O MUNDO DE METRÓPOLIS
O Mundo de Metrópolis - Parte 4
Quando chegou em Smallville, Lois notou que a cidade parecia menor desde a última vez que esteve por lá. Ao contrário da outra vez, porém, não combinou de encontrar com a prima Chloe, lembrando-se dos problemas que lhe causou. E sem ao menos avisá-la, decidiu apenas ir direto para a pequena e desvanecida cidade, com a intenção de alugar um quarto num hotel ou pensionato e, claro, evitar, a qualquer custo, encontrá-la. Na estação rodoviária, descobriu um hotel que ficava a menos de dois quilômetros. Pediu informação a respeito de como devia fazer para achar o caminho, e resolveu ir a pé. Com os poucos trocados que tinha, Lois conseguiu fazer uma refeição razoável no restaurante do hotel, depois que alugou um quarto a cinco dólares a diária. Não pretendia ficar muito, apenas o tempo suficiente para encontrar com Lex Luthor.
Pensativa durante toda a refeição, Lois sabia que tinha nas mãos uma notícia que faria história. Mas não usaria o material de Peter Sands. Essa não era sua intenção, pelo menos, naquele momento. Era algo grande demais até mesmo para ela. Algo que envolvia muitos riscos. Algo que, talvez, não valesse a pena colocar em risco a própria vida. Ao terminar de comer, Lois foi para o seu quarto e fez uma ligação para a mansão Luthor. Um assessor de Lex atendeu a ligação, e logo na seqüência, ao passar o nome dela para seu chefe, transferiu-a.
"Srta. Lane", disse Lex, calmamente, ao speaker. Na verdade, tão surpreso quanto desconfiado, Lex jamais imaginaria aquela ligação, e não fez questão de esconder: "Interessante", disse ele, "realmente não esperava que me procurasse", e antes que Lois Lane lhe dissesse os motivos pelos quais lhe telefonava, ele perguntou: "Permite-me fazer uma pergunta?"
"Claro, Sr. Luthor", disse Lois, que gravava a conversa pela secretária eletrônica do hotel.
"Que tipo de repórter procura a pessoa a respeito de quem ela escreveu meses depois de publicar a matéria?", perguntou ele, então, referindo-se ao artigo que havia sido publicado há algum tempo, no Diário Planeta, e no qual ela falava do envolvimento da família Luthor em negócios por demais de escusos na pacata Smallville e, até mesmo do internamento de Lex na Clínica Belle Reve.
"Do tipo que ainda não é uma repórter", respondeu Lois.
Lex ficou mudo por um tempo, sorrindo, do outro lado da linha. Já sabia que Lois Lane era uma aspirante a jornalista e que só havia conseguido publicar a matéria por ser amiga da redatora da coluna de fofocas do Diário Planeta. Intrigava-o, porém, aquela inesperada ligação, e precisava testá-la, afinal, aquela parecia uma garota de sangue frio, disposta a qualquer coisa pela verdade, e ele ainda não sabia qual a verdade que ela procurava.
"Diga-me, Srta. Lane", disse ele, ainda na tentativa de subjulgá-la, "sabia que eu posso acabar com a sua futura carreira de jornalista antes mesmo que ela comece?"
Lois sabia do que ele estava falando. Ainda se referia à matéria que publicada por Catherine. Mas Lois também sabia que a carreira da amiga estava sendo prejudicada, e que não era por Lex.
"Sr. Luthor", disse-lhe ela, "o senhor não imaginou que eu posso estar gravando essa nossa conversa?"
Lex, porém, não se intimidou, e disse:
"Calúnia é crime, Srta. Lane, e escrever artigos sugerindo negócios escusos, insinuando pretensões nebulosas e inverídicas da parte da LuthorCorp pode prejudicá-la, já que o Diário Planeta se exime de qualquer responsabilidade por parte dos jornalistas freelancers", disse Lex, mantendo sua habitual postura e elegância. "Não esqueça que, embora eu ainda não tenha oficializado uma queixa crime contra suas incitações, ainda posso ainda fazê-lo".
"Está me ameaçando, Sr. Luthor?", perguntou Lois.
"Não, Srta. Lane", respondeu ele. "Não a estou ameaçando. Estou apenas dizendo que tenho direitos a serem defendidos e que ainda posso trazer à baila o assunto que tratou no seu artigo, judicialmente, pois tudo o que você escreveu, ainda é questionável, por mais ambígua que tenha sido".
