Eu sei, eu sei...", ele olhou para ela e para sua grande barriga. Sorriu e acariciou a face da irmã com carinho. "E a sua gravidez, Meiling? Como anda indo? Nui tem cuidado bem de você?".
"Nui é muito atencioso, até demais, se quer minha opinião", sentou-se de novo, com a ajuda do irmão e cruzou os braços sobre o peito. "Não me deixa nem se quer levantar da cama, nem fazer quase nada. Passo o dia inteiro sentada, lendo livros, costurando... Não é injusto?".
"É o correto", Syaoran se lembrou da primeira gravidez de Sakura. Fora uma gravidez tranqüila, marcada por bons e inesquecíveis momentos. A notícia, de primeiro, o chocara. Lógico que já havia cogitado a possibilidade de formar uma família, mas a situação era emocionante. Quando vira sua filha nascer, comparara a sensação de poder visualizar a aurora do céu. Mas sabia que não era igual. Aquela lembrança, tão boa, jamais deixaria sua mente e de sua esposa.
"Papai?".
A voz doce o tirou de seus devaneios. Viu sua pequena filha Yelan caminhar em sua direção, esfregando os olhos com as mãos pequenas. Os longos cabelos ruivos balançavam com suavidade, enquanto ela andava, em passos vagarosos e sonolentos. Quando ela já estava próxima, a pegou no colo e fitou os olhos dourados, que tanto pareciam com os dele.
"O que faz aqui, mocinha?", tocou o nariz dela com o indicador. "Está na hora de dormir, não é mesmo?".
"Não consigo", ela deu uma tremida, afagando os próprios braços. "Mamãe sempre conta uma historinha para eu dormir. Mas dessa vez, ela não pode me contar...", choramingou. "Não pude adormecer".
"Isso é normal, querida", Meiling intercedeu, acariciando os cabelos da sobrinha. "Mas se você quiser, eu posso ler para você e te fazer companhia. O que acha?".
"Pode, tia?", ela deu um sorriso inocente e a apontou para a barriga dela. "Meu priminho, dentro de você, não vai ficar bravo?".
"Não, querida", ela riu da ingenuidade da garotinha. Posou a mão na própria barriga e disse, alegre. "Ele vai adorar fazer companhia a uma menina linda que nem você!".
"Oba!", ela praticamente pulou do colo do pai para dar a mão a Meiling. Depois, com certo receio, virou-se para Syaoran. "Posso, papai? Não ficaria triste se eu o deixar sozinho?".
"Isso partira meu coração...", ele disse, fingindo uma expressão decepcionada. Depois, abriu um largo sorriso. "Mas se é para o bem da nação, deixo você ir".
"Papai, seu bobo!", ela acenou, enquanto saía com Meiling. "Quando meu irmãozinho nascer, me chame!".
Syaoran desfez o sorriso assim que sua filha saiu daquele lugar. Estava cansado. Aquela segunda gravidez tivera suas complicações, não fora que nem a de Yelan, muito calma. Cuidara dela com muito carinho, não a permitira fazer grandes esforços. Discutiram muito, até. Lembrou-se de uma das discussões e riu. Depois das brigas, ele sempre achava graça dos motivos que os levavam a discutir.
"O QUÊ!", Sakura gritou, enquanto sentava-se numa cadeira no jardim, incrédula. "Repita, Syaoran!".
"É simples, Sakura", ele disse, com um sorriso.
"Tire esse sorriso bobo da face, seu idiota!", ela levantou-se e levando junto a grande barriga de sete meses. "Como assim não posso sair de casa?".
"Você já se acidentou algumas vezes, querida", ele nem se importou com o insulto. Já estava acostumado com a maneira 'carinhosa' como era tratado quando ela se irritava.
"Só por causa disso?", ela apontou o dedo na direção dele. "Não pode me proibir, escutou? E quando eu quiser visitar Meiling? E quando eu quiser ir ao mercado fazer compras? Não posso ficar trancada aqui!".
"Pode e vai ficar, Sakura", ele fechou os olhos e balançou a cabeça. "Sabe que não adianta discutir comigo".
"O que está falando, seu pretensioso?".
"Eu mando nesta casa, Sakura".
