O MUNDO DE METRÓPOLIS

O Mundo de Metrópolis - Parte 2

Lois Lane relia os escritos de Peter Sands, sentada à mesa da cozinha no apartamento de Catherine Grant, enquanto tomava uma xícara de café. Tinha diante de si, um dos maiores acervos sobre a vida de Lex Luthor, e não podia disperdiçar coisa alguma, em homenagem ao recém-falecido amigo.

Concentrada na leitura de uma entrevista transcrita por Sands, feita à professora da sétime série de Lex, no Metrópolis Elementary School, a qual era apenas denominada nos manuscritos do jornalista como Sra. Anderson, Lois percebeu que a amiga vinha da sala, com o rosto ainda inchado e abatido. Peter era um grande amigo das duas e, enquanto Lois buscava nos documentos por ele colhidos a respeito dos Luthor alguma informação que pudesse levá-la ao seu assassino, Catherine estava inconsolável com a notícia da sua morte.

Lois se levantou e lhe prestou solidariedade com um forte abraço. Não conhecia Sands tanto como gostaria, mas desde que se tornou amiga de Catherine, e esta lhe ajudou a publicar a reportagem que falava do suposto interesse de Lionel Luthor pelo cientista Virgil Swann, encontrou nela e em Sands uma grande fonte de inspiração.

"Vamos encontrar o assassino dele, Cat", disse Lois, consolando-a com um abraço apertado.

"Ah, Lois...", sussurrou ela, triste demais para encontrar forças para falar, "não quero que você se envolva com isso. Você é jovem demais".

Lois a repeliu, gentilmente, e protestou:

"Não podemos deixar o assassino do Peter impune!", exclamou, indignada com a impotência da amiga jornalista.

"Vamos deixar que a polícia resolva isso", insistiu Cat.

"Não podemos", explicou Lois, "o crime foi em Smallville. É a polícia daquela cidade que vai investigar. E não creio que eles possam chegar à alguma conclusão..."

"Mesmo assim", disse Cat, cansada demais para argumentar com a amiga. "É perigoso demais. Não sabemos onde Peter estava se metendo".

Catherine estava num momento difícil na vida. Lois entendia. Mas não podia conceber que ela se rendesse. Redatora chefe da coluna de fofocas do Diário Planeta, Cat estava correndo risco de perder o emprego desde a publicação da matéria de Lois que envolvia o nome dos Luthor e seus negócios nada convencionais pela cidadezinha de Smallville, e que ligava Lionel a interesses pelo Dr. Virgil Swann. Por isso, Lois entendia o receio da amiga. E, como se não bastasse, agora, seu grande amigo havia sido assassinado. Peter e Cat eram amigos desde muitos anos e, por mais que quisesse, parece que ela relutava que ele tinha morrido em circunstâncias misteriosas, justamente quando ia ao encontro de Lex Luthor, a pessoa de quem ele estava escrevendo há meses, em sua residência no Kansas.

Cat se sentou à mesa e, com lágrimas nos olhos, ficou olhando para os documentos que Peter juntava há anos a respeito de Lex Luthor e que estavam sobre a mesa, espalhados por Lois. Entendia a paixão da amiga em trazer a verdade à tona. Afinal, já tinha sido como ela. Mas não era esperta e inteligente o bastante para evitar que simplesmente se tornasse a redatora da coluna de fofocas.

"Se pelo menos soubéssemos quem pediu a ele para escrever esse livro", disse ela, passando a mão pelos manuscritos do amigo falecido.

Lois ficou pensativa. Realmente, aquele era o maior dos mistérios. Nem mesmo Sands sabia para quem ele estava traalhando. E Lois lembrava da estória, como a ouviu ser contada por ele a Cat. Quando ele chegou ao apartamento de Catherine, há cerca de oito meses, para morar por um mês e meio, Lois, que sempre estava por lá, já sabia que ele estava escrevendo um livro que se tornaria a sua redenção. Lois só não soube de imediato do que se tratava, até que, um dia, ela o ouviu tendo uma conversa com Cat.