Lois sorriu. Ele era exatamente como ela imaginou. E, do outro lado da linha, Lex também sorria. Jogavam um jogo perigoso. Mas Lex Luthor não tinha a intenção de processá-la, como sugeria naquela conversa. Pretendia, apenas intimidá-la, conhecer sua oponente. Mas a jovem aspirante à jornalista, embora não tenha se dado por vencida, resolveu desconversar antes que o diálogo chegasse a proporções desastrosas:
"Bom, Sr. Luthor, vamos deixar as maselas de lado, pois o motivo pelo qual resolvi lhe procurar é bem outro".
"Ótimo, Srta. Lane", disse ele, em tom sarcástico. "Você provavelmente tem a matéria do século nas suas mãos, certo?"
"O senhor é que deve saber se tenho ou não", retrucou ela.
Lex ficou em silêncio por um tempo, olhando para o speaker. Pensativo, ficou imaginando o quê aquela pirralha tinha em mente. Estaria ela querendo prejudicá-lo?
"Muito bem", disse ele, finalmente. "Estarei esperando-a para uma reunião em vinte minutos", e antes que Lex desligasse o aparelho, Lois interveio:
"Espere, Sr. Luthor!"
Lex ficou em silêncio, esperando o que ela tinha a dizer:
"Não tenho como encontrá-lo", disse ela, um pouco constrangida, pois não tinha dinheiro suficiente para um táxi, e tampouco podia pegar carona, uma vez que o mesmo era proibido no Estado do Kansas.
"Então eu a encontro no hotel onde está hospedada".
"É o mais próximo da rodoviária, sentido centro", explicou ela, antes de desligarem.
...
Lois Lane estava vestida do mesmo jeito que chegou da viagem, com calças e casaco jeans desbotados, e sua bolsa transversal. Esperava Lex Luthor em frente ao hotel, na beira da estrada, com os braços cruzados, sentindo um pouco de frio. O dia começava a terminar e ela viu no horizonte o mais lindo pôr do sol. Aliás, ela já não lembrava da última vez que tinha visto um. Nunca teve tempo para pensar nisso. Mas Lois estava aflita. Não sabia como seria tratar com Lex Luthor. Sabia de muitas coisas a seu respeito, mas jamais chegou a conhecê-lo. E a julgar pelo material que Sands havia colhido a seu respeito, Lois tinha motivos de sobra para temê-lo.
Então, subitamente, viu um veículo incomum vindo pela estrada. Era diferente de todas as caminhonetes que viu passar por ali nos trinta minutos que estava plantada na beira daquela estrada. Era um Porsche preto, e logo ela soube que só podia tratar-se de Lex Luthor. Quando o automóvel se aproximou e parou no acostamento, sem descer, Lex a encarou de cima a baixo, talvez, incrédulo ao ver que ela era bem mais nova do que imaginava e, por via das dúvidas, ainda perguntou:
"Você é Lois Lane?"
Lois assentiu e Lex apenas esticou o braço para puxar o trinco da porta, que se abriu para que ela entrasse. Lois hesitou. Estaria ela fazendo alguma loucura? Estaria correndo os mesmos riscos que Sands? Olhou à volta, como se esperasse encontrar alguém que a estivesse vendo entrar no carro de Lex, mas não havia ninguém. Ao perceber a precaução dela, Lex disse:
"Vamos a um lugar público, Srta. Lane".
Lois apenas sorriu.
"Não precisa", disse-lhe ela, entrando no automóvel. "Vamos ao seu escritório mesmo, afinal, muitas pessoas sabem que eu estou aqui".
Lex a encarou e um risinho surgiu no canto do seu lábio direito. Era muito mais esperta do que podia imaginar, pensou ele. E, por mais que não tivessem falado nada durante o caminho, quando ficaram apenas um observando o outro, Lex ainda estava intrigado com aquela menina que acreditava estar se arriscando tanto. Ele sequer fazia idéia do que Lois Lane pensava a seu respeito para todas aquelas precauções e tampouco imaginava o quê a trazia ali. Foi, então, que, entrando no seu escritório, na mansão Luthor, que ele a viu mais segura, quando acreditava que lá, ela podia se sentir mais desprotegida, por mais mórbido que lhe pudesse parecer o pensamento de que ele lhe faria algum mal.