"Seu... Seu... Metido à Besta!", ela gritou, com todas as forças. "Não pode mandar em mim, Syaoran Li? Eu não sou um daqueles seus casos passados em que você comandava ou mandava! Eu sou a sua esposa! Não pode brincar comigo dessa maneira, ouviu bem! NÃO PODE!".
Syaoran virou-se para partir, tranqüilo como sempre ficara depois das brigas. Tinha muito mais o que fazer do que discutir com a esposa. Afinal, se fossem discutir sobre aquele assunto naquele momento, provavelmente não sairiam do jardim. Mas ouviu um gemido sofrido e virou-se na mesma hora. Sakura sentava-se, com a mão sobre a barriga e com a expressão sofrida. Correu, angustiado, até ela.
"Sakura, meu amor", ele olhou para ela e viu que a japonesa se esforçava para não desmaiar. Acariciou os cabelos ruivos. "Querida, o que está acontecendo?".
"Nada, Syaoran!", ela gritou, para depois morder o lábio inferior e fechar um dos olhos. "Vá fazer o seu trabalho! É perda de tempo se preocupar comigo".
"Perda de tempo, mulher?", ele afagou a face dela, vendo ela parar de ofegar e se acalmar. A dor parecia estar passando. "Era por isso que eu não queria que você saísse de casa. E se algo acontece com você quando eu não estou por perto?".
"Eu não preciso de você, Syaoran?", uma lágrima solitária passou por seu rosto.
"Mas eu preciso de você e não saberia o que fazer se algo te acontecesse", ele disse, suavemente. Sentou-se ao lado dela e a puxou para si. "Quando poderá admitir que precisa de mim, também?".
"Syaoran", ela afundou o rosto no peito dele. "Me desculpe... Sou tão orgulhosa... Não goste de admitir que preciso de alguém...".
"Ora, querida...", ele beijou-lhe os cabelos e sorriu. "Não se incomode... Seus gestos dizem mais do que suas palavras".
Ficaram abraçados, desfrutando do silêncio que compartilhavam calmamente. Apesar de brigarem tanto, se amavam de verdade. As discussões, apesar de fortes, eram partes do grande processo que é o casamento. E apesar de não muito convencional, a união deles era bastante forte.
Apoio à cabeça nas mãos, ainda sorrindo. Sakura era uma mulher especial. Diferente. E sua. Estavam casados a oito anos e ele não se cansava de dizer o quanto amava aquela que roubara seu coração. Com grande orgulho, lembrou de quando chegaram a China.
Todos olhavam para Syaoran Li com incredulidade, como se ele fosse uma alma penada. Ninguém esperava que ele estivesse vivo depois do aviso de sua prisão. Mas o mais estranho era a mulher que o acompanhava. Quando desceram do navio, o casal estava apreensivo, mas nem por isso, pensava em desistir. Afinal, já haviam atravessado um mar de desafios e aquilo seria apenas mais um obstáculo que juntos iriam ultrapassar.
"Nervosa, Sakura?".
"Não".
E não parecia mesmo. Estava altiva, encarava todos nos olhos e sem temor. Apertava sua mão com força, mas mesmo assim, sorria para ele com carinho e com toda a sua confiança. E era isso que admirava nela. Aquela coragem de enfrentar a vida e de ser feliz. Sorriu também. Não importava a opinião de seu pai a respeito daquela união. Ele faria apenas o que seu coração mandar.
Logo, depois de uma caminhada pela cidade, eles estavam em frente da porta que daria excesso à sala de Shang Li. Syaoran levantou a mão para bater na porta, mas hesitou. Sakura o olhou, e depois disso, compreensiva.
"Eu sei o quanto deve ser difícil para você, Syaoran... Ele é o seu pai...", ela olhou para as portas e as tocou, com delicadeza. "Toda essa situação me lembra muito quando eu tinha que conversar com meu pai. Apesar de ele ser um bom homem, jamais concordou com algumas idéias radicais minhas. Mas eu sei que no fundo, os nossos pais só querem nossa felicidade. Provavelmente, seu pai vai descordar com a nossa união, mas eu quero que você saiba algo: Que não importa qual seja a sua decisão, eu sempre vou te amar".
"Obrigado, Sakura", e com força, bateu na porta.