Sands, que sempre teve seu nome sempre ligado a reportagens infames do Inquisitor, revelou à amiga algo que estava para mudar sua vida. Decadedente e por muitos anos esquecido, ele havia recebido uma proposta para escrever uma biografia não-autorizada de Lex Luthor. Sem jamais descobrir o autor da proposta, com quem só mantinha contato por telefone, Peter a recusou por duas vezes, até aceitá-la, definitivamente. E, por mais de um ano e meio, ele vinha trabalhando no livro, colhendo informações a respeito do herdeiro da LuthorCorp, recebendo uma verba que lhe era sempre deixada no escaninho do seu apartamento, sem remetente.

Porém, Peter talvez jamais tenha imaginado que tudo aquilo que ele vinha descobrindo, e que, talvez, um dia pudesse vir a se tornar uma denúncia contra a LuthorCorp, poderia culminar seu triste fim. Na verdade, nos últimos meses, Sands havia se isolado de tal forma que não havia como alguém descobrir que ele representava alguma ameaça. Pensando no repórter que queria apenas lavar a sua alma corrompida com uma matéria respeitosa, Lois lembrou que, assim como Cat a ajudou a publicar o artigo sobre os Luthor na coluna de fofocas do Diário Planeta, Peter também a ajudou na edição final da matéria, e sequer cogitou de assinar como co-autor.

"Eu vou a Smallville", disse Lois, repentinamente, lembrando da honradez com a qual Peter Sands desejava ser lembrado.

"Não, Lois!", exclamou Catherine, que chorava incessantemente. "Não posso perder mais um amigo!"

Mas Lois estava determinada:

"Não se preocupe", disse ela, "vou ser tão sutil quanto da outra vez", esclareceu, referindo-se da última vez que foi à Smallville, quando apenas teve um percalço com a prima Chloe Sullivan.

Olhando para o material de pesquisa de Peter sobre a mesa, Catherine perguntou o quê fariam com tudo aquilo. Lois lembrou que, antes de viajar para o Kansas, Peter havia deixado o envelope com todo aquele acervo para Cat, como se imaginasse que algo podia lhe acontecer. Desesperada, Catherine contou à Lois sobre o quê Peter estava escrevendo e, Lois, que já sabia de tudo, mostrou-se surpresa. Acreditava, porém, no seu íntimo, que trazer o nome do assassino de Peter era mais do que uma questão de honra.

"Não podemos ficar com ele", disse Lois.

Catherine arregalou os olhos. Não podia se desfazer do trabalho que o amigo lhe havia confiado, mas sabia, também, que não podia guardar aquele material tão comprometedor.

"É perigoso demais", explicou Lois. "Se ele foi mesmo morto por causa disso, temos que guardar num lugar seguro, pois provavelmente alguém já deve saber dos contatos que ele tinha em Metrópolis, e que já morou aqui".

"Ah, meu Deus...", disse Cat, preocupada.

"Não se preocupe", disse Lois, guardando tudo o que estava sobre a mesa, no envelope de Peter. "Ninguém vai fazer nada contra nós. Isso vai ser uma garantia para a nossa sobrevivência, se é que Lex Luthor está por trás disso", completou, referindo-se ao conteúdo do acervo colhido por Sands, que trazia à tona inúmeras irregularidades nos negócios da LuthorCorp, assinados por Lex.

"Enquanto tivermos esse envelope nas nossas mãos, nada de mal pode nos acontecer", concluiu Lois.

Cat enxugou as lágrimas que secavam na sua face.

"Lois, não quero ficar sozinha", disse, temendo pela sua segurança.

"Você pode ficar no meu apartamento, com a Lucy", disse Lois.

"Quando você pretende viajar?", perguntou Cat, apreensiva, sem fazer objeção ao fato de ficar com a irmã cega de Lois.

"Amanhã mesmo", respondeu a amiga, resoluta. "Bem cedo".

Continua...