"Muito bem, Srta. Lane", disse ele, oferecendo-lhe um drink. "Vamos então ao que interessa?"
Lois recusou a bebida e ficou em silêncio por um instante.
"Posso gravar essa nossa conversa?", perguntou-lhe, então, já acomodada na poltrona em frente à mesa dele.
Lex tomou um gole da bebida, depois se sentar, e sorriu:
"Fique à vontade".
Um pouco desajeitada, Lois pegou do interior da bolsa o gravador que ganhou de Cat, já que o que ela tinha ganhado do seu pai, Sam Lane, havia sido roubado na sua última visita a Smallville.
"Sr. Luthor", disse ela, antes de ligar o aparelho. "Podemos começar?"
Lex sorriu, apenas dando de ombros. Começava a pensar que tudo aquilo não passava de uma piada. Todo aquele formalismo e hesitação só lhe serviram de divertimento naquela tarde enfastiante, até que Lois Lane entrou direto no assunto:
"O quê o senhor sabe sobre Peter Sands?"
Lex ficou pensativo. Tinha visto aquele nome em algum lugar, até que resolveu revirar o Ledger daquela manhã, que estava sobre a sua mesa, à sua frente. Era a manchete do dia em Smallville, tratava-se do sujeito que havia sido encontrado morto na beira da estrada.
"Que ele está morto", respondeu. Lex sorriu e ficou imaginando se Lois Lane estava insinuando algum envolvimento seu no assunto. E, talvez, afinal, havia se enganado em concordar falar com ela. Por outro lado, o artigo no Diário Planeta ainda o incomodava. Ela não devia ser tão estúpida para vir de tão longe por nada.
"Sabia que ele escrevia um livro a seu respeito?", perguntou ela, então. E aquela era a grande questão que podia comprometer Lois Lane. Embora não estivesse nervosa, temia a reação de seu entrevistado.
Lex se surpreendeu. Encarou-a com firmeza e perguntou:
"Isso é sério?"
"A julgar pela minha aparência, Sr. Luthor", disse ela, fitando-o nos olhos, "eu entendo que poderia não ser levada a sério. Mas o que eu estou perguntando aqui, é".
Lex suspirou, ainda incrédulo, porém, pela primeira vez naquele fim de tarde, diante de Lois Lane, estava sereno.
"O quê ele estava escrevendo?", perguntou ele, começando a levá-la a sério.
"Que eu me lembre, eu é que faço as perguntas", disse Lois, na eminência de se sentir nervosa.
"Nunca concordamos que essa seria uma entrevista formal, Srta. Lane", corrigiu ele, com seu olhar frio.
Lois o fitou por um instante. Por mais que não o conhecesse pessoalmente, e por mais que soubesse dos males que ele tinha feito no seu passado, pelas informações colhidas por Sands, era como se ela acreditasse nele. E, ali, diante dela, estava um homem que, realmente, não sabia de nada do que ela estava falando. Lois desligou, então, o gravador.
"Muito bem, Sr. Luthor", disse ela, rendendo-se. "Peter Sands morreu em circunstâncias que eu entendo ser muito misteriosas, a julgar pelo fato de que ele estava escrevendo uma biografia não-autorizada do senhor".
"Como?", indagou Lex, estarrecido.
"Isso mesmo", continuou ela. "Sands estava trabalhando numa biografia sua há mais de um ano e, quando parecia estar concluindo seus trabalhos, ele veio encontrá-lo em Smallville. Foi quando acabou sendo assassinado a caminho da sua residência".
Lex se encostou na cadeira.
"Quem disse que ele viria a meu encontro?"
"Tudo leva a crer que ele estava vindo para lhe falar", explicou ela.
"Srta. Lane", ponderou Lex, inclinando-se sobre a mesa, e fitando-a nos olhos, "está tentando dizer que eu tenho alguma coisa a ver com a morte do seu amigo jornalista?"
Lois afundou na poltrona, mas não baixou a guarda:
"Não, Sr. Luthor, de forma alguma", respondeu ela. "Mesmo porque, o caso ainda está sob investigação".
"Srta. Lane", disse ele, levantando-se para servir de mais um drink. "Estou muito mais surpreso com tudo isso do que você possa um dia imaginar".
Lois ficou em silêncio, ouvindo-o, atentamente, e acompanhando cada movimento seu pela sala.