"Estou ocupado no momento", uma voz grossa gritou, um tanto irritada. "Volte daqui a algumas horas!".
"Está ocupado para o seu filho, senhor?".
Mergulharam em um silêncio perturbador. Por alguns instantes, foi possível ouvir a respiração de Shang soando. Sakura observou a porta se abrir lentamente. Um homem alto, de porte elegante, tinha os olhos muito dourados arregalados. Os cabelos no mesmo estilo de Syaoran, só que com alguns fios brancos.
"Filho?", ele sussurrou, e Syaoran assentiu com a cabeça, bastante emocionado.
"Você acreditou na minha morte, pai? Acha mesmo que o filho do grande Shang Li iria morrer dessa maneira?".
O abraço foi duradouro, e Sakura se sentiu uma intrusa. Por que ao invés de se sentir contente, ela sentia um pouco de tristeza ao lembrar que o pai dela não podia lhe abraçar. Uma lágrima deslizou por sua face. Sabia que estava sendo injusta com os sentimentos de Syaoran, mas a saudade que tinha de seu pai era muita. Decidiu não se apresentar. Quando pai e filho se separaram, Shang olhou para ela.
"E quem é você?".
"Sakura Kinomoto".
"O que a filha do general Kinomoto faz aqui?", ele encarou ambos, confuso. Depois de pensar por alguns segundos, ele arregalou os olhos. "Não acredito que a história que Meiling me contou é verdade!".
'Se...", Syaoran pegou sua mão e Sakura sorriu para a garota, "Ela contou que eu estava completamente apaixonado por esta belíssima japonesa, está correta sim".
"Bem...", ele suspirou, dando passagem. "Entrem, entrem... Vejo que teremos que conversar".
Sakura estava estranhamente tensa. Algo lhe dizia que ele não gostara dela e muito menos da situação em que se encontravam. Mas não tinha por que temer. A verdade era que já esperava esse comportamento da maioria das pessoas chinesas. Como os japoneses também não aceitariam tal união. Não os julgava. Afinal, o que seu pai diria, também?
"Estou escutando", Shang sentou-se. "O que tem a dizer, Syaoran? Perdeu a guerra e o coração para os japoneses?".
"Receio que sim, pai", ele deu um leve sorriso. "No princípio, essa idéia também não me agradava. Jamais imaginei me apaixonar por uma mulher japonesa. Mas Sakura não é comum".
"Isso eu sei", Shang a avaliou. "É espiã, certo?".
"Sim, sou, com muito orgulho de minha ocupação".
"Me responda então, garota. Como pode arriscar sua vida para ajudar o seu país e depois cair nas garras do meu filho? Não sei se sabe, mas ele é uma grande conquistador... Você não deve ser uma mulher muito diferente, pois caiu na teia de Syaoran. Provavelmente, mas de uma das brincadeiras de meu filho, só que mais duradoura. Não que eu ache certo o comportamento de Syaoran, mas devo reconhecer seus defeitos".
"Papai...", Syaoran ia argumentar, mas Sakura sorriu.
"Se você chama isso de teia, Sr. Li... Eu chamo de amor. A verdade é que no começo, eu o detestava. Porém com o tempo, notei o quanto nossas diferenças eram pequenas comparados ao que sentia em meu coração. É inútil tentar lutar contra meus próprios sentimentos. E concordo com as suas palavras. Não sou diferente. Syaoran sim é. Um homem especial que soube admitir seus sentimentos sem vergonha".
"Sim, sim... Mas os que realmente espera de mim, Kinomoto?".
"Eu?", ela deu um sorriso inocente. "Não espero absolutamente nada. Está fazendo a pergunta certa para a pessoa errada. Sou apenas uma humilde japonesa que caiu nas 'teias de Syaoran', não é?".
Syaoran encarou Sakura, incrédulo. Ela tinha muita coragem. Com certeza mais do que esperava. Depois, voltou seus olhos para o pai e viu que ele ainda piscava, o olhar confuso. Quando o homem deu um passo para frente, com a mão levemente erguida, ele pensou que o general fosse bater na japonesa, por isso tratou de colocar-se na frente, com a expressão zangada.
"Não se atreva a encostar um dedo nela!".