"Se ele estava escrevendo uma biografia não-autorizada, deduzo que o estava fazendo a pedido de alguém", prosseguiu ele, fitando-a, enquanto voltava para o seu lugar à mesa. "Então, esse alguém o estava forçando a trabalhar na penumbra, pois, como você disse, ele estava nisso há mais de um ano. Como isso nunca veio à tona, quem mais poderia tê-lo assassinado, se é que foi por causa disso, que não a própria pessoa por trás do pedido para ele escrever o tal livro?"
Era uma especulação óbvia, pensou Lois, que também já tinha cogitado isso. Porém, não havia como saber quem era o autor da proposta feita a Sands. E mesmo antes de ir a Smallville, a própria Lois tinha verificado as contas de telefone de Peter. As ligações mais suspeitas que ele tinha recebido nos últimos meses eram de aparelhos públicos espalhados por diversos lugares de Metrópolis.
"Srta. Lane", disse ele, após um gole da bebida, "estou tão interessado em descobrir o quê está por trás disso tudo quanto você, agora que sei o quê esse tal de Peter Sands andava fazendo", e continuou: "Devia ter pensado, antes de vir falar comigo, que eu podia realmente me prejudicar se tivesse mandado matar esse repórter, já que ele deve ter algum material a meu respeito".
Lois, porém, contestou-o:
"Isso também pode ser o seu álibi".
Lex sorriu. Estava mesmo diante de uma garota muito ousada. Gostava disso. Há muito tempo ninguém o conseguia impressionar como Lois Lane o fazia.
"Vou fazer o seguinte", disse ele, então, "quero resolver isso tanto quanto você, independentemente do que esteja pensando a meu respeito".
Lois continuou ouvindo-o, com muita atenção.
"Diga-me tudo o que precisa saber de mim", prosseguiu ele, "para a investigação desse caso. Vou ajudá-la no que for preciso. Pretendo até mesmo, e por que não, já que é do meu interesse, também, bancar o seu trabalho."
"Certo", disse ela, desconfiada. "E o quê vai querer em troca?"
Lex sorriu.
"Vejo que você pensa rápido, Srta. Lane", disse ele. "Sabe mesmo como lidar com as coisas no mundo dos negócios. Pois bem, vou dizer o quê vou querer em troca", continuou ele, encarando-a. "Quero que levante o nome da pessoa que pediu ao Sr. Sands escrever uma biografia sobre mim".
Lois ficou em silêncio. Lex finalmente a surpreendeu. Ela, que esperava ouvi-lo pedir todo o material que Sands havia colhido a seu respeito, jamais imaginou que ele podia apenas se interessar pela pessoa que pediu a realização da dita biografia. Ou estaria ele jogando?
"Vai ter a primeira página do Diário Planeta, Srta. Lane", prometeu Lex.
Lois arregalou os olhos. Lembrou que meses atrás viu uma reportagem de Perry White, um jornalista que tentava voltar à ativa, no sentido de que pretendia re-erguer a moral do Diário Planeta, alegando que o referido jornal estava na malha de uma família muito poderosa em Metrópolis. Naquele instante, Lois Lane descobriu quem era a tal família.
"Então, você manda no Diário Planeta?", perguntou ela, subitamente.
"Não seja ingênua, Srta. Lane", disse ele. "Se os Luthor mandassem no Diário Planeta, você não teria conseguido publicar aquele seu artigo meses atrás".
"Certo", disse ela, "mas a redatora-chefe que publicou meu artigo está prestes a ser demitida, o quê é bastante estranho, levando também em conta que o tal de Perry White anda dizendo coisas como o jornal estar sendo manipulado por alguns poderosos de Metrópolis".
Lex sorriu.
"Srta. Lane, continue a fazer o ótimo trabalho que está fazendo e depois conversaremos", disse ligando um botão do speaker: "Raymond, chame um táxi para a Srta. Lane. Ela já está de saída".
Lois se levantou e ficou parada, olhando para Lex Luthor à sua frente, por alguns instantes. Ficou imaginando o quê estava por trás daquele homem tão sombrio, que parecia se dividir entre boas e nebulosas pretensões. Lois Lane foi embora da mansão Luthor sem as respostas que queria. No entanto, uma coisa já sabia: havia alguém querendo prejudicar Lex Luthor, e ele nem fazia idéia de quem podia ser.
Continua...
O Mundo de Metrópolis - Parte 4
Quando chegou em Smallville, Lois notou que a cidade parecia menor desde a última vez que esteve por lá. Ao contrário da outra vez, porém, não combinou de encontrar com a prima Chloe, lembrando-se dos problemas que lhe causou. E sem ao menos avisá-la, decidiu apenas ir direto para a pequena e desvanecida cidade, com a intenção de alugar um quarto num hotel ou pensionato e, claro, evitar, a qualquer custo, encontrá-la. Na estação rodoviária, descobriu um hotel que ficava a menos de dois quilômetros. Pediu informação a respeito de como devia fazer para achar o caminho, e resolveu ir a pé. Com os poucos trocados que tinha, Lois conseguiu fazer uma refeição razoável no restaurante do hotel, depois que alugou um quarto a cinco dólares a diária. Não pretendia ficar muito, apenas o tempo suficiente para encontrar com Lex Luthor.
Pensativa durante toda a refeição, Lois sabia que tinha nas mãos uma notícia que faria história. Mas não usaria o material de Peter Sands. Essa não era sua intenção, pelo menos, naquele momento. Era algo grande demais até mesmo para ela. Algo que envolvia muitos riscos. Algo que, talvez, não valesse a pena colocar em risco a própria vida. Ao terminar de comer, Lois foi para o seu quarto e fez uma ligação para a mansão Luthor. Um assessor de Lex atendeu a ligação, e logo na seqüência, ao passar o nome dela para seu chefe, transferiu-a.
"Srta. Lane", disse Lex, calmamente, ao speaker. Na verdade, tão surpreso quanto desconfiado, Lex jamais imaginaria aquela ligação, e não fez questão de esconder: "Interessante", disse ele, "realmente não esperava que me procurasse", e antes que Lois Lane lhe dissesse os motivos pelos quais lhe telefonava, ele perguntou: "Permite-me fazer uma pergunta?"
"Claro, Sr. Luthor", disse Lois, que gravava a conversa pela secretária eletrônica do hotel.
"Que tipo de repórter procura a pessoa a respeito de quem ela escreveu meses depois de publicar a matéria?", perguntou ele, então, referindo-se ao artigo que havia sido publicado há algum tempo, no Diário Planeta, e no qual ela falava do envolvimento da família Luthor em negócios por demais de escusos na pacata Smallville e, até mesmo do internamento de Lex na Clínica Belle Reve.
"Do tipo que ainda não é uma repórter", respondeu Lois.
Lex ficou mudo por um tempo, sorrindo, do outro lado da linha. Já sabia que Lois Lane era uma aspirante a jornalista e que só havia conseguido publicar a matéria por ser amiga da redatora da coluna de fofocas do Diário Planeta. Intrigava-o, porém, aquela inesperada ligação, e precisava testá-la, afinal, aquela parecia uma garota de sangue frio, disposta a qualquer coisa pela verdade, e ele ainda não sabia qual a verdade que ela procurava.
"Diga-me, Srta. Lane", disse ele, ainda na tentativa de subjulgá-la, "sabia que eu posso acabar com a sua futura carreira de jornalista antes mesmo que ela comece?"
Lois sabia do que ele estava falando. Ainda se referia à matéria que publicada por Catherine. Mas Lois também sabia que a carreira da amiga estava sendo prejudicada, e que não era por Lex.
"Sr. Luthor", disse-lhe ela, "o senhor não imaginou que eu posso estar gravando essa nossa conversa?"
Lex, porém, não se intimidou, e disse:
"Calúnia é crime, Srta. Lane, e escrever artigos sugerindo negócios escusos, insinuando pretensões nebulosas e inverídicas da parte da LuthorCorp pode prejudicá-la, já que o Diário Planeta se exime de qualquer responsabilidade por parte dos jornalistas freelancers", disse Lex, mantendo sua habitual postura e elegância. "Não esqueça que, embora eu ainda não tenha oficializado uma queixa crime contra suas incitações, ainda posso ainda fazê-lo".
"Está me ameaçando, Sr. Luthor?", perguntou Lois.
"Não, Srta. Lane", respondeu ele. "Não a estou ameaçando. Estou apenas dizendo que tenho direitos a serem defendidos e que ainda posso trazer à baila o assunto que tratou no seu artigo, judicialmente, pois tudo o que você escreveu, ainda é questionável, por mais ambígua que tenha sido".