"Syaoran...", Shang e Sakura murmuraram simultaneamente.
"Eu posso ter perdido a guerra, ter desonrado nossa família, mas não perdi a minha coragem e muito menos os meus desejos!", ele exclamou, os olhos brilhando da mais primitiva irritação. "E não me venha com o eu sou o que eu deixo de ser, pois eu mudei muito e duvido que saiba metade do que me tornei! Sim, estou apaixonado por Sakura e me casarei com ela quer você permita, quer não permita!".
"Garoto!", Shang o encarou, pasmo. "Controle-se, pelo amor dos Deuses! Eu jamais bateria numa mulher... Eu... Eu apenas estou surpreso com... Com o que essa moça disse! Faz um bom tempo que uma mulher não usa de ironia comigo".
"Bem, você não conhece nada sobre Sakura", Syaoran deu um sorriso carinhoso para ela, que enrubesceu.
"Admito sim que ela tenha lhe mudado... Jamais discutiu comigo por causa de uma mulher", ele coçou o queixo e disse, pensativo. "Eu realmente não conheço meus filhos tão bem quanto achava. Meiling foi a primeira a me surpreender, ao dizer, assim que aportou, que iria casar com Nui... e agora você, meu filho".
"O quê? Meiling e Nui vão se casar?", ela virou-se para Syaoran e seus olhos brilhavam de excitação. "Escutou, meu amor? Eles se casarão! Eu sempre soube que os dois iriam se acertar!".
"Ah é?", Syaoran falou, indiferente. Suspirou. Sakura segurou seu braço, preocupada e um tanto desconfiada.
"O que houve, Syaoran? Porque essa expressão? Não te alegra saber que sua irmã está viva e acima de tudo, feliz?".
"Droga... Mas tinha que se casar justo com Nui, Sakura? Não podia ser com um soldado de melhores padrões?".
"Como? Repita, Syaoran Li!", Sakura estava realmente indignada. "Não me venha com isso agora! O importante é que eles se amam!".
"Não me julgue!", o chinês também se irritou. Perdeu até a noção de que Shang assistia intrigado aquela discussão. " Só eu sei o que estou sentindo! Não concordei com esse relacionamento desde de que tomei ciência disso, e você sabe muito bem! Pare de defender Nui!".
"Não fique com tanto ciúmes!".
"Não estou com ciúmes!".
"Ah... Com licença".
O casal, que parecia aleatório ao que acontecia ao seu redor, concentrando-se apenas em suas próprias discussão não havia notado o general. Mas ao ouvir o pigarrear dele, eles deixaram-se de se fitar para dar atenção ao homem, que se controlava para não rir. Sakura cruzou os braços e bufou.
"Francamente... Syaoran, você é uma decepção...".
"Ora, Sakura... Minha opinião e minha forma de expressá-la a irritam? Já devia saber como eu sou antes de aceitar fugir comigo".
"Se arrepende de ter me trazido?", dessa vez, o tom saiu levemente magoado.
"Sabe que não é isso", ele afagou o rosto dela. "Me desculpe".
"Me desculpe também", ela sorriu.
"Hahahaha!", Shang não conseguia mais controlar o próprio riso. "Vocês me lembram tanto eu e Yelan quando mais jovens. Só que nossas reconciliações demoravam um pouco mais". Ele aproximou-se de seu filho. "Eu não sou ninguém para julgar o que você quer fazer, filho. Apesar de ser seu pai, não é direito meu fazer planos para o seu próprio futuro, entende? Já o perdi uma vez. E receio que se me opor ao seu casamento, o perderei novamente".
Não esperava que seu pai o entendesse, mas não pode deixar de sorrir ao ver que ele não parecia zangado com a sua decisão. Amar Sakura jamais poderia separar o forte que elo que havia entre pai e filho. Antes da guerra, não acreditava no bem tão precioso que era ter a sua própria família. Porém, depois de conhecer a japonesa e perceber o quanto ela lutava por seus parentes, ele também aprendeu a lição. Não teve idéia do que responder, mas Sakura deu um passo a frente, os olhos marejados de lágrimas. E surpreendeu-se ao vê-la se jogar nos braços de Shang. Ele ficou imóvel, sem reação.
"Obrigada, Sr.Li", ela deu um sorriso iluminado pelo brilho de seu choro. "Obrigada!".
"Bem...", Shang sorriu, retribuindo o abraço carinhoso. "Não me agradeça, Sakura. E a partir de hoje, você é integrante da minha família. Não precisa usar formalidades comigo. Chame-me apenas de Shang, está bem?".
"Sim", ela olhou para Syaoran e este sentiu que todas as barreiras que haviam ultrapassado haviam servido de lição. Naquele momento, estavam fortes e sabiam que assim sempre seria se unidos ficassem.
Apesar de ser estranho no começo, a família Li, tão diferente depois da guerra, se adaptara bem as mudanças. No princípio, a maior dificuldade fora vencer a grande rivalidade que havia entre ele e seu cunhado. Não era novidade para ninguém que aquele casamento fora contra a vontade de Syaoran. Mas com o tempo, aprenderam a se respeitar e a se gostar. Para Sakura, a adaptação foi bastante rápida. Gentil com todos, até com aquele que não a aceitavam, a japonesa foi conquistando a amizade de muitas pessoas facilmente. O relacionamento dela com seu pai era um dos melhores, afetivo e carinhoso. E com Meiling e Nui era muito divertido. As reuniões de família jamais haviam sido tão animadas.
Ouviu uma batida na porta e levantou-se, alerta. Pedira ao cunhado para que ele trouxesse seu pai. Deveriam ser eles. Não demorou muito, para que as silhuetas de ambos aparecerem na porta. Shang estava pálido, nervoso. Nui estava muito calmo, com um sorriso compreensivo no rosto. Em breve seria pai, e poder observar uma experiência dessa de tão perto o ensinaria a ser forte quando chegasse a sua vez. Ele aproximou-se e deu um leve aperto no ombro de Syaoran.
"Força, Syaoran. Seu filho nascera bem, assim como Yelan nasceu", Nui tinha um carinho muito especial com a sua sobrinha. Cuidara muito bem dela quanto pequena e quanto mais ela crescia, mais ele se apegava.
"Sim, filho", Shang sentou-se. Apesar de ser muito forte e ter a aparência bastante jovial, os primeiros sinais da terceira idade começavam a aparecer. Freqüentemente ele se sentava reclamando de forte dor nas costas, e às vezes queixava-se de tontura. "Meu neto vai ter minha força! Além do que, Sakura é uma mulher muito corajosa e jamais permitiria-se morrer ou matar seu filho no parto".
"Mas a gravidez foi tão difícil...".
"Eu sei... Me lembro que quando conversávamos, ela fechava os olhos e apoiava a mão na testa, com a expressão sofrida", Nui afirmou. Shang olhou para ambos, com os olhos desaprovadores.
"Basta!", a voz era assustadoramente autoritária. "Eu a conheço a menos tempo do que vocês dois, mas confio nela o bastante para saber que ela não vai fraquejar. Vocês deviam fazer isso também".
Syaoran olhou para o pai, mas não respondeu. Era verdade. Sakura era muito forte. E a sua maior demonstração fora quando quebrara o braço, há alguns anos, quando Yelan era menor. Esforçara-se muito para cuidar da pequena, mesmo com as dificuldades e com suas costumeiras proibições. Lógico, discutiram, mas ele sempre soube que não importava o quanto ele tentasse impor uma vontade. Se Sakura descordasse, nada a faria mudar de idéia. E talvez fosse isso o que mais gostasse nela. Essa maneira de não esconder dele o que realmente pensava ou sentia.
Meiling apareceu nos instantes seguintes, quando a sala ainda estava mergulhada em silencio. Sentou-se ao lado do marido e olhou, instintivamente para a porta que permanecia fechada. Era estranho. Nenhum som. Havia apenas duas parteiras e suas ajudantes, mas nenhuma delas parecia falar nada. E nem Sakura gritava de dor, como na última vez. Era preocupante, mas Syaoran não se atrevia a ir descobrir o que estava havendo. As mulheres foram bastante claras. Ninguém podia entrar. Mas ele era o pai, oras! Era direito dele saber como estava sua esposa, como estava o nascimento do seu filho!