Lois sorriu. Ele era exatamente como ela imaginou. E, do outro lado da linha, Lex também sorria. Jogavam um jogo perigoso. Mas Lex Luthor não tinha a intenção de processá-la, como sugeria naquela conversa. Pretendia, apenas intimidá-la, conhecer sua oponente. Mas a jovem aspirante à jornalista, embora não tenha se dado por vencida, resolveu desconversar antes que o diálogo chegasse a proporções desastrosas:
"Bom, Sr. Luthor, vamos deixar as maselas de lado, pois o motivo pelo qual resolvi lhe procurar é bem outro".
"Ótimo, Srta. Lane", disse ele, em tom sarcástico. "Você provavelmente tem a matéria do século nas suas mãos, certo?"
"O senhor é que deve saber se tenho ou não", retrucou ela.
Lex ficou em silêncio por um tempo, olhando para o speaker. Pensativo, ficou imaginando o quê aquela pirralha tinha em mente. Estaria ela querendo prejudicá-lo?
"Muito bem", disse ele, finalmente. "Estarei esperando-a para uma reunião em vinte minutos", e antes que Lex desligasse o aparelho, Lois interveio:
"Espere, Sr. Luthor!"
Lex ficou em silêncio, esperando o que ela tinha a dizer:
"Não tenho como encontrá-lo", disse ela, um pouco constrangida, pois não tinha dinheiro suficiente para um táxi, e tampouco podia pegar carona, uma vez que o mesmo era proibido no Estado do Kansas.
"Então eu a encontro no hotel onde está hospedada".
"É o mais próximo da rodoviária, sentido centro", explicou ela, antes de desligarem.
...
Lois Lane estava vestida do mesmo jeito que chegou da viagem, com calças e casaco jeans desbotados, e sua bolsa transversal. Esperava Lex Luthor em frente ao hotel, na beira da estrada, com os braços cruzados, sentindo um pouco de frio. O dia começava a terminar e ela viu no horizonte o mais lindo pôr do sol. Aliás, ela já não lembrava da última vez que tinha visto um. Nunca teve tempo para pensar nisso. Mas Lois estava aflita. Não sabia como seria tratar com Lex Luthor. Sabia de muitas coisas a seu respeito, mas jamais chegou a conhecê-lo. E a julgar pelo material que Sands havia colhido a seu respeito, Lois tinha motivos de sobra para temê-lo.
Então, subitamente, viu um veículo incomum vindo pela estrada. Era diferente de todas as caminhonetes que viu passar por ali nos trinta minutos que estava plantada na beira daquela estrada. Era um Porsche preto, e logo ela soube que só podia tratar-se de Lex Luthor. Quando o automóvel se aproximou e parou no acostamento, sem descer, Lex a encarou de cima a baixo, talvez, incrédulo ao ver que ela era bem mais nova do que imaginava e, por via das dúvidas, ainda perguntou:
"Você é Lois Lane?"
Lois assentiu e Lex apenas esticou o braço para puxar o trinco da porta, que se abriu para que ela entrasse. Lois hesitou. Estaria ela fazendo alguma loucura? Estaria correndo os mesmos riscos que Sands? Olhou à volta, como se esperasse encontrar alguém que a estivesse vendo entrar no carro de Lex, mas não havia ninguém. Ao perceber a precaução dela, Lex disse:
"Vamos a um lugar público, Srta. Lane".
Lois apenas sorriu.
"Não precisa", disse-lhe ela, entrando no automóvel. "Vamos ao seu escritório mesmo, afinal, muitas pessoas sabem que eu estou aqui".
Lex a encarou e um risinho surgiu no canto do seu lábio direito. Era muito mais esperta do que podia imaginar, pensou ele. E, por mais que não tivessem falado nada durante o caminho, quando ficaram apenas um observando o outro, Lex ainda estava intrigado com aquela menina que acreditava estar se arriscando tanto. Ele sequer fazia idéia do que Lois Lane pensava a seu respeito para todas aquelas precauções e tampouco imaginava o quê a trazia ali. Foi, então, que, entrando no seu escritório, na mansão Luthor, que ele a viu mais segura, quando acreditava que lá, ela podia se sentir mais desprotegida, por mais mórbido que lhe pudesse parecer o pensamento de que ele lhe faria algum mal.
"Muito bem, Srta. Lane", disse ele, oferecendo-lhe um drink. "Vamos então ao que interessa?"
Lois recusou a bebida e ficou em silêncio por um instante.
"Posso gravar essa nossa conversa?", perguntou-lhe, então, já acomodada na poltrona em frente à mesa dele.
Lex tomou um gole da bebida, depois se sentar, e sorriu:
"Fique à vontade".
Um pouco desajeitada, Lois pegou do interior da bolsa o gravador que ganhou de Cat, já que o que ela tinha ganhado do seu pai, Sam Lane, havia sido roubado na sua última visita a Smallville.
"Sr. Luthor", disse ela, antes de ligar o aparelho. "Podemos começar?"
Lex sorriu, apenas dando de ombros. Começava a pensar que tudo aquilo não passava de uma piada. Todo aquele formalismo e hesitação só lhe serviram de divertimento naquela tarde enfastiante, até que Lois Lane entrou direto no assunto:
"O quê o senhor sabe sobre Peter Sands?"
Lex ficou pensativo. Tinha visto aquele nome em algum lugar, até que resolveu revirar o Ledger daquela manhã, que estava sobre a sua mesa, à sua frente. Era a manchete do dia em Smallville, tratava-se do sujeito que havia sido encontrado morto na beira da estrada.
"Que ele está morto", respondeu. Lex sorriu e ficou imaginando se Lois Lane estava insinuando algum envolvimento seu no assunto. E, talvez, afinal, havia se enganado em concordar falar com ela. Por outro lado, o artigo no Diário Planeta ainda o incomodava. Ela não devia ser tão estúpida para vir de tão longe por nada.
"Sabia que ele escrevia um livro a seu respeito?", perguntou ela, então. E aquela era a grande questão que podia comprometer Lois Lane. Embora não estivesse nervosa, temia a reação de seu entrevistado.
Lex se surpreendeu. Encarou-a com firmeza e perguntou:
"Isso é sério?"
"A julgar pela minha aparência, Sr. Luthor", disse ela, fitando-o nos olhos, "eu entendo que poderia não ser levada a sério. Mas o que eu estou perguntando aqui, é".
Lex suspirou, ainda incrédulo, porém, pela primeira vez naquele fim de tarde, diante de Lois Lane, estava sereno.
"O quê ele estava escrevendo?", perguntou ele, começando a levá-la a sério.
"Que eu me lembre, eu é que faço as perguntas", disse Lois, na eminência de se sentir nervosa.
"Nunca concordamos que essa seria uma entrevista formal, Srta. Lane", corrigiu ele, com seu olhar frio.
Lois o fitou por um instante. Por mais que não o conhecesse pessoalmente, e por mais que soubesse dos males que ele tinha feito no seu passado, pelas informações colhidas por Sands, era como se ela acreditasse nele. E, ali, diante dela, estava um homem que, realmente, não sabia de nada do que ela estava falando. Lois desligou, então, o gravador.
"Muito bem, Sr. Luthor", disse ela, rendendo-se. "Peter Sands morreu em circunstâncias que eu entendo ser muito misteriosas, a julgar pelo fato de que ele estava escrevendo uma biografia não-autorizada do senhor".
"Como?", indagou Lex, estarrecido.
"Isso mesmo", continuou ela. "Sands estava trabalhando numa biografia sua há mais de um ano e, quando parecia estar concluindo seus trabalhos, ele veio encontrá-lo em Smallville. Foi quando acabou sendo assassinado a caminho da sua residência".
Lex se encostou na cadeira.
"Quem disse que ele viria a meu encontro?"
"Tudo leva a crer que ele estava vindo para lhe falar", explicou ela.
"Srta. Lane", ponderou Lex, inclinando-se sobre a mesa, e fitando-a nos olhos, "está tentando dizer que eu tenho alguma coisa a ver com a morte do seu amigo jornalista?"
Lois afundou na poltrona, mas não baixou a guarda:
"Não, Sr. Luthor, de forma alguma", respondeu ela. "Mesmo porque, o caso ainda está sob investigação".
"Srta. Lane", disse ele, levantando-se para servir de mais um drink. "Estou muito mais surpreso com tudo isso do que você possa um dia imaginar".
Lois ficou em silêncio, ouvindo-o, atentamente, e acompanhando cada movimento seu pela sala.