"Já chega! Eu vou lá!", ele levantou-se, mas a mão delicada de Meiling o impediu.
"Syaoran, por favor. Não complique as coisas. Se é difícil para você, imagine como é difícil para Sakura?".
"Tem razão, mas nosso posso ficar calado diante dessa situação e...".
Um som estridente o impediu de falar. Um choro de criança. Ouviu risos de felicidade e não esperou mais nada. Com o coração na mão, abriu a porta com força e deparou-se com o sorriso encantador de Sakura. Mesmo suada e banhada de sangue, ela lhe parecia a mais bela e radiante criatura da face da terra. Seus olhos fitavam o bebê com devoção. Mas ela só notou sua presença depois de alguns instantes. Com o dedo, o chamou para mais perto.
"Olhe, Syaoran", os dedos finos tocaram a face da criança que com os olhos verdes, observava tudo a sua volta. "Esse é nosso filhinho. Nosso menino".
"Menino?", seus olhos fitaram os de Sakura por um instante, refletindo todo o seu orgulho. "Um garoto...", a palavra lhe parecia fascinante.
"Sim", a jovem mãe olhou para o marido. "Como se chamará?".
"Hum...", ele acariciou a bochecha do pequeno menino e encantado, não conseguiu desviar a atenção do olhar esmeraldino do menino. Cópias exatas dos mesmos orbes que a mãe. "Saito".
"Bonito nome", ela afrouxou um pouco o pequeno menino em seus braços e o estendeu a ele. "Segure-o".
Não havia mais aquela insegurança do primeiro filho. Com um sorriso, ele aceitou nos braços aquele pequeno pedaço de seu ser. O balançou suavemente, pois ele lhe parecia muito frágil, podendo a qualquer instante quebrar. O olhar sereno de Sakura pousava-se sobre ambos. Estava orgulhosa de poder trazer essa alegria a vida de Syaoran. Ele merecia ser feliz. E ela também.
Quando Saito foi entregue em seus braços novamente, sua vista se encheu de lágrimas. Pois jamais, em seus sonhos mais loucos, imaginara ser dona de um futuro tão maravilhoso. Sim, com seus defeitos, mas em hipótese alguma, ela podia esperar que sua vida fosse perfeita. Tinha seus altos e seus baixos, mas era isso que a tornava mais próxima da realidade. Os olhinhos de seu filho eram confusos, ainda tinham muito o que aprender. E ela não se importava de ter que ensinar tudo de novo, passar pelo mesmo processo que passara com Yelan. Mas isso não cansava. Isso a alegrava. Sentiu os dedinhos dele se fecharem lentamente em torno do seu, e a emoção não lhe deixou nem ao menos raciocinar. Ele seria um bom e forte homem. Defenderia sua família e lutaria pelos seus próprios sonhos. Por que ela iria ensinar isso a ele. Iria mostrar que a vida pode parecer árdua, mas que não se deve desistir. Era essa persistência que levava a felicidade. Ao ver ele adormecer, sorriu para si mesma. Lutara muito. Perdera muito também. Mas tudo o que conseguira lhe era valioso.
Syaoran tinha os olhos marejados, mas não chorava. Tentava demonstrar força para aquele ser que acabara de nascer. E Sakura admirava isso nele. Amava tudo naquele guerreiro. Um homem que desafiara, que a tentara, que a conquistara. Que a aceitava como ela realmente era. Não tinha que mudar seu jeito radical para agradá-lo.
Guerreiros. Era isso que eles eram. Juntos, uniam forças para combater todos os seus desafios. Passaram por muitas provas. Muitos se oporão ao que sentiam e até tramaram sua separação. Porém, eles jamais se deixaram abater. Pois lutavam por um futuro glorioso. Por um futuro que eles sabiam que deviam dividir juntos.
Sakura sorriu para ele. E Syaoran retribuiu. Seus rostos se aproximaram e uma promessa silenciosa foi selada com o unir dos lábios: Nunca iriam perder coisa alguma da longa vida que ainda tinham pela frente.