"Se ele estava escrevendo uma biografia não-autorizada, deduzo que o estava fazendo a pedido de alguém", prosseguiu ele, fitando-a, enquanto voltava para o seu lugar à mesa. "Então, esse alguém o estava forçando a trabalhar na penumbra, pois, como você disse, ele estava nisso há mais de um ano. Como isso nunca veio à tona, quem mais poderia tê-lo assassinado, se é que foi por causa disso, que não a própria pessoa por trás do pedido para ele escrever o tal livro?"
Era uma especulação óbvia, pensou Lois, que também já tinha cogitado isso. Porém, não havia como saber quem era o autor da proposta feita a Sands. E mesmo antes de ir a Smallville, a própria Lois tinha verificado as contas de telefone de Peter. As ligações mais suspeitas que ele tinha recebido nos últimos meses eram de aparelhos públicos espalhados por diversos lugares de Metrópolis.
"Srta. Lane", disse ele, após um gole da bebida, "estou tão interessado em descobrir o quê está por trás disso tudo quanto você, agora que sei o quê esse tal de Peter Sands andava fazendo", e continuou: "Devia ter pensado, antes de vir falar comigo, que eu podia realmente me prejudicar se tivesse mandado matar esse repórter, já que ele deve ter algum material a meu respeito".
Lois, porém, contestou-o:
"Isso também pode ser o seu álibi".
Lex sorriu. Estava mesmo diante de uma garota muito ousada. Gostava disso. Há muito tempo ninguém o conseguia impressionar como Lois Lane o fazia.
"Vou fazer o seguinte", disse ele, então, "quero resolver isso tanto quanto você, independentemente do que esteja pensando a meu respeito".
Lois continuou ouvindo-o, com muita atenção.
"Diga-me tudo o que precisa saber de mim", prosseguiu ele, "para a investigação desse caso. Vou ajudá-la no que for preciso. Pretendo até mesmo, e por que não, já que é do meu interesse, também, bancar o seu trabalho."
"Certo", disse ela, desconfiada. "E o quê vai querer em troca?"
Lex sorriu.
"Vejo que você pensa rápido, Srta. Lane", disse ele. "Sabe mesmo como lidar com as coisas no mundo dos negócios. Pois bem, vou dizer o quê vou querer em troca", continuou ele, encarando-a. "Quero que levante o nome da pessoa que pediu ao Sr. Sands escrever uma biografia sobre mim".
Lois ficou em silêncio. Lex finalmente a surpreendeu. Ela, que esperava ouvi-lo pedir todo o material que Sands havia colhido a seu respeito, jamais imaginou que ele podia apenas se interessar pela pessoa que pediu a realização da dita biografia. Ou estaria ele jogando?
"Vai ter a primeira página do Diário Planeta, Srta. Lane", prometeu Lex.
Lois arregalou os olhos. Lembrou que meses atrás viu uma reportagem de Perry White, um jornalista que tentava voltar à ativa, no sentido de que pretendia re-erguer a moral do Diário Planeta, alegando que o referido jornal estava na malha de uma família muito poderosa em Metrópolis. Naquele instante, Lois Lane descobriu quem era a tal família.
"Então, você manda no Diário Planeta?", perguntou ela, subitamente.
"Não seja ingênua, Srta. Lane", disse ele. "Se os Luthor mandassem no Diário Planeta, você não teria conseguido publicar aquele seu artigo meses atrás".
"Certo", disse ela, "mas a redatora-chefe que publicou meu artigo está prestes a ser demitida, o quê é bastante estranho, levando também em conta que o tal de Perry White anda dizendo coisas como o jornal estar sendo manipulado por alguns poderosos de Metrópolis".
Lex sorriu.
"Srta. Lane, continue a fazer o ótimo trabalho que está fazendo e depois conversaremos", disse ligando um botão do speaker: "Raymond, chame um táxi para a Srta. Lane. Ela já está de saída".
Lois se levantou e ficou parada, olhando para Lex Luthor à sua frente, por alguns instantes. Ficou imaginando o quê estava por trás daquele homem tão sombrio, que parecia se dividir entre boas e nebulosas pretensões. Lois Lane foi embora da mansão Luthor sem as respostas que queria. No entanto, uma coisa já sabia: havia alguém querendo prejudicar Lex Luthor, e ele nem fazia idéia de quem podia ser.
Continua...