I could stay awake just to hear you breathing,
Eu poderia ficar acordado apenas para ouvir você respirando;
Watch you smile while you are sleeping,
Ver você sorrindo enquanto está dormindo,
While you are far away and dreaming,
Enquanto está longe, sonhando…
I could spend my life in this sweet surrender,
Eu poderia gastar minha vida nessa doce entrega,
I could stay lost in this moment forever,
Poderia ficar assim, desse jeito, para sempre
Where a moment spent with you is a moment I treasure,
Porque todo momento gasto com você é um momento que estimo.
I don't want to close my eyes,
Não quero fechar os meus olhos,
I don't want to fall asleep,
Nem quero adormecer,
Cause I miss you baby,
Porque eu poderia perder você, baby,
And I don't want to miss a thing,
E eu não quero perder coisa alguma.
Cause even when I dream of you,
Pois, certamente, quando eu sonhar com você -
The sweetest dream will never do,
O sonho mais doce que possa acontecer -
I still miss you baby
Eu ainda perderia você, baby,
And I don't want to miss a thing
E eu não quero perder coisa alguma.
Lying close to you feeling your heart beating,
Deitado perto de você, sentindo seus coração bater,
And I wondering what you are dreaming,
Estou querendo saber o que você está sonhando,
Wondering if it's me you are seeing,
Querendo saber se sou eu quem está vendo.
Then I kiss your,
E então eu beijo seus olhos
Eyes and thank god we're together
E agradeço a Deus por estarmos juntos.
I just want to stay with you in this moment forever
Eu só quero ficar com você neste momento, pra sempre.
Forever and ever
Pra sempre e sempre
I don't want to close my eyes,
Não quero fechar os meus olhos,
I don't want to fall asleep,
Nem quero adormecer,
Cause I miss you baby,
Porque eu poderia perder você, baby,
And I don't want to miss a thing,
E eu não quero perder coisa alguma.
Cause even when I dream of you,
Pois, certamente, quando eu sonhar com você -
The sweetest dream will never do,
O sonho mais doce que possa acontecer -
I still miss you baby
Eu ainda perderia você, baby,
And I don't want to miss a thing
E eu não quero perder coisa alguma
And I don't want to miss one smile,
Eu não quero perder um único sorriso,
I don't want to miss one kiss,
Nem um único beijo,
I just want to be with you
Só quero estar com você,
Right here with you, just like this.
Bem aqui com você, desse jeito simplesmente.
I just want to hold you close,
Só quero trazê-la pra perto de mim em um abraço,
I feel your heart so close to mine
Sentir seu coração tão perto do meu...
And just stay here in this moment,
E apenas ficar aqui neste momento,
For all of the rest of time
Pelo resto da minha vida.
I don't want to close my eyes,
Não quero fechar os meus olhos,
I don't want to fall asleep,
Nem quero adormecer,
Cause I miss you baby,
Porque eu poderia perder você, baby,
And I don't want to miss a thing,
E eu não quero perder coisa alguma.
Cause even when I dream of you,
Pois, certamente, quando eu sonhar com você -
The sweetest dream will never do,
O sonho mais doce que possa acontecer -
I still miss you baby
Eu ainda perderia você, baby,
And I don't want to miss a thing
E eu não quero perder coisa alguma.
I don't want to close my eyes,
Não quero fechar os meus olhos,
I don't want to fall asleep,
Nem quero adormecer.
I don't want to miss a thing,
Eu não quero perder coisa alguma.
((Fim))
Boa tarde a todos vocês!
É com grande orgulho que eu encerro o meu primeiro fic, meu primeiro filho. É uma emoção muito grande poder dividir o que sinto aqui dentro nesse momento. Todos os escritores que leram essa mensagem sabem o quanto é difícil passar horas bolando o que será do próximo capítulo. Por isso, estou aqui agradecendo a todos a paciência, o apoio, a compreensão. Antes de continuar a escrever, quero agradecer a algumas pessoas que eu conheci ao entrar na fanfiction.net. Verdadeiros anjos que me guiaram e não me abandonaram nesses momentos tão difíceis. Afinal, faz um ano que estou aqui, não é?
Primeiramente, ao meu namorado Diogo. Sei que muitas vezes, exausto estava, mas mesmo assim, não me desamparou. Enquanto eu fala de fics e de Anime, você, que não entendia nada, estava o meu lado. Eu o amo muito mesmo e gostaria de poder expressar em palavras o que realmente tenho a agradecer, mas não posso. Só com meus gestos.
Frajola, meu grande amigo. Você jamais me deixou na mão e foi dono de muitas idéias. Eu o agradeço por estar ao meu lado. Eu te amo!
Miaka Hiiragizawa, muito obrigado pelas horas no msn, por suas idéias tão construtivas. Por sua amizade e por sua grande participação do meu fic, eu só tenho a agradecer e dizer, sobrinha, que você pode contar comigo também!
Nininha, ou Nina Kinomoto Li, você é uma pessoa especial! Não só iluminada, mas também amiga e muito compreensiva. Quando eu a conheci, sabia que nossa amizade seria diferente das outras. Seu jeito doce e meigo conquistou de fez a minha confiança. E provavelmente, você é minha maior maninha da net. Choramos e rimos muito nesse tempo que nos conhecemos. Formamos um grupo, uma agencia e vários abaixos assinados. Mas no fundo, sabemos que isso são só pretextos para que nossa amizade não acabe nunca! Obrigado por tudo!
Mel, você foi a primeira pessoa que eu conheci. Dona de grande imaginação e de uma criatividade absolutamente incrível, você também é uma garota única. Me ajudou muito, puxou minha orelha, elogiou... Em fim, tudo o que uma verdadeira amiga faria numa situação dessas. Obrigada pelo apoio e espero que possa contar com você sempre!
Natasha, ou Alexiel, na nossa amizade já duradoura, o que eu mais admiro é o senso de humor. Não a uma conversa em que não riamos ou que não joguemos nossos jogos malucos. Inventamos uma agência On-Line **Kokoro No Angel*, interpretamos personagens. Mas também passamos por momentos difíceis e soubemos dar a volta por cima! Te adoro, maninha!.
Fab Lang, uma garota muito criativa e maravilhosa, que me ajudou bastante e que me ensinou bastante lições sobre como melhor a minha escrita. Agradeço do fundo do coração por ser minha amiga e sabe que se precisar de ajuda, também pode contar comigo!
Felipe S. Kai, eu gostaria de agradecer as conversas, as músicas doadas, as boas risadas também. Acho que você não lê o meu fic, mas agradeço de coração por tudo o que fez por mim e por sua amizade prestada com tanto carinho. Ultimamente, não tenhamos nos falado, mas logo, logo, quero bater um papo animado contigo! Como nos velhos tempos!
Leticia, eu também só tenho o que te agradecer. Nós duas temos uma paixão incomum por Inuyasha e Rurouni Kenshin também, não é? E foi desses Anime que tiramos o início de nossa amizade! Agradeço pela ajuda, pelos elogios e por tudo mais, afinal, contar com você é realmente muito, muito importante!
Lan Ayath, uma garota mágica e bastante maluquinha, que merece tudo de bom que a vida tem para oferecer. Me desculpe pela revisão que eu não entreguei, deve estar brava comigo. Mas eu garanto que foi sem intenção, eu perdi o arquivo. Quero que me perdoe e aceite como prova de minha amizade essas dedicatórias feitas a você. Uma garota que merece tudo!
Yoruki, uma garota dona de idéias genais e de uma escrita doce e repleta de puros e muito verdadeiros sentimentos. Obrigada por tudo que fez por, minha grande amiga! Por suas idéias, por nossas conversas... Bem, acho que se eu for agradecer tudo, não poderei colocar aqui, não é mesmo! Adorei ter te conhecido!
Rafa Himura, você é realmente especial! Em meus momentos difíceis, estava ao meu lado! Muito obrigada por tudo e te garanto que pode contar comigo também, maninha! Você já é uma das minhas melhores amigas!
Me desculpem por importunar vocês com a minha nota gigantesca, mas eu tinha que agradecer a muitas pessoas. Bem, e a todos que leram, gostaram dessa historia que foi o meu marco de início nas páginas da fanfiction.net. E se tudo der certo, ainda será assim por muito tempo!.
Logo, logo, meu novo fic estará chegando! E espero contar com o apoio de vocês como contei nesse!
++Iniciado dia 06/04/2003, ás 21:30++
++Finalizado dia 30/03/04, ás 17:10++
Beijos, de Jenny-Ci